domingo, maio 21, 2017

RUY PEREIRA BARBOSA


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 20 de maio de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/









ENTREVISTADO: RUY PEREIRA BARBOSA

Ruy Pereira Barbosa nasceu na cidade de Machado, situada no sul de Minas Gerais a 18 de março de 1940, filho de Flauzino Pereira Barbosa e Francisca Ribeiro Barbosa que tiveram 15 filhos, os três irmãos mais velhos faleceram aos primeiros meses de vida, os demais são: Leopoldina, Sara, Rute, Célia, Paulo, Ivan, que é seu irmão gêmeo, Rui, Hélio, Hécio, Tércio, Ciro. Rubens. O Professor Dr. Rui Pereira Barbosa, já presta serviços à comunidade carente através do Escritório Experimental há 38 anos, sendo o decano do escritório. Com simpatia e amabilidade, atende a todos, sendo que seus ex-alunos, e estagiários, hoje trabalhando nos mais diversos locais do país, sempre encontram um momento para telefonar ao mestre, trocar uma palavra amiga.


                                                HINO DE MACHADO MG

Qual era a atividade principal do pai do senhor?   
Ele era administrador da agricultura e também comerciante. Nessa época era muito comum a pessoa estabelecer negociações de produtos agrícolas no atacado. Negociavam-se safras de produtos, cabeças de gado. Inicialmente ele arrendava a propriedade, mais tarde adquiriu-a. A produção principal era a de café, fumo, milho, feijão. Ainda hoje a região é grande produtora de fumo, batata, a batata alemã, conhecida como batatinha.
Os seus estudos iniciaram-se em que localidade?
Na época morávamos no distrito de Bandeira, pertencia a localidade de Campestre. Meu irmão gêmeo Ivan e eu começamos os estudos no distrito de Bandeira, hoje a localidade é denomina Bandeira do Sul, um município independente. A escola era muito próxima, íamos andando.


                                                        HINO DE CAMPESTRE MG
O senhor lembra-se do nome da sua primeira professora?
Era a Dona Terezinha. No distrito de Bandeira estudamos os três primeiros anos, que era o estudo máximo que havia na localidade. Meu irmão Ivan e eu fomos concluir o chamado quarto ano primário em Poços de Caldas.
O encaminhamento para a continuidade dos estudos foi uma influência maior do seu pai, da sua mãe, ou de ambos?
De ambos! Houve certa predominância por parte do meu pai. Quando concluímos o quarto ano primário, dentre os alunos urbanos e rurais, fui classificado como primeiro aluno. Recebi uma bolsa de estudos para estudar em Belo Horizonte e uma caderneta de poupança, se não me esqueço, a conta era no Banco do Estado de Minas Gerais. Era um valor significativo.
Como foi a reação dos seus pais?
Ficaram satisfeitíssimos! Afinal tinha sido o primeiro entre todos os alunos concluintes do quarto ano primário!
O senhor foi estudar em Belo Horizonte?
Não fui! Fiz outra opção, fui estudar em Ribeirão Preto.
Nessa época qual era a sua idade?
Nós não começamos muito cedo. Eu digo, nós, porque aonde eu ia o meu irmão gêmeo, o Ivan, também ia. A recíproca era verdadeira. Assim estávamos sempre juntos. Começamos a cursar a primeira série do curso primário com quase dez anos. Portanto concluímos o curso primário em 1954.
Em Ribeirão Preto vocês ficaram hospedados em que local?
Éramos semi internos no Colégio Metodista, mais precisamente, Instituto Educacional Metodista de Ribeirão Preto. Tínhamos a autonomia de permanecer ou não no colégio, não era o regime exclusivamente de internato. Permanecíamos lá, não necessariamente voltávamos aos finais de semana para a casa dos meus pais. Naquela época utilizamos o ônibus e o trem, usávamos os serviços da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro. Íamos até Poços de Caldas, lá cintinuávamos a viagem em um ônibus, a famosa jardineira. O percurso total era de umas seis a sete horas de duração. Era uma bela viagem!



