terça-feira, maio 05, 2009

LUIZ ANDRÉ FILHO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista joaonassif@gmail.com
Sábado, 30 abril de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/ http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADO: LUIZ ANDRÉ FILHO


Desde quando José de Anchieta, por volta de 1550, dedicou-se a transmitir novos conhecimentos aos naturais da terra, ensinar é mais uma vocação do que um fim. Nos dias atuais, são imensos os desafios encontrados a quem se dedica a esse ofício. Se Anchieta recorreu a música para poder transmitir melhor seus ensinamentos, hoje a tecnologia está a serviço do aprendizado. Os instrumentos tradicionais e seculares como o giz, a “pedra” como por longos anos foi assim chamada a tradicional lousa, aos poucos vão cedendo seu grau de participação para telas de computadores, transmissões de aulas por satélite. E para o espanto de muitos, uma pesquisa recentemente divulgada pelo conceituado jornal O Estado de São Paulo, o aproveitamento dos alunos através de novos métodos de ensino é muito superior aos alunos que ainda praticam as formas de ensino tradicionais. Luiz André Filho um dia teve que fazer uma opção, entre um emprego que oferecia estabilidade, status e um bom salário, como funcionário do governo ou buscar novos desafios. Deixar de assumir um cargo desse nível, obtido após realizar um concurso, parecia uma temeridade. A sua opção pessoal hoje reflete na vida de muitas pessoas, que buscam conhecimento nos estabelecimentos de ensino que estão sob sua supervisão. Natural da cidade de São Paulo, nascido no bairro da Mooca, em 24 de maio de 1946, passou sua infância na Vila Formosa, morava em uma rua de nome bastante peculiar: Rua Dedo de Deus. Luiz André Filho é o novo presidente do Clube de Campo de Piracicaba, empossado no dia 1º de Maio de 2009.
Qual era a principal diversão do senhor na época da sua infância e juventude?
Futebol! Sempre fui ligado em jogar bola. Naquela época havia a denominação de “ponta-direita”, nessa posição é que eu “corria atrás da bola”! Cheguei a brincar um pouco no campo do Juventus, na Rua Javari. Mas nunca fui um exímio jogador de futebol, embora mantenha o habito de praticar o esporte até hoje.
O senhor estudou em colégio particular?
Estudei no Colégio Sagrado Coração de Jesus, junto a Igreja da Vila Formosa. Lá cursei o ensino fundamental. Todos os dias antes de iniciarem-se as aulas os alunos faziam uma oração. Cheguei a ter aula de latim. Em Piracicaba cursei o ensino Técnico de Contabilidade na Escola Cristovão Colombo, a “Escola do Zanin”. Ficava na Praça José Bonifácio, a lado do Cine Politeama. Depois fiz Administração de Empresas na Unimep e posteriormente formei-me como bacharel em Direito pela Unimep. No período em que cursava Administração, participei do escritório contábil Perecin e Godoy. Eu me especializei em Direito Tributário. O escritório tinha cada elemento executando uma área de especialização. Atendia não só as empresas de Piracicaba como também as empresas da região. Foi na época em que prestei concurso para Auditor (Fiscal) Federal e fui aprovado. No auge da minha juventude, tinha uma vontade muito grande de dar continuidade ao desenvolvimento do escritório, fato que já estava ocorrendo.
Mais tarde senhor deixou essa sociedade e montou seu próprio escritório?
Exatamente! Foi quando montei o meu próprio escritório, chamado Fisconsult. Isso no tempo de copiar o diário na gelatina. O diário era todo datilografado em um papel próprio para esse processo, e depois se aplicava uma gelatina já especifica para esse fim, dessa forma era realizada a “impressão” do diário sobre o livro!
Com quantos anos de idade o senhor mudou-se para Piracicaba?
