sexta-feira, setembro 30, 2016

ZORAIDE ROSAMIGLIA MIORI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 27 de agosto de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: ZORAIDE ROSAMIGLIA MIORI





Zoraide Rosamiglia Miori nasceu em Piracicaba a 9 de novembro de 1933, é filha de Nicolau Rosamiglia e Maria Zitto Rosamiglia, nascida em Piracicaba a Rua do Porto. Era tia de José Provenzano um dos donos da Relojoaria Provenzano situada a Rua Boa Morte.
Qual era a atividade do pai da senhora?
Era marceneiro, fazia coisas lindas! Fazia entalhes maravilhosos. Era um artista. Meu pai era nascido em Piracicaba, filho de italianos. Ele tinha marcenaria na Rua Moraes Barros, em Piracicaba. Tempo em que existiam os marceneiros Simoni, Nardin. Morávamos em frente a casa do De Sordi. Contrariando a minha mãe, meu pai decidiu morar em Rio das Pedras, que na época não tinha rede de esgoto, calçamento. Isso foi no inicio de 1937
Seus pai tiveram quantos filhos?
Onze filhos: Floripes, Pascoalino, Vera, Orlando que faleceu muito novo, quando nasceu outro menino minha mãe colocou o nome de Orlando, Moacir, Zoraide, Nelson, também faleceu muito pequeno, quando nasceu outro menino minha mãe colocou o nome de Nelson, Ivanilde e José Eduardo. Aos 43 anos minha mãe teve o último filho, três meses depois ela faleceu de um colapso cardíaco.
E quem cuidou dessas crianças?
Aminha irmã mais velha ficou por um tempo cuidando, depois ela casou-se com Américo Marino. Outra irmã, a Vera, assumiu toda a responsabilidade, ela tinha 19 anos e eu 10 anos.
O pai da senhora tinha uma oficina de marcenaria?
Os filhos mais velhos o ajudavam. Quatro filhos permaneceram ajudando e um foi estudar em São Paulo. A marcenaria fabricava moveis em geral. Moveis entalhados. Para manter essa família meu pai trabalhou muito. Morávamos a Rua Rangel Pestana número, 129 conhecida como“Rua Torta”. Fica margeando o Córrego Tijuco Preto. . O proprietário da casa de Rio das Pedras queria vende-la casa para nós, sabia que o meu pai não estava satisfeito em pagar aluguel da casa em que morávamos em Piracicaba. Ele ia todos os dias para oferecer a casa ao meu pai. Isso fez com que meu pai e minha mãe, que não queria mudar, entrassem em conflito. Meu pai acabou comprando a casa em Rio das Pedras para deixar de pagar aluguel em Piracicaba. As crianças acostumaram-se logo, os filhos mais velhos estranharam um pouco.




Naquele tempo o trem da  Estrada de Ferro Sorocabana passava em Rio das Pedras?
Tinha trem, tinha a famosa jardineira que era como chamávamos os primeiros ônibus, vinha e voltava de Rio das Pedras uma vez por semana. Íamos e voltávamos de Piracicaba utilizando o trem. Passava s onze horas, às quatro horas da tarde e depois tinha o noturno. Eram três horários, apitavam quando chegavam.
Era comum a pessoa ir até a estação de trem para ver quem estava chegando ou partindo?
Quem não tinha o que fazer, ia. A minha filha mais velha até hoje se lembra que quando ia levá-la ao dentista em Piracicaba, ia de trem. Levava uma meia hora para chegar a Piracicaba. Passava pelo bairro rural Chicó e ia até a Estação da Sorocabana em Piracicaba, situada onde é atualmente o terminal de ônibus urbano. Era uma estação bonita. Tinha uma estrada que passava onde atualmente é o Borsatto, em Rio das Pedras, só que quando chovia tinha que colocar corrente de aço nos pneus dos veículos, não havia estrada, esse caminho saía no Bairro Piracicamirim, em Piracicaba. A estrada que liga Rio das Pedras até a Rodovia Cornélio Pires não existia. Havia uma porteira, essa fazenda era do meu cunhado Américo Marino e do seu irmão Nicolau Marino pai do Natin, ali era tudo fazendas: Santa Maria, Fortaleza.
Qual era o produto cultivado nessas fazendas?
Quando eu era criança, era o algodão. Depois é que veio a plantação da cana-de-açúcar.
Em Rio das Pedras a senhora freqüentou a escola?
Fiz o curso primário no Grupo Escolar Barão de Serra Negra. Minha primeira professora foi Dona Idalina Andrade Leone, ela que me alfabetizou.
Naquela época era muito comum ao concluir o primário dar por encerrados os estudos.
A minha mãe faleceu em outubro eu tirei o diploma em novembro. Para continuar os estudos teria que ficar interna no Colégio Assunção, em Piracicaba, não tinha meios de ir e voltar todos os dias.  E tinha a escola Sud Mennucci, onde meus irmãos mais novos estudaram.  Eu não pude ir, tinha que ajudar a minha irmã, principalmente com menino, nosso irmãozinho, que era pequenininho, tinha uns três meses. Minha função foi essa, ainda criança comecei a ajudar e aprender. Foi uma faculdade!
A senhora e sua irmã tinham que cozinhar para a família toda?
Eram dez pessoas que se alimentavam. Fazíamos em panelas enormes, o fogão era de lenha. Não havia rede de esgoto, o sanitário era fora de casa (fossa séptica), água encanada já tinha assim como luz elétrica.










A rua comercial de Rio das Pedras, a Rua Prudente de Moraes era chão de terra?
Era tudo chão de terra. Assim como a cidade toda. Quem calçou a cidade foi o prefeito Caetano Oscar Waldemar Gramani.
Tinha algum tipo de lazer?
Tinha muito baile. A Sociedade Cultural Riopedrense, que antes da Segunda Guerra Mundial chamava-se Sociedade Italiana era animada Nós íamos aos bailinhos aos fins de semana, com discos, uma vez por mês tinha baile com conjunto ao vivo. Quando comecei a freqüentar os bailes tinha meus 17 a 18 anos. Meus irmãos também gostavam de dançar, frequentavam também, meu pai fica tranqüilo. Antes de me casar eu fazia parte do coral da igreja, era solista. Cantei muito em casamentos. Ajudava e participava das quermesses que ocorriam atrás da igreja, não havia água direta, tinha que ligar na hora.  Não existia o Salão Paroquial. Ali fazíamos nossas brincadeiras, roleta de prendas, almoços, jantares, eu participava disso tudo. Graças a Deus tudo que tentamos fazer deu certo. Na época eu fiquei uns dois ou três anos como Presidente do Conselho da Igreja, das quermesses.  Senhor Horácio Limongi Apesar de ter mais idade do que eu o Senhor Horácio Limongi e eu trabalhávamos juntos. Na época eu tinha uns 23 a 24 anos. Eu gostava, sempre fui muito entusiasmada com as coisas. Acho que é isso que conta, gostar da vida. Na praça central não havia a Concha Acústica, existia um coreto com duas patas, do bico de cada uma delas saia água.
Coma senhora conheceu o seu futuro marido? 
Ele sempre morou aqui em Rio das Pedras, embora tenha nascido em Capivari. O seu nome é Alcides Miori. Ele era músico, tocava pistão, era amigo do meu irmão mais velho.  Foi uma pessoa sempre muito correta. Com vinte e poucos anos ele adquiriu o Bar Chic, ficava próximo a igreja, por uns dez anos ele teve esse bar, tinha dois irmãos que o ajudavam. Quando íamos aos bailes o conjunto que tocava era dele. Quando começaram as quermesses ele já tinha vendido o bar. Ele e seus irmãos montaram uma sociedade e passaram a ser proprietários da Miori S/A que produz a Caninha Riopedrense. Em uma dessas quermesses alguém veio me dizer que o Alcides estava interessado em mim. Isso na época em que tinha o “correio elegante”. Quando ele arrematava alguma coisa diferente ele mandava para mim. Aquelas pequenas coisas foram me conquistando.