Foi dificil acostumar-se a vida no internato?
Acostumamo-nos com certa facilidade. Inclusive desfilamos no primeiro centenário de Ribeirão Preto, em 1956, fui escolhido pela escola para levar o simbolo “Pirmeiro Centenário de Ribeirão Preto”. Faz parte da minha história. Iamos todos rigorasamente unifomizados, eramos do Instituto Metodista Educacional. É uma instituição que existe até hoje, com muitos alunos, no centro da cidade.



Nessa época havia o ensino de linguas estrangeiras?
Por quatro anos estudei latim. Considero que foi muito bom, estimo que em torno de noventa e cinco por cento da língua portuguesa sejam formadas por palavras latinas. As fábulas de Esopo! Meu irmão Ivan tinha o costume de responder a chamada feita pelo professor em latim, ao ser chamado seu nome Ivan Pereira Barbosa! Reaspondia: Adsum !  (em latim significa «Aqui estou !», «Eis-me aqui !»). Tinhamos também aulas de inglês e de francês. Antes de termos a aula de francês cantávamos o Hino Nacional da França: Allons enfants de la Patrie; Le jour de gloire est arrivé! (Avante, filhos da Pátria, O dia da Glória chegou) Era uma iniciativa do professor de francês para ensinar a pronúncia. Isso tudo me despertou o gosto pela literatura, que posteriormente me fez tornar-me professor de literatura. Hoje há uma tese de doutorado de um professor que cita 600 provérbios em português e latim. São provérbios com muito conteúdo, sábios, profundos.



















Como era a vida no internato?
Acordava às seis horas da manhã, tomava um banho, o café da manhã, um café apropriado para a idade ia a aula pela manhã, após o almoço havia o estudo dirigido, para os alunos internos havia o professor acompanhando e reforçando as matérias, os exercícios para serem feitos, para levar na aula seguinte.
Era um ensino integral praticamente?
Exatamente! Esse método eu acredito que faria uma diferença muito grande em nosso ensino.
Boa parte dos alunos da escola pública freqüenta um período de aula apenas, depois ficam sem uma obrigação formal.
O aluno fica solto, não há uma educação, uma disciplina. Por isso nosso período da tarde era exatamente o período de estudos. Era muito útil, o aluno não perdia tempo.
Tinha alguma forma de lazer?
Tinha! Jogávamos futebol, havia as aulas normais de educação física.
O fato de ser uma escola Metodista tinha influência dessa natureza sobre os alunos?
Todas as escolas Metodistas, no inicio do século passado eram iniciadas por missionárias de origem norte-americana. Temos como exemplo o Colégio Piracicabano, com a missionária Miss Martha Watts. Lá também, muitas escolas foram fundadas por iniciativa da Igreja Episcopal do Sul.
Seus estudos foram realizados no internato até concluir o curso ginasial?
Na época alguns cursos embora com terminologia, diferente vinham após o ginasial. No meu caso, fiz o colegial. Após concluir, fui fazer o curso de Bacharel em Teologia.
O que o levou a fazer o curso de Teologia?
Talvez a convivência familiar, com colegas, professores. A Igreja Reformada da época dos meus pais chamava-se Igreja Presbiteriana Independente, meus pais cultivavam conosco a Doutrina da Igreja Reformada. A Igreja Presbiteriana Independente era um ramo da Igreja Reformada, que representou uma cisão da Igreja Presbiteriana.
O senhor é Pastor?
Eu fui Pastor Metodista. Atualmente estou aposentado dessa atividade.

