terça-feira, novembro 16, 2010

OSWALDO TAGLIETTA FILHO

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 13 de novembro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: OSWALDO TAGLIETTA FILHO
O médico cirurgião Oswaldo Taglietta Filho nasceu em Piracicaba em janeiro de 1962, é filho do modelador Oswaldo Taglietta, ex-funcionário da Dedini e da professora Evanil Baldo Taglietta. Praticante de esporte atuou como médico junto a equipes esportivas, sendo marcante a sua atuação no XV de Novembro de Piracicaba. Dr. Oswaldo revela fatos pitorescos, além de descrever a sensação de tornar-se parte do espetáculo, uma verdadeira arte que é uma partida de futebol. A alegre convivência com os atletas, equipes esportivas, em uma época em que o XV de Piracicaba foi patrocinado pela TAM, do lendário Comandante Rolim Adolfo Amaro. Confirma uma particularidade de Edson Arantes do Nascimento: o Rei Pelé é míope! Taglietta aborda aspectos da prevenção da osteoporose, um fantasma que ronda particularmente as mulheres.
Ao nascer sua família morava em qual bairro de Piracicaba?
Residia no centro na esquina da Rua Prudente de Moraes com Rua Tiradentes. Meu pai antes de ser funcionário da Dedini, trabalhou esculpindo móveis na empresa de Miguel (Miguelão) Sansígolo. Em 1968 passamos a morar na Rua Dona Francisca e posteriormente na Rua Lourenço Ducatti, próximo a Igreja São Luiz, na Vila Rezende. Na época havia corridas de kart que contornavam a igreja. Tenho dois irmãos, um é dentista e outro é professor universitário de informática.
A decisão de ser médico surgiu em que época da sua vida?
Nunca me imaginei atuando em outra profissão! Fiz o primário no Grupo Escolar José Romão, o ginásio no Jerônimo Gallo e sou da primeira turma do Colégio CLQ, o primeiro ano estudei na Avenida Carlos Martins Sodero, onde funciona o cursinho CLQ, os outros dois anos foram nas novas instalações á Rua Hide Maluf. Era um grupo pequeno, foi muito bom. Sempre gostei muito da área de esportes, jogava basquete na época de ginásio, colégio, cheguei a jogar no juvenil do XV de Novembro, isso no tempo do técnico Joãozinho e do Marquinhos. Tenho 1 metro e 85 centímetros, considerada altura normal, mas quando jovem destacava-se entre os meus colegas. Nunca fui magrinho, fazia arremesso de peso, de disco, cheguei a treinar com Marcos Leme, um excelente atleta de arremesso de disco. Eu praticava esportes pela satisfação em fazê-lo, nunca tive maiores pretensões nessa área.
O senhor estudou medicina em qual faculdade?
Estudei medicina na faculdade de Pouso Alegre, fiz a residência médica no Hospital da Beneficência Portuguesa de Santos permanecendo por quatro anos naquela cidade. Não tinha a intenção de retornar a Piracicaba, havia um conceito formado de que a medicina em Piracicaba era praticada em um circulo fechado, um pensamento que hoje não existe mais. Vim passar umas férias junto a minha família, surgiu um plantão no pronto socorro existente na Avenida 31 de Março, o chefe era o Dr. Tuffi Chalita, ele disse-me: “- Por que você não fica trabalhando aqui?”. Acabei ficando, ingressei no corpo clinico do Hospital da Cana. E assim estou aqui como médico a mais de vinte anos, exercendo a ortopedia, basicamente cuidando de joelho e quadril.
Quando o senhor passou a exercer a medicina esportiva?
Fui médico do VX de Novembro de Piracicaba por 12 anos. Por volta de 1991 o presidente do XV era Waldir Athanazio, o time tinha acabado de subir á primeira divisão, tinha um quadro razoável. Em 1994 a TAM assumiu a direção sob a presidência do Comandante Rolim Amaro, uma pessoa que tinha paixão pelo que fazia, era o grande segredo dele. Ele sabia viver a vida lembro-me de uma passagem em que o XV estava concentrado no Hotel Antonio`s, fui á concentração, ví quando estava chegando em um automóvel Porshe maravilhoso o Comandante Rolim, já na garagem disse-me; “-Gostou doutor?”, sem dúvida respondi-lhe que sim, ao que ele falou: “- A revendedora ofereceu-me para fazer o teste-drive!”. Era esse o nível que ele freqüentava.
Qual era de fato o objetivo da TAM em patrocinar o XV de Novembro de Piracicaba?
