sexta-feira, abril 14, 2017

SANDRA FERNANDES BANDEIRA


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 15 de abril de 2017.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/



 





ENTREVISTADA: SANDRA FERNANDES BANDEIRA

 

Sandra Fernandes Bandeira nasceu em São Paulo a 24 de novembro de 1970, filha de Reinaldo da Silva Bandeira e Tercília Fernandes Bandeira que tiveram três filhas: Sandra, Cláudia e Márcia. Sua mãe é falecida há mais de 30 anos, sendo que seu pai contraiu novas núpcias. Sua segunda esposa já tinha uma filha, a Natália, que passou a ser a sua quarta filha (civilmente era padrasto), e mais uma nova irmã para Sandra.

Qual é a profissão do seu pai?

Meu pai é desenhista projetista. Atualmente atua como consultor.

Seus primeiros estudos foram feitos em que local?

Quando eu tinha cinco anos mudamos para Americana. Meu pai trabalhava na Philips que já estava com uma unidade em Piracicaba, minha mãe tinha uma tia em Americana, meus decidiram mudarem-se para Americana, que não é tão longe de Piracicaba, ao mesmo tempo em que ela tinha algum suporte da família, não estaria tão sozinha em uma nova cidade. Meu pai fazia essa viagem todos os dias de Americana à Piracicaba. Permanecemos em Americana por nove anos. Quando a minha mãe faleceu, viemos para Piracicaba em 1984. Em Americana estudei no Colégio Dom Bosco até a sétima série, a oitava série eu cursei em um colégio do Estado quase em frente a minha casa.

Você lembra-se do nome da sua primeira professora?

Era a Tia Inês! A segunda era a Tia Maria Aparecida, do terceiro ano era a Tia Leila e do quarto ano era a Tia Amália que há pouco tempo nos reencontramos através  do face book. Passei a estudar no Colégio Dom Bosco Cidade Alta. Fiz o vestibular, passei, estudei um semestre de jornalismo em Campinas, na PUC, eu era muito jovem, por uma série de motivos voltei para Piracicaba. Fiz seis meses de cursinho e entrei na ESALQ no curso de agronomia, isso foi em 1989. No final de 1988 meu pai foi transferido novamente para a Philips de São Paulo, uma parte do setor administrativo ia para São Paulo e outra parte para Manaus.  Esse finalzinho de ano eu fiquei na casa de uma amiga, em Piracicaba. Quando ingressei na Agronomia fui morar em uma república, chamava-se “Casa Verde”. Quando fui morar ela estava no bairro São Judas. Essa república mudou várias vezes de locais, existe até hoje em outro endereço.


Quantas alunas residiam na república?

Chegamos a morar em oito, na média as casas tinham dois banheiros, mas chegamos a morar em uma casa com um banheiro só. Era muito divertido, foi uma época em que república montava com o que tínhamos sobrando, não tínhamos telefone, celular, computador, não tinha dinheiro. A geladeira nós ganhamos de alguém que não queria mais, o sofá que quase não dava para sentar, se tivéssemos sorte tínhamos uma televisão. Fogão, os demais móveis, eram sempre tudo muito usado.




Qual era o seu meio de transporte para a ESALQ?

Ia de bicicleta. No máximo a distância era de dois quilômetros da escola.

Você formou-se em que ano?

Em 1993 formei-me como Engenheira Agrônoma.

Exerceu a profissão?

Ingressei. Comecei a trabalhar em Holambra, em uma empresa de mudas de crisântemo em uma empresa que hoje se chama Van Zanten Schoenmaker, trabalhei também em uma unidade de Artur Nogueira e outra unidade de Santo Antônio de Posse, eu era coordenadora de produção. Estava responsável naquela época por mudas de crisântemo.

Morar em Holambra deve ser muito interessante?

Foi muito gostoso, foi muito bom, naquela época cheguei a morar em Holambra e em Artur Nogueira. Lembro-me que em Holambra a minha casa tinha uma lareira, que era utilizada possívelmente uma vez ao ano, mas era charmoso entrar na sala e ter uma lareira. Nesse período todo eu morava sozinha.







Você chegou a se casar?

Em 1997 eu me casei com um holandês que conheci em Holambra. O casamento civil foi na Holanda, fui para lá. A família do meu primeiro marido era de Groningen, um estado ao norte da Holanda. Casamos em uma pequena cidade desse estado.

