sexta-feira, novembro 24, 2017

OTTO JESU CROCOMO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 25 de novembro de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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ENTREVISTADO: OTTO JESU CROCOMO

 

O Professor Emérito da Universidade de São Paulo/ESALQ Otto Jesu Crocomo nasceu a 23 de 
setembro de 1932 em Piracicaba, a Rua Rangel Pestana esquina com a Rua Benjamin Constant, filho dos imigrantes italianos João Crocomo originário de Ravello, na região de Nápoles e Tereza Vidili Crocomo, da região da Calábria, seu pai ao registrar o nome do filho pronunciou em italiano Gesù e o cartorário manteve a pronuncia de forma aportuguesada. É o oitavo filho, sendo seus irmãos: Tereza, Salvador, Maria, Francisco, Leticia, Lídia e Ada. Otto é casado com Diva Lovadino Crocomo, tiveram cinco filhos: Marco Augusto,Adolfo Egídio, Maria Paula, Carla Maisa e Daniel. Foi um dos fundadores do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA) em 1960.


O pai  do senhor veio da Itália com qual idade?

Meu pai tinha 17 anos, em 1910, quando veio sozinho para o Brasil, o irmão dele, Francisco já morava em Capivari, estava estabelecido, casado. Era caldeireiro, trabalhava com folhas de zinco. Chegando ao Brasil foi para Capivari, trabalhar com o meu tio Francisco. Após algum tempo meu pai foi trabalhar em Jundiaí com Francisco Vidili, que era uma pessoa de muitas posses, pai de dois filhos e duas filhas, uma delas é a minha mãe! Casaram-se em 1914, em 1915 nasceu minha irmã mais velha.

Ele permaneceu em Jundiaí?

Logo que se casou veio para Piracicaba, queria ser independente. Quando eu nasci em 1932 ele já estava bem estabelecido em Piracicaba. Fui criado de forma diferente dos meus irmãos, minha irmã Mariquinha (Maria) cuidava muito de mim, a minha mãe sofria muito com o reumatismo, ela faleceu aos 55 anos, teve um ataque cardíaco. A Mariquinha que me ensinou a ler e escrever, quando entrei na escola já sabia ler e escrever.

A sua primeira escola foi qual?

Foi o Grupo Escolar Barão do Rio Branco. Tinha sete anos, sabia ler e escrever, eu pulava a janela da escola e fugia, não ia para casa. Um dia fugi da escola e voltei para a minha casa, meu pai me deu uma surra! No dia seguinte fui para a escola não parei mais de estudar. No Barão do Rio Branco fiquei pouco tempo, depois fui para o Externato São José, no prédio situado a Rua D.Pedro II esquina com a Rua Alferes José Caetano, onde mais tarde funcionou a Faculdade de Odontologia de Piracicaba. Lembro-me da primeira professora que tive no Externato, Dona Lurdes, excelente! Lá já aprendi as primeiras coisas em francês. Uma curiosidade, após muitos anos, já formado, o meu primeiro emprego foi de professor na Faculdade de Odontologia!

No Externato São José qual curso o senhor fez?

Fiz o curso primário. Meu irmão mais velho, Salvador, também conhecido como Dudu, era contador, estudou na Escola do Zanin. Meu pai me obrigou a estudar na Escola do Zanin. Eu detestava aquilo ali. Ficava no andar superior de um prédio situado na Praça José Bonifácio, ao lado tinha a Bomboniere do Passarella, eu ficava encantado com aquelas balas grandes, eu e o Didi íamos ao cinema, ou Broadway ou São José. Estudei por um ano ali, mas não me dei bem, foi um ano perdido. Foi bom por ter conhecido muitas pessoas. Disse ao meu pai que não queria continuar estudando lá. Perdi um ano. Para entrar no ginásio tinha que fazer curso de admissão e passar no exame para ingressar. Fiz curso de admissão no Externato São José, passei, permaneci por dois anos estudando lá, tínhamos excelentes professores, o professor João Arruda era psicólogo e dava aulas de matemática também. Quando acabou a guerra, em 1945, o valor do cruzeiro era tão alto que um franco custava Cr$ 0,000058. Eu ia até o correio e comprava revistas, livros e jornais franceses, eu gostava muito de ler, devorava o jornal “O Estadão”. Assim aprendi sozinho o francês, as primeiras letras do francês eu aprendi no quarto ano primário. Estudei francês com o dicionário na mão, lendo essas revistas.

Naquela época a influência da cultura francesa no Brasil era muito grande.

Era muito grande! A parte cultural era de influência francesa e a parte comercial e econômica era de influência inglesa. O meu irmão Dudu falava inglês. Eu vivi nesse ambiente de muitos estudos. Minha mãe me influenciou muito, todas as noites ela contava uma história para mim, ficávamos sentados na porta de casa, na Rua Rangel Pestana, aos 11 anos de idade escrevi um romance, baseado nas histórias que ela me contava.

Foi publicado?

Não! Era um folhetim, eu escrevia a máquina, o Dudu tinha uma máquina de escrever, ali que aprendi sozinho a datilografar, sem a técnica clássica de um datilógrafo. Em 1943 o meu irmão Salvador (Dudu) casou-se com Emília Crocomo.

O seu pai continuava trabalhando?

Ele fazia alambique, lá mesmo, tinha a nossa casa e também a oficina, anexos. Em frente morava o médico Dr. Cera. O Vicente Orlando produzia a famosa gengibirra.itubaina. Até hoje compro! Bem geladinha! É uma delícia! Naquela época ali as ruas eram com pedregulho, praticamente a cidade acabava no Córrego Itapeva (Atualmente, em grande parte fica sob a Avenida Armando Salles de Oliveira), conheci a famosa nascente de água natural conhecida como “Olho da Nhá Rita”. Conheci o Rancho Alegre que ficava próximo a linha de trem da Estrada de Ferro Sorocabana, nas imediações da Avenida 31 de Março. Perto da Estação da Sorocabana que ficava nas imediações onde hoje Terminal Municipal Urbano, no centro, existia uma pontezinha que atravessava o Ribeirão Itapeva, só que quando enchia de água em função das chuvas de fevereiro, havia mortes freqüentes de crianças que se aventuram a nadar na correnteza. Meu pai não deixava que fossemos brincar na água, brincávamos nas pedras do Itapeva. A Rua Rangel Pestana terminava em frente a Estação Sorocabana. Íamos muito até lá porque íamos visitar o meu tio que morava em Capivari, íamos de trem. Meu pai tinha muita amizade com a família Furlan, no bairro Chicó. Nossas férias eram passadas na fazenda dele, íamos de trem.

Voltando a sua trajetória de estudos, qual foi a etapa seguinte?

O Externato São José fechou para meninos, as freiras foram para onde é o Colégio Assunção. Eu fui para o Colégio Piracicabano. Fiz o ginásio, ganhei uma menção honrosa.

o senhor teve professores célebres.

Sim! Josaphat de Araújo Lopes; O professor Pacitti era divertido, professor de ciências, Após concluir o curso científico no Colégio Piracicabano ingressei na ESALQ em 1953.

Para entrar na ESALQ tinha exame vestibular?

Exame escrito e oral. Não era fácil não! Sempre gostei de química, eram três examinadores na prova oral, física também eram três entre eles Admar Cervellini; Prof. Salgado, ele adorava disco voador, viajei muito com ele. Era primo de Salvador de Toledo Pizza. Walter Accorsi foi meu professor.

O curso de Engenheiro Agronomo tem a duração de quantos anos?

São quatro anos, mas teve uma época na década de 60 que passou a ser cinco anos. Não durou muito tempo, voltou para quatro anos. Eu me formei em 1956. Ganhei um prêmio de cinco mil cruzeiros, da Manah, por ter sido o melhor aluno de química. Peguei esse dinheiro e gastei tudo em livros! Sempre eu gostei de livros.

O senhor se casou em que ano?

Em 23 de maio de 1961, na Igreja dos Frades, o Bispo Dom Aniger que celebrou, co-celebrado por mais três padres, o coral de 40 vozes dos alunos do Seminário Seráfico São Fidélis, com Frei Augusto, até hoje me lembro de uma música: Ave Maria, minha mulher canta, ela é soprano.

Qual foi a área da química que o senhor escolheu?

Foi a bioquímica, mas tem uma razão de ser, quando entrei no científico, no Colégio Piracicabano, era a única escola em Piracicaba que tinha laboratório de química,  fui aluno do professor de química Demosthenes Santos Corrêa,engenheiro agrônomo formado pela ESALQ, ele em 1950 ele disse-me: “-Você vai ser um dos alunos que irá participar do debate de química!” Eram alunos do Colégio Piracicabano que debatiam com os alunos do Instituto Educacional "Sud Menucci", aceitei. Isso foi em maio. Aí ele propôs montar a equipe. Disse-me: “-Você vai ser o líder da equipe”. Aos 18 anos fui líder da equipe de 1950, foram três dias de debate. Participei nos três anos do científico. No último ano, em 1952, decidi fazer cursinho, de manhã eu estudava para o cursinho, e a noite eu fazia o último ano do científico. Tivemos um debate entre o curso noturno e o diurno, eu ganhei também. Tudo isso influenciou a minha vida.