Até hoje eu me questiono a respeito! O Comandante Rolim tinha ligações com Piracicaba, ao que consta antes de fundar a TAM ele havia sido piloto particular de um empresário da cidade. Penso que estrategicamente Piracicaba interessava ao seu empreendimento, acredito até que ele previa esse “boom”, o que a empresa Azul faz atualmente em Campinas já era uma idéia sua. Olhando no sentido de hoje para a época temos uma visualização do que se passava pela sua cabeça. Ele montou uma escola de formação de pilotos aeronáuticos em Piracicaba. O Comandante Rolim elaborou um grande projeto de um CT (Centro de Treinamento), onde além de CT, havia uma escola de pilotos, hotelaria. Só não foi adiante em função de um “racha” dentro do XV de Novembro. Caso esse projeto tivesse sido levado adiante, com certeza Piracicaba teria o CT mais moderno do Brasil e deveria ser sede de equipes da Copa do Mundo. A aviação regional sempre foi a grande paixão do Comandante Rolim.
Como o senhor tornou-se médico do XV de Piracicaba?
Logo após retornar á Piracicaba, o Pianelli disse-me que o Tadeu estava saindo do XV e que haviam pedido que ele indicasse alguém, se eu aceitava. Antes de tudo, sou torcedor do XV, ainda menino ia assistir aos jogos do time, sentava na arquibancada debaixo de sol escaldante para ver o meu time jogar. Um dos meus ícones era o médico do XV, na época Dr. Mello Ayres. Quando recebi o convite para ser médico do XV não pensei duas vezes, era meu sonho de infância.
O cargo é remunerado?
No inicio foi uma relação em que financeiramente não valia a pena. Na época da TAM havia uma relação mais profissional, com carteira de trabalho assinada, mesmo assim nunca foi um salário atraente. Havia a remuneração com participação de “bicho”
(pagamento de um extra aos jogadores pelas partidas em que fossem vencedores), teve épocas boas, em que o XV liderava o campeonato paulista, foi um período bom, tinha “bicho” que compensava. Já com o Campeonato da Série B, era um campeonato pesado com relação a disponibilidade, se eu colocasse na ponta do lápis estava colocando dinheiro de próprio bolso. Saindo em uma segunda-feira para jogar na quarta-feira em São Luiz do Maranhão, de lá ia na quinta-feira á Fortaleza para jogar no domingo e estar de volta á Piracicaba na segunda-feira, com isso ficava uma semana fora da cidade.
O senhor era o responsável pela saúde da equipe?
Eu era o médico responsável pelo Departamento Médico. Os atletas tinham um convenio firmado com a AMHPLA, onde todo corpo clinico prestava assistência médica em suas especialidades, ao incorporar um atleta á equipe eram feitas avaliações nas mais conceituadas instituições clínicas de São Paulo.
Quais eram os problemas mais comuns encontrados no atleta que entrava para a equipe?
A TAM tinha uma política de buscar novos talentos Brasil afora. Os jogadores tinham uma grande briga com a nutricionista. Eles queriam comer carne, arroz, enquanto a nutricionista tinha que fazer a dieta balanceada.
Vemos em partidas de futebol, na disputa de algum lance, jogadores que caem ao solo com expressão de dores agudas, entra nessa hora a representação teatral?
Muito! Impressionar o juiz, colocar pressão sobre ele, colocar a torcida contra o arbitro, esfriar uma jogada, são alguns dos motivos para essas artimanhas, isso ocorre no mundo todo. É lógico que existe a lesão em uma partida, me preocupa muito mais o jogador que cai e fica quieto do que aquele que sai rolando. Com dor na perna você não sai rolando! Em campo há jogo de sinais, ao chegar perto do jogador contundido ele dá uma cutucadinha no seu pé e você já sabe que aquilo tudo que ele está fazendo é para dar uma esfriada. O goleiro não pode ser tirado de campo, com isso o juiz tem que esperar que ele seja atendido, proporcionando com que ele ganhe tempo para o time. Quando um médico passa a atender um jogador o mesmo tem que sair, o time fica com 10 jogadores, isso muitas vezes irrita o técnico. Se o juiz percebe que foi catimba do jogador ele pode enrolar a sua volta á partida.
Há algumas passagens folclóricas das quais o senhor participou?
Sim há algumas! Uma famosa ocorreu no primeiro campeonato paulista do qual participei, na segunda ou terceira rodada a partida foi no Estádio Pacaembu, o jogo realizado a noite era contra o Corinthians. Um grande número de elementos da torcida Fiel estava presente a disputa. Na época eu pesava 140 quilos. Havia uma orientação da Federação Paulista de Futebol para o médico não entrar em campo, não podia cruzar o campo, para atender o jogador deveria ser feito o contorno do campo pelas linhas laterais. Um jogador do XV, o gaucho Airton, uma grande figura, caiu no meio do campo, do lado oposto. Era o lugar mais distante do ponto onde eu estava. Sai, percorrendo a lateral, fui ao pé da torcida Fiel. Atendi voltei ao banco. Quinze minutos depois o Airton caiu no mesmo lugar. Dessa vez era malandragem dele. Ao passar atrás do gol, a cada passo que eu dava escutava a marcação da torcida do Corinthians; “Tum..tum..tum...tum...”. Quando eu acelerava o passo eles aceleravam a marcação. Quando cheguei junto ao Airton perguntei o que tinha ocorrido e ele disse-me que era apenas encenação. Voltei ao meu posto, acompanhado pela marcação dos meus passos pela torcida do Corinthians.
