sábado, julho 09, 2016

FRANCISCO GALVÃO DE FRANÇA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 2 de julho de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: FRANCISCO GALVÃO DE FRANÇA



Francisco Galvão de França nasceu a 23 de janeiro de 1970 no Rio de Janeiro, é filho de Antonio Santana Galvão de França e de Maria Carlota Toledo Arruda Galvão de França que tiveram sete filhos: Maria Alice, André, Ana Cecília, Maria de Fátima, Maria Inês, Francisco e Maria Carlota. Seu pai trabalhava na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.
Você iniciou seus estudos em qual escola?
Estudei na Escola Grumete, no Grajaú. Em 1978 meus pais mudaram para Jaú, cidade de origem da família dos meus pais. Em Jaú estudei na Escola Estadual Dr. Lopes Rodrigues, aos 10 anos mudei para a Escola Estadual Major Prado onde permaneci por três anos. Na oitava série mudei para o Instituto Lourenço de Camargo, o primeiro colegial eu estudei no Colégio Objetivo, o segundo colegial estudei na Fundação Educacional de Jaú e conclui o terceiro colegial no Colégio Objetivo.
O próximo passo foi ingressar na faculdade?
Sou formado pela FATEC como Tecnólogo em Operação e Administração de Sistemas de Navegação Fluvial. É um curso de engenharia para transporte fluvial. Estudei por dois anos na Universidade Federal de São Carlos onde fiz o curso de Imagem e Som. Prestei um concurso e em 2001 ingressei no SESC para trabalhar.  Hoje sou Coordenador de Programação do SESC Piracicaba.
Quais são as atribuições do Coordenador de Programação?
Posso dizer que faço o que um editor de jornal faz. No jornal tem as editorias: cidade, esportes, e outras, aqui no SESC têm teatro, cinema, literatura, tecnologia e artes. Eu edito a programação mensal do SESC Piracicaba. O trabalho de programação é feita por outros técnicos a semelhança dos jornalistas das editorias de jornais. Montamos a programação junto com os técnicos e edito o que irá ter naquele mês. Claro, sempre respeitando as sugestões dos técnicos, tento adequar alguns projetos que são apresentados.
Há uma diretriz vinda de esferas superiores?
Sim, há em São Paulo as gerencias técnicas. Temos por exemplo a Gerencia de Ação Cultural, onde temos as pastas de literatura, cinema, dança, circo, teatro. A GAVT é a Gerência de Artes Visuais e Tecnologias as exposições que realizamos aqui passam por lá, assim como os projetos de cultura digital. Estamos em constante diálogo com essa administração central, com as gerencias técnicas, o diretório regional é em São Paulo, cada diretório regional tem uma autonomia de gestão. O diretório regional responde ao diretório nacional que fica no Rio de Janeiro. O diretor regional de São Paulo é Danilo Santos de Miranda.
Quantos funcionários estão sob sua coordenação?
São em torno de 25 colaboradores, na parte cultural. Existe a área esportiva que é administrada por outro coordenador, com dois monitores e onze instrutores. O SESC Piracicaba conta ainda com Odontologia, o programa Mesa Brasil. Há uma coordenação de comunicação, outra administrativa, de alimentação, de infra-estrutura.
O seu ingresso no SESC foi em Piracicaba?
Entrei no SESC Araraquara. Trabalhei uma primeira vez aqui que foi de 2006 a 2010, fui para São Carlos onde trabalhei de 2010 a 2013, e voltei para Piracicaba.
Dentro da programação cultural do SESC hoje há muitos projetos?
Há diversos projetos sendo realizados, acabamos de fazer a programação para 2017. Temos que apresentar até o final de julho toda essa programação para 2017.  Temos que considerar que no ano que vem Piracicaba estará completando 250 anos. Existem alguns projetos que tentam potencializar essa data. Há vários projetos: Astronomia com Filosofia, projeto do Adriano, um Festival de Artes Para Crianças, da Vanessa, há um projeto grande que irá envolver todos os técnicos que tenta abordar a vanguarda em suas diversas linguagens, como uma expressão artística pode ser vanguarda bebendo na cultura popular. Um exemplo disso é o Manguebeat que nasceu em Pernambuco, uma veia musical, um movimento musical, que bebe no maracatu, foi extremamente inovador por mesclar uma linguagem pop, moderna, com o maracatu. A idéia um pouco desse projeto é o que iremos fazer no ano que vem em março. (O Manguebeat foi um movimento musical, e cultural por extensão, surgido no início da década de 1990, na cidade do Recife, sendo resultado de uma série de eventos que começaram ainda no final da década de 1970 e início da década de 1980).