Quando se trata de ciências exatas, como química, matemática, que são bases para o desenvolvimento científico, parece que o aluno está vendo um monstro. Talvez porque não tiveram bons professores?

É sempre assim! Não há mágica! Tudo depende do professor. Tive bons professores de matemática! Tinha professores da ESALQ que davam aulas no Colégio Piracicabano, no Externato São José. Quando entrei na ESALQ matéria que era ensinada no primeiro ano eu já tinha aprendido no científico. Depende totalmente do professor. Os grandes nomes do CLQ são meus ex-alunos: Newman, Torigoi, José Arthur.

O que tanto o atrai em química?
O trabalho com substâncias químicas, tubos de ensaio, descobrir as reações, como uma coisa se transforma em outra. Na bioquímica você estuda tudo isso dentro da célula. A bioquímica não é nada mais do que a química dentro da célula.  Para mim é fascinante. Sempre olhei para as pessoas que produzem; as pessoas que vencem; os grandes industriais; grandes escritores, eu li muito. Quando terminei o ginásio, o marido da minha irmã Ada, perguntou-me o que eu queria de presente. Disse-lhe: “- A biografia de Beethoven”. Nunca me senti atraído pela mediocridade. Sempre pensei: “Como é que ele conseguiu? Como é que ele fez?” Isso desde criança. Imagino que tenha sido muito influenciado pelas histórias que a minha mãe contava. Que fique bem claro que não estou menosprezando ninguém, mas procurando seguir o exemplo de quem acertou. Quando entrei na ESALQ queria ser aluno do professor Eurípedes Malavolta,ele estava nos Estados Unidos, insisti e acabei indo trabalhar com os assistentes dele: José Dal Pozzo Arzolla e Domingos Pelegrino, no laboratório. Vinha de noite para repetir coisas que aprendi. Nas férias de julho de 1953 passei o tempo todo no laboratório de química. Repetindo aquilo que tinha aprendido. Em novembro de 1953 Malavolta chegou dos Estados Unidos. Ele disse-me para continuar trabalhando com o Arzolla e o Pelegrino. Naquela época somente quatro ou cinco estudantes se irmanavam no laboratório do campus entre eles: Eneas Salatti, Ari Salibe, eu, o Ari era amicíssimo, nós dois estávamos vindo de bonde para prestar o vestibular, ele estava estudando eu também estava estudando, um ao lado do outro, conversamos alguma coisa. No trote, ele teve que vestir a minha camisa e eu vesti a dele, depois trocamos. Nasceu uma grande amizade, os pais dele vinham em casa, minhas irmãs iam à Limeira onde eles moravam, a nossa amizade era tão grande que parecíamos irmãos. Fizemos vários trabalhos científicos quando estudantes. Fazíamos os congressos de estudantes de agronomia, o primeiro foi na ESALQ, em 1954, o segundo foi na ENA Escola Nacional de Agronomia do Rio de Janeiro, e o terceiro, foi em Viçosa, participei dos três, apresentei trabalhos, Ari apresentou junto. Até hoje alguns colegas me dizem: “-Você trabalhava com a vitamina C da goiaba!” Não só da goiaba, tem uma casa na Rua Prudente de Moraes esquina com a Rua José Pinto de Almeida, essa casa existe até hoje, eles tinham dois pés de cerejinhas das Antilhas, eu batia na porta, e pedia as frutinhas para fazer exame.

O senhor dedicou-se a pesquisa e foi desenvolvendo a carreira.

Formei-me em 1953, eu tinha uma bolsa do CNPq era a Bolsa de Iniciação Científica. Fui até o Instituto Agronômico de Campinas, eu não encontrei nenhuma vantagem em relação ao que estava fazendo trabalhando com o Professor Malavolta. Retornei à Piracicaba. Eu queria fazer o doutoramento, o Malavolta concordou e disse que íamos fazer uns estudos com radioisótopos. Isso foi em 1957, a primeira tese feita com radioisótopos foi a minha. Talvez no Brasil, não sei. Estudamos no café, existia na escola o Instituto Zimotécnico e durante o meu curso de graduação, fui um dos únicos alunos que permitiram que assistisse as palestras. Toda semana tinha as referatas, eu estudava um artigo científico, em inglês sempre, e referia, fazia um resumo. Todos já eram formados, professores, só eu que era aluno. Convidaram-me para fazer uma palestra, nesse ciclo de palestras, apresentei os resultados da minha tese, isso foi no dia 6 de junho de 1958, 20 dias depois encontrei o professor Malavolta no prédio de Química, estava cheio de livros, estudando. Ele disse-me: “-Você vai fazer Livre Docência! ¨. Fui para Curitiba onde fiz um curso de fisiologia de micro-organismos com o professor Metry Bacila da Universidade Federal do Paraná. O curso de livre-docência era quatro dias, cinco provas. Voltei, continuei escrevendo a tese, e estudava, estudava, porque tem uma prova escrita de três horas, sendo que eles dão o tema na hora, você pode pesquisar por até uma hora, o tempo total são quatro horas. No dia seguinte tem a prova prática, de oito horas. Você tem que estar preparado, o tema é escolhido na hora, depois tinha a defesa de tese, a leitura da prova escrita. Depois eu soube que o Metry Bacila veio para me reprovar, porque eu era recém formado, eu tinha dois anos e meio de recém-formado e fazia cinco anos que não tinha livre docência aqui na ESALQ. Depois ele me deu 10. Ficamos amicíssimos, Daí passei a dar aulas naquele curso, todo ano em janeiro, por seis anos dei aula em Curitiba, na UFPR. Em 1964 passei um mês e meio ensinando umas técnicas para o pessoal dele. Eles não trabalhavam com plantas, trabalhavam com microorganismos, alguns trabalhavam com animaizinhos.

O senhor estava na Livre Docência?

Estava, mas não era contratado, o Dr. Ben-Hur Carvalhaes de Paiva, médico cardiologista, era professor de fisiologia na FOP Faculdade de Odontologia de Piracicaba. Ele me mandou um telegrama: “Convido-o para ser meu assistente na parte bioquímica, já conversei com o Professor Malavolta e ele concordou”. Em abril eu já estava contratado pela FOP. Enquanto isso estudava para o concurso, fiz, passei muito bem, o Arzolla também fez, também passou. Por dois anos fiquei um tempo parcial na FOP e outro tempo parcial na ESALQ, Eu não queria saber disso. O Malavolta conseguiu tempo integral para mim. Tive muitos alunos na FOP, um deles é muito meu amigo, Mario Monteiro Terra.  Antonio Abe foi meu aluno, assim como Antonio Carlos Neder. Quando terminei a minha Livre Docência foram quatro dias, 19,20,21 e 22 de setembro de 1959. O Prof. Dr. Carlos Henrique Robertson Liberalli me levou para Campinas para fazer uma palestra, ele fez questão de ir a minha palestra. Eu me dava muito bem com o Lauro Natali, que era aficionado por selos como hobby, foi presidente do Clube Filatélico de Piracicaba. Daqui fui para a Venezuela, a convite do reitor da universidade, onde permaneci por 14 meses, lá nasceu nosso primeiro filho. Foi onde instalei laboratório de radioisótopos, fizemos trabalho de campo, formei pessoal, segundo um amigo me disse há uma sala na universidade da Venezuela com o meu nome.

Da Venezuela o senhor voltou ao Brasil?

Voltei, em seguida fui para os Estados Unidos, com a mulher e dois filhos. Fui para Davis, na Califórnia. Fiz um curso de bioquímica, de manhá cedo eu trabalhava no laboratório, segunda e terça, tinha aulas teóricas, terça feira aula prática começava as sete e meia da noite e ia até as quatro, cinco horas da manhã, na Universidade da Califórnia. Aprendi a trabalhar com informática, a programar pelo método FORTRAN. Aprendi através da televisão, toda terça feira a tarde, antes de começar a aula prática, tínhamos aula de FORTRAN. Tempo do cartão perfurado.

O senhor está reforçando a tese do ensino a distância, que muitos condenam.

Eu não condeno, mas a pessoa precisa se esforçar. Voltei ao Brasil, fiz o concurso para professor associado, em 1966. Eu queria completar a minha carreira, ser professor titular. Não existia mais o título de professor catedrático, em 1970 mudou o sistema. O Malavolta sempre viajava, criou-se o Departamento de Química, juntou-se Química Mineral Analítica com a Bioquímica. Quem ficou chefe foi o Professor Renato Cattani. Em 31 de março e 1 e abril de 1975 fiz o meu concurso para professor titular. Desde 1970 eu era vice-chefe de departamento. O Cattani se aposentou em 1974, eu fiquei chefe do departamento. O Henrique Bergamin Filho trabalhava muito no CENA.

O CENA é uma ponta de tecnologia avançadíssima?

