sábado, setembro 12, 2020

MARIA IZABEL AZEVEDO NORONHA

 

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com
Sábado  12 de setembro  de 2020.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/

http://www.tribunatp.com.br/

http://www.teleresponde.com.br/ 


ENTREVISTADA: MARIA IZABEL AZEVEDO NORONHA - 

                                            -BEBEL-




 

Maria Izabel Azevedo Noronha, a Bebel, nasceu no dia 1° de maio de 1960, em Ártemis, Município de Piracicaba, filha de Manoel Azevedo Noronha e Maria Pereira Rocha Noronha, que tiveram os filhos: Domingas, Maria Aparecida, Maria Izabel (Bebel) e Manoel (Nelinho Noronha).

Devo chama-la de Deputada ou Professora?

Pode me chamar de Professora! Deputada eu estou, Professora eu sou de fato!

Qual era a atividade profissional dos seus pais?

Meu pai trabalhava na cana-de-açúcar, a minha mãe trabalhou como doméstica.

Os seus primeiros estudos foram feitos em qual localidade?

Meu pai foi para a roça, nós somos da roça, e na época fomos para mais próximos de Águas de São Pedro, no antigo Colombo. Passamos a residir em Águas de São Pedro, foi lá que estudei inicialmente na Escola Estadual Ângelo Franzin. Lá eu estudei até a oitava série. A seguir fui estudar Contabilidade, meio com desgosto, eu não queria fazer esse curso, eu queria fazer magistério. A minha irmã mais velha queria fazer Contabilidade e a minha mãe não deixava que nos separássemos. Minha mãe disse-me: “-Você vai aonde sua irmã for! ”. Fizemos o Curso de Contabilidade na Escola São Vicente de Paula, em São Pedro. Quando estávamos no segundo ano, minha irmã casou-se e eu tive que terminar o curso! Lembro-me que na época eu disse-lhe: “-Puxa vida! Você inventou de estudar Contabilidade e eu queria ser professora, tive que ser contadora sem querer ser, você casou e eu fiquei! ”. Foi um curso que fiz com dificuldade para pagar. Não cheguei a trabalhar na área. Após dois anos fiz o vestibular na Universidade Metodista de Piracicaba-UNIMEP. Fui aprovada. Nessa época eu trabalhava na casa de uma senhora muito bondosa, ela disse-me: “-Vou pagar a sua matrícula na universidade! ”. A matricula era um peso. E pagou a minha matricula. Entrei e fui lutar por uma bolsa de estudos. Consegui da UNIMEP uma bolsa de 50%, mas mesmo assim para mim não dava. Aí consegui o Crédito Educativo, naquela época não era igual a hoje o FIES – Financiamento Estudantil, no período em que estudei eram umas 10 bolsas por universidade.

Qual curso a senhora foi fazer?

Fui fazer Letras. Com o crédito educativo, o valor veio retroativo, até então mesmo pagando só a metade da faculdade, essa senhora foi me ajudando a pagar. Eu me lembro até o valor, era R$ 10.800,00, para mim aquilo era muito dinheiro. Quando fui devolver para ela o que ela havia me dado, fiz isso com o dinheiro que tinha recebido do Crédito Educativo, ela disse-me: “-Ponha na conta! Você irá precisar para os livros! ”.

Sua casa era em Águas de São Pedro?

Morava em Águas de São Pedro e vinha todos os dias estudar em Piracicaba. Era uma puxada boa, eu trabalhava o dia todo, tomava o ônibus e vinha a noite para a UNIMEP.

Qual era o seu trabalho?

