sábado, dezembro 27, 2014

JULIA SIMÕES LOURENÇO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 20 dezembro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/



ENTREVISTADA: JULIA SIMÕES LOURENÇO


Julia Simões Lourenço é filha de Walter Ribeiro Simões e Sonia Terezinha Rodondo.  O médico Walter Ribeiro Simões tem dois irmãos, tios de Julia, que são muito conhecidos pela população piracicabana, os professores Newman Ribeiro Simões e Douglas Ribeiro Simões. Julia nasceu a 17 de junho de 1977, em Campinas, tem os irmãos Fernanda e Manoel. Casada com o médico André Luiz Gervatoski Lourenço, médico hematologista e diretor clínico da Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba. Julia Simões tem a formação universitária em publicidade e propaganda realizada na UNIMEP, formada na turma de 2002. Julia e André têm duas filhas: Clara e Sofia.

Seus primeiros estudos você fez em qual escola?

Estudei em Campinas em vários colégios, mas sempre estaduais ou municipais. Quando tinha de onze para doze anos mudei-me para São Pedro. Foi um período maravilhoso, o fato de ser uma cidade menor proporcionou uma qualidade de vida superior a de um grande centro. Na minha pré-adolescência e adolescência íamos até a praça central, ficávamos até altas horas tocando violão. Ia fazer serenata. Havia muita liberdade. Em São Pedro estudei na Escola Gustavo Teixeira até a oitava série. Os três anos de colegial fiz na Escola Estadual José Abílio de Paula – JAP. Aos treze anos eu comecei a cantar em uma banda sertanejaa “Sela de Prata”, eles me chamaram para participar, eu fui, apesar de ter crescido ouvindo Caetano Veloso, Gal Costa, Beatles.

Quantos componentes tinha a banda “Sela de Prata”?

Era uma banda pequena, tinha mais um vocalista. Na época estava estourada a música “Nuvem de Lágrimas”. Tocava-se muito “Adeus Paulistinha”. A minha escola de música foi na prática, cantar em bailes, em palcos, fazer barzinho. É uma formação que eu não indicaria para a minha filha por exemplo. Para mim foi uma escola, mas acho muito importante esse contato com uma faculdade de música, que dê uma formação musical de natureza mais acadêmica.

Qual é a classificação da sua voz?

Se for classificar a tessitura (Disposição das notas musicais, para se acomodarem a certa voz) é  Mezzo Contralto. Tenho um alcance que é do contralto, embora pegue um pouco do soprano não é soprano, por isso é denominada mezzo.

Você toca algum instrumento?

Toco violão e estou apendendo a tocar piano. Não sou por definição uma instrumentista, em alguns shows me acompanho, toco algumas músicas.

Com que idade você começou a cantar profissionalmente?

Sempre cantei, desde muito pequena, tenho gravações cantando aos quatro anos de idade. Acredito que tem uma grande influência dos meus pais. Meu pai apesar de médico sempre tocou violão, sempre foi autodidata. Meu tio Douglas sempre tocou piano. Meu tio Newman não toca nenhum instrumento, mas sempre se envolveu na parte de produção, direção. Aos treze anos A minha avó materna, Emília Canhada, foi cantora de rádio. A minha avó paterna é descente de italianos, meu bisavô veio da Itália, é da família Maurutto. Da parte da minha mãe tem a origem espanhola, que originalmente era Rotondo e foi aportuguesado para Rodondo.

Você já se deu conta de que é um nome muito forte no meio musical de Piracicaba?

Acredito que sou conhecida pelo trabalho que desenvolvo. No início diziam; “A Julia, sobrinha do Douglas, do Newman!” Alguns até achavam que eu era filha de um deles Acredito que ao longo dos vinte anos que estou em Piracicaba fui construindo a minha carreira.

A Primeira Casa de Noel teve a sua participação que foi marcante!

Participei também da Segunda Casa de Noel. Neste ano de 2014 foi comemorado os quinze anos de Casa de Noel, o Bruno (Chamochumbi) me chamou, tive uma participação na noite em que ele fez uma apresentação especial.

Em São Pedro você morou até que idade?

Até os dezessete anos quando vim à Piracicaba fazer o cursinho. A princípio eu ia prestar o vestibular para medicina. Morei algum tempo com a minha avó paterna, outro período dividi um apartamento com uma amiga, e depois fiquei com a minha avó por dez anos. Quando eu estava fazendo cursinho, o dono da cantina do cursinho, o Santão, era músico percursionista, tocava na Banda Opus, fazia parte do espetáculo “Falando da Vida”. O Santão disse-me: “- Julia estão precisando de uma cantora no estúdio, você não quer fazer um teste para fazer jingle?”. Fui, adorei, comecei a ir sempre. Nesse meio tempo fui convidada pelo Souza para fazer parte da Banda Opus. Tudo isso no comecinho, isso foi em 1995. Foi então que decidi: “- Não tem nada a ver eu fazer o curso de medicina! Tem que ser alguma coisa próxima da música, da comunicação!”. Como eu queria ficar em Piracicaba, se fosse fazer música teria que ir para Campinas, iria estudar na Unicamp. Decidi ficar em Piracicaba, fui estudar publicidade, que achei que tinha o perfil do que eu queria fazer. Estava dentro da área que eu queria trabalhar, produzir jingle, coisa que faço até hoje, sou produtora de jingle. Trabalho com estúdio há 20 anos. As últimas campanhas políticas, as duas do Barjas Negri, do Gabriel Ferrato, do Machado antes do Barjas eu tinha feito. Componho as musicas e produzo.

Além de jingles voltados à política você faz outros, de cunho comercial?

Faço muitos! Fiz da Unimed, Amhpla, Drogal, Farmavip. Componho a letra, a música, locução. Faço toda parte de produção e execução também. Trabalhei dois anos na Rádio 92 FM e dois anos na Rádio 97 FM. Foi no período em que estava cursando a faculdade. Da uma hora da tarde até as cinco horas da tarde eu apresentava um programa ao vivo. Eu seguia a programação da rádio e dentro do meu horário tinha alguns quadros. Do tipo “De Coração para Coração”, que manda recadinhos, fazia tradução de música. As pessoas gostavam! Por dois anos fiquei na rádio 97 FM, o estúdio era em Águas de São Pedro, viajava todos os dias de segunda a sexta-feira.