Na época eu tinha 14 anos de idade. A família da minha mãe é daqui de Piracicaba. A família do meu pai tem suas raízes em São Manoel. Conheceram-se aqui em Piracicaba, casaram-se e tiveram cinco filhos: Cecília, André, Bernadete, Lucia, Tarcísio. Nós sempre vínhamos passear em Piracicaba, e um detalhe interessante é que a estrada de São Paulo á Piracicaba não era asfaltada. O leito carroçável era de terra, na época meu pai usava um “guarda-pó” sobre a roupa, para preservá-la da poeira. Ele era proprietário de uma fábrica de móveis estofados, foi em um período em que houve uma grande procura por esse tipo de móvel. Na época a fabrica ficava no bairro Belém. Quando ele mudou-se para Piracicaba, continuou com a mesma atividade. A fábrica chamava-se Móveis Brasília, ficava na Rua Bom Jesus esquina com a Rua Treze de Maio. A inspiração veio da então fundação da capital federal, tanto que o logotipo da empresa tinha os célebres traços do Palácio do Planalto, obra de Oscar Niemeyer. Em Piracicaba fazíamos não só móveis estofados, mas como todo tipo de móveis. O pessoal que ia casar mobiliava a casa toda. Até hoje existe móveis feitos naquela época.
Qual era o tipo de sofá mais procurado na época?
Era o sofá-cama, revestido por curvim.
Aqui em Piracicaba vocês chegaram a ter uma caminhonete que até recebeu um nome próprio?
Era a Dengosa. Uma caminhonete que por muitas vezes dei a partida nela usando a manivela. Era verde-escura.
Vocês criaram um modelo de sofá muito curioso?
Isso foi na fase em que eu tinha 18 a 19 anos de idade. Tinha uma turma de amigos que gostava muito de muito de sair, fazer seresta: o Japão, o Magrão, entre outros. Criamos na época o sofá-cama já com toca discos embutido. Ficava no braço do sofá. Abria-se uma tampa e saia o toca discos, no braço do lado oposto do sofá ficavam os discos de vinil a serem tocados. A caixa de som ficava embaixo do sofá! Isso foi no tempo em que os Beatles faziam sucesso! Vendemos para vários estados do Brasil.
Qual era o nome desse engenhoso produto?
Temos que conhecer um pouco melhor as circunstâncias. Meu apelido era Dumbo, não por causa das orelhas, mas por ser considerado inteligente. Nós então denominamos essa linha de sofás como Dumboflex! Chegamos a gravar um jingle onde o mote era: “Dumboflex! Dumboflex...Dumboflex! Infelizmente não preservei nenhuma cópia dessa propaganda. Já procurei, mas não encontrei.
O senhor toca algum instrumento?
Não. Apesar de gostar muito de música, ficava só aplaudindo. Meu pai tocava violino, por um bom tempo tocou violoncelo, minhas irmãs tocam piano. Fiz algumas tentativas, mas não evoluíram.
Qual é a origem do nome André?
A origem é italiana, o nome original é Andreello. Meus avós paternos eram italianos, ele chamava-se Mansuetto Antonio Andreello, e ela Lucia Bertoncini Andreello. Meu pai é Luiz André e minha mãe é Ana Barbosa André. Estou fazendo uma correção, o sobrenome André é uma corruptela de Andreello.
Seus avós maternos moravam em que local da cidade?
Moravam na Rua Benjamin Constant, próximo onde passava o trem da Sorocabana. Uma das coisas que deixou muitas saudades eram as pescas realizadas no Rio Piracicaba, quando peixes do tipo dourado eram pescados. Os peixes brilhavam quando expostos ao sol.
Para conseguir a qualificação de pessoal especializado na área de escritório contábil que medida foi tomada?
Montamos um centro de treinamento de pessoal. Funcionava no Edifício Kennedy na Praça José Bonifácio. Passamos a ministrar aulas de noções de contabilidade tributária, fiscal e pessoal. Os alunos que se destacavam eram encaminhados para o nosso escritório ou para os escritórios dos nossos clientes. Nesse mesmo edifício havia a Escola de Datilografia Presidente Kennedy, que acabamos adquirindo. Muitas pessoas da cidade de Piracicaba foram alunas da Escola de Datilografia Presidente Kennedy.
O cipoal de leis que existe na época atual já existia naquele tempo?
Lamentavelmente sempre foi assim!
A pressão do Estado e seus agentes sobre o chamado “contribuinte” já havia?
Sempre houve. O leão sempre foi muito faminto. Nós tivemos muito sucesso com o nosso escritório por termos criado a administração tributária. Como economizar tributos legalmente. Hoje a empresa precisa pensar exatamente nisso. Não deve haver sonegação, mas descobrir uma alternativa mais inteligente de trabalhar, pagar os impostos, sem pagar em duplicidade. Essa gestão de uma empresa é fundamental. Tem que agregar valores para que o empresário tenha um resultado mais satisfatório para o seu negócio.