Eu trabalhava na casa dessa senhora, como empregada doméstica. Assim conclui a Faculdade de Letras. Nesse meio tempo, a minha mãe, que sempre foi muito empreendedora, eu digo a ela que se ela tivesse tido a oportunidade de frequentar uma escola ela seria melhor do que os filhos, pela sua visão. Eu até imagino que o fato de não ter escolaridade deixa a pessoa com uma sensibilidade maior do que nós que tivemos a chance de frequentar um ensino superior. A gente já acha que sabe e eles ficam apurados! Ela tinha saído da casa onde trabalhava como empregada doméstica e foi trabalhar no Hotel Jerubiaçaba, em Águas de São Pedro. Ela dizia: “-Eu não quero ficar trabalhando no Jerubiaçaba! Quero ter o meu negócio! ”. Ela vendeu a casa dela e arrendou uma pensão. E deu certo! Ele foi a única pessoa que conseguiu sucesso com aquela pensão. A partir do seu sucesso ela adquiriu uma casa em uma área comercial, onde ela tem a pousada dela até hoje. Quando ela iniciou tinha cinco quartos. Ela ampliou para dez quartos. É a “Pousada Mineira Noronha”. O fato dela ser de origem mineira. Trouxe consigo as delicias da cozinha mineira, isso tornou-a muito requisitada. Gerou um grande movimento, as pessoas encomendavam as refeições. Eu poderia permanecer ali, comercialmente era um sucesso.  Mas eu tinha como objetivo ser professora. Era o meu sonho!






Ainda era uma profissão muito valorizada e respeitada?

Era respeitada e reconhecida. Para mim ser professora é uma vocação. Desde muito pequena as minhas brincadeiras não eram com bonecas, era em ser professora! Colocava bobes no cabelo, passava batom. (bobe é um cilindro que se usa para enrolar o cabelo feminino.  Os bobes podem ser feitos de plástico.) Reunia as minhas amiguinhas, eu escrevia com carvão.

A senhora deve ter feito um bom estrago com carvão!

(Risos). Não! Escrevia em tábuas. Senão a minha mãe poderia ter o ímpeto de me tirar as orelhas! Minha mãe sempre foi muito rígida conosco, mis do que o meu pai. Quem educa é a mãe.

Isso a transformou em uma mulher forte?

Embora tenha começado a trabalhar muito cedo, com nove anos, nunca tive nenhum tipo de sentimento de revolta, mágoa.

O que uma menina, literalmente uma criança de 9 anos fazia como trabalho?

Em Águas de São Pedro tinha muitas casas de veraneio, éramos contratados para trabalhar, limpar as casas. Com 10 a 12 anos fui trabalhar no Restaurante Brasília. Durante o curso ginasial inteiro trabalhei no Restaurante Brasília. Esse restaurante não existe mais, ficava lá mesmo em Águas de São Pedro. Eu sabia que ali não era o meu lugar. Como era a opção que se apresentava, trabalhei duro. Sem reclamar. Fui fazer o Curso de Contabilidade também trabalhando. Depois quando eu fui fazer Letras, a minha mãe já estava com a pousada. Nisso apareceu essa senhora, Dona Maria Lehrer Raposeiro, ela era alemã, o marido tinha o sobrenome Raposeiro. Na época ela disse-me: “ Você trabalha na minha casa durante o dia, vai para a escola a noite e vem para passar a noite, ela precisava de uma acompanhante a noite. A minha mãe casou-se muito jovem, aos 15 anos! Meu pai era 24 anos mais velho do que ela. Reconheço que eu e minha mãe somos muito parecidas, em determinação, temos nossas opiniões próprias. Naquela época, como a maioria dos jovens, a visão sobre o mundo, era diferente de da quem já amadureceu. Se antes eu tinha uma postura, hoje tenho outra. Minha mãe e eu somos muito apegadas uma a outra.

Todo jovem geralmente tem um período de conflito com a realidade em que vivemos.

Eu era muito contestadora, para a época. Minha mãe ficava brava. Eu era uma pessoa que não dava trabalho, na escola era excelente aluna. Isso se passou na década de 70.

A década de 70 foi um período de muitas mudanças no mundo inteiro.

Talvez tenha a ver com isso. Lembro-me de que tive excelentes professores, dos quais guardo boas lembranças. Nunca me esqueço do professor de português o Seu Manoel. Me tornei professora de português por conta dele. Ele trabalhava conosco de uma forma a nos levar a uma reflexão. Sem falar! Ele nos conduzia! Lembro-me de que ele fazia com que fossemos buscar a origem de tudo. Ele me deu um poema de Cassiano Ricardo (1895-1974).


                                                                         Cassiano Ricardo

A Moça Tomando Café – Cassiano Ricardo

Num salão de Paris
a linda moça, de olhar gris,
toma café.
Moça feliz.