Fui chefe da seção de bioquímica do CENA durante 20 anos. Em 1971 o Malavolta disse que tinha um professor que queria fazer estudos em tecidos de café, na ESALQ. Nós em 1971 introduzimos no Brasil toda tecnologia de cultura de tecido de plantas que depois se transformou, na década de 80 na biotecnologia.

O que é cultura de tecidos de plantas?

Você cultiva plantas, de forma que possa manipulá-la, de forma que pode modificar a célula se quiser, e obter em curtíssimo espaço de tempo, clones iguais, plantas livres de vírus, doenças, podem ser utilizadas as técnicas de radio biologia, dos transgênicos, você consegue manipular essas células in vitro, com essas células você controla plantas, essas plantas crescem e produzem.

O senhor editou algum livro?

Editei nos Estados Unidos “Reflections & Connetions – Uma Jornada Pela Ciência da Vida – foi publicado em Nova Iorque em 2014, fui lá, teve uma festa maravilhosa. Esse livro foi editado por mim, pelo meu amigo Willian R. Sharp  e Julius P. Kreier. 

Quantos livros o senhor tem já publicado?

Tenho um recém publicado nos Estados Unidos, dois que foram publicados na Venezuela, tenho um publicado na década de 60 que é utilizado até hoje. Tenho outros livros publicados em colaboração com ouras pessoas. Participei de 69 congressos, simpósios e congressos no exterior e 69 no Brasil. Eu viajei o mundo!

Quantos idiomas o senhor fala?

Português e inglês entendo francês, italiano, Estudei cinco anos de latim.

Em que ano o senhor aposentou-se?

Aposentei-me em 30 de setembro de 1989, mas continuei na ativa até 2003, dando aula. Nesse meio tempo criei um instituto chamado Centro de Biotecnologia Agrícola, a diretoria colocou o meu nome: Laboratório de Biotecnologia Agrícola "Prof. Otto Jesu Crocomo¨ Em 2003 quando me aposentei de uma vez a bioquímica toda se fundiu com a botânica. Esse centro foi construído com verbas que consegui. A ESALQ me doou uma área de 9.000 metros quadrados, meus projetos eram administrados pela FEALQ. Não vi nenhum tostão, eu só fazia a requisição. Esse prédio foi fundado dia 2 de julho de 1981. Em 27 de outubro de 1988 foi inaugurado esse prédio. Em 1981 fiz o Primeiro Simpósio Internacional de Biotecnologia, em Piracicaba. Depois, durante cinco aos fiz todos os Simpósios de Biotecnologia de Plantas. Cada ano discutindo uma coisa, enquanto isso viajava.  Em 1988 fizemos mais um congresso e mais um livro foi publicado. Este ano recebi um diploma da Universidade de São Paulo, o vice-reitor veio me entregar: de Professor Emérito. Só existem 10 professores eméritos em Piracicaba. Eu sou o número 9. Foi uma festa maravilhosa.

 

domingo, novembro 19, 2017

ANTONIO CARLOS GIULIANI


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com
Sábado 18 de novembro de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/







ENTREVISTADO: ANTONIO CARLOS GIULIANI

A trajetória profissional do Professor Doutor Antonio Carlos Giuliani impressiona pelo seu dinamismo e o reconhecimento natural das suas atividades. Com extenso currículo, estampamos aqui uma pequena parcela das suas realizações. Bacharel em Administração, Mestrado e Doutorado em Administração – UNIMEP. Especialização em Marketing pela FGV - Fundação Getúlio Vargas, e pela University of Califórnia Berkeley. Consultor do INEP/Ministério da Educação. Administrador, com mais de 25 anos de experiência profissional no setor de varejo e serviços. Professor do PPGA – Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Mestrado Profissional e Doutorado em Administração e Coordenador do MBA em Marketing e Negociação / UNIMEP - Universidade Metodista de Piracicaba. Professor visitante e conferencista das universidades: Universidad Boliviana Catolica “San Pablo” – Bolívia, Universidad de Guanajuato – México, Universidad del Azuay – Equador, Universidad Libre Seccional Cali – Colômbia, Universidad Madero - México, Universidad Nacional de La Plata – Argentina, Universidad Sevilla - Espanha. Áreas de competência: Varejo e Serviços, Marketing e Estratégia. Autor de 30 livros no Brasil, Argentina, México e Estados Unidos. Trabalhos publicados em periódicos nacionais e internacionais. Master Coach/Mentor e Analista Comportamental, Modalidades Carreira e Business. Professor homenageado, paraninfo, de dezenas de turmas de formandos universitários. Recebeu da Câmara de Vereadores de Piracicaba o Diploma de Reconhecimento de Mérito pelo "Dia Municipal do Escritor". O piracicabano Antonio Carlos Giuliani recebeu em setembro o certificado de pós-doutorado (postdoc). Apesar de acumular títulos e reconhecimentos tanto no Brasil como em muitos países do exterior, tem a postura dos sábios: simplicidade e humildade. Recentemente dedicou-se, gratuitamente, a uma palestra sobre marketing à um pequeno grupo de pessoas da terceira idade, que permaneceram magnetizadas com sua exposição altamente técnica e complexa  em linguagem coloquial. O que a princípio parecia ser tão distante de todos os presentes, constatou-se ser o cotidiano de cada um.

Qual é a sua relação de parentesco com monsenhor Giuliani, pároco emérito da Igreja São José?

Sou filho de Antonio Giuliani e Geni Giuliani que tiveram dois filhos, eu e minha irmã Ana. O meu pai era primo do monsenhor Giuliani. Sou nascido em Piracicaba a 28 de julho. Sou casado com Sandra Trombetta Giuliani, contadora, temos uma filha: Ana. Estudei na Escola Nossa Senhora Assunção, depois no Grupo Escolar Barão do Rio Branco, Colégio Estadual Dr. Jorge Coury, um colégio fantástico, foi na época em que estava em seu auge, tive aulas com grandes mestres: Da. Conceição Brasil, Persão Magossi, Davi, Nogueira, Cecília Graner, Clemência Pizzigatti, Argemiro Ramos e sua esposa a professora Jandira Silveira Ramos, Bernadete, professora de francês, Donátila, professora de inglês. Minha primeira professora do jardim de infância foi a Rosali. No primeiro ano do grupo escolar foi Dona Neusa, nos outros anos tive aulas com Zilda Negri, Maria Filomena Fonseca Correia, no quarto ano tive aula com Dona Aparecida.




Você fez o cursinho pré-vestibular?

Fiz, eu pretendia prestar o vestibular de medicina, mais a pedido dos meus pais, era mais uma satisfação familiar. Decidi cursar administração, o meu pai tinha uma loja de comércio em Piracicaba, a loja Irmãos Giuliani, situada a Rua Governador Pedro de Toledo entre a Rua Joaquim André e a Avenida Dr. Paulo de Moraes, fundada pelo meu pai e meu tio Orlando. Eu trabalhei por 25 anos na loja. Foi uma loja muito conhecida na cidade e região.

A sua permanência por 25 anos no comércio proporcionou-lhe uma grande experiência.

Quando se trabalha no comércio de varejo, aprende-se a comprar, a vender, e o principal, que hoje falta no varejo: relacionamento! Não tem mais relacionamentos! Acabou! Você não tem mais atendimentos. Não tem Olho no Olho! È muito mecânico. A nova geração dos digitais está chegando, eles que irão comprar, mas não acredito que como ser humano irá querer só o contato mecânico, tecnologia, há a necessidade de se relacionar.

Atualmente qual é a sua atividade?

Hoje eu sou professor em tempo integral no Curso de Mestrado e Doutorado em Administração, Coordeno um MBA Master in Business Administration em Marketing, na UNIMEP, isso já faz 26 anos, eu conciliei, vida profissional,varejo, e ao convite de uma ex-professora, Nádia Pizzinatto que me levou ao magistério com isso tenho 31 anos de UNIMEP.

Você ministra palestras, seminários.

Como professor eu me realizo dentro de uma sala de aula. Fui coordenador dos cursos de mestrado e doutorado por 15 anos consecutivos. Ministro palestras sou convidado de quatro universidades no exterior, tenho uma página na internet giulianimarketing.pro.br

A loja Irmãos Giuliani marcou a vida de muitos piracicabanos. Por quanto tempo ela funcionou?

Meu pai teve a loja por 38 anos. Tinha uma clientela muito grande, era um nome muito forte na cidade, meu pai foi um visionário, um empreendedor. A entrada da loja era na Rua Governador Pedro de Toledo e a saída era na Avenida Dr. Paulo de Moraes, Na Avenida Dr. Paulo de Moraes tinha 1.200 metros de loja. Tivemos uma loja que tinha cama, mesa e banho, brinquedos, presentes, TV, som, vídeo, todo tipo de móveis. A pessoa entrava e mobiliava a casa, da entrada até a lavanderia com lavadora, secadora.

Vocês trabalhavam com o sistema de carnê próprio?