Quem é Pastor nunca deixa de ser!
Eu afirmei ter sido por ter atuado como pastor em exercício regular. Sempre acumulando o magistério. Quando conclui o curso de pastor recebi a nomeação Episcopal para a cidade de Piracicaba, isso foi em janeiro de 1968.
Nessa época o senhor já tinha se casado?
Em Piracicaba permaneci solteiro por três anos. Eu morava no Colégio Piracicabano, ele era internato, mas havia também, sobretudo jovens, que moravam no Colégio, alugando acomodações, não era apenas um internato. Havia apartamentos independentes, eu morava em um desses apartamentos, alugava.
Antes de vir para Piracicaba, o senhor fez o Curso de Teologia em que cidade?
Fiz em São Bernardo do Campo, onde hoje é a Universidade Metodista de São Paulo -  (UMESP). Todos que estudavam lá tinham acomodações, geralmente quartos que abrigavam dois alunos. Os estudos eram todas as manhãs, A tarde era livre para cada um estudar da forma que desejasse. Havia esporte também. Foram cinco anos de estudos, que é o tempo para formar-se como bacharel em teologia. As vezes tinha aulas a tarde também. O bacharel em teologia estuda muita filosofia, sociologia, psicologia, hebraico, grego. São matérias ligadas a história da Igreja, ao Velho e ao Novo Testamento. Passei a gostar da lingua portuguesa por conhecer a sua origem.
Quantos idiomas o senhor fala?
Sou professor de inglês e português com registro no Ministério de Educação e Cultura- MEC, já lecionei espanhol. Conheço francês, tenho facilidade de entender, até de traduzir, tenho predileção pelo inglês. Leio fluentemente em inglês, tenho muitas obras nesse idioma.
HINO DA INGLATERRA


HINO DOS EUA

                                                             HINO DA ESPANHA

Ao ler uma obra traduzida do inglês para o português o senhor percebe algumas diferenças que saltam aos olhos?
Não vejo como uma grande diferença, mais como aspectos culturais diferentes. Nesse período em que fiquei em Piracicababa, lecionei, inclusive espanhol. Passei a fazer outro curso Filosofia Pura. Foi um curso que me permitiu inscrever no MEC como professor de História, Psicologia e Filosofia. Essses cursos eram lecinados no então Instituto Piracicabano.


O senhor lembra-se do nome de alguns dos mestres que deram-lhe aulas?
Havia em Mogi das Cruzes uma faculdade liderada, organizada e administrada  pelo Padre Manoel Bezerra de Mello foi iniciativa dele apresentar um projeto que passou pelo Congresso Nacional, onde ele afirmava que todos que cursaram Teologia eram já professores. Mas eles não tinham autorização para dar aulas. A Teologia não era reconhecida oficialmente. O Curso de Filosofia Pura chamava-se Complementação Filosófica. Não íamos todos os dias, íamos prestar provas em Mogi das Cruzes. Depois esse tipo de autorização espalhou-se pelo Brasil. Íamos de trem de São Paulo até Mogi das Cruzes. De Piracicaba iam muitos alunos. Era uma oportunidade que foi criada,  e aqueles que tinham as condições acadêmicas, faziam uma prova e entravam para esse curso. Foram dois ou três anos de curso. Lecionei no Colégio Piracicabano inicialmente Educação Moral e Cívica, Estudos dos Problemas Brasileiros, Isso foi em de 1968 a 1970. Leecionava também em dois cursos de Madureza. Um deles ficava em frente ao Colégio Piracicabano e o outro na Rua Governador Pedro de Toledo. Era uma luta. Após três anos fui para Poços de Caldas, hoje a terra da maioria dos meus familiares. Eu já cursava a Faculdade de Direito em São João da Boa Vista, era a única faculdade que existia na região. Atualmente, se não me engano, a cidade de Poços de Caldas tem três cursos de Direito. São João da Boa Vista situava-se a quarenta minutos de Poços de Caldas, onde eu lecionava história e português.








Qual é a impórtância do estudo da História?
A história é muito importante, ninguém conhece sua terra, nem o próprio mundo e os regimes políticos se não conhece História. Em Minas Gerais a História aflora, é muito rica. Minas foi o estado que mais se desenvolveu, mais contribuiu, por causa do ouro, diamantes, esse ouro todo está na Europa, particularmente na Inglaterra.
Depois de ficar por três anos em Piracicaba , mudei-me para Poços de Caldas exatamente porque em 31 de janeiro de 1971 eu me casei com Zoé Pedroso Barbosa. Tivemos três filhos: Luciano, Lilia e Eliana, gemeas. Casamos em Cachoeira do Sul, no Rio Grande do Sul.