Mas a moça não sabe, por quem é,
que há um mar azul, antes da sua xícara de café;
e que há um navio longo antes do mar azul…
E que antes do navio longo há uma terra do Sul;
e antes da terra um porto, em contínuo vaivém,
com guindastes roncando na boca do trem
e botando letreiros nas costas do mar…
E antes do porto um trem madrugador
sobe-desce da serra a gritar, sem parar,
nas carretilhas que zunem de dor…
E antes da serra está o relógio da estação…
Tudo ofegante como um coração
que está sempre chegando, e palpitando assim.
E antes dessa estação se estende o cafezal.
E antes do cafezal está o homem, por fim,
que derrubou sozinho a floresta brutal.
O homem sujo de terra, o lavrador
que dorme rico, a plantação branca de flor,
e acorda pobre no outro dia… (não faz mal)
com a geada negra que queimou o cafezal.
A riqueza é uma noiva, que fazer?
que promete e que falta sem querer…
Chega a vestir-se assim, enfeitada de flor,
na noite branca, que é o seu véu nupcial,
mas vem o sol, queima-lhe o véu,
e a conduz loucamente para o céu
arrancando-a das mãos do lavrador.

Quedê o sertão daqui?
Lavrador derrubou.
Quedê o lavrador?
Está plantando café.
Quedê o café?
Moça bebeu.
Mas a moça, onde está?

Está em Paris.

 

 

Esse poema foi um estalo! (Bebel relembra parte dos versos que a marcaram profundamente). Foi uma desmistificação, provocando uma busca da origem das coisas. É impressionante como esse poema teve um papel marcante. Eu passei a buscar as coisas. Duvidar. Buscar. E ele era um professor de português., lembro-me de que ele começou a querer exercitar-nos. Ele mandou pegar algo, peguei uma bolsa de couro, quando chegou na vaca, aí é que a coisa pegou! Disse-lhe: “E agora professor, como foi feita a vaca? ”. Ele me chamava de Beca. Respondeu apenas: “Beca, para por aí! ” Acredito que essa passagem de professores. Obras e pessoas como a Dona Maria. Como Armando Brussolo que me incentivou muito a leitura. Dona Maria comprou um livro que narrava a história A Divina Comédia. O protagonista do livro é o próprio poeta Dante Alighieri que percorre uma viagem entre três instâncias completamente distintas: o Inferno, o Purgatório e o Paraíso. Eu adorei o livro, tinha muita mitologia. Para você ter uma ideia eu chegava a sonhar com o Dante! Existem pessoas que estavam na sua vida, naquela hora, porque? Como elas entraram na sua vida? Tomei consciência de que eu tinha um papel. Tem pessoas que nascem e o mundo está pronto para elas, não tem graça. Percebi que eu tinha que transformar as coisas. Isso não é conformismo! Percebi que gostava de desafios. Tive um pai maravilhoso, de uma simplicidade, de uma humildade, uma espiritualidade muito grande. Para mediar os temperamentos da minha mãe e meu, ele usava muita sabedoria.

Essa habilidade de apaziguar temperamentos fortes é altamente louvável!

Meu pai dizia para mim assim: “Você nunca vai me pedir para escolher tomar partido entre você ou sua mãe. Vou escolher a sua mãe! Eu a escolhi para casar, ela é a sua mãe! Você tem que procurar entende-la, aceitar a forma como ela conduz as coisas, respeitá-la”. Eu argumentava: “-Pai eu a respeito! ”. Papai era muito religioso, um dia ele estava rezando, conversando com Deus, eu pude ouvi-lo em sua prece: “Meu Senhor, põe juízo na cabeça da menina! Coloca-a em seu lugar! ”. Nesse momento ele percebeu a minha presença, ficou um tanto constrangido. Mas era um homem de fé.

A senhora é religiosa?