Como é o casamento na Holanda, igual ao do Brasil?

Totalmente diferente! Escolhemos uma juíza de paz, que falava inglês, meu pai e minhas irmãs foraram para a cerimônia do casamento civil na Holanda. Queríamos que todos entendessem. A juiza na semana anterior foi até a casa dos meus sogros, conversou conosco, quiz saber sobre os nossos habitos, costumes, como nos conhecemos, como era a nossa história. No dia da cerimônia ela vestiu uma beca, com chapéu de juiz, contou toda nossa história, a cerimonia é realizada na prefeitura. As noivas holandesas vão com vestido de noiva, como eu tinha a minha cultura de não usar vestido de noiva no casamento civil, fui com vestido social. Após ela falar sobre nós, disse-nos umas palavrinhas em português, ela foi estudar o português, descobrir como falar algumas coisas em português. No final ela disse: “-Declaro que vocês estão casados!” pega o martelinho de madeira e bate sobre uma mesa. Assinamos um livro pequeno, que é a certidão de casamento, os padrinhos assinam, é uma cerimonia em que você pode levar alguns convidados, fica em uma sala bonita. Se quisermos podemos sair de lá e ir para uma recepção. O casamento religioso foi no Brasil, em São Paulo. Uma característica própria da Holanda é que eles dão o nome para a pessoa como por exemplo Marinus Cornelis Brunssee, só que eles dão um tipo de apelido, um nome de chamada, como Maarten, são apelidos que não tem nenhuma ligação com o nome.

Você fala holandês?

Muito pouco! Ficamos na Holanda só na época do meu casamento, depois voltamos para o Brasil fomos morar no nordeste, fomos para Alagoas, Maceió. Eu tinha uma irmã que já estava morando lá ha algum tempo, fomos passar uns dias lá, nos encantamos com o lugar  e visualizamos uma oportunidade de negócio. Todo mundo lá só tinha em casa flores de plástico, adquirimos um sitiozinho em Chã do Pilar, a 26 quilômetros de Maceió, montamos uma estufa, e começamos a produzir flores. Em vaso e um pouquinho de flor de corte. Tinhamos um poço e a irrigação. Fizemos um sisteminha de irrigação por espaguete, Ficava um pouco caro porque trazia todo meu material de Holambra: vaso, irrigação, muitas vezes até o adubo, não havia o adubo para a irrigação. Ficamos lá dois anos e meio mais ou menos. Foi muito difícil no começo, eu tinha um estande dentro do supermercado Bompreço, ficava o tempo todo ao lado do estande, mostrando as plantas. Tinha que implantar a cultura de ter plantas naturais dentro de casa. Abasteciamos a rede Bompreço, eram oito lojas, em uma delas tinhamos um estande bem bonito. Tinhamos um quiosque dentro do Shopping, forneciamos flores para outras floriculturas da cidade. No primeiro Dia das Mães que fizemos lá, recebi um rapaz na minha chacara, ele era ali da cidade, e propos vender flores em uma barraquinha na estrada, mediante ua comissão. Na porta da nossa chácara. Ele chamava-se Antonio. Fizemos isso,embora eu tivessse alguma dúvida se alguém iria parar na estrada para comprar flôr. Construi uma barraquinha fixa, tirando o supermercardo ali era o meu maior ponto de venda. Parava muita gente, a chacara era na beira da pista. Os negócios iam bem. Mas eu sentia muita falta da minha avó Helena, do meu pai. Pensei muito e decidi voltar para São Paulo. Eu tinha uma amiga em São José do Rio Preto que tinha uma empresa tambémde produção de mudas, já tinha trabalhado comigo em Holambra e me chamou para vir para cá. Viemos para São José do Rio Preto, ficamos lá mais um ano, foi ai que terminamos nosso casamento. De São José de Rio Preto vim para Campinas, para a casa do meu pai, fiquei com ele uns dois ou tres meses até conseguir um novo trabalho, uma empresa de pesquisa de mercado agrícola a Kleffmann e Partner Assessoria e Mercado Agrícola. Era um trabalho que eu gostava muito de fazer. Permaneci de 199 até 2002.


Quantos idiomas você fala?

Além do português, inglês e espanhol.

Você casou-se de novo?

