segunda-feira, janeiro 16, 2017

JOSÉ AREF SABBAG ESTEVES

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 17 de dezembro de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: JOSÉ AREF SABBAG ESTEVES


José Aref Sabbag Esteves nasceu a 13 se setembro de 1953 na cidade de Jaú. Recebeu o título de cidadão piracicabano concedido pela Câmara Municipal de Piracicaba. José Aref é filho de Ayres Esteves Farto e Ivone Aref  Sabbag Esteves que tiveram ainda os filhos: Mário, Maria Helena, Walter e Carlos Alberto.
José Aref Sabbag Esteves é Diretor Jurídico na APASPI – Associação de Pais e Amigos de Surdos de Piracicaba; Membro Titular do Conselho Acadêmico do Clube dos Escritores de Piracicaba- Cadeira 26 – área de Ciências- A partir de 2006; Membro Efetivo do Conselho Consultivo do Sindicato dos Contabilistas de Piracicaba e Região, desde 2005; Voluntário- Contabilidade e Assessoria Tributária na Associação de Pais e Amigos dos Alunos da Escola Passo a Passo; Voluntário – Contabilidade e Assessoria Tributária no Esporte Clube XV de Novembro; Sócio Patrimonial do Esporte Clube XV de Novembro de Piracicaba, desde 1987; Moção 019/02 de Aplauso, como um dos idealizadores do VIII Arrastão Ecológico no Rio Piracicaba; Moção 080/03 de Aplauso de Contabilista de Piracicaba em comemoração ao Dia do Contabilista; Cidadão Piracicabano conferido pela Câmara Municipal de Piracicaba, Decreto Legislativo 14 de 03/10/2005, projeto apresentado pelo Capitão Gomes; Contabilista Emérito do ano de 2006, eleito pelo Sindicato dos Contabilistas de Piracicaba e Região aos 25 de abril de 2006. Exerceu os cargos de: Diretor Tesoureiro da OAB/SP 8ª Subesecção Piracicaba 1998/2002; Coordenador da Escola Superior de Advocacia – ESA- Piracicaba 1999/2000; Primeiro Secretário do Rotary Club de Piracicaba ano 1998/1999; Coordenador da Comissão de Serviços Internos do Rotary Club de Piracicaba 1999/2000 e Serviços à Comunidade de 2005/2006; Presidente do Rotary Club de Piracicaba, Período2001/2002; Presidente das Empresas de Serviços Contábeis de Piracicaba e Região por duas gestões 1991/1994 e 1994/1997, e 2005; Membro Efetivo da Primeira Câmara do Conselho de Contribuintes do Município de Piracicaba; Membro do Conselho Consultivo da Associação das Empresas de Serviços Contábeis de Piracicaba e Região 1998/2001; Membro do Conselho Consultivo do Sindicato dos Contabilistas de Piracicaba e Região 1999/2001; Presidente do Sindicato dos Contabilistas de Piracicaba e Região 2002/2005; Conselheiro do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo 1996/2005 exercendo o cargo de Coordenador da Câmara de Registro; Vice-Presidente de Registro do Conselho Regional de Contabilidade Mandato 2006/2009; Coordenador da Comissão de Administração do Clube do Rotary Club de Piracicaba 2006/2007; Governador Assistente Distrital da Área 8 do Distrito 4310, do Rotary Club Internacional




                                                                             


Você fez seus primeiros estudos em qual escola?
Estudei em várias escolas, mas o local em que permaneci maior tempo estudando foi no Colégio Piracicabano. Em Jaú estudei em escolas infantis, primário. Uma parte do primário eu estudei em Maringá, no Instituto Filadélfia, eram adventistas. Permaneci lá até os 12 anos quando vim com a minha família para Piracicaba.
Qual era a atividade profissional do seu pai?
Nos últimos anos meus pais tinham loja. Antes ele teve uma fábrica de perfumes: Perfumaria Ivone, que é o nome da minha mãe. Isso na época em que não existia a forte industrialização dos cosméticos. Isso faz bastante tempo, muitos não irão se lembrar quando se fabricava laquê, brilhantina, óleo de babosa, pó de arroz, óleo de ovo, esmaltes, antigamente muitos desses produtos eram utilizados para passar no cabelo.
Eram produzidos em que local?
Em casa mesmo, era uma empresa de economia familiar, funcionava na Rua Ipiranga esquina com a Avenida Armando Salles em um sobrado. Ali meus pais fabricavam o que conseguiam produzir. Papai saia fazer entregas as segundas feiras, o que tinha sido vendido na semana anterior. Na terça, quarta e quinta ele saia para vender. Não tinha carro, não tinha nada, ia de ônibus. Vendia para lojas, pequenos bazares, ia até Araçatuba, Itapetininga, Botucatu, para todas as lojas da região ele ia para fazer vendas. Às sexta feiras, voltava, fazia a relação da matéria prima que tinha que adquirir, minha mãe ia para São Paulo no sábado, fazer as compras desse material. Adquiria geralmente na Rua 25 de Março, ou nas proximidades da Praça João Mendes, onde havia uma rua com muitas lojas que revendiam frascos, todo tipo de artigo para fabricantes de perfumes. Ali havia essências, vidros, todo o material necessário para produzir o que o cliente necessitava.
Quando seu pai entrou para esse segmento de negócio, ele tinha alguma formação na área?
Não tinha! Era motivado pela curiosidade. Ele tinha um cunhado que fabricava esses perfumes em Belo Horizonte. Em uma das ocasiões em que ele foi para lá, conheceu, seu cunhado Hélio montou a estrutura para que meu pai começasse a trabalhar nesse setor. O negócio foi progredindo. A vida do meu pai foi muito sacrificada, ele fazia tudo isso a pé, às vezes de ônibus. Mas ele se saia bem. Lembro-me até hoje, ele fazia as caixas dos cosméticos, ele adquiria papelões na fábrica de papel, em Piracicaba, trazia nas costas essas folhas de papelões, grandes e fabricava as caixinhas para colocar os produtos: perfumes, esmaltes, laquês.
E os rótulos?
Isso ele adquiria em São Paulo, escolhia uma linha de rótulos e adquiria sempre aquela linha. Com o mostruário montado, saia vendendo. Sábados à tarde e domingos eram produzidos os produtos que haviam sido vendidos. Os esmaltes vinham prontos, a granel, eram colocados nos vidrinhos. O laquê era muito utilizado na época, as mulheres usavam o cabelo armado. Papai fabricava o laquê, montou a fórmula, vendia muito.
Quanto tempo ele ficou nessa labuta?
Foram uns 20 a 30 anos.
Com isso o nome ficou muito forte?
Não se divulgava muito o nome na época. Era um produto conhecido, as vendas eram feitas em armazéns da nossa cidade ou de outras cidades, o estabelecimento já sabia o que queria, o que comprar dele. Ele formou uma clientela cativa, principalmente em bairros. Todos da família ajudavam, nesse ínterim eu trabalhava na loja Kraid Magazine de propriedade de Nagib Kraid e Miguel Kraid. Era boy, faxineiro, fazia entregas de roupas. A noite estudava no Colégio Industrial, tive como professor Danilo Sancinetti.
Havia a famosa Banda Marcial do Colégio Industrial.
Toquei muito tempo na Banda Marcial, visitei com ela muitas cidades. Era um espetáculo muito bonito. Impecável. Uniformes fantásticos. Era uma banda famosa, conhecida em nível nacional. Era uma banda muito bem montada, com instrumentos fantásticos. Eu tocava corneta, surdo ou bumbo. Ia revezando. O bumbo era cansativo. Na época eu estudava desenho técnico, que não cheguei a concluir. Meu tio Issa Elias Orani me levou para fazer contabilidade, era a profissão do momento. Fui estudar o Curso de Técnico em Contabilidade da Escola Técnica de Comércio Cristóvão Colombo (Escola do Zanin), situada ao lado do Cinema Politeama, bem próximo existia a Bomboniere do Passarela. Saindo do Kraide Magazine fui trabalhar com o meu pai e conclui o Curso de Contabilidade no Colégio Piracicabano, isso foi por volta de 1975 a 1976. O Colégio Piracicabano já estava na Rua Boa Morte, em seu novo prédio. Fui estudar Ciências Econômicas, após uns três semestres descobri que não era o que eu queria. Nessa época eu já tinha completado 18 anos, aprendi a dirigir, prestei serviço militar no Tiro de Guerra, com o Sargento Azeredo e depois o nosso vereador Capitão Gomes, que na época foi meu capitão.  Nessa época eu precisava ajudar os meus pais. Consegui adquirir um carro, passei a fazer as vendas com ele. Era um Volkswagen 1962, azul, 6 volts, ia apara São Paulo para fazer compras, minha mãe ia junto, ia pela antiga estrada de Tupi, a Anhanguera não era duplicada, levava horas para chegar a São Paulo. Em cima do Volkswagen colocava um bagageiro, vinha lotado, era uma aventura. Na época em que começou a industrialização dos perfumes, cosméticos para cabelos, meus pais continuaram com a perfumaria, mas já montaram um comércio de bijuterias foi a era da bijuteria popular, adquiríamos as bijuterias em São Paulo e vendíamos no atacado, junto com a perfumaria. Colares, óculos, eram vendidos muitas dúzias. Nessa época começamos a pensar um pouco maior, sempre que comprávamos determinada quantidade, adquiríamos um pouco a mais. Íamos guardando, até montar um estoque para abrir uma loja. Minha mãe conseguiu alugar um prédio na Rua D.Pedro I, entre a Rua José Pinto de Almeida e Avenida Armando Salles. Ali trabalhando sério e pesado montamos o Bazar Ivone. Viemos abrir esse bazar na Rua Governador Pedro de Toledo, entre a Rua D.Pedro e Rua Ipiranga, próximo ao Mercado Municipal. Ficamos por muitos anos ali. Minha mãe veio a falecer, desativamos a loja. Meu irmão assumiu o local, meu pai já estava aposentado.
Você tinha concluído o Curso de Contabilidade?
Tinha terminado o curso, só que não exercia a profissão. Como meus pais estavam tendo sucesso com a loja, fui trabalhar como contador. Meu primeiro emprego como contabilista foi na empresa Irmãos Schiavinatto em Saltinho. Faziam martelos para calcário e tinham uma pequena transportadora. Eu conhecia o Luiz Nazareno Schiavinatto, era meu amigo. No principio eu tive algumas dificuldades naturais a um profissional em inicio de carreira, fui estudando, aprendendo, com isso fiquei por vários anos trabalhando para eles. A 2 de julho de 1982 casei-me com Maria de Fátima Carvalho Esteves, passamos a residir em Saltinho.
Como você e a sua futura esposa se conheceram?
Aqui no centro, na Sociedade Italo-Brasileira, havia as tradicionais brincadeiras dançantes, muito populares entre os jovens da época. Foi lá que nos conhecemos. Ali conheci seus irmãos, a família toda. Casamos e tivemos duas filhas: Michelle e Millene.
Quando você montou seu escritório?
Foi quando sai do escritório da empresa Schiavinatto e em uma sala, na Rua Governador, continuei a fazer a contabilidade da empresa Schiavinatto, fazia a contabilidade de um armazém de Saltinho, um consultório dentário, dali, após muito tempo, montamos um escritório na Rua Benjamin Constant, no lado oposto onde estamos hoje. Trabalhava na parte do fundo, em uma garagem grande e morava na lateral. Ficamos muitos anos ali. Com o correr do tempo, surgiu a oportunidade de mudarmos para o lado oposto da rua, onde passamos a morar em um sobrado e manter o escritório na parte térrea. Hoje tenho cerca de 30 a 35 anos de contabilidade e advocacia. A advocacia veio agregando valores a necessidades dos clientes. Quem me convenceu a fazer advocacia foi Luiz Nazareno Schiavinatto. Lembro-me que eu estava na Praça José Bonifácio, encontrei-me com ele que me disse: “- Aref eu estou me formando em direito, você tem que ver que magnífico!” Fui para casa, fiquei pensando, tinha que fazer alguma coisa, não podia parar de estudar. Decidi fazer e fiz o curso de direito. Conheci Francisco Irineu Cassella, fizemos uma parceria, aprendi com ele na prática o que aprendia na teoria na faculdade. Com o passar do tempo ele precisava crescer, passou a atender em Rio das Pedras e o meu escritório de advocacia já estava caminhando junto com a contabilidade.
No Direito qual é a sua área de atuação?
Na área contábil e na área empresarial. Contencioso bancário, tributário e administrativo. Criamos uma logomarca: Delta Org Assessoria. Utilizamos para denominar as três áreas em que atuamos: imobiliária, contabilidade e advocacia.
Você é Delegado Regional representando o Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo?
Ainda sou. É um posto avançado executando e representando o Conselho para os profissionais de Contabilidade de Piracicaba. Isso permite que ele tenha aqui um atendimento necessário sem ter que se deslocar-se até São Paulo. Seja Registro, atualização, solução cadastral. É uma espécie de sucursal que dá suporte e representa o Conselho em Piracicaba. A eleição para o Delegado do Conselho em uma localidade é bem rigorosa, a oportunidade é aberta à todos os escritórios da cidade, esse escritório é fiscalizado integralmente em todas as suas ações, a cidade indica entre os interessados aquele que pode ser seu Delegado junto ao Conselho. É uma atividade voluntária.
Você tem uma forte atuação junto a APASPI?
A APASPI – Associação de Pais e Amigos de Surdos de Piracicaba é uma atividade que a Fátima, minha esposa, é apaixonada, que vibra, chora, se doa, e eu estou junto com ela. Desde o saudoso Julio Sierra, a Fátima deve estar há mais de 25 anos dedicando-se como voluntária na APASPI. A APASPI dá suporte social, profissional, para crianças e adolescentes até 17 a 18 anos deficientes auditivos. Orientamos a viverem socialmente, a conversarem pela língua de LIBRAS, a conviverem com os pais. Infelizmente alguns pais, acabam instintivamente discriminando o filho deficiente. É realizado um trabalho junto a família do deficiente juntamente com as pedagogas, assistente social.
Quem arca com as despesas decorrentes de toda essa estrutura?
É a população. O município e o Estado destinam uma verba, mas é bem menor do que a necessária. O município e o Estado exigem que tenhamos fonoaudióloga, merendeira, faxineira, pedagoga, existe normas, essas entidades têm que funcionarem dentro das normas legais, tanto em estrutura, como higiene, qualidade. Somos cercados e recebemos a imposição de uma legislação séria, mas não remuneram adequadamente por falta de recursos. Quem assume a função do Estado somos nós. O Estado exige, mas não dá a remuneração suficiente para realizar as exigências. Com isso temos que fazer ações juntos a comunidade, como vendas de pizzas, rifas, bazar, pedindo, passando o chapéu, enfim tudo que for possível, até mesmo colocarmos recursos dos próprios diretores. Só não desanimamos porque vemos os resultados e o prazer das crianças que atendemos.
Como é possível entrar em contato com a APASPI?
Quem quiser colaborar de alguma forma, é só entrar em contato através do telefone 34349947, Rua Dr. Alvim, 1464, Bairro São Dimas. Contatos com Saulo ou Denise. Existem muitas formas de contribuir, ser associado, adotar os custos relativos a uma criança. Pode contribuir com qualquer valor. Todas as crianças que atendemos são carentes, em função disso aceitamos doações de roupas, alimentos. Pessoas de posses buscam entidades especializadas, particulares. Há até casos em que a própria família omite a deficiência.
Você recebeu esta semana a Medalha Joaquim Monteiro de Carvalho, concedida pelo Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo, uma das mais raras e elevadas honrarias concedidas a um profissional. É motivo de jubilo para você e para Piracicaba.

Para mim foi uma surpresa! Não imaginava que alguém do Conselho Regional estivesse vendo e avaliando o trabalho que nós fizemos em mais de 20 anos como Conselheiro. No Estado de São Paulo temos 150.000 profissionais de contabilidade. Neste ano foram concedidas duas medalhas, tive a honra de ser um dos ganhadores. Joaquim Monteiro de Carvalho foi um dos fundadores do Conselho de Contabilidade, um profissional emérito, dedicado. Essa medalha é dada por relevantes serviços prestados à classe contábil. Recebi essa medalha no Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo em uma sessão plenária com mais de 300 pessoas, líderes das mais variadas áreas contábeis e de todo o Estado de São Paulo. 

domingo, janeiro 15, 2017

EUGENIO MORATO DE JESUS (MESTRE GENINHO)


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 10 de dezembro de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/ 


ENTREVISTADO:EUGENIO MORATO DE JESUS

                      MESTRE GENINHO

Eugenio Morato de Jesus nasceu em Piracicaba a 14 de fevereiro de 1959, filho único de Benedito Osvaldo Morato de Jesus e Sebastiana Candido Morato de Jesus. Mestre Geninho é Educador de Capoeira, iniciou o estudo da capoeira em 1977, isso há 39 anos, formado por Claudival da Costa, o Mestre Cosmo. É sobrinho, pelo lado materno, de uma das mais expressivas figuras da cultura popular piracicabana: Antonio Candido, o lendário Parafuso, cantador de cururu, cujos feitos levaram a designar uma praça em seu nome, a Praça Parafuso. Geninho tem a veia cultural da família: toca cavaquinho, violão, berimbau (o qual afina com uma precisão fantástica). Canta Musicas de Capoeira, Maculelê, Samba de Roda. É um entusiasta e um estudioso da nossa cultura. É diretor vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Gráficas de Piracicaba, Limeira e Região, membro do Conselho Fiscal da Federação dos Gráficos, filiado a Força Sindical. Filiado ao CONESPI de Piracicaba – Conselho Sindical de Piracicaba. Eugenio Morato de Jesus é mestre de capoeira, conhecido no meio como Mestre Geninho.
Você nasceu em que local?
Nasci na Vila Rezende, na casa onde moro até hoje. Com o passar do tempo fomos ampliando-a, no início era uma casa de três cômodos, em frente havia uma valeta onde quando era criança brincávamos. Mais abaixo havia um campo de futebol, onde jogávamos. Naquele tempo era muito comum, as crianças procurarem em terrenos, ruas, locais públicos, pedaços de ferro, que vendíamos aos depósitos de ferro velho. Os pequenos pedaços de ferro eram descartados, não eram valorizados, só que juntávamos e com isso conseguíamos alguns trocados. Não é como hoje que há reciclagem de forma seletiva.
Em que escola você estudou?
Estudei no Grupo Escolar José Romão, até o quarto ano. Era comum naquela época, ao completar o quarto ano primário, parar de estudar e ir trabalhar.
Em que local você foi trabalhar?
Fui trabalhar na fábrica Modesto Filho, que fazia pés de cadeira, ficava onde é hoje o bairro Nova Piracicaba, ali só havia aquela empresa, o resto era praticamente só mato. A Praça Parafuso era só mato, depois fizeram um campo de futebol. Ali moravam muitos tiroleses. Há uma série de casas de etilo semelhantes, foram construídas bem depois. Aqui, onde hoje é a Avenida Manoel Conceição, era tudo mato. Nós chamávamos de “roizá”, era um mato alto que ia até a beira do Rio Piracicaba. Aonde hoje é a loja Nhô Quim Pneus havia um pasto com muitos cavalos. Nós íamos soltar pipa no pasto. No quarteirão onde moro havia a casa do Seu Mingo Durante aonde vinha muitos boiadeiros que negociavam cavalos, eles se encontravam muito aqui.
Qual era a atividade do seu pai?
Meu pai trabalhou na Usina Costa Pinto, no Engenho Central, com a movimentação de sacaria de açúcar. Trabalhava como “saqueiro”com sacos de 70 quilos. Tinha dias em que eu levava almoço pra ele dentro de uma cestinha de bambu aqui no Engenho Central. Eu não podia entrar no Engenho, chegava na porteira e entregava. Lembro-me do trenzinho que havia lá, meu padrinho, Caio Prado, foi maquinista. Na Avenida Rui Barbosa tinha o bonde. Aqui onde morávamos quando chovia a água descia com violência.
E a famosa “Bimboca” fica em que local?   
Ficava mais acima, de seis a sete quarteirões, em direção a pista que liga Piracicaba a Águas de São Pedro. Lá pelos lados do Areião ficava a casa do meu tio Parafuso. Este ano ela foi derrubada, era uma casa antiga de telhado muito alto.
Você guarda lembranças do seu tio famoso?
Antonio Cândido, conhecido pelo nome artístico de Parafuso, era filho de Felício Candido e Lázara Cândido. Nasceu a 19 de fevereiro de 1920 no Distrito de Recreio, município de Piracicaba, começou a cantar cururu aos 18 anos. Casou-se por três vezes e teve 22 filhos. Trabalhou no Engenho Central  de Piracicaba onde aposentou-se. Além de cantor de cururu Parafuso tinha grande capacidade de comunicação, conseguia manter o publico atento aos seus trejeitos e comicidades. Calcula-se que apresentou-se mas de 1.000 vezes. Cantou em toda a região do Médio Tietê e também fez apresentações no Rio de Janeiro e Minas Gerais. Parafuso faleceu a 2 de dezembro de 1973, aos 56 anos. No auge da fama entre as décadas de 60 e 70, Parafuso participou de gravação de LPs, cantando com Horácio Neto e Nhô Chico, dois grandes parceiros de cantoria.

                                                                        PARAFUSO

Mestre Geninho, como começou a trabalhar em que local?
Fui trabalhar na empresa Modesto Filho, fazia pés de cadeiras a seguir fui trabalhar na Coopersucar, como ajudante geral.  Permaneci lá por uns cinco anos, quando estava já com três anos de trabalho, o gerente colocou-me para trabalhar no moinho, onde eu ligava e desligava de dezoito a vinte chaves. Era um pessoal muito bom onde fiz muitas amizades. Havia muitas pessoas do bairro rural de Santana que trabalhavam na Coopersucar. Quando sai da Coopersucar fui trabalhar como metalúrgico na Trevelin, comecei como ajudante, passei a soldador, fazia caçambas de caminhões. Permaneci lá por uns cinco anos. A seguir fui trabalhar como gráfico.
Como você entrou para o setor gráfico?
Lembro-me que uma vez fizemos uma apresentação de capoeira, no Bairro Cidade Jardim. Fui convidado pelo proprietário da Gráfica Kelly situada na Rua Treze de Maio, para ir trabalhar lá. Colocaram-me para fazer pacotinhos, fazer entregas com a bicicleta, com o passar do tempo colocaram-me para fazer as composições das letras, cada palavra era montada letra por letra, havia o tipo que dava o espaço, pontuação. Era uma verdadeira arte. Conforme o tamanho da letra usava o que era chamado de corpo. O texto era montado em uma caixa de madeira, uma espécie de gaveta de laterais mais baixas. O trabalho de montagem das chapas era dos tipógrafos. Tinha um esquadro de ferro que apertava os tipos para permanecerem firmes. Colocava os tipos com texto na máquina Minerva, descia o rolo com tinta na chapa, tirava a prova, era feita a leitura, o tipógrafo fazia alguma correção que fosse necessária, depois fazíamos a impressão.
Imprimia-se uma cor apenas?
Podíamos imprimir em várias cores. Por exemplo, imprimia em preto, depois limpava o rolo da máquina com thinner ou gasolina, limpava o tinteiro para colocar outra cor.
Nessa época você já era casado?
Casei com 27 anos, na Igreja Matriz Imaculada Conceição, o celebrante foi o Padre Jorge. Casei-me no dia do meu aniversário, 14 de fevereiro de 1987. A minha esposa é mineira, de Poços de Caldas chama-se Ana Maria Siqueira Morato de Jesus, temos dois filhos: Marcelo e Marília. 
Naquela época gráfica era um bom emprego?
Havia uma disputa por bons funcionários. Trabalhei uns quatro anos com Avary Perches em sua gráfica. Era um serviço seleto, não era qualquer pessoa que se tornava gráfico. Geralmente os gráficos tinham um bom salário. Eu trabalhei em gráfica até 1998, eu trabalhava na Copel, a gráfica do Seu Carlos. Por volta do ano 2000 fui chamado para trabalhar no Sindicato dos Gráficos, situado a Rua Antonio Bacchi, 1820. Por coincidência o pai da minha esposa, foi o fundador do sindicato como Associação dos Gráficos e que hoje é denominado Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Gráficas de Piracicaba, Limeira e Região. Fui presidente, atualmente sou diretor.
Quando você começou a “jogar” capoeira?
Eu tinha uns 12 a 14 anos aqui na Vila Rezende havia um negro que nós o chamávamos de “Prefeito”. Não havia academia, mas eles brincavam de capoeira. Na rua sem uniforme, sem nada. Eu ia ao  Club de Regatas de Piracicaba. Ali tinha uma pessoa a quem chamávamos “Mestre João do Regatas Capoeira”, era branco com tez bronzeada, ou como dizíamos, “um branco moreno”.  Ele dava aula no Club Regatas. Lembro-me que na camisa estava escrito: “Capoeira Oxossi”. Isso foi por volta de 1974,1975, o Seu João mantinha a cultura e educava através da capoeira.


                            INSTRUMENTOS UTILIZADOS PARA "JOGAR" CAPOEIRA



                                        Capoeira - Instruments - Berimbau

O que o seduziu na capoeira?
Os movimentos, o som do berimbau.
Algum dia você utilizou a capoeira para defesa pessoal?
Graças a Deus não! Estudamos o exercício da capoeira, os toques do berimbau, as cantigas.



Capoeira é uma dança?
É uma dança, um esporte, um elemento faz uma armada outro faz uma tesoura, tem muitas composições de movimentos. A capoeira pode também ser uma prática mortal, uma das suas variáveis é o capoerista que prende uma navalha entre os dedos dos pés e desfecha golpes fatais. O Mestre Cosmo nos orientava sobre essa prática, sem, contudo que ela fosse utilizada. Cosmo era o cognome de Claudival da Costa, ele morava no São Dimas, depois adquiriu uma casa no CECAP. Trabalhou na Prefeitura, no Teatro Municipal, após o Club Regatas de Piracicaba, do Mestre João, de quem Cosmo era aluno, veio o Grupo Cativeiro, foi evoluindo e nós começamos com o Cosmo, por volta de 1976 tinha academia no CALQ – Centro Acadêmico Luiz de Queiroz a Rua Voluntários da Pátria entre a Rua do Rosário e Rua Tiradentes. O Cosmo tinha uma grande coordenação de movimentos.
Há uma hierarquia, conforme o grau de aperfeiçoamento do capoerista, ela é simbolizada por cordões, qual é essa ordem do principiante até o grau máximo?
Não ha necessariamente um padrão nacional para os cordões, eles variam de grupos para grupos, cada grupo faz da maneira que concebe. Quando fundamos o nosso grupo de capoeira pegamos um padrão de graduação igual ao da Confederação Paulista de Capoeira. A graduação infantil, de 13 a 14 anos segue verde e laranja, amarelo e laranja, azul e laranja, marrom e laranja, amarelo, azul e laranja, laranja.  A criança dos 13 aos 14 anos não irá alcançar aquele que tem 15 anos. Essa criança ficará formada muito jovem. Ela tem que passar por um processo de amadurecimento natural. Após os 15 anos irá começar o verde, o amarelo, o azul, o verde e amarelo, o verde e azul, o amarelo e azul, o verde, amarelo e azul, quando ele atingir os 18 anos ele estará alcançando o monitor, verde e branco, depois ele com 23 anos irá alcançar amarelo e branco, como professor, com mais de 32 anos de idade será contra-mestre, usando o cordão azul e branco, mestre que é o cordão branco ele irá recebe com 40 anos ou mais, o cordão branco com lacre bronze irá receber com 45 anos de idade, o branco lacre prata com 50 anos de idade, o branco com lacre ouro aos 55 anos de idade. Eu tenho 57 anos, sou branco com lacre ouro. Essa graduação foi feita para que o desenvolvimento do esporte acompanhe o amadurecimento da personalidade do jovem. Se não existir uma regra nesse formato, pode ocorrer de um jovem de 18 anos queira ser um mestre de capoeira, só que o amadurecimento pessoal dele ainda não estará preparado para exercer a função de mestre. A capoeira é sábia ao conceder os graus conforme ocorre a maturidade do praticante.
Qual é o limite de idade para praticar a capoeira?
O Celso Alexandre Máximo, Celsinho, tem 5 anos, o Cauã Mathias tem 9 anos, o Adrian 10 anos, o Vitor 9 anos,  o David 15 anos, o Daniel 13 anos, o Natan 7 anos, o Rafael 11 anos, fora os meuá alunos formados que tem mais de 30, 40 anos de idade.  O Gabriel deve ter uns 63 anos. Com 65 anos temos o Pereira, ambos ainda jogando capoeira, isso aqui em Piracicaba. Temos um grupo, a Associação de Capoeira Engenho Central. No meu entender, o melhor capoerista é aquele que tem sabedoria para entender e mostrar por exemplos a sua razão. Não é o que usa da violência para se impor.
Uma pessoa, com algumas décadas de vida, que não tenha tido uma existência voltada ao esporte, ele pode praticar capoeira?
Nesse cão iremos agir de forma diferenciada, será praticada a capoterapia!  Eu fiz um curso com o Mestre Giovan, aonde foi abordado o tema. Nós, com mais idade já não jogamos capoeira. Nós dançamos a capoeira. Isso não significa que muitos mestres já praticantes não continuem a jogar capoeira com extrema habilidade. Se iniciarmos com uma pessoa mais idosa, vamos ensinar os movimentos quase dançando, para não forçar o organismo. Passa a ser quase uma dança, para o organismo fazer movimentos.
Atualmente, o seu trabalho na capoeira é como um educador?
Exatamente! Eu ensino o exercício da capoeira, as cantigas, com escala musical, berimbau.
Mestre Geninho, entre suas habilidades uma delas é a composição de cantigas de capoeira, além de tocar e afinar todos os instrumentos, já há algumas músicas de sua autoria a serem lançadas?
Tenho as musicas que apresentei a você, são inéditas, compostas por mim. Do meu tio Parafuso devo ter herdado o improviso, que foi o que fizemos logo no inicio da nossa entrevista, onde em sua homenagem fiz uma musica de improviso. Considero-me com diversas habilidades, todas conquistadas com estudo e dedicação. Posso afinar o berimbau de forma tradicional ou através de um aparelho eletrônico. (Nesse instante Mestre Geninho faz a demonstração de como se afina um berimbau das duas formas).



Como era o seu tio Parafuso?
Ele vinha aqui na cozinha, minha mãe alisava o cabelo dele. Conheci Pedro Chiquito, cresci os vendo cantarem. Assim como Nhô Serra, Zico Moreira, Horácio Neto, Jonata Neto.
Você tem algum projeto para a Praça Parafuso?
Tenho vontade de fazer pelo menos uma vez por ano uma homenagem ao Parafuso, montar na praça que leva o seu nome, trazer cururu, sertanejo, capoeira, samba de roda, fazer um evento cultural, dinamizar essa praça. Nossas crianças necessitam conhecer essa cultura antes que ela se vá sem deixar nenhuma lembrança. Existe muita coisa que infelizmente a internet não tem.
Quando será feito esse evento?

Tenho que montar e obter a aprovação da Ação Cultural Municipal. 




                                A CAPOEIRA
A Capoeira, é uma das manifestações culturais mais importantes do Brasil. Surgida do encontro, em terras brasileiras, principalmente das culturas do índio, do negro e do português, tornou-se um dos mais importantes símbolos do Brasil. Trata-se de uma das manifestações culturais da corporeidade humana, a qual é baseada em um diálogo corporal, no qual terá maior destaque o jogador que fizer mais perguntar corporais do que as respostas corporais obtidas, ou então aquele capaz de apresentar mais argumentos corporais do que as perguntas corporais que lhe foram feitas. Neste diálogo entrarão em jogo os braços, as pernas, a cabeça e os jeitos corpo. A primeira citação do vocábulo foi feita pelo Padre Fernão Cardim em 1577. Tende-se a acreditar que o vocábulo, de origem indígena Tupi, tenha servido para designar negros quilombolas como “negros das capoeiras”, posteriormente, como “negros capoeiras” e finalmente apenas como “capoeiras”. Cabe ressaltar, que nunca houve nenhum registro da Capoeira em qualquer quilombo. Dizem  também que o primeiro capoeira foi um tenente chamado João Moreira, homem rixento,motivo porque o povo lhe apelidou de ‘amotinado’. Viam os negros escravos como o ‘amotinado’ se defendia quando era atacado por 4 ou 5 homens, e aprenderam seus movimentos, aperfeiçoando-os e desdobrando-os em outros dando a cada um o seu nome próprio. Como não dispunham de armas para sua defesa uma vez atacados por numeroso grupo defendiam-se por meio da ‘capoeiragem’, não raro deixando estendidos por uma cabeçada ou uma rasteira, dois ou três de seus perseguidores. Em 1.808 chega ao Brasil D. João VI e sua corte, fugidos das tropas
napoleônicas que então dominavam a Europa. Temendo ser liquidado por espiões estrangeiros ou por alguma represália por parte dos escravos ou provocada por capoeiristas, ou ainda temendo que intrigas feitas por descontentes que o levassem a uma situação desfavorável, procurou o imperador dar uma nova estrutura a polícia aumentando sua segurança e a da Cidade do Rio de Janeiro, na época Capital do Brasil, o que se deu através do Alvará de 10 de maio de 1.808, criando a Intendência Geral de Polícia, que foi baseada nos mesmos moldes da organizada pelo Marques de Pombal em Portugal, sendo nomeado primeiro intendente o desembargador Paulo Fernandes Viana, que tratou logo de organizar uma secretaria de polícia, para facilitar a expansão de seu programa de realizações. Fruto deste trabalho foi criada a Guarda Real de Polícia, que foi originada pelo Decreto de 13 de maio de 1.809 e cuja direção foi confiada ao Major Miguel Nunes Vidigal, que se tornou um célebre combatente dos capoeiristas, causando-lhes um verdadeiro terror, mesmo porque também era uma capoeirista. Segundo nos afirmam Barreto Filho e Lima “era um homem alto, gordo,do calibre de um granadeiro, moleirão, de fala abemolada, mas um capoeira habilidoso, de sangue frio, e de uma agilidade a toda prova, respeitado pelos mais temíveis capangas de sua época. Jogava maravilhosamente o pau, a faca, o murro e a navalha, sendo que nos golpes de cabeça e pés, era um todo inexcedível8. Esta riquíssima narrativa nos aponta para o fato de que a capoeiragem, já fazia parte da sociedade branca e era utilizada em iguais condições para reprimir aqueles que não se enquadravam no modelo social dominante. “Parecia estar em toda parte, com seus granadeiros, armados de longos chicotes. Protegidos pela distância que mantinham dos capoeiras, podiam atingi-los a salvo. Chegava, inesperadamente,aos quilombos, rodas de samba e candomblés, arrebentando tudo e todos que encontrava. Aos capoeiras, que foram sua mira principal, reservava um tratamento especial, uma espécie de surras e torturas a que chamava de ‘ceia dos camarões’” .
A arma comum dos capoeiras, na época, era a temível navalha, a qual manejavam com a mais absoluta destreza, e em virtude disto, usavam um lenço de seda pura em torno do pescoço como precaução para se defenderem, sabido que a mesma embota o fio da navalha. Com a Guerra do Paraguai, o Império viu-se na contingência de formar batalhões específicos de negros, em sua grande maioria, capoeiristas. Sendo assim, entre 1865 e 1886, os governos provinciais fizeram seguir para a frente de batalha, grande número de capoeiristas, em batalhões específicos denominados Zuavos. Se por um lado o objetivo era reduzir sensivelmente o número de capoeiristas, por outro conseguiram tornar a modalidade uma Arte Marcial, posto ser este um título que usualmente é conquistado por alguma forma de luta que tenha passado por uma experiência de guerra. Alguns capoeiras chegaram a ser oficiais do Exército e da Marinha, por seus atos de bravura, e recebendo a comenda da Ordem do Cruzeiro, como foi o caso do Capitão Cezário Álvaro da Costa do 7º Batalhão de Caçadores. Outro exemplo também é o do Alferes Francisco de Melo do 9º Batalhão de Caçadores que com bravura se destacou na Batalha do Riachuelo, juntamente com outros companheiros, como foi o caso do “Príncipe Oba II, Cândido Fonseca Galvão, um negro que se tornou Alferes do Batalhão de Zuavos e depois encarnou o papel de monarca dos negros e negras da Corte, exibindo seus conhecimentos de figuras deproa da vida do Império, se identificando com o Partido Conservador, e chegando adesfrutar da amizade do próprio Imperador Pedro II.

MOVIMENTOS BÁSICOS

                                                 MOVIMENTOS AVANÇADOS



   O MELHOR VIDEO DE CAPOEIRA


                       Paranahue - Zum Zum Zum

sábado, novembro 19, 2016

ANTONIO CARLOS FUSATTO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 19 de novembro de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/ 



ENTREVISTADO: ANTONIO CARLOS FUSATTO

Antonio Carlos Fusatto nasceu em Piracicaba a 26 de outubro de 1946. Filho de Armando Fusatto e Cenira Cenicatto Fusatto. Seu pai era pintor de manutenção do Engenho Central e a sua mãe era do lar. Tiveram cinco filhos, Antonio Carlos que é o mais velho, José Eduardo, Carmem Eunice, Terezinha Aparecida e Maria Ângela. Seu pai começou trabalhando na fábrica Boyes, no mesmo serviço, pintura de manutenção, depois ele transferiu-se para o Engenho Central onde permaneceu até aposentar-se.
Você chegou a conhecer o Engenho Central funcionando?
Cheguei! Eu era criança quando ia levar o almoço para ele lá. Nós morávamos no hoje denominado Bairro São Dimas, naquela época era chamado de Vila Boyes e Vila Progresso. A Vila Boyes era apenas o setor onde as casas da fábrica Boyes tinha sido construídas para seus funcionários, eram todas do mesmo estilo. As demais casas formavam a Vila Progresso,  margeando um ribeirãozinho onde hoje é a Avenida Centenário. Um pouco mais além existia a cerca que delimitava a propriedade da ESALQ. Ali havia a família Souza, era uma família muito grande, por esse motivo conhecida como Vila Souza. Eles trabalhavam fabricando o melado de cana-de-açúcar, era uma engenhoca, movida por um burrinho, ele quem girava moendo a cana-de-açúcar. Faziam o melado e vendiam. Lembro-me bem, o líder da turma toda era o Seu Amaral. Ele saia com a carroça, vendendo melado, engarrafado, ele trabalhava a palha do milho e fazia uma espécie de rolha. Com essas rolhas fechava todas as garrafas de melado e vendia pelo bairro.
Como era consumido esse melado?
Era consumido como sobremesa. Uma festa para as crianças, naquela época havia  poucos bares no bairro, e mesmo assim a variedade de doces era bem restrita.  Quem fornecia a maior parte dos doces era a Indústria de Doces Martini. Havia um doce, muito comum na época, denominado de mata-fome. Que doce delicioso! O bendito melado de cana-de-açúcar nós comíamos com pão. A cana era plantada ali, e por uma família de italianos, a família Taglietta, que morava um pouco mais acima. Na divisa desse ribeirãozinho com a ESALQ. Ali era uma região composta por chácaras. Onde eu morava era propriedade da família Fusatto, abrangia uma área equivalente a um quarteirão. Era uma chacrinha também!
A origem da família Fusatto é a Itália?
Meu bisavô, Virgilio Fusatto veio da Itália e se fixou no bairro rural do Godinho. Era casado com Maria Lúcia Fusatto. Lembro-me dela, eu era muito pequeno, na época ela morava na Rua Moraes Barros, nas imediações da Igreja Bom Jesus, e o meu tio Eugenio Fusato,tinha uma carvoaria. Ela morava lá, ficava o tempo todo tricotando, estava bem velhinha, não falava quase nada em português, era tudo “italianado”. 
Ela que me ensinou a comer cocada! Tanto que até hoje sou doido por cocada!  Ela mandava o meu tio comprar uma cocada em uma padaria que existia nas imediações da Igreja Bom Jesus, enquanto eu não rezasse em italiano, tinha que ir repetindo o que ela falava, ao terminar ela dava-me a cocada. Eu era pequenino, minha avó que me levava lá.

Que oração era?
Era mais ou menos assim:
Gesù, Giuseppe e Maria, vi dono il cuore e l`anima mia.
Gesù, Giuseppe e Maria siate la salvezza dell`anima mia.
Gesù, Giuseppe e Maria, assistetemi, nell` ultima mia agonia.
Gesù, Giuseppe e Maria fate che l`ultimo mio pane sia l`eucaristia.
(Observação: pelo depoimento de Antonio Carlos Fusatto a oração aparenta ser a acima.)
Eu tinha que rezar com ela para ganhar a cocada.
Quem morava nessa chácara?
Meus tios moravam no bairro do Godinho. Quem morava aqui era o meu avô, Antonio Fusatto, pai do meu pai, ele morava nessa chácara e trabalhava com carrinho de tração animal, pela cidade, vendendo verduras. Minha “nona” continuou morando ali, a propriedade era de todos os irmãos Fusatto. Com o passar do tempo foram feitas as partilhas, foi sendo loteado, dividido. Naquela época, eu me lembro,quando eu entrei no grupo escolar, ainda não havia luz elétrica lá, eu fazendo lições do grupo escolar a luz de lamparina. Estudei no Grupo Escolar Honorato Faustino, que era na Rua José Ferraz de Camargo, onde hoje é o Colégio COC. Era mantido pela Fábrica Boyes, o Comendador Louis Clement era quem mantinha, foi um grande incentivador, quando chegava os finais de ano ele fazia as festas de formatura do quarto ano escolar. Aos melhores alunos de todas as classes ele dava um valor em dinheiro, já depositado na caderneta de poupança, lembro-me que era uma nota esverdeada,grande. A pobreza do povo era tanta que logo sacava o dinheiro.
Para ir à escola ia a pé?
Ia, era tudo pertinho! Assim como para ir ao centro da cidade, normalmente ia a pé também. Não conheciamos as conduções coletivas como onibus, eram conhecidas como jardineiras. Tinha um morador de uma das casas da Vila Boyes, cujo apelido era “Zé Cavalo”, era motorista dessa jardineira, a partida era dada com manivela. 

                                                DANDO PARTIDA A MANIVELA

Ela descia a Rua Dona Egênia, toda apedregulhada, chegava até onde hoje é o Clube de Campo, era a Chacara do Lara, era tudo apedregulhado também, atravessava o Ribeirão Itapeva que tinha uma pontezinha de madeira, ia para o centro. Da nossa família pouco se usava a jardineira, estávamos acostumados a andar e gostávamos. Descíamos onde depois foi construida a Igreja das Carmelitas. Era tudo mato e cana-de-açúcar e era apedregulhada também desciamos ali em um instantinho.



Após concluir o curso primário qual foi a sua próxima etapa escolar? 
Naquela época havia o “vestibulinho” para entrar no ginásio, fiz o quinto ano primário no Grupo Escolar José Romão, na Vila Rezende. Ia a pé até a escola. Estudava de manhã e trabalhava a tarde.
Como as crianças andavam calçadas naquele tempo?
Andavam descalças alguns que podiam usavam alpargatas. Tinha um par de sapatos para ir às missas de domingo. Quando chovia era um lodo danado. A Vila Rezende era quase uma zona rural.
Qual era o seu trabalho após voltar da escola?
Nós tínhamos horta, eu chegava da escola e ia cuidar da horta, eu tinha uns onze anos. Depois comecei a trabalhar com um tio muito conhecido no meio artístico: Pedro Senicato. Ele era escultor, entalhador, tenor da Igreja dos Frades, eu aprendi a entalhar com ele. Ele tinha uma banca de carpinteiro no quintal da casa do meu avô, aos finais de semana ele fazia os “bicos” dele lá e ficava me ensinando. Ele fazia esses frontões dos móveis. Ele trabalhava na Grande Fábrica de Urnas Mortuárias Irmãos Sbrissa localizada na Rua Governador Pedro de Toledo esquina com a Rua Voluntários de Piracicaba, onde atualmente funciona uma loja de eletrodomésticos, a Casa Cem.  Naquela época as urnas eram feitas com madeira de lei e eram todas entalhadas. Tinha duas cabeças de leões, que o meu tio fez um molde, foi para a fundição, eram feitas em alumínio, e nas urnas de luxo eram parafusadas essas cabeças de leão com a boca aberta e a alça passava pela boca. Eu mandei fazer em bronze e tenho no corrimão da minha escada duas daquelas cabeças de leões. Salvei uma recordação da época, depois a fábrica Sbrissa fechou, não sei aonde foram parar o molde das cabeças de leões que o meu tio tinha feito. Os proprietários da Sbrissa eram os irmãos: Mário, Nilo, Armando e Osvaldo. A princípio eu aprendi com o meu tio a entalhar o chamado “pé de leão”, eram umas garras que pareciam o pé do leão com unhas e tudo. Eram parafusadas e tornavam-se os pés das urnas de luxo. Essas urnas eram caríssimas. Nessa época a Escola Estadual Monsenhor Jeronymo Gallo funcionava no prédio do Grupo Escolar José Romão. Fiz a primeira e segunda série lá. Quando foi inaugurado o prédio novo da Escola Estadual Monsenhor Jeronymo Gallo a minha turma foi a primeira a utilizar. Lá estudei até o segundo ano do curso científico. Interrompi o curso científico e fui fazer a Escola Normal Sud Mennucci onde conclui o curso. Lá tive aulas com professores de renome como Benedito de Andrade, Zelinda, Evaristo, com quem fui ter aula posteriormente na UNIMEP também. Arquimedes Dutra era um fenômeno para lecionar, tinha uma didática fantástica, o aluno fixava a matéria. Eu trabalhava com o meu tio, como entalhador.
Qual madeira vocês utilizavam?
A mais gostosa era o cedro, mas as urnas de aspecto mais bonitas eram as de imbuia. Mais difícil de trabalhar porque ela lascava, tinha que trabalhar com o formão muito afiado, com cuidado, era de fato um trabalho artístico. As pequenas diferenças eram retiradas com o uso da lixa. Usávamos também o pinho. Dependendo das regiões em que eles compravam, de vez em quando vinha mogno. Eles adquiriam carretas de madeira, tinha um depósito onde deixavam a madeira secando, elas vinham “verde” ainda. Usava-se o “tabique”. Era uma fileira de tábuas, um sarrafo em cima para ter passagem de ar por baixo e elas não “empenarem”. Tinham as tábuas de 4 a 6 metros, de 4 metros iam de 3 a 4 tabiques, as tábuas de 6 metros chegava a ir 6 tabiques. Com isso ficava uma pilha enorme de tábuas em um galpão coberto, a frente toda dele era aberta, para ventilar. A madeira chegava a ficar até meses secando. Tinha um segundo depósito próximo a Carpintaria Passini, que existe até hoje. O Seu Sebastião Passini era famoso também por criar a ave araponga.  

                                                Araponga cantando
A araponga é uma ave existente no Brasil e também no Paraguai e Argentina, produz som parecido ao de um martelo numa bigorna. As arapongas pertencem à família Cotingidae, género Procnias


                                                     Pássaros com cantos estranhos         
Após o Curso Normal, você foi para a faculdade?
Entrei na UNIMEP para fazer jornalismo, naquela época fazia relações públicas e fazia opção para jornalismo no último ano, quando chegou no último semestre, surgiu a Faculdade de Tecnologia, havia interesse da CESP- Companhia Energética de São Paulo , da CPFL- Companhia Paulista de Força e Luz, que com falta de mão de obra técnica, eles estavam trazendo eletrotécnicos da Itália para trabalhar. Quando vislumbrei essa oportunidade, eu já trabalhava na CPFL, mas na área comercial. Em dezembro de 1967 eu passei no concurso e já fui admitido na CPFL. O concurso era para auxiliar de escritório, fui sendo promovido, o prédio funcionava ao lado da Catedral de Santo Antonio, é um prédio tombado pelo patrimônio histórico. O gerente-geral naquela época era o Sr. Carlos Sachs, o Vice-Gerente era Antonio Coelho Barbosa, o Seu Toninho, era um ambiente muito bom, era gostoso trabalhar na CPFL. Tinha muita gente boa, o Osórinho Pantojo, o Caneto.
A garagem dos bondes era ainda junto a CPFL?
A estrutura era a mesma, só que os bondes já tinham ido para a garagem da Avenida Dr. Paulo de Moraes. Nós usávamos para guardar as caminhonetes da CPFL.
Na CPFL você entrou como auxiliar de escritório e foi sendo promovido?
Eu fui galgando os postos, tinha uma ânsia de saber e de vencer. Sempre achei que através do livro venceria na vida, tínhamos uma vida difícil. Meus pais lutando muito, como filho mais velho sempre trabalhei, ajudando-os. Sempre eu tive sede de saber. Tanto que eu era até certo ponto um “chato” na escola, porque eu queria saber mais e cobrava demais. Cheguei a ser professor também e sei o que é um cidadão cobrando demais do professor. Na CPFL cheguei até ser Gerente Comercial. Eu me formei em Tecnologia em Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica. Fiz especialização em equipamentos de 15.000 Volts, na Ilha Solteira. Fiz especialização em construção de Rede Elétrica de Alumínio, até então era utilizado o cobre. Com o advento do alumínio, que é bem mais barato do que o cobre, além de que o cobre era importado e o alumínio era brasileiro. As redes são bem mais baratas, mas o tipo de construções é diferente. Atualmente não se usa mais cobre em fios de transmissão de linhas de voltagem maiores. Atualmente o cobre é usado somente para enrolamentos de transformadores, enrolamentos de motores.
Algumas vezes vemos noticias de indivíduos que causam enormes prejuízos retirando fios de cobre de locais públicos, como se explica isso?
O melhor condutor é o ouro, o cobre foi por muito tempo utilizado como condutor, a rede telefônica utiliza um fio muito fino, de cobre, para o individuo obter uns poucos quilos de cobre terá que tirar um caminhão de fios. Não compensa comercialmente.
Atualmente qual é a voltagem utilizada nas cidades?
Na realidade são 11.950 volts, e os transformadores têm vários “TAPs”.
O que é um transformador?
É uma Mini Subestação, tem uns enrolamentos dentro dele em que a energia entra em alta tensão 11.950 volts e dependendo dos TAPs, que são as tomadas que eles têm e podem ser regulados. Vou retroceder um pouco na história, quando entrei na CPFL, tínhamos uma usina, atrás da Fábrica Boyes, construída por Luiz de Queiroz. A princípio ela produzia energia que supria a área central toda. Ficava atrás da Fábrica Boyes, onde depois surgiu uma fábrica de gelo e também surgiu uma fundição de metais. Ali tem a Usina Luiz de Queiroz que quando entrei na CPFL em 1967, sua produção de energia supria os bondes e a iluminação pública. Para a indústria e o comércio vinha uma linha de 69.000 volts de Gavião Peixoto e chegava em uma subestação grande atrás da Fábrica Boyes. Quando faltava energia vinda Gavião Peixoto, a energia vinha de Urubupungá. Entrava 69.000 volts, os abaixadores, era o processo inverso, isso porque na usina é gerada baixa, há os transformadores e elevadores, eleva para alta tensão para poder fazer as longas caminhadas aonde será feita a distribuição. Quando chega ao ponto de distribuição há as estações abaixadoras. Hoje chega a 440.000 volts, 590.000 volts depende de onde vem, entra na subestação, e tem aqueles transformadores abaixadores, que reduzem para 11.950 volts. Ai sai a linha denominada de alta tensão, mas que na realidade é de média tensão, na classe de 15.000 volts, alta tensão é a que chegou. Ela é distribuída em torno de 11.950 volts. O transformador nada mais é do que uma micro usina.Entra 11.950 e sai no TAP, no borne de saída com 220 volts de fase a fase ou 127 volts de fase a neutro. Ai sai para a distribuição nas casas, comércio. A eletricidade é bonita
Tanto para a época como para Piracicaba isso tudo era novidade?
Era bastante. Inclusive existe um fato muito interessante, atrás da Fabrica Boyes, essa usina de força foi recuperada, é de propriedade particular, ele gera energia e vende, há um medidor, ele repassa para a CPFL o pouco de energia que ele gera ali. Na realidade naquele local havia três usinas, de importância maior era a Usina Luiz de Queiroz. Foi reformada outra usina que está dentro da Fábrica Boyes, está funcionando, gerando em torno de 1,2 megawatts. Eles repassam para a rede da CPFL e quando for inaugurado o Shopping que estão construindo vão usar essa energia. A CPFL retorna para eles toda essa energia que eles cederam. É uma espécie de poupança de energia. Essa usina já foi reformada, está funcionando E no Museu da Água existe uma micro usina cuja energia que ela gerava era para os motores do SEMAE- Serviço Municipal de Água e Esgotos. Na realidade tínhamos três micro usinas que o cidadão passava ali e nem imaginava.que ali era um ponto de geração de energia, como nosso bendito rio produzindo energia limpa e nós sujando e degradando o rio.
A seu ver Piracicaba teria condições de ser auto-suficiente em termos de energia?
Não! A quantidade de água diminuiu bastante depois do Projeto Cantareira implantado pelo Governador Roberto de Abreu Sodré tendo como um dos seus secretários, Eduardo Yassuda a frente da obra. Para gerar energia teria que haver um represamento onde acabaria com o Salto do Rio Piracicaba, cartão postal da cidade. O que pode ser feito é aumentar o número de micro-usinas para o uso de indústrias que se instalarem ao longo do nosso rio. Isso caso exista, uma vez que os pólos industriais estão distantes do Rio Piracicaba.
Naquela época já existia o famoso “gato”, que nada mais é do que captação de energia de forma clandestina?
Tinha! Havia muito na periferia, embora na área central também existissem algumas ocorrências dessa natureza. Havia uma equipe da CPFL especializada em detectar ligações clandestinas, eles vinham de Campinas e periodicamente faziam uma varredura. Esse tipo de ligação clandestina é considerada como crime. Para os técnicos da CPFL salta aos olhos quando isso ocorre e gera um boletim de ocorrência policial.
A nossa energia elétrica poderia ser mais barata se não tivesse uma pesada carga tributária?
A água é de graça, o que fica caro é construir a infra-estrutura. Se a manutenção for preventiva é barata. Infelizmente, ao que parece, para fazer economia, a manutenção atualmente é mais corretiva. Na CPFL ocupei vários cargos, aposentei-me como Gerente de Projetos e Obras. Nós fazíamos manutenções preventivas, dificilmente havia reclamações com relação a falta de energia. Fazíamos a manutenção preventiva, por exemplo onde havia árvores em contato com os fios, íamos lá e podávamos, não era uma poda radical, procurávamos preservar o meio ambiente. Uma grande preocupação que a CPFL tinha era com a preservação ambiental. Subordinadas à Piracicaba tínhamos: Charqueada, com suas imediações, como o Córrego da Onça. Águas de São Pedro, São Pedro, Saltinho, Rio das Pedras, Mombuca, Capivari e Rafard, essas localidades dependiam de Piracicaba. Tenho um fato interessante que ocorreu comigo quando ainda era técnico. Houve um pedido de extensão de energia em Águas de São Pedro, bem na frente da casa do solicitante tinha um pé de jaca, carregado de jacas pequenininhas, teria que cortar o pé de jaca para poder entrar com a rede até a casa. Era uma árvore de médio porte. Pensei: “-Não vou mexer aqui!”. O que eu fiz? Pulei a rua, atravessando-a com a linha, ficou sem estética, a rede vinha pela calçada, dei uma guinada e joguei do outro lado o poste, para depois trazer a derivação para a casa do cidadão. Iria passar pelo meio da jaqueira, tudo isso para não interferir na árvore. Águas de São Pedro é uma cidade turística, um jornalista esteve com o dono da propriedade, que deu-lhe uma jaca e contou-lhe a história: “O funcionário da CPFL para não mexer nessa árvore, colocou o poste do outro lado da rua”. O jornalista era correspondente do jornal “O Estado de São Paulo”, publicou a história que tinha sido relatada. A diretoria da CPFL queria saber o que estava acontecendo em Águas de São Pedro. Éramos subordinados à gerencia de Campinas, tive que justificar o procedimento. A justificativa foi encaminhada ao diretor que ficava em São Paulo. Apesar da falta de estética não encareceu em nada. Preservei uma jaqueira. O jornalista enalteceu o trabalho da CPFL. Isso mostra a preocupação da empresa em saber o que estava acontecendo com árvores na rua.
A CPFL é propriedade particular?
Quando eu entrei para a empresa tinha sido recém transferida de um grupo canadense para a Eletrobrás. Até na época a Eletrobrás cobrava um subsídio, infelizmente a maior parte dos consumidores não tinha conhecimento disso, por diversos motivos, entre eles o baixo índice de alfabetização na época. Com aqueles recibos de luz pagos, você guardava e trocava com ações da Eletrobrás. Isso porque ao pagar a conta também pagou o subsídio. Alguns elementos que sabiam, iam de casa em casa pedindo os recibos, depois vendiam para corretores de São Paulo. Havia corretoras especializadas em trabalhar com essas ações. Com o passar do tempo a Eletrobrás pegou o equivalente em ações na CESP e deu a CPFL para a CESP. A CPFL passou a ser subsidiária da CESP. A Eletrobrás pegou o equivalente em ações da CESP que estava crescente em produção de energia surgiram os grandes reservatórios: Avanhandava,  Águas Vermelhas, Ilha Solteira, estava uma potência na época. O presidente da CESP era o Professor Lucas Nogueira Garcez.
Quantos anos você permaneceu na CPFL?
Quase trinta anos, aposentei-me lá. Eu me formei como tecnólogo, fiz especialização, fiz um curso de Extensão Universitária pela Faculdade de Bauru. Em 1977 comecei a lecionar onde na época era o Colégio Técnico Industrial. Atualmente é a Fundação Paula Souza. Eu dava aulas de eletrotécnica. Na época o governo tentou implantar no nível colegial alguns conceitos de profissionalização. Na cadeira de física eu dava aulas de eletricidade básica e instalações elétricas no Colégio José de Mello Moraes. Lá eu dei aulas três anos, não deu resultado essa tentativa de introduzir essa metodologia. Dava aulas concomitantemente com o Colégio Industrial, onde dei aulas por quinze anos, de 1977 a 1992, no período noturno.
Você é casado?
Sou casado com Heloisa Maria Marretto Fusatto, temos dois filhos: Giovanna, cirurgiã dentista e André Luiz, engenheiro agrônomo. Tenho três netos.
Ainda na CPFL você deve ter vivido fatos interessantes.

Têm muitos. Houve uma época em que a periferia nossa era bem deficitária em rede de iluminação pública, nas ruas. Então surgiu uma idéia do governo, financiada pelo BNDS, a sigla era “LPP” – Luz Para a Periferia. Fazíamos uma varredura em toda periferia aonde havia aglomerado de casas, sem luz na rua, fazíamos o levantamento, o projeto, ia para a aprovação da diretoria, e fazíamos a extensão de luz na rua. Começamos a perceber que poucas casas pediam a ligação de luz. O poder aquisitivo era baixo. Então surgiu outro programa o “PPM” – Padrão Popular Mínimo, também financiado pelo BNDS. A CPFL fornecia o postinho, a caixa com medidor de consumo de energia, toda fiação e prontinha a entrada. O cidadão fazia só a fiação dentro da casa dele e a CPFL interligava para ele. Sempre gostei de vencer obstáculos, houve um caso em que o cidadão me procurou, o nosso gerente na época era Benedito Vasconcellos. Essas campanhas ele pedia que eu coordenasse. Veio um cidadão falar comigo. Disse-me: “- Moro na Vila Industrial, o terreninho é meu, está quase pago, eu ganhei um baú de um caminhão das Balas Nechar”. Já estava bem amarelado pelo tempo de uso, ele continuou dizendo: “- Eu moro com a minha família, dentro do furgão, fiz um puxadinho onde a minha mulher cozinha do lado de fora. Durmo dentro do furgão e por ter criança pequena a lamparina fica acesa a noite toda e está fazendo mal a saúde, não tem janelas no furgão. Será que é possível ligar a luz para mim?”. Disse-lhe que ia até lá para ver. E fui. Ele tinha vindo à Piracicaba já há algum tempo, trabalhava na aciaria do Dedini, um serviço pesado, puxar ferro quente do forno. Durante o dia ele descansava para trabalhar a noite. Vi que o terreninho estava bem limpinho, demarcado. Ele disse-me: “-Aqui na frente vou fazer a minha casinha ainda”. Tinha uma criançada, todos seus filhos. Eu disse-lhe: “- É a sua casa! Dá para ligar a energia elétrica sim!”. Fiz a medição de um trecho da rua para poder encontrar o número equivalente a casa dele. Escrevi o número, e disse-lhe que arrumasse alguma tinta e escrevesse o número da sua casa, aquele que eu tinha anotado após medir. Marquei o local aonde iria o postinho e disse-lhe para abrir o buraco aonde iríamos colocar o postinho. Assim foi feito, a energia foi ligada. Naquela época fazíamos inspeção a noite onde havia foco de luz. Havia muita malandragem da molecada, quebrar lâmpada da rua com estilingue. O pessoal da inspeção passou e viram o furgão aceso, fizeram uma série de comentários em tom de brincadeira. Chegou ao ouvido do meu chefe, Dr. Benedito, ele disse-me: “Isso que você fez é louvável!”. 

Em 1931, o espírito empreendedor do jovem Agostinho Martini Netto fez com que a produção de doces caseiros, que aprendera com sua mãe, se tornasse um sucesso comercial na cidade de Piracicaba - SP.
Com apenas 16 anos, Agostinho mobilizou sua família em torno da produção caseira de doces. Em sua casa "Seu Neguinho", como era conhecido, e sua mãe faziam confeitos de abóbora, batata e a famosa cocada, que eram vendidas por ele, a pé, em cestos de palha. Era o início de uma tradição que começava a fazer parte da vida da cidade.
Em 1935 "Seu Neguinho" casou-se com Joana Rocha, a qual passou a confeccionar doces e bolos para casamento. Companheira de todos os momentos teve parte importante nessa longa caminhada. Em pouco tempo, com a aquisição de uma charrete os doces passaram a estar presente em muitas comemorações locais. Casamentos e festas eram saborosamente enriquecidos com os doces e bolos da família Martini, que trabalhava diariamente para adocicar a vida das pessoas e atender com prontidão as inúmeras encomendas.
Em 1938 foi adquirido o primeiro veículo, um Chevrolet 1928 e em 19 de Abril de 1940 foi criada a  Doces e Conservas Martini Ltda.
A preocupação em manter a qualidade dos produtos e a rapidez na distribuição, dava a Doces Martini uma posição de destaque nacional.
Na Segunda Guerra Mundial e durante parte do regime militar Brasileiro, a Doces Martini enfrentou momentos amargos de racionamento, mas com dedicação e perseverança foram transpostas todas as dificuldades. Já passado o período de racionamento, em 1970, a linha de produtos foi modificada. A fabricação de bolos e doces para casamento foi acrescida por uma vasta linha de doces cremosos e em conserva, totalizando mais de 100 produtos diferentes entre confeitos, compotas e doces cremosos.
Manter a produção de doces e compotas, com sabor de feito em casa, é orgulho e tradição dos Martini.
Hoje a empresa, que está na quarta geração, tem seus produtos distribuídos para pizzarias, hotéis, restaurantes industriais, supermercados, padarias e diretamente ao público em âmbito nacional e internacional.
O segredo desse sucesso está na seguinte fórmula: 
- Mais de 80 anos de dedicação e trabalho;
- Frutas frescas e açúcar misturados com muito amor;
É por isso que a  história desta indústria é considerada UMA DOCE TRADIÇÃO!


Fábrica de tecidos “Boyes”

A fábrica de tecidos “Boyes”, fundada como Fábrica de Tecidos Santa Francisca, teve a sua origem a partir do empreendedorismo de Luiz de Queiroz. A fábrica se tornou a primeira grande indústria originalmente piracicabana, recebeu a primeira linha de telefone da cidade e, ainda, obteve o seu processo de produção por meio da força hidráulica do Rio Piracicaba. Por falta de tecnologia para subsidiar a produção demandada pela fábrica, todos os maquinários eram importados da Inglaterra.
O Jornal de Piracicaba, datado em 27 de dezembro de 1900, apresenta o discurso pronunciado pela aluna da Escola Luiz de Queiroz, Adelaide Peregrina, em ato de encerramento dos trabalhos daquele ano, onde destaca a importância da fábrica para os trabalhadores locais:Não é um edifício sumptuoso, não prende a atenção o seu trabalho artístico, não tem arquitetura custosa, nem colunatas, nem ogivas, não tem frontispícios a trabalhosos labores ou delicados rendilhados mas ante ele o passeante deve descobrir-se com respeito, porque é uma Sinagoga do trabalho, que a sua sombra angusta e sagrada abriga dos rigores do infortúnio famílias e famílias, a quem distribui o trabalho do qual a recompensa e o bem estar, o sossego e a paz de muitos lares”.
A fábrica de tecidos, após ser adquirida por Rodolpho Miranda em 1902, altera o nome e passa a ser identificada como “Arethusina”. No Jornal de Piracicaba, de 1903, uma nova matéria detalha as atividades e estrutura da fábrica, inclusive da Vila, conjunto residencial que servia de moradia para os seus operários:
Em uma quadra, fazendo faces para a rua Luiz de Queiroz, Prudente de Moraes, Vergueiro e 13 de maio, tem a fábrica 14 confortáveis casas para operários, na primeira das ruas descriminadas, e nas segundas excelentes habitações em que reside o guarda-livros”.
Também próximo a fábrica se encontra o palacete de Rodolpho Miranda, que ainda naquela edição do Jornal, é ilustrado como um espaço:
Situado num dos pontos mais pitorescos da cidade encontra-se elegantíssimo palacete ao centro de deslumbrante parque onde, a par esmerado capricho na escolha e conservação de frondosos e raros arvoredos, assim como de belíssima flores o seu proprietário faz coleção de aves nacionais e estrangeiras”.
Em 1927, definitivamente, a fábrica foi adquirida pela Cia Industria e Agrícola Boyes, o qual leva o nome da empresa e da Vila até o fim de suas atividades.

                                       Empreendedor Luiz de Queiroz. Acervo da USP/ESALQ

Fábrica de Tecidos Santa Francisca. Acervo do IPPLAP (Instituto de Pesquisa e Planejamento de Piracicaba)

                                     Louis Clement
Século 20. N. Bélgica, f. São Paulo, SP, 1990-95? Engenheiro têxtil, administrador de empresa. C.c. Eloá Clement. Ff.: Achilles, Astrid, Therezinha. Durante muitos anos, foi diretor da Companhia Industrial e Agrícola Boyes em Piracicaba, originada da fábrica de tecidos D. Francisca (mais tarde Arethuzina) que Luiz Vicente de Souza Queiroz (v.) criou em 1877. Nomes de destaque na sociedade piracicabana de meados do século 20, o casal Clement esteve ligado a numerosas entidades e iniciativas relevantes. Por ocasião da criação da Associação Atlética Vila Boyes, Louis Clement foi eleito presidente de honra. Deve-se a ele a doação de terreno da Companhia Boyes no qual foi construído e instalado o novo mosteiro das Carmelitas Descalças de Piracicaba, cuja pedra fundamental foi lançada e benzida a 15.8.1954. Grande benemérito, destacou-se em numerosas obras de benfeitoria, como a construção da segunda torre da catedral piracicabana. Foi quinzista devotado e conselheiro do E. C. XV de Novembro em seus áureos tempos 
Pfromm Netto, Samuel, 1932-2012. Dicionário de Piracicabanos / Samuel Pfromm Netto. — 1. ed. — São Paulo : PNA, 2013  

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