domingo, outubro 22, 2017

ZÉLIO ALVES PINTO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 09 de setembro de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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ENTREVISTADO: ZÉLIO ALVES PINTO


 

Zélio Alves Pinto é penense, nasceu a 20 de fevereiro de 1938, em Conselheiro Pena, localidade próxima a Caratinga, Minas Gerais, onde se criou. É filho de Geraldo Alves Pinto, bancário, gerente do Banco Ribeiro Junqueira, e Zizinha Alves Pinto, que tiveram os filhos Ziraldo, Ziralzi, Zélio, Maria Elisa, Maria Helena, Maria Elisabete, Geraldo Júnior e os filhos adotivos: Dinair e outro filho de nome Geraldo.  Moravam bem no centro de Caratinga. Zélio é casado com Cecília Whitaker Vicente de Azevedo Alves Pinto, a Ciça, tiveram os filhos: Ana Cecília, Pedro e Fernando. 

Sua mãe tinha alguma atividade além de dona de casa?

Ela tinha um atelie de costura, em casa, naquela época era uma coisa muito animada. Não existia prêt-à-porter (roupa feita industrialmente em série), tinha as moças que trabalhavam lá em casa, havia as máquinas de costura. Mamãe ficava ensinando. Era uma atividade profissional muito importante, mamãe ensinar para elas a costurar, alguém tinha que costurar em cada casa. O prêt-à-porter mudou todas as capas de revistas do mundo, as roupas passaram a ser produzidas por outro enfoque.

Até que idade você permaneceu em Caratinga?

Até os 17 anos. Estudei lá o curso primário e ginasial. No Grupo Escolar Princesa Isabel. Minha primeira professora foi Dona Mimi, muito brava. De Caratinga fui para Belo Horizonte, meus dois irmãos moravam em república de estudante, fui morar nessa república a “Inferno 17”. Fiz o científico e o pré-vestibular, a minha intenção era ir para Paris. Meu primeiro emprego foi no Banco Ribeiro Junqueira, como Office boy, estafeta. O Ziraldo e o Ziralzi quando foram para Belo Horizonte foram com emprego no Banco Ribeiro Junqueira. Naquela época trabalhar em banco significava ter uma bela carreira profissional. Com uns 15 anos tive que fazer uma viagem para o banco fui de paletó e gravata, fui de Caratinga até Leopoldina de trem vestido como autoridade! Paletó,gravata e guarda-chuva italiano.Perdi o guarda-chuva, papai amava aquele guarda-chuva. A minha missão mais importante era voltar com o guarda-chuva. Esqueci em Leopoldina, nunca mais o resgatei, possivelmente deve ter ficado no trem da Estrada de Ferro Leopoldina. Era a locomotiva a vapor, chamada de Maria Fumaça, não podia ficar próximo a janela porque senão vinha fagulha que poderia atingir o olho. Tinha que usar guarda-pó para não estragar a roupa.

Em Belo Horizonte você trabalhava?

Trabalhava no banco, em seguida fui trabalhar em uma agência de publicidade, chamava-se Grant. (A Grant Advertising Publicidade foi instalada em São Paulo, em 22/03/1943, por Will Calway Grant. Ela existia em Dallas desde 1935. Funcionou, no Rio de Janeiro, desde 1944 até 1979 e teve filiais em Belo Horizonte e Porto Alegre. Foi a Terceira Agência de Propaganda a instalar-se no Brasil.) Da Grant fui convidado para trabalhar no jornal “O Estado de Minas” inicialmente como ilustrador de publicidade e depois virei repórter.

O seu talento artístico tem uma origem conhecida?

Em casa todo mundo era artista: papai era ator amador, mamãe pintava, meu irmão mais velho já era desenhista. O irmão do meio cantava, fazíamos muitas festas em Caratinga. Éramos uma família muito alegre, festeira.

Quem arcou com os custos da sua ida à Paris?

Eu mesmo! Se você sai de casa para ir a algum lugar, acaba indo! Com 17 anos a pessoa vai até a nado para Paris. Quando cheguei a Belo Horizonte fiz um estágio, fui ao Rio de Janeiro, onde fiz outro estágio, lá consegui uma bolsa de estudos que me permitiu ir à Paris.

A sua ida ao Rio de Janeiro foi através de algum convite?

Nesse aspecto sou mais mineiro, antes de ir a algum local faço uma sondagem. O mineiro não é introspectivo, ele é desconfiado mesmo. A introspecção é mais um estado de espírito e a desconfiança é mais um estado de animo. Eu vou para lá, mas quero saber como é que é, quero informação, não quero chegar lá cego. O mineiro nunca irá chegar cego a lugar nenhum, só se for um mineiro bobo! Mas não é o mineiro! O mineiro não é introspectivo, ele é tímido por natureza. Não se joga de peito aberto como o Ziraldo! O Ziraldo é o tipo mais anti-mineiro que já vi! Por isso ele se deu tão bem no Rio de Janeiro, o carioca é do tipo que tira a camisa e mete o peito. Acaba tendo problemas, levando bala como está acontecendo. Por isso acho que existe essa afinidade tão grande entre mineiros e cariocas. Não disputam um com o outro. São universos diferentes, o carioca é extrovertido, Deus fez o carioca extrovertido, deu para ele o cenário para isso! Para Minas Deus deu a introspecção, a timidez, são montanhas de todos os lados. Mamãe dizia: “- O único problema de Caratinga é que não tem horizonte!”. Ela gostava de ir para o Rio porque lá tem aquele “marzão”, ela adorava aquele horizonte fantástico. A família da minha mãe nos anos 40 a 50 mudou-se para o Rio, meu avô e minhas 11 tias. Meu avô era de uma região de Minas onde havia muitas pedras preciosas: turmalina, topázio, essas pedras que hoje são valiosíssimas, na época jogávamos bola de gude com elas. Quando era menino abria uma gaveta em casa estava cheia de pedrinhas coloridas. Passavam no rio, pegavam e levavam para casa. Até que a Segunda Grande Guerra levou os norte-americanos para a região, dirigiram-se à Governador Valadares, uma cidade relativamente próxima a Caratinga, lá havia minas incríveis, o que era mais importante para eles era a malacacheta, na época um mineral estratégico. Entre outras aplicações eles usavam como isolantes nos tanques de guerra. Antigamente era muito utilizado em ferros elétricos domésticos. Com a descoberta das minas em Governador Valadares, muitos americanos dirigiram-se até lá para explorarem a extração do mineral. Estabeleceram uma grande colônia, casaram-se, tiveram filhos. Terminada a guerra voltaram aos Estados Unidos, mas deixaram muita saudade em Valadares e toda a região. É por isso que dizem que mineiro de Valadares vai para os Estados Unidos! Eles sempre são parentes de alguém! É aquela história: “Posso ir tia? Tem um quarto para mim? To indo!

Em que bairro você foi morar no Rio de Janeiro?

Morei em Copacabana, tinha parentes no Rio.

Foi um choque cultural?

Nunca fui submetido a nenhum tipo de choque. Quando ui para Paris foi a mesma coisa, cheguei, desci na estação, já estava na Caratinga ali. Só que ela falava em francês. Fui de avião até Lisboa e de lá até Paris até a Gare d'Austerlitz  pelo trem Sud Express. Eu trabalhava na revista “O Cruzeiro”. Quando desci tinha uma pessoa do Diários .Associados me esperando. Eu não o conhecia, era um cearense. Ele estava segurando a revista “O Cruzeiro”. Eu trabalhava na revista “O Cruzeiro”. Ele me levou a um hotel que tinha reservado para mim, deixei minha mala e saímos.

Você conheceu Assis Chateaubriand ?

Conheci. A minha mulher é afilhada dele, o pai dela era um dos diretores da revista “O Cruzeiro”.
Zélio Alves Pinto e sua esposa Cecília Whitaker Vicente de Azevedo Alves Pinto, a Ciça


Em Paris como foi o seu trabalho?