Além do futebol, o senhor tem algum outro hobby?
Minha esposa Regina Martinelli Galvão e eu gostamos muito de dançar. Dançamos um ritmo mais calmo, como bolero. Já tentamos dançar o tango, arriscamos até uma especialização no tema, em visita a Argentina, mas não deu muito resultado! Além de freqüentarmos o Clube de Campo, todos os sábados nós estamos no Clube do Saudosista de Piracicaba. Eu conheci a minha esposa em um baile de formatura no Teatro São José.
O senhor tem o habito de anotar fatos relevantes que vivenciou?
Tenho. Não é propriamente um diário, mas são anotações de situações que ocorreram, e que são determinantes. São registros que podem ser utilizados para o resgate da história da família, da empresa, da cidade. Ainda preservo a minha primeira máquina de escrever.
Como foi a migração para a atual empresa voltada ao ensino de informática?
Foi o próprio momento que determinou. A evolução da datilografia foi a digitação. Na época os equipamentos eram enormes. Ocorreu neste momento a lembrança de uma situação bastante curiosa. O pai de um candidato a aluno de datilografia ligou para a nossa escola. Perguntou ao atendente o que era fundamental para que seu filho aprendesse datilografia. A resposta do nosso atendente foi incisiva: “-Ele tem dedos?”. Nossas professoras de datilografia, a Dona Tita e a Dona Dirce, colocavam uma cobertura de madeira sobre o teclado, de tal forma que as mãos dos alunos ficavam livres para bater nas teclas, mas não era possível ver em que tecla estava colocando-se o dedo. Era um método de datilografar sem olhar para o teclado, que é o método correto.
Houve um crescimento da escola?
Ocorreu um crescimento muito rápido. Fizemos uma parceria com a Data-Pró Informática, voltada para o ensino de informática. Permanecemos por uns 7 a 8 anos. A partir daí, houve um crescimento no número de escolas na região. Isso proporcionou a formação de uma empresa chamada Data Brasil, que permanecemos trabalhando com ela até meados de 1999.
Em que ano aproximadamente o senhor passou a participar do Clube de Campo de Piracicaba?
Após o nascimento das minhas filhas, na década de 80. As crianças passaram a exercer atividades na piscina. Quando completei 35 anos de idade passei a freqüentar o futebol no quadro dos veteranos. Depois disso não parei mais.
Qual é a relação do formato clube, na década de 80 e nos dias atuais?
Em 1992 quando foi fundada a Associação dos Clubes Esportivos de Piracicaba era composta por 17 clubes. Hoje, os clubes que preenchem as obrigações estatutárias, devem ficar em torno de meia dúzia. Houve uma mudança significativa nesse processo. A própria família mudou. Hoje o número de sócios familiares, onde os pais e filhos são filiados, também reduziu. Hoje há o associado individual. Há uma procura muito grande pelos jovens, pelas mulheres, por pessoas preocupadas com a sua qualidade de vida. É uma tendência natural isso acontecer. Hoje manter bailes de carnaval em um clube implica em uma grande dificuldade. O reveillon também é diferente do que já foi há alguns anos. Todas essas implicações são tendências naturais de um novo cenário. A tecnologia colabora para isso.
O senhor já exerceu diversos cargos dentro da administração do Clube de Campo de Piracicaba?
Participando do futebol social, passei a ser Diretor de Futebol, na gestão seguinte passei a ser Diretor Geral de Esportes, Diretor de Sede. Por duas gestões seguidas exerci a função de Vice-Presidente. Atualmente sou Presidente do Conselho Deliberativo e a partir do dia 1º de Maio sou Presidente Executivo do Clube de Campo, um novo desafio. O Clube de Campo é um clube de serviço, buscamos nos associarmos a um clube como a extensão da nossa casa na área de esportes, lazer, cultura. São os três pilares que sustem os clubes de uma forma geral. O objetivo é proporcionar uma melhor qualidade de vida ao associado e sua família. Temos que incentivar a pratica esportiva, proporcionar reuniões sociais e recreativas para haver uma interação entre os associados, e agregar valores na área cultural, não só para os associados como também para a comunidade.