Isso não a motivou a continuar trabalhando em rádio?

Eu adoro rádio, tenho vontade de ter um programa, mas que seja um programa meu, que eu possa desenvolver fazer uma programação das coisas que eu gosto de ouvir, que os meus ouvintes curtissem. Na época em que trabalhei em rádio fazia a programação da rádio, já era uma programação fechada, eu não intervinha em nada. Às vezes quando eu ficava sozinha na rádio, meu diretor, o Mário Cesar, até ligava dizendo; “- Julia, eu não me lembro de ter colocado essa música!”. No finalzinho da programação eu soltava uma música que eu estava a fim de ouvir! Mudava a programação!

Quando alguém encomenda-lhe um jingle é feito um estudo e uma analise do perfil do cliente e do objetivo a ser alcançado?

Quando chega para mim já vem através de uma pessoa ou agência que está cuidando da campanha. Passam-me o perfil, um briefing (conjunto de informações). Não tenho uma regra para compor, as vezes vem uma melodia, as vezes vem logo de cara o refrão da música, tem coisas que eu pego e escrevo a letra, a música vem depois. O segredo é gostar do que faz e as coisas fluem naturalmente.  Das minhas gravações em CD, um deles, que fiz com meu tio Douglas, demoramos quase 15 anos para aprontá-lo. São CDs independendentes, não há nenhuma gravadora patrocinando. Há uma grande preocupação com o arranjo, com a letra. É uma coisa bonita, artística, sem a pretensão de realizar venda em massa. Seria demagogia da minha parte dizer que não tenho o sonho de uma música minha entrar em uma novela. Lógico que gostaria de ser reconhecida, da minha música “estourar”. Não com o objetivo financeiro, mas sim como divulgação do meu trabalho. Sou conhecida em Piracicaba, talvez um pouco na região. Mas essa coisa de nacional, mundial, depende de uma estrutura de grande alcance.

O que simboliza a música para você?

A musica para mim é mais do que profissão. A musica está presente no riso das minhas filhas, na alegria de escolher uma trilha sonora para estar com os amigos, para mim a música está sempre presente. Em um batizado feito em minha casa chamei a Banda Décadas para tocar, a música tem esse poder de unir as pessoas. Independente de idiomas. Estive recentemente em São Francisco (Estados Unidos), pude ver de tudo na rua, vários artistas se apresentando na rua, cantora lírica cantando na rua, todo mundo parando para ver. Outro só tocando bateria, muita gente parando para assistir. Muitas vezes cantando em uma lingua que você nem entende, mas aquilo te toca de alguma forma. Fui a uma casa de jazz. Adoro jazz. Por dois anos cantei em uma casa de jazz em Campinas. Cheguei a participar de alguns eventos do Traditional Jazz Band quando vieram a Piracicaba, através do José Fernando que toca jazz manouche através do Hot Club. Partiipei do Primeiro Festival de Jazz de Águas de São Pedro, fui convidada pelo Paulo Caruso. Participei de alguns festivais, um deles foi em Americana, em 2007, com uma música do meu tio Douglas: “Vida e Amor”. Ganhei em primeiro lugar como interprete. Neste ano de 2014, no final de agosto e inicio de setembro, ganhei como melhor interprete no Festival de Tatuí, no evento “Certame da Canção”. A música ganhou em quarto lugar. Ganhei também um prêmio de Aclamação Popular com essa mesma musica Cantiga pra Mariana, do CD Julia Canta Douglas Simões, “Tempo de Delicadeza”.

Você está lançando um CD?

É o “Sombra e Luz”, gravei com Marcos Cavalcante, que era de Piracicaba, mora ha mais de 10 anos nos Estados Unidos, é doutor em música, foi diretor da Faculdade de Música da Unicamp, todas as composições desse CD são dele, gravamos esse CD no final de 2012,foi lançado no começo do ano e agora no final do ano saiu no iTunes.

Você é casada com um profissional que tem uma atividade completamente diferente, como é a convivência de vocês?

É otima! Ele me conheceu cantando. É o meu maior incentivador, me apoia. Apesar das nossas profissões serem diferentes, tem uma coisa em comum, cada um da sua forma cuidam do ser humano. No caso dele cuida da saúde fisica, e eu imagino que a musica cuida da saúde espiritual, da saúde emocional, que é muito importante.

No seu ponto de vista a pessoa que canta esá tratando da sua própria saúde?

Acho que sim! A música em si deixa a pessoa mais leve. Isso faz bem.

Alguns artistas de renome envolveram-se com estimulantes químicos, criando dependência, sendo que alguns até faleceram precocemente. O que os levou a isso , sob seu ponto de vista?

Logo depois que saio do palco levo algum tempo para baixar a minha adrenalina. Quando nos apresentamos ficamos em uma excitação, em uma euforia. É natural que algumas pessoas acabem procurando algum subterfúgio no alcool ou em alguma droga, que relaxe, acalme, estabilize. A coisa acaba virando um habito. Quando você está no palco não é só o cantar, você tem que lidar com muitas situações que estão envolvidas naquele momento. Você fica a berto a muitas coisas, ai tem quem acredite em vibração, energia. O artista acaba virando uma esponja, vem todo tipo de vibração, de energia.

Voce tem idéia de quantas músicas você já compos até hoje?

Isso é uma particularidade, eu não sou compositora de música! No CD “Novos Ares”até tem duas músicas minhas. Compus poucas musicas. Eu consigo compor músicas por encomenda. Por isso eu faço jingle!

Isso é uma característica rara!

Tenho facilidade para isso. Não consigo sentar e dizer: “-Ah! Vou compor uma música!”. Preciso ter um tema, alguns elementos.

Você já chegou a fazer aquele jingle tipo “voz de aeroporto”?

Já! Na verdade faço muito o que é denominada de URA - Unidade de Resposta Audível. A entrada da Santa Casa usa a minha voz quando diz: “Insira o seu cartão de estacionamento!”. Faço para bancos: “-Você ligou para Banco Tal”. Devo ter feito mais de 600 jingles, com certeza.

É uma área rentável?