Casei-me com Sérgio Luis Frias com quem tive duas filhas Júlia e Clara. Voltei para Piracicaba onde fui trabalhar em uma empresa chamada Rigran, eu fazia assistência técnica para ela no Estado de São Paulo. Viajava muito nessa época. Eram produtos de alta tecnologia para agricultura pesada: adubação, melhoradores de solo.

Como foi seu ingresso no CREA?

Eu tinha prestado um concurso, passei e fui chamada. Trabalho no CREA-SP minha lotação hoje é Araraquara, atualmente estou como chefe da unidade de Araraquara abrangendo mais de 30 cidades. Além de Araraquara temos mais seis unidades menores.

O que é o CREA?

O CREA é o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia, a Arquitetura saiu já há alguns anos, antigamente ela pertencia ao CREA, atualmente ela tem um conselho só dela que é o CAU -  Conselho de Arquitetura e Urbanismo. O CREA é um regulador da profissão e um fiscalizador também. A nossa base é a fiscalização.

Quais são problemas mais comuns que o CREA encontra?

São obras irregulares e empresas que acham que não precisam de registro no CREA. Não só na área civil, mas também na área elétrica, mecânica, geologia, geografia, uma mineradora tem que ter registro no CREA.

Como o CREA consegue fiscalizar esse universo de obras?

O CREA exerce uma fiscalização administrativa. Buscamos o responsável técnico por toda e qualquer situação. Temos câmaras especializadas, com os nossos conselheiros, são profissionais das áreas respectivas. Quem dita as regras normativas é o CONFEA - Conselho Federal de Engenharia e Agronomia. Fica em Brasília, ele sim dá decisões plenárias, decisões normativas, ele que nos instrui desssa maneira.

Toda construção necessita de um responsável técnico?

Se você for construir uma casa simples, em um bairro simples, precisa ter um engenheiro. É ele quem vai garantir a segurança da sua obra. A pessoa pode até dizer: “Mas o meu pedreiro é bom! Conhece mais do que engenheiro!”. Só que se acontecer algum problema o responsável não é o pedreiro e sim o dono do imóvel. Porque não tem nenhum técnico ali! Isso pode acontecer em bairros mais retirados, ou até mesmo em uma reforma. As pessoas não tem noção do risco que muitas vezes correm e oferecem à terceiros. O engenheiro fica no mínimo 20 anos responsável pela sua casa.

As construtoras de porte maior seguem as regras do CREA em sua totalidade?

As construtoras maiores, são mais preocupadas com toda essa legalização, elas entendem muito bem o que pode oferecer riscos e que ela precisa fazer de maneira regular, legal. Os maiores riscos ocorrem quando você contrata alguém que aparentemente tem conhecimento técnico mas apenas conhece na pratica. Diante de um problema ou situação nova ele irá improvisar uma solução que pode ou não funcionar. Além da ilegalidade. As pessoas não estudam a toa. Não vamos a um consultório médico querendo ser atentido pelo farmacêutico, não que farmacêutico não tenha o seu valor, quando vou a um médico eu quero que um médico me atenda. Hoje a questão ambiental é muito forte, você não pode de maneira alguma sair extraindo areia, pedra, argila, a bel prazer.

Com relação a acidente com funcionário qual é a atuação do CREA?

Assim que ocorre o sinistro o CREA vai ao local e levanta todos os dados, de toda a situação, quem estava como responsável, há o levantamento documental da manutenção do objeto que provocou o sinistro, pelo cenário dos fatos. Tudo é documentado, pode tornar-se um processo dentro do CREA, vai para a Câmara de Ètica, e eles definem a punição ou não do profissional responsável. Nos casos de sinistro, invariavelmente acaba indo para o Ministério Público por outras vias, até mesmo por vias criminais, o Ministério Público sempre requisita o processo do CREA para embasar técnicamente o processo movido por ele.

O profissional pode sofrer punições dentro do CREA?

Ele pode até mesmo perder o próprio diploma, o próprio registro. Hoje nós temos uma gestão dentro do CREA – SP que assumiu em setembro do ano passado, a gestão do Engenheiro de Telecomunicações Vinicius Marchese Marinelli de visão extremamente responsável e transparente. Bastante jovem, tem muita energia, uma pessoa focadíssima, tem uma postura de muita regularidade. Ele dá para nós chefes e gerentes essa força, de estar trabalhando em um orgão muito responsável. Que quer fiscalizar, fazer as coisas funcionarem.

Vemos em muitos setores, como judiciário, legislativo, executivo, órgãos de classe, que aos poucos estamos mudando positivamente graças as novas gerações. Isso é altamente positivo para o país.

Muito positivo! Todos nós estamos sentindo essa diferença muito fortemente. Vemos esse gás novo chegando, isso é ótimo! Prazo é prazo! Tem que cumprir! Ir atrás! O Conselho está andando de uma maneira muito mais dinâmica. Hoje podemos notificar, multar, multar de novo.

E as multas são pesadas?

Depende da infração! Podem variar de R$ 500,00 até R$ 6.000,00, na reincidência o valor é dobrado. Hoje isso é cobrado de uma maneira muito mais eficaz se a pessoa não estiver na linha.

O CREA é um orgão público?

É uma Autarquia Pública Federal. Tem todas as caracteristicas de um órgão público mas não depende dos recursos financeiros da União. A Engenheira Civil Maria Edith Santos, Superintendente de Fiscalização é funcionária de carreira.

Piracicaba tem uma unidade do CREA?

Tem, é o Edson Ricci do Carmo, chefe da Unidade CREA. Ele é técnico, todos os técnicos da área devem se filiar ao CREA. A única exceção é o Técnico de Segurança do Trabalho.

Você casou-se novamente?

Em 2009 eu acabei me divorciando do pai das filhas. Em 2010 eu conheci meu atual marido, José Paulo Simões, na realidade já nos conhecemos desde a adolescência, ele se casou com uma colega de turma do terceiro colegial, teve uma filha, a Amanda, hoje com 19 anos, separou-se, nunca mais o vi não me lembro dele dessa época, acabei reencontrando, eu já estava divorciada, em novembro de 2016 casamos. Tenho uma relação excelente com a ex-mulher dele a Kelly que é uma pessoa incrível. Eu poderia mudar para Araraquara, mas não quero tirar o que as minhas filhas já têm aqui, amigos, escola, avós paternos, mãe e pai do meu ex-marido a Dona Sonia e Seu Hélio, são pessoas maravilhosas. Avós maravilhosos que fazem de tudo para essas netas.







MARIA HELENA PEREIRA DE BARROS MONTEBELLO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 8 de abril de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/


http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA:






MARIA HELENA PEREIRA DE BARROS MONTEBELLO

 

Maria Helena Pereira de Barros Montebello nasceu no então distrito rural de Saltinho, onde se localiza o chamado Bairrinho, cujo nome transformou-se em sinônimo do fumo de corda de melhor qualidade da região de Piracicaba. Nascida em 19 de dezembro de 1935, filha de Ernesto Pereira de Almeida e Alice de Barros Pereira que tiveram seis filhos: Maria Helena, Benedita, Nadir, Joaquim, Dirce e Ademar. Seu pai era agricultor, cultivava fumo, amendoim, arroz, além de galinha, porcos, vaca de leite.

A senhora estudou em que local?

Estudei em Saltinho no Grupo Escolar Estadual "Professor Manoel Dias de Almeida", minha primeira professora chamava-se Carmen Nardin. Tive aulas também com Dona Maria Flare.

A senhora ajudava nos serviços do sítio?

Ajudava! Levava comida na roça, aos 14 anos eu já cozinhava no fogão a lenha.

Quais eram os alimentos consumidos na época?

Além do tradicional arroz e feijão, não faltava frango caipira, polenta, verdura. Fazia a famosa “polenta brustolada” (O termo brustolado deriva do dialeto dos imigrantes do Norte da Itália que se estabeleceram no Brasil e vem do verbo italiano “abbrustolire”, que significa dourar ou queimar levemente. Antigamente essa polenta era preparada no fogão à lenha, mas é possível obter o mesmo resultado na frigideira untada com um fio de azeite ou na chapa de ferro bem quente.)

Receita da polenta brustolada:

Ingredientes

  1 xícara de chá de fubá amarelo

  2 fatias de queijo mussarela

  2 fatias de lombo defumado

  1 cebola grande

  Sal e pimenta a gosto

Modo de Preparo: Quando a polenta começar a borbulhar baixe um pouco o fogo e em fogo médio cozinhe por cerca de 25 a 30 minutos, sempre mexendo. Tempere com sal e pimenta a gosto. Unte um refratário de 20cm x 20cm e coloque a polenta para esfriar, espalhe a polenta de forma uniforme alisando a parte superior alise bem a parte superior para que quando fritar a polenta fique com os lados bem lisos. O ideal é preparar de um dia para o outro, assim a polenta estará bem fria e firme. Corte a polenta em forma de quadrados, passe um pouco de óleo em um dos lados e leve a uma chapa de ferro bem quente para dourar, pode ser feita em uma frigideira, mas o resultado não será o mesmo. Deixe dourar por 3 a 5 minutos e vire. Quando já estiver dourada dos dois lados coloque as fatias de queijo sobre um pedaço de polenta, deixe na chapa até o queijo derreter. Pode ser feita com queijo parmesão.

Em Saltinho tinha cinema?

Tinha, era do Mário Cassano.

Havia muitas festas em Saltinho?

Tinha muitas festas! O povo saltinhense sempre foi muito animado! Tivemos um padre, carinhosamente chamado de padre Brasinha, a comunidade estava encantada com sua forma de cativar os fiéis e celebrar as missas. Esse padre se apaixonou por uma mulher, e num ato de coragem, deixou a batina e casou-se com ela. Foi na década de 60. A religiosidade de seu povo com suas festas e quermesses na Zona Rural, as procissões, as comemorações de Corpus Cristhi com os tapetes de pó de serra, borra de café, espalhados pelas ruas, na cidade fazem de Saltinho um local diferenciado. Saltinho é praticamente uma família, todos se conhecem, lembro-me de muitas pessoas que sempre moraram lá, como o Seu José Bernardino era proprietário de um bar. Conheci sua  esposa Dona Dalva. Assim como o Moacyr Nazareno Monteiro e seu irmão, a família Hipolito, família Schiavuzzo, família Schiavinatto, família Cassano. O padre Brasinha tomava café todos os dias em casa. Após celebrar a missa ia até a minha casa, onde já estava pronto o café, o leite, manteiga, ovo quente.




A criminalidade praticamente não existia em Saltinho?

Não tinha nada disso! Podia dormir de janela e portas abertas. Criávamos galinhas e porcos em casa. Fazia lingüiça, moía a carne por duas vezes, mamãe cortava um pedaço e colocava no feijão. Eu queria aprender a fazer e não deu tempo da minha mãe me ensinar, é requeijão. Ela fazia saia àqueles fios! O pão eu fiquei com a receita, eu fazia e vendia. Pão de batatinha, de cenoura, sempre fiz bolos. Doce de abóbora com cal. Colocava a abobora e a cal Deixava de molho, no dia seguinte lavava bem lavadinho, colocava uma camada de abóbora outra de açúcar, assim sucessivamente, cozinhava na panela de pressão, dali a cinco minutos podia comer que estava uma delícia! Doce de casca de laranja. Era fogão a lenha. Ferro de passar roupa era aquecido com carvão. Naquele tempo usava-se muito linho, passar linho com ferro a carvão não era fácil. Usávamos sabão feito em casa, sabão de cinzas. Rádio só com bateria, televisão, geladeira não tínhamos no inicio.







Naquela época as moças casavam-se bem novas?

Eu casei-me bem jovem, meu marido chamava-se Nelson Pedro Montebello, tinha uma loja de armarinhos em Saltinho, fui trabalhar com ele, vendíamos tecidos, miudezas, botões linhas, tinha uma boa clientela. Os moradores das fazendas próximas vinham sempre comprar na nossa loja. Tivemos os filhos Geraldo, Claudinei e Nelson. Tenho cinco netos, todos moços! Meu marido tem uma história muito triste, ele ajudava na oficina de Pedro Francisco Montebello, na época ele era ainda solteiro, sofreu um acidente que fez com que perdesse um braço. Nós já namorávamos, casamos.  Ele foi um grande marido, fazia tudo que fosse possível para me agradar. Eu correspondia, fazia para ele tudo que eu podia. Fomos muito felizes, graças a Deus, fizemos Bodas de Prata. (A tradição das festas das bodas de casamento surgiu na Alemanha, quando era costume oferecer aos casais uma coroa de prata quando completassem 25 anos de casados, e uma de ouro quando fizessem 50 anos de matrimônio). Naquele tempo nem saia de casa para namorar, esperava em casa a vinda do namorado. A Avenida Sete de Setembro era ainda chão de terra. Fazia uma poeira danada!