Tínhamos o carnê próprio, meu pai tinha uma estratégia para vender para os noivos que hoje tem outro nome, mas na época, a pessoa que fosse casar, ia até a loja, abria um crediário, e ia pagando conforme os recursos da pessoa permitiam. Ela não recebia a mercadoria de imediato, era nos moldes de um consórcio, os produtos eram pagos antecipadamente, para o cliente era bom porque naquela época havia bastante inflação. Quando fosse casar, o contrato estipulava que ele tinha que comunicar 90 dias antes para planejar a entrega. Os produtos entregues eram os mais atualizados.

A empresa chegou a ter quantos funcionários?

Mais de 60 funcionários. Cheguei a coordenar 35 vendedores, internos e externos.

Como trabalhavam esses vendedores externos?

Na época existia a venda porta a porta, eram efetuadas visitas aos possíveis compradores, montava-se uma pasta com catálogos dos produtos, o vendedor com um carro ia até Rio das Pedras oferecerem nossos produtos. Falar isso hoje parece que estamos falando da idade da pedra, só que o transporte de Rio das Pedras à Piracicaba não é como hoje que é tida como um bairro de Piracicaba, em função do acesso rápido. A venda externa efetuava o pedido, dali a uns quatro ou cinco dias entregava. Assim era feito com as cidades vizinha: Saltinho, Charqueada, São Pedro, Águas de São Pedro, existiam uns bairros que hoje são condomínios, como o bairro Santa Rosa, vendia na zona rural, o sítio tinha uma característica diferente, já se sabia os produtos que eram vendidos por impacto, então se levava máquina de costura, geladeira, fogões, já ia com a mercadoria. Visitavam-se no máximo três fazendas no dia. Chegava a faturar em até 36 meses! Pagavam direitinho! Meu pai comentou que comercializou refrigerador a querosene, rádio com bateria, eu não cheguei a vivenciar isso.

Imãos Giuliani foi um nome de muito peso.

Ele construiu uma boa marca! De marketing ele posicionou. Ate hoje encontro com pessoas e ao saber o meu nome perguntam o que eu era do Antonio! Quando digo que sou filho, a pessoa conta-me que comprou tudo lá: “Meu primeiro fogão, minha primeira geladeira”. Até hoje tem lembrança.

Nos dias atuais a mídia atua em uma velocidade que não permite que o indivíduo raciocine sobre a mensagem enviada e imediatamente bombardeia com uma nova mensagem de consumo, qual é a relação dessa mídia consumista com a violência urbana?

Inicialmente é importante entender que o marketing é feito a todo momento, entre organizações, pessoas, onde você vai trocar alguma coisa. Se eu trocar uma experiência, estou sendo produto, vou transmitir um conhecimento, estou vendendo algo intangível, um serviço. E para você comprar ou acreditar no que estou falando, tenho que ter uma embalagem, passar credibilidade, tenho que ser empático. Colocar-me no lugar de quem está me ouvindo para ver se estou falando em uma linguagem que vá atender a comunidade. O marketing começa por ai. Se você pega marketing na década de 60.70,80 e até alguns anos da década de 90 vimos um marketing muito agressivo. Era um marketing: Produto; Promoção;Comprar. Compra! Compra! Compra! Se você voltar o perfil do consumidor daquela época era de um consumista. Essa geração era aquela em queria ganhar dinheiro, ter um carro, quer uma casa. Trazendo para 2017, todas as estratégias de marketing utilizadas, estão sendo redirecionadas. Temos uma geração, dos “nativos digitais”, são aqueles que estão chegando aos seus 22 anos, mais uns três anos estarão com o poder de consumo na mão. Eles irão ditar as regras do mercado. Esse consumidor é diferente das gerações anteriores. Como é diferente da geração X, Y. Somos de uma geração de loucos por trabalho, em seguida vem outra geração que prioriza a qualidade de vida, temos agora a geração em que trabalho tem que proporcionar motivação e satisfação, não se fixa em lugar nenhum, um ano aqui, dois anos ali, não está bom aqui ele procura outro, é a tecnologia. Do mesmo jeito em que ele não se fixa, ele não é mais fiel as marcas. Ele vai pela oportunidade, e tem um fator: se a sua empresa é ética! O Marketing de Causa Social é aquele que trabalha só para conscientizar o consumidor a mudar a sua postura. Essa mudança de postura pode levar de cinco a dez anos, o tempo de uma geração. Essa nova geração está consumindo menos, não é em função de momento econômico do país, é um modelo diferente: “menos é mais”.  Invés de comprarem um carro prefere usar um Uber; porque vai construir uma casa na praia se pode alugar uma casa por quatro ou cinco dias sem ter que conservar o patrimônio, tendo despesas fixas. Hoje as cidades têm muitos imóveis antigos sendo vendidos, porém sem sucesso, porque não estão de acordo com o que a sociedade precisa atualmente. Ninguém dessa geração nova vai imobilizar um valor significativo em um imóvel. Essa geração está mudando tudo, o marketing já se ajustou. As empresas estão mais preocupadas em atender as necessidades. Fazer um produto que atenda aos anseios do consumidor.




Esse novo perfil de consumidor atinge a todas as camadas sociais?

Quando se fala em geração “nativo digital” não descrimino classes A,B,C,D. Todos tem esse comportamento. Hoje ele prefere ter um dinheiro na mão, pegar uma mochila, comprar uma passagem em uma época de promoção, ir viajar, conhecer vários lugares, sem se apegar a nada. Por isso temos hotéis fazendo locações de forma diferenciada, que é para atender a esse consumidor. As gerações anteriores não foram assim, quando saia de casa o hotel tinha que estar reservado. O marketing mais agressivo acabou. Não existe mais. Quem faz está morto! Não viu que esse tipo de marketing morreu.

A televisão já percebeu isso?

Percebeu, mas está sendo lenta na mudança. Quem vê novela hoje? Quem vê é a sobra da geração mais antiga. Um jovem não vê mais televisão, ele vai no YouTube, Netflix, hoje a pessoa cria um canal no YouTube, lá você faz o seu programa, as pessoas baixam, ouvem, participam, vai ver o seu programa quantas vezes quiser, no horário que quiser. Não tenho que sentar em frente a televisão em horário determinado para assistir um filme ou novela.

A desagregação familiar é fruto dessas mudanças?

O conceito de família, pai e mãe, mudou muito. Estar presente pai e mãe está muito diferente. Esse reflexo sim, eu já vejo que a sociedade está mostrando um lado negativo. Não há mais uma educação acompanhada. Assistida.

Você não é um conservador, essas afirmações são próprias de conservador.

Não sou conservador. Na minha profissão eu preciso entender quando você diz que precisa fazer uma estratégia de marketing para o consumidor da terceira idade. Sei como me comunicar com ele. Se eu pegar o mesmo produto e tiver que me comunicar com um nativo digital, tenho que tomar outra direção. Mais visual do que tanta fala, nativo digital não lê. Não sei o que será daqui a quatro ou cinco anos. Essa geração estará no mercado. Quando se começou a internet era tudo simplificado: Tudo bem escrevia-se “tb”, beleza “blz”, abraço “abç”. Hoje dentro das empresas no momento em que ela vai recrutar um profissional, ela já não aceita mais isso. Existem regras no mercado. Para mim, o conceito família mudou muito, e vai mudar muito. Acho que vão ser outras concepções. Quando você fala em diversidade de gênero, não sou contra, mas sou de uma geração que estranha no primeiro momento. Duas mulheres podem adotar uma criança e criar, só não sei antecipar como essa criança irá crescer. Hoje você pega indústrias de confecções, uma marca internacional de primeira linha, não está mais produzindo a roupa masculina e feminina. Produz um padrão. Pode usar o homem, pode usar a mulher. A família mudou e vai mudar mais ainda o conceito. O relacionamento está sendo substituído pela tecnologia, no caso o celular. Você assiste dentro de um restaurante, o pai, a mãe, filho, filha, namorado junto, todos quietos, cada um com seu celular!

Isso é um fenômeno mundial?

É uma questão mundial. O brasileiro tem um complexo de inferioridade. Essa geração nova está com um conceito novo de amigos, mais forte. Amigo é amigo de verdade.

O complexo de inferioridade é por falta de método por parte do brasileiro?

Eu acho que vem desde a sua educação. Teríamos que recebermos uma disciplina e uma orientação de que nós somos bons.

O ensino básico está sucateado, seja por interesses políticos, pessoais, seja por incompetência administrativa, vai resultar em desastre?

Já está refletindo na graduação! Em 31 anos de magistério tenho três gerações, tenho muitos casos em que dei aula para a mãe, para o filho e prestei consultoria para a empresa do avô. Tive como aluno Luiz Carlos Calil que foi presidente da Caterpillar Brasil. Dentro da Caterpillar, entre os gerentes raros não foram meus alunos. Há 20 anos eu tinha um aluno maduro dentro de uma sala de aula. Chegavam com uma idade maior porque não tinham tido a oportunidade que os jovens de hoje tem, mas eles sabiam da importância, trabalhavam, davam um valor maior, o jovem hoje também trabalha só que eles vinham com um conhecimento maior. O perfil era diferente. Eu preciso fazer para ter. Quando você compara essa geração, vamos dizer que foi o meio dos 30 anos, vamos pegar  de uns sete anos para cá, esse reflexo da educação básica já começou a entrar. É o aluno que não escreve direito, se você diz para ler o capítulo ele diz: “O senhor está louco! Dezesseis páginas? Não vou ler!” Cometem erros básicos, que se tivessem lido um pouco mais não aconteceria. É o ensino fundamental que está chegando.

Como deverá ser o EAD Ensino A Distância?

O Ensino à Distância, como tudo, há os que são éticos, sérios e os não éticos, enganosos. É uma tendência, as pessoas não têm mais tempo, o custo para buscar fisicamente a educação é alto, tanto físico como monetário. Na UNIMEP já tivemos alunos de Manaus. Já cheguei a dar aulas no Brasil inteiro. Ocorre às vezes do individuo ficar em sua cidade, fazer a universidade e depois procura uma universidade de renome para fazer o curso de pós-graduação e se qualificar. O EAD veio, está ai, vai persistir só que há várias modalidades. Hoje temos faculdades de medicina que não usam mais os cadáveres para estudo, usam robôs, onde são realizados todos os procedimentos. Até um robô infartado, onde se pega a veia. Não vi ainda um curso de medicina pelo EAD, existem sim cursos de aperfeiçoamento, especialização, onde ele já fez o presencial. A meu ver, mesmo trabalhando com robô é diferente de pegar uma veia do ser humano. As variáveis são inúmeras no ser humano. O EAD veio, já está ai, de certo modo facilita, eu posso fazer uma aula minha presencial e transmiti-la em EAD. Já fizemos isso, ter aula aqui em Piracicaba e ter alunos do México, dos Estados Unidos, que naquele horário participam e ficam interferindo. Ele participa! A grande dificuldade dos brasileiros em trazer muitos professores americanos para o Brasil é o idioma. O americano normalmente não fala português, e os nossos alunos têm grande dificuldade com o inglês.

A mística de que o curso superior ensina tudo relativo a profissão ainda existe?

A escola capacita você aprender, não irá ensinar tudo, pois nem tempo tem e nem é o papel dela. Nessa evolução do mundo, é responsabilidade individual buscar o conhecimento constantemente. É a geração do “aprender-aprender”. Para mim, isso é educação. Você dá os passos iniciais.

Você faz palestras, cursos?

Faço! Faço em universidades, associações comerciais, empresas, para dirigentes empresariais. Tem palestras que vou para o exterior, chego a falar para 1.000 pessoas. Este ano estive no México onde fiz uma palestra e lancei um livro, em uma universidade tinha 1.350 pessoas!

Qual é a sensação?

Foi de um gelo total! Mesmo após 31 anos de atividade, dá um frio na barriga! Subi ao palco e pensei; “Meu Pai!” Você olha é um mar de cabeças, pessoas com graduação, empresários, nesse evento de abril eu falei sobre o “Varejo Brasileiro”. As estratégias de marketing utilizadas pelos grandes varejistas. Eles têm muito varejo americano, mas não sabem dar o “tom” deles! Quando você mostra um Habib's, Boticário, Natura, Riachuelo, Casas Bahia, Magazine Luiza. É uma responsabilidade muito grande falar a um publico desses.

Qual é a reação deles?

De espanto, motivação, prestam muita atenção. Quando você está em um palco, você sabe se está agradando ou não. Tem que ter em mente: “Você tem seis segundos para subir e chamar a atenção”. É o tempo mercadológico de marketing que qualquer um tem. Você vai me julgar em seis segundos, quando eu subir naquele palco, sem abrir a boca!  Só de olhar. Se uma pessoa sobe uma escada para falar, se estiver ansioso ou nervoso, é melhor segurar em baixo, respirar, subir ereto, firme, se for falar ao microfone, segurar bem o microfone, pegar alguma coisa para que ele fique ajustado, para ele não falar tibiamente”Boa tarde...”. Tem que ser uma “BOA TARDE!”. Como profissional, você como um colaborador de uma empresa, você é um produto! Você tem que “se vender” para o seu chefe! Não para mostrar que é um bajulador, mas mostrar suas qualidades!

Qual é visão de um bajulador dentro de uma empresa?

São elementos que ainda existem muitos, a pessoa que é bajulada gosta, mas sabe que aquilo não é verdade. Faz bem, quando você está em um cargo de chefia, de comando, a pressão é violenta, ela quer pessoas que o agradem, falem coisas boas, o seu ego vai ficando sempre em pé. Isso ajuda. Só que qualquer pessoa percebe o nível de sinceridade com que foi elogiada.

Você é religioso?

Sou católico.

Dois homens de grande projeção nacional, Nizan Guanaes, empresário e publicitário de sucesso e Abílio Diniz, dedicam-se diariamente a rezar o terço. Segundo consta, estão encontrando um lado reflexivo da vida, como você analisa isso?

Penso que na correria cotidiana, as pessoas falam “Não tenho mais tempo!”. O tempo é o mesmo! São 24 horas para todo mundo. Se você não tem tempo, alguma coisa errada você está fazendo! Você deve estar priorizando seus esforços em alguma coisa que não é o prioritário! Levantar cedo e pegar seu WhatsApp, pegar uma lista de “Bom dia!”; “Bom dia!” e mandar florzinha para todo mundo isso é uma perda de tempo! Há lojistas que pegam seu telefone, e pedem o seu WhatsApp. O que você espera? Que mandem uma oferta! No outro dia você já começa a receber “Bom dia... Bom dia... Bom dia...!” Depois de cinco a seis dias você exclui (deleta). Dado a esse cenário, o terço é um momento em que o ser humano sempre necessitou. Ele para. Faz um “stop”! Olhe para o seu interior, observe mais, fale menos, tente ver porque a pessoa teve determinada reação, coloque-se no lugar dela, será que ela não está sob pressão? Esse é o mundo! Como católico acredito no terço, sou muito devoto de Nossa Senhora de Fátima, não criei o hábito, mas tenho a certeza de que ao parar e rezar o terço a pessoa concentra-se em pedir ou agradecer, você já está alimentando a sua alma. Na hora em que você alimenta o seu interior, estará em equilíbrio. Estando em equilíbrio a margem de erro diminui ou até chega a zero. Já li essa matéria, Abílio Diniz é um exemplo, uma pessoa guerreira, trabalhadora, assim como tudo que tocou virou ouro, sempre há um porque, foi uma pessoa que planejou, fez gestão, ao chegar a uma fase da vida sentiu a necessidade de olhar o seu interior.

Você pratica exercícios físicos?

Sim! Faço aeróbica, sou muito agitado. Segunda, quarta e sexta, às seis horas da manhã estou na academia. É sagrado. Gosto de animais, e tenho um orquidário com mais de 800 vasos. Também gosto de ir para a cozinha, sou bom de cozinha, embora minha esposa afirme que sou bom porque vou poucas vezes!

Qual é o seu prato “pièce de résistance” ou prato mais substancial, irresistível?

Uma boa bacalhoada ou uma costela de porco com geléia de goiaba ou amora.

Quantos países você já visitou?

Acredito que só falta visitar a Alemanha! Europa, Estados Unidos e muitos dos seus estados, América Latina, Canadá, já estive em todos esses lugares.

Você já esteve na cidade de origem da sua família?

Sim, estive em Nápoles, meu avô Giuseppe Giuliani e sua esposa Clarice Giuliani plantavam uva, faziam vinho, vieram para o Brasil, adquiriram terra em no bairro rural de Bairrinho, fazenda, já vieram pra Piracicaba.

As suas palestras são abertas ao público?

Algumas têm algum custo, as outras não. Dia 23 de novembro estarei fazendo uma palestra em Limeira, o custo é levar material escolar para doar para crianças carentes. Será as 19:30 horas.

Uma das coisas que me fascina é ver os jovens digitarem o celular com os polegares, está alem da minha capacidade!

Nem eu consigo! Só que eles não fazem uma coisa que nós fazemos! Aprendemos datilografia com os 10 dedos! Fiz o curso, com uma taboa cobrindo o teclado, a professora era Rosinha Orlando Canto, na Rua XV de Novembro. Quando eu dizia que queria acabar logo o curso, ela se limitava a dizer: “-Sua rapidez não está boa ainda!. Você só sai daqui quando chegar a 250 toques por minuto”. As pessoas reconhecem que não somos nativos digitais e sim imigrantes digitais assim que pegamos o celular na mão.

sexta-feira, novembro 10, 2017

ELZA DE CAMARGO EVANGELISTA


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com
Sábado 11 de novembro de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/


http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA:ELZA DE CAMARGO EVANGELISTA


 

Elza de Camargo Evangelista, corpo ereto, varria a entrada da sua casa. As folhas e pequenos frutos estavam espalhados pelo caminho, diariamente esse é um dos seus afazeres. Ao me apresentar, disse-lhe o motivo da minha visita, uma entrevista para A Tribuna Piracicabana. De forma gentil, mas firme, disse-me que se considerava uma pessoa comum, não sabia como poderia contribuir, mas de forma hospitaleira convidou-me para entrar. Os seus 79 anos de existência pareciam constar apenas no calendário, tal a sua disposição.

