sábado, agosto 10, 2013

LAIR BRAGA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 10 de Agosto de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/

ENTREVISTADO: LAIR BRAGA



Lair Braga foi batizado na igreja católica como Lair Benedito Braga, pelo fato de sua mãe ser devota de São Benedito, consta, no entanto em seu registro de nascimento em cartório Lair Braga. Natural de Cajobi, localidade próxima a cidade de Olímpia, nasceu a 16 de julho de 1954, filho de José Braga e Adélia Caetano Braga que tiveram além de Lair os filhos: Maria Aparecida, Luiz Carlos, José Carlos e Neide Aparecida. Seu pai trabalhou na agricultura até tornar-se funcionário público. Lair é casado com Regina Aparecida Amélia Souza Silva Braga, tem quatro filhos: Menderson, Melissa,Michela e Maxwell, três netos: Vitória, Juninho e Samuel.

Você morou na área rural por quanto tempo?

Minha infância praticamente foi na roça, estudei em escola rural, no tempo em que uma única professora colocava em uma sala alunos de quatro séries diferentes: 1º, 2º, 3º e 4º anos. Minha professora foi a inesquecível Alice Fuso Ramos. Se perguntar a muitas pessoas como funciona o aparelho respiratório, algumas terão dúvida em responder. (Lair Braga cantarola na forma que aprendeu) “Nariz, laringe e brônquios, traquéias e pulmões/ São órgãos que executam nossa respiração!/ Entra o ar/ sai o ar/ para o nosso pulmão/ É assim que se faz a respiração!” No segundo ano de escola eu já sabia como funcionava o aparelho respiratório. Essa professora dava aulas fazendo música. Lair cantarola outra música que aprendeu com essa professora; “O sapinho sobe e desce/ sobe e desce sem parar/ o sapinho não se cansa/ o sapinho é criança”.

Lair esse método de ensino fez com que até hoje você se lembre das lições.

Estamos falando de aulas que tive em 1961, no Grupo Escolar Monte Alegre, em Olímpia. No sítio chamávamos a estrada de “reta”, eu ia a pé até a reta, saía do Sitio do Macarroneiro, isso porque o dono do sítio tinha uma fábrica de macarrão em Olímpia, andava um quilometro e meio a pé, com um embornal ou picuá, a professora passava com uma charanguinha, um Fordinho 1929 com carroceria de madeira, dirigido pelo seu pai, que mais tarde veio a ser meu patrão. Eu e mais um amigo, o Tigó, íamos de carona, na carroceria. Íamos contentes até a escola. Voltávamos de carona até a beira da estrada. Quando chovia nem a professora ia lecionar, a estrada era de terra, não tinha condições de transitar. Quando mudei para a cidade continuei os estudos no “Grupo Escolar da Vila São José” em Olímpia. Ginásio e colégio estudei na “Escola Ginasial e Colegial Capitão Narciso Bertolino”.

Nesse período em que estudava também trabalhava?

Comecei a trabalhar com seis anos de idade, trabalhava na roça com o meu pai, em Tabapuã. Meu pai tirou uma varinha de um pé de café, naquela época limpava-se manualmente o tronco do pé de café, tiravam-se todas as folhas, eram jogadas na “lera”, com a varinha eu puxava as folhas, depois vinham pessoas que “derrissavam” o pé de café com as mãos, caia todo aquele café no chão que estava limpinho, sem folhas. Meu pai peneirava o café, jogava as folhas fora, colocava o café nos sacos, arrastava até o final da rua de café, onde tinha um “picadão”, a tarde o carro de boi passava e levava as sacas de café para o “terreirão”, ali no piso de tijolos era colocado o café para secar. No sítio do Macarroneiro eu comecei a estudar de manhã, quando voltava ia cuidar de uma plantação de melancias, era uma área com uns 200 metros de largura por 500 de comprimento. Eu ficava sozinho, aguava cova por cova, existiam quatro tanques enormes de água, com dois regadores eu aguava as covas de melancia. A rama do arroz era utilizada para aquecer várias plantações, inclusive a melancia, que assim cresce mais rápido. Ficava no melancial até as cinco e meia da tarde, o genro do Macarronero era o Zeca Rabatoni, era meio durão. Eu experimentei daquelas melancias que eu cuidei só quando ganhei uma melancia e uma violinha de madeira, com corda de nylon, no Natal. Fico revoltado quando dizem que é escravidão colocar uma criança ou um adolescente para trabalhar. Eu só agradeço a Deus por ter sido educado assim, trabalhando. Quando você valoriza cada gota do seu suor, torna-se uma pessoa muito rica em valores morais, dignidade, caráter. Infelizmente um grande meio de comunicação que é a televisão, em especial as novelas, propagam valores deturpados, violência, imoralidades, corrupção, que influenciam no comportamento de pessoas inocentes. São fatos fictícios transmitidos como acontecimentos cotidianos. E ninguém fala nada a respeito disso.

Como formador de opinião você tem alertado seus ouvintes, inclusive instituições, que deveriam sair da inércia em que se encontram?

Falo sem medo de errar. Não sou radialista apenas por ser, aliás, eu não quis ser radialista. Estou nessa profissão porque acho que fui escolhido para exercê-la. Tenho que atuar muito bem, não é me calando, não é me corrompendo, não é vendo essas coisas erradas e ficando quieto. Aqui exerço a função do radialista: informar, formar opinião, fazer prestação de serviços, ajudar ao próximo, e ter a minha opinião própria. Só me sinto profissional dessa forma.

Retomando a linha do tempo, nesse período em que você cursou o ginásio e o colegial você trabalhou?

Eu era engraxate. No início eu não conseguia trabalhar na praça central de Olímpia. Era um grupo fechadíssimo de engraxates. Na época da política café-com-leite, São Paulo produzindo café e Minas Gerais produzindo leite, o fato de Olímpia ser uma confluência entre os dois estados, na área central do jardim, em frente ao Banco do Brasil, negociava-se muito, bois, café. Esse pessoal usava botas, botinas, ali os engraxates ganhavam muito dinheiro, era uma área disputadíssima, gente que estava ali a cinco, oito, dez, anos. Havia uns 12 engraxates na praça, lembro-me do Bertassi. Tinha engraxate que era chefe de família.

Quem fez a sua primeira caixa de engraxate?