ZORAIDE

MODELO EM PROPAGANDA DE REDE DE FÁRMÁCIA

                                       PORTEIRA QUE EXISTIA NA ESTAÇÃO DE TREM

ZORAIDE AINDA MUITO JOVEM 

PASSEIO EM PIRASSUNUNGA E, 1956

LEMBRANÇA DIPLOMA 1944

BAR CHIC



BAR CHIC

PROCISSÃO COM DECORAÇÃO EM FLORES TRAZIDAS DE PIRACICABA

                                                        FORDINHO 1929


Vocês casaram-se quando?
Casamos no dia 6 de junho de 1964, casamos no civil, no dia 7 casamo-nos na Igreja Matriz Bom Jesus, em Rio das Pedras, foi um casamento muito bonito, foi o primeiro casamento com missa em nossa cidade. O padre celebrante, Padre Aloisio Berange, era de origem francesa, tinha sido transferido do Rio de Janeiro para Rio das Pedras. A nossa lua de mel foi em Poços de Caldas.
Quando voltaram foram residir aonde?
Na casa que tinha sido do meu pai. Era uma casa boa, meu pai tinha falecido, eu tinha dois irmãos comigo, uma era professora que lecionava durante o dia e dava cursos para adultos a noite. E o meu irmão caçula, trabalhava com os meus irmãos durante o dia e estudava a noite. Em família decidimos que seria bom para todos que morássemos juntos aos dois naquela casa. Após quatro anos, já tinha meus dois filhos a Maria Angélica e o Alcides, meu marido comprou o terreno e construímos aqui.
A senhora sempre permaneceu trabalhando em casa?
Naquela época a mulher geralmente permanecia em casa, como dona de casa, no período escolar dos meus filhos fui presidente da APM – Associação de Pais e Mestres do Grupo Escolar Barão de Serra Negra.
Qual é a relação de parentesco da senhora e o Comendador Oswaldo Miori?   
É meu sobrinho, sobrinho do meu marido.
Quem fundou a Riopedrense?
Foi a família do meu marido: Oswaldo, Avelino, Donato, Alcides, Américo, Durvalino e Constante. Eles começaram a engarrafar em pequena escala, terras eles já tinham bastante, passaram a produzir, montaram uma usina perto de Dobrada, na Fazenda Ximbó.
A Caninha Riopedrense teve uma época em que foi famosa no Brasil inteiro?
Foi! Só que o meu marido não ficava no setor da aguardente. Como tinha o Supermercados Miori meu marido foi direcionado para ficar no supermercado. Ficava na Rua Prudente de Moraes, em Rio Das Pedras, mais tarde ali funcionou o Supermercado Defavari. O Supermercado Miori trouxe uma grande mudança no comércio local. Foi o primeiro e era muito bonito. Meu marido permaneceu uns dez anos no supermercado. Quando o supermercado foi fechado ele já estava aposentado. Ele tinha uns setenta e poucos anos. Ele faleceu com 81 anos.
A senhora chegou a freqüentar o cinema de Rio das Pedras?
Era uma delicia! Chamava-se Cine Ipiranga. Só tinha sessões as quarta feiras, sábados e domingos, começava às sete horas da noite. Em cima do cinema tinha um salão de baile, O meu cunhado Américo Marino casado com a minha irmã Floripes e o seu irmão Nicolau Marino, pai do Natin, que construíram o prédio do cinema. O Natin naquela época era mocinho, jogava no XV de Novembro de Piracicaba. O prédio foi inaugurado a 7 de setembro de 1945. Naquela época eu estava usando luto ainda, pelo falecimento da minha mãe. Era costume, adultos e crianças vestirem-se com roupas pretas em sinal de luto, e assim vestiam-se por longo tempo.
A senhora lembra-se de quando as missas eram realizadas em latim?
Eu cantava em Missa de Réquiem, também conhecida como "Missa para os mortos" (do latim: Missa pro defunctis)”, cantava em latim, cantei muitas missas em latim. Eu cantava de Verônica em latim. Fui Verônica vários anos, mesmo depois de casada.
O que é música de Verônica?
É um lamento. Ela é cantada em cada estação a mesma música. Durante a procissão há quinze estações (A jovem, conhecida simplesmente por Verônica, é uma representação de Santa Verônica no seu encontro com Cristo na Via Crucis. Geralmente enverga um manto, por vezes complementado por um véu. O texto tradicionalmente cantado é o responsório em motete. O vos omnes, inspirado no versículo 1:12 do Livro das Lamentações, cuja autoria é atribuída a Carlo Gesualdo, que o incluiu na sua obra Tenebrae Responsoria)
Canto da Verónica (latim)
Responsorium :
O vos omnes
Qui transitis per viam,
Attendite, et videte
Si est dolor similis sicut dolor meus.

Versus :
Attendite, universi populi
Et videte dolorem meum.
Canto da Verónica (português)
Responsório:
Oh vós todos
Que passais pela via,
Vinde e vede:
Se há dor semelhante à minha!
Verseto :
Atentai, povos do mundo,
E vede a minha dor.
E tem que cantar com a alma?
Sem música, sem acompanhamento, sem nada. Tinha uma roupa preta, usava um véu preto, longo, tinha a estampa da face de Cristo, quando começava a cantar ia desenrolando, quando estava terminando enrolava de novo. As paradas eram em média a cada 150 metros. O percurso era: saía da igreja, passava atrás da igreja, descia até o bairro Bom Retiro e depois vinha pela Rua Prudente de Moraes até a igreja. Quando ia cantar às vezes subia em uma cadeira ou em um banco. Uma vez cantei no terraço da casa do Dr. Gorga. Ali é bem alto.
A senhora tem uma ligação muito forte com a Igreja.
Muito! Em uma ocasião enfeitamos uma enorme cruz só com crisântemos de várias cores, foi montada no quintal da casa da minha irmã, depois saiu o andor pelas ruas da cidade, na procissão de Bom Jesus, que agora não é feita mais. Em uma das ocasiões o Padre Zambon pediu que fizesse um bolo enorme, para a comemoração de uma data especial. Foram 130 placas de massa de bolo. O primeiro bolo tinha dez metros de comprimento. Em quinze minutos acabou. O segundo tinha mais do que o dobro do tamanho.
Rio das Pedras tinha uma banda de Jazz?
Meu marido tinha uma banda, a “Jazz Band Riopedrense” composta por Constance Miori, Silvinho, José Farah, Alcides e Luis Betiol. Nessa época meu marido era solteiro, devia ter uns 22 a 23 anos.
A senhora sempre foi uma pessoa muito ativa, trabalhando prol a comunidade. No período das eleições os candidatos a procuram para pedir apoio?
Eles vêm muito até a minha casa,
Em Rio das Pedras existe uma praça que tem o nome da senhora em sua homenagem?
Ela foi inaugurada em 11 de julho de 2009, quando Rio das Pedras fez 115 anos.
Desde que ano que a senhora é ministra da Eucaristia?
Desde 1996.
O que faz um Ministro da Eucaristia?
O Ministro da Eucaristia tem o seu trabalho dentro da igreja, faz parte de uma pastoral, existem várias pastorais. Além de fazer o seu trabalho dentro da igreja, tem ir dar a comunhão para os doentes, visitá-los, isso é feito uma vez por semana. Logo em seguida que eu comecei a participar o Padre Eugênio em uma das reuniões disse-me que gostaria que o ajudasse nas exéquias.
O que  são exéquias?
São orações com o auxílio das quais a comunidade cristã acompanha e homenageia seus mortos. Tem uma oração apropriada. Teve uma época em que havia mais dois ou três Ministros da Eucaristia para ajudar. Depois faleceram, permaneci por uns sete ou oito anos sozinha. Chegava a ir até duas por dia ao velório.
O que a motiva a trabalhar como voluntária, exercendo a função de Ministra da Eucaristia?
É o espírito de colaboração os sacerdotes pediam e eu fui colaborando. Houve a troca de vários padres e eu permaneci.
Qual é o sentimento que a senhora tem quando realiza um trabalho desses?
Tantos as Exéquias como as visitas aos doentes, me trazem uma realização muito grande. Nas exéquias levamos o conforto para a família, procedemos a entrega do corpo à Deus, mas também temos uma palavra para a família, alguns aceitam de uma forma mais fácil, outros já tem muita dificuldade em aceitarem a perda de um ente querido. Na Igreja não tem o que comentar, é algo muito lindo. Muito sublime.
As exéquias têm um horário determinado para fazer?
Eles telefonam para a paróquia e a paróquia liga para mim, dizendo a que horas será o sepultamento. Eu vou à hora em que eu posso. À noite eu não vou não se sepulta a noite. Algumas vezes tive que levantar mais cedo para ir ao velório.
Como a família reage com a senhora?
Sou muito bem acolhida! É uma liturgia que eu não sabia fazer, aprendi, com o tempo fui aperfeiçoando. Sempre fiz com muito carinho. Com amor. É difícil quando vemos uma criança chorando pelo falecimento do pai ou da mãe. Nessas horas tenho que ser muito forte. Tenho que concentrar-me no que estou fazendo e depois de terminada a minha função religiosa, posso tentar fazer algo para amenizar a dor daqueles que mais precisam. Já aconteceu uma vez, uma menina chorava copiosamente, fiquei penalizada, e identifique-me com ela, eu também tinha passado por isso quando a minha mãe faleceu. Quando terminei as orações junto a falecida, aproximei-me da menina, busquei um local mais tranqüilo, levei-a, conversei muito com ela. Ela acabou acomodando-se, Mas é difícil.
A senhora sem querer abraça um pouco a dor da família?
Sim! Naquele momento sim!
Como os doentes que recebem a sua visita são indicados à senhora?
O critério utilizado é visitar as famílias mais próximas da casa de cada voluntário. Atualmente somos em 40 Ministros da Eucaristia, Ministro de Exéquias somos duas.
A seu ver o leigo tem que ser mais participativo das atividades ritualísticas da Igreja?
Eu acho que sim. Apenas o padre não consegue desenvolver todo trabalho necessário, a comunidade é grande. Eu também participo da liturgia, que é a participação de pessoas durante a missa. Acabada a coleta do óbolo, é recolhida, vai para a sacristia, o valor coletado é contado, anota-se em dois papéis o valor, um papel com a anotação do valor vai dentro da sacola e outro vai para o altar, para o padre informar aos fiéis de quanto foi o valor recebido. Cabe ao padre dar os melhores destinos a coleta: manutenção da igreja, da casa paroquial, auxílio a necessitados.
Os Vicentinos têm uma expressão muito forte em Rio das Pedras?
Tem! Trabalham muito bem. Dão bastante assistência.
Antigamente existia o confessionário onde o padre ficava e o fiel postava-se de joelhos, do lado de fora e confessava-se. Atualmente não existe mais isso?
Hoje é um contato mais direto, não existe mais esse tipo de procedimento. Tanto o confessor como quem está confessando ficam de frente um para o outro. Dessa forma é muito melhor, agora temos mais uma direção espiritual. Há mais liberdade em falar. Não é um procedimento repetitivo. Da forma atual, sentamos, conversamos, tiramos as dúvidas. Se houver algo errado é dito. E ali recebemos a absolvição.
O número de psicólogos aumentou muito e diminuiu muito o número de confissões junto à igreja, o psicólogo de certa forma está ocupando um espaço que anteriormente era ocupado pelas confissões junto ao padre?
Sim! Tem muitas pessoas que não se confessam com o padre, mas contam muitas coisas ao psicólogo. Conheci uma pessoa da família que foi professor de psicologia na USP- Universidade e São Paulo, já faleceu. Aos psicólogos as pessoas falam tudo sobre sua vida. Basicamente o psicólogo só escuta a pessoa falar dos seus problemas. De certa forma o católico, talvez inconscientemente transferiu-se do confessionário para o consultório do psicólogo.
Ou seja, o ser humano tem a necessidade de externar os seus problemas?
Sim é uma necessidade inerente ao homem.
O Ministro da Eucaristia não realiza confissões?
Não! Existe um movimento dentro da Igreja Católica para a criação de sacerdotisas. O Papa tem feito reuniões visando esse fim, formar sacerdotisas.
A senhora tem o desejo de tornar-se uma sacerdotisa?
Infelizmente já não tenho mais idade para isso! Mesmo que eu fosse mais nova, possivelmente não seria. É uma responsabilidade muito grande, é possível cometer um erro, todo mundo erra. Muitas vezes temos a convicção de que estamos fazendo a coisa certa, por exemplo, a educação dos filhos, nós muitas vezes pensamos que estamos fazendo as coisas da maneira correta, e não estamos! Assim é a igreja. Vamos até onde achamos que a nossa situação permite.
Como a senhora vê atualmente a freqüência de fiéis á igreja?
Os meus pais não iam muito a igreja, não tinham tempo, com todos aqueles filhos para cuidar, prover sustento. Recebiam a imagem de Nossa Senhora no mês de maio, eles nos mandavam fazer às vezes deles na igreja. Hoje vejo pai, mãe e filhos na igreja. Sábado passado foi o dia de Bom Jesus, se entrasse na igreja não tinha lugar nem para respirar! Na verdade nossa igreja está pequena. Uma vez por mês tem a missa do Santíssimo há uma freqüência muito grande. Há muita fé, muita devoção. 
Atualmente o pároco de Rio das Pedras como se chama?