sexta-feira, maio 01, 2009

Existem duas palavras que abrem várias portas: Puxe e Empurre.


Se você está se sentindo sozinho, abandonado, achando que ninguém liga para você... atrase um pagamento.


O pára-quedas é o único meio de transporte que, quando enguiça, você chega mais depressa.


quarta-feira, abril 29, 2009

domingo, abril 26, 2009

O popular "pique-pique", que atualmente todos cantam nos dias festivos.
Foram os estudantes da Faculdade de Direito do Largo de São Franciscode uma turma próxima de 1930 que criaram.
Poucos conhecem a sua singular origem. Escreveu Guilherme de Almeida, que três estudantes, da turma que colaria grau em 1927, eram então amigos inseparáveis nas horas de boemia. Um deles – Ubirajara Martins de Souza – usava um extraordinário bigode de pontas finas e retorcidas para cima e por isso era apelidado de "pique-pique". Outro, era Mário Ribeiro da Silva, "inteligência viva e afinado senso de humor" e que apreciava desconsertar os interlocutores mais austeros, interdizendo no meio das conversas frases desconexas, como esta : "Veja você, heim? Meia hora...". O terceiro era Aru Medeiros; e juntos constituíam o grupo do "Pudim"...
Numa noite em que bebericavam o seu "chope", no bar Pérola do Douro, sendo aniversário de Ubirajara, Mário o brindava, gritando: "Pique-pique, pique-pique, pique-pique". Retrucou, então, Ubirajara: "Meia hora, meia hora, meia hora". Daí, para emendar com "Rá-rá-tchin-bum", foi um relâmpago. Estava criado o hino do "Pudim", o grito de guerra de toda a estudantada.
Recordou Guilherme de Almeida que "no dia seguinte visitava a Faculdade de Direito o Marajá de Kapurtala. Entre outras manifestações, recebeu nas bochechas ilustres, berrado de perto, o primeiro ‘pique-pique’ oficial. Gostou e manifestou alto interesse pela harmonia e sugestiva língua falada no Brasil".

OSMAIR FUNES NOCETE

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista joaonassif@gmail.com
Sábado,25 de abri de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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http://www.teleresponde.com.br/ http://blognassif.blogspot.com/