Sou católica, sou devota de Nossa Senhora Aparecida, de Santo Expedito. Esses são meus santos a quem peço para me ajudar nessa caminhada. Dona Maria via o meu jeito de batalhadora, buscando desafios, lutando muito, com sua sabedoria ela sempre recomendava: “ Você nunca poderá achar que não existe ninguém acima de você! Tem alguém acima de você: é Deus! ”. Ela percebia que eu estava me emancipando muito cedo, não passa de uma criança com 15 anos! O indivíduo ateu, ao negar a existência de Deus ele está admitindo que Deus existe! Se ele renega a Deus ele admite a existência de Deus. A bíblia é a história da humanidade, independente da religião que a adota. Se quiser entender a humanidade leia a bíblia. Respeito os ateus, só acho que deveria refletir melhor. Podem até não serem membros de alguma religião, mas Deus está presente na vida da humanidade.

Voltando a parte profissional, a senhora começou a dar aulas quando?

Comecei em 1986, comecei na escola particular, onde eu tinha me formado em contabilidade, Escola São Vicente de Paula. Eles começaram a oferecer cursos de ensino médio, o antigo curso colegial, para o curso do magistério e educação de jovens e adultos, era o supletivo. Depois consegui algumas aulas no Bairro São Jorge, em Piracicaba na Escola Estadual Professor Hélio Nehring, depois fui para a Escola Estadual Honorato Faustino, depois fui para a Escola Estadual Barão do Rio Branco. Fui dar aulas no Bairro de Tanquinho. A seguir lecionei na Escola Estadual 'Professor Abigail de Azevedo Grillo a seguir dei aulas na Escola Estadual Monsenhor Jeronimo Gallo. Quando fui para a Diretoria da APEOESP (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) eu me afastei das salas de aula como professora. No período em que lecionei, também fiz o Mestrado em Educação na UNIMEP. Consegui bolsa de estudo pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), terminei meu mestrado militando. Minha tese foi “Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública Um Espaço de Debate entre a Sociedade Civil e o Estado”. A hipótese que eu levantava é: A Sociedade Civil Organizada conseguiu alterar o capitulo da Educação na Constituição do Brasil? Eu concluo que sim. Isso reafirmou o meu papel no Sindicato. Ao fazer a minha tese consegui construir a trajetória da Educação, como ela foi debatida, as vitórias fantásticas, era um governo adverso a nós, não havia um governo que abria para os movimentos sociais. Mas por ser um governo pós-ditadura ele foi obrigado a se abrir, foram constituídas audiências públicas, as emendas populares, como metodologia de construção no processo constituinte que consolidou a Constituição de 1988. Tenho muita clareza nessa questão, o papel dos sindicatos, das associações, enfim todos os movimentos, para que lutássemos por verbas públicas, escolas públicas, lutássemos pela gestão democrática da Educação. O Piso Salarial Nacional, que lutamos na Constituinte, tínhamos conseguido elegermos um Deputado Constituinte, ele era da APEOESP, o Gumercindo Milhomem ele fez essa luta para ser escrito na Constituição. Se o piso não é a contento, mas veio dessa luta no Processo Constituinte. Isso me deu muito mais clareza de que eu tinha que seguir a minha trajetória no Movimento Sindical. Fui forjada na luta, nessas questões todas. Encerrado esse período, continuei na APEOESP e dando aulas, depois fui para a diretoria, fui vice do Roberto Felício, Deputado, duas vezes Presidente da APEOESP, duas vezes também Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Educação.

A senhora chegou a ser Presidente da APEOESP?

O cargo máximo em Piracicaba é o de Coordenador. Fui Coordenadoras, era muito visível o meu trabalho. Cheguei a Presidência da APEOESP, ainda estou Presidente.

A atuação da Presidência da APEOESP abrange o Estado de São Paulo?

Exatamente, abrange o Estado. Em Piracicaba comecei desde representante de escola, conselheira e depois coordenadora. Quando fui para a coordenação, também fui para a diretoria.

Quanto afiliados tem a APEOESP hoje?

Somos em 184.000! É uma cidadew de porte médio.

Há uma constante insatisfação com os proventos recebidos pelos professores, como resolver isso?

Essa luta do salário é impressionante! Tem que ser acompanhado um movimento social mais amplo. Da mesma forma que lutamos intensamente na Constituinte, houve uma intensa luta pelo acesso a uma educação pública básica. Ao fazer isso, na verdade, quem era governante ofereceu, mas em que padrão de qualidade? Aí ocorreu a desvalorização dos professores.

A seu ver a Progressão Continuada é benéfica?