Seu nome é Luiz Antonio Favoretto. Pelo que eu sei é natural de Rio Claro, a paróquia em que ele trabalhava antes vir para Rio das Pedras foi a paróquia do CECAP em Piracicaba.
Como a senhora tornou-se personagem principal da propaganda de uma rede de farmácias?
Eu estava na igreja, tinha uma família que de vez em quando vinha assistir a missa aqui em Rio das Pedras, foi em 2013. O responsável pela agência freqüentava muito a casa do Padre Luiz Souza Lima que antecedeu o padre atual. Uma pessoa da agência convidou-me para fazer uma campanha para a Rede de Farmácias Drogal. As imagens e fotografias foram feitas em uma das unidades da Drogal na Avenida Independência, não a que fica em frente a Santa Casa, mas uma mais para frente no sentido da Escola de Agronomia. Fizeram banner, capa de revista, filmes.
Quanto tempo a senhora gastou para fazer as fotografias e a gravação em vídeo?
Saímos a s 8:30h e voltamos as 16:00h. Foi divulgado no Estado de São Paulo todo. Quando ocorreu a divulgação recebi muitos telefonemas. Mais duas pessoas participaram da campanha, tem até uma foto minha saindo com um senhor, como se estivéssemos adquirido remédios. 
A senhora faz também um trabalho voluntário em benefício da Santa Casa de Rio das Pedras?
Faço! Não trabalho lá dentro, reunimos algumas amigas e através de doações, fazemos um pequeno bingo beneficente, geralmente as segundas-feiras. Iniciamos em 2007 a 2008.  Temos uma conta no banco, só para essa finalidade, depositamos todo o dinheiro arrecadado, quando tem certa quantia levamos para as Irmãs da Santa Casa.
E as prendas surgem como?
Nós mesmas que compramos! Para nós é uma distração e sabemos para aonde vai o dinheiro. São todas senhoras idosas. Com isso temos aonde ir na segunda-feira.
Em frente a Igreja Matriz existe um sobrado muito antigo, que preserva suas características originais, a senhora chegou a conhecer as pessoas que ali moraram?
Era o tempo da glória! Na época ali morava a família Saliba. Eram pessoas muito boas. Lembro de alguns dos irmãos: Dr. Wahibo João Saliba, João, Elias, conheci todos eles. Eram primos do Dr. João Basilio que nasceu em Rio das Pedras.
A senhora foi rotariana?
Fui por pouco tempo. Lembro-me dos desfiles, das fanfarras, lembro-me quando vinha de Piracicaba a Silvia Hage, era baliza, ia desfilando a frente da fanfarra.
Um pouco antes do inicio da estrada vicinal que liga Rio das Pedras até a Rodovia do Açúcar existe uma capela, qual é o nome dessa capela?
É a Capela Santa Cruz. Indo por essa estrada tem outra capela, é a Capela do Barão de Serra Negra, ali que foi sepultado o Barão de Serra Negra. Mais tarde fizeram o translado dos seus restos mortais para Piracicaba. Aquela fazenda pertencia ao Barão de Serra Negra, é a Fazenda Bom Jardim. Tivemos em Rio das Pedras as usinas de cana-de-açúcar: Usina Bom Jesus; São José; São Jorge e a Santa Helena. As Usinas São José e São Jorge eram próximas. Só permaneceu a Usina Santa Helena. Nas comunidades rurais de Rio das Pedras ainda existe capelas.
Teve uma época em que havia muita Santa Cruz?
Eram pequenas capelinhas que marcavam o local aonde havia falecido uma ou mais pessoas, em acidente ou morte natural. Esse costume diminuiu muito, hoje tem poucas. No caminho de quem vai para a Fazenda Viegas, da família Basílio, ali tinha a capela onde o padre Geraldo foi assassinado.
A senhora chegou a freqüentar a fábrica de macarrão que existia cujo prédio existe até hoje?
Conheci a fábrica de macarrão, eu era criança, ficava no final da Rua de Baixo. Rua Torta e Rua de Baixo são dois nomes dados para a mesma rua cujo nome oficial é Rua Rangel Pestana. A Rua do Meio é aquela que fica paralela a Rua Rangel Pestana, é a também conhecida como Rua de Cima. A fábrica era do Seu Horácio Limongi, nós íamos muito lá porque naquela época o Seu Horácio era sócio do Seu Nicolau Marino. A família Limongi tinha padaria, e no fundo a fábrica de refrigerantes, a famosa Gengibirra,Itubaina, o Licor de Cacau Sublime. Muitas vezes íamos lá brincar e ganhávamos sorvetes de palito. A Tereza era nossa amiga, eles davam sorvete pra nós. Na padaria, além do pão comum faziam o pão de mel. Lembro-me bem da época da guerra, o trigo foi racionado, havia uma cota para comprarmos pão, enfrentava fila.
A cidade de Rio das Pedras em sua maioria era composta por imigrantes, principalmente italianos,  no período da Segunda Guerra Mundial, a senhora lembra-se de ter visto ou sabido de algum problema político?
 Teve! Os italianos não podiam ter rádio em casa. Confiscavam o rádio. Meu pai tinha rádio, mas era brasileiro. Eu conheci muitas pessoas que perderam o rádio. Nós tínhamos um cabo da polícia, o Pedro Salgado, ele andava com reio, todo mundo respeitava. A delegacia era onde mantém o prédio até hoje.   Entre a igreja e o local onde hoje tem uma cruz, havia duas casas, em uma delas ficava a câmara municipal e a prefeitura e em outra casa o posto de saúde, foram ambas demolidas, dando espaço para a praça. A Câmara e a prefeitura eram ao lado da igreja.
Rio das Pedras cresceu muito?
O grande problema é que a cidade não tem recursos hídricos, não temos água, as autoridades incentivam a construção de casas populares sem se atentarem ao fato de que a água é escassa. Há solução, o armazenamento da água em períodos chuvosos é uma das soluções, porém isso não é feito. Futuramente o grande problema que enfrentaremos será a falta de água. Trabalhei no Fundo Social de Solidariedade com o Prefeito Prefeito Antônio Costa Galvão por quatro anos e depois por oito anos com o Prefeito Marcos Buzetto, conhecido como Marquinho, trabalho voluntário, não remunerado.
Como a senhora vê o envolvimento da Igreja com a política?
Há um lado positivo, serve para conscientizar as pessoas dos seus direitos e deveres.




BENEDICTO JORGE (BEJOTA)

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 20 de agosto de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/ 



ENTREVISTADO: BENEDICTO JORGE (BEJOTA)
Benedicto Jorge é filho de João Batista Jorge e Maria José Barbosa. Nasceu a 29 de novembro de 1940. Seus pais tiveram nove filhos sendo que dois faleceram ainda muito novos.
Qual era a profissão do seu pai?
Meu pai era lavrador cultivava algodão, arroz, feijão depois passou a plantar cana-de-açúcar. Trabalhei na zona rural até meus quinze anos, trabalhei com o meu pai na lavoura, cortei cana-de-açúcar. Primeiro moramos em um local denominado Fazendinha, depois fomos para a Fazenda Dona Antonia, mudamos para o Bairro Monte Alegre, em um local onde hoje é conhecido como Água Seca, chamava-se Sítio Renata, de propriedade de Lino Morganti, isso foi em 1951. Lá eu cursei o primeiro e o segundo ano na Escola Rural Pedro Moraes Cavalcanti, situada no Bairro Dois Córregos. Quando o Lino Morganti vendeu, nós saímos de lá e mudamos para o local chamado Monte Olimpo, localizado logo após passar pelo aeroporto. Hoje não existe mais nenhuma casa daquela época derrubaram tudo. Lá foi bem melhor para mim, cursei o terceiro e quarto ano na Grupo Escolar Marques de Monte Alegre. Lá que conheci Geraldo Zaratin.







Você chegou a estudar enquanto trabalhava em alguns desses sítios? 
Quando morávamos na Fazenda Dona Antonia estudei na Escola Rural do Campestre, era uma casinha pequeninha. Lembro-me de que eu levava ovo, minha mãe dava para eu vender para a professora, ia todo empalhadinho. A professora pegava um dos ovos que já tinha comprado e mandava cozinhar para me dar na hora do recreio. Era uma verdadeira mãe. Permaneci nessa escola por uns seis meses apenas.
Morando no Bairro Monte Alegre você trabalhava?
Como fui um bom aluno, fui um dos melhores alunos da escola, obtive a nota final 95, a máxima era nota 100! O Professor Oswaldo Walder quis me ajudar. Ele conversou com a direção da Usina e arrumaram o serviço de office-boy no escritório da Usina. Iniciei em 1955, entregava papéis pelo pátio inteiro da fábrica, descia correndo, queria voltar logo para aprender datilografia. Servia café para o pessoal. Comprava alimentos, principalmente para o pessoal que morava na cidade, ia ao armazém, comprava verduras, comprava, encaixotava cada um tinha um box, eu deixava no lugar, certinho. Naquele tempo os funcionários iam de ônibus até as suas casas para almoçar, passavam no Box, pegavam o que eu tinha trazido.