ENTREVISTADO: OSMAIR FUNES NOCETE


Com um custo estimado em 10 bilhões de dólares, o trem bala que fará o percurso entre Rio de Janeiro e São Paulo, com extensão até Campinas retoma um assunto que gera ferrenhas discussões: o transporte ferroviário no Brasil. Com o estabelecimento das concessões ferroviárias, cujos prazos atingem até 50 anos, desapareceu o trem de passageiros, a malha ferroviária está a serviço do transporte de cargas. O valor a ser aplicado na construção do trem bala se aplicado na construção de ferrovias convencionais, considerando o valor de 1 milhão de dólares por quilometro permitiria a construção de 10.000 quilômetros de ferrovia em todo o país. Percebe-se claramente que recursos não faltam, o que se têm pela frente são decisões de cunho político. Vivemos tempos de internet de alta velocidade, quando já são realizados testes para a transmissão por fios de energia elétrica, onde qualquer tomada de luz poderá passar a ser um ponto de conexão com o mundo, com alta velocidade, muito acima das utilizadas até o momento. Em meio a essa verdadeira panacéia fazemos uma incursão ao passado recente. Uma figura quase extinta das nossas lembranças é o telegrafista. A chegada de um telegrama era um acontecimento. Fechamento de negócios. Notícias familiares. Tudo que era de extrema urgência tinha no telegrama o seu instrumento maior. Até então a telefonia era precária, era muito comum ir e voltar á São Paulo em um tempo menor do que conseguir uma ligação telefônica para o mesmo local. Isso em uma época de estradas e veículos com tecnologia muito inferiores a atual. Osmair Funes Nocete é ferroviário aposentado e filho de ferroviário, iniciou trabalhando como telegrafista chegando a ser Chefe de Estação. É ele quem proporciona uma rápida lembrança da realidade que já pertence ao passado. Nascido em Rio das Pedras, em 31 de dezembro de 1938, filho de Francisco Funes Fernandes e Laura Nocete, descendentes de espanhóis.
O seu pai, Francisco Funes Fernandes trabalhava na ferrovia?
Ele era funcionário da Estrada de Ferro Sorocabana, trabalhava na via permanente, responsável pela conservação da linha do trem. Seu ingresso na empresa deu-se quando ele tinha aproximadamente 25 anos de idade. O ramal da Sorocabana vinha de São Pedro e ia até Itaici. Em Itaici existia a escolinha de telegrafistas. Havia o entroncamento, o trem que vinha de Piracicaba seguia para Jundiaí. O trem que vinha de Mairinque ia para Campinas.
Em Jundiaí, assim como em quase todas as outras estações havia vendedores de produtos alimentícios?
O trem parava, havia os vendedores de biscoito de polvilho, um cone de papel com amendoim salgado dentro, uva, figo. Na região de Jundiaí já havia a produção de figos e uvas.
Seus primeiros estudos foram feitos onde?
Cursei a escola primária em uma localidade denominada Chave do Barão, não restou mais nada das construções da época nessa localidade, era o que chamávamos de Turma de Conserva, havia umas cinco casas construídas no local. Indo pela estrada que liga Rio das Pedras á Mombuca próximo á Fazenda Lageado ficava a Chave do Barão. Ali moravam o feitor, o encarregado e os trabalhadores. Meu pai era o encarregado. Moravam cinco famílias, cada um em uma casa. As casas eram de alvenaria. Era composta por: sala, dois quartos e cozinha. O banheiro ficava na área externa da casa, ainda no sistema de fossa séptica. Havia dois poços de água em frente ás casas. Fazíamos o primário lá. Lembro-me do nome de uma professora: Elza Moura Barbosa. O quarto ano primário era feito em Mombuca, nós íamos de trem, como era filho de ferroviário tinha o passe livre para viajar pelo trem. Uma das minhas professoras nessa escola foi Dona Nair. Ela era da família Siqueira que tinha uma loja de ferragens na Rua Governador Pedro de Toledo esquina com a Rua XV de Novembro, a Casa Siqueira. Quando eu mudei para Piracicaba já tinha 13 anos de idade. Passei a minha infância entre Rio das Pedras e Mombuca.
Você ainda pequeno já ajudava nos afazeres domésticos?
Eu era criança, punha o bigolo nas costas, com dois baldes pequenos, um de cada lado e ia buscar água na bica.