A senhora nasceu em que cidade?

Nasci em Capivari, meu pai com a nossa família veio morar no Retiro, uma vilinha afastada, dentro do bairro Monte Alegre, época em que tinha outro lugar bem retirado conhecido por Viúva. Nasci a 23 de maio de 1938. Fiz o primeiro grau no Grupo Escolar Marquês de Monte Alegre. Sou filha de José de Camargo e Cecília Ricardo de Camargo. Tiverem treze filhos, sendo que três meninas faleceram com pouco tempo de vida. Os filhos que sobreviveram foram dez: Francisco, Manoel, Valdemar, Elza, Odete, Benedito, Maria Helena, Ana, Neusa Maria e Aparecida.

Com quantos anos a senhora foi morar no Monte Alegre?

Eu era bem pequena, naquela época comentavam que o Monte Alegre iria ser continuidade da cidade de Piracicaba. Não havia televisão, o meu pai tinha um rádio, no porta rádio fixado na parede, minha mãe dizia “venha escolher o feijão para mim” minha irmã e eu estávamos mexendo no rádio, disse:lhe “Dete, venha me ajudar a escolher feijão”, puxei-a com rádio e tudo. O rádio caiu no chão. Já imaginamos que quando meu pai chegasse do serviço iria bater em nós. Meu pai não bateu, pegou o rádio do chão, ele só tinha esfolado, era uma madeira tão boa que não quebrou. Colocou no lugar, ligou e funcionou!

Com que idade a senhora começou a trabalhar?

Aos catorze anos comecei a trabalhar na fábrica de papel da Usina Monte Alegre. Trabalhava na escolha, ia até a pilha de papel, uma pessoa ficava separando em  pilhas menores de papel, chamada de resma (500 folhas de papel) , separava, lembro-me de que tinha um banquinho para subir e alcançar o papel. Fazíamos os leques de papel sobre a mesa e escolhia. Verificava se havia alguma imperfeição, era o que denominamos hoje de controle de qualidade. O papel era branco, uma quantidade grande, era feita a exportação desse papel. O papel era produzido do bagaço da cana-de-açúcar.

A que horas era o inicio do trabalho?

Entrava às sete horas da manhã, parava para o almoço, alguém da família levava a marmita. Se fosse almoçar em casa tinha que caminhar pela estrada, e era um bom percurso. Permaneci uns três anos trabalhando na fábrica de papel.

Após sair desse trabalho, qual foi o próximo?

Vim para Piracicaba para ser empregada doméstica. Trabalhei na casa do Professor Alfredo Lineu Cardoso, pai do médico Dr. Lineu Antonio Cardoso. O profesor morava com a sua família a Rua Joaquim Andrè esquina com a Rua Boa Morte. A esposa dele é Dona Marina Capelato Cardoso. No período em que trabalhei lá eles tinham dois filhos: o Irineuzinho e o Augusto. O sobradinho onde eles moravam existe até hoje, eu sempre passo por lá. Trabalhei também na casa do Sr. Benedito Duarte Novaes. Ele trabalhava com pneus, a casa dele era anexa a sua empresa. Naquele tempo as ruas em sua maioria eram calçadas com paralelepípedo.

Era muito comum as casas terem um bom quintal naquela época.

Tinha, havia muitas frutas. A carência maior era de um bom banheiro. Eram raras as casas que tinham banheiro interno, eram em sua maioria no quintal, onde havia uma fossa séptica. Banho era de bacia! Como tudo mudou, hoje meu chuveiro é dos modelos mais modernos, uma ducha grande, Aqueles banhos de bacia eram um terror, uma vida muito difícil. Tempo do sabonete Eucalol. A roupa era lavada no tanque, a mão, esfregava sabão peça por peça, sabão Minerva, sabão Campeiro, “Sabão Rinso Lava Mais Branco”, vassoura de palha, escovão para passar no assoalho após ter encerado. Lenbro-me da Etubaina, Gengibirra,  Existiam umas enceradeirs que trepidavam, pareciam britadeiras. Naquele tempo trabalhava-se aos sábados também.

A senhora no período em que morava no Monte Alegre plantou cana-de-açucar?

Plantei, cortei. Naquela época já queimavam a cana. Havia o campeonato para disputar quem era o melhor cortador de cana-de-açúcar, quando eu era pequenina sempre havia os piqueniques no campinho de futebol. O meu pai nunca deixou eu ir, Fui bem pouco na Teixeirada, era um evento que tinha brinquedos para as crianças, havia uma escada que ia até a beira do Rio Piracicaba, Muitas pessoas andavam de barco.

No Monte Alegre havia os bailinhos também?

Havia o Salão de Bailes, próximo ao cinema, Algumas vezes fui às matinês dos domingo no cinema. Baile, carnaval meu pai não deixava irmos.

Havia missa toda semana?

Todos os domingos havia missa na Capela São Pedro que tem em suas paredes afrescos do pintor Alfredo Volpi.

A senhora casou-se?

Casei-me com Hélio Evangelista. Ele foi motorista de taxi em Piracicaba por 17 anos. Começou a trabalhar no centro, no final ele era taxista no ponto da Churrascaria Beira Rio. Ainda tem dois amigos dele que trabalham lá. Já são aposentados, mas continuam trabalhando.

Como a senhora vê essa nova tecnologia que está presente na vida de muitas pessoas?

Acho ótimo! Uso WhatsApp, tenho Facebook, Instagram, Messenger, não podemos ficar para trás!

Como a senhora aprendeu a trabalhar com essas ferramentas tecnológicas?

Tenho um sobrinho que me ensinou bastante coisa, mas tive que aprender muita coisa sozinha. Fui pesquisando por mim mesma, aprendi muita coisa.

O computador é uma janela para o mundo?

Sem dúvida!

A senhora tem excelente saúde física e mental, qual é o segredo para tanta saúde e disposição?

Não sei explicar. A minha infência, adolelescência foi muito difícil. Acredito que para superar muitas dificuldades que encontrei na vida foi só pela fé em Deus. No ano de 1980, fui até a Unicamp, tinham aberto inscrições para prestar um concurso. Eu já estava casada, meu marido nem queria que eu fosse, mas fiz o concurso. Passei. Fui chamada em 1984. Fui trabalhar em Campinas, no restaurante da Unicamp. Meu marido ficou em Piracicaba, trabalhando com o taxi, eu trabalhava a semana toda em Campinas, morava com a minha irmã, aos finais de semana vinha para Piracicaba, segunda feira cedinho meu marido me levava até Campinas para trabalhar. Teve um concurso para motorista da Unicamp. Meu marido fez o concurso e passou. Foi trabalhar lá. Por 10 anos ele trabalhou em Campinas. Vinhamos para Piracicaba, a nossa casa era aqui, as crianças das primeiras nupcias do Hélio, estavam aqui, sempre os considerei como filhos. Por 13 anos trabalhei no restaurante, dia 5 de novembro fez 20 anos que me aposentei.

No restaurante a senhora atendia a alunos, professores, funcionários?

Todos que frequentavam o restaurante da Unicamp passavam por ali. A Unicamp é uma cidade! Foi uma vitória! Meu marido vendeu o ponto de taxi que ele tinha em Piracicaba, por uns tempos ficou com o automóvel Corcel. Meu marido era muito querido na Unicamp. Há quem diga que tivemos sorte, mas também lutamos muito para vencer.

Qual era o prato preferido no restaurante da Unicamp?

Era quando tinha feijoada!

A senhora frequentava os cinemas de Piracicaba?

Frequenva o Politeama, Broadway, Colonial, São José. Hoje só temos cinemas no Shopping!

Existe uma cidade que conserva orgulhosamente como um monumento o seu tradicional cinema!

É o Cine Vera Cruz de Capivari! E funciona regularmente! Uma maravilha que preservaram! Quando viemos para Piracicaba o bairro Monte Alegre era circundado por mato. Na decada de 70 meu pai mudou-se para Piracicaba, foi morar no bairro Morumbi, também era mato. Para vir do Monte Alegre para a “cidade” de Piracicaba utilizavamos a estrada do Campo de Aviação, estrada de terra, vinhamos com a jardineira, enchia de poeira dentro dela. Hoje sinto-me milionária, porque tenho paz. Deito e durmo.

Ha quanto tempo a senhora reside no Lar dos Velhinhos?

Mudei qui em dezembro de 2013. Antes eu morava em um edifício a Rua Moraes Barros. Meu marido faleceu em 2008. Um dia vi Dr. Jairo Ribeiro de Mattos no centro, ele é muito conhecido na cidade, eu o conhecia, chamei: “-Seu Jairo!”. Ele virou na minha direção e perguntou-me se o conhecia. Disse-lhe: “Seu Jairo, quem não conhece o senhor nessa cidade?”. Disse-lhe que gostaria muito de morar no Lar dos Velhinhos. Expliquei-lhe minha condição, disse-lhe que não queria morar em outro lugar que não fosse o Lar dos Velhinhos. Ele anotou meus dados e disse-me: “-Em menos de 10 dias a senhora irá receber um chamado do Serviço Social do Lar”. Uma semana depois recebi uma ligação da Assistente Social. E pronto deu certo!