Além de bolsista, dada pelo Itamarati, ganhei um dinheiro inesperado, fiz uma campanha de publicidade e recebi um valor que nunca tinha ganho, era bastante dinheiro. Algo em torno de 20.000 dólares. Eu tinha 19 a 20 anos. Esse prêmio ganhei na França. Lá fui trabalhar no bureau da revista “O Cruzeiro” onde permaneci por três anos. Até que a minha mulher apareceu por lá. Acabamos voltando ao Brasil e casamos. Estamos casadoa ha mais de 50 anos.

Qual foi a sua impressão do povo francês na época?

Havia um problema gravissimo, que era a Revolução Argelina. Havia um movimento de libertação da Argélia, as colônias estavam se livrando das metrópoles. A Guerra da Argélia foi uma guerra pesadíssima.Eu com essa minha tez de “sueco” todo dia era parado na rua. O que mais eu ouvia era um guarda dizendo “- Vos papiers monsieur !” (Os documentos). Isso foi por volta de 1962 a 1963. (Nesse instante chega um amigo de Zélio, vindo da Paraíba. Após os devidos cumprimentos e abraços prosseguimos. Zélio contando as maravilhas da Paraiba).

Você voltou ao Brasil e foi trabalhar em qual local?

Fui trabalhar de novo em “O Cruzeiro”, como a vida de jornalista não pagava placê, tive que arrumar emprego em uma agência de publicidade. Continuei colaborando com “A Cigarra”, “O Cruzeiro”, “Manchete”, “JB”, publicava meus cartuns em todos os lugares. Eu fazia muita ilustração. Se você mora em Paris e manda um trabalho seu para qualquer veículo do mundo, como rementente escreve seu endereço em Paris, esse trabalho é visto com muito mais interesse, respeito e levado mais a sério. De Paris eu enviava material para revistas alemãs, suecas, russas, quase sempre aceitavam. Compravam. Comecei a mandar do Brasil, o interesse mudou radicalmente. Não é o fato de ser do Terceiro Mundo, mas sim porque o Terceiro Mundo não traz supostamente as informaçõess que interessam a esse públco de Primeiro Mundo. Infelizmente o país não investe em cultura, pesquisa, o que ocorre são inicitavas pontuais de valores: um esportista,um cientista, alguém brilhante em sua área. Os cartunistas brasileiros, por acaso nesses últimos 50 anos tem brilhado no mundo, desde quando Piracicaba começou a impulsionar um diálogo com o exterior, a pósição para os brasileiros mudou muito. Brasileirada hoje são hoje campeões mundiais de salão de humor. Quem mais ganha salão de humor são: iranianos, brasileiros, russos, ucranianos. São regimes onde o uso do humor como linguagem para dizer as coisa, para comentar, criticar, é muito mais saudável do ponto de vista do autor, do que de outra forma. A linguagem metafórica do humor permite afirmar: “Não foi bem isso, você é quem está dizendo que eu disse isso. Isso é a sua leitura. Não estou falando isso, estou fazendo um comentário absolutamente pertinente”. Casei, fui convidado para vir para São Paulo, permaneci aqui por um a dois anos, voltei para  o Rio, fiz a Revista Urubu, trabalhei na Manchete.

Como era a relação com a Manchete?

A relação era complicacada, eles eram excessivamente familiares, não que eu veja nisso uma dificuldade, mas naquela circunstância ficou, porque cresceu. A Manchete era uma gráfica, ficou uma gráfica boa porque os administradores eram competentes, fizeram uma bela gráfica no Estácio. Com a gráfica adquiriram equipamentos que permitiam novos empreendimentos, o Adolpho decidiu fazer uma revista. A família não estava acreditando. Era loucura fazer aquilo. Havia um lobby judaico, precisavam publicações, desde a Segunda Grande Guerra os judeus estão lentamente assumindo o contrôle sobre as comunicações, no mundo, e sobre as finanças. Isso é histórico. O Chateubriand falhou nisso, ele não fez um grande banco. Ele era um romântico, não um financista. Era um homem notável, fazia as coisas acontecerem. Ele estava mais centrado na Inglaterra e eu na França. Ele vivia em Londres. Quando ele chamava alguém para ir a Londres iam os mais velhos de casa. Eu ainda era muito novo. Estive com ele umas duas vezes em que ele foi a Paris. Nunca fui a Londres enquanto ele era embaixador. Aonde Chateubriande chegasse em Londres naquela época era festa. Era o Rei do Brasil, Dono do Brasil.

Quanto tempo você permaneceu na Manchete?

 Uns dois a três anos. Fiz uma revista de humor chamada “Reis do Iê-Iê-Iê” foi por volta de 1966 a 1967. Essa revista era de um dono de uma pequena editora, tinha sido funcionário da Rio Gráfica, ele brigou com o Roberto Marinho, saiu, comprou o equipamento, naquela época podia importar máqina de impressão, o Roberto Campos desenvolveu uns planos para facilitar a importação de insumos básicos, uns dos itens eram equipamentos de impressão gráfica. Isso tinha financiamento do BNDS da época, me convidou para fazer revistas. Ele perguntou-me como seria o nome da revista de humor, disse=lhe: “Urubu!”. Ele deu uma risada e disse que isso não era nome de revista. Eu disse-lhe que era exatamente isso que eu queria, que as pessoas rissem ao pegar a minha revista. Foi um grande sucesso. Assim fiz uma segunda revista, uma terceira, uma revista de música popular brasileira. Uma outra revista feminina chamada Carinho, vendia bastante. Foi antecessora da Capricho e outras semelhantes. Essas revistas deram um impulso para a editora pequenininha, a gráfica dele era pequena e a demanda muito grande, ele começou a imprimir na gráfica da Manchete. O Adolpho viu que estava aumentado cada vez mais, quiz saber quem estava fazendo a revista, ao saber que era eu, convidou-me para fazer uma revista chamada Jóia. Convidaram-me pa ra sair daquela editora pequena e ir dirigir uma revista em uma grafica com potencial maior. Tinha uma grande redação, veiculos, toda uma infta-estrutura. Fui para a Manchete onde permaneci por um bom período. Eram três parentes: tio-avô: Adolpho Bloch, coordenava todo mundo, o genro Oscar Bloch era o financeiro, e o neto Pedro Jack Kapeller, o Jaquito era do editorial, o Adolpho concentrava as decisões, por exemplo eu queria colocar uma capa na revista ele queria outra. Todo mês era uma briga para acertar a capa com ele. Quando saia a revista ele dizia: “Está vendo! Vendeu menos do que teria vendido, se fosse a minha capa teria vendido mais!”. Era sempre assim! Até um dia em que não aguentei mais, disse-lhe: “Desculpe-me, recebi um convite, estou indo para São Paulo”. Vim para São Paulo para criar uma agência de públicidade: a Probras Propaganda Brasileira Sociedade Anônima. Situava-se na Rua 3 de Dezembro, no centro. Naquela época alí que era São Paulo. Fiquei pouco tempo na agência. O banco não queria fazer publixcidade porque o avô da minha mulher dizia que banco sério não faz publicidade. Quem faz a publicidade do banco é o cliente. Tinha criado uma campanha linda para o Banco Comercial do Estado de São Paulo, com fotos lindíssimas. O banco era todo estilo inglês, o prédio quem tinha construido foi o avô da minha mulher, José Maria Whitaker, um financista reconhecido, respeitado mundialmente, foi quem tirou o Brasil do jugo financeiro anglo-saxônico, quem atribuía valor ao dinheiro brasileiro, distribuía, era um banco alemão e o inglês Rothschild. Em 1917 os americanos assumiram com o Federal Reserve. O dolar é a moeda mundial. Ha mais de 40 anos a China está trabalhando para tentar deslocar, o BRICS( Brasil,Russia,India, China e África do Sul) foi uma tentativa, o Brasil não estava fortee o suficiente para essa participação. Infelizmente o Brasil está sob o jugo do mercado internacional, e quem está no mercado internacional não quer mais parceiro. O máximo que eles podem aceitar é como fornecedor de insumos, matéria prima.

Você é religioso?

Fui seminarista, ia ser padre.

Como você foi parar no Pasquim?