                            Uma doce lembrança de Cachoeira do Sul,  Rio Grande do Sul, Brasil.








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Como o senhor conheceu uma gaucha que tornou-se sua esposa?
Nos conhecemos em um Congresso de Juventude em Lins, Estado de São Paulo. Após três anos de namoro, através de cartas, telefonemas, a cada dois a três meses eu ia até Cachoeira do Sul. Em Poços de Caldas lecionei no maior colégio que existia na época,, chamava-se Colégio Pio XII. Após casarrmos, permanecemos em Piracicaba por mais quatro anos, depois mudamos para Goiania. Lá foi o inicio da minha profissão como advogado. Logo depois vim para o Estado de São Paulo, a convite do Professor e Reitor Elias Boaventura vim como professor em tempo integral da UNIMEP. Vim em 1 de fevereiro de 1979. Fiz também três pós-graduações: em Administração Escolar, na Universidade Católica do Estado de São Paulo, durante três anos, fiz  o Curso de Mestrado em Direito Civil e depois fiz mestrado em Direito Processual Civil, aqui na UNIMEP. Estou completando 38 anos de ensino na UNIMEP. Minha esposa é professora de matemática, aposentada, lecionou no ensino oficial do Estado.







Atualmente o senhor é professor atuante no Escritório Experimental da UNIMEP?
O Escritório Experimental foi criado para atender a parte prática do Curso de Direito. Há uma parte prática que é dada em sala de aula nos sétimos e oitavos semestres, aqui no Escritório Experimental, recebemos os clientes, vemos os problemas, preparamos uma petição inicial, distribuímos e vamos até o final. Foi crido exatamente para que os alunos tivessem essa experiência. Foi iniciado no final da década de 70. Inclusive um dos meus alunos é o juiz Excelentíssimo Juiz Dr. Eduardo Velho Neto. Um dos primeiros professores do Escritório Experimental foi José Benedito Cotrin, Dr. Osvaldo Cardoso da Silva e eu trabalhamos juntos por 30 anos. A administração do Fórum ofereceu uma sala para que funcionasse o Departamento de Assistência Judiciária “Dr. Julio de Mesquita Filho”. Durante muitos anos funcionou dentro do Fórum, quando era ainda na Rua do Rosário esquina com a Rua Prudente de Moraes. Ali foi o início, enquanto o Fórum existia na Rua Santo Antonio ainda não havia esse tipo de assistência. O espaço começou a ficar pequeno, eu me encarreguei de encontrar um local mais apropriado. Encontrei uma residência, que após passar por uma reforma foi adequada para atender aos clientes, e abrigar o numero de alunos interessados em fazer o curso prático. Hoje estamos instalados próximos ao Fórum, foi um local que procurei e apresentei ao Reitor. Veio para cá com o novo nome “Escritório Experimental Professor Geraldo Bragion”. Foi uma forma que encontramos para homenagear um dos nossos professores. Posteriormente abrigamos aqui o Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) e o Juizado Especial Civil – JEC, inicialmente chamado de Pequenas Causas, a função é a mesma, só o nome é que mudou. Aqui são atendidas pessoas que tem um rendimento familiar de até três salários mínimos.


O senhor escreveu alguns livros?
Escrevi “Assistência Jurídica”, e a autobiografia “Memória Viva”. Tenho alguns artigos que escrevi, como sobre os advogados dos Inconfidentes Mineiros, artigos para O Jornal do Advogado, artigos sobre a assistência judiciária gratuita.


