sábado, outubro 06, 2012

OZARIAS PEQUENO DA SILVA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 06 de outubro de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:


ENTREVISTADO: OZARIAS PEQUENO DA SILVA




Carlos Miranda, ator do primeiro seriado produzido especialmente para a televisão em toda a América Latina, com o maior índice de audiência já registrado no Brasil, nasceu em São Paulo, capital, a 29 de julho de 1933.O primeiro episódio da série O Vigilante Rodoviário®, foi ao ar em março de 1961, na Rede Tupi Canal 4 numa (4ª) quarta-feira, às 20:05pm.Após o término da série em 1962, Carlos foi convidado pelo então Comandante Geral da Força Pública General de Exército João Franco Pontes para ingressar na carreira de policial, pois para interpretar o personagem do Vigilante, ele tinha feito a escola de Policiais Rodoviários em Jundiaí. Depois de 25 anos na Polícia, e tendo feito todos os cursos na corporação, em 1998 passou para a reserva como Tenente Coronel PM RES.



Em 1947 o Governo Paulista entregou ao tráfego uma auto-estrada com características arrojadas para a época a Via Anchieta (SP 150). Sendo necessário disciplinar o trânsito, orientar e auxiliar os usuários e policiar de forma mais efetiva as estradas que começavam surgir a partir da Capital, Foi criado o chamado Grupo Especial de Polícia Rodoviária, com um efetivo de 60 homens A Polícia Rodoviária do Estado de São Paulo é uma modalidade de policiamento da Polícia Militar do Estado de São Paulo. O comandante do Pelotâo de Policia Rodoviária de Piracicaba é o tenente Tarcisio Renato Pierobom, O soldado da Polícia Rodoviária do Estado de São Paulo Ozarias Pequeno da Silva está destacado no Segundo Pelotão da Segunda Companhia do Terceiro Batalhão de Policiamento Rodoviário, com três bases funcionando 24 horas composto por cerca de 50 homens. Ozarias nasceu a 23 de novembro de 1969 em Icó, Ceará, filho de Antonio Pequeno da Silva e Judite Isabel da Conceição. Seu pai era lavrador e sua mãe de predas domésticas. Ele tinha uns tios que moravam em Rio das Pedras, para onde veio com uns treze anos de idade. Tinha estudado até a terceira série. Estudou na Escola Cambará, fez o supletivo, trabalhava na lavoura. Aos 17 anos passou a trabalhar na Miori.


Qual era o serviço do senhor na Industria Miori ?


Limpar os banheiros. Um dia o chefe me viu olhando as máquinas trabalhando, perguntou-me se tinha vontade de trabalhar nessas máquinas. Respondi que tinha. Fiz o teste e passei. Eram máquinas que engarrafavam a famosa pinga Riopedrense. Em 1992 vi um anúncio pela televisão do concurso da Polícia Militar, a inscrição era em Campinas, uma cidade que eu nem conhecia. Eu tinha prometido à minha mãe que iria estudar, queria que ela tivesse orgulho do meu esforço e caráter. Fiz a inscrição, um mês depois, com mais alguns conhecidos de Rio das Pedras que também iam fazer as provas escritas fretamos uma condução e fomos. Após algum tempo fiquei sabendo que eu não tinha sido aprovado. Voltei a trabalhar na Miori. Certo dia telefonaram mandando que fosse com urgência até Campinas. Fui o único a ser aprovado da cidade de Rio das Pedras. Em fevereiro de 1993 entrei para a Polícia Militar


O senhor fez prova de capacidade física?


É uma prova rigorosa, Entre outras coisas correr 3.000 metros em 12 minutos, abdominal, flexão, barra. E a prova de tiro de 50 metros, tem que correr no menor tempo possível 50 metros.


O senhor já tinha algum treinamento anterior?


Eu era praticante de artes marciais, já tinha participado de campeonatos de karate quando ia receber a faixa marrom entrei na Polícia Militar, onde a arte marcial adotada era o Tae Kwon Do.


O policial recebe medalhas pelos seus atos de bravura?


Para cada ato de bravura o policial recebe uma medalha com o grau correspondente. Tenho uma do Terceiro Grau, Prendi um traficante que fornecia drogas para estudantes de uma renomada universidade em Campinas.Outras medalhas ganhei em ocorrências, salvando vidas. A terceira medalha que recebi, foi em uma ocorrência em Capivari, a noite, impedi que uma pessoa fora da sua razão colocasse termo a sua vida saltando de uma ponte sobre o Rio Capivari. Por essa pessoa estar muito alterada tive que usar a força física, o que quase custou a minha vida. Tive contusões em duas costelas, com ele não aconteceu nada, ficamos dependurados na ponte até que consegui dominá-lo. Era um jovem de 20 e poucos anos com esposa e filho.