Eu mesmo. Fui ao mercado, peguei uma caixa de sabão Eureka, não tinha o pé, não consegui fazer, coloquei duas tábuas pequenas para o freguês colocar o pé. Minha mãe me deu uma escova que usava para limpar o paletó do meu pai. Como não tinha nem graxa, fazia “limpadas” de sapatos. Eram sapatos que não precisavam ser engraxados, apenas lustrados. Eu insistia e conseguia que o cliente deixasse limpar o sapato. Por uns dois ou três dias juntei um dinheirinho comprei a primeira lata de graxa, era da marca Duas Ancoras, na época tinha outras marcas, como Mundial, Saci, engraxate bom só tinha graxa ODD. Comprei uma escova do Osvaldo, cujo apelido era Pelé, para pagar quando tivesse dinheiro. Com dez dias de praça eu já tinha comprado uma escova para sapatos marrom, uma escova para sapatos pretos, assim como graxa marrom e preta. Descobri que os engraxates saiam às cinco e meia da tarde para irem ao cinema assistir filmes como Batman, Maciste, Tarzan, às oito horas da noite, no Cine Olímpia. Eu ficava sozinho, então entrava na praça. Havia uma fonte luminosa, era uma época romântica, os homens circulavam a praça em um sentido e as mulheres no sentido contrário. Trocavam olhares, bilhetinhos. Tinha um alto falante no meio da praça onde ficava tocando músicas transmitidas diretamente da Rádio Difusora de Olímpia. Comecei a ganhar muito dinheiro, das seis horas da tarde às dez horas da noite só eu ficava engraxando sapatos. No domingo era a mesma coisa, eles iam embora às onze e meia, meio dia, para voltar à matinê. Domingo à tarde eu ficava sozinho na praça. Muitos iam ouvir jogo de futebol na praça com rádio a pilha Mitsubishi. Não tinha nada transmitido ao vivo pela televisão. Eu ia engraxando o sapato deles e ganhando muito dinheiro. De manhã eu ia engraxar sapatos a domicilio. Entrava em casas que tinham até dez pares de sapatos para engraxar. Tomava café da manhã junto com o dono da casa, ganhava roupas, sapatos que as pessoas não queriam mais. Ganhei muito dinheiro trabalhando dessa forma. Um dos engraxates era um elemento de caráter ruim, um dia ele cuspiu na minha caixa de engraxate, o Pelé que era o líder me defendeu, a partir daquele dia passei a ser respeitado não só pelos próprios engraxates como pelos clientes. Aos 15 anos eu era um dos melhores engraxates da praça. A Charutaria Esporte, cujo proprietário era Antonio Fuso pai da minha primeira professora Alice Fuso Ramos, ajudado pelo seu filho Wallace Fuso Neto, ficava na rua principal de Olímpia, era muito bem freqüentada. Iam comprar canetas Parker, Shaffer, perfume Lancaster, Isqueiro Ronson, lá tinha uma banca com três cadeiras almofadadas, onde estavam os melhores engraxates da cidade. Quando surgiu a primeira vaga fui chamado para trabalhar lá. Eu tinha 16 anos, estudava no segundo ano colegial, meus professores, meus colegas de escola iam com suas namoradas para engraxar seus sapatos, comecei a sentir vergonha. Aos sábados tinha baile no Clube Literário e Recreativo de Olímpia, eu saia da charutaria, após tomar um banho lá mesmo, meu irmão levava a marmita para mim, aos sábados o movimento era muito grande. Eu ia ao Clube para trabalhar, servir bebida, retirar copos das mesas. Nesse ínterim, minha mãe foi muito arrojada, sem meu pai saber ela comprou meio lote de terreno, onde ela mora hoje, lavando roupa de famílias, ela e eu conseguimos pagar o terreno, erguemos a nossa casa, meu irmão também passou a engraxar sapatos e ajudou, montamos uma casa engraxando sapatos e lavando roupas, meu pai carpindo terrenos. Nessa época eu tinha 17 anos.

Você continuou engraxando sapatos?

Com muita dificuldade consegui ir trabalhar na Casa de Calçados Brasil de propriedade de Osvaldo Antonio Fonseca, isso foi em 1971. Aprendi muito com esse homem, era uma pessoa de princípios corretos. Trabalhei com Alcides Fonseca, irmão de Osvaldo Antonio Fonseca e pai de Alcides Fonseca Filho, mais conhecido como Juninho, que jogou na Ponte Preta, Vasco da Gama, Corinthians, passou pelo XV de Novembro. Naquela época as pessoas compravam a fiado. Silvio Roberto Mathias Neto, o Bibi, era gerente da Rádio Difusora de Olímpia, comprava lá e eu ia receber dele na Rádio Difusora. Eu estava com 17 a 18 anos, fase em que a voz está mudando, tinha hora que falava fino, outras a voz saia grossa. O Bibi me convidou para ir aos domingos dar a hora certa no ar. Eu disse-lhe que não queria, domingo tinha que jogar futebol. Eu jogava e dirigia o Cruzeiro Futebol Clube. Com a altura de 1,80 jogava muito no gol, era um bom goleiro. O Divino, que era um tremendo de um locutor, reforçou o convite.

Você aceitou o convite de dar a hora certa na rádio?

Um determinado domingo fui á radio. Falei no microfone: “- Agora em Olímpia são 8 horas e vinte e nove minutos”. Com o passar do tempo surgiram uns textos datilografados, umas fichinhas, eu as lia no ar. Fui pegando o gosto, não ganhava nada para falar na rádio. Em rádio nunca se ganha nada, quando ganha é pouco, principalmente no interior. Há uma frase célebre em São Paulo: “São Paulo é talento, interior é vendas”. Como apresentador sou um ótimo vendedor. O reconhecimento pelo radialista nesse país é uma coisa absurda. É uma profissão bonita, mas sofrida, perigosa, nem sempre as pessoas nos entendem. Fiquei um ano na rádio em Olímpia, na Casa de Calçados Brasil. Seu Nenê Fonseca além do Juninho era pai do Paulinho, que foi um grande atacante do Londrina. Jogou no Santos. Seu Nenê gostava muito de futebol, e ouvia muito Fiori Gigliotti na Rádio Bandeirantes. Comecei a me apaixonar pela Rádio Bandeirantes, tempo em que Vicente Leporace apresentava “O Trabuco”, Salomão Esper, Hélio Ribeiro que dizia: “Aqui e agora, falando diretamente dos chapadões do Morumbi para a moça do Karmann Ghia vermelho, Hélio Ribeiro o poder da mensagem. Vou traduzir para vocês do grupo 10 CC a música I'm Not In Love, Eu não estou apaixonado.” Às dez horas da manhã Nei Costa apresentava “As Mais, Mais da Bandeirantes”. Comecei a ficar louco: “-Eu preciso trabalhar nessa rádio!”. A Rádio Difusora de Olímpia ficou pequena para mim. A minha asa tinha ficado muito grande, o vôo tinha que ser maior. Tinha que ir para São Paulo. Hoje um jovem com a idade que eu tinha na época vai brincado à São Paulo, em 1974,para um jovem de uma pequena cidade do interior era algo inóspito. Quando cheguei à rodoviária em São Paulo, na Praça Julio Prestes, e onde trabalhei no serviço de locução, você deve ter pegado alguns embarques anunciados por mim: “-Atenção passageiros da Viação Piracicabana com destino à Americana, Santa Bárbara D Oeste, Tupi, Caiubi, Piracicaba, plataforma oito. Casas Pernambucanas informa as próximas partidas, Única com destino ao Rio de Janeiro”.

Você foi com algum dinheiro?

Levei o equivalente a uns 500 reais em moeda de hoje, eu tinha três tios que moravam no Jardim Elisa Maria e Jardim Ceci, Zona Norte de São Paulo. Tio Nego trabalhava na CMTC, Tio Jair era motorista em uma empresa de engenharia e Tio Miltom, com quem fui morar, trabalhava em um ferro velho. Na rua onde fui morar o Viola, que foi jogador de futebol, empinava pipa. Comecei a sair a procura de serviço, não conhecia nada, andava muito a pé, vi escrito Rádio MG, entrei pensando que era uma emissora, é a fábrica do Rádio MG, fica na Avenida Rio Branco. Tio Jair disse-me: “Porque você não vai à Varig, faz um teste, trabalha como comissário ou outra profissão.” Fui até a Vila Mariana, onde funcionava a Rádio América, que era uma potencia na época. Tinha uma cantora chamada Tetê da Bahia dando uma entrevista, fiquei umas três horas esperando terminar a entrevista. O J. Pimentel era o diretor artístico, disse-me: “Vou fazer um teste com você”. Fiz a apresentação de música como se estivesse fazendo um programa, um noticiário, um comercial, e tinha uma frase: “-Começa amanhã a vacinação anti-rábica no município de Carapicuíba”. A palavra Carapicuíba me derrubou, não saia. Isso foi em setembro de 1974. Ele disse-me: “Em dezembro vai sair um locutor, em dezembro você volta que a vaga é sua. Só que você vai até São Caetano do Sul, procura a Rádio Cacique de São Caetano do Sul, fala que o J. Pimentel o mandou para lá. Você tem sotaque de interior ainda, São Caetano não exige muito como uma rádio de São Paulo.”
Cheguei era uma e meia da tarde, com uma fome danada, a rádio tinha uma espécie de auditório, havia um homem sentado lá na frente. Ele perguntou-me o que eu queria, disse-lhe que fui enviado pelo J. Pimentel. Ele disse-me que a vaga já tinha sido preenchida. “-O diretor sou eu”. Quatro anos depois é que fiquei sabendo que ele era o locutor que seria despedido.

Qual foi sua próxima ação para conseguir um emprego?

Comecei a rodar agências de emprego em São Paulo. Fui parar no Sindicato dos Farmacêuticos de São Paulo, na Enciclopédia Britânica. Decidi ir até a Varig. Fui trabalhar na Estatística Internacional da Varig, fiz um teste, um dos itens pedia para fazer um desenho livre, só não podia desenhar avião tinha que desenhar também o seu pai e sua mãe casando, que até hoje não entendo porque pediram. O desenho livre mais tarde eu fui entender o porquê de pedirem. Teve quem desenhou o mar, um barquinho, uma rede, um coqueiro o sol saindo atrás da montanha. Esse cidadão foi jogado para o arquivo, não queria nada com nada. Outro tinha saído da Embraer e queria trabalhar na manutenção da Varig, ele desenhou a Avenida São Luiz cruzando com a Avenida da Consolação, onde tinha o prédio do Diário Popular, desenhou aquela loucura, carros, farol, ele foi admitido e ficou por três meses em observação pelos psicólogos da Varig, até ele começar a mexer na primeira turbina de avião. Foi identificado que ele tinha hipertensão e stress.

O que fazia a Estatística Internacional?

Vinha o malote do vôo São Paulo a Nova Iorque, ali tinha o nome do piloto, co-piloto, navegador de vôo, engenheiro de bordo, da tripulação, qual passageiro voou na classe econômica, na classe especial, se tinha bagagem, se tinha excesso de bagagem. Em qual agência de turismo você comprou a passagem, eu destrinchava os trechos, vinha a distância do vôo, qual era a rota feita pelo vôo,

Qual era a finalidade desses levantamentos?

Isso tudo era codificado e transferido para os computadores, na época enormes, com rolos de fita magnética. Para transferir os dados eram utilizados os cartões perfurados. Por exemplo, a agência Monte Alegre vendia uma passagem em Piracicaba ela tinha uma comissão. Existe um manual da IATA-International Air Transport Association codificando todas as cidades, aeoportos. Quando voava congenere, dava um trabalhão. A Monte Alegre vendia uma passagem para Zagreb, localizada na Tchecoslováquia, só que na época o Brasil não tinha relações diplomáticas com os países da chamada “Cortina de Ferro”. Tinha que voar congene, isso significa, ir até Londres, Alemanha, França, se um desses países tivesse relações com a Tchecoslováquia a Varig tinha que colocar o passageiro em uma companhia aérea que fizesse esse vôo. A comissão da venda da passagem fornecida pela agencia em Piracicaba, não era até Zagreb, era até Londres. Dali para lá a Varig iria reembolsar a British Airways. Nosso trabalho era esse, desmembrar o voo todinho. Mas não era isso que eu queria como profissão. Quando entrei na Varig eu não tinha de onde tirar dinheiro. Mandei uma carta para a minha mãe, na época ela me mandou o equivalente a uns trezentos reais. Eu tinha que sair do Jardim Ceci, ir até a Praça Rio Branco, ia até a Praça Princeza Isabel, pegava um onibus rumo ao Aeroporto de Congonhas. Calculei quanto iria gastar com onibus, como iria me alimentar. Dava para comprar uma bengala, no almoço comeria metade da bengala com banana e na hora do jantar a outra metade. Estimei que dava para aguentar uns dezoito dias.

A Varig não oferecia alimentação para os funcionários?

A Neusa que era a secretária do departamento disse-me que ia mostrar os procedimentos da Varig, me mostrou o departamento todinho, seu diretor, diretor de operações em Congonhas, o Dr. Waimar, o chefe de divisão, chefes de seções, eram três o AR da área internacional, RE da área doméstica, e outro saguão só de arquivistas, tinha os encarregados de seção, a Varig funcionava em um escritório onde trabalhavam 300 pessoas, enorme, isso ao lado do Aeroporto de Congonhas. O meu salário em valores de hoje seria de uns três mil reais. Ai a Neusa foi até o Banco Nacional comigo, disse-me: “-Vamos abrir uma conta para você, o seu salário virá aqui no banco, daqui a trinta dias terá um talão de cheques”. Em seguida ela disse-me: “- Agora você vai conhecer o restaurante da Varig”, era dois restaurantes o “Cai-Mole” onde só almoçava a diretoria e o “Cai-Duro” onde almoçavam os demais funcionários. Ela me deu uma cartela com os cupons para almoçar, e se fizesse hora extra ganhava o jantar. Se quisesse havia o café da manhã. Poderia gastar até cinqüenta por cento do salário em compras na rede Jumbo-Eletro. Senti-me no céu. Existia dentro da Varig um grande comércio, a pessoa precisava comprar duzentos reais em mercadorias no Jumbo-Eletro, ela pagava na hora a um colega cento e quarenta, cento e cinqüenta reais. Com isso ele recebia o dinheiro na hora. A Varig descontava do salário 60 dias depois da compra realizada. Se ficasse doente a Varig oferecia assistência médica, no caso de ter que comprar remédios a Fundação Ruben Berta dava o medicamento para o funcionário pagar sessenta dias após a compra. O Casais, era funcionário da Varig, viu que eu estava chegando todo dia atrasado, expliquei-lhe que tomava banho as quatro horas da manhã, pegava o ônibus cinco e meia da manhã,chegava a Praça Princesa Isabel as sete horas, sete e quinze, até chegar ao aeroporto são oito e quinze. Ele disse que morava na Rua Santo Amaro, acima da Rua Maria Paula, no centro de São Paulo: “-Estamos eu e o Aguinaldo, que é o chefe da seção, é uma quitinete grande, tem uma cama que é um tipo de um sofá. Você paga só a luz e a água para nós”. Mudei para lá.

Com isso você abandonou o sonho do rádio?