O Pasquim me pegou no pulo! Em 1969 eu estava vindo para São Paulo, quando saiu a primeira edição do Pasquim. Tinha gente muito boa: Paulo Francis, Jaguar, Tarso de Castro, Fausto Wolff, Millor,

E quanto ao Salão de Humor de Piracicaba?

A primeira palestra que fiz em Piracicaba foi no Hotel Beira Rio que estava em obras. Fui convidado pelo pessoal de Piracicaba a explicar o que era um salão de humor. O pessoal era muito conservador, continua sendo uma cidade conservadora. Aconteceu um incidente que marcou o salão, e imagino que até hoje existe por certa camada da população uma rejeição disfarçada pelo Salão de Humor de Piracicaba. Existem várias razões: Primeiro porque o Salão foi feito por pessoas alheias a sociedade piracicabana; os filhos de Piracicaba participaram, mas muito discretamente. O Salão é Internacional não por pretensões, mas por precaução. Quando o Salão surgiu em 1974 por acaso eu tinha uma relação muito estreita com a Europa, preocupado com a reação dos militares que poderiam achar que éramos todos comunistas, isso tinha acontecido com o Pasquim.

Você foi quem lançou o Primeiro Salão de Humor do Mackenzie, em São Paulo?

Tinha sido convidado para ir ao salão de Lucca, Itália, que era um salão muito importante, de quadrinhos e desenhos animados. Freqüentavam lá também os grandes cartunistas. Fizemos o Primeiro Salão Nacional de Humor no Mackenzie. O Fagundinho de Piracicaba tinha viajado, quem ficou substituindo-o como Secretário da Ação Cultural foi Alceu Righetto, quando ele entrou no meu ateliê com Carlinhos Colonese, Adolpho Queiroz isso em São Paulo. Tinha a disponibilidade de fazer um salão em Piracicaba. Eles, por minha indicação foram até o Rio de Janeiro, levando cachaça de Piracicaba. A Neuma que os recebeu. Piracicaba hoje é uma metrópole. Eu a conheci quando ainda era uma cidade, uma boa cidade. Tudo com sobrados, era linda. Quando cheguei aqui pela primeira vez me encantei com o casario. Foi em junho ou julho de 1974. Foi o ano em que fizemos o Primeiro Salão de Humor de Piracicaba, no prédio onde havia funcionado o Banco Português do Brasil.

sábado, outubro 21, 2017

ROGÉRIO GONÇALVES DE FARIA.


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 02 de setembro de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADO:
ROGÉRIO GONÇALVES DE FARIA.





 


Rogério Gonçalves de Faria nasceu a 1 de abril de 1980 na cidade de Votuporanga, sendo que até os 14 anos residiu em um sítio pertencente ao município. È filho de Ireni Gabriel Gonçalves de Faria e Djair Diogo de Faria, sempre foram do campo, ruralistas, sua mãe é do lar, trabalhou na roça. Tiveram três filhos: Grazielle, Ricardo e Rogério.

Que tipo de cultura vocês praticavam?

Até os 14 anos eu trabalhava também com eles na roça, quando eu tinha uns 5 ou 6 anos morávamos em uma fazenda muito grande, lá o meu pai tirava leite, de 200 a 300 vacas. Apartávamos as vacas ao meio dia para esse leite descer e no outro dia termos o leite disponível. O leite era colocado em latões e levado até o ponto onde o caminhão do laticínio passava recolhendo. Meu pai foi mudando de sítio, alguns era roça: milho, algodão, arroz, feijão. Tinha que plantar, cuidar, colher. O mais chato era limpar pé de café.

Você é um artista, como surgiu essa vocação?

Deve ter sido a fantasia da própria televisão. Quando moramos no sítio tínhamos uma televisão preta e branco eu ficava assistido e queria estar dentro dela. Não tinha como entrar. Como toda criança curiosa ficava olhando por traz do aparelho, pegava no fio. Imaginava: “Meu Deus! Como essas pessoas entram!” Nessa época eu freqüentava a escola do sítio. Não era tão próxima, acordávamos às cinco horas da manhã, íamos caminhando para a escola, atravessava riachos, éramos crianças, tudo era brincadeira. Quando chovia íamos com capas, minha mãe prezava muito pelo nosso estudo. Essa escola do sítio era em uma mesma sala primeira, segunda, terceira e quarta série juntos, a mesma professora dava aula para todos os alunos. Ela dividia a lousa e ia escrevendo para cada um. Eram aquelas carteiras antigas em que sentavam dois alunos, um pouco antes do intervalo dois alunos iam buscar o balde de comida. Era uma cozinheira que morava próximo que fazia.

Depois passei a estudar em uma cidadezinha próxima íamos caminhando também até o ponto de ônibus, morávamos próximos a Andeara, Álvares Florence, Valentim Gentil.

Como você veio para a região de Piracicaba?

Quando eu tinha 14 anos minha avó materna, Nair veio para Americana. Ela trouxe-nos juntos, três anos após ela faleceu. Fui trabalhar no supermercado como pacoteiro, fiquei nessa função por um ano, Até que passou um senhor no caixa e perguntou-me se queria trabalhar em um hotel. No dia seguinte fui com a minha avó nesse hotel. Era o maior hotel da cidade, o Hotel Florença Palace. Fui ser mensageiro, era quem levava as bagagens, Office Boy. Foi incrível porque passei a ter contato com os artistas, muitos artistas de passagem pela cidade hospedavam-se ali. A Festa do Peão trazia muitos artistas do teatro, eu começava a abordá-los questionando, permaneci por cinco anos no hotel. Foi lá que expandi meus pensamentos.

Nesse período você estudava?

Estudava! Estudei na EE Heitor Penteado, meus pais tinham ido morar em Americana. Ganhei bolsas de estudo no curso do Grupo de Teatro Téspis de Campinas, do Conservatório Carlos Gomes, depois descobri a Incenna Escola de Teatro e Televisão em São Paulo, eu pegava  o meu salário e investia nesse sonho. Até que completei 18 anos. Fui ser “Amigo da Escola”, um projeto que era da Rede Globo, o garoto propaganda era o Tony Ramos. Como Amigo da Escola trabalhava na secretaria, biblioteca, e criei um grupo de teatro lá. Fazia malabaraes, teatro. Foi para o início do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (PROERD). A primeira vez em que me maquiei de palhaço e coloquei o nome de Palhaço Sossego. De sossego ele não tinha nada, sou hiperativo. Nunca fiz curso para ser palhaço, mas foi muito bom. Começamos a fazer shows nas escolas, creches. Até que folheando uma revista vi uma matéria sobre um curso de rádio e televisão. Só que não tinha dinheiro para fazer o vestibular, a faculdade. A professora viu a minha vontade , perguntou-me por que não ia fazer. Quando disse-lhe que não tinha dinheiro, na hora ela fez um cheque de 60 reais, fui correndo fazer a minha inscrição no vestibular da UNIMEP. Passei no vestibular. Pensei: E agora?. Tinha que pagar R$ 500,00 de matrícula e a mensalidade era de R$ 500,00.

O que você fez?

Minha mãe trabalhava na Justiça do Trabalho como faxineira, os colegas dela viam essa minha vontade de ser artista, deram à ela os R$ 500,00 de presente, disseram que teria muitas alegrias com o filho dela, viemos correndo para a UNIMEP fazer a minha matrícula, quando entrei no campus e vi aquele campus lindo da UNIMEP pensei: “Meu Deus! É aqui mesmo que eu tenho que estar!”. Não tinha dinheiro para pagar a faculdade, entrei com um pedido de bolsa para carente, só que fiz uma radionovela no primeiro semestre e inscrevi no Expocom que é um congresso de comunicação que reune os trabalhos de todas as partes do Brasil e eu fiquei em segundo lugar. Com uma rádio novela.  Isso agilizou e eu consegui 80% de bolsa que abateu nas mensalidades. Meu pedido anterior de bolsaa também já tinha sido aprovado, com isso tive 90% de bolsa. No segundo semestre, pagando R$ 60,00 de mensalidade, decidi morar em Piracicaba, criei uma república, a “Rep Circus”, dividi com seis colegas, alunos de psicologia, rádio tv, ficava próxima a Avenidada Independência, em freste ao Restaurate Casaretto. Fazíamos festas que rendiam o suficiente para pagarmos todas s nossas contas, fui fazer Teatro-Empresa. Durante os quatro anos fui presidente do Centro Acadêmico de Comunicação, criei um programa que se chama R.A. Registro Acadêmico. Esse programa tem  a função de mostrar a rotina dos universitários dentro e fora da faculdade.Eu queria promover a universidade para que as pessoas se apaixonassem e viessam a fazer uma faculdade, porque é um divisor de águas em nossas vidas. Passei a ter amizades que me influenciaram e influenciam até hoje. Os meu melhores amigos são da época da faculdade. Isso mudou muito aminha vida, como presidente do Centro Acadêmico tinha diálogos com o Reitor Gustavo Alvim.

