quinta-feira, dezembro 08, 2005

PETRUS

PETRUS



Os desenhos das suas costelas em sua simetria natural eram cobertos por sua pele fina coberta de pelos curtos, cor de canela. Os olhos negros, redondos, traduziam seus sentimentos. Corpo cansado. Suas unhas estavam gastas de tanto andar. Cicatrizes, de brigas, algumas por paixões, outras por fome, algumas por sua audácia ou pura ignorância da sabedoria humana. Raça complicada essa dos seres humanos! Uns acariciavam. Outros batiam. Não tinha regras definidas. Petrus ganhou esse nome já com alguns anos de vida. Tivera uma enormidade de nomes, apelidos, cognomes.
Um dia, com a fome apertando o estomago encontrou Ananias. Com aquele cilindro fumegante entre os lábios, encostado em um banco de lanchonete, recebeu um pedaço de mortadela. Foi o inicio de uma grande amizade.
Ananias, artista famoso pelos seus desenhos, era requisitado pelas grandes agências publicitárias. Como de habito, o serviço vinha com a recomendação “urgente”. Por comodidade, morando em uma cidade grande aonde o deslocamento da sua casa até o seu estúdio demorava ás vezes horas, construíra uma pequena suíte na casa onde funcionava seu importante ateliê.Sua família concordava com essa atitude racional.
Petrus passou a ser companhia constante do artista Ananias. De simples simpatizantes passaram a serem amigos inseparáveis. Aonde ia o artista, ia o vira-lata. Muitas vezes impedido de entrar em locais sofisticados, pacientemente Petrus passava horas esperando Ananias. O reencontro dos dois era comovente. A amizade pura e simples.
Os anos foram passando, Ananias adepto dos cilindros brancos que soltavam fumaça, passara a comer menos, não sentia muita fome. Apenas o apetite de Petrus continuava inalterado. Adorava olhar Ananias trabalhando, enquanto mastigava seu ossinho artificial, algo que nunca faltava. Uma tosse seca começou a tomar conta de Ananias. Seu rosto encovado, escondido por uma barba ia aos poucos enxugando mais.
Por insistência familiar, Ananias foi fazer alguns exames médicos. Os cilindro brancos tinham provocado o câncer de pulmão, doença altamente fatal. Lúcido como sempre fora sabia que estaca morrendo de câncer, tratou de colocar a vida em ordem, e usar o tempo que restava de modo produtivo. Falsas esperanças poderiam roubar o seu bem de maior valor - o tempo que se tem vivo. A amizade de Ananias e Petrus parecia ter redobrado. Petrus parecia sentir a doença de Ananias e sua morte próxima. No meio de uma campanha publicitária, com seus funcionários já repousando em suas casas, Ananias continuava trabalhando. Petrus ao seu lado. Por volta das 3 horas da manhã, Ananias deitou-se na cama que ficava em sua suíte. Ao seu lado Petrus.
Sentiu que ali terminava sua jornada. Ao seu lado, o vira-lata Petrus. Uma morte digna de um homem digno. Sentiu a lambida quente do animal tentando dar-lhe vida. Algo inútil no caso. Ananias preferiu morrer ao lado de um cão sincero do que a milhares de amigos que fizera em sua longa existência. Muitos eram seus amigos por puro interesse.

Essa história é real, apenas foram mudados os nomes por razões óbvias. Dedico á você meu querido professor, á você querido animalzinho que o assistiu seu dono nos seus últimos momentos. (Escrita por João Umberto Nassif).

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