Qual jogador de futebol o senhor considera como o melhor atleta pelo seu condicionamento físico?
O Pelé! Pela diferenciação dele, ele veio pronto e era aquela maquina. Ele tinha miopia e não era pequena, conheci em Santos a pessoa que fazia os seus óculos. Imagine se Pelé enxergasse bem!
Dizem que juízes de futebol têm duas mães, a legítima e a que a torcida ofende o médico também é assim?
O médico nem tanto! Às vezes ocorre alguma rusga. Em Rio Preto, o antigo estádio do América era muito em pé, a torcida ficava próxima ao campo, o torcedor não precisava fazer muito esforço para jogar alguma coisa dentro do campo, era possível tomar nas costas um saco cheio de cerveja, você rezava para que o conteúdo de fato fosse cerveja.
Nas viagens da equipe o ambiente é descontraído?
É um ambiente bom porque o médico não cuida de pessoas doentes, cuida-se de pessoas saudáveis, que apresentam alguma contusão. Em uma determinada ocasião saindo de Natal com destino a São Luiz do Maranhão quem me deu trabalho foi o narrador esportivo Gerson Mendes, ele sofreu uma intoxicação alimentar e eu tive que fazer um soro improvisado dependurado em uma cortina. Convivíamos com jogadores, narradores das Rádios Educadora, Difusora e Alvorada (atual Onda Livre). Fazíamos campeonatos de tranca, buraco. Era muito bom. A maior parte dos hotéis é referencia para os times de futebol, torna-se uma rotina hospedar-se em determinado hotel.
E as famosas baladas dos jogadores?
Existem, há os atletas que não tem regras, mas acho que não é tanto como se fala. Os jogadores de futebol são pessoas com um ritmo de vida diferente. Trabalham e muito. Não tem final de semana livre, ou estão concentrados, ou estão treinando ou ainda amanhã cedo terão treino. O que para nós é uma simples saída para um jantar para eles é infringir uma regra, provavelmente na manhã seguinte terão treino. Naturalmente que eles saem para jantar, se uma pessoa comum pode consumir uma cerveja em um ambiente público o atleta em função da sua grande visibilidade é mais notado, em qualquer lugar que for um astro do futebol terá sempre alguém olhando e comentando seus mínimos atos. Há treinadores que na concentração não admitem o uso de celular, não deixam que passem ligações telefônicas ao quarto do atleta.
A prática de sexo antes do jogo influi no rendimento do atleta?
Não vejo nenhuma diferença, a não ser que o atleta envolva-se em alguma orgia!
Como é assistir um jogo dentro do campo?
È muito mais gostoso assistir da arquibancada, no campo a visão é ruim, o envolvimento com o jogo é sempre maior, o médico quando senta a beira do campo ele não está apenas assistindo, ele está torcendo. Há uma frase dita pelo Vadão da Portuguesa: “Futebol seria bom, se não fossem os 90 minutos!”. Ninguém tem idéia do que é colocar um time em campo, todo trabalho que existe por trás, em recuperar um atleta, em cuidar da alimentação, alojamento, treinamento, muitas vezes ás vésperas de uma partida aparece um problema com algum jogador, tudo que foi desenvolvido em uma semana toda não será mais realizado. Futebol é um espetáculo que conta com o imponderado. Há atletas que deitam em perfeitas condições e acordam travados no dia seguinte.
Onde se manifestam os maiores problemas físicos do jogador de futebol?
No joelho, ocorre também em ligamentos. Atualmente o atleta começa a jogar mais cedo, há uma cobrança maior sobre ele, temos casos como o do Neimar que aos 18 anos já está na mídia, aos 16 já estava aparecendo, ele deve estar sendo cobrado desde os 14 anos, uma criança fazendo o trabalho de gente grande, com peso, musculatura. Isso tem um preço, a articulação irá cobrar, a vida útil é menor do que a normal.
O senhor atua em sua clinica em qual especialidade?
Costumo brincar dizendo que faço muita ortopedia geriátrica. Minha especialidade é em quadril e joelho, há muitos casos degenerativos em decorrência de artrose, quanto mais a população envelhece maior o numero de pessoas com artroses. Há vinte anos não havia tantas pessoas como hoje fazendo próteses de quadril de joelho.
É em função do sedentarismo?
O sedentarismo ajuda. Quanto mais for trabalhada e fortalecida a musculatura mais estável será a articulação.
Atualmente a osteoporose ronda algumas mulheres?
A osteoporose é acentuada em decorrência do sedentarismo e de hábitos alimentares, diferentes dos que existiam á algumas décadas. Hoje se come muitos alimentos processados, desconhecemos o teor dos alimentos que ingerimos. A osteoporose é uma doença muda, sem sintomas, indolor, ela já existia anteriormente só que não era diagnosticada com tanta eficiência como é atualmente. É uma doença muito mais simples de ser prevenida do que tratada, a vitamina D e o sol são elementos importantes na prevenção e tratamento.

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