A senhora gosta de televisão?

Gosto ! Novela da Globo eu não assisto! Não gosto da Globo! Não vejo nada que tem na Rede Globo! Não dá para ver, é só mau exemplo, para os jovens isso é terrível! Mexe com a família, leva a discórdia entre casais. O canal da minha preferência é o SBT. Eu assisto as novelas escritas pela esposa do Silvio Santos. São novelas voltadas para a família.

E instrumento, a senhora toca algum?

Trabalhei em muitas casas em que a pessoa era professora de piano, passei a gostar de piano, meu marido comprou um teclado para mim. Até hoje eu tiro alguma coisinha.

Aqui na sua casa é a senhora mesmo que faz seu alimento?

Hoje eu comprei um marmitex, mas tenho meu fogão, faço feijão, arroz, salada, carne de panela de pressão, uma costela. Quando estou bem disposta, marco uma quitinete na praia, em maio fiz 79 anos, passei na praia. Vou para Santos, sozinha, pego o ônibus e vou. Fiquei uma semana.

Quando caiu o Edifício Luiz de Queiroz (COMURBA) a senhora lembra-se?

 Quando o COMURBA estava sendo construído, eu morava no Monte Alegre ainda,  tinha uma irmã que ia casar, vim com ela em Piracicaba, era assim que nos referíamos: “vou à Pircicaba”. Tinha uma sapataria a Rua do Rosário, chamada Casa Oliveira, viemos juntas para ela comprar o sapato do seu casamento. Nós duas passamos em frente ao COMURBA, era hora de almoço, aqueles jovens, pedreiros, estavam todos sentados descansando, minha irmã tinha 19 anos, eu era nova, bonita, ao passarmos percebemos que os moços nos olharam com atenção. Dali a uma semana ficamos sabendo que o COMURBA tinha caído, aqueles jovens todos possívelmente foram soterrados. Era dia 6 de novembro de 1964.
E o Rio Piracicaba? A senhora costuma ir passear as vezes?
Eu costumo pescar no Rio Piracicaba! A EPTV filmou meu marido e eu pescando, tenho a fita com o filme.
A senhora não conta histórias de pescador?

Conto! É história que aconteceu mesmo, não é invenção não!

De que tamanho era o peixe?

Não era o peixe! Era garça! A garça veio, pegou a vara e saiu voando com a vara de pesca dependurada! Era de um dos moços que estavam pescando próximos de mim. Quanto peixe eu peguei! Cascudo, tilápia, meu marido pegava tanta tilápia que nem ficava com elas, distribuía com os vizinhos. Lambari pegava em grande quantidade. Uma vez comecei a pegar lambari sem isca! Só pelo brilho do anzol.

Vocês pescavam de barranco ou de bote?

De barranco, lá embaixo perto da ponte do Morato. Pesco até hoje. Estava pescando no lago do Lar dos Velhinhos, um peixe bem grande, arrancou uma parte da minha vara de pesca, ela é vara que monta e desmonta. Fiquei só com um pedaço da vara na mão! Eu pescava também no lago da Rua do Porto.

Mas ali não tem muita piranha?

Peguei uma piranha enorme lá! Para tirar tem que tomar muito cuidado, ela tem dentes afiados.

Dá para comer piranha?

Serve para fazer caldo! Sopa! É muito bom! No lago da Rua do Porto jogaram muitos alevinos de tucunaré. Até teve um dia que peguei um. Era pequeno, soltei, com cuidado para não se machucar.

 

 

JOSÉ INÁCIO MUGÃO SLEIMANN


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 04 de novembro de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/







ENTREVISTADO: JOSÉ INÁCIO MUGÃO SLEIMANN

José Inácio Mugão Sleimann nasceu a 31 de julho de 1947 em Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Seu pai é Jabra Abdala Sleimann e sua mãe Zarife José Tannus, naturais de Bakto, Síria. Tiveram sete filhos: Abdala e Maria nascidos na Síria e Julia, Tereza, Marta, Janira e José Inácio nascidos no Brasil. Foi casado em primeiras núpcias com Eliana Marta Sabino Sleimann, já falecida, com quem teve quatro filhos: Ricardo, Milena, Carlos Eduardo e Leandro. José Inácio é casado em segundas núpcias com Nurair Cristina Fuzinelli Sleimann. José Inácio Mugão Sleimann formou-se em Direito na Faculdade de Direito de São Carlos, em 1973. 

Como se deu a imigração dos seus pais e irmãos?

Inicialmente meu pai veio para a Argentina trabalhar na colheita de trigo, ele tinha um irmão que morava na cidade de Lobos, localizada na província de Buenos Aires, localizada a 115 quilômetros da cidade de Buenos Aires. Após um ano decidiu vir para o Rio Grande do Sul, veio de trem. No Rio Grande do Sul mudaram o nome dele, Originariamente era Suliman ou Suleiman, colocaram Sleimann O nome significa "homem de paz" e corresponde ao nome inglês Solomon . Meu pai chegou ao Brasil na década de 10. Ele foi para Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Dez anos depois ele mandou buscar minha mãe e meus irmãos. Meu pai vendia frutas, depois virou mascate, abriu loja, isso em Passo Fundo. Comprou um sítio onde plantou 1.500 pés de azeitonas. Era um sítio que além das azeitonas produzia 90% da nossa alimentação.

Você estudou em Passo Fundo?

Estudei no Colégio Notre Dame, fiz o jardim de infância e primeiro ano, fui colega do Filipão (Luiz Felipe Scolari), gaúcho de Passo fundo, somos amigos de familia, ele fez um livro onde sou citado. Meu pai apesar de estrangeiro era um grande cabo eleitoral. Meu primo Daniel Dipp foi prefeito de Passo Fundo, deputado federal, sempre foi político. Meu pai era amigo de Leonel Brizola e de Getúlio Vargas. O Brizola se criou com meu irmão Abdala em Passo Fundo, o Brizola gostava muito de ir em casa para comer quibe. Quem criou ele na cidade foi Dr. Sabino Arias, Brizola era de Carazinho, criou-se em Passo Fundo, quem o encaminhou foi Dr. Sabino Arias. O irmão do Brizola foi Chefe da Estação de trem de Passo Fundo da VFRGS – Viação Férrea Rio Grande do Sul.

Seu interesse por política começou quando?

Desde pequenino sempre gostei! Participava dos comícios, época de Fernando Ferrari, o “Mãos Limpas”, participava com ele no Movimento Trabalhista Renovador. Eu era ligado ao PTB, sai do PTB fomos para o MTR, Uma turma da cidade foi para o Movimento, o prefeito, meu primo Daniel Dipp, depois disso vieram os partidos políticos: ARENA – Aliança Renovadora Naciona e MDB – Movimento Democrático Brasileiro. Por todo meu histórico aderi ao MDB. O Adhemar de Barros esteve com sua esposa Dona Leonor duas vezes em Passo Fundo, eu era criança, mas recordo que era um casal muito simpático, foram a missa das seis horas da manhã nas dua vezes ques estiveram na cidade, comungaram. A padroeira lá é Nossa Senhora Aparecida. O Jânio Quadros foi de trem, fez um comício na gare, em cima de um caminhão Alfa Romeu, esses comícios eram organizados sem a tecnologia atual, havia a necessidade de alguém segurar o microfofone, os políticos gesticulavam muito. Na ida desses dois candidatos eu estava cumprindo essa função ao lado deles. Essas passagens fui recordar com Adhemar de Barros, junto com o filho dele que é muito meu amigo, o Adhemarzinho. E junto cm o Jânio que eu estive com ele, em sua residência no Guarujá e eu era vereador aqui em Piracicaba. Participei também da “Revolução da Legalidade” no Rio Grande do Sul, um dos acontecimentos mais dramáticos da história do Rio Grande do Sul, iniciou em 25 de agosto de 1961, pelo governador do Estado, Leonel Brizola que, ao tomar conhecimento da renúncia de Jânio Quadros à presidência do país, resistiu bravamente para garantir a posse do vice-presidente João Goulart. Durante doze dias, Brizola manteve firme a “Cadeia da Legalidade”, de dentro do Palácio Piratini, tendo em volta uma multidão na Praça da Matriz, atingindo a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, que se estabeleceu em sessão permanente. Eu já morava aqui em São Paulo quando houve uma campanha para eleição de governadores: Zé Bonitinho (José Bonifácio Coutinho Nogueira); Adhemar de Barros; Jânio Quadros, eu ia aos comícios para agitar, gostava de agitar. Era contra a ditadura, e tinha um padrinho general, sogro do meu primo, general também.

Você continuou estudando em Passo Fundo?