A UNIMEP tem feito um trabalho de prestação de serviço público à população carente e garantido a qualidade de ensino à seus alunos através dessa iniciativa?
É exatamente o que vem ocorrendo há muitas décadas, um serviço olhado com muito carinho por quem usufrui e deles se beneficiam, assim como as autoridades direta ou indiretamente envolvidas. Temos grandes apoiadores, entre muitos, o Diretor da Faculdade de Direito, Dr. Jarbas Martins Barbosa de Barros, Dr. José Renato Martins, que é o Coordenador do Curso de Direito, o Prof. Dr. João Miguel da Luz Rivero que é o responsável pelos estágios oferecidos pela UNIMEP, especialmente pelo estágio oferecido no Escritório Experimental. Lembrando que o Dr. José Renato Martins foi orientador na área penal, o Professor Dr. João Miguel da Luz Rivero foi estagiário do Departamento de Assistência Judiciária. Temos diversos colegas, trabalhamos em equipe, como a Dra. Rosa Maria Furoni, Dr. Francisco César Paiva Cecconello, Dr. José de Medeiros. São grandes colegas e amigos, estamos sempre em contato, em convívio acadêmico, e eu gostaria que os nomes deles constassem para que o público saiba quem presta serviço de forma despreendida e com muita dedicação.


sexta-feira, maio 19, 2017

GUILHERME LUTGENS NETO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 13 de maio de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADO: GUILHERME LUTGENS NETO



Guilherme Lutgens Neto nasceu a 1 de fevereiro de 1950 é filho de Luiz Lutgens e Olinda Racione Lutgens pais de cinco filhos: Luzia, Maria Antonia, Guilherme, Maria Aparecida e Nicolau (Nilmar).


 

Qual era a atividade do seu pai?

Meu pai trabalhava na Prefeitura Municipal da Estância Hidromineral de Águas de São Pedro e morávamos na cidade vizinha, São Pedro.







Você estudou em São Pedro?

Estudei no Grupo Escolar Gustavo Teixeira. Isso no tempo em que minha mãe fazia doce de jaracatiá. Havia também guabiroba. São Pedro era uma cidade mais pacata. Embora não seja uma cidade com uma grande população, já tem o que há em grandes cidades.

Há quanto tempo você mora em Piracicaba?

Moro em Piracicaba faz 45 anos.

Com que idade você começou a trabalhar?

Aos oito anos de idade comecei a trabalhar em um salão de barbeiro. Eu varria o salão e engraxava sapatos.  Eu tinha 10 anos de idade quando comecei a fazer a barba de clientes. Usava-se navalhas naquela época, lembro-me das marcas 2 Irmãos, Solingen, Filarmônica. A melhor era a Solingen.

Você lembra-se quem foi o primeiro homem que teve a coragem de fazer a barba com um menino portando uma navalha na mão?

Eu não tenho muita certeza, mas acho que foi o meu pai!

Tinha que subir em algum caixote para alcançar o rosto do cliente?

A cadeira era pequena, eu tinha que ficar curvado.

Qual foi a sensação que você teve ao fazer a primeira barba, a mão tremia?

Foi normal. Acho que sempre fui firme, era destemido.

Com que idade você passou a cortar cabelos?

Com treze a quatorze anos já cortava cabelos. Naquela época as máquinas de cortar cabelo não eram elétricas, tinha que movimentá-las com os movimentos da mão.

Foi um período em que ir ao barbeiro, fazer a barba era um procedimento muito comum?

Não havia aparelhos de barbear como existe hoje, a barba era feita a navalha, no inicio eu fazia cinco, seis ou sete barbas por dia. Cortava uns cinco cabelos por dia. Eu aprendi o ofício com Agnaldo Baltieri.

Com que idade você montou o seu salão de barbeiro?

Tinha de 15 a 16 anos.  Naquela época não se colocava muito o nome, era chamado simplesmente de Salão de Barbeiro.

Atualmente você desfruta de um nome muito conhecido e procurado, que é o Salão do Netinho.