O que era bigolo?
Era um pau, á semelhança de um cabo de enxada, com um prego em cada extremidade, para evitar que o balde caísse, um balde equilibrava o outro, fazia o contrapeso.
A linha de trem exigia uma área lateral a ser preservada ao longo do seu trajeto. Quantos metros eram reservados para a linha de trem?
A faixa da Companhia é de 15 metros de cada lado da linha do trem. Isso era de acordo com o regimento.
Porque ao longo da linha, junto aos trilhos, havia a plantação de erva-cidreira?
Era para retenção de aterro, contenção de erosão. E evitava a invasão do mato sobre a linha de trem. Lembro-me do tempo em que os dormentes eram assentados diretamente sobre a terra. Depois fizeram o que foi denominado de empedramento, foram colocadas pedras na linha. O dormente passou a ficar sobre a pedra, e quando chovia a água infiltrava através das pedras. Chamávamos isso de deixar a linha “laqueada”. Funcionava como um dreno evitando o apodrecimento do dormente.
Qual tipo de madeira que era utilizada para fazer os dormentes?
Ultimamente era o eucalipto. Mas houve uma época em que era utilizada madeira de lei. Naquele tempo havia abundancia. A madeira já vinha prontinha, na forma de dormente, para ser colocada no leito da linha.
A furação para fixação da linha junto ao dormente como era feita?
Furavam na verruma, um trabalho manual. Tinha vários tipos de prego. Um modelo era fixado mediante golpes de marreta. Tinha um que nós chamávamos de tirefon, esse utilizava rosca para ser parafusado no dormente.
Qual era a bitola da Sorocabana?
Era a bitola de 1 metro, bitola métrica. A Companhia Paulista era de 1,60 metros. Não existia um acordo entre as ferrovias. A bitola de 1 metro leva desvantagem, não pode andar a mais de 80 quilômetros por hora. Quando passou a ser Fepasa, em Campinas havia um guindáste que retirava o vagão da bitola estreita e punha em cima da bitola larga. Quando houve a fusão entre a Sorocabana e a Paulista, aqui em Piracicaba para tirar o trem de dentro da cidade na Água Branca foi feita uma ligação com a Companhia Paulista. Na ocasião eu trabalhava na Estação da Paulista.
Você começou a trabalhar como telegrafista com que idade?
Eu comecei a trabalhar de fato em 1958. Fui trabalhar em Pedro Barros, próximo a Juquiá. Eu estava completando 18 anos, já tinha feito o curso de dois anos para exercer a função de telegrafista.
Você conheceu o Rancho Alegre, em Piracicaba?
Funcionava como um buffet. Cheguei a trabalhar lá como ajudante de confeiteiro. Eu tinha uns 14 anos. A proprietária era a Dona Joaninha. Trabalhei como ajudante de padeiro na Padaria Di Giacomo, na esquina da Catedral onde está hoje um supermercado. O forno era a lenha, nós ficávamos enrolando os pãezinhos. Era tudo feito no braço. Padeiro não tinha pelos no braço. Tinha o filão também conhecido por bengala. Havia outros tipos de pão como o filãozinho, pão italiano, pão trançado. Eu ficava a noite inteira trabalhando, e ainda, como ajudante eu fazia o café para todos tomarem a noite. Um café com pãozinho feito na hora é uma delicia. Nessa época eu praticava telegrafo durante o dia e fazia bico na padaria.
Você tinha linha aberta de telégrafo para praticar?
Praticávamos na linha intermediária. Havia uma que se comunicava de Piracicaba até São Pedro. Outra linha intermediária que se comunicava com Rio das Pedras. Havia duas linhas exclusivas com São Paulo, nessas linhas nós não interferíamos.
Havia diversos aparelhos de telégrafos na mesma sala, o som de um não atrapalhava o outro?
Não! Cada um encostava-se ao seu telegrafo e tinha que ficar concentrado nele.
O primeiro local que você passou a trabalhar como telegrafista foi onde?
Foi em Pedro Barros, no dia 5 de agosto de 1958. Éramos dois telegrafistas, eu e o Saccaro de Rio das Pedras. A cidade mais próxima era Miracatu. Para chegar lá era só pela ferrovia, levava um dia para chegar. Para vir a Piracicaba tinha que acumular as folgas, isso porque era um dia para vir e mais um dia para voltar. Na época em São Paulo não havia estação rodoviária. Cada empresa de ônibus tinha uma agencia na cidade. A Estrada de Ferro Sorocabana fornecia em Pedro Barros um quartinho para usar como dormitório, só que a comida nós tínhamos que nos virarmos para prover. Era um quartinho de madeira, fazia um calor tremendo.
Você usava uniforme?
Na Sorocabana não usávamos uniforme. O traje exigia o uso de gravata, e a companhia mandava um quepe em que estava escrito telegrafista.
Havia uma cooperativa para fazer as compras de consumo doméstico?
A cooperativa ficava em Itu ou São Vicente. Só quando era solteiro não comprava. Era um sistema semelhante ao cartão de crédito hoje, só que era feito através de uma caderneta, onde marcávamos os produtos que queríamos e ao final do mês vinha descontado no pagamento. O trem trazia as encomendas, vinha em um saco branco.
Quanto tempo você permaneceu em Pedro Barros?
Fiquei por um ano. Depois disso pedi a minha transferência e o único lugar disponível era Acaraú. Em Pedro Barros já havia certa infra-estrutura. Acaraú não tinha energia elétrica, só tinha água que caia da serra e era depositada em um tanque. Tinha a estação, a casa do mestre de linha, um barracão de madeira meio caindo, e duas casas de madeira dos portadores. Eu comia pão com banana. Comi muito pão com banana. Acaraú era denominado de Quartel General dos Borrachudos. Permaneci ali por 4 anos. Até hoje tenho sonhos com esse local, na verdade quase verdadeiros pesadelos! Uma curiosidade topográfica. A Via Anchieta tem de aclive sete por cento. A Estrada de Ferro Sorocabana, de Evangelista até Gaspar Ricardo tem quatro por cento de aclive. Tanto que a locomotiva subia com 350 toneladas. De Mairinque até Santos existem 32 túneis. Isso foi construído em 1932, projetado para linha dupla até Samaritá e para eletrificação. Quando sai de Acaraú estavam terminando a eletrificação. Quando mudou para a Fepasa tudo virou sucata.
Como era o apelido do aparelho de telegrafo simples?
Era Pica-Pau. Por causa do barulho semelhante ao que a ave faz com seu bico. É um aparelho de origem inglesa. O espanholete ou cabeça de cavalo era assim denominado por ter duas teclas.
O que é staff?
São bastões de ferro, integrados a uma argola de couro, para facilitar a entrega ao maquinista. O bastão é engatado embaixo. Em Acaraú o trem passava a 40 quilômetros por hora, ele pegava o staff de Acaraú e deixava o dele em um arco na entrada. Em Nova Odessa o trem passava em alta velocidade e eles jogavam o staff no chão da estação. O maquinista pegava no braço o staff da estação.
Você permaneceu como telegrafista até quando?
Até quando foram unificadas as ferrovias, passando a serem denominadas de Fepasa. Nessa época o meu cargo passou a ser denominado auxiliar de estação. A função era a mesma. Havia uma devoção do funcionário para com a empresa, e na época sentíamos que uma grande injustiça estava sendo feita com os funcionários, que sentiam orgulho em trabalhar em uma ferrovia. Nosso salário não era reajustado de acordo com os índices econômicos. Nas minhas horas de folga passei a trabalhar como taxista para complementar o meu salário. Tinha um amigo, o José Segredo, trabalhávamos de forma alternada com o táxi. A cada noite um trabalhava com o táxi. Fazíamos ponto ali na Rua XV de Novembro com a Avenida Armando Salles. Chamava-se Ponto Santa Clara, mas era conhecido como Ponto Guerra, ficava de frente para o Supermercado Guerra, onde mais tarde funcionou a Márcia Pisos.
Quantos anos você trabalhou como telegrafista?
Permaneci por 15 anos. Na época tudo era feito por telegramas. Telegramas de aniversários, negócios. Em Pedro Barros tinha diversos bananicultores, quando Santos mandava um telegrama mandando carregar frutas, já sabíamos o teor do telegrama. O texto era: “Confirmo carregamento 800 cachos banana exportação embarque vapor Ana Maru Santos dia (dava até o dia)”. Lembro-me até hoje Eram exportadas muita banana por lá. Eram dois a três trens por dia. Quando falavam o nome de um bananicultor já sabíamos que era para carregar banana.
Como era cobrado o telegrama?
Era cobrado por palavras. Mais do que 25 caracteres cobravam-se como duas palavras.




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