domingo, junho 14, 2015

EGLE SCURSONI JURADO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 11 de julho de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/ 

ENTREVISTADA: EGLE SCURSONI JURADO 

A admirável força de uma mulher, que venceu os mais difíceis obstáculos que encontrou de ordem material e afetiva. Não se deixou abater, irradia uma força incalculável, acredita no ser humano apesar de toda dor por que passou. O seu aspecto a principio um tanto quanto fechado, logo se desmancha em sorrisos, de quem está de bem com a vida, aceita com resignação e coragem as provas que a vida oferece e a torna cada dia mais forte.
Nascida em Cosmópolis a 21 de outubro de 1941, Egle Scursono Jurado é filha de Delmo Scursoni e Luisa Iolanda Scursoni que tiveram os filhos: Vilma, Ivone, Enédino, Egle, Magda, Dagma e Deize.
Até que idade a senhora morou em Cosmópolis?
Quando aminha família mudou-se para São Paulo eu devia ter uns quatro ou cinco anos. Nós voltávamos sempre para Cosmópolis, o meu avô morava em uma fazenda lá.
          ALICE É UMA ARARA QUE PERTENCE A POPULAÇÃO DE COSMÓPOLIS


                                                      PASSEIO POR COSMÓPOLIS
Em que lugar de São Paulo a sua família foi residir?
Fomos morar no Parque São Jorge, na rua do campo do Corinthians, a Rua São Jorge, 249. Meu pai era mestre de tecelagem, trabalhava na Tecelagem Brasil. Minha mãe para auxiliar no orçamento tinha pensionistas: meu tio, os amigos do meu tio.
                         RUA SÃO JORGE - FORTE INFLUÊNCIA DO CORINTHIANS
A senhora começou a trabalhar quando era criança ainda?
Eu não tinha completado doze anos ainda quando comecei a trabalhar para uma moça que morava em prédio ali mesmo na Rua São Jorge, eu a ajudava a fazer balas de coco.
E escola, a senhora freqüentou?
Freqüentei até a sexta série, aí fui trabalhar como tecelã na Tecelagem Brasil, que também ficava na Rua São Jorge só que em outro prédio, não era naquele em que meu pai trabalhava. Entrei com treze anos e sai com vinte anos, para casar.
Em que local a senhora conheceu seu futuro marido?
Conheci o Juvenal João Jurado em frente a igreja São João, no Brás.

Sai da igreja, ele estava com um amigo, assim nos conhecemos. Casamos nessa mesma igreja no dia 26 de junho de 1962, entre namoro e casamento foram 51 anos de convivência. Casamos e fomos morar na Vila Nive, lá pelo lado da Vila Gustavo. Fomos morar em uma casa que era de propriedade da mãe de um amigo dele. Era um local tranqüilo, São Paulo era muito diferente. Meu marido a 20 de junho de 1961 passou a ser funcionário público. Lembro-me até hoje, quando ficamos noivos meu pai determinou que no máximo dentro de um ano tínhamos que casar. Dia 23 de junho completamos um ano de noivado, no dia 24 de junho nos casamos. Antes ele tinha um lojinha de material elétrico, isso no tempo em que ainda éramos namorados.
A senhora então abriu uma empresa?
Abri uma empresa de reformas e pinturas. Um dos primeiros trabalhos que fizemos foi a impermeabilização da laje em um apartamento de cobertura de um prédio. Era um serviço que poucos conheciam. Trabalhávamos praticamente em prédios situados em Pinheiros, Higienópolis, Pacaembu. A nossa propaganda era feita pelos próprios clientes que ficavam satisfeitos com o nosso trabalho. O volume de serviço foi aumentando, tivemos que aumentar o número de funcionários. Isso foi a partir da década de 60.
Houve muita mudança no material utilizado naquela época e no existente hoje?
Com certeza! Mudou demais!
Vocês chegaram a trabalhar com a cal virgem?
Tinha que “queimar” a cal.,

ou seja, misturar pedras de cal com água, diluir até formar a tinta desejada, branca, se quisesse poderia adicionar o corante da cor preferida. Logo depois surgiram produtos já com outra qualidade e que exigiam menos trabalho para preparar.
Quais dificuldades são encontradas nesse tipo de trabalho?
É saber com exatidão o que o cliente deseja e executar com perfeição. Sempre tinha um ou outro cliente “cri-cri”, isso é normal. Tivemos um cliente, dono de um apartamento, que nos deixou estressados. Ele desejava pintar apenas o lado externo do apartamento. Ele não admitia sequer pensar que entrasse poeira na parte interna. Tivemos que forrar as portas com plástico-bolha, fita crepe,mais plásticos desses pretos, foi uma ação bem minuciosa, para não entrar poeira alguma. Esse cliente ficou tão satisfeito com o resultado que passou a recomendar a nossa empresa. Apartamento é difícil de trabalhar também por causa das restrições de horários.
Vocês trabalharam em lojas de shopping?
Trabalhamos, é outro local com muitas restrições de horários.
Quem dá mais trabalho, o cliente particular ou o cliente comercial?
Vai muito do cliente. Trabalhamos por cerca de trinta anos nessa área.
Vocês realizaram serviços para figuras de destaque nacional, como isso ocorreu?
Não sei afirmar como ele conseguiu, mas um dos nossos grandes cliente foi o arquiteto e decorador Sig Bergamin. Acredito que o Sig viu a nossa empresa pintando um prédio, ele gostou do serviço e passou a nos dar trabalho para realizarmos. Acabamos ficando amigos. O Sig fazia o projeto e dizia: “- Juvenal, eu quero dessa forma”.

Em particular duas figuras de destaque foram clientes da empresa da senhora?
A nossa empresa, New System Reformas e Pinturas teve entre seus inúmeros clientes alguns como Clodovil


 e Juca Chaves. No caso do Juca Chaves trabalhamos em um apartamento dele, em Higienópolis. Inclusive o Juca Chaves deu-me de presente um abajur de aço escovado, acho que ele se lembrará disso. É um abajur muito bonito!
O Clodovil era muito exigente?
Não, até que não. Os funcionários gostavam de trabalhar na casa dele, só tinha que obedecer a certos horários, isso tinha que ser respeitado. Antes das dez horas da manhã não podia fazer barulho na parte interna da casa, então se trabalhava na parte externa até esse horário. Na época foi feito um serviço em uma das suas casas, ficava na Granja Viana. Foi feita uma pequena reforma, pintura, tínhamos um pintor que trabalhou conosco por mais de vinte anos, quando ele acabava de pintar janelas não precisava limpar os vidros. Ficava uma perfeição!
A senhora é uma pessoa que tem atitudes firmes e bem definidas, isso é uma qualidade própria ou surgiu da convivência com seu marido?
Acredito que isso é fruto de uma mistura. Sempre fui rígida, às vezes até mais do que ele. Meu marido era boníssimo.
Vocês tiveram filhos?
Tivemos um filho, Jordam Jurado, que foi assassinado em 1985. Ele tinha 20 anos na época. O que nos magoou muito foi o fato de ter sido um crime praticado por dois funcionários, um deles era um funcionário que trabalhava há anos conosco, disse que precisava voltar para a Bahia. Esse rapaz sumiu. Um dia ele apareceu em nosso escritório que ficava na Avenida Faria Lima, próximo ao Shopping Iguatemi. Meu marido recontratou esse funcionário, ele apresentou um primo, que precisava de serviço. Meu filho ficou no escritório, em um sábado, para fazer o pagamento do pessoal e nós fomos para a nossa chácara.  Esse primo do nosso funcionário é que cometeu o crime.
A força espiritual que a senhora tem, a sua fé, irradia de uma forma muito especial, qual é a seu ver a fonte de energia que a move?
Acredito que faz parte da minha forma de ser. Tivemos uma vida de muita luta. Quando casamos, meu sogro deu um terreno para nós, queríamos construir uma casa, até então morávamos embaixo da casa da minha sogra, era um porão. Nós saímos da Vila Nive e fomos morar na Penha, na Rua Coronel Meirelles. Onde meu marido e eu morávamos logo que casamos, tinha uma cozinha grande, a divisão de ambientes era feita por um guarda roupas, tinha a cama de casal e a de solteiro onde meu filho dormia. Um dia meu marido disse: “-Egle, vamos começar a fazer a nossa casa?”. Respondi-lhe: “Mas de que jeito Juvenal?” Ele disse: “-Vamos conseguir! Vamos fazer!”. Ele trabalhava como funcionário público, trabalhava a noite no Banco Itaú, com aquelas máquinas IBM, enormes. Eu comecei a fazer balas para vender. Comprei as panelas, só que não tínhamos o material para fabricar as balas. Eu fazia as balas, ele vendia no serviço, e a noite ele passava no mercado e trazia a matéria prima para casa, ela chegava dez e meia, onze horas da noite, eu varava a madrugada fazendo as balas. 