Tudo começou em São Pedro, eu tinha um conjunto musical que fazia bailes meu irmão Nicolau já tinha 10 anos ele já tocava em baile. Ele passou a usar o nome artístico de Nelmar, assim surgiu a dupla Nelmar e Netinho. Ele tocava baixo muito bem. Eu tocava guitarra, violão. A nossa primeira banda chamava-se “Os Daltons” tocávamos em São Pedro e região. Isso foi por volta de 1966. Época em que o Roberto Carlos estava começando a despontar. Assim como o Beatles. Nós tocávamos todo o tipo de música, faziamos muitos bailes: formaturas, debutantes, carnaval. Fizemos muitos carnavais.



                                                       NETINHO E NELMAR

Financeiramente era um bom negócio?

Dava para brincar! Era um hobby. O que ganhávamos praticamente investíamos em aparelhagem. A sobrevivência vinha do trabalho no salão de barbeiro. No salão aos sábados ficava até as 9, 10 horas da noite, trabalhando. Durante a semana até umas oito horas da noite. Abria às oito horas da manhã, sempre. Só parava para ir almoçar em casa. Tinha que ser rápido.




Ai você decidiu mudar-se para Piracicaba?

Em Piracicaba o campo de trabalho era maior do que em São Pedro. Aliado a isso o fim do conjunto nosso em São Pedro também pesou na decisão, surgiu a oportunidade de tocar em um conjunto em Piracicaba. Chamava-se RG Sons, com Reginaldo Perina, Regina Perina, irmã do Reginaldo, uma crooner excelente, o Zé Carlos, Belito, Souza, Glem, Castro, meu irmão Nicolau, Furlan. Essa turma toda tocou comigo, alguns tocavam em São Pedro e vieram para cá. RG Som tem a origem no nome Reginaldo. Nessa época passamos a tocar em Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso, São Paulo, fizemos muitos bailes em São Paulo. Na época competíamos com o Super Som TA. Nessa época tivemos um resultado financeiro melhor. Tínhamos no conjunto: bateria, contrabaixo, guitarra, picado, saxofone, tenor, sax alto, piston e barítono. Eu tocava, fazia back vocal e cantava.






Vocês tocavam e cantavam todos os estilos de música?

Todos os estilos! MPB, música italiana: Io Che Amo Solo Te”, “Dio Come Ti Amo”. Recentemente lançei um CD só com músicas italianas. Com o meu irmão chegamos a gravar três LPs. Gravamos em São Paulo pela Gravadora de discos Scorpius, pela Continental, e ultimamente pela Globo, que não tem nada em comum com a Rede Globo.

Música traz bons resultados financeiros?

Tem que ser feito um investimento muito grande para ter bons resultados. A divulgação envolve valores expressivos, claro que o talento conta, divulgar uma gravação de um CD é uma luta muito grande.

Atualmente há uma facilidade muito interessante que é a mídia eletrônica.

A Internet ajuda bastante, se tivessemos hoje a dupla com internet e todos os recursos que estão disponíveis, seria bem diferente.

Atualmente o cantor não tem bons resultados com a simples venda do CD?

Não, porque o CD tornou-se quase obsoleto, a ponto de em shows darem CDs. O que traz resultados são os shows. O DVD ainda tem um nicho de mercado, vende mais.

Com que idade você começou a tocar?

Eu sempre tive o gosto pela música, o dom. Quando era pequeno, não tinha dinheiro, era engraxate, eu ia até a praça central onde tinha o serviço de alto falantes, eu adquiria livrinhos com as letras de grandes cantores da época: Francisco Alves, Francisco Petrônio, Orlando Silva, Nelson Gonçalves e outros artistas que faziam sucesso na época.  Cantava para o publico ouvir. Eu deveria ter oito ou dez anos. Meu pai era cururueiro da região. Com quinze anos comecei a tocar violão, de ouvido. Amigos como Carlinhos Veronezzi me passavam os acordes. Meu primeiro violão, eu acho, que foi um Giannini. Eu ganhei, ele estava quebrado, arrumaram e me deram de presente.