Como era a postura do Reitor Gustavo Alvim com relação às suas propostas?

Ele foi muito receptivo com a minha idéia do programa, liberou o acessoa ao laboratório de comunicação, montamos uma equipe muito grande, tinha pessoas para fazer de tudo em nossa equipe: Assessoria de Imprensa, Produtor, Câmera, e os alunos foram, achando aquilo incrível, Muitos estavam fazendo Curso de Comunicação mas sem um objetivo específico. Quando você é apaixonado vai descobrindo as possibilidades. Muitos alunos foram se descobrindo nesse programa. Tanto que muitas pessoas hoje trabalham nas funções que descobriram no R.A. Prduzimos mais de 40 programas, fiz parcerias com todos os canais locais, promovia muito a universidade. Entrei na faculdade em 2002, o programa foi em 2002 me formei no final de 2004. Meu TCC Trabalho de Conclusão de Curso foi sobre a programação para o jovem no Brasil, eu gostava muito de discutir esse tema. Nunca se tratou o jovem em nivel de igualdade. Sempre querendo ter uma opinião sobre o universo do jovem, fui atrás de quem trabalhava com jovem em São Paulo, Conversei com o Zico Góes diretor de programação da MTV, com a Soninha que estava trabalhando na TV Cultura, o Casé que fazia muito sucesso, ligava para essas pessoas, mandava e-mail e elas iam me recebendo. Eu ia para São Paulo, Na ápoca o Rene da Mr. Dandy foi um grande parceiro do R.A. Eu estava entrevistando o Zico, mostrei o R.A. para ele, ele gostou muito de mim. Me indicou para um teste para um programa que ia estrear.era o projeto piloto. Esse projeto tinha como objetivo selecionar 10 estudantes de comunicação, recém-formados, para participar de um reality show em que tinhamos que colocar no ar toda semana um programa ao vivo e inédito. Ao mesmo tempo em que as pessoas iam sendo eliminadas pela audiência. Cada semana eu exercia uma função: produtor, assistente de direção, apresentei dois programas, passava por todas as àreas. Fui até o final.




Isso foi em qual canal de televisão?

Na MTV. Na época O Dr. Gustavo Alvim e eu estávamos conversando para eu continuar fazendo alguma coisa na TV UNIMEP, que fosse um esquema de estágio para os estudantes. No interior doEstado de São Paulo não esxiste uma televisão que você consiga ocupar todos os cargos e desenvolver todas as àreas. Optei por ir para São Paulo, telefonaram em uma sexta-feira dizendo que havia passado no teste e deveria estar na segunda feira para fazer o programa. Fiquei com o meu rosto exposto bastante tempo na MTV, ela era bem assistida inclusive por agências de atores que tem os produtores que ficam assistindo tudo. Nesssa época eu morava na Vila Madalena, dividi um quarto com um estudante de odontologia, quando recebi o convite, uns amigos me levaram até São Paulo: O  Hermas Amaral Germek Junior e a Rebeca. Morei duas semanas com esse estudante, era muito educado. Ai reencontrei um colega da UNIMEP que estabva morando na Bela Vista, fui morar com ele. Meu rosto ficou no ar na MTV por uns seis meses. Começaram a me chamar para testes de publicidade. Só que eu sempre estava querendo fazer televisão, estar dentro da televisão. Teste para publicidade é muito díficil de realizar. A pessoa é chamada para o teste, faz o teste,  concorre com no mínimo 100 atores, o diretor escolhe 10, para levar para o cliente, esse cliente escolhe o ator que vai fazer o filme. Sempre é assim, a não ser quando convidam uma celebridade. Chegou a um ponto em que tive que trabalhar na Vivo de madrugada para poder fazer teste durante o dia. Sempre acreditei muito que iria dar certo. Na Vivo fui trabalhar de Back office, também chamado de retaguarda. Eu resolvia os problemas das pessoas. Nessa mesma época apareceu o teste para fazer o Patati-Patatá. Um amigo, Frederico Reder proprietário do Theatro NET São Paulo, dise-me se queria fazer o teste, estavam selecionando uma dupla de palhaços. Fui fazer o teste, fiquei uma semana. Me selecionaram para ser o Patatá. Comecei a gravar os DVDs, a gravar as aparições na TV, encontrei com o Silvio Santos no cabeleireiro José Jacenildo dos Santos, o Jassa, mais de uma vez, eu como Patatá, esperávamos o Silvio chegar, assim que ele chegava saia o Patatí e o Patatá, o Silvio gosta muito de palhaços, íamos ao aniversário do SBT, ficávamos no estacionamento, a Hebe Camargo era viva ainda, até que o dono da marca, que é o Rinaldi, conseguiu levar a dupla para o SBT.

Era você e quem?

Eu e o Flávio Barollo. Acabamos rompendo com o dono da marca, tínhamos muito amor no que fazíamos, só que infelizmente por uma série de fatores de ordem prática não estavamos em sintonia. Desistimos dessa história toda e ele levou uma dupla para substituir-nos que são os atuais Patati e Patatá. Hoje no Brasil são várias duplas, mais de 50 duplas. Sempre teve muitas duplas, Ele queria essa dupla profissional para poder chegar onde tem que chegar. Com isso tinha um grande mercado., tendo um retorno comercial maior do que muitos nomes consagrados nacionalmente. Essa profusão de duplas Patati Patatá sempre foi algo muito pouco divulgado, objeto de grande sigilo. Para você ter idéia cada DVD que eu gravei vendeu mais de três milhões de cópias, tanto eu como o Patati não ganhamos absolutamente nada disso. Uma dupla de palhaços que tinha marcado época e estava esquecida, do nada, meu parceiro e eu demos muito suor para revitalizar-los. Infelizmente não fomos reconhecidos financeiramente.




E os comerciais como ator como estavam?

Paralelo a isso fiz comerciais em TV, sou bem sucedido como ator, como Rogério. Hoje estou no ar com a campanha da Itaipava, Ponto Frio, o I Food. Estou no ar com essas três campanhas nacionais. Sempre me chamam, hoje já me convidam. Sempre tive esa coisa de trabalhar com crianças por ser o futuro e também essa questão de trablhar com idoso, de ser o presente. São os nossos mestres, aos quais precisamos ter acesso. Para continuarmos o que eles estão construindo, o que já construiram. Vivemos em um pais em que as pessoas estão toda hora recomeçãndo. Penso que a política é um pouco culpada disso, troca-se um partido, tracam-se todos os projetos, trocam-se todas as idéias. Pouco se aproveita daquilo que é bom. Sou um artista do povo, gosto muito de interagir com o povo.

Atualmente  em que cidade você reside?

Estou morando em São Paulo a quase 15 anos, já fiz mais de 20 comerciais, 90% dos comerciais que fiz sou protagonista, tenho uma imagem que chama muito a atenção. Fiz participação em novela, Amigas e Rivais, no SBT, interpretei o dono do bar, sempre vou atrás das minhas idéias, exercitar o meu dom com as ferramentas que estão disponíveis.

Como deu-se essa sua incursão junto ao público da terceira idade?