Para os 250 anos de Piracicaba já existe algo programado, pode adiantar alguma coisa?
É uma idéia que nasceu da UNIMEP, da SEMAC - Secretaria Municipal da Ação Cultural de Piracicaba de compor uma comissão de instituições para pensar os festejos de 250 anos, o SESC tem a intenção de participar dessa comissão. Pensarmos juntos alguns projetos. A idéia é abranger várias áreas, uma delas é questão ambiental.
Quais faixas etárias participam dos projetos do SESC?
Todas as faixas etárias participam, de zero a cem anos! Temos o Espaço Brincar que é para crianças de zero a seis anos, Curumim, que é de sete a doze anos, o Projeto Jovens, voltado à adolescentes. Temos a programação voltada às famílias, o Teatro Infantil. Shows para estudantes, adultos, comerciários. O SESC tem uma programação voltada principalmente para o comerciário. Trabalhador do comércio e das empresas prestadoras de serviços. Setenta por cento dos matriculados aqui são pessoas que trabalham no comércio. Isso não impede, por exemplo, que você mesmo não pertencendo a uma dessas categorias possa participar de uma determinada atividade, para isso basta fazer a Credencial Atividade. É específica para aquela determinada atividade.
Quantos associados existem hoje no SESC Piracicaba?
São mais de 40.000 matriculados! O SESC Piracicaba tem uma região de influencia que abrange 31 cidades. Um universo próximo de dois milhões de pessoas. Os shows atraem muito público de cidades vizinhas. No próximo dia 7 de julho estaremos recebendo a banda Titãs.
O SESC busca novidades em outros países?
Isso é feito mais pela Administração Central em São Paulo. Agora em agosto teremos o SESC JAZZ & BLUES. Trará músicos americanos, é um projeto institucional, pensado pela Administração Central junto com as unidades. Os artistas internacionais circulam pelas unidades do interior.
O jovem em particular, está sofrendo uma grande influência da mídia de consumo, aqueles que freqüentam o SESC recebem uma abertura de visão para perspectivas próprias?
Essa é parte da nossa intenção. Sempre abrir novas perspectivas para as pessoas que freqüentam o SESC. Conhecerem filmes músicas, criar publico para ampliar o repertório dessas pessoas. Muitas dessas atividades oferecemos gratuitamente. O cinema de terça feira e domingo são gratuitos. O Teatro Infantil aos sábados a tarde é gratuito.
Isso mostra que o SESC não é um clube fechado, exclusivo para comerciários?
Muito pelo contrário! Os shows grandes têm um valor cobrado que é menor para o comerciário, o Titãs, por exemplo, temos três valores: R$ 40,00 para entrada inteira, R$ 20,00 para estudantes, professores, terceira idade e R$ 12,00 para quem é matriculado. Mesmo para quem não é matriculado o valor cobrado é razoável. A intenção do SESC não é lucrar e sim levar cultura para a população em geral, principalmente para o comerciário, de modo que ele amplie seu repertório em todas as áreas da expressão artística. O mercado massifica e a nossa intenção é levar para as pessoas outros tipos de cinema, teatro, danças, para ela saber que pode gostar de outras coisas além daquilo que está nos veículos de massa.
O SESC oferece cursos pela internet?
Oferece! Temos o curso de Games agora em uma parceria com uma universidade do ABC, são cursos gratuitos. A nossa sala de informática chama-se Espaço de Tecnologia e Artes, aqui qualquer pessoa identificando-se pode freqüentar, sem nenhum custo. Temos de forma intensa as oficinas que se baseiam na internet, usam a WEB.
Como é feita a divulgação das atividades do SESC?
Temos o caderno mensal, que fica disponível para quem quiser, divulgamos pelo portal do SESC  sescsp.org.br/piracicaba onde tem toda a programação e tem a nossa assessoria de imprensa que está sempre divulgando os cursos e oficinas que oferecemos.
Todos os cursos são gratuitos?
Grande parte! A GMF – Ginástica Multi Funcional é cobrada, ela tem as esteiras, bicicletas, para fazer ginástica. Alguns serviços são cobrados. Muitas das nossas atividades são gratuitas.
Vocês desenvolvem uma atividade muito intensa com as pessoas da terceira idade?