Quando você começou a tocar violão qual musica estava na moda?

Havia várias, como “Gatinha Manhosa”,  “AVolta” do conjunto Os Vips, Golden Boys, Renato e Seus Blue Caps, The Fevers, eu usava cabelo bem comprido, cabelão, meu irmão tinha um cabelo maior ainda. Usava calça boca-de-sino, cintura alta, cinta bem larga, botinha, alguns usavam botinha de camurça.

Com isso você fazia sucesso em São  Pedro?

Fazia! O meu irmão só não foi sucesso quando era criança porque o Roberto Carlos estava lançando o Ed Carlos. Nós fomos ao Grande Hotel, em Águas de São Pedro, com o nosso amigo José Carlos Biscalchim que hoje faz parte da radio em São Pedro, juntamente com o Eurico que era o motorista do Roberto Carlos, fomos fazer uma palha para o Roberto Carlos ouvir. Eu tinha tocado com ele cantando na Boate Village. Ele ouviu e disse que só não queria lançar dois cantores ao mesmo tempo, ele estava lançando Ed Carlos.

Roberto Carlos ia muito para São Pedro?

Ia muito! Assim como também o Erasmo Carlos, Wanderléa, Martinha. Ficavam hospedados no Grande Hotel de Águas de São Pedro.

E como a música sertaneja entrou em seu repertório?

Meu pai era fã de Tonico e Tinoco, eu e meu irmão gostávamos. Cantávamos algumas musicas como Saudade da Minha Terra de Belmonte & Amaraí, tínhamos até um projeto para gravar um disco sertanejo. Quase chegamos lá. Gravamos três discos. O primeiro foi em 1983, com outro parceiro, Léo Marcos, chama-se Chuva Sagrada. Em 1986  gravamos Saudade Infinita na Gravadora Scorpius, meu irmão e eu, juntos gravamos dois discos na Globo, um foi Teus Caprichos. Outro tinha o nome da dupla e músicas como Indigente do Amor, Amanhã e outras músicas.

Quais músicas fazem sucesso até hoje?

São várias: Teus Caprichos; Rio Bonito; Indigente do Amor; Chuva Sagrada. Rio Bonito toca no Brasil inteiro ainda. A composição é do Serrinha, não é o filho do Nhô Serra, é o Antenor Serra de Botucatu, da dupla Serrinha e Caboclinho. Quando nós gravamos, ele havia falecido já fazia algum tempo. É uma música que ficou na manga, ninguém havia gravado.

Que idade você tinha quando veio morar em Piracicaba?

Tinha 21 anos, fui trabalhar em um salão de barbeiro que existia embaixo da Rádio Difusora, chamava-se Salão Monumento, lá tinha também engraxates. Dali eu fui trabalhar em outro salão ao lado da Padaria Vosso Pão, a proprietária da padaria era Dona Augusta, conheci o seu marido, seu filho Osvaldinho era onde hoje está o Edifício Canadá. Depois eu fui trabalhar no Salão Capelinha situado na Rua  Moraes Barros, ao lado da famosa lanchonete Daytona. A arquitetura do salão parecia a de uma capela, por isso era chamado de Salão Capelinha, o proprietário era Antonio (Toninho) Melloto. Trabalhei com o Gilson Ivan Calazans, o outro Gilson Calazans e sua esposa Dona Cida, tinha a escola de cabeleireiros, a famosa Escola Calazans. Trabalhei com Lúcio (Italiano) Barone. Na Galeria Brasil havia outro salão muito freqüentado, era do Major, do Chico, Orlando. Conheci o Rodella que tinha salão na Rua Boa Morte. O Salão do Húngaro que ficava na Rua Benjamin Constant. Eu já estava tocando no conjunto Opus 6, depois mudou o nome para Musical Opus. Quem tocava era eu, o Souza, o Glem irmão do Souza, o José Carlos Barbosa. O Opus veio depois do conjunto Os Cambitos. Nós fazíamos muitos bailes no Clube Coronel Barbosa, no Clube Cristóvão Colombo, nas cidades de São Paulo, Campinas. Naquela época viajávamos de Kombi. Com o Reginaldo ia uma caminhonete, viajávamos de Galaxie.