Tem dois debates a serem feitos. No Estado de São Paulo tivemos a Progressão Continuada? Não, não tivemos. Tivemos a Aprovação Automática! É diferente. Progressão Continuada não tem nada a ver com Aprovação Automática! A Aprovação Automática foi fruto do trabalho de uma senhora Secretária da Educação: Rose Neubauer, foi Secretária da Educação do Governo Mario Covas, ela que veio com essa história de Aprovação Automática. Ela dizia que ia economizar e empurrava os alunos! Dava fluxo para o Sistema e economizaria! Mas as crianças se não eram excluídas naquele momento em que eram avaliadas, teriam a exclusão postergada! Liderei muito esse debate! Ela estava fazendo com que gerações de jovens ficassem alijados ao direito ao conhecimento! Direito a Educação! Era isso que ela estava fazendo. Fiz uma briga intensa, porque a Progressão Continuada não vê o produto final: se aprovou ou reprovou. É parte de. A Progressão Continuada trabalha em conjunto: o número de alunos por sala de aula; a formação continuada dos professores; a jornada; os salários dos professores; as condições de ensino e aprendizagem do aluno é um conjunto de medidas! A Aprovação Automática pegou esse ensino de péssima qualidade qye estava aí e disse o seguinte: “-A partir de hoje o sistema é de Aprovação Automática, aprova todo mundo! E acabou! Em vez de termos analfabetos literais, passamos a ter analfabetos funcionais! Eles saiam da antiga 8ª série, sem saber escrever um bilhete! E até os mais simples dos pais ficavam indignados! Os pais de uma ou duas décadas passadas dependem da escolaridade dos filhos. Essa que é a questão! Quando ele pedia para o filho escrever alguma coisa e o mesmo não conseguia, ele percebia que o filho não tinha aprendido nada na escola! Foi um movimento muito forte que a APEOESP empreendeu, contra a Aprovação Automática! Fazendo um debate correto da Progressão Continuada. Dizíamos: “Se esse governo não tem competência para fazer Progressão Continuada, que não o faça! Mas que garanta o direito ao conhecimento dos estudantes”. Até os professores se rebelavam! Tirou a autonomia dos professores! A avaliação pode ser: Somatória, Cumulativa e Diagnóstica. É como se deve entender a avaliação.

Sua impressão é de que a Secretária da Educação do Estado ao fazrt a reforma pode ter tido boa intenção e atuação equivocada?

Ela leu de forma correta, no diagnóstico os dois grandes problemas sócias qui tínhamos na área educacional era a evasão e repetência. Mas isso não se resolve em um piscar de olhos. Nem por simples decreto. A solução está em abrir a escola, modernizando a escola, tornando a escola mais atrativa para os jovens, dando condições para que o aluno que também trabalha possa estudar. Ai de fato corrige-se desigualdades. Não se corrige desigualdade criando-se uma desigualdade maior ainda: Que é tirando o direito do acesso ao conhecimento.




A senhora deu início a sua atuação política parlamentar quando?

Como militante do Partido dos Trabalhadores, fundei a sua representação em Águas de São Pedro. Desde a universidade venho discutindo, havia um pessoal do PT que também se preocupava com as condições do ensino, eu estava sempre com eles. Havia um pessoal do PC do B, assim como tinha um pessoal que não era de nenhum dos dois partidos. Eu optei pelo Partido dos Trabalhadores, e não eram os professores que participavam, eram os estudantes que se reuniam em grupos e fazíamos rodas de conversa. Foi ai que descobri que a UNIMEP oferecia um curso: “Venha Conhecer o Método de Paulo Freire”. Fui fazer esse curso, fiquei apaixonada. Entendi o métode de alfabetização criado por ele. Foram criados grupos de alfabetização na UNIMEP.

A sua primeira candidatura a cargo legislativo foi quando?