Fui estudar na Escola Nossa Senhora da Conceição, dos Irmãos Maristas, depois passei para o Colégio Estadual Nicolau Araujo Vergueiro, quando estava com 14 a15 anos vim para São Paulo.Meus irmãos Abdala e Maria já moravam em São Paulo, no bairro Cambuci, a Rua Dona Ana Nery, 563, quase esquina com a Avenida do Estado. Eu convivi ali, ia jogar futebol na Vila Mariana. Estudei no Liceu Acadêmico São Paulo, na Rua Oriente, onde iniciei o Curso Técnico de Contabilidade. Meu irmão era csado com uma baiana e trabalhava com artigos religiosos. Fui para a Bahia, não me adaptei. No Mercado Modelo, o antigo, meu irmão comprou um posto de gasolina em Piracicaba. Sem conhecermos a cidade! Ele adquiriu o posto de um grego, amigo do meu irmão e do meu pai, ele tinha uma confecção em São Paulo seu nome era Jean Athanase Billis. Ele tinha esse posto em função do cunhado dele que morava aqui e trabalhava no Banco da Lavoura de Minas Gerais. Foi assim que em 1966 eu vim para Piracicaba, com 19 anos.

Você não conhecia a cidade?

Nem sabia que existia! A primeira vez eu vim de carro com o Jean Athanase Billis. A mudança veio de trem. Eu morava no posto, tinha dormitórios no Posto Canta Galo. Meu irmão trouxe o meu cunhado Angêlo Zancanaro, para Piracicaba, juntamente com a sua esposa, nossa irmã Maria. Eles tiveram os filhos Sérgio e Azize, nome da minha avó, Marcos e Carlinhos. O meu cunhado e minha irmã assumiram o Restaurante Canta-Galo que ficava anexo ao posto. Ele fazia um churrasco diferente dos outros. Era um hmem muito sério, enérgico, não admitia nada errado.

Você era responsável pelo posto?

Eu tomava conta do Posto Canta Galo.

Tinha um funcionário que lavava carros e era muito famoso?

Pedro Chiquito! Maior cantador de cururu de todos os tempos! Temos grandes lembranças dele.

Como foi seu ingresso na política de Piracicaba?

Eu gostava de política! O Dr. João Pacheco Chaves parou no posto, perguntei-lhe se era deputado. Ele disse-me que sim. Perguntou-me quem eu era, disse-lhe que era o Gaúcho, dono do posto. Mas que eu gostava de política. O Dr. Francisco Antonio Coelho, o ¨Coelhinho” eu não o conhecia, ele se apresentou, disse-me que tinha trazido o livro de filiação para que eu assinasse como membro do partido MDB. Assinei, minha ficha de filiação ao MDB de Piracicaba é de número 67. Em 1968 houve eleições para prefeito. Lembro-me de alguns candidatos: João Guidotti, João Fleury, e tinha outros. Apoiei João Guidotti que era do MDB.

Em 1970 Dr. João Pacheco Chaves comentou com Franco Montoro que conhecia um rapaz bom de discurso. Vieram me buscar no posto e me levaram na Chácara Nazareth, onde estava Franco Montoro, na época candidato a senador. Já fui fazendo comício, fui abrindo espaço para ele. Fui participando. Disse a ele que se ganhasse a eleição precisava conseguir o asfalto entre Piracicaba e Anhembi.

Você teve algum “convite” para ir até a unidade militar de Campinas?

Quando o presidente João Baptista Figueiredo fez uma alusão que considerei depreciativa aos gaúchos, disse que preferia o odor de cavalos, mesmo ele sendo filho de gaúchos, fui à tribuna da câmara, meti-lhe o pau. No dia seguinte veio o Capitão Alfredo Mansur, e disse-me: “-O senhor precisa ir para Campinas!” no 5º GCAM. Liguei para Brasília, falei com o meu padrinho, expliquei o ocorrido, não disse nada do Capitão Mansur. Fomos para Campinas. O general deixou que eu entrasse, Capitão Mansur aguardou fora. O General disse-me que o que eu estava fazendo não estava correto. Disse ao general, um gaúcho: “Está certo o que o general Figueiredo falou de nós?” O general imediatamente respondeu: “Servi no 8º Regimento de Cavalaria de Santana do Livramento!”. Fui dispensado na hora. Houve outra ocasião semelhante, por outro motivo, quando também fui acompanhado do Capitão Mansur.

Você continuou fazendo política?

Apareceu o Quércia como candidato a senador. O comício dele era em Rio das Pedras. Cheguei lá, tinha uma pessoa que tinha trabalhado com o Montoro, perguntaram-me se eu ia falar, disse que se me autorizassem iria. Subi no palanque, comecei a falar, o Quércia veio me abraçar, me agradecer, eu não o conhecia, comecei a amizade com ele ali. Em Piracicaba fiz o comício também para ele. Ele perguntou-me se queria apoiá-lo em sua campanha, eu fui. Fiquei muito amigo dele. Para mim podem falar o que for, foi um dos maiores amigos que tive dentro da política. Tenho-o dentro do meu coração. Quando ele foi governador do Estado fui diretor da antiga Banespa Mineração, era diretor de patrimônio, era para fazer a liquidação da Banespa Mineração.

E a política piracicabana?

Em 1972 Dr. Adilson Benedito Maluf foi candidato a prefeito, o Hidinho Maluf, irmão do Adilson e eu, sentados no banco da praça, ele disse: “Acho que o meu irmão vai ser candidato a prefeito!”. Perguntei de qual partido. Quando ele disse-me que era do MDB disse-lhe: “- Pode dizer à ele que tem um cabo eleitoral, que sou eu !” Eu estava no Posto Cantagalo, o Hidinho havia dito que ele tinha um corcel azul, quando o Adilson parou, perguntei-lhe se ele era o Dr. Adilson Maluf? Disse-lhe: “Sou o Gaúcho, sou seu cabo eleitoral!”.

Até então você era conhecido por Gaucho?

Era! Mas o Professor Helmeister do Colégio Piracicabano, onde continuei meus estudos de contabilidade, me apelidou de Mug, Mug da Sorte. O cantor Wilson Simonal havia lançado a música do Mug da Sorte. Quando entrei na classe ele dise-me: “Chegou o Mug da Sorte!”. Eu era magrinho, jogava polo aquatico no Palmeiras em São Paulo. Fizemos a campanha do Adilson, ganhamos, e houve a briga política com o Cecílio Elias Netto, hoje um grande amigo meu. O Cecílio foi cumprimentar o Adilson pela vitória, em uma reunião na casa da irmã do Adilson, eu impedi a sua entrada. No dia seguinte “O Diário” trazia referências a minha atitude, denominando-me por Mugão. Nunca mais me chamaram pelo nome José Inácio! Tanto que incorporei ao meu nome oficial o apelido Mugão. A cidade inteira me conhecia por Mugão! Em 1976 fui eleito vereador, ganhei a eleição por 3 votos do João Sachs e do Taquara. Estavamos empatados, até que tive 3 votos a mais. Fui eleito com 963 votos. O segundo mandato fui eleito em 1982, Piracicaba tinha 632 candidatos a vereador, fui eleito em primeiro lugar com 2523 votos na proporcionalidade fui o mais votado até hoje. Tinha 11 candidatos a prefeito. O mandato de vereador era de seis anos, fui vereador seis anos com o prefeito João Hermann Netto e seis anos com o prefeito Adilson Benedito Maluf.

Você sempre teve uma atuação expressiva.

Sempre batalhei apaixonadamente pela causa que defendia; em 1974, fui nomeado responsável pela limpeza pública do município, quando criei as famosas “margaridas” (como eram chamadas as mulheres que varrem as vias públicas). Incentivei ativamente a criação do Parque das Torres, no Capim Fino, possibilitando as retransmissões de televisão em Piracicaba. Atuei na criação do entreposto municipal de abastecimento de hortifrutigranjeiros, dando ao entorno do mercado municipal melhores condições de higiene. Participei de diversas conquistas junto ao Governo do Estado, como as passarelas em frente à empresa Dedini e do bairro Cecap, as escolas da Vila Industrial e Vila Monteiro, instalação da Regional da Cetesb, Distrito Policial de Santa Terezinha ( o único da cidade com sede própria)  na articulação para o asfaltamento das estradas Piracicaba-Anhumas e Piracicaba-Anhembi, autorizadas pelo então governador do Estado, Franco Montoro. trabalhei pela expansão da iluminação e telefonia nos bairros de Anhumas, Ibitiruna e Tanquã, sendo a maior extensão do Estado de São Paulo em iluminação e telefonia em bairros rurais na época. Lutei ainda pela instalação do Posto de Saúde de Ibitiruna, realizada com recursos próprios, atuei pela criação de centros comunitários, creches, postos de saúde, iluminação publica, extensão da rede de água e esgoto e expansão do asfalto. Fui diretor de patrimônio da Empresa Paulista de Turismo (Paulistur) no governo Orestes Quércia e na gestão Antonio Fleury Filho fui sub-diretor do interior da Cetesb. Ocupei ainda o cargo de membro da Executiva da União dos Vereadores do Estado de São Paulo e como conselheiro da Associação Paulista dos Municípios.

Você recebeu o título de cidadão piracicabano?

Por enquanto não! Tenho Piracicaba e o XV de Novembro em meu coração!


 

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