A que horas começava o show?

Começava às onze horas da noite e ia até as quatro horas da manhã. Tinha também o jantar dançante, que era das oito horas da noite até a uma hora da manhã. Geralmente era no Clube de Campo, no Clube Cristóvão Colombo. Tinha eventos como Noites Românticas

Você é casado?

Em primeiras núpcias casei-me em 1973, em segundas núpcias foi em 1990. Do primeiro casamento nasceram minhas filhas Melissa e Camila, do segundo casamento nasceu o filho Luiz Guilherme. Hoje sou Netinho, pelo nome e vovô por ter dois netos.

O seu estabelecimento é voltado ao público masculino?

Hoje temos uma equipe, trabalhamos com o publico feminino também. De 1983 até 1997 passei a trabalhar só com música, Viajei dois anos com a dupla Cezar e Paulinho. Eu e meu irmão fizemos parte da banda deles. Trabalhamos de back vocal, eu tocava violão e o meu irmão teclado. Assim como temos grande amizade com a dupla Craveiro e Cravinho.

Em 1997 você voltou a trabalhar com cabelo?

Voltei, fui trabalhar no Cabelão de propriedade de Daniel Oliveira ficava na Rua Moraes Barros. Hoje estou em outro endereço, na Rua José Pinto de Almeida onde trabalho com a minha equipe.

Quem é mais vaidoso, o homem ou a mulher?

São iguais, todos querem estar bem arrumados. Eu trabalho mais com corte de cabelo masculino e feminino, a nossa equipe trabalha com o público feminino, noivas, manicure, maquiagem.

Qual é melhor máquina de corte?

Eu trabalho com a Wahl, para fazer pé de cabelo trabalho com uma máquina chamada The Taylor. Antigamente era a máquina Solingen. Tinha que afiar os dentes da máquina. Usava-se uma pedra especial. Isso no tempo em que havia o assentador, um sarrafo de madeira revestido de couro. Tinha a pita, que é uma madeira leve, e depois passava na mão. Com essa série de movimentos assentava-se o fio da navalha. Aqui é freqüentado por famílias, vem o marido e a mulher, ou gerações: avô, pai e neto, todos tratam do cabelo conosco há anos. Não vou me lembrar de todas, mas uma que é tradicional é a Família Chaim. O Paulinho da dupla Cezar e Paulinho faz o corte de cabelo comigo. Já veio bailarina do Faustão, assim como também veio um jurado do Programa do Faustão fazer as unhas aqui. Os jogadores do E.C. XV de Novembro de Piracicaba, quando estavam hospedados no flat próximo, vinham cortar o cabelo conosco. Conheci muito João Chiarini, ele cortava cabelo comigo, um homem sempre alegre. O Jago, artista e jornalista, eu corto o cabelo dele até hoje.

Ser músico e cortar cabelo são dons, ou seja, cada um uma arte?

Eu acredito que sim!

Atualmente você tem alguma atuação especial na área musical?

Toco no Ministério de Musica Igreja Nossa Senhora dos Prazeres Ministério Unge, faz dez anos que estou lá. Também faço parte do Grupo de Oração, vai completar 30 anos agora. Dia 21 de maio próximo vai ter uma tarde de louvor. De vez em quando toco violão e faço vocal na Igreja do Lar Franciscano.

Quantos instrumentos você toca?

Eu brinco um pouco com viola, violão, teclado, e aprendi um pouco de cavaquinho. Estudei música por três anos com Sérgio Belluco.

Você fez o aaranjo de uma música famosa?

Meu irmão e eu fizemos um arranjo de uma música do Beto Surian, chamada “Silêncio”, gravada por Roberto Carlos que elogiou muito a voz do meu irmão.

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