Ha cinco anos, mais ou menos, o Portal da Terceira Idade me procurou, a Priscila Skaff me indicou, para fazer uma personagem na Avenida Paulista, se eu consegueria fazer um velho? Criei o Joaquim Dim. Fui para a Avenida Paulista com eles no Dia do Idoso. Fiz essa intervenção, gostei, comecei a trabalhar o Joaquim Dim. Não gosto de fazer mais do mesmo e também não estou a fim de criar um roda nova, mas quero criar uma roda diferente. Quero experimentar novas possibilidades. O idoso envelhece e é simplesmente esquecido, desvalorizado demais. Vivemos em um país capitalista que preocupa-se só com a produção. Essas pessoas passam a ser um custo. Aposentam-se, muitas vão para asilos, ficam esquecidas pelas suas famílias. Temos nos idosos muito conteúdo, muitas pessoas inteligentes, precisamos ter acesso a isso. Quero fazer uma experiência no Lar dos Velhinhos de Piracicaba, a Primeira Cidade Geriátrica do Brasil. Entrei em contato com as pessoas responsáveis, fiz a minha proposta de registrar a memória de pessoas com a idade acima de 60 anos. Tenho a intenção de criaar um canal de comunicação com o idoso do Brasil. Fiz um processo de imersão total no cotidiano do idoso. É um trabalho sem ônus para o Lar. Tenho um projeto bem estruturado, com uma grade de programação definida, irá envolver 25 profissionais, com patrocínio externo, sendo que uma parcela será doada ao Lar como fonte de recursos. Esses número estão tabulados e dimensionados para que o projeto torne-se realidade. Os patrocinadores a um custo bastante acessivel irão ganhar visibilidade no Lar, cidades vizinhas e até mesmo a nível Brasil. Esse canal terá inicialmente uma programação de quatro a cinco horas, sendo que iremos trabalhar com looping (repetição automática) até que  a medida em que houver uma evoluçaõ a produção passe a ser maior. O Lar dos Velhinhos de Piracicaba é uma cidade cenográfica, tenho conteúdo aqui que repercute no Brasil todo. Tudo que eu falar daqui dará para ser consumido pelo país todo. Tenho conhecimento técnico, gosto de fazer isso e sou apaixonado por isso. O projeto chama-se: “ Envelhecer. Quem vive envelhece”.

Você utiliza uma linguagem do jovem para tratar de assuntos pertinentes a idosos?

Além dos idosos terem entendimento por estarem vivenciando o momento, a liguagem voltada ao jovem é moderna. Não trato o idoso como um coitadinho ou uma coisa. O idoso é um ser humano, experiente, com uma bagagem incrível, precisa ser respeitado e valorizado. As familias não visitam os idosos. As pessoas esquecem que irão morrer com isso se matam antes, elas só pensam no próprio umbigo. Em ganhar, ganhar e ganhar! Ligam suas vidas no automático e esquecem que a cada amanhecer há uma nova oportunidade de sermos melhor. Uma nova oportunidade para abraçar o outro, ajudar o outro. Ningém quer saber de ajudar ninguém. O materialismo gera no ser humano a ambição, a vaidade, o egoismo. O carro mais novo, o poder. Tem pessoas que tem muito dinheiro, só que ela esquece que para isso acontecer muitos tiveram um salário insignificante, trabalharam para ela tornar-se detentora de muitos recursos. Temos de uma vez por todas tomar consciência de que vamos morrer. Sou católico praticante. Vamos encontrar com Deus? Quem sabe? Ou com o Diabo? Quem sabe? Mas estamos vivos! Deus está no coração, é energia. É representado pelas nossas atitudes. Respeitar o outro como ele é. Usamos muito o nome de Deus para praticar racismo, desigualdade, preconceito. Guerras em prol da paz! Sou uma pessoa apaixonada pelo que faz, produzir conteúdo para conscientizar o outro.

O que você encontrou no Lar dos Velhinhos que marcou bastante?

É esse abandono das famílias, as famílias desses idosos passam a ser os funcionários, que vem aqui todos os dias trabalhar, a relação dos cuidadores com os idosos é muito bonita, eles são dedicados. Outra coisa que me marcou muito é esse idoso que hoje vive no asilo muitas vezes ele está debilitado e eu fico questionando que tipo de vida ele teve. Isso é muito interessante para o jovem refletir. Vou envelhecer? Que tipo de velho vou ser? Os abusos da juventude tem um preço a pagar. Ainda sou jovem e quero envelhecer bem. Preciso me exercitar, respeitar o meu corpo hoje para que ele possa amanhã estar bem. Pretendo ser uma pessoa muito bem sucedida para poder ajudar outras pessoas. Trabalho nesse sentido.

Você canta?

Encanto mais do que canto! Gosto de cantar músicas infantis, acho que tenho uma facilidade para vozes.

Maquiagem você mesmo é quem faz?

Eu mesmo faço. Tanto o Joaquim Dim como o Palhaço Sossego.

Quando você começou a circular no Lar dos Velhinhos como Joaquim Dim qul foi a reação dos idosos? Acharam que tinha um novo abrigado?

Mutos confundem. Em determinadas situações eles dizem”-Seu Joaquim, o senhor precisa de ajuda?”. Joaquim Dim é um velho muito palhaço, que acredito que será um idoso como serei. Alegre, feliz, grato. Ele tem um jargão próprio. Alguns vêm conversar comigo achando que sou de fato um idoso.

Alguma idosa olhou Joaquim Dim com mais simpatia?

Já ouvi sim, algumas idosas dizendo: “Olha que véiao!”  “Bonitão esse velho!”

A população de idosos tende a crescer.

Tende sim, hoje estamos com aproximadamente vinte milhões de idosos no Brasil, até 2050 seremos 50 milhões de idosos no Brasil, os políticos precisam começar a falar sobre isso, precisa começar a ter política voltada aos idosos. A política existente é muito tímida. Há muitas empresas querendo dar recursos aos idosos, por saber que ele tem uma renda fixa. Temos que ser mais honestos, não existe político corrupto em uma nação que não é corrupta. É o tal do “jeitinho” ! Temos que acordar para a vida e assumir as consequências daquilo que fazemos. É a fila que passa na frente, a pressa ! Chega! Basta! Se você não permitir a corrupção ela não irá existir. Estão sambando na cara da sociedade hoje porque nós devemos, e nem sabemos. Não temos essa consciência. O brasileiro não tem a consciência de que ele é corrupto. Ele acha que está certo. Ele é esperto! É a escola do bairro que coloca a filha do funcionario na frente, ocupando a vaga que seria de outra criança, é o hospital: “Eu conheço o cara então eu consigo!”. Nomeação do parente, do amigo, para um cargo público. Não sou contra a nomeação de um parente ou de um amigo, desde que seja competente! Infelizmente percebemos que vivemos em uma nação completamente amarrada com a corrrupção.

Isso é também decorrencia da formação histórica do nosso país?

Desde quando os portugueses chegaram aqui e os indios se venderam. Continuam, se vendendo até hoje. Hoje temos uma placa no país escrito: “Vende-se”. O Brasil está sendo vendido! O que vejo são doenças e mortes antecipadas. Viajo pelo Brasil a trabalho. Há uma grande falta de saneamento básico, ninguém fala sobre isso. Há falta de educação, isso vira discurso, só palanque. Tem dinheiro, tem como resolver  so que precisamos de políticos com brios que digam: “ Eu estou ganhando muito, não preciso disso tudo! “ Quem tem coragem? Está tudo corrompido. O miserável está trabalhando para pagar as contas dele, andar certinho.

O jovem vem com esse espírito novo?

A principio sim, mas acaba se entregando também. O pensamento corrente é : “È assim mesmo! Nada vai mudar!”. Fica em uma zona de conforto. Sou ator, apresentador de conteúdo, palhaço, apaixonado pelo que eu faço, gosto de tratar das causas que me deixam sensibilizado: a criança do amanhã, o idoso de hoje, quero buscar patrocínio, empresas que sejam solidárias, as pessoas podem ligar para mim pelo Whats App 011 98195 8821. 

 

CÉSAR GUIMARÃES – CIRCO FIESTA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 26  de agosto de 2017.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/                     


http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: CÉSAR GUIMARÃES – CIRCO FIESTA

 

César Guimarães pertence à quinta geração de uma família de artistas de circo. Nasceu a 5 de julho de 1962 em São Paulo, no bairro Tatuapé, nessa época o circo do seu avô materno apresentava-se nos bairros paulistanos. É filho de Orestes Guimarães e Haimee Del Duque Guimarães que tiveram quatro filhos: César, Celso, Célia e Cintia.  Conforme uma das características de circo na época os filhos nasciam dentro de uma barraca, com a parteira acompanhando. César teve o que ele chama de privilégio, de nascer na Maternidade do Tatuapé, que já nem existe mais.  É presidente da Cooperativa Brasileira de Circos com sede em São Paulo.

Sua família trabalha no Circo Fiesta também?

Trabalha, a minha esposa Jaqueline Pepino Guimarães, assim como nossos filhos. Artur, que é o Palhaço Bombinha, ele acabou adotando o nome do bisavô por ouvir várias histórias, e a Bruna.

O seu pai já trabalhava em circo?

Meu pai não. Ele morava em Lins e conheceu a minha mãe apresentando-se no circo. Ela trazia a tradição familiar do circo. Como a maioria de casais circenses as paixões acabam ficando restrita ao pessoal do circo, principalmente na década de 60 era bem difícil uma pessoa de circo casar-se com alguém da “cidade”.  Acredito que entra como um dos fatores o tempo, antigamente as pessoas levavam um bom tempo conhecendo-se, um tempo para se apaixonar, e o circo não permitia isso. O circo está sempre andando. Até por questões econômicas, alguém que se apaixonou por alguém do circo, principalmente no caso do meu pai, que se apaixonou pela menina do circo, tinha esse cuidado sempre, para ele ir até a cidade onde o circo estava não custava pouco. Minha mãe tinha uns 18 anos na ocasião. Ele se apaixonou pela artista do circo e ia seguindo-a. Isso faz parte dessa coisa maravilhosa de circo, lúdica. Atualmente nem tanto, tudo está mais ágil. As pessoas casam de um dia para outro. Ou nem casam. E às vezes casam, mas não se apaixonam!

Seus avôs maternos eram também de circo?

Meu avô materno chamava-se Liberto Del Duque foi o famoso palhaço Bombinha. Ele era oriundo do teatro de variedades do Rio de Janeiro. Era uma família de artistas de teatro e comerciantes, eles tinham padaria no Rio de Janeiro. Com ele aconteceu a mesma coisa, foi atrás da bailarina, da princesa, a acrobata do circo: Amaíde Alves. Ela tinha 11 irmãos que eram uns “trogloditas” fisicamente. Imagine uma família de acrobatas que cuidava de três irmãs! Ele foi valente, desbravador, decidiu deixar o Rio de Janeiro e ir atrás da paixão da vida dele, a minha avó foi quem fez tornar-se circense. A ter um circo, e também o foi o motivo dele se desfazer do circo na década de 70, quando ela faleceu.  A história dele dá um perfeito romance. Ele tinha essa veia artística oriunda do teatro, sempre foi um bom cômico. Ele adquiriu um circo, só que quando entregaram não era o que ele tinha comprado. Ele foi até um subdistrito de São Paulo,

em Guaianazes, onde fez um circo novo, o Circo Teatro Guaianazes. O circo do Palhaço Bombinha.

Como foram os seus estudos?

Estudei por um período em São Paulo, decidi fazer a Escola Pan Americana de Artes, para quem quer trabalhar com artes o desenho é o básico para tudo, até para a arte da representação. Fui atrás disso na época em que o meu avô vendeu o circo e os meus pais ficaram parados em São Paulo. Eles foram trabalhar como funcionários de empresas. Só que eu e meus irmãos não agüentamos muito essa coisa de ficar parados. Cada um foi para um lado em busca da vida de circo. Mais tarde meu irmão e eu resolvemos fazer um circo, que é este circo em que estamos. Já passou por várias transformações.

Pode-se dizer que a magia do circo o fisgou?

Não é que ela me fisgou, eu sou parte disso aqui! Sou da quinta geração da qual meu tataravô era um índio. Havia uma trupe de circo que passou por um ponto do Rio de Janeiro, onde tinha um indiozinho que achavam que tinha qualidades para o que eles queriam e levaram-no. Meus filhos são a sexta geração dessa família dentro do picadeiro.

As instalações do Circo Fiesta são muito boas. Contrasta com o circo improvisado.

O circo de maneira geral evoluiu muito, embora ainda existam algumas autoridades que não pensam dessa forma. Até hoje o acidente de Niterói ainda cobra o seu preço. (No dia 17 de dezembro de 1961, ocorreu, em Niterói, o incêndio que deixou centenas de mortos. Apesar dos mais de três mil espectadores, o Gran Circo Norte-Americano não tinha saídas de emergência. Para piorar, a cobertura do circo havia recebido uma camada de parafina, impermeabilizante que contribuiu para aumentar o fogo). Foi um episódio muito triste, mas em decorrência dele o circo brasileiro evoluiu muito. Atualmente temos lona que não propaga as chamas, saídas de emergia dimensionadas e posicionadas para a capacidade do público presente rapidamente deixar o recinto. O Poder Público não chega até o circo para absorver esse tipo de conhecimento que conseguimos por sermos itinerantes. Estamos sempre trocando idéias, sempre conversando com cabeças, pessoas, etnias diferentes. O circo acaba agregando uma gama de conhecimentos incrível. Ninguém se preocupa ou quer saber disso. Tem tudo isso de bom para quem sabe e quer aproveitar e tem também esse fato da itinerância.

Há quanto tempo existe a Cooperativa Brasileira de Circos?

A Cooperativa existe há 10 anos, eu participo há uns 8 anos, e faz oito meses que sou presidente. Temos 21 circos cooperados, 649 cooperados entre artistas, produtores, construtores.

Atualmente há quantos circos no Brasil?

Entre grandes e pequenos há por volta de 900 circos.

É uma forma acessível de entretenimento à todas as classes?

Além de acessível atingimos o público popular onde o circo oferece mais entendimento. É um entretenimento barato e chega a lugares onde ninguém chega.

Quantas pessoas trabalham no Circo Fiesta?

Nessa temporada em Rio das Pedras nós estamos no picadeiro, como artistas, são 18 pessoas, na parte técnica são mais 5 e montadores mais 6, totalizando 29 pessoas.

É rentável?

A coisa do circo vai além de ser rentável ou não. Aqui temos que fazer ser, sentimos a necessidade de prosseguir com isso. O circo para nós é mais do que uma profissão, é um estilo de vida. Nós moramos aqui. Convivemos. Se eu saio de dentro da minha cerca, lá fora eu não sou nada! Não sou ninguém! Aqui o meu filho Artur é o palhaço, chama a atenção das pessoas, principalmente por ser jovem. Mas quando ele sai da cerca para fora ele não é nada! Aqui é o mundo que dominamos. Lá fora para nós é perigoso. Daquela cerca para fora tenho medo, e não é pouco não, é muito. O mundo está meio esquisito e aqui com essa coisa da tradição, uma família cuida da outra! Somos muito próximos! Às 24 horas do dia convivemos, trabalhamos, participamos dos problemas, dos sucessos.

Qual é a faixa etária que predomina nos integrantes do circo?

No picadeiro há uma faixa etária de 14 anos, que é o malabarista, o Ítalo, até o Chispita que tem em torno de 60 anos.

O circo pode receber até quantos espectadores?

Até 928 pessoas. Dificilmente lota.

O preço do ingresso é padrão ou é variável?

Procuramos adaptar o preço do ingresso ao perfil econômico da cidade. Assim como o espetáculo também de uma cidade para outra é variável.

Há lugares privilegiados, camarotes, que custam mais caro?

No meu circo eu não gosto muito disso! Acho que o circo é o lugar onde tudo converge para uma coisa só.

A sua participação inclui em atuação no espetáculo?

Quando estou com muita saudade entro no picadeiro e me apresento como o palhaço Beijinho. Às vezes atuo como palhaço junto com o meu filho, como ele é bem mais jovem e eu não pude jogar futebol com ele, o que vou dividir com ele é uma brincadeira no picadeiro.

Vocês levam diversão para todo mundo, qual é a forma de lazer que praticam quando estão de folga?

Temos uma vida como todo mundo. Pode ser um cinema em uma segunda feira. Os espetáculos são apresentados de quinta a domingo. Segunda, terça e quarta-feira são reservadas para espetáculos filantrópicos, ou alguma coisa vendida.

A oferta de ingressos gratuitos à escolares é uma ação social?

É uma ação social e de formação de público. Os quase dois mil estudantes que vieram aqui em Rio da Pedras, em sua maioria nunca tinha entrado em um circo. Fazemos uma pesquisa, o jovem hoje está mais voltado a um smartphone, em internet. Pelo que percebemos não vão sentir falta de alguma coisa que nunca viram, mas ao ver um espetáculo ao vivo, reconhecem que o conteúdo de uma telinha de celular ou do computador, existe de verdade. Participam. Acaba virando uma loucura. É emoção a flor da pele. Vir ao circo é diferente de ir ao cinema, teatro. Quando você entra em um circo entra em um universo que tem de tudo. Pessoas diferentes.

Esses espetáculos são criados por quem?

Eu crio, às vezes em parceria com colegas de profissão, do circo, do teatro, com o tempo vai-se adquirindo alguns parceiros ótimos. Há uma interação muito grande. O circo é uma fonte onde todas as linguagens da arte cênica acabaram bebendo. A televisão brasileira não seria como é se não houvesse o circo antes dela. Assim como o teatro. Inicialmente buscaram inspiração no circo, depois criaram coisas. O circo leva ao interior do Brasil aquilo que está nas grandes capitais. Na década de 60 o circo levava o teatro. Na de 70 as duplas caipiras. Na de 80 e meados de 90, os animais, o zoológico. Atualmente temos as brincadeiras inocentes e divertidas. trapezistas, malabaristas, contorcionistas,mágicos. Em 2008 ou 2009 demos um espetáculo chamado Psicodélico, contava a história da década de 70 no Brasil, montamos em uma área nobre de São Paulo, junto ao Memorial da América Latina, por ter essa característica nostálgica, vários artistas da TV Record assistia ao nosso espetáculo, o estúdio é ali ao lado.  

A Escola Picadeiro, anteriormente na Marginal do Pinheiros em São Paulo e hoje em Osasco, formou muitos artistas circenses. Inclusive artistas que foram para a televisão, para o teatro.

O ator Marcos Frota tem uma relação muito forte com o circo?

Ele é um apaixonado pelo circo. Quando começou a dar os primeiros passos no trapézio foi com a nossa trupe, da nossa família. Nessa época estávamos no Rio de Janeiro. É  característica do circo ter que andar. Com o meu circo o local mais distante para o qual fomos foi Vacaria, Rio Grande do Sul. Como artista estive em Valdívia, no Chile, eu era trapezista do Circo Orlando Orfei. Nessa época o Marcos Frota nos conheceu e começou a ensaiar conosco. O trapézio é um desafio, é uma das propostas do circo, o entendimento, a confiança entre os artistas. Você não irá passar pela mão de uma pessoa em quem não confia! Isso nós aprendemos ainda pequenos, temos que confiar em alguém para dar nossos vôos, confiar em alguém para chegar a algum lugar seguro. Infelizmente, por questões econômicas, o circo deixa de formar trupes, esses números com bastantes artistas participando acaba sendo financeiramente inviáveis.

Quantos anos o senhor trabalhou como trapezista?

Uns nove anos. Meu irmão e meus primos eram excelentes trapezistas. Eu me dei bem mesmo na comicidade, como palhaço.

Com essa vida corrida dá tempo para ler?

Cultivo o habito de ler, embora nessa vida circense a troca de experiências é muito abrangente.

A curta permanência em cada cidade leva a um distanciamento da população em seu cotidiano?

Existe certo distanciamento quase que natural de ambas as partes. O circense fica inibido em se apresentar a uma pessoa e dizer que é de circo. Existe preconceito e muito! O filme “O Palhaço” de Selton Mello retrata examente isso. Postos de saúde não atendem o itinerante, do circo, do parque.   Consideram que a prioridade é para quem é da cidade. Não entendem que aquilo é um recurso para brasileiro! Não é para um cidadão específico de cada lugar. Isso provém de um imposto que eu também pago! Não considero essa atitude como falta de cultura mas sim falta de instrução. Não é a pessoa que está balcão recebendo quem quer que seja, essa pessoa não tem culpa se não foi instruido para aquilo.

Qual é o período de permanência em cada cidade?

Depende de cada cidade. Cidades menores ficamos as vezes dois finais de semana, o Circo Circo Stankowich têm uma das suas unidades que está na Radial Leste, em São Paulo, já ha dois anos.

A cidade de São Paulo é a melhor opção financeira para o circo?

Eu acho que não! Gosto mais do interior! As pessoas são mais receptivas, a relação com o poder público é menos burocrática.

O afluxo de público ao espetáculo do circo diminui quando?

As condições meteorológicas: frio, chuva, influenciam muito. Têm certas informações muito valorizadas péla mídia que atemorizam a pessoa: não saia de casa que a inundação pode atingir-lhe, cair em um buraco e morrer afogado. Enchem a pessoa de terror, que é o papel de quem está vendendo esse tipo de coisa. As pessoas acabam ficando assustadas: não vamos sair quando chove, nem quando venta, nem quando faz frio.

O artista de circo é formalmente documentado?

A maioria não. Essa informalidade faz parte do nosso cotidiano. Aqui eu não trabalho, eu vivo! Os valores estão mudando, no mundo inteiro. A maioria das pessoas não trabalha para serem milionárias ou ricas, trabalham para viver bem.

Não passa por sua cabeça fixar-se em um local, ter vizinhos?

Isso para mim é estranho. O fato de permanecer o tempo todo em um lugar só é estranho. Da mesma forma que é estranha, a uma pessoa radicada em algum lugar, ficar viajando sempre.

Essa enormidade de lonas, estruturas, cadeiras, infra-estrutura de energia elétrica, água, quanto tempo demora a ser montada?

O ideal é começar a desmontar em um domingo à noite, após o ultimo espetáculo e estrear em uma sexta-feira em uma cidade distante até 150 quilômetros. A lona de cobertura tem 36 metros de diâmetro, 13 metros de altura, pesa 6 toneladas, sendo que ela pode ser dividida em 4 partes, para erguer e abaixar existe todo um sistema de motores, o circo evoluiu muito nessa parte.   Para desmontar abrimos as costuras das lonas, enrolamos a lona colocando em cima de um caminhão que estacionamos no meio. A lona é fabricada em São Paulo pela empresa Arturito, o proprietário é um mestre em fabricação de lonas, filho de argentinos, começou de forma artesanal e hoje é considerado um dos maiores do mundo nesse ramo.  Esse tempo de montagem e desmontagem varia muito. Depende do tempo que você tem. Cheguei a montar circo em dois dias, um dia e meio. Assim como cheguei a demorar dez, quinze dias. Quando temos muito tempo para montar o circo o ritmo muda, a necessidade é outra, encerra o trabalho mais cedo, vai fazer um churrasco, compartilhar com os colegas. Para montar em dois dias temos que atravessar a noite trabalhando. Temos nosso transporte próprio, quando algum veículo quebra algum colega de outro circo manda um veículo para substituir. Essa união tem que existir, a concorrência é bem saudável. Só quem é de circo sabe o que o circo passa.




E as cadeiras?

A história dessas cadeiras é muito interessante. São as antigas cadeiras do Parque Antártica! De aço. Devem ter ficado no estádio do Palmeiras por uns 50 anos ou mais.

Os filhos dos circenses freqüentam escolas?

Freqüentam a escola, ensaios. Há uma lei criada por Jânio Quadros e melhorada no Governo Sarney, meu filho está estudando em uma escola na cidade em que estamos.