Em que local ficava as casas desse pessoal?
Aqui, em Piracicaba. Naquele tempo não existia refeitório, ninguém tinha. Do Bairro Monte Alegre até Piracicaba demorava uns vinte minutos a meia hora. Eram duas horas para o almoço.



Você casou em que ano?
Casei-me com Edna Aparecida Morciani Jorge a 23 de julho de 1967, eu tinha 27 anos. O casamento foi na Igreja São Judas Tadeu, o padre era um holandês cujo primeiro nome era Otto. A lua de mel foi em Santos. Ela morava aqui “na cidade” como chamávamos Piracicaba, ia visitar umas primas que moravam lá em Monte Alegre, conhecemo-nos no cinema. Lá tinha salão de baile, cinema, clube, tinha tudo que uma pequena cidade possuía na época. Namoramos cinco anos, ela era contadora também, formamo-nos no mesmo ano, em 1963. Comecei estudando na Escola de Comércio Cristóvão Colombo, mais conhecida por Escola do Zanim, fiz a transferência para o Instituto Piracicabano, estavam começando a fundar a Unimep.



Após casados vocês foram morar em que local?
Fui morar com a minha sogra, na Rua Dona Eugenia, 2369. Nessa época fui convidado pelo Pedro Fúlvio Morganti para assumir a contadoria da fábrica de papel. Fui trabalhar como chefe de escritório. Chamava-se Refinadora Paulista S/A, quem deu esse nome foi eu, era uma espécie de filial da usina, a contabilidade era toda junta. Fui incumbido de separar e assim fundei a Refinadora Paulista S/A Celulose e Papel. Isso foi em 1968. Permaneci até 1975 trabalhando lá. Acabei fundando um clube, o Silva Gordo tinha adquirido a empresa, ele pagava muito bem os funcionários, dia 30 era depositado o salário de todos os funcionários, ele era dono do Banco Português do Brasil, pagava direitinho, só não deixava dar adiantamento para o pessoal, naquela época tínhamos 800 funcionários, e nesse numero de pessoas algumas tinham suas necessidades imprevistas, só que não era norma da empresa fazer adiantamentos. Fundei o Papyrus Clube Recreação e Beneficência. Durante um ano fiz um fundo para poder dar empréstimos ao pessoal que precisasse e também para fazer alguma recreação. Todos os funcionários associaram-se. Tínhamos uma sede, cedida pela própria usina, eles gostaram da iniciativa. Permaneci na empresa até 30 de junho de 1975.  Entre a Usina Monte Alegre e a Refinadora Paulista S/A Celulose e Papel eu tinha 20 anos de serviços prestados. Eu pedi a minha demissão. Fui trabalhar AM uma empresa que era Sociedade Anônima, a Colina Mercantil, com o Aldo Rizzardo. Permaneci por seis meses na empresa. Fui trabalhar na empresa Marrucci, com o Adelmo Marrucci. Permaneci uns oito meses. Um dia o Antonio Lubiani veio até a minha casa, convidou-me para trabalhar com ele. Ofereceu-me um salário quarenta por cento maior. Fui trabalhar na Lubiani Transportes. Era uma empresa que tinha poucos caminhões, só tinha um Scania Vabis, em sociedade com outra empresa. Aumentei o capital da empresa, os bancos abriram crédito, eu tinha procuração para assinar cheques so com o meu nome pela empresa, por oito anos assinei cheques pela Lubiani Transportes, os proprietários eram Antonio e Herminio Lubiani, dois irmãos. Estabeleci regras financeiras para a empresa. A Caterpillar estava começando a se instalar em Piracicaba.No meu entender isso foi um fator de sorte para a empresa Lubiani Transportes. Transportamos todo o material da construção da empresa, quando ela começou a funcionar passamos a transportar os seus produtos. Tivemos esse privilégio. Crescemos juntos com a Caterpillar, foi o nosso grande desenvolvimento. E também a Fábrica de Papel Oji. Aqui tem uma passagem muito interessante, até certa época outra empresa era responsável pela totalidade dos transportes de papel, só que em determinada época, os carreteiros dessa empresa fizeram greve, o superintendente da fábrica que na época chamava-se Refinadora Paulista, era José Ramos, perguntou-me se eu conhecia alguma transportadora. Tínhamos que retirar 200 toneladas de celulose em uma empresa de São Paulo tinha uma semana de prazo para retirar ou perderia a cota.





                           RETRATO A LÁPIS DE SEU FILHO FEITO POR BENEDITO JORGE

Foi feita alguma proposta especial para a Lubiani Transportes?
O Antonio Ramos disse-me que se fosse realizado o serviço no tempo determinado ele daria metade dos transportes do produto acabado para a Lubiani Transportes. O serviço foi realizado, e assim AA metade dos transportes de papel passou a ser feita por nós. Naquela época a empresa tinha apenas três caminhões “toco”. Ele se virava, arrumava carreteiros e fazia transportes. Foi assim que começou a Empresa de Transportes Lubiani Ltda. Quem me ajudou muito foi o Didi Cardinalli, os caminhões iam viajar na segunda feira e eu precisava de dinheiro para dar aos motoristas fazerem a viagem. Eu descontava um cheque com elem. Permaneci na Lubiani Transportes por oito anos, onde eu era o Gerente Administrativo Financeiro. Tinha um comprador, eram cotados os preços com três fornecedores, mas quem fechava o negócio era eu.
Você tinha o comando financeiro da empresa?
Tinha, e sempre procurei estar bem atualizado, participava de congressos, buscava sempre inovar. A empresa cresceu bastante. Saí da empresa e fiquei alguns meses sem nada para fazer. Eu tinha um vizinho, o Chicoca, que revendia pneus. Disse a ele que gostaria de estudar como era feita a ressolagem de pneus. O fato de ser conhecido como gerente da Lubiani ajudou-me a visitar diversas empresas de ressolagem, junto com o Chicoca. Eu queria montar uma recauchutadora de pneus. Por seis meses fiz pesquisa de mercado em Piracicaba, Campinas, São Paulo. Isso foi em 1983 a 1984. Todas que eu tinha visto, o processo era a vapor, até que vi uma cujo processo era diferente., usava óleo quente. Fui informado que em Sorocaba tinha uma empresa recauchutadora a venda. Fui até lá, fiz os levantamentos necessários e deduzi que em um ano ele se pagaria. Era uma empresa com mil clientes cadastrados. Cometi um erro, deveria ter levantado capital no banco e adquirido. Mas procurei por algum tempo várias pessoas para associarem comigo no empreendimento. Isso demorou um pouco de tempo. O pessoal da revendedora de caminhões Quinta Roda indicou-me a Grisoni Transportes de Campinas, eles tinha uns 100 caminhões grandes. Contrataram-me como Gerente Administrativo Financeiro. Um dia, almoçando, um dos proprietários da Grisoni questionou-me sobra meu interesse em comprar uma recauchutadora de pneus. Fez a proposta de adquirirmos em três: a Grisoni, eu e o Paulo, que foi gerente da revenda Scania.





Visitamos a empresa Irmaos Bornia Industria Maquinas que fazia as matrizes, fechamos o negócio. Convidei o Dr.  Frederico Alberto Blaauw para ser o meu advogado, ele fez o contrato de compra e venda lá mesmo. Compramos a empresa, em um ano ela auto se pagou. A empresa chamava Sorocap Recuperadora de Pneus Ltda. No segundo ano compramos dois caminhões, eu comprei uma autoclave que fazia dez pneus a cada vez. Comprei uma caldeira nova. Remodelamos muitas coisas. Montamos uma revenda de pneus em Itapetininga. Eu dei o nome: Itaetê Pneus. Itaetê significa uma pedra dura, algo forte. Eu dei esse nome porque lá tem muitos nomes indígenas, o próprio nome Itapetininga é de origem indígena. O nosso fornecedor de pneus era uma empresa de Recife. Ela foi vendida para uns japoneses, eles pararam de fornecer todos os clientes menores. Como tínhamos outros fornecedores a empresa se mantinha. Por motivos de ordem interna, decidi me desligar da empresa, troquei a minha parte na empresa por outras duas empresas em Santo Antonio de Posse: uma metalúrgica a NCH do Brasil Ltda. que fazia guinchos para rebocar automóveis, fazíamos os motores hidráulicos e a caçamba, fazíamos também caçamba para caminhões de coleta de lixo. Para transportadoras de lenha. Esses motores nós vendemos também para uns garimpeiros do Rio Madeira. Eram motores hidráulicos.  A outra empresa, era uma agro pecuária. Fazíamos iscas para bicudo e a gaiaolinha para prendê-los. Bicudo é uma praga que ataca o algodoeiro. Nosso maior cliente, e único, era o Governo Federal, através do Ministério da Agricultura, em função disso eu tinha que ir muita a Brasília Isso foi em 1985, 1986. Nessa época eu morava em Sorocaba e hospedava-me em uma pensão em Santo Antonio da Posse onde permanecia de segunda a sexta-feira. Foram uns dois anos desse jeito. A NCH do Brasil usava o nome de uma empresa holandesa, a NCH, vendemos a empresa aos holandeses.
Em que você foi trabalhar?
Montei uma empresa de transportes junto com Antonio Lubiani, ele tinha adquirido uma empresa, a Vale do Sol Transportes, Sempre tive um bom relacionamento dentro de grandes empresas. Nessa época eu tinha um veículo Caravan, meu filho me ajudava a fazer as cobranças em São Paulo. Roubaram um caminhão, não tínhamos seguro, passaram-se uns quatro a cinco meses, roubaram o segundo caminhão. Eu tinha capital de giro que era suficiente para adquirir um caminhão. Ai veio o Plano Collor, de um dia para outro fiquei com cinqüenta reais no bolso! Nesssa época morava em Sorocaba, voltei a morar em Piracicaba, o Antonio Lubiani convidou-me para trabalhar com ele, deu-me o cargo de vice-presidente.