Em Piracicaba eu trabalho bastante, possivelmente em São Paulo o retorno financeiro seria bem mais expressivo. Outra atividade que tive foi a dublagem, trabalhei muito tempo nessa área. Existia em Piracicaba um estúdio de dublagem, eles mudaram para São Paulo. Era de uns argentinos que moravam em Piracicaba.

Você arquiva os jingles que faz?

Tenho muita coisa arquivada, mas tem muita coisa antiga que acabei perdendo. Graças a Deus tenho meu pai e minha irmã que me ajudam nessa parte de arquivar. Há um CD que gravei em São Paulo com uma banda de forró, a Buxixo, eu não tenho esse CD, meu pai tem! Meus CDs de demonstração que gravei antes de lançar os CDs oficiais  não tenho.

Normalmente você grava em Piracicaba ou fora daqui?

Meu último CD gravei em Piracicaba, na Som Mix. O CD Novos Ares eu gravei em Campinas, isso porque queríamos gravar ao vivo, para gravar a banda ao vivo tinha que cada um estar em uma sala separada, para gravarmos, mas se por ventura alguém errasse alguma coisa depois refazia só aquele instrumento, não precisaria gravar todo mundo novamente. O único estúdio que tinha e podia realizar esse tipo de gravação era em Campinas. Em Piracicaba temos um estúdio maravilhoso, do Rogério Chiarinelli, baterista. Foi onde gravei meu mais recente CD.

Você faz regularmente shows ao vivo?

Muitos! No final do ano recebo muitos convites para realizar shows em eventos corporativos. Durante o ano além dos shows dos meus CDs, do “Falando da Vida” que tem uma vez por ano, faço mais eventos fechados: aniversários, casamentos. Tanto a cerimônia como a festa do casamento, tenho uma banda para isso. Entre a noiva chegar e o término da festa são quase três horas de música.

Você tem alguma novidade para ser lançada brevemente?

Junto com uma amiga estamos fazendo em parceria um CD infantil, tenho a pretensão de lançar no próximo ano, já temos a maior parte das músicas prontas.

Qual foi o fato mais inusitado que você realizou ou presenciou em alguma de suas apresentações?

Já fiz muita coisa, desde voz de violão onde me apresento com Otinel Aleixo, o Legal, que é muito conhecido, dá aulas. Temos um projeto muito bacana, no próximo ano já estou desenvolvendo um aplicativo para celular, é o “Julia Legal à La Carte”. As pessoas têm o habito de pedir musica, pensando com o meu marido, imaginamos em desenvolver um cardápio com as músicas que a gente faz, dividido por estilo musical, e as pessoas pedem a musica dentro do repertório que a gente faz. É tanta música às vezes a pessoa fica com vergonha de pedir. A idéia é a pessoa pedir a musica partir do seu celular, e já vir o pedido no meu iPad durante o show. A meu ver fica interativa, dinâmica. Dos muitos acontecimentos interessantes, teve um casamento em que o noivo era fã incondicional de Elvis Presley, todas as músicas da cerimônia era uma música do Elvis. Cantei. Foi muito legal. Sou muito fã da Rita Lee, em 1999 ela veio à Piracicaba, descobri em qual hotel ela estava, fui até lá, levei flores, um CD de demonstração. Escrevi uma carta enorme para ela, onde dizia que era sua fã, tinha o sonho de cantar uma música com ela. Fui ao show dela, e ela em determinado momento disse: “Queria chamar ao palco a Julia Simões que é uma cantora da cidade”. Cantei, junto com a Rita Lee. Foi muito legal. Abri show para muita gente: para Ana Carolina, já cantei com Seu Jorge , com Alcione, em um carnaval da Revista Vogue, em 2006.

Você é carnavalesca?

Atualmente não. Gostava muito quando morava em São Pedro, tinha essa coisa de bloco, a gente saia para a rua mesmo, era carnaval de rua. Já cantei muito em carnaval.  Em 2008 eu até cantei em um carnaval em que a prefeitura de Piracicaba me contratou.

Como artista e mãe de duas filhas, qual é o seu ponto de vista sobre musicas que a mídia divulga sem critério algum, influenciando crianças sem capacidade de analise e julgamento? 

Filtro muito o que eu ouço, o que ponho na televisão. Por mais que você proteja é impossível colocar um filho em uma redoma de cristal. Eu acredito muito na orientação, na educação, da minha parte vou mostrar o que é bom. Acho que a decisão deverá ser dela. A partir do momento que disser: “– Eu proíbo....” é o momento em que irá incentivar. Isso com tudo, não só com a música.

O sucesso a qualquer preço e a formação cultural prolifera essas aberrações musicais?

Muito do que é tocado em rádio tem pura motivação comercial. A partir do momento que passa a serem tocadas essas coisas, o ouvinte passa a consumir esse tipo de cultura. Acho meio utópico querer que o consumo aqui seja o mesmo da Europa, onde em  qualquer praça tem musica clássica sendo executada. Há dez anos eu me apresento com a Orquestra Filarmônica de Rio Claro, temos um projeto muito interessante que é MPB em Concerto. A minha parte eu procuro fazer, acho que cada um tem que fazer a sua. Procuro mostra isso para as minhas filhas.

Qual é o endereço do seu site?

juliasimoes.com

MARIA LAURA COSTA AGGIO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 20 dezembro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADA: MARIA LAURA COSTA AGGIO

 

 Maria Laura Costa Aggio nasceu a 1 de junho de 1946, na cidade de Pirassununga,  é filha de João Aggio Neto e Hermínia Costa Aggio, que tiveram também os filhos João Carlos e Carlos Alberto.  Seu pai era desenhista do hoje IBAMA, antes denominado Superintendência de Pesca (Sudepe), ele ilustrava livros técnicos de piscicultura. Era um verdadeiro artista, reproduzia com perfeição todas as espécies e evoluções de peixes existentes no Brasil. Eram ilustrações feitas a “bico de pena”, que permite aos artistas usufruir facilmente do chamado "efeito fino-grosso" do traço.  A letra existente na famosa “Caninha Pirassununga” é obra dele, foi ele quem fez o primeiro rótulo da famosa aguardente “51”. Além de excelente artista era também advogado, concluiu a faculdade com 59 anos. Maria Laura casou-se com Paulo Hyppolito de Oliveira em 1 de novembro de 2007.

Em que escola você estudou em Pirassununga?

Estudei no Instituto de Educação Pirassununga, desde o grupo escolar até o Curso Normal, o hoje denominado magistério. Formei-me como professora.

Pirassununga na época era uma cidade relativamente pequena?

Era uma cidade relativamente pequena, mas dotada de instituições reconhecidas não só no Brasil como no exterior. Em 1971 a Academia da Força Aérea (AFA) foi transferida para suas novas instalações em Pirassununga, município que reunia as melhores condições de clima e temperatura de todo o país para a prática de atividades de instrução aérea. da Força Aérea (AFA). Em Pirassununga está o 13º Regimento de Cavalaria Mecanizada ou Esquadrão Anhangüera, aprendi a nadar no quartel, não havia outra piscina na cidade. O meu pai tinha excelentes relações de amizade com os oficiais que nos convidavam para nadar. Aos dois anos de idade aprendi a nadar nessa piscina. Papai e mamãe gostavam muito de natação, fizeram a travessia de São Paulo a Nado, na época da Maria Lenk (Maria Emma Hulga Lenk Zigler principal nadadora brasileira, a única mulher do país a ser introduzida no Swimming Hall of Fame, em Fort Lauderdale, Flórida). Meus pais eram amigos da Maria Lenk.

Como era essa Travessia de São Paulo a Nado?

Era no Rio Tietê. Eles nadavam em uma piscina de madeira dentro do Rio Tietê. A Travessia de São Paulo a Nado era o mais badalado evento esportivo do rio e chegou a reunir 1.900 atletas. O Clube não tinha piscina. Para treinar seus nadadores e jogadores de pólo aquático, o clube, mandou fazer uma 'piscina' de 25 metros de cumprimento por uns 10 de largura. A 'piscina' consistia em dois pontões de ripas de madeira ( mais  ou  menos de 10 cm de largura e 10 metros de cumprimento, formando um retângulo). Em baixo desse pontão eram colocados tambores vazios de óleo de 200 litros. Com isso, os pontões flutuavam à beira do rio, em uma distância entre eles de 25 metros. Entre os pontões eram colocadas raias dando a impressão perfeita de uma piscina de concreto. Ali treinavam seus nadadores e jogadores de pólo aquático.
Para os sócios havia duas 'piscinas' que eram feitas da seguinte maneira: construíram uma espécie de gaiola com 1,20 de profundidade com beiradas que formavam uma espécie de corredor.  Era um retângulo de 15 metros de cumprimento, 10 de largura e 1,20 metros (uma) e 1,80 metros (a outra) de profundidade com ripas que tinham cerca de 10 centímetros de largura e deixaram um espaço entre elas para que a água entrasse. Os corredores eram feitos de tábuas que ficavam juntas umas às outras, formando um passadiço (abaixo desses passadiços eram colocados tambores vazios).
O fundo da 'piscina' era também de ripa. Essa piscina era feita de ripas de madeira e tábuas nas beiradas formando corredores em volta. Duas dessas 'caixas de sapatos' enormes eram colocadas à margem do rio e nelas, os sócios nadavam e brincavam.

Você chegou a nadar no Rio Tietê?

No Tietê não, competi em natação por uns cinco anos. Medalhas de ouro devo ter umas trinta. Minha mãe tinha muitas medalhas que conquistou na natação, ela e papai nadaram muito com Maria Lenk. Eles eram sócios do Clube Tietê moravam em São Paulo. Meu pai nessa época trabalhava no bairro Água Branca. Depois foram morar no Rio de Janeiro, em 1941 eles estava morando lá, na Praia de Icaraí, em Niterói, meu pai trabalhava junto ao entreposto de pesca. Após permanecer um tempo no Rio de Janeiro meu pai foi transferido para Pirassununga que foi quando nasci.

Até que idade você morou em Pirassununga?

Até uns 22 anos. A diversão dos jovens era “quadrar o jardim”, a rua do comércio era a Rua Duque de Caxias, Rua XV de Novembro.

Como eram os desfiles comemorativos a 7 de Setembro em Pirassununga?

Meu irmão Carlos Alberto era o instrutor da fanfarra. Eu era baliza. Isso no Instituto de Educação Pirassununga. Nessa época eu estudava balé com a Dona Muni, uma alemã. Como baliza eu dava salto mortal no quarteirão inteiro, durante o trajeto, a luva branca em pouco tempo já estava negra. Nos aniversários de cidades vizinhas como Leme, Araras, Porto Ferreira, nós íamos desfilar. Era uma fanfarra grande, muito bonita, toda uniformizada. Eu usava um tênis branco e uma polainazinha. Desfilei dos onze aos quinze anos.

Você participava dos bailes de carnaval?

Sempre ganhava premio, na maioria das vezes prêmio de originalidade. Minha mãe entrava no “quarto dos milagres”, aquele quarto onde guardamos um pouco de tudo, aos oito meses eu já estava fantasiada de Carmem Miranda, com tamanquinho de cortiça. Outro dia fui de coelhinha. Fui premiada! Ia no colo da minha mãe. Naquela época não havia carros alegóricos, tínhamos o chamado corso. Isso tudo ocorria dentro do Clube Pirassununga, onde inclusive papai foi presidente por duas vezes. Depois fui fantasiada de Marilyn Monroe, minha mãe desfiou fez a tanga, o bustiê, tudo com saco de estopa. Ganhei em primeiro lugar na categoria originalidade. Eu tinha uns sete anos, era loirinha. Outra ocasião fui fantasiada de Nega Maluca. Ganhava sempre na categoria originalidade. Eu gostava muito de dançar nos bailes de carnaval. A última fantasia que usei foi de múmia, meu pai tinha um mosqueteiro que usava quando viajava para o Mato Grosso, cortei em tiras largas, fui para o clube, toda enfaixada, tive que ir em pé, a sorte é que sou baixinha, o carro que me levou era um fusca! Por baixo eu estava com um pijama, era um calor insuportável, tomava líquido (água, refrigerante) através de um canudinho. Foi uma fantasia bem original, ganhei em primeiro lugar!

Os jornais publicavam?

Acho que nem tinha jornais em Pirassununga ainda, as fotografias ficavam expostas no próprio clube. Participei de bailes de carnaval até os meus 18 anos.

Para externar essa animação e alegria toda, você ingeria algum tipo de bebida alcoólica?

Nunca bebi nada de álcool. Na época era permitido o uso de lança-perfume, nunca utilizei esse tipo de estimulante. Alguns inalavam propositadamente e tinham paradas cardíacas. A minha alegria era espontânea! Eu acho que é uma injuria muito forte à Deus o uso de estimulantes, ele já nos deu o dom de sermos alegres. Se sentir-se constrangido em pular carnaval então não vá! Antigamente havia um grande respeito em bailes de carnaval, as famílias acompanhavam os filhos. Com o passar do tempo as coisas foram mudando. Perdi o entusiasmo em participar de bailes de carnaval.

Você tinha alguma atividade artística além do balé?

Pintei várias telas, cheguei a expor aqui no Clube Cristóvão Colombo, em Piracicaba,  onde sou sócia remida. Toquei piano por uns dez anos, hoje toco teclado. Tive aula coma a Cecília Belatto. Quando morei em Campo Grande quando íamos aos restaurantes almoçar ou jantar tinha aqueles conjuntos com artistas tocando harpa paraguaia, dois violões, contrabaixo. Havia também o Baile do Grito e o Baile do Fazendeiro. No meio do baile aquela harpa paraguaia! Davam uns gritos melódicos. Aquilo é típico de Campo Grande!  Dançava-se muito. Aqueles fazendeiros de terno, com a mão calejada da lide no campo. Tinha um deles que era conhecido como Zé do Boi, diziam que vendia boi por hora.

O que é vender boi por hora?

Diziam que abria a porteira e passava boi marcando o tempo e não número de animais, é o chamado “boi por hora”. 

Até que idade você permaneceu em Pirassununga?

Até meus 22 anos. Meu pai foi transferido para Campo Grande e mudamos para lá. Isso foi em 1968. Era uma cidade muito boa, tinha 70 anos de fundação. Eu tinha concluído o Curso Normal, após dois anos prestei o vestibular e entrei em medicina e odontologia de Campo Grande.

Como surgiu essa vocação para odontologia?

Fiz o vestibular para medicina e odontologia e entrei na Universidade Estadual de Mato Grosso. Eu tinha o dom de esculpir, me identifiquei mais com a odontologia. Eu estava cursando a faculdade, meu pai aposentou-se, e quis voltar a morar em São Paulo novamente.

Quanto tempo você morou em Campo Grande?

Foram quatro anos. Lecionei em uma escola particular: “O Reizinho”. Quando mudamos para Piracicaba fiz quatro provas para poder transferir-me para a Faculdade de Odontologia de Piracicaba, tirei dez em todas as provas. Isso foi em 1972. Sempre fui boa aluna, em Campo Grande era primeira aluna. No vestibular eu tinha passado em terceiro lugar. Aqui em Piracicaba havia cinco candidatos e eu consegui a vaga. Tive que fazer prova escrita, oral e teórica. Um dos componentes da banca examinadora foi o professor doutor Mauro Antonio de Arruda Nóbilo. Aqui tive aulas de ortodontia com o  professor e ortodontista Darcy Flávio Nouer, Dr. Miguel Morano Júnior, Dra. Clotildes Peters. O diretor era o Dr. Plínio Alves de Moraes. O primeiro consultório em que trabalhei foi no da Clotildes. Ela foi muito bacana comigo, eu não tinha ainda como montar meu consultório.

Você formou-se em que ano?

Foi em 1973. Trabalhei no consultório da Dra. Clotildes e trabalhei também no SOM – Serviço Odontológico da Prefeitura. Com o Dr. Gentil Calil Chain. Trabalhei na unidade de Tanquinho, no Centro Social Caritas. Trabalhei em diversas unidades da zona rural. Após dois anos montei meu consultório na Rua Benjamin Constant, em frente a antiga agência Ford. O dentista se não tiver um consultório montado, que custa o preço de um veículo, ele não tem como trabalhar. No início adquiri um consultório da marca Odontobrás, trabalhei um bom tempo com ele, depois é que adquiri um Dabi Atlante. Doei para o Lar Franciscano de Menores o consultório Odontobrás. Quando parei de trabalhar doei o Dabi Atlante para o Centro Social Caritas.

Quantos anos você trabalhou como dentista?

Foram 26 anos. A minha mãe era a minha enfermeira, ela trabalhou comigo por 23 anos. Ela aprendeu tudo, instrumentava. Tinha um banquinho para mim e outro para ela, trabalhávamos a quatro mãos. Minha especialidade era dentistica estética e reabilitação oral. Fiz uns dois anos de endodontia.

Em média quantos pacientes você atendia por dia?

Eu sempre trabalhei em pé, odontologia em si é um trabalho muito cansativo. A coluna sente muitas conseqüências. Isso porque não sou uma pessoa alta. A postura em que o dentista trabalha é sacrificante. Em média atendia um paciente por hora, quatro pela manhã e quatro a tarde. Quando trabalhei na prefeitura começava a trabalhar às sete horas da manhã e depois ia para a zona rural, Tanquinho, quem me levava era o motorista da prefeitura, o Seu Vitório. Eu voltava, almoçava, atendia meus clientes no consultório e ficava às vezes até as onze horas da noite. Depois mudei da Rua Benjamin Constant e adquiri minha sala no Racz Center e fiquei lá até 2000.

A seu ver qual é o maior problema da saúde bucal do brasileiro?

Em minha opinião, eu acho que a saúde bucal do brasileiro é conseqüência da própria educação. Se o Estado tivesse mais cuidado com a saúde do brasileiro a primeira medida seria instituir postos de odontologia. Educação básica de higiene bucal.

Nós temos na Faculdade de Odontologia de Piracicaba um “escovódromo” onde são dadas noções básicas.

Nós temos aqui, mas tem cidades que nem pensam nisso! De uns dez anos para cá estão se preocupando mais. É uma questão cultural. A boca é a entrada da saúde do ser humano.

A saúde bucal pode afetar inclusive a saúde cardiológica?

Pode afetar. Se tiver uma periodontite, muito pús. Pode dar uma endocardite.

Qual é a idade em que a criança deve aprender a escovar os dentes?

A partir dos dois anos, a criança quando começa a andar, a entender um pouco as coisas, nem que ela morda um pouco a escova, mas já educar, a ensinar.

Qual é a forma de escovação correta dos dentes?

Deve-se usar uma escova sempre macia, colocar pasta sem excesso, a escova tem que ser macia porque escova também a gengiva. Que entre nos espaços inter dentais. Na arcada dentária inferior, escovar de baixo para cima, levantando sempre a gengiva no dente. Massageando a gengiva para o dente. E na arcada dentaria superior massageando a gengiva para baixo.

Deve-se escovar o céu da boca?

O céu da boca deve ser escovado assim como a língua. Temos milhares de bactérias na boca. Não adianta escovar os dentes e não escovar o céu da boca e a língua. Sobrou bactéria lá!

Existe uma gama enorme de produtos utilizados como anticépticos bucais, qual é o mais indicado e acessível à população?

É o mais antiácido.

Algum produto “caseiro” pode ser utilizado?

Por muito tempo foi muito utilizado o bochecho de meio copo de água com uma colherinha de bicarbonato de sódio. Funciona. Só que não se deve esfregar o bicarbonato no dente porque ele é corrosivo, tira o esmalte.

Há uma história que afirma que algumas poucas gotas de água oxigenada diluídas em água pode ser eficiente, é lenda?

É bom quando se tem gengivite. Bochechos com Malvona é eficiente e tem um custo  acessível. A água oxigenada só pode ser utilizada se for 10 volumes, não pode usar aquela que se usa em cabelo. Não colocar mais do que quatro gotas em meio copo de água. Fazer o bochecho e cuspir, jamais engolir.

Há dentistas que acordam, tomam um belo café da manhã, escutam pássaros cantando, vão ao seu consultório, ao atender o primeiro paciente quando o mesmo abre a boca parece abrir uma boca de lobo, já aconteceu isso com você?

A gente passa até a não sentir mais o cheiro. A rinite ataca tanto com o cheiro de resina que neutraliza. Na realidade a gente sente, usa-se a mascara. O mau hálito pode ser tanto dos dentes, do estomago como até intestino. Às vezes tem pessoas que não tem nem cárie. Quando detectamos esse tipo de situação aconselhamos que consulte um médico gastroenterologista.

Quem tem mais problemas odontológicos o homem ou a mulher?

A mulher tem mais problemas em ortodontia. Posicionamento dos dentes. Isso é transmitido aos filhos mais pela mãe. Pelo menos na minha época estudávamos isso, que a hereditariedade maior é da mãe para o filho. Carie é uma incidência com hereditariedade maior transmitida pelo pai.  

Você chegou a pegar a fase em que o paciente pedia para extrair todos os dentes?

Tive um caso em que um médico neurologista, já falecido, mandou-me uma solicitação de extração de todos os dentes de um jovem de 19 anos. O rapaz não tinha uma cárie, mas estava com uma gengivite terrível, uma periodontite avançada. Examinei, mandei uma carta para o médico, comunicando que ele não tinha nenhum problema nos dentes, e sim na gengiva em decorrência do medicamento que ele estava receitando ao jovem. Quase todos os psicotrópicos causam gengivite. Eu tinha o Cavitron (ultrassom), tirei todo o tártaro, deixei linda a gengiva dele.

O que é psicotrópico?

São remédios que vão para o sistema nervoso central.

Hoje o Brasil é o país que consome a maior tonelagem de um determinado medicamento antidepressivo.

É mania! Às vezes não é necessário! Um medicamento mais suave pode resolver.

Porque o brasileiro tem tanto medo de ir ao dentista?

Porque antigamente o tratamento era sem anestesia, esse sentimento passou de pai para filho. Normalmente o local de trabalho eram as barbearias onde havia os barbeiros ou tiradentes. Não se tratava, tiravam o dente, na época não havia anestesia. Hoje isso mudou muito, as crianças estão indo ao dentista e gostando de tratar dos dentes. Muitos são exemplos para os próprios pais. Cuidam mais, tem um poder aquisitivo melhor. O dentista tem que usar um bom material para poder fazer uma boa odontologia.

Há alguns dentistas que durante o procedimento sem perceber acabam criando uma situação inusitada. O paciente com a boca imobilizada, com algodão, não tem como dialogar, mesmo assim cria-se um monologo.

Realmente, em alguns casos cria-se um monologo, o dentista pergunta e ele mesmo responde aquilo que o paciente iria responder. Tem uma passagem, verídica, quando eu estava na faculdade, tinha um colega fazendo uma cirurgia e nós estávamos assistindo, ele estava extraindo um molar, são três raízes, uma é a raiz palatina, se na extração quebra a pontinha dessa raiz tem que ser feita uma cirurgia maior, ao extrair, quebrou e foi no seio maxilar. A pontinha da raiz estava em comunicação com o seio maxilar. O professor tirou a radiografia. A paciente era uma senhora, de seios fartos, um decote acentuado em seu vestido. O professor examinando a radiografia disse ao aluno: “-A raiz caiu no seio”. (Ele queria afirmar que tinha caído no seio maxilar). Imediatamente a senhora prestativa disse: “Pode deixar, eu a pego e dirigiu sua mão ao decote”.

PAULO HYPPOLITO DE OLIVEIRA


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 06 dezembro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
 

ENTREVISTADO: PAULO HYPPOLITO DE OLIVEIRA

 

O Lar dos Velhinhos de Piracicaba, a Primeira Cidade Geriátrica do Brasil abriga pessoas que têm uma sabedoria imensa, adquirida através de experiências vividas ao correr dos anos. Muitos irradiam felicidade, espantam os fantasmas da depressão com a simples alegria de viver. Casado em segundas núpcias com a dentista Dra. Maria Laura Costa Aggio, Paulo Hyppolito de Oliveira nasceu a 6 de dezembro de 1927 na Fazenda Capoava, em Porto Feliz. Seu avô paterno veio como imigrante alemão aos oito anos de idade, tendo seu nome aportuguesado. Paulo é filho de Antonio Kerches de Oliveira e Maria Antonia de Oliveira que tiveram os filhos: João, Benedito, José (Zéca), Paulo, Maria José, Olga, Lourdes, Maria Iraides.  Seu pai era proprietário de uma fazenda onde era cultivado principalmente café. Com a "quebra" da Bolsa de Valores americana em 1929, o Brasil teve a primeira grande crise de superprodução do café, seu pai vendeu a fazenda e aplicou os valores apurados em imóveis na cidade de Porto Feliz.

Em Porto Feliz a família passou a morar em que local?

Entre as propriedades adquiridas, uma delas foi uma chacara dentro da cidade. Mesmo tendo seu sustento e da familia assegurados, meu pai continuava a trabalhar na roça, ele gostava de trabalhar.

Em PortoFeliz o senhor concluiu o curso primário?

No quarto ano primário sofri um acidente grave. Por um verdadeiro milagre não tive que amputar a perna direita. Ainda menino, fui nadar em um tanque vizinho a nossa chacara, em uma briga de criança, um dos meninos atirou uma colher de pedreiro que estava abandonada no local. A ponta da colher cravou no meu joelho provocando uma profunda lesão. Nessa época eu tinha sete anos. Os recursos médicos eram precários. Dr. Sacramento, primo da minha mãe, foi quem cuidou de mim.

Quanto tempo demorou para curar?

Foi um longo tempo, cerca de um ano, fomos á Pirapora, tinhamos feito essa promessa. Mesmo acidentado conclui o quarto ano primário, a professora era Dona Filomena. Nossa família era muito bem conceituda na cidade, lembro-me que eu era reconhecido como “filho do Hyppolito”. Quando eu tinha dez anos meu pai faleceu. Minha mãe tinha um irmão, Alberto Paes de Arruda, que morava em São Paulo, era gerente da fábrica de fechaduras La Fonte, por sinal ele foi o responsável pelas fechaduras terem esse nome “La Fonte”. Ele era o mestre da fábrica. (Atualmente a La Fonte Participações S. A. é uma holding brasileira que controla empresas como a Iguatemi Empresa de Shopping Centers S.A., o Grande Moinho Cearense e é grande acionista de empresas de telecomunicações. Seu controlador é Carlos Francisco Ribeiro Jereissati).

O senhor lembra-se quem era o proprietário da empresa na época?

Não me lembro, sei apenas que eram muito ligados ao Governador Adhemar de Barros.

Em que bairro de São Paulo localizava-se a La Fonte?

A principio era na Vila Mariana, depois mudou-se para o bairro de Santana, quem seguia para o final da Rua Voluntários da Pátria, á direita era a fábrica. No início fui sozinho morar com a família do meu tio. Fiz o curso de ajustador na La Fonte. Tinha uns doze anos na época. Minha irmã Maria mudou-se para São Paulo, Eu trabalhava na La Fonte, tinha uns quatorze anos, foi quando Adhemar de Barros (nascido em Piracicaba a 22 de abril de 1901) pediu que ajudasse em sua campanha política. O comitê político de Adhemar Pereira de Barros era no centro de São Paulo. Cheguei a ir muitas vezes ao Palácio dos Campos Elísios (antigo "Palacete Elias Chaves"), situado na Avenida Rio Branco. Ajudei em duas de suas candidaturas. Nessa época que conheci sua esposa, a Dona Leonor Mendes de Barros, através de sua ajuda é que fiz a preparação para ingressar no curso ginasial na famosa escola Caetano de Campos,  na Praça da Republica. Mais tarde conheci Paulo Maluf.

Mas o Dr. Adhemar de Barros e Paulo Maluf tinham bom relacionamento?

De nenhuma forma!

Quando o senhor trabalhou para o Adhemar de Barros ele já era proprietário da Chocolates Lacta?

Já era dono da Lacta.

Foi no período em que ele construiu o Hospital das Clínicas de São Paulo?

Também! Adhemar de Barros construiu muita coisa em São Paulo. Da mesma forma que Paulo Maluf também construiu. Assisti a muitos comícios de Adhemar de Barros.

Após a La Fonte onde o senhor foi trabalhar?

Fui trabalhar na fábrica de fogões a gás Dex. Acabei me especializando em fogão elétrico, com termostato, da mesma marca. Trabalhei desde fogão a querosene até fogão elétrico. Eu dava manutenção a todo tipo de fogão, viajava muito, lembro-me que fui até Araras no convento das freiras, arrumar o fogão para elas. Fogão indústrial. Eu tinha facilidade para descobrir a origem dos defeitos. Quando o fogão a gás começou a ser utilizado era o desejo de todas as famílias possuir um. A Dex fazia fogões também para gás encanado(gás de rua). Eu instalava esses fogões de gás de rua.  A presssão do gás é completamente diferente.

O senhor dava manutenção à hoteis, restaurantes?

Lembro-me de uma passagem, fui dar manutenção em um fogão no Restaurante Fasano, um templo da gastronomia até hoje, naquela época ele situava-se na Avenida Paulista. Eu cheguei quase na hora do almoço, Era um fogão enorme. Com a experiência e prática que eu tinha consertei rapidamente, mas tirei uma lição que nunca mais esqueci, presenciei uma cena onde vi que nenhum cozinheiro gosta de ser criticado pelo prato que preparou para o cliente. Nos bastidores eles ficam muito irritados se o pedido não saiu de acordo com o que o cliente pediu. Ao meu ver parece ser uma regra em todos os locais que servem refeições. Meu conselho é se o prato que você pediu não saiu a seu gosto, deixe-o de lado ou se estiver com muita fome coma assim mesmo.

Em primeiras nupcias o senhor casou-se em São Paulo?

Não, casei-me com Wanda Ribeiro de Oliveira, minha primeira esposa, em Capivari, o meu sogro trabalhava na Casa da Lavoura em Capivari. Tivemos quatro filhos: Paulo, Elzio, Ana Maria e Ana Paula. Fiz concurso para ser Despachante Policial, passei, e prestei serviços a muitas pessoas, inclusive para políticos como Paulo Maluf, Orestes Quercia.a atleta Hortência. Por muitas vezes vi Jânio Quadros. Em minha atividade como despachante fazia de tudo, vistos de viagem, passaportes, naturalização, permanência em país estrangeiro. Cheguei a ter vários escritórios funcionando simultâneamente, era conhecido como Hyppolito Despachante, comecei a trabalhar dentro de uma concessionária de veículos na Avenida Lins de Vasconcelos, depois passei a ter uma equipe de funcionários, inclusive um deles hoje é funcionário na Rede Globo. Fiz a naturalização de muitos alemães que vinham de Santa Catarina até São Paulo para se naturalizarem. Naturalização é um processo muito trabalhoso.

Para quais localidades eram emitidos o maior número de vistos em passaportes?

Para os Estados Unidos e para a Itália.

O senhor chegou a conhecer algum membro da família Matarazzo?

Trabalhei para eles. Cheguei a ver o Conde Francisco Matarazzo. Eu tratava diretamente com um senhor conhecido como Casagrande, que cuidava dessa parte de documentação da família, conheci a mansão da família Matarazzo na Avenida Paulista. Tive muitos amigos que era do circulo de amizade de Getulio Vargas.

Com toda a vivência que o senhor têm, qual é a visão do senhor sobre a justiça social no Brasil?

Sempre achei que a justiça social deixa muito a desejar em nosso país.

No período da Revolução de 1964 o senhor por dever de ofício tinha que frequentar repartições públicas, com isso conheceu de vista figuras de destaque?

Conheci pessoas que estavam na mídia da época, embora o contato direto não fosse com eles e sim com funcionários burocraticos. Eram pessoas temidas, como Ségio Paranhos Fleury. Conheci Romeu Tuma, o qual sempre me passou uma boa impressão. Luiz Inácio Lula da Silva conheci fazendo discurso em palanque. Eu não me envolvia em política. Limitava-me ao meu serviço de despachante. Era bem quisto por todos os setores.  Tinha que ter uma conduta irrepreensível para ser respeitado.

O senhor atuou como ator em uma peça de sucesso?

Em São Paulo eu morava ao lado de um local onde havia um centro religioso. A peça era “Auto da Compadecida” de Ariano Suassuna. Interpretei o bispo, a peça todas as vezes em que foi apresentada foi interrompida pelos aplausos do público. Foi um sucessso! É um drama nordestino apresentado em três atos. Contém elementos da literatura de cordel e está inserido no gênero da comédia, se aproximando do barroco católico brasileiro. Ensaiamos bastante e apresentamos no Teatro Arthur Vila Nova.

Qual é a importância para uma pessoa participar da encenação de uma peça?

Considero muito importante. Desenvolve maior compreensão dos momentos que se passa na vida. Desinibe o ator, a pessoa aprende a ficar mais desenvolvida. Desde que seja um bom texto eu recomendo que se pratique o teatro, em qualquer idade.

O senhor viveu um período nos Estados Unidos?

Residi na Flórida, por aproximadamente dez anos. Minha filha Ana Paula casou-se, tem um filho e mora naquele país.

Nesse período o senhor dirigia veículos de passeio da família?

Dirigia, o trânsito lá é maravilhoso! Dirigi até no centro de Nova Iorque. Qualquer garoto consegue dirigir em um transito daqueles.

E a alimentação nos Estados Unidos, o que o senhor achou?

Eu gostava, fazia minha própria comida!

O senhor é bom cozinheiro?

Dentro do limite do que sei fazer me considero um bom cozinheiro.

Qual é o prato que o quando o senhor faz ninguém quer deixar de comer?

A lasanha!  Em uma ocasião adquiri para uma das minhas filhas um local no ponto de alimentação do Shopping Tatuapé, chamava-se “Coxinha e Cia.”. Eu fazia a lasanha, vinham pessoas da Lapa, um bairro relativamente distante, para adquirir a lasanha. O meu neto nos Estados Unidos foi comigo em um local famoso pela lasanha, ele começou a comer, quando disse-me: “ Vô, porque não é igual a sua lasanha?”. Acabou deixando-a no prato.

O americano alimenta-se mal?

Muito mal!

O senhor fala inglês?

Na Flórida, pela influência de um grande número de imigrantes latinos, o idioma muito utilizado é o espanhol. Era nesse idioma que eu me comunicava quando ia fazer compras no mercado. Em 2001 foi a primeira vez que fui para os Estados Unidos. Eu estava lá quando ocorreu a queda das Torres Gêmeas. Foi indescritível o comportamento da população, mesmo estando na Flórida.

O senhor tem um tipo físico característico, a primeira vista imaginavam que sua origem era de qual país?

Por diversas vezes fui tratado como sendo originário da Itália.

Tendo a oportunidade de observar o comportamento do americano e conhecendo a nossa realidade, o senhor vê alguma possibilidade de haver uma aproximação maior entre os dois países?

São formas distintas de comportamento. Tanto o Brasil como os Estados Unidos tem visões muito diferentes de aspectos básicos.

O seu otimismo, seu bom humor, influencia na sua qualidade de vida?

Sem dúvida!

O senhor gosta de escrever?

Gosto, meu assunto preferido é sobre política, mas tratando-a de uma forma irreverente. Sou membro do Clube dos Escritores de Piracicaba.

A crítica política feita de forma cômica é a que produz resultados?

Funciona, sem dúvida.

Há um célebre e conhecido ditado que diz que: “Colhe-se o que se planta”. Em seu ponto de vista isso acontece de fato?

Acredito, sem duvida!

O senhor gosta de ler?

Gosto muito! O meu tema preferido é filosofia. Gosto de ler Paraíso Perdido de John Milton. (Paraíso Perdido (em inglês: Paradise Lost) é uma obra poética do século XVII, escrita por John Milton, originalmente publicada em 1667 em dez cantos. Uma segunda edição foi publicada em 1674 em doze cantos, em memória à Eneida de Virgílio com revisões menores ao longo do texto e notas sobre os versos.) Pronto! Está aqui o livro traduzido em português. É um livro formidável. Essa frase é profunda: “Ninguém, exceto Deus, ao justo pode calcular o valor do bem que encara”.

Postagem em destaque

      TÉO AZEVEDO E THAIS DE ALMEIDA DIAS     TÉO AZEVEDO E THAIS DE ALMEIDA DIAS       TÉO AZEVEDO E THAIS DE ALMEIDA DIAS             ...