O que é o projeto “Trânsito Legal”


A Polícia Rodoviária criou esse projeto, damos cursos nas escolas e em empresas. Nas escolas o curso é voltado para as crianças de quarto e quinto ano. A primeira aula inclui a apresentação da Polícia Militar em suas modalidades: o policial militar, o corpo de bombeiros e a polícia rodoviária, são todos integrantes da mesma corporação. Por incrível que pareça muitos não tem essa informação. São apresentadas todas as formas de atuação: Rocam, Policiamento Tático, Policiamento nas Escolas. As funções do Corpo de Bombeiro, do Policiamento Ambiental. A Polícia Rodoviária operando o etilometro, popularmente chamado de bafometro. Aparelhamento de Radar. A Polícia Rodoviária tem o policiamento tático nas rodovias. Apoiamos eventos como a Volta Ciclística.


A Polícia Rodoviária de Piracicaba é subordinada a Araraquara?


O comando é lá, o Estado de São Paulo é dividido em cinco batalhões, antigamente eram três. Ensinamos as crianças o significado de cada item da farda. A importância do acompanhamento de cargas especiais. Os riscos oferecidos por cargas perigosas. Existe uma simbologia visual indicando o tipo de produto que está sendo transportado. Exercemos a fiscalização com relação a excesso de peso transportado por um caminhão. Fiscalizamos ônibus, um fenômeno que ocorre às vezes é a criança imaginar que pelo fato de um policial rodoviário adentrar no veículo algo de grave pode estar acontecendo. Procuramos nesses cursos esclarecer que essas fiscalizações são realizadas para a segurança e bem estar do passageiro.


Há uma educação errônea ao incutir na formação da criança que se ele não fizer algo que a mãe ou pai desejam, a polícia virá prendê-la?


Procuramos mostrar o trabalho comunitário que é feito pela polícia, como por exemplo, a Campanha do Agasalho. Outro aspecto é a monitoração das rodovias, a qualquer necessidade ele irá acionar a base mais próxima para prestar o atendimento.


Quanto tempo dura o curso com as crianças?


São quatro períodos, cada período dura 50 minutos, é dado um certificado às crianças. Há uma parceria entre a Polícia Rodoviária e a Secretaria da Educação. Os cursos são ministrados para escolas públicas e particulares. Em universidades e empresas são ministradas palestras. A preocupação de empresas e universidades hoje é concentrada principalmente na alcoolemia. Outro tema muito solicitado é sobre velocidade


O índice de alcoolemia em nossas estradas ainda é significativo?


Infelizmente sim. O condutor que está com sinais notórios de alcoolemia é convidado a fazer o teste em um de nossos aparelhos. Se ele recusar, solicitamos se podemos fazer o exame hematológico. Se ele novamente se recusar, temos um dispositivo em forma de relatório, com a presença de duas testemunhas, conduzimos o cidadão até a delegacia, o médico é acionado pelo delegado e é feita a perícia médica. Há projetos de modificações na lei, tornando obrigatório o exame quando houver suspeita de que o condutor está alcoolizado. Passamos para as crianças os tipos de placas de sinalização e seus significados. Há muita criança que conduz um veículo: a bicicleta. Educando a criança teremos um adulto consciente. Além das crianças somos muito procurados por empresas para dar palestras a seus colaboradores. Neste ano tivemos a Semana do Trânsito do dia 18 até o dia 25 de setembro.


O senhor é a favor de mostrar fotos de acidentes que possam chocar o público adulto?


Não. Sou contra. A pessoa tem que se conscientizar por si mesma. Não deixo de ilustrar as palestras com fatos ocorridos, mas apenas citando-os. A Polícia Rodoviária acompanha até certo tempo o desfecho dos fatos, com isso vemos o quanto a pessoa sofreu e quais foram as conseqüências.


O pedestre deve conhecer placas de sinalização?


Deve sim, com isso ele estará evitando envolver-se em acidentes. As placas de sinalização não são apenas para veículos, o pedestre também deve observá-las como passarelas sobre pistas, faixas de travessia. Montei um semáforo de pedestres para interagir com as crianças. Passamos para as crianças a dimensão de risco da linha de pipa com cerol. Alguns até argumentam: “Eu não serei preso!”. Pergunto-lhes: E o papai? E a mamãe?” Percebo que param para pensar. Eles sentem que podem gerar um problema para o pai ou para a mãe.


É exigido o uso de cinto de segurança em ônibus escolar?


É obrigatório.


Em caçambas de veículos é permitido o transporte de pessoas ou animais?


É proibido.


Veículo com capacidade para duas pessoas pode levar mais alguém?


Se na documentação consta que é para levar apenas duas pessoas não pode conduzir mais ninguém. O veículo é retido, a terceira pessoa tem que arrumar outro transporte. Ai o veículo segue a viagem. Nesses cursos explicamos à criança qual deve ser sua atitude dentro do veículo, não tirar a atenção do condutor, pois isso pode causar acidente. Ao descer do veículo, abrir a porta devagar, olhar se não vem vindo outro veículo, e ai sim abrir a porta com total segurança. Procurar sempre embarcar e desembarcar do lado onde existe a calçada. Conscientizar a criança que em coletivos os bancos destinados à idosos e gestantes é prioridade para os mesmos. A importância de usar capacete. Os riscos de andar de bicicleta em locais destinados apenas a pedestres


Ciclista pode andar na contramão?


Não. Infelizmente não existe instrumento legal para punição de quem comete esse delito. Quando encontramos uma situação dessa, paramos, procuramos orientar, explicar os riscos que ele está correndo.


O senhor tem um farto material didático para simular com as crianças situações reais?


Procuramos simular da melhor forma possível o que acontece de fato no trânsito.


Qual é o trecho coberto pelo destacamento de Piracicaba?


Sob o comando do tenente Tarcisio Renato Pierobom temos a base de Piracicaba, São Pedro e Capivari.


No caso de uma ocorrência, um risco como animais na pista, com qual telefone devo me comunicar?


O sistema que usa o número de telefone 190 é muito abrangente e de grande eficiência. O usuário ao acionar o número 190 estará acionando um sistema interligado com as bases, de onde partirá o comando de ação. Orientamos sempre que as pessoas também tenham os telefones das diversas concessionárias em sua posse. Ao sair de Piracicaba para São Paulo, logo no início e ao longo da estrada tem o telefone da concessionária. Da mesma forma ocorre em outras estradas com outras concessionárias. Ao acionar a concessionária ela irá comunicar a Polícia Rodoviária e irá também dar o suporte necessário. Mesmo que seja um cachorro solto na pista. É feito um boletim de ocorrência, tentamos localizar o proprietário, não sendo localizado fazemos contato com a delegacia de polícia do local, em alguns casos o delegado faz a ocorrência para ver se chega até o proprietário desse animal. Animais de grande porte, como cavalos e vacas oferecem graves riscos.


No caso de condutor dirigindo sem habilitação e que arrisca a própria vida assim como a de terceiros o que está faltando?


Está faltando educação de berço! A pessoa tem que saber que não pode dirigir sem habilitação. O condutor deve ter consciência de que o limite de velocidade existe para protegê-lo e não para gerar multas. O excesso de velocidade aumenta muito o risco de acidentes fatais.


Como o policial militar descobre compartimentos muito bem disfarçados, onde são conduzidos produtos ilegais?


Há técnicas apropriadas de verificação. Um fator agravante é um nervosismo indisfarçável por parte do averiguado. È comum algumas pessoas ficarem nervosas, mas de uma determinada forma. Quando envolve algo grave o nervosismo se manifesta de forma peculiar. Percebemos na hora que algo está errado. As multas efetivadas pela polícia rodoviária são muito bem embasadas, constando todos os dados exigidos pela lei.


O famoso “Você sabe com quem está falando?”, onde o infrator tenta impor sua condição de autoridade para não incorrer em multa ainda existe?


Antigamente isso poderia ocorrer. Hoje as pessoas estão mais conscientes do risco que correm ao assumir uma atitude dessa natureza. O que acontece é a pessoa admitir o seu erro e concordar com as sanções legais. A polícia rodoviária tem feito um amplo trabalho em todos os segmentos de usuários: com motociclistas, caminhões que transportam cana-de-açúcar, ônibus fretados


O acidente envolvendo carretas, conhecido como “L” onde a carreta se desloca formando um ângulo de noventa graus com relação ao “cavalo” ocorre em que condições?