Quando ele acordava às cinco horas da manhã para ir trabalhar eu ainda estava empacotando as balas. Até que devagar as coisas foram melhorando e ele comprou um taxi. Um Corcel amarelo. Aos sábados e domingos ele trabalhava como motorista de taxi. Dentro do taxi ele levava a caixa com balas. Antigamente tinha umas almofadas de massagem, ele vendia aquilo também dentro do taxi.
Ele entendia de pintura?
Meu marido começou com pintura pintando rodapé! Não entendia nada! Com toda essa luta, pagamos o carro e fizemos a nossa casa. Vendemos depois do que aconteceu com nosso filho, não quisemos mais ficar nessa casa. Mudamos. Fomos morar em Santa Isabel. Começamos a fazer uma festa para 30 crianças, era realizada todo dia 12 de outubro. A última festa que realizamos foram para 630 crianças de creche. Isso foi no dia 12 de outubro, no dia 15 ele foi internado, no dia 30 ele faleceu. Isso foi em Santa Isabel. Por três anos levamos idosos do Lar dos Velhinhos de Piracicaba para participar dessa festa.
A senhora acredita que diversos fatores foram importantes para o sucesso da empresa, pode citar algum?
O controle é fundamental, não tem como escapar disso. Meu marido quando dava um pincel para o funcionário trabalhar exigia que o mesmo assinasse o recebimento do material, se perdesse tinha o valor do mesmo descontado do seu pagamento. Só assim cria-se a responsabilidade. Que horas você sai? Às quatro horas da tarde? Às quatro horas você me devolve o material que estou lhe dando para trabalhar. Eu devolvo o cartãozinho que comprova que você devolveu.
Como a senhora veio morar em Piracicaba?
Quando meu filho faleceu não dava para permanecer naquela casa, na Penha já não estava bom para viver. Mudamos para o sítio. Acabamos mudando para um condomínio em Santa Isabel mesmo. Só que prevíamos que no futuro deveríamos buscar um local em que pudéssemos viver sem incomodar ninguém. Chegamos a ir até Minas Gerais em busca de um local que nos agradasse. Meu marido ligou para a Prefeitura de Piracicaba, indicaram uma instituição, fomos ver, não era o que nós queríamos, até que entramos no Lar dos Velhinhos de Piracicaba pela primeira vez logo que entramos achei que tínhamos encontrado o lugar que estávamos procurando. Viemos até o Lar dos Velhinhos de Piracicaba por três vezes até decidirmos que era aqui mesmo que iríamos ficar. Nosso objetivo era não dar trabalho para nossa família.
Com quantos anos faleceu o marido da senhora?
Na época ele estava com 63 anos.
A senhora tem uma forma muito positiva de ver as coisas?

Não me arrependo não me revolto por nada, é o que tinha que ser, aconteceu. Aceito os bons e os maus momentos. Aceito as coisas que me acontecem. Temos que olhar o lado positivo da nossa realidade. 

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