 Cheguei a adquirir dez caminhões Scania Vabis em uma única vez, só que eu fazia leasing, um bom negócio para a empresa, entra como despesa. O pessoal de consórcio queria fazer negócio conosco, soque não era tão vantajoso como o leasing. Com isso levantei a empresa. Só que a empresa tinha adquirido muitos caminhões através de consórcio. Para diminuir as dividas da empresa, usei de um atifício legal, o pessoal de consórcio nunca cumpriu o prazo de entrega, todo prazo excedente de 30 dias montei um mapa e transformei em juros, com isso ganhei o valor equivalente a um caminhão. Transformei a empresa em uma holding, havia no almoxarifado um estoque de peças enorme, inclusive muitas peças que não se usava mais, por exemplo, peças para caminhões Alfa-Romeo. A empresa já não tinha mais esse tipo de veículo. Montamos uma revendedora de peças, uma empresa de revenda de pneus, uma empresa de seguros,  u,a e,presa de corretagem, uma rede de postos de gasolina. Meu primeiro trabalho foi montar uma rede de postos. Lembro-me que fui até a Petrobrás e recebi em dinheiro da época, 50 milhões, com juros de um por cento ao mês. O posto existe até hoje, é o Posto Lenhador, fica próximo a Ripasa, a margem direita do rio, pertence ao município de Limeira. Eu tinha condições de vender combustível para os carreteiros que chegassem para a nossa própria frota e ia fazer um convenio com os funcionários da Ripasa. Fui pioneiro em construir postos de gasolina em pré-moldados no Brasil.Fiz uma estrutura para montar um restaurante digno, para motoristas. Procurei no Hotel Escola de São Pedro informações sobre cardápio, queria montar um audiovisual, de tal forma que enquanto o motorista estivesse se alimentando estaria assistindo e aprendendo alguma coisa. Banheiros dignos.Com outros recursos construí um barracão de 2.000 metros quadrados, minha proposta era oferecer esse barracão para a Ripasa depositar o seus produtos nesse barracão, sem cobrar nada.Fiz um estudo para montar um barracão em Jacareí, a empresa Suzano era na margem direita do rio, eu estava adquirindo um terreno em Jacareí para montar a empresa lá,  levei até dois engenheiros para ver o local, fui falar com o prefeito de Jacareí. Ele disse-me que tinha um negócio melhor para mim, ofereceu uma área, que era em frente a Suzano.Projetei um barracão de 2.000 metros quadrados ara uso da Companhia Suzano de Papel e Celulose, a idéia era montar com transporte aéreo, passando por cima do rio, vamos ceder gratuitamente à empresa Suzano. Fiquei negociando com os donos da área, eram nove sócios, em razão de diversos fatores gerados por um numero tão grande proprietários, acabamos não realizando o negócio. Algum tempo mais tarde saí da empresa.





A seguir qual foi a sua próxima atividade?
Montei um escritório de contabilidade: Adição Assessoria Administrativa e Informática Ltda. junto com a minha esposa, que também era contabilista. Permanecemos com a empresa por uns cinco anos, faz uns seis a sete anos que paramos. No ano passado ela faleceu.
Você usa computador com os recursos que ele oferece?
Uso. Adaptei-me com certa facilidade. 
Quantas instituições você fundou?
Papyrus Clube Associação e Beneficência; Associação Amadores de Astronomia de Piracicaba; Observatório Municipal de Piracicaba;  Oscip Pira 21; Associação Brasileira de Racauchutadores de Pneus; Associação dos Transportadores de Carga; Primeiras Discussões sobre a criação do SEST/SENAT realizada no Rio de Janeiro; Holding Século XXI; Loja Maçônica Liberdade e Trabalho; Adição Assessoria Administrativa e Informática S/C Ltda.. Participação na Administração de várias entidades como: ACIPI; Conselho Coordenador da Entidades Civis de Piracicaba por mais de 30 anos; Sindicato dos Contabilistas de Piracicaba por 30 anos sendo 17 anos como Tesoureiro; União dos Escoteiros do Brasil – UEB Grupo de Escoteiros Tamandaré por cinco anos, sendo nos dois últimos amos chefe do grupo.
Você tem atuação em atividades artísticas?
Cantei por sete anos no Coral da Caterpillar, eu era baixo, minha mulher contralto. Ela faleceu, eu sai.
Dizem que você está participando de grupo de teatro, é verdade?
Apareceu uma propaganda em dos jornais da nossa cidade, fui fazer a inscrição. Isso foi no começo do ano. Telefonei, perguntei se tinha idade para fazer o curso de teatro. Disseram que tinha que ser maior de dezoito anos. Disse-lhe: “Estou com 75 anos!” A
menina consultou alguém e disse-me “Pode sim !”. 
Em que local é o ensaio do teatro?
No SESI do Distrito Industrial, próximo ao Bosque do Lenheiro. Aquela avenida fui eu que mudei o nome, era  Winston Churchill hoje é Av. Luíz Ralph Benati, ele trabalhou 32 anos na Mausa, depois trabalhou comigo na Lubiani. Fiquei brigando por dois anos. Escrevendo artigos no jornal.
Você escreve artigos para o jornal?
Escrevo esporádicamente e sobre assuntos que me interassavam.
Quantos artigos você tem escritos?
Tem bastante, estão no meu computador. Dá para fazer outro livro. Alguns dos artigos eu já passei para esse livro que em breve devo lançar.
Como é o ator Bejota?                        
A partir do dia primeiro de janeiro de 2016 eu deixei a barba crescer. Chequei no SESE barbubo, a menina que me atendeu começou a fazer inscrição para o Grupo da Terceira Idade. Eu disse-lhe que não era para a terceira idade, eu tinha ido em função da propaganda que eles tinham feito. Ela ligou para a professora, ela foi muito dinâmica, veio correndo, e fez a minha inscrição. E estou lá.
Quais são suas atividades lá?
Por enquanto estamos em estudos teóricos. São feitas dinâmicas de grupo. Ficam todos descalços, fazemos alguns exercícios físicos, exercícios de respiração, todos ficam sentados, só eu que ao invés de sentar-me no chão fico sentado na cadeira.
A sua convivência com faixas etárias mais jovens é muito interessante.
Fiz até um poema sobre uma peça que realizamos. Depois que fiz a segunda poesia à minha esposa estou me tornando poeta. Já fiz muitas poesias. A Secretária da Cultura, Rosangela Camolesi, incentivou-me a fazer inscrição em um concurso de prosas e poesias. Fiz um conto e mandei. Escrevi esse conto em 2010. Chama-se “Homenagem à Marco Aurélio”. Atualmente estamos ensaiando uma peça para ser apresentada em novembro. Os ensaios são às terças e quartas feiras.
Você teve quantos filhos?
Tive cinco filhos: Gladstone, Isabelle, Cibelle, Marcel e Michel.
O sobrenome Jorge tem qual origem?
Pelas pesquisas que fiz acredito ser de origem árabe. Eu até abordo esse aspecto em meu livro.
Você escreveu um livro?
Escrevi ! Está pronto para ser impresso, já tenho o “boneco” pronto, está aqui, chama-se “Além da Sombra da Primavera”. Está dependendo apenas de pequenas correções e principalmente de patrocínio. É um livro com250 páginas, é um livro autobiográfico.
Como surgiu a idéia de fazer esse livro?
Surgiu quando uma estagiária de psicologia e seu marido estavam escrevendo sobre o Conselho Coordenador das Entidades Civis de Piracicaba, fazendo pesquisas ela leu meus artigos. Um dia ela me telefonou e sugeriu que eu escrevesse um livro. Sou conhecido como Bejota, foi o saudoso jornalista Geraldo Nunes que me deu esse apelido, quando eu escrevi para o Jornal de Piracicaba.
Quando eu trabalhei na Lubiani Transportes criei uma fórmula, desenvolvi e coloquei em um gráfico, para medir o índice de crescimento da empresa. Na primeira gestão em que trabalhei na Lubiani Transportes foram oito anos, a empresa cresceu 49% ao ano. Eu disse à minha filha Cibelle; “No dia em que eu escrever um livro vou colocar nele essa fórmula!”. Minha filha disse-me: “Pai! Quem quer escrever, escreve logo!”. Comecei a escrever naquele dia! Levei oito anos escrevendo este livro. Em 2008 passei por uma cirurgia cardíaca, por oito meses tive que passar por fisioterapia, o meu amigo Cesário Ferrari, empresário piracicabano que atua em diversas áreas, inclusive a de saúde, colocou três funcionários de uma de suas empresas para cuidar da minha recuperação. Sou muito grato a Cesário Ferrari por esse gesto.
A atual fábrica de papel Oji, anteriormente era denominada como Refinadora Paulista, em meu livro conto a história dessa empresa desde o primeiro tijolo. Fui o primeiro contador da Refinadora Paulista.


Qual é a sua relação com a empresa Caterpillar do Brasil, através da empresa Lubiani Transportes?
Através da Lubiani Transportes, nós que transportamos todo material para a construção da fábrica Caterpillar em Piracicaba.
Você conheceu Geraldo Zaratin?
Eu menciono o Geraldo Zaratin em meu livro, fui vizinho dele, éramos contemporâneos.
Há também poesia em seu livro?
Há os poemas "Poeta" que compus em 1962, demorei dois dias para escrever e "O último adeus" que em vinte minutos estava pronto, compus na madrugada de 7 de julho de 2015

Poesia composta para a futura esposa:

POETA

Benedicto Jorge(Beny)

Poeta !?  Eu poeta !? Quem me disse ser poeta ?
Jamais tive loquaz facúndia
Neste paupérrimo cogitar ...!
Nunca pensei, confesso,
Com tal privilégio contar.

Porém ... estranho estímulo ...
...Diga, por favor,
Quem és ?
Näo me faças palpitar.


Oh ! Por que foges assim ...!
Idilista, tenebrosa insinuação
Jogaste-me num encapelado oceano,
Sem que soubesse nadar.