Há cidades que dá vontade de voltar?

Queremos voltar em quase todos os lugares, com exceção daqueles em que não queremos voltar, são poucos e momentâneos, não é de acordo com que o povo proporciona, mas sim de acordo com a administração. Teve cidade em que o Secretário da Cultura afirmou que não permitia circo na cidade dele! Isso pode até provocar uma comoção política dentro da cidade. Se um vereador adversário desse secretário escuta uma afirmação dessas pode até convidá-lo a ir à tribuna da câmara municipal. Em uma situação dessas irei com o maior prazer! Fiz isso várias vezes, é interessante desmascarar esse tipo de pessoa. O fato de ter alcançado um posto político não significa nada, não significa que seja melhor do que ninguém, ele se acha o dono da cidade. Também acontece ao contrário, às vezes aparecem algumas pessoas como o André Sturm  que é o atual Secretário da Cultura do Município de São Paulo, ele é simpazante do circo,  criou o Festival Paulista de Circo, foi criação do André Sturm quando ele trabalhava ainda na Secretaria  da Cultura do Estado de São Paulo, era o responsável pelo fomento da Secretaria, esse festival existe hà 10 anos. Foram quatro anos em Limeira e estamos fazendo o sexto ano que é realizado em Piracicaba.

Quantos circos participam?

De espetáculo serão 12 circos  tradicionais itinerantes, mais de 40 grupos conteporâneos, é uma mescla de circos que vale a pena ir. São três lonas de circo e um galpão de lona. Fora as intervenvões em vias públicas, números aéreos externos. Isso fez o circo paulista dar uma efervescida.Capacita o circo paulista, é ótimo para o circo.

Circo paga imposto?

Pagamos o ISS Imposto Sobre Serviços! Com exceção de São Paulo, a maior cidade do país, que não cobra imposto do circo. O valor é pago com dificuldade e para o municio que recebe é extremamente insignificante perto da sua receita. Acredito que significa mais o tipo de parceria que a Prefeitura de Rio das Pedras fez: o prefeito Carlos Defavari através do seu Secretário da Cultura Mario Antonio Cavicchioli (Marito), permitiram-nos trabalhar em troca de alguns espetáculos para escolas, pessoas carentes. O valor financeiro a ser recolhido é menor do que o valor cultural.

Sua esposa trabalha no circo?

Trabalha na parte administrativa. Tem o olhar dela, crítico, artístico, direção de espetáculo.

Há uma percepção de qual cidade é melhor, a afluência de público é maior?

Já tivemos, hoje com essa crise louca não temos mais percepção alguma.

A crise afetou também o circo?

Quando está chegando uma crise os primeiros a sentir somos nós do circo. Quando a crise está indo embora os primeiros a sentir somos nós. Trabalhamos muito próximos do povo, que é quem faz girar a economia.

Os economistas já descobriram que o circo pode ser um termometro muito afinado com a economia?

É o que eu dise anteriormente, o circo carrega muito conhecimento. Quando o circo começa a ir mal já pensamos: Está vindo uma crise ai, daqui a pouco vai refletir no governo central. Se o circo estiver cheio é porque o povo está em condições financeiras de vir. Quando a economia estava crescendo foi bom para a cultura de uma forma geral. Não só para o circo.

O circo já promoveu apresentação de novos talentos?

Com o Marcos Frota , em Belo Horizonte, ele estava começando uma temporada e precisava incrementar um projeto dele chamado Unicirco Universidade Livre do Circo, tinhamos um programa chamado Picadeiro Aberto, toda segunda e terça-feira abríamos o picadeiro do circo, com entrada grátis, para artistas que quizessem se apresentarem, mostrar o seu talento. O bananinha, do SBT foi um dos que se apresentaram ali. O Marcos Frota vinha para treinar o trapézio conosco no Circo Orlardo Orfei, depois eu trabalhei no circo dele o Marcos Frota Circo Show por três anos.  Nós do circo temos um ditado: “Quem toma banho de água que escorre pela lona do circo nunca mais sai dele”. Essa frase já foi mais extensa, : ...O  perigo é pisar depois na serragem”. Hoje já não se coloca mais serragem no picadeiro. O circo é um lugar simples, é um trabalho da nossa família feito para outras famílias.


É um humor ingenuo?

O circo ainda têm esse cuidado. Pode até parecer um trabalho fora de moda, mas é como desejamos fazer. As vezes é mais fácil provocar o riso com uma palavra chula. O nosso cotidiano é saber do simples tirar o que é bom.

Vocês trabalham com mídia eletronica?

Temos uma página no Facebook: Circo Fiesta, é um canal de cumunicação com o público, e é muito utilizado. È uma possibilidade do circo mostrar para essa nova geração essa coisa maluca que eles acabaram de ver quando vieram assistir a um espetáculo. Talves eles saiam com a mesma sensação que gerações anteriores sairam quando eram mais jovens e iam a um circo. O circo perdeu algumas gerações: a passada, a presente e a futura. Quem não vem ao circo, lá na frente não irá trazer alguém para assistir a uma apresentação. Porisso que temos que ter esse trabalho de formação de público. O circo hoje depende quase total mente da bilheteria. Coisa que outras áreas da cênica já não fazem mais. Todas elas se não tiverem patrocínio simplesmente não fazem. Náo temos a pretensão de educar ninguém para que venha para a cultura, ou chamar a atenção.Para que o governno olhe pela cultura. O Brasil tem necessidaes básicas mais urgentes: a saúde,a educação, a segurança. Temos perfeita consciência disso.

Como vocês trabalham com a segurança?

. O indivíduo respeita a entidade circo. Sendo ele gente boa ou não, em algum momento da sua vida o circo fez parte do seu lúdico

Já fizaeram espetáculos em presídios?

Fizemos! As reações deles são muito boas, há a necessidade deles em ver arte, pessoas, interagir com alguém, sentirem livres, poder ver o espetáculo, aplaudir. O circo vai até eles, é montado como espetáculo. Realizamos apresentações nos presídios do interior de São Paulo, Minas Gerais.

Há diferença de comportamento entre o público de cada região?

Muito! O nordeste prefere mais espetáculo carregados de palhaço, mais picardia, no sul já preferem uma apresentação mais clássica. O interessante é quando conseguimos levar o espetáculo de um para o outro lugar, também é bem aceito. O Circo Bartolo levou para uma temporada um palhaço nordestino. na Praça Onze, Rio de Janeiro, que é um  terreno sagrado para circo. Durante meses ele foi atração cultural da cidade. Se não me engano ele foi por três vezes capa da Veja, edição local, do Rio de Janeiro.No Sul com o público acostumado com o teatro você consegue trazer para dentro do circo e ele se espantar com alguma coisa. Fizemos um projeto que se iniciou em Curitiba, chama-se Picadeiro Solidário, em parceria com o SBT e alguns patrocinadores, a entrada para o circo era um quilo de alimento não perecível. Foi um sucesso. Arrecadamos toneladas de alimentos. O povo quando vê que é uma coisa séria , ele ajuda. Se você pode dar um pouco do que é seu para alguém, sempre é bom. O ser humano acha que não têm tempo e isso ele têm, só que está atras de outros valores. Tenho a convicção de que isto está mudando. O circo permite conhecermos mais as pessoas. Você não consegue conhecer o mundo ou as necessidades dele, o que você pode oferecer ou receber dele se não circular. Você não conhece pessoas e o mundo é feito de pessoas. No simples há muitas cooisas boas. Os adminastradores nossos, de qualquer área, estão distantes do simples, do povo, da vida na verdade. São burocratas, estão atrás de uma mesa na frente de um computador e acham que o mundo é aquilo ali. O contato interpessoal é muito importante.

O senhor fêz curso de teatro?

Fiz...na vida!

Quando e aonde será apresentado o próximoFestival Paulista de Circo?

Será realizado de 1 a 7 de  setembro no Parque Engenho Central de Piracicaba - Av. Maurice Allain, 454 Piracicaba  Nos finais de semana estará funcionando das 13:00 às 22:30 horas, sem intervalo. A entrada é gratuita.

 

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