Foi em 1992, para inaugurar o Partido dos Trabalhadores em Águas de São Pedro. Fui candidata a vereadora. Foi um período em que sofri muito, eu lecionava, havia uma forte resistência contra o PT, usaram de expedientes nem um pouco éticos para saber se eu ministrava aulas sobre o PT! Você nem imagina cada coisa sem sentido que foi feita. Mas no fim acabou tudo bem. Essa história de “escola sem partido” vem de anos! Eu lecionava Literatura Comparada. Nunca pedi que o aluno trouxe determinado livro, e se tivesse que adquirir determinado livro eu me virava para os alunos terem. Por que eu não pedia livros? Eu dizia: pega qualquer livro de literatura, vamos ver como a literatura foi abordada no transcorrer de vários séculos. Era muito interessante! Lembro-me quando ia trabalhar escansão de versos (Em literatura, a contagem silábica recebe o nome de escansão uma espécie de decomposição dos versos em seus elementos métricos.), alguns alunos diziam: “Ah! Dona! Isso ai é divisão silábica! ”. Eu afirmava que não era uma simples divisão silábica, isso nos remete a quem pode ter uma cultura erudita e quem não pode. Se você pegar as cantigas populares, até o “Nana, Nêne”, verá que não passa de 5 ou 7 sílabas poéticas. Se pegar o Dante Alighieri ou pegar qualquer outra leitura clássica eram de 10 a 12 sílabas poéticas. Acaba acontecendo que na classe superior, era para uma minoria. Isso dava margem a imaginarem que eu dava aula do PT! Classes populares, cantigas populares. Nós não teríamos direito a ter acesso a cultura erudita. Hoje podemos ter esse acesso. O poder econômico determinava quem poderia ter acesso e que não tinha acesso. Falamos que isso existe há séculos. A Educação é parte de um processo civilizatório.

Atualmente a senhora é Deputada Estadual, há alguma perspectiva de candidatar-se a Deputada Federal?

Vou fazer um debate, se eu continuar será como Deputada Estadual.

A bancasa do seu partido hoje conta com quantos correligionários?

Somos em 10. É a segunda maior bancada.

Como a senhora vê a volta das aulas presenciais?

O Governo do Estado de São Paulo quer abrir as escolas. Se abrir as escolas vai virar um genocídio! Fiz uma pesquisa com o Instituto dos Arquitetos do Brasil, a arquitetura tem muito a ver com a Covid-19. A escola não poderá ser a mesma, aquela que era antes do Covid-19. No mínimo uma sala de aula terá que agregar três elementos que combinem entre si: iluminação, acústica e ventilação. Um breve levantamento mostra que milhares de salas de aulas não tem condições. Com a volta as aulas, oito milhões de pessoas serão postas na rua. É um Paraguai inteirinho na rua! Hoje elas estão isoladas. Essas pessoas no mínimo serão polos ativos de contaminação.

Aquelas mães que tem que trabalhar enfrentam uma situação nova com relação a guarda de seus filhos, ou essas mães encontraram alternativas?

A flexibilização não está acontecendo agora, ela aconteceu desde o mês de maio. As mulheres trabalhadoras já voltaram a trabalhar. Essa história de jogar nas costas das mulheres trabalhadoras dizendo que elas não tem com quem deixar os filhos é coisa de governo genocida, de governo que não está aguentando a pressão das escolas particulares. Lembro-me de ter visto pela televisão a declaração de um domo de escola particular afirmando: “Se as escolas públicas não estão preparadas, as escolas privadas estão”. Nenhuma escola está em condições de receber alunos, nós estamos em plena pandemia. Não estamos em um pós-pandemia. Temos que aprender com as experiências de outros países. Em todos os países, as escolas foram as primeiras a serem fechadas. E serão as últimas a serem abertas. A Nova Zelândia abriu as escolas, houve reinicio de pandemia, fechou novamente as escolas, é a ciência que tem que dar a resposta, e não um gestor que nunca pisou em uma escola pública. As crianças são assintomáticas, elas irão passar esse vírus para suas famílias. São vetores.

Piracicaba está tendo uma boa representatividade no poder legislativo, concentrando seus votos em políticos residentes na própria cidade ou em seu entorno, intimamente ligados a cidade. Isso é uma característica importante?

Tenho lutado muito a favor de quem depositou sua confiança em mim. No passado Piracicaba era uma fonte do saber, com vultos ilustres, ela tem um parque industrial muito forte, as maiores universidades estão com suas instalações aqui. Tem ciência, tecnologia, inovação. Hoje estamos vivendo mais do mesmo.

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