O SESC é pioneiro no trabalho com a terceira idade no Brasil. É um trabalho de décadas, um trabalho modelo. Há viagens que são programadas, pagas de forma parcelada. A pessoa estará indo com pessoas com interesse em comum. É aberto a todo o público, além de pessoas da terceira idade às vezes jovens também fazem essas viagens. Temos uma agenda de eventos com muitas atividades voltadas à terceira idade.
O SESC está lançando mais um projeto inovador?
Denominamos provisoriamente como REDE, a intenção do SESC era mapear todas as bibliotecas comunitárias existentes na cidade e também das ações de incentivo à leitura. É uma idéia antiga que eu tinha de criar essa rede. Tudo que eu faço aqui é da instituição.  O intuito é que essas instituições se conheçam e criem ações em conjunto para ampliar o número de leitores em Piracicaba.
O brasileiro tem o habito de ler?
Ao que consta, uma pesquisa recente afirmou que em média o brasileiro lê quatro livros por ano. Em escala mundial é um índice baixo. A Unesco recomenda que a cidade tenha dois livros por habitante. A idéia da REDE é fazer essas discussões. Fortalecer quem está trabalhando com o livro e com a leitura em Piracicaba. A primeira reunião ocorrida recentemente tinha trinta participantes, foi representativa: tinha pessoas da UNIMEP, da ESALQ, da Diretoria de Ensino, das Bibliotecas Comunitárias, do SESI, do Recanto do Livro, espaço literário e cultural do Lar dos Velhinhos, colégios particulares. Ficamos felizes pela representação do grupo. É uma idéia que está nascendo e estamos com esperança de que ela se fortaleça que nasçam daí vários projetos conjuntos de fomento a leitura, de coletas de livros ou feiras de livros. O que o grupo propor, a idéia é pensar juntos ações de leitura. Ampliação do acesso da população ao livro.
Quem não participou dessa primeira reunião pode vir a participar?
Claro! Está aberto! É um grupo que pretendemos que seja permanente. Itinerante, que as reuniões sejam feitas em vários locais. A próxima reunião será no dia 23 de julho, sábado às 14 horas, com uma previsão de duração de três horas.
Qualquer pessoa ou grupo pode participar desde que esteja envolvido com leitura?
Mesmo que não esteja e queira se envolver.
Temos vários grupos literários em Piracicaba, eles podem participar?
Todos podem participar. A idéia inicial é mapear todas essas iniciativas e criar uma sinergia entre elas. Fortalecendo-as individualmente, mas também criando ações em conjunto para darmos visibilidade para a questão da leitura. Muitas coisas acontecem pontualmente, mas é importante criar essa conexão entre essas iniciativas de leitura. Podemos fazer um grande sarau coletivo, com todos os saraus que existem. Mostrar a riqueza da cultura que existe em Piracicaba. A literatura é uma linguagem fabulosa, mas na atual sociedade e geração em que a imagem pronta da televisão, do vídeo, celular, ela está muito posta. O livro traz uma linguagem mais enriquecida do que da internet, um tempo diferente da leitura da internet. A internet proporciona uma leitura mais rápida, uma linguagem mais coloquial, o livro traz um tempo mais estendido, geralmente uma linguagem mais rica, uma diversidade maior de palavras.
Alguns grupos buscam novas alternativas para divulgar o livro, a leitura?
Há muita coisa sendo desenvolvida pontualmente. O trabalho da Casa de Cultura Hip Hop é muito bom. Eles trabalham com geladeirotecas espalhadas pela cidade, fazem um sarau importante, levam informação a uma população que não tem muito acesso as coisas. Pretendo colocar à REDE a proposta de realizar um grande evento conjuntamente, acredito que em outubro, quando temos o Dia Nacional do Livro. Experimentarmos uma atuação em conjunto até mesmo para criar alguns elos e algumas afinidades nesse processo. Um evento em que cada um trouxesse a sua demanda, a sua idéia, que fizéssemos isso de uma forma coletiva e divulgássemos isso de uma forma única, juntos. Fortalecer as ações que já existem e criar novas. A idéia é que a REDE realize os eventos e que todas as instituições que estão compondo essa rede apóiem a REDE e a realização do evento. Todos com a mesma voz. Todos com o mesmo peso. Isso fortalece o grupo.   