Mas, persistente , sou
Lutarei até o fim.
Apelarei aos Deuses Mitos
Caso minha força e insinuação näo der.

Suplico a ti, Netuno,
Conserva-me, ao menos flutuante.
E vós, cônjuges-Musa e Febo,
Dai-me uma inspiração eloquente.

E tu, Estrela Escarlate,
Se não decantada és pela plêiade universal
Evidencia à tua oponente Lua,
Que és afoíta, poderosa e sobrenatural.

Lumias com teu fulgor
Digas, por que sentimos assim?
...Se e o prazer da vida... se o contrário dela...
...Se paixão... ciúmes...amor...

Ah ! Até que enfim tenhas razão,
Tudo, tudo mesmo, claro ficou!
Qualquer um torna-se poeta,
Quando esse intruso, intrometido e estúpido
Cupido, nos toca o coração!








Poesia composta em homenagem â sua esposa quando soube que ela faleceu


ÚLTIMO ADEUS, EDNA
BENEDICTO JORGE (BEJOTA)

Descendentes de imigrantes da velha Itália
Foste a mulher da minha vida
Dos 17.516 dias que ao meu lado viveste
Dirigiste muito bem, nossas economias
E por que não? a minha vida!
          Foste singela na aparência
          Adepta aos bons costumes
          Sempre ignoraste os perfumes
A companheira, a parceira de todas as horas
Acompanhava-me nos eventos sociais
No trabalho, na tristeza ou na alegria
Correspondias à expectativa 
Do público das pessoas, onde passavas
          Espírito sempre presente,
          Ao primeiro toque
          Não hesitavas uma contra dança.
          O público vibrava, aplaudia
          Apoiando nossas intemperanças
Despojada das vaidades,
Cumpriste a tua missão
Entregaste a alma a Deus, muito rapidinho!
Numa terça-feira, o dia que Ele escolheu.
          Retornaste aos páramos, ao seio donde vieste,
          Com louvores do Senhor
          E das graças recebidas
          Dos muitos amigos e parentes, que aqui deixaste
          Que te contemplam e te dão o Adeus final
          Neste minuto pendente, que restou.
Gloria ao Pai Eterno!”
Este é  e será  o nosso bordão
De um homem apaixonado
Que te entregas ao chão “Mãe Terra”
Implorando o teu perdão
Encerrando com estas palavras,
Do fundo do coração.
          Para completar tua meta terrestre e
          Juntar às estrelas no infinito
          Espera por mim no Portão,
          Não demores!
          Senão, eu grito: ...Ednah…!
Num passado  não tão distante
Daquele abraço apertado, do beijo sufocado,
Que tu nunca negaste, não.
Deste poeta  de araque, inxerido.
Que sempre te amou,
E continuará te amando!
de  alma e coração.
























.

sábado, agosto 13, 2016

NILCE MOREIRA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 13 agosto de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos: tp://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/ 



ENTREVISTADA: NILCE MOREIRA

Nilce Moreira nasceu em Piracicaba, filha de Dirceu Moreira e Zoraide Amâncio Moreira, que tiveram 10 filhos: Nilce, Nadia, Nilson, Neusa, Nilton, Nazareth, Nívea, Nanci, Nivail e Nivaldo. Seu pai mudou-se de Sorocaba para Piracicaba com a finalidade de trabalhar nas Indústrias Dedini, no período em que a empresa estava em seu auge, por volta de 1959. Nilce residiu a Rua Antonio Bacchi, estudou no SESI onde teve como diretora Josette Bragion. A seguir estudou como auxiliar de enfermagem na Escola Industrial e o curso Técnico em Enfermagem cursou na Escola da Saúde de Piracicaba - Esaup
Após concluir seus estudos em que área você foi trabalhar?
Entrei para a área da saúde como Técnica de Enfermagem em hospital. Trabalhei em uma empresa de Campinas para a Caterpillar do Brasil em Home Care (No Brasil, o termo Home Care foi adotado como sinônimo de inúmeros serviços oferecidos por uma empresa, tais como: internamento domiciliar de saúde, atendimento domiciliar de saúde, assistência domiciliar de saúde). Eu trabalhava em uma empresa que dava assistência só para funcionários da Caterpillar.
Sua área de atuação era em que cidade?
Era em Piracicaba. A seguir fui trabalhar no Hospital da UNIMED onde permaneci por oito anos, no tempo em que o hospital situava-se ainda na Rua Fernando Febeliano da Costa esquina com a Avenida Carlos Botelho. Um dia me ligaram para atender a uma paciente, indicada pelo Dr. Leandro Sacchetin, médico oncologista que atende no Hospital dos Fornecedores de Cana de Piracicaba – HFC. Fui indicada para atender a paciente Beatriz Algodoal.
Quem era Beatriz Algodoal?
Beatriz Algodoal era filha de Jaime de Andrade Algodoal e Zenaide de Andrade Algodoal. Jayme de Andrade Algodoal formou-se em agronomia pela Escola Superior de Agricultura –ESALQ, por volta de 1920. Jaime e Zenaide tiveram dois filhos: Armando de Andrade Algodoal e Beatriz de Andrade Algodoal.
Qual é a relação do nome Algodoal com Piracicaba?
A origem do nome Algodoal é o algodão. João de Oliveira Algodoal nasceu em 1868 foi casado com Izaura de Andrade Algodoal são os pais de Conceição, Rita, Rafaelina , Jaime, João Batista. Eles eram plantadores de algodão, foram os “reis do algodão” nas redondezas. Em função dessa relação de grandes proporções com o algodão, o nome Algodoal foi incorporado ao nome da família. Eu conversava muito com a Beatriz, ela observava muito o sobrenome da pessoa, através dele ela já tinha referências.
A família Algodoal morava em que local?
Eles saíram de Brotas, foram para Santa Maria da Serra, São Pedro, e o João de Oliveira Algodoal adquiriu por volta de 1900 um imóvel em Piracicaba, que é preservado até hoje em sua forma original, muito bem conservado. Segundo relato verbal, anteriormente o imóvel tinha sido Casa de Farinha da cidade, João de Oliveira Algodoal adquiriu o imóvel da viúva de Fernando Febeliano da Costa. João de Oliveira Algodoal reformou o imóvel, é composto por cerca de 12 cômodos. Ele trouxe os filhos de Brotas para estudar na Escola Normal de Piracicaba, mais tarde denominada Sud Mennucci.
O Bairro do Algodoal tem alguma relação com a família?
Toda aquela área fazia parte de uma enorme extensão de terras que ia até a cidade de São Pedro pertencia à família. A área onde atualmente é a Avenida Carlos Mauro pertencia a um primo. A área onde hoje é o Hotel Fazenda SENAC pertencia aos primos.  A família Algodoal era muito grande, João de Oliveira Algodoal é um dos 16 filhos, sendo que cinco dos seus irmãos faleceram precocemente. A origem da família era a Vila da Constituição, nome dado anteriormente à cidade de Piracicaba. As raízes da família são de imigrantes europeus. Alfonso Agostinho Gentil de Andrade nascido em 1813 e falecido em 1890 é bisavô materno de Beatriz Algodoal. Há indícios de que a origem pode ser de descendentes de judeus, isso me foi dito pela própria Beatriz.
O que a motiva a preservar e resgatar o patrimônio e a memória da família Algodoal?
A princípio manter a tradição da família Algodoal, A casa por ser um imóvel histórico, tombado pelo poder público constituído, desde 2002, é um patrimônio da cidade. Ela está preservada com toda a sua originalidade. É parte integrante da História de Piracicaba, está dentro do corredor cultural da cidade. Entrar nesta casa é uma viagem através do tempo, é a história viva. Traz uma paz, jamais se imagina estar no centro da cidade. Os afrescos nas paredes estão inteiramente preservados. O avô materno de Beatriz Algodoal era Sebastião Nogueira de Lima casado com Zenaide Nogueira de Lima. Quando ele veio para Piracicaba sua residência era em uma chácara no Bairro Dois Córregos. Depois ele adquiriu a casa situada a Rua Santo Antonio, em frente ao Restaurante Monte Sul, no local está a loja de tapetes Porta Larga. O Dr. Sebastião tinha quatro filhas, uma delas era a Zenaidinha, mãe da Beatriz. Quando nasceu o Armando, filho de Zenaidinha e Jaime de Andrade Algodoal o seu pai, Jaime, plantou um pé de ipê, era costume na época, plantar uma árvore quando nascia uma criança. Isso foi registrado em um livro pelo Dr. Sebastião Nogueira de Lima. Esse livro estava no apartamento da Beatriz, um bisneto do Dr. Sebastião resgatou o livro em que narra essa passagem, do nascimento e do plantio da árvore.
Há descendentes da família Algodoal em Piracicaba?
Sim, existem muitos.
Como era Beatriz Algodoal?
Ela gostava muito da arte, ela era uma artista. Era muito interessada por História. Ela estudou na Escola de Belas Artes em São Paulo, morava em um apartamento no Bairro Higienópolis. Lá ela também mantinha um ateliê.
Quantos quadros ela pintou?
Aproximadamente uns 500 quadros! Recebeu muitos prêmios no Brasil e na Europa. Hoje sou a curadora do acervo de Beatriz de Andrade Algodoal. Quando a conheci, vim para exercer a minha profissão, com o passar do tempo percebi que estava diante de uma grande artista, ao mesmo tempo em que ela passou gradativamente a delegar-me tarefas que iam além do meu trabalho inicial. Passei a cuidar de suas tarefas burocráticas, normais ao cidadão comum, até o seu falecimento. A Beatriz pintou vários quadros tendo como tema partes ou cômodos da casa da sua família em Piracicaba. Uma das suas obras é a fachada do Mosteiro da Luz, situado em São Paulo.  
Beatriz de Andrade Algodoal
Nilce conheceu uma grande artista natural de Piracicaba: Beatriz de Andrade Algodoal nascida a 28 de janeiro de 1943, tendo como nome artístico Beatriz Algodoal.  “Que desde cedo se dedicou a pintura e ao desenho, estudando na Fundação Armando Álvares Penteado e Associação Paulista de Belas Artes, teve como professores Inocêncio Borghese e Salvador Rodrigues Jr. Fez cursos de Arte no Brasil e na Europa. No campo do desenho trabalhou com bico-de-pena e guache, tendo como tema principal a arquitetura colonial brasileira. Com sua pintura impressionista (Pinturas que não tinham preocupação com o preceito do realismo ou da academia, surgiu na França no século XIX, em 1872 com Claude Monet) “Beatriz buscou sempre uma integração com a natureza, retratando sua vibração, luminosidade e cores. Beatriz Algodoal foi uma artista de grande senso estético, dominando com perfeição a escola acadêmica-impressionista e dotada de enorme sensibilidade. Seus quadros, poeticamente interpretados, transmite-nos uma agradável sensação de paz e alegria.” Isso foi dito pelo artista plástico Celso Coppio a 17 de junho de 1988 em uma exposição realizada em Curitiba. Beatriz Algodoal participou das exposições: Salão da Paisagem Paulista realizado pela Associação Paulista de Belas Artes em 1976 onde recebeu a “Medalha de Bronze”; Salão de Arte de São Bernardo do Campo em 1976 onde obteve a “Grande Medalha de Bronze”; Salão de Artes Plásticas da Aeronáutica em 1977 no Rio de Janeiro; Salão de Artes Plásticas da Sociedade Artística Batista da Costa em 1977 no Rio de Janeiro; Salão da Primavera APBA em 1978 foi premiada com o “Troféu Rosa de Bronze”; Salão de Artes de Embu em 1978 onde conquistou a “Pequena Medalha de Prata” e “Prêmio Luiz de Almeida Carvalho”;  Feira Internacional das Artes em 1978 em Nova Iorque; Salão Paulista de Belas Artes em 1978 “Menção Honrosa”; Salão Sociedade Amigos do Salão Paulista em 1978 “Pequena Medalha de Bronze”; Exposição Coletiva na Galeria “Mestre das Artes” em São Paulo no ano de 1978;Salão de Maio da Sociedade Brasileira de Artes em 1979 no Rio de Janeiro; Salão de Artes Plásticas de Itu em 1982 “Grande Medalha de Bronze”; Coletiva de Artistas Brasileiros no “Centre Internacional d`Art Contemporain” em 1984 em Paris “Grande Medalha de Bronze”; I Mostra de Arte Contemporânea Brasileira em Portugal 1985 – Lisboa “Pequena Medalha de Prata”; Academia Brasileira de Arte,Cultura e História em 1985 “Medalha da República” realizada em São Paulo; XVI Salão da Primavera APBA 1985 “Troféu Durval Pereira”; XVII Salão da Primavera APBA em 1986 “Troféu Deputado Estadual Luiz Carlos Santos”; 43º Salão Livre da Associação Paulista de Belas Artes 1986 “Troféu Ettore Federichi”; 49º Salão Paulista de Belas Artes 1987 “Pequena Medalha de Prata; I Salão Nacional de Artes Plásticas São Paulo Rio Grande do Sul 1987 “Premio Secretaria Municipal de Cultura” São Paulo; Individual Club Athletico Paulistano 1987; Individual Club Athletico Paulistano 1988;  Coletiva Sociarte Club Monte Libano; 46º Salão Livre A.P.B.A.  “Troféu Ettore Federighi”1988; Membro do Juri  XIX Salão da Primavera A.P.B.A. 1988; Membro do Juri I Salão de Arte Contemporânea de Ubatuba em 1989; Individual São Paulo Hilton Hotel 1989. Conforme noticiado em “A Tribuna Piracicabana” de sábado, dia 3 de abril de 2004: “Na Galeria do Engenho Central foi feita a abertura da exposição as 11h30 da artista plástica Beatriz Algodoal, também professora de arte”. O Jornal de Piracicaba em matéria assinada por Celiana Perina, também anuncia a exposição complementando: “Apesar de ser filha da terra, é a primeira vez que realiza uma exposição individual no município, já que sua carreira foi bastante difundida em São Paulo. A prática diária e a habilidade natural, despertada na infância, lhe conferem uma intimidade com a pintura ao ponto de criar uma obra em cada duas horas, espontaneidade chamada de “Alla prima” (pintura espontânea). Beatriz também faz questão de criar ao vivo cada um dos quadros que confecciona já que gosta de expressar em suas telas o que sente e vê no momento. “Minha pintura é bastante intuitiva e tem uma relação forte com a natureza. Gosto de retratar a luminosidade do por do sol e usar cores vibrantes”. Na mostra foram expostos 52 quadros em óleo sobre tela e em estilo impressionista, pintados em marinhas de Itanhaém, paisagens de parques paulistanos como Ibirapuera, Jardim da Aclimação, Parque da FAU-Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo, Horto Florestal, além de interiores, flores,e naturezas mortas. Beatriz também pintou as belezas do Rio Piracicaba Em sua opinião a cidade tem tradição em artes plásticas. A pintora atuou por dez anos como professora de história da arte”. 
Beatriz de Andrade Algodoal preencheu Ficha de Adesão de Novos Sócios da Associação Piracicabana dos Artistas Plásticos tendo como principal atividade artística Artes Plásticas – Pintura. Outra modalidade declarou a Pesquisa Histórica. A ficha foi preenchida a 15 de fevereiro de 2004 tendo como sócio proponente Eduardo Borges de Araújo.
A repercussão da mostra de Beatriz Algodoal em Piracicaba foi grande. Artistas e público se manifestaram em louvor a grande artista que fazia a sua primeira exposição na cidade em que nasceu após conquistar outras terras. A seguir um dos comentários:
“A vida diária é um aprendizado sistemático. É a “lei do menor esforço”, nós a praticamos sistematicamente devido ao nosso comodismo inato. Por isso o hábito, visceralmente em nós arraigado, de condenar tudo e todos. É mais fácil condenar do que julgar. Em se tratando de “obra de Arte”, mais que especialmente, os nossos polegares se voltam para baixo, num pronunciamento tácito mas irreversível. Difícil, porém, é julgar com retidão e equilíbrio, de maneira justa e perfeita.Mas em se tratando da obra pictórica de Beatriz Algodoal, que ora expõe na Galeria do Engenho Central, em Piracicaba, o nosso espanto é o nosso julgamento: uma surpresa, uma “epifania” no verdadeiro sentido etimológico da palavra. A mencionada artista se revela com um verdadeiro ex abrupto, surpreendendo a todos nós pela ousadia da sua temática, a coragem de suas pinceladas marcantes, sinceras e nítidas como um autentico stacatto dentro de uma frase musical. Toda essa exposição nada mais é do que uma sinfonia no estilo de Brahms, com todos os seus fortes e pianos, os seus solos e seus tutti num vibrante uníssono em que a cor e o desenho, a matéria e a forma se encaixam dentro da moldura do Belo” Lupo da Gubbio, AD 2004”.





















domingo, agosto 07, 2016

MARIANA CANCILIERO VALENTINI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS 
JOÃO UMBERTO NASSIF 
Jornalista e Radialista 
joaonassif@gmail.com 
Sábado 06 agosto de 2016.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana 
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos: tp://blognassif.blogspot.com/

http://www.teleresponde.com.br/ 


ENTREVISTADA: MARIANA CANCILIERO VALENTINI


Mariana Canciliero Valentini nasceu em Piracicaba a 4 de agosto de 1928, na Avenida Independência, em frente ao Seminário Seráfico São Fidélis, Seu pai trabalhava na reforma do Seminário, moravam em uma casa em frente ao Seminário. Seus pais são Ludovico Canciliero e Maria Virginia Casonato Canciliero. Foram pais dos filhos: Raul, Cecília, Adelina, Ângelo, Evaristo, Filomena, Mariana, Terezinha, Roselis.
Qual era a profissão do pai da senhora?
Era ferreiro, ele trabalhava na empresa Krahenbuhl, fazia todo tipo de ferragem, A Krahenbuhl é uma empresa que tem uma tradição centenária. A sua história tem início no ano de 1870, data da sua fundação. A empresa começou como uma pequena oficina de troles e carroças e com o passar dos anos conseguiu crescer e ganhar prestígio através da construção de veículos de tração animal premiados que tinham fama a nível nacional. Meu pai passou a ter uma oficina no quintal, fazia desde a roda até a montagem completa da carroça.Minha mãe, para ajudar o meu pai, no começo lavou roupa.
Em que escola a senhora estudou?
No Grupo Escolar Barão do Rio Branco. Minha primeira professora foi Dona Orlandina Sodero Pousa, foi minha professora no primeiro e segundo ano, no terceiro foi Dona Gessy, no quarto ano eu tive três professoras: Dona Maria José Aguiar Ayres que faleceu no meio do ano, ai ficou Dona Jocila e depois veio Dona Otilia.
Após concluir o grupo escolar qual foi a sua próxima atividade?
Minha cunhada Benedita, conhecida como Tica, faleceu, ela era esposa do Raul. Ela deixou duas crianças: Raquel e Rutênio, a Raquel foi ao médico pela manhã, era o Dr. Tito, a tarde ela faleceu de gastrenterite. Como eu era pequena mamãe disse-me que era para tomar conta do Rutênio, por dois anos ele e a Raquel ficou morando em casa. Ao completar 13 anos fui aprender costura com a minha irmã Adelina. Eu queria usar a máquina de costura, ela dizia-me que eu deveria primeiro aprender a fazer hachuras ou popularmente “achuriar”, fazer barra, pregar botão, essas coisas. Eu a ajudava muito nas tarefas domésticas. Ela sempre foi um sonho de irmã. Lá permaneci até meus 15 anos. Minha irmã Ângela trabalhava na loja “A Porta Larga”, eu disse â minha mãe que queria trabalhar também na “A Porta Larga”. Com a interferência de um irmão meu, aos 15 anos fui ser balconista da “A Porta Larga”.
Quem eram os proprietários na época?
Seu Phelipe, Salum, Adib, Jamil, Carlito. Na loja eu trabalhava na seção de miudezas, linha, botão, novelo. Éramos três mocinhas trabalhando em um balcão. Ela já era grande, considerada a maior loja da cidade. Funcionava no prédio onde hoje está a loja Torra-Torra. Quando completei 18 anos fui fazer a minha carteira profissional em Campinas, em Piracicaba ainda não tinha como fazer. Lembro-me que fomos eu e a Terezinha Azevedo. Nós duas trabalhávamos na “A Porta Larga”. Fomos de trem pela Companhia Paulista de Estadas de Ferro. Estava trabalhando na loja, mas queria melhorar. Tentei entrar na loja Singer. E consegui! Ficava na Rua Governador Pedro de Toledo. Sempre fui uma lutadora, nunca tive medo.
Em que local ficava a loja Singer?
Ficava na Rua Governador, próxima a Casas Pernambucanas. A Terezinha e a Hilda Braga trabalhavam lá. Um dia li no jornal que no Colégio Piracicabano estavam precisando de uma secretária. Fui ver o que era. Fiz uma prova e fui aprovada. Passei a trabalhar lá. Meu serviço era calcular as médias das notas dos alunos da quarta série, o diretor do Colégio Piracicabano era o Professor Josaphat de Araújo Lopes. Eu tive uma oferta de emprego, um serviço bem diferente. Dr. Raul Machado era médico pediatra, Minha mãe conhecia Da. Lourdes Bacchi, esposa do Dr. Irineu Bacchi, Dr. Raul havia dito que precisava de uma pessoa para ajudar no laboratório, ser atendente no consultório. O Dr. Raul procurou-me na minha casa. Minha mãe recomendou-me que eu fosse com a minha irmã Cecília que morava na Rua Governador Pedro de Toledo, o meu cunhado Elpidio, era gerente da loja “O Rei das Roupas Feitas”.O Elpidio era uma pessoa maravilhosa, faleceu relativamente moço, faleceu contando dinheiro obtido em óbolo ofertados para a Catedral. Fui com a Cecília para ver o que o Dr. Raul queria. O Dr. Raul contratou-me com um salário que era quase o dobro do que eu ganhava como atendente na loja. Eu fui não sabia nada do novo trabalho, em um ano aprendi tudo.
Fazia exames de urina, fezes, sangue, bacterioscopia. (Por exame bacterioscópico compreendemos o exame microscópico do material)
Após feitos os procedimentos, normais, o Dr. Raul verificava, acompanhava, via se estava tudo sendo feito da forma correta, fazíamos exame de tuberculose, tinha que coletar, colocar em uma lamina, curar, secar, colocava óleo de cedro e verificava através do microscópio de tinha bacilo. Fazia exame de olho, para saber se o paciente poderia operar se não tinha bacteroscopia. Urina fazia exame do tipo 1.
A senhora fazia coleta de sangue?
Coletava! Ia à casa do doente para coletar sangue. Antes de começar a trabalhar no laboratório do Dr. Raul, ele me mandou para a Santa Casa onde fiquei um mês trabalhando e aprendendo. Lá aprendi a fazer injeção, a coletar sangue, a fazer exame de urina mais rudimentar. Pesquisa de albumina, glicose.
Já havia problema de altas taxas de glicose na época?
Já!
Estamos falando de aproximadamente 1948?
Eu tinha uns 20 anos de idade. Trabalhei no laboratório seis anos quando era solteira e seis anos depois de casada. Quando tinha quatro filhos o Dr. Raul achou que seria melhor eu dedicar-me a família.
Como se chamava o marido da senhora?
Era Willians Antônio Harry Valentini. Era mecânico de tratores, meu sogro, Gabriel Valentini, tinha uma oficina para conserto de tratores e máquinas agrícolas na Rua Alferes José Caetano, 2170, entre a Rua Joaquim André e a Avenida Dr. Paulo de Moraes. Chamava-se “Mecânica Irval” (Irval tem a origem em Irmãos Valentini). Eram quatro moços, quatro filhos, que trabalhavam lá. O setor passou por uma crise. Meu marido foi trabalhar como concursado na Escola de Agronomia, consertava tratores e quando o professor ia dar aulas de máquinas e equipamentos meu marido era o assistente do professor.
Quantos filhos vocês tiveram?
Tivemos oito filhos: Willians, Wilson, Maria Clara, Marcos, Walter, Maria Aparecida, Maria de Lourdes (Ude) e Maria Virginia.
Como a senhora conheceu o seu marido?
Eu era Filha de Maria, na Igreja dos Frades, a Silvia, minha cunhada era minha amiga, ela namorava o irmão do Willians, o Wilson, eles eram muito bonitos. Altos, tinham 1,80, naquele tempo usava-se paletó e chapéu. Na saída da Igreja dos Frades, encontramo-nos e o Willians veio conversar comigo. Naquele tempo íamos até o centro, quadrar o jardim. Um dia eu estava quadrando ele veio falar comigo. Passamos a namorar, quando fazia um mês de namoro um dia perguntei-lhe a idade, ele disse que tinha 18 anos. Eu disse-lhe: “-Então vamos terminar, eu tenho vinte anos!”. Ele apenas disse que dois anos não significava diferença. Continuamos namorando por mais de quatro anos, meu pai dizia: “-Moça tem que casar até 25 anos, senão não casa mais!”. Eu não queria ficar solteirona! Casamos no dia 26 de setembro de 1953, na Igreja dos Frades, acho que foi Frei Estevão quem nos casou. Passamos duas semanas em lua-de-mel em Santos. Fomos morar em uma casa na Rua Madre Cecília, o fogão era a lenha. A casa era novinha, fomos os seus primeiros moradores.
E para almoçar como fazia?
Ia comer em casa, comia de marmita. O consultório onde eu trabalhava era na Rua Rangel Pestana, próximo ao Colégio Piracicabano.
Quando nasceu o meu primeiro filho eu disse ao Dr. Raul que iria sair.
Ele perguntou-me porque eu queria sair, disse-lhe que era para olhar o meu filho. A coisa mais maravilhosa do mundo é ser mãe! Eu olhava-o no bercinho e chorava de dó em ter que deixá-lo para ir trabalhar. O Dr. Raul perguntou-me: “-Se a Lazinha for trabalhar para você?” Ela era empregada da esposa do Dr. Raul, Dona Helena. Ele mandou a Lazinha ir trabalhar em casa, e eu permaneceria trabalhando no laboratório. A Lazinha era uma cabocla muito boazinha, trabalhou quatro anos comigo. Quando meu primeiro filho saiu do primário, pensei agora ele vai trabalhar. Fui ver emprego para ele na Sapataria Santos, situada na Rua Governador Pedro de Toledo.  Tinha falecido meu cunhado, Líbio Duarte, ele era aviador, tinha taxi aéreo, um dia ele foi levar um passageiro que ia a um casamento, era um fiscal do INPS, o Abreu, o tempo estava nublado, houve um acidente, morreu ele, o Abreu e o filho do fotografo Lacorte. Minha irmã Rosélis era esposa do Líbio, estava grávida. A Zaira Bottene, que também era aviadora, a noite inteira não dormiu, para que ninguém fosse dar a noticia a Rosélis. Quem foi avisar foi o meu cunhado Elpideo, chegou lá umas sete e meia, era dia primeiro de maio. A Roselis era uma menina muito boa, tinha trabalhado uns cinco ou seis anos na Livraria Brasil.
Após residir na casa da Rua Madre Cecília a senhora mudou-se para que local?
Fui morar perto da minha mãe, achava uma falta dela! Fomos morar na Rua José Pinto de Almeida. Com financiamento da Caixa construímos uma casa de 7 por 30 metros na Rua Santa Cruz, 1756.
A senhora tornou-se uma cozinheira cujos pratos eram muito requisitados. Como isso aconteceu?
Criança quando vai estudar acaba perdendo o amor a escola, com isso a preocupação maior deles foi sempre estudar. O pai é quem trabalhou. E a mãe. Após sair do consultório passei a fazer bolos, Terezinha Azevedo me ajudou muito com os salgados. Eu não sabia fazer coxinhas, croquetes. Uma das primeiras encomendas feitas por uma amiga foi de 100 croquetes, eles dançavam no prato! Eu fazia esfirra, foi o meu forte no trabalho no fogão. Fazia para a Escola de Música, lá eu tinha meus filhos estudando. Hoje tenho dois filhos que são músicos profissionais, o Walter que toca contrabaixo, com pós-graduação nos Estados Unidos. A Maria Virginia foi à Itália para complementar seus estudos de viola barroca.
Qual é o seu sentimento em ver seus filhos todos com curso superior, médico, engenheiros, jornalista?
Faria tudo de novo! Os oito têm curso superior completo, para uma mãe é uma tranqüilidade.
Como os filhos tratam essa super-mãe?
Cada um se manifesta da sua forma. Já fui duas vezes para a Itália.
O que a senhora faz para passar o tempo?
Rezo! Meu santo de devoção é Jesus Misericórdia e Santa Faustina. Uma pessoa trou-me um folheto sobre Santa Faustina, quem era devota dela era Dona Maria Figueiredo, que foi proprietária da Rádio Difusora de Piracicaba e que viveu mais de um século com muita saúde e lucidez.   
A senhora tem uma psicologia muito apurada!
Sabe o que é? Conviver com oito filhos, estar sempre no ambiente de juventude.
Nessa vida de muitas lutas e vitórias o que a marcou muito?
A Providência Divina! Chiara Lubich fundadora do Movimento dos Focolares, um movimento que tem como finalidade a construção de um mundo unido, o "que todos sejam Um" foi uma pessoa muito importante em minha vida. Eu cheguei a escrever para ela. Eu acredito que se devem educar os filhos em Deus. Hoje muitas dificuldades existem pela ausência de Deus na vida da pessoa.
A vida simples de algumas décadas passadas tinha suas compensações?
Lógico! Hoje a humanidade tem maiores recursos material, e menos espiritualidade, humanismo.



Postagem em destaque

      TÉO AZEVEDO E THAIS DE ALMEIDA DIAS     TÉO AZEVEDO E THAIS DE ALMEIDA DIAS       TÉO AZEVEDO E THAIS DE ALMEIDA DIAS             ...