Pelo relato dos motoristas envolvidos nesse tipo de acidente ocorre com maior freqüência com o veículo sem carga, tem origem em algum movimento brusco, frenagem, mudança de faixa. Geralmente é motivado por falha humana.


Há uma proposta de lei determinando um período de descanso mínimo nas jornadas de viagens dos motoristas profissionais. Se implantada essa lei pode reduzir o número de acidentes?


Estou torcendo para que isso de fato ocorra. Muitos acidentes ocorrem porque o condutor está com muito sono. O profissional tem que chegar em determinada hora em seu destino, um tempo muito limitado, há o fator de remuneração por maior número de horas trabalhadas, comissões. Isso muitas vezes leva o motorista a persistir além do seu limite físico. É um problema social.


O senhor acredita que se a categoria dos motoristas se recusasse a dirigir além dos seus limites normais, o problema de dirigir com sono, com todos os riscos envolvidos, terminaria?


Creio que com o motorista descansado e sem sono deve diminuir o número de acidentes. Só que acho difícil isso ocorrer. Muitas vezes a pessoa precisa daquele dinheiro, o seu salário não cobre as suas necessidades. As comissões que ele recebe por viagem complementam o seu pagamento.


Qual é a opinião do senhor sobre o transporte misto, rodo-ferroviário, onde as carretas são colocadas sobre vagões de trem, é feito o trajeto a longa distância, e nesse período os motoristas descansam?


Sou formado em logística, acredito que no futuro boa parte do transporte de longa distância usará esse recurso. A ONU lançou a Década Mundial de Ação pela Segurança no Trânsito de 2011 a 2020. É um problema mundial. Para se ter uma idéia só nas rodovias da região de Piracicaba de janeiro a setembro teve 50 óbitos, ocorridos nas próprias rodovias. Sem contar os que socorridos falecem em hospitais.


Quem dirige melhor, o homem ou a mulher?


Até algum tempo eu poderia afirmar que as mulheres se envolviam muito pouco em acidentes. Hoje temos bastante acidentes envolvendo as motoristas. Já atendemos ocorrência com a condutora embriagada.


O senhor não acha que diante dessa realidade os esforços poderiam ser maiores?


O motorista habilitado, adulto, já tem uma opinião formada. Mudar habitos é muito difícil. Quando iniciamos o trabalho de conscientização com crianças e adolescentes, conseguimos excelentes resultados. Eles tomam ciência das consequências de um acidente, as sequelas que permanecem.


Quais fatores geram maior número de acidentes?


Ultrapassagem em local proibido, alcoolemia, falta de uso de cinto de segurança gera muitas vítimas. Muitos imaginam que pelo fato do seu carro ter air-bag estão tão seguros como quem usa cinto de segurança. Air-bag não substitui cinto de segurança. O artigo 65 do código de transito dispoem que os passageiros, inclusive do banco traseiro, também tem que usar cinto de segurança, não apenas o condutor. A desobediência dos limites de velocidade geram muitos acidentes. Há muitas motocicletas envolvidas em acidentes, com consequencias graves ao condutor. Pedestres que não usam passarelas.


O senhor trabalhou com motocicleta da polícia rodoviária?


Trabalhei no Pelotão de Motociclista, participei de eventos grandes como a vinda do Papa Bento XVI em Aparecida do Norte, pilotando uma motocicleta Yamaha 500. Esse pelotão servia o Estado de São Paulo. Pelo fato de ser habilitado pela Polícia Rodoviária como motociclista, através de ofício era requisitado para servir em eventos que envolvessem um grande número de pessoas, o nosso trabalho era na parte tática, os motociclistas do exército é que acompanhavam o deslocamento do carro que conduzia o Papa Bento XVI.


Em pistas, vemos as vezes soldados avançando a pé sobre a pista para que o condutor de um veículo pare, nesse momento há risco de vida para o policial ?


Faz parte do nosso trabalho, temos que entrar na rodovia e dar o sinal ao motorista de que ele deve parar. A noite usamos um colete refletivo. Nos locais em que estamos fazendo a fiscalização geralmente o giroflex da viatura está funcionando.


Ao ocorrer um acidente quem atrapalha mais?


São os curiosos, que as vezes provocam outro acidente em decorrência de ter sua atenção desviada para o que está acontecendo. Há ainda elementos que param para subtrair os pertences do veículo acidentado, antes da chegada da polícia. A incidência é maior com veículos de carga, mas ocorrem também em outras situações.







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