VALDIZA MARIA CAPRANICO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 25 de junho de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: VALDIZA MARIA CAPRANICO


                                                         
Valdiza Maria Capranico nasceu em Piracicaba a 29 de julho é filha de Dante Luiz Capranico e Ermida Françoso Capranico que foram os pais de quatro filhas: Maria Wally, Walda Aparecida, Valdiza e Waldizete Maria. Ainda residente no Bairro Alto estudou o primário no Grupo Escolar Dr. Alfredo Cardoso. O ginásio e o colegial estudou no Instituto de Educação Sud Mennucci. Iniciou a Faculdade de Ciências Biológicas em São Paulo concluindo o curso em Santos.  Na cidade de Machado, em Minas Gerais fez o curso de complementação em biologia na Faculdade Sul Mineira de Educação.
Você trabalhou na área de educação?
Por 26 anos trabalhei com Educação, na área de Biologia. Quando me formei a denominação do curso era Ciências Biológicas. Em Santos, fiz o magistério no Instituto de Educação Canadá.
O que a levou a estudar em Santos?
Tive parentes que moravam lá, eram meus padrinhos. Era o irmão do meu pai e sua esposa. Eu fazia a faculdade a noite e o magistério a tarde. Na época Santos era uma cidade muito tranqüila, muito sossegada, essa calmaria era quebrada aos finais de semana e nas férias escolares. Período em que a cidade era freqüentada por muitos turistas.
Depois de formada você retornou a Piracicaba?
Trabalhei como professora de ciências e biologia durante dez anos na cidade vizinha de Santa Bárbara d'Oeste, no Instituto Emílio Romi e no Ginásio Ulisses Valente. Viajava todos os dias de Piracicaba até Santa Bárbara d'Oeste.  Após dez anos sem ter havido concurso na rede estadual de ensino, surgiu um concurso, prestei, fui aprovada e fui lecionar em Leme. Trabalhei no Instituto de Educação Newton Prado no período de oito anos. Voltei à Piracicaba e lecionei na Escola Técnica Estadual Cel. Fernando Febeliano da Costa.onde permaneci por cerca de cinco anos e aposentei-me, como professora de biologia.
Como surgiu a sua relação com o meio ambiente em Piracicaba?
Depois de aposentar-me fui convidada para trabalhar na área de meio ambiente na Prefeitura Municipal de Piracicaba, na Secretaria do Meio Ambiente. Na época o prefeito era José Machado. Trabalhei por quatro anos como assessora do secretário Izio Barbosa de Oliveira. Depois disso nunca mais parei de trabalhar na área de Educação Ambiental.
O seu trabalho na Secretaria Ambiental era mais burocrático ou prático?
Era trabalho de campo. Fui trabalhar na área de arborização urbana.
Como funcionava a arborização urbana?
Inicialmente coletávamos sementes de árvores de Piracicaba e região para o viveiro municipal
Essas sementes eram coletadas em que local?
Até dentro da própria cidade! Tinha uma equipe que sabia a época certa da coleta, coletávamos de espécies das beiras dos rios, da mata nativa, tive muito apoio do pessoal do Departamento de Ciências Florestais da ESALQ.
Essa coleta é feita de que forma?
Através de um equipamento muito simples, dão uma chacoalhada nos galhos da árvore, as sementes caem. Eles recolhem, levam para o viveiro, lá tinha uma engenheira agrônoma que orientava. Cada semente para ela germinar ela tem uma situação diferente: uma tem que ser colocada em água fervendo, outra tem que lixar, outra tem que ser deixada para secar ao sol, o viverista recebia orientação da agrônoma, e depois trocava com outros viveiros da região.
Para centros urbanos existem árvores apropriadas?
Isso é uma grande tristeza que eu ainda sinto! Existe árvore para todo tipo de calçada, de espaço urbano. Por exemplo, se você mora em uma rua e em frente a sua casa corre a fiação elétrica há uma dezena ou mais de espécies de árvores que nunca irão atingir a rede elétrica pelo seu crescimento. Caso você more em uma calçada no lado oposto a rede elétrica, você pode plantar outras espécies que também vão crescer, mas não irão invadir sua calçada e nem as raízes irão entrar ou afetar sua casa através do solo. Sempre há uma espécie própria.
Muitos proprietários evitam plantar uma árvore por causa das folhas que caem ou para evitar que as raízes levantem a calçada?