Lá o pessoal ouvia muito o rádio, meu negócio não era Varig era rádio, comecei a ficar doente. Passei a ficar um pouco relapso. Tinha um chavão na Varig: “Quem está fora quer entrar, quem está dentro quer sair”. A Varig não mandava ninguém embora. E eu precisava que ela me demitisse. Eu sabia que se ficasse uns dois ou três meses no apartamento, treinando a dicção teria mais chances de entrar no rádio. Arrumei um sistema de som no apartamento onde eu gravava, ficava me ouvindo. Gravava o Nei Costa, ficava ouvindo o estilo do Nei Costa, gravava o Hélio Ribeiro, queria falar igual a ele, gravava o Ferreira Martins. ( Lair Braga imposta a voz e imita Ferreira Martins: “- Agora no Programa da Tarde, 14 horas e mais vinte e oito minutos, esse é o Programa da Tarde, aqui Ferreira Martins!”. Um dos maiores locutores que conheci até hoje. Jorge Helal, Humberto Marçal. Comecei a ficar relapso, queria ser mandado embora. Fui estudar no Cursinho Anglo Latino,na Rua Tamandaré, junto com meus colegas Carlinhos e Ivan, com quem eu passei a morar na Rua São Sebastião. De tanto eles me incentivarem, acabei indo fazer o cursinho, comecei a gostar de ciências exatas, engenharia. Na época eu já estava virando playboy, usava calça Lee, camisa vermelha de listrinha, era a onda. Não era qualquer um que tinha calça Lee, você comprava calça US Top na Nassuma em Piracicaba. A primeira calça jeans que eu tive foi uma Far-West, usava tênis Bamba Maioral. Me levaram para o pior setor que tinha dentro da Varig, era onde apareciam muitas divergências de acertos de contas com agências de viagens, eu tinha que analisar os dados do computador, ver onde foi cometido o engano, e estornar os valores. Quem comandava isso era um grupo de auditores. Comecei a ficar bom naquilo, a me apaixonar pelo serviço. Era desafiante, pegar uma passagem que foi vendida em um subúrbio de Sófia, na Bulgária. Ai descobria que essa passagem foi vendida na Alemanha. Queriam me passar para auditor júnior. Disse ao Dr. Waimar: “O senhor não vi fazer isso comigo! Eu tenho que voltar para a rádio”. Ele insistiu para que eu permanecesse, mostrou o quanto eu tinha crescido dentro da Varig, e que tinha a possibilidade de crescer muito mais, ele sabia que eu estava fazendo cursinho, com muito custo consegui que ele me dispensasse.

Você chegou a viajar pela Varig?

Não! Eu tinha medo de voar, embora tivesse a oportunidade de viajar quando quisesse.

Após conseguir ser dispensado da Varig qual foi o seu próximo passo?

Levantei um bom dinheiro, referente a férias, décimo terceiro salário e outras obrigações trabalhistas, me tranquei no apartamento, e treinei muito a locução. Um dia peguei a Folha da Tarde e li: “Precisa-se de locutores, tratar na cabine de controle da Rodoviária de São Paulo”. Fui lá. Era para anunciar embarques. O salário era melhor do que eu ganhava na Varig. Isso porque além de fazer a locução fazíamos estatística. Quando o locutor anunciava: “Atenção passageiros com destino a Arujá, Santa Isabel, oito horas e deis minutos, empresa Pássaro Marrom”, “Passageiros da Única com destino ao Rio de Janeiro, oito horas e quarenta minutos, plataforma 22”. No final do dia tinha que fazer estatística de quantos ônibus foram anunciados da Zefir, da Urca, Cometa, Impala. A receita da rodoviária, que pertencia ao Grupo Folha, era em função dos embarques realizados. Nós ganhávamos por aquilo também. Tínhamos uma jornada de trabalho de sete horas, quando o teto era de cinco horas, ganhava hora extra. Entrava às seis horas da tarde e saia a uma hora da manhã. Um dia o Beto, que trabalhava conosco e hoje mora em Londres, era irmão do Antonio Celso diretor artístico da “Excelsior, A Máquina do Som”, me disse: “Vai agora a Rádio Clube de Santo André” que estão precisando de um locutor. Fui até lá, ela pertencia a Antonio Delfiol, que anunciava “Mappin! Aberto até a meia-noite!” e que fazia o Jornal da Jovem Pan também, dizia sempre quando davam a hora certa: “Repita!”. Disseram que iam fazer um teste comigo, era para dar um boletim ás cinco para sete da manhã. Só quem tinha que redigir esse noticiário era eu. Fui ser rádio-escuta. Garanto que quem é rádio-escuta é um tremendo de um redator. É o bê-á-bá da noticia. Anotava com a caneta, abreviava na folha, depois eu fazia a minha redação da notícia e apresentava. Era a única coisa que eu fazia dento da rádio. Ganhava pouco para fazer isso. Chegava às seis horas, fazia o noticiário às sete horas, pegava o trem e vinha embora. Conciliava com o trabalho na rodoviária. Ia dormir a uma e meia da manhã, levantava lá pelas cinco horas da manhã, passava pelo Viaduto Maria Paula, ia até a Liberdade, pegava o metrô, descia na Estação da Luz, pegava o subúrbio e ia para a rádio. Ficava como rádio-escuta ouvindo a Rádio Eldorado, pegava alguns jornais, lia as noticias. Em um sábado faltou um locutor, Wilson Santos, ele fazia um jornal das onze horas ao meio dia. O que tinha acontecido na semana, no sábado das onze ao meio dia era dado nesse jornal. O Delfiol disse-me: “Lair, vai lá e faça!”. Nunca mais o Wilson Santos fez o jornal, eu passei a fazer, aí, o Divino, lá de Olímpia, me ligou dizendo: “Lair! Estou ao lado do Beto Mansur que se tornou prefeito, ele é filho do Paulo Mansur, dono da Rádio Cultura de Santos, ele ouviu você hoje, quer que você venha se possível ainda hoje”. Peguei o ônibus e fui para Santos, nunca tinha ido a Santos, nunca tinha ido a uma praia. Quando cheguei e vi aquela cidade daquele jeito, a rádio ficava na Praça Independência, no final da Avenida Ana Costa, no coração do Gonzaga. O Divino chegou para trabalhar vestindo sunga, todo o mundo de maiô, pensei: “Que mundo que é esse?”. Eu tinha quase 21 anos. A Rádio Cultura de Santos funcionava em AM com link com a Rádio São Vicente FM. Fui registrado em carteira como locutor e apresentador. Permaneci na Rádio Cultura de Santos por um ano. Eu sabia que o Grupo Frias de São Paulo, tinha ligação com a rodoviária de Santos. Fui admitido para trabalhar no dia seguinte. Passei a trabalhar na Rádio Atlântica a noite, e sendo redator na Rádio Tribuna. Conheci minha esposa Regina, que era de Charqueada e foi parar em Santos, era enfermeira na Santa Casa de Santos. Cansei de Santos, o meu objetivo continuava a ser trabalhar na Rádio Bandeirantes. Voltamos para São Paulo, eu tinha conhecido na Rádio Cultura de Santos um amigo chamado Ednelson, ele veio trabalhar fazendo chamadas na TV Tupi, disse-me que o Delfiol tinha perguntado sobre mim. Peguei um ônibus, fui até a Jovem Pan, cheguei lá 9:10, estava descendo do elevador o Delfiol e o comentarista Orlando Duarte. Fomos tomar um café, Delfiol mandou-me ir à Record, procurar Antonio Covas Júnior diretor de jornalismo da Record, ou Edson Guerra. Fui fazer um teste. Em outro estúdio tinha um sujeito com chapéu panamá, surrado, nariz enorme, uma porção de latas batendo de lá para cá, eu pensava que era naquele estúdio, fui entrar quando me disseram: “Não entra ai!”. Aquela pessoa era o Zé Bétio! Era o maior nome da emissora. Foi o primeiro susto que tive dentro da Record, quase entro no estúdio de gravação do Zé Bétio. O Rufino era o operador de som dele. (Lair Braga imita com muita semelhança o Zé Bétio fazendo um dos seus comerciais: “Gente! Dona de casa! Marido chega cansado, nem toma banho, cai no sofá, começa a roncar, dona de casa, dê Vitasay pra ele dona de casa, a senhora vai ver, faça o que o Zé Bétio está mandando, dona de casa!). Tornamo-nos amicíssimos depois. Com Gil Gomes tive pouco contato.

Você passou a trabalhar na Record assim que chegou lá?

Fui apresentado ao Edson Guerra, ele me perguntou se eu poderia iniciar no dia seguinte. Disse-me que eu iria fazer “Record em Notícias” no horário do Altieris Barbiero. “Depois você faz no programa do Dárcio Campos e entra uma vez no horário do Zé Bétio”. Eu ficava na rádio das 13 às 18 horas, das 18 às 19 apresentava um jornal, pela FM Record, posso afirmar que fui um dos primeiros locutores de FM em São Paulo. Na época só Tinha a Record FM, a Gazeta FM e a Eldorado FM. A Record foi precursora em jornalismo FM, lá tinha um editor chamado Isidro Barioni. Comecei a fazer um programa policial chamado “Record de Plantão na Madrugada”, entrei em uma linha de investigação junto com a polícia. Eu ia aos locais dos fatos, redigia a matéria, montava o enredo. Ficava no ar das duas a três horas da manhã. Dia 23 de dezembro de 1978, o departamento de jornalismo foi extinto, por razões internas da rádio.

Qual era a sua relação de amizade com o Zé Bétio?

O Zé Bétio foi um grande amigo, até hoje eu tenho uma agenda antiga onde está marcado o telefone de residência de Zé Bétio. O Zé gostava de mim porque eu era do interior. Ele era de Lins.

Após sair da Record para onde você se dirigiu?

Fui até a Rádio Gazeta onde trabalhava o Agnaldo de Barros, conhecido como “Gato”. O Nei Gonçalves Dias tinha um horário na Rádio Gazeta, com o patrocínio da Sabesp e pelo Banespa. Nei é muito inteligente, um grande jornalista. Através do Isaias que editava o jornal comecei a participar do programa. O Agnaldo disse-me que a Rádio Iguatemi de Osasco, estava procurando um bom locutor. Era uma rádio de ondas tropicais, de propriedade de Joaquim Navarro, que fez a personagem Capitão América na televisão. Quem comandava a rádio era seu filho, Joaquinzinho. O diretor artístico era Athayde Teruel, natural aqui de Santa Bárbara D`Oeste. Ele apresentou-me Euler Pitz Prado que estava lá na Rádio Iguatemi de Osasco. Eu me senti em casa lá. A rádio falava para o mundo, pelo seu longo alcance atingia França, Suriname, diversos países. Ouvintes brasileiros ligavam para a rádio, dizendo: Estou aqui em Nice, na França ouvindo a rádio!”. Ai apareceu J. Pimentel dentro da Rádio Iguatemi. O Paulo Buck de Oliveira fazia chamadas na Televisão Gazeta, perguntou-me porque eu não ia à Jovem Pan: “Estão precisando de um locutor para o noticiário de lá”. Fui até a Rádio Jovem Pan, José Carlos Pereira me recebeu, fiz um teste, Fernando Vieira de Mello e Tuta é que contratavam Entrei na Jovem Pan onde permaneci até 1980. Edson Guerra estava na Rádio Bandeirantes, um dia me ligou convidando para ir trabalhar lá.

Era o seu sonho trabalhar na Rádio Bandeirantes, você foi?

Era para fazer o programa “Bandeirantes a Caminho do Sol”, das duas da manhã até as cinco e meia da manhã. Nessa época eu já estava fazendo o programa “Varig é Dona da Noite” na Jovem Pan, patrocínio Eduardo`s Restaurante e Varig. Acontece que a Bandeirantes já não era a Rádio Bandeirantes de antes. Hélio Ribeiro já tinha saído de lá e ido para a “Voz da América” de Washington, Nei Costa, Ferreira Martins, já não estavam mais lá. Vicente Leporace, Humberto Marçal, tinham morrido. Jorge Helal só ficou gravando comerciais. A Rádio Bandeirantes já não era a mesma que eu queria. O sonho acabou. Na Fundação Casper Líbero eu fazia das oito da manhã até a um hora da tarde chamadas da TV Gazeta, algumas gravações, fazia o jornal do Nei Gonçalves Dias, atravessava a Avenida Paulista a uma hora da tarde, entrava a uma e meia da tarde e fazia a Jovem Pan até as sete horas da noite. Apresentava o “Jornal da Tarde” na Jovem Pan, depois fazia “São Paulo Agora” com Sabá e José Nello Marques. Das 18:00 ás 19:00 fazia a “Hora da Verdade”. Com Franco Neto, Odair Batista. Era contratado da N. Matsuda que fazia o programa “Imagens do Japão”. Um dia estava dentro do estudio com Antonio Alexandre, conhecido como Capota, irmão do Nelson “Tatá” Alexandre que junto com Carlos Roberto Escova fizeram muito sucesso no programa “Perdidos na Noite”, início da carreira de Fausto Silva na televisão.



 
O que o trouxe à Piracicaba?

Motivado por razões familiares, decidi vir para o interior, o Antonio Alexandre sugeriu que eu procurasse a Rádio Difusora de Piracicaba, FM, que estava em seu inicio, e fazia gravações com Antonio Alexandre. Eu estava sempre vindo para Charqueada, onde a minha esposa tem familiares.Trouxe uma mensagem do Capota para o Luiz Hercoton, sobre umas gravações. Ele pediu que eu gravasse um texto. Gravei Loteamento Ruama e Auto GT Concessionária Fiat para Piracicaba e Região. Gravei também anúncio da Porta Larga. Hercoton chamou o José Soave, disse-lhe: “Ouça isso aqui!”. O operador era o Claudinei Vaz. Em agosto de 1980 vim trabalhar na Rádio Difusora de Piracicaba. Um dia conversando com a proprietária da rádio Dona Maria Figueiredo, ela se referiu a um alemão, que se vestia bem, apresentável, era o maior vendedor da Rádio Difusora. Tenho gratidão aos meus patrocinadores como Charm Cosméticos, Alves Grill, Jaú Serv Supermercados, Drogal, Tanger, De Manos Magazine, Paulo Automóveis, Paulo Imobiliária. Lanchão do Mário.


 
Qual é o seu bordão?

Eu diria que o Lair é arroz com feijão, bife e ovo frito. Dirijo-me ao povão mesmo. Faço programas para as classe B,C,D.E.F e muitas pessoas da classe A me ouvem. Vim do povo, minha origem é essa.



 
Quais são os programas que você apresenta atualmente na Rádio Difusora de Piracicaba?

Faço “Sertanejo Nota 10” das quatro às nove horas da manhã, das 17 às 20 o “Rodeio Difusora”.

 
 

Pe. GIOVANNI MURAZZO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 03 de agosto de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

ENTREVISTADO: Pe. GIOVANNI MURAZZO



Giovanni Murazzo é o pároco da Igreja Imaculado Coração de Maria, também conhecida como Igreja da Paulicéia. Nunca gostou de ser chamado de pároco e sim de animador missionário. Nascido a oito de julho de 1936, na Itália, em Palata, na região de Molise, Padre Gionanni Murazzo è um dos cinco filhos de Giuseppe e Zara Filomena Murazzo: Tereza que faleceu aos catorze anos de peritonite, Michele (Miguel), Alberto, Giovanni, Tereza (nome dado em homenagem a primeira filha). Seus pais eram agricultores que cultivavam de tudo um pouco: trigo, milho, feno que era dado como alimento ás vacas, tinham ovelhas, porcos, galinhas, coelhos. A terra era propriedade da família. Carismático, escritor com mais de uma dezena de livros publicados, em português e italiano, comunicativo, culto, estudioso e pesquisador, um missionário espalhando sementes de fé e esperança. No Brasil conviveu com D. Helder Câmara, D. Luciano Mendes, D. Paulo Evaristo Arns. Foi ordenado sacerdote pelo cardeal africano Rugambwa, primeiro cardeal negro da história. Exerceu seu sacerdócio por dez anos em uma região inóspita, a Ilha da Sardenha. Veio como missionário para o Brasil onde trabalhou no Rio de Janeiro, São Paulo. Em 1987 retornou á Itália onde permaneceu até 1995, ano em que veio para Curitiba e Guarapuava. Transferido para São Paulo, foi por sete anos, Superior Provincial dos Missionários Xaverianos. Em 19 de junho de 2011 foi nomeado Pároco da Paróquia Imaculado Coração de Maria, da Paulicéia. Sua obra “Cruzes no Caminho” é um bálsamo para os dias atuais onde Padre Giovanni reuniu relatos de experiências muito fortes e positivas, vividas por fiéis que o conheceram.

O senhor nasceu em 1936, vivenciou a Segunda Guerra Mundial, embora ainda criança, lembra-se de algum episódio?

A guerra durou de 1939 a 1945, senti falta de segurança, ameaça de morte de dia e de noite, a minha cidadezinha foi bombardeada por aviões durante o dia e a noite por canhões. Ali foi palco de batalha entre americanos e alemães. Em uma tarde uma bomba caiu a 20 metros da minha casa, eu estava sentado na porta, a casa pulou como se fosse uma caixa de fósforos, ao lado passavam duas crianças que faleceram. A noite a família dessa crianças se hospedou em nossa casa, quando uma bala de canhão caiu sobre nosso telhado. Estou vivo por um milagre. A bala quebrou o andar superior, a cozinha, e embaixo o porão. Essas são as lembranças mais trágicas que tenho daquele período. Os agricultores não passaram fome porque tinham uma reserva de trigo, de milho, embora em determinados tempos os invasores sequestraram tudo, as famílias tinham que se virar. Ao menos naquela região da Itália não chegamos a passar muita fome.

Com que idade o senhor começou a trabalhar?

Como na história Os Três Pastorinhos de Fátima, onde Lúcia de Jesus dos Santos tinha onze anos, Francisco Marto nove anos e Jacinta Marto sete anos, durante as férias eu deixava a cidade, na verdade um lugarejo onde tinhamos uma casa, para onde meu pai voltava todas as noites, nesse período em que eu ia à area rural cuidava das ovelhas, das vacas, dos porcos, a distância entre a nossa casa e a chacara era de um quilometro e meio. O reitor do seminário nos recomendou que nunca deixasemos de ir a missa, um dia disse a meus irmãos que ficaria trabalhando até as seis e meia, depois iria embora. Eles não levaram em conta, eu fui a missa, as vacas foram para a vinha e deram um prejuizo. Meu irmão disse-me: “ -Mas você participa de tantas missas durante o ano, porque quer ir a missa agora que está de férias?”. Eram convicções profundas que os educadores nos passavam. Deus em primeiro lugar. Missa em primeiro lugar. O fato das vacas darem prejuizo ás vinhas para mim era um fato secundário.

Como se deu a descoberta do senhor pela vocação sacerdotal?

Naquela época a maioria da população trabalhava nos campos, permaneci com meus pais até 14 anos, quando fui para o seminário. A minha vocação está ligada a um padre xaveriano, Padre Alexandro Pataconi era um missionário muito alegre, divertido, ele veio de Ancona a Termoli, umas três horas de viagem, veio para ajudar o nosso pároco na Semana Santa, se hospedou na casa da minha professora do primário, Gemma Fioritti, que tinha um irmão capuchinho. Essa professora foi para mim uma segunda mãe, depois que o padre Pataconi foi embora ela fez animação vocacional, falando dos padres xaverianos, das missões na China, sobre a necessidade de outros missionários. Ela perguntou quem queria ser padre, quatro ou cinco garotos levantaram a mão. Ela então explicou que para ser padre tinha que ter boa saúde, estudar, ser religioso, rezar bastante. Eu fui um daqueles que levantaram a mão. A professora entrou em contato com a minha mãe, passou a relação dos documentos necessários. Minha mãe e eu fomos pedir uma carta de apresentação ao Padre Rafaelli Di Alessandro, um ex-salesiano, que tinha sido capelão militar e era nosso pároco. Em 1950 entrei em Ancona, que era a casa dos xaverianos mais próxima a minha cidade. Lá encontrei o reitor Padre Mário Veronezzi, ele tinha sido geômetra antes de ser xaveriano. Quando chegamos ao seminário, éramos três, frutos da animação missionária da professora. Padre Mário nos disse: “Mário, Vicenzo e Giovanino, assim como trem que os trouxe tem dois trilhos aqui também temos duas grandes obrigações: oração e estudo”. No ano seguinte ele foi ser missionário em Bangladesh, em 1973 foi morto durante a guerrilha, quando levava no colo um rapaz ferido. É considerado um mártir. Fiz os cursos normais de ginásio. Em Ancona fiquei só um ano, os outros anos foi em Bergamo, terra do Papa João XXIII. O noviciado foi próximo a Ravenna, onde São Guido Maria Conforti tinha sido arcebispo. Após o noviciado por um ano fiz estágio educativo, três anos de filosofia em Désio, próximo a Milão. Os últimos cinco anos eu estudei em Parma, onde fui ordenado a 13 de outubro de 1963. Se Deus quiser no ano que vem irei celebrar o jubileu de ouro, 50 anos de ordenação sacerdotal missionária.

Quem o nomeou padre?

Foi o Cardeal Rugambwa, primeiro cardeal da África, nomeado aos 44 anos pelo Papa João XXIII. Ele era alto, magro, muito negro. Foi uma benção, o nosso superior geral era de Bergamo, ele acompanhava os bispos da África, da Ásia, onde tínhamos missões e convidou o Cardeal Rugambwa.

Para onde o senhor foi designado após tornar-se padre?

Eu queria ir para o Japão, o meu superior disse-me para ir provisoriamente para a Sardenha. Esse provisoriamente durou 10 anos!

Como era a Sardenha naquela época?

Era uma época em que houve muitos seqüestros na Itália, as vítimas eram levadas para uma região de difícil acesso, existente na Sardenha. Nem os romanos conseguiram conquistar o povo daquela região. Era um lugar muito selvagem. A natureza influencia sobre nós, mas o nosso coração é que dá um sentido à natureza. Se tivermos paz interior somos capazes de ver a vontade de Deus na criação das pedras. Nas décadas 60 e 70, quando inclusive houve o seqüestro de Aldo Moro, a Sardenha ocupou o noticiário. Dois terços da Sardenha são formados por pedras, é um povo muito pobre. O único recurso é o pastoreio de ovelhas, um pouco de turismo, é uma ilha com praias. Toda a Sardenha tinha um milhão e meio de habitantes, a Sicilia, com o mesmo tamanho tinha de cinco a seis milhões.

Em que local da Sardenha o senhor viveu?

No centro da Sardenha, na província de Nuoro, na cidadezinha de Macomer. Cheguei no Brasil em 1974, voltei para a Itália em 1980, de três em três anos, quando volto para a Itália vou até a Sardenha, porque lá fiz muitos amigos. Os sardos têm no início desconfiança da pessoa estranha, é um temperamento histórico, os invasores vinham pelo mar para se apossarem da ilha. Após conhecerem a pessoa é firmada uma amizade verdadeira. Quando cheguei ao Brasil o superior regional Carlos Coruzzi me perguntou se eu me dei bem com a Sardenha, quando lhe disse que sim, ele disse-me: “Coragem! Irá se encontrar bem no Brasil! A Sardenha é como o noviciado para começar a vida religiosa aqui no Brasil.”Há em comum a religiosidade popular, lá ainda continuam a dizer “Se Deus quizer”, “Vai com Deus”, “Deus te abençoe” e também no Brasil o relacionamento de amizade é muito forte.

Quem decidiu que o senhor deveria vir para o Brasil?

Após 10 anos na Sardenha fiz o ano sabático, de aggiornamento, é um ano só de estudos, atualização, não se tem compromisso com seminário, paróquia. Fiz esse ano em Roma, no Ateneu dos Salesianos. Tive como coordenador do nosso curso o Padre Carlos Geanolla, especialista na pastoral juvenil, No segundo semestre Padre Geanolla disse-nos “ Vocês missionários são gente da galera, gente da prisão. Se queixam que a imprenssa publica tantas coisas ruins, e vocês missionários que vão para outro lugar, para outro povo, culturas diferentes, não escrevem nada, com a desculpa de que não sabem escrever, ninguém pede que sejam grandes escritores”. Para mim essa provocação foi como uma chicotada. Naquela época era muito forte a consciencia de que o missionário deixou a sua pátria não somente em nome da congregação, mas em nome da igreja da sua localidade. Incorporei essa idéia, e a cada cinco ou seis meses mandava uma carta ponte. O livro “Pequena Ponte” escrevi recolhendo todas as cartas que escrevia para os amigos, da Sardenha, da Itália. Continuo escrevendo essas cartas a cada três ou quatros meses, conto as coisas mais significativas. Ao chegar em Piracicaba, a primeira experência que contei-lhes é que aqui tem uma catequista, Josefina, que é catequista por cincoenta anos. Temos três pedreiros que trabalham para a manutenção das nossas capelas, um deles, o Wilson, me disse: “Padre Giovanni, não vejo a hora de me aposentar no ano que vem para me dedicar completamente a evangelização”. Eles está fazendo a caminhada do SINE Sistema Integral da Nova Evangelização, que o nosso bispo recomenda, missão permanente. São pequenas faíscas que procuro, para não perder a motivação que nos deu Padre Geanolla. Quando fiz a despedida na minha paróquia em 1974, ao sair da igreja fui procurado por uma senhora bem idosa, ele disse-me: “Padre Giovanni eu não escuto bem, parece que vai como missionário ao Brasil?” Disse-lhe- “Sim, Alfonsina, vou lá onde está o Padre Silvestre”. Ela tinha um filho padre que estava no Brasil. Ela então pegou as minhas mãs e disse-me: “Não faça como o Padre Silvestre, que não me escreve!”. Duas lágrimas caíram do seu rosto. Disse-lhe que faria também a parte do Padre Silvestre. Depois cobrei de mim mesmo, seja pela motivação racional de Dom Geanolla, seja pela emocional daquela mãe. O primeiro batismo que fiz foi em 13 de novembro de 1963, do neto dela, em minha paróquia, e se chama Alfonso. Quando fui ordenado éramos em 32, cinco foram ordenados nos Estados Unidos, porque fizeram teologia naquele país. Em Parma éramos 27, todos ordenados pelo Cardeal Rugambwa. Depois cada um ia celebrar sua primeira missa em suas paróquias de origem. Cheguei em Palata dia 2 a noite , era um sábado, dia 3 celebrei a primeira missa e a tarde fiz meus dois primeiros batizados, Alfonso e Gianluigi.

Em que dia o senhor veio para o Brasil?

Cheguei no Brasil no dia primeiro de outubro de 1974, viajando pelo navio Augustus, deve ter sido a ultima viagem do transatlantico. Saímos de Genova em setembro, após dois ou três dias de greve, era normal ter greve, após 12 dias chegamos ao Rio de Janeiro, onde permanecemos por seis horas, eu e o Padre Renato Gotti, fomos visitar duas irmãs que fizeram o curso conosco, em Verona, e já fazia uns cinco ou seis meses que estavam no Rio de Janeiro. Saímos do porto e ao atravessar a Avenida Brasil, o farol abriu, estava atravessando a avenida, um taxi avançou na minha direção, tive tempo de saltar, mas o meu relógio espatifou no meu pulso. Era o dia do Anjo da Guarda, 2 de outubro.

Qual foi a sua primeira impressão ao chegar no Brasil?

O Cristo do Corcovado (Padre Giovanni emociana-se muito). A acolhida do povo. Voltamos ao navio, chegamos em Santos, veio me buscar o Padre Carlos Corrucci, que era o provincial na época. Estava lá também o tio do Padre Renato Gotti, que era presidente de uma conferência de vicentinos, ele era da família Trainna. Em São Paulo tinha um bolo com a bandeira da Itália e do Brasil, escrito “Seja Bem Vindo Padre Giovanni” Fui buscar no meu baú uma garrafa de Vernaccia, um vinho da Sardenha. O Padre Domenico Costella, foi por muitos anos professor da PUC, hoje está em Curitiba, onde dá aula de filosofia na Universidade dos Vicentinos. Fiquei três meses em São Paulo para aprender a língua, morava na Vila Mariana, a nossa casa está próxima a Estação Ana Rosa do metrô, que fica depois da Estação Paraíso. Quando alguém me pergutava: “Onde mora em São Paulo?” repondia: “Além do Paraíso”. Padre Renato e eu íamos às aulas em uma escola que ficava na Rua Manoel de Nobrega. Entravamos no ônbus super lotado, na hora de sair eu não sabia dizer: “-Dá licença!”. Era sempre um desafio descer no ponto certo. O fato de aprender outra líbgua deu-me a impressão de ter outra alma, é uma experiência fantástica, como entrar em outro mundo. O meu primeiro destino foi Centenário do Sul. Diocese de Londrina. O Padre Renato deveria ir para Francisco Beltrão, Ele disse ao provincial que sofria muito com o frio e que gostaria de ir para Londrina. O provincial perguntou-me se eu aceitava. Respondi que sim, para favorever ao Padre Renato não teria nenhum problema. Fiquei por seis meses em uma paróquia que tinha 18 comunidades na Diocese de Francisco Beltrão e Parmas, próximo a Pato Branco. Havia lá outro padre, dois padres xaverianos foram transferidos, antes de mim, tinha chegado o Padre Stanislau Pirolla .O bispo que nos acolheu foi Dom Agostinho Sartori, capuchinho. Ele disse ao povo com sua voz que parecia um trovão: “-Povo de Deus. Cuide bem desses dois padres, porque uma comunidade paroquial sem padre é um corpo sem cabeça”. Ele nos chamava de Padre Lau e Padre João. Após seis meses, vieram os padres Carlos Corrucci , o vice-provincial Padre Roberto Beduschi. Fui transferido, chorei como uma criança que perdeu a mãe.

O senhor foi transferido para onde?

Fui para Centenário, e ia para Lupianópolis às quartas-feiras, sádados e domingos. O povo era muito acolhedor, comecei a divulgar nosso jornal “Cosmos”, primeiro jornal missionário do Brasil, era impresso em São Paulo, divulgado junto aos adolescentes. Após seis meses em uma assembléia, o provincial disse: “- No Rio de Janeiro existe o Diretor da Infância Missionária, um padre holandes, ele está pedindo um padre xaveriano que vá ajudá-lo como secretário, na contabilidade. “-Vocês acham que devemos aceitar esse convite?” Todos reponderam “-Sim!”. E quem devemos mandar? “-Padre Murazzo! Padre Murazzo!”. Por aclamação fiz as malas mais uma vez. Esse padre, Paulo, era colega de escola de Lefevre. Ele não sabia uma palavra de italiano e eu não sabia uma palavra de holandês. Nos comunicávamos em português. Fiquei um ano e meio no Bairro de Santa Tereza, aos pés do Corcovado, foi um período abençoado. Estavamos situados entre as mansões e a Favela dos Prazeres. No meu livro “Ide e Evangelizai”, contei algumas experiências desse período. Quando cheguei ao Rio de Janeiro, uma das irmãs paulinas foi encarregada de coordenar a Coleção Evangelização de Conversão. A irmã e diretoria de um colégio, Isabel Fontes Leal Ferreira me pediu que escrevese lguma coisa das missões. Em três volumes contei experiências que propiciam reflexões.

Após um ano e meio no Rio de Janeiro o senhor foi transferido para São Paulo?

Fiquei mais de um ano com as pontifícias obras missionárias, foi quando tive contato com Dom Evaristo Arns, divulgamos o jornal Cosmos. Isso foi em 1976, 1977.

Foi um período político bastante agitado?

Sim, Dom Evaristo era um ponto de referência. De 1978 a 1984 por seis anos fiquei em Londrina, foi na época da contestação, eu era reitor do Seminário Nossa Senhora de Fátima de Londrina. Nessa época escrevi o livro “Cêntuplo” Os seminaristas tinham uma ideologia muito acentuada. Tínhamos os cursos de segundo grau e filosofia, inclusive com vocações adultas, pessoas que entravam já com 25 anos ou mais. Foi nesse período que explodiu a revolução na diocese de Campo Mourão, onde tínhamos três paróquias e dois padres no seminário. O bispo era Dom Eliseu Resende. Em 1981 os dois primeiros padres xaverianos que vieram para a paróquia da Paulicéia eram o Padre Zézinho e Padre Zézão, este espanhol. Vim para São Paulo a pedido de Dom Paulo Evaristo Arns. Fui evangelizar em Itaquera, Guaianazes e toda aquela região. Depois de seis anos meio em Londrina fui para a Diocese de Ourinhos, para Piraju, na época era Diocese de Botucatu. Foram três anos muito abençoados. Em Piraju, em 1987, quando o Papa João Paulo II esteve em Buenos Aires mandamos quatro jovens para representar o Brasil Na época eu fazia um programa na rádio, juntamente com os jovens era um programa voltado á juventude. Foi quando nasceu um livro com a experiência daquela época.

O senhor voltou à Itália?

Estava em Piraju quando fui chamado de volta à Itália, para mim foi a morte, como se estivesse indo para o exílio. A Direção Geral ficou sabendo do sofrimento por que tinha passado em Londrina. Faz parte da rotina, um xaveriano após 5, 10, 15 anos em missão em outros países, ser chamado de volta para a Itália. Para se reciclar e dar uma consciência missionária, formar missionários. Fui a Désio e lá fiz parte da equipe que tinha esse trabalho. Foram oito anos abençoados, lá estava o Cardeal Martini, era uma diocese que conseguia cativar os jovens através da bíblia. Em 1995 voltei ao Brasil, fui destinado para Curitiba onde Dom Pedro Fedalto pediu que animasse as vocações. Por três anos fiquei morando no seminário no bairro Vista Alegre das Mercês. Era uma capela dos frades capuchinhos que se tornou paróquia, fiquei a disposição da diocese. Fazíamos encontros missionários. No livro “Cêntuplo” tem vários testemunhos de pessoas de Curitiba.

Quantos livros o senhor já escreveu?

Onze livros. Escrevi na Coleção Evangelização de Conversão: “Amar é ir ao Encontro”, “A Amizade Tudo Pode e Tudo Alcança”, “ Ide e Evangelizai”, “Alegria e Admiração”, também traduzido para o italiano. “A Amizade, Segredo de Felicidade” está ainda sem tradução do italiano para o português. Há ainda o livro “O Cêntuplo”, “A Ponte da Amizade”, “A Reciprocidade, Coração da Amizade”. Em duas línguas “Os Jovens e a Civilização do Amor”, escrito com Claudinei Polizel. Um livro que ajuda a refletir e meditar para melhorar a nós mesmos e o relacionamento com os outros.

O senhor está lançando um novo livro?

É o livro “Missionário – Ternura na Família Trinitária” com o subtítulo, “Entrevista ao Jubilando Padre Giovanni Para os 50 Anos de Sacerdócio Missionário”, é uma entrevista do começo ao fim, Claudinei Polizel me fazia as perguntas e eu respondia. Comecei a escrever esse livro no dia 13 de maio de 2012, dia 13 de maio deste ano, 2013, Claudinei Polizel me surpreendeu, trouxe o livro impresso para a primeira revisão. Será lançado no dia 17 de agosto de 2013, na livraria Nobel do centro de Piracicaba, às 10 horas da manhã, um sábado.

Como o senhor chegou a Piracicaba?

Em 11 de janeiro de 2011 terminei o segundo mandato de provincial em São Paulo. O pároco daqui foi eleito provincial, disse-me: “–Agora você fica em meu lugar”. Nós xaverianos fomos feitos para animação missionária. Eu queria fazer o mesmo trabalho que já tinha feito em Curitiba, no Rio de Janeiro, São Paulo. Ele pediu novamente que ficasse nesta paróquia, aceitei e no dia 18 de fevereiro de 2011 o bispo Dom Fernando me apresentou ao povo. Atualmente sou pároco de 20 comunidades, para serem cuidadas por três padres: eu. Padre Humberto e Padre Lucas.

Recentemente o senhor esteve em Aparecida do Norte?

Concelebrei a missa com o Papa Francisco, de quem fiquei a 100 metros do Papa. Quem me levou foi Osvaldo Schiavolin, conhecido como “Tozon”.

Qual foi a impressão que o senhor teve do Papa Francisco?

Uma simplicidade como a água, o sol, o fogo. Ele fez uma homilia muito breve, uma celebração muito simples, cativou todo o mundo. Os três pensamentos também foram muito bonitos: Primeiro manter viva a esperança, segundo pensamento abrir-se as surpresas de Deus, devemos descobrir as surpresas de Deus e finalmente a alegria. Alegria de Francisco de Assis. O verdadeiro cristão não pode ser pessimista, deve testemunhar a alegria. Além dos conteúdos, das homilias, das reflexões, o que mais cativou foi a sua atitude de vida, sua simplicidade. Ir de encontro ao povo. Para mudar as estruturas temos que mudar a nós mesmos. Se estou nas trevas não posso testemunhar a luz.

Quando o senhor comemorará os seus 50 anos como padre?

Será dia 6 de setembro com a missa as 19:00 horas, depois da missa a confraternização com um bolo para toda a comunidade.



 

 

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