Quanto tempo a senhora permaneceu na loja?

Foram vários anos. A seguir fui trabalhar na Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba. Trabalhei na enfermagem. Estudava de manhã na Santa Casa e a tarde trabalhava. Mudamos para o bairro da Paulista. Na Santa Casa aprendi a fazer de tudo relativo a enfermagem: aplicar sonda, soro, injeção, lembro-me do Dr. Nelson Meirelles. Lembro-me do Dr. Felício de Moraes, um dos seus filhos é médico no Hospital dos Fornecedores de Cana. Trabalhei 12 anos na Santa Casa, saí quando me aposentei em 1993. O Dr. Felício foi meu médico, quando tinha consultório a Rua Governador Pedro de Toledo, a secretária era a Leni.

Como era a Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba?

Era uma maravilha, eu não me esqueço! Eu ia a pé, as refeições eu fazia lá mesmo. Trabalhava a noite e revezava trabalhando outros períodos durante o dia. Conheci os médicos Dr. Ben-Hur Carvalhaes de Paiva, Dr. Antonio Cera Sobrinho, Dr. João José Corrêa que faleceu aos 98 anos. Vinha paciente de muitas cidades vizinhas para serem atendidos na Santa Casa.





Quando a pessoa está hospitalizada o pior é a doença ou o seu pensamento negativo?

Os pensamentos de uma pessoa podem fortalecê-la e muito. Pode mudar radicalmente a pessoa. Transformá-la. A pessoa otimista está colaborando muito para se curar. Tenho muita fé, sou católica, quando trabalhava na Santa Casa freqüentava a capela que existe lá. Em Saltinho eu freqüentava a Igreja Sagrado Coração de Jesus, nosso casamento foi celebrado pelo Monsenhor Nardin. A festa foi lá mesmo, no barracão que existia atrás da igreja. A nossa viagem de lua de mel foi para Bom Jesus de Pirapora. Alugamos um carro que nos levou, era de propriedade de Luiz Bortoletto.

A Santa Casa foi o local onde a população era atendida e tratada?

Por muitos anos tivemos a Santa Casa como praticamente o único e mais completo centro médico de Piracicaba. Para emergências tínhamos em Piracicaba o Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência (SAMDU).


A senhora lembra-se da queda do Edifício COMURBA?

Lembro-me, só que nessa época eu não trabalhava na Santa Casa. Nessa ocasião faleceu sob os escombros do prédio a avó da minha nora, a Dona Dora.

 

O que a levou a trabalhar na área de saúde?

Eu tinha vocação! As freiras sempre foram muito atuantes na Santa Casa de Piracicaba. Muitos pacientes que ficavam internados tornavam-se nossos amigos, o senso humanitário era muito grande.

Como a senhora vê a vida nos dias atuais e a de alguns anos atrás?

Antigamente era muito melhor, não é?

Como é a sua alimentação?

Como de tudo, não gosto muito de verduras. Carne eu gosto desde que seja bem passada, isso é um habito que sempre tivemos, desde quando morava com meus pais.

De Saltinho à Piracicaba qual era a condução mais utilizada?

Era a jardineira! O proprietário era o Pepino Hipólito. Às vezes dizíamos: “Nós não estamos prontos, o senhor espera um pouco” Ele respondia: “-Espero!” E ficava com a jardineira parada, esperando. Era daquelas jardineiras que o bagageiro ficava no teto, pelo lado de fora. Quando chegava a Piracicaba o ponto final era no Largo São Benedito. Os passageiros espalhavam-se pela cidade, o horário para voltar era combinado com o Pepino Hipólito. Não era uma hora pré-determinada e fixa. Ele fazia de duas a três viagens por dia. De Saltinho à Piracicaba era estrada de terra. O Pepino Hipólito foi um herói! Era um homem bom, inteligente. Trabalhava de domingo a domingo, sozinho.

Vocês faziam encomendas para ele, Pepino dá para trazer de Piracicaba tal coisa?

Ele trazia o que pedíamos. Uma vez a minha sogra, Emília, disse-me que estava com vontade de comer dobradinha. Em Saltinho não tinha onde comprar. Encomendei para o Pepino comprar dobradinha em Piracicaba, ele trouxe.

 

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