Se você plantar a espécie correta em uma cova com tamanho apropriado, jamais terá problema. Quanto a cair folhas, basta ver que nós também perdemos cabelos, pele. Varrer uma calçada não é um esforço descomunal. Geralmente as folhas caem no outono, para trocar a folhagem, não é uma coisa horrorosa. Eu vivi uma experiência muito bonita quando na prefeitura trouxemos Roberto Burle Marx artista plástico brasileiro, renomado internacionalmente ao exercer a profissão de arquiteto-paisagista. Nós o levamos para andar pela cidade, passando pela Estação da Paulista, existiam lá muitas espécies de jacarandá-mimoso, as flores estavam caindo, o chão estava azul. Havia também restos de enxofre, derramado no transporte ferroviário, que estavam espalhados pelo chão. Ele parou e disse: “Isto é uma tapeçaria divina para pisarmos!”. Em outra ocasião eu estava em uma rua do bairro Nova Piracicaba, era inteirinha arborizada por ipê-rosa, era um túnel cor de rosa, o chão forrado de flores. Fui chamada,  os moradores queriam retirar aquelas arvores porque faziam “sujeira” ! Fiquei chocada, arrasada, não autorizei alguns anos depois passei por lá e vi que não havia mais nenhuma árvore. “Sujeira” de folhas ou flores na calçada é uma questão cultural. Acho falta desse verde em nossa cidade, acho muita falta.
Com relação a outras cidades, Piracicaba é arborizada?
Há muitos plantios na cidade. A área central é carente, principalmente porque as árvores antigas caem e as pessoas não gostam de repor, tem medo de plantar por ter plantado anteriormente uma espécie que não era apropriada para o local. Se plantassem mais árvores melhoraria até a temperatura da cidade. Isso fica muito claro quando você anda em uma área arborizada e depois vai ao centro da cidade a diferença de temperatura é gritante.
Após permanecer  quatro anos na Secretaria Ambiental o que você foi fazer?   
Fui para Leme novamente, chamada pelo prefeito. Lá eu criei uma Universidade Livre de Meio Ambiente. Era a única no Estado de São Paulo. Infelizmente a ultima administração encerrou as atividades dessa universidade. Tive a honra de ser convidada pelo presidente da Argentina para montar uma universidade igualzinha entre Ushuaia e Rio Grande, bem no sul da Argentina.
Como descobriram você no Brasil?
A Universidade de Leme era muito famosa! Tínhamos uma parceria com a Universidade Livre do Meio Ambiente de Curitiba, que era a primeira do Brasil. Quando o presidente da República da Argentina quis montar igual, o pessoal de Curitiba nos indicou. Essa universidade existe até hoje na Argentina.
Essa preocupação com o meio ambiente é relativamente nova?
É relativamente recente, envolve fatores culturais, econômicos.
O indígena respeita muito o meio ambiente, isso significa que estamos retrocedendo?
Estamos retrocedendo. Recentemente mandei um artigo para a imprensa dizendo que existe uma febre para fazer condomínios afastados do centro urbano. Eles vão para determinadas áreas, e depois dizem “Com o projeto paisagístico completo!” que não existe! Ninguém replanta nem em outro lugar o que eles tiram. A cidade vai crescendo na expansão geográfica, mas ambientalmente ela vai ficando cada vez mais pobre. O que é ruim não só para o homem, mas para a fauna também, Você vê noticias de que em determinada cidadezinha apareceu onça no quintal, em outra entrou cobra, jacaré. Isso sem falar das aves.
Estamos em uma região de monocultura típica canavieira, há o lado positivo economicamente, e em termos de meio ambiente? 
Infelizmente é um problema! Está dizimando a fauna, a flora. Isso nos deixa muito triste. Frustra.
Ultimamente tem ocorrido noticias de muitas quedas de árvores em área pública.
Temos a considerar que os últimos temporais têm sido muito violentos. Há também aquela parcela do ressecamento do solo. Não mais umidade, espaço para água.
O calçamento do leito carroçável com paralelepípedo permite a penetração da água. Com a camada de asfalto sobre o paralelepípedo causou impermeabilização do solo?
Exatamente! O exemplo típico é a cidade de São Paulo. Qualquer chuva causa transtornos, a água não tem como escoar. Têm-se de um lado o progresso e o conforto, de outro lado temos essa destruição que o homem não está sentindo ainda.
Você teve uma participação no Museu da Água?
Trabalhei quatro anos, em minha segunda volta a Prefeitura Municipal, foi no período de 2001 a 20004 quando fui novamente convidada pelo presidente do SEMAE, José Augusto Seydell, para criar um projeto educativo no Museu da Água. Foi um projeto tão maravilhoso que chamou a atenção de uns professores da Itália, da Universidade de Genova, vieram para Piracicaba, para conhecer o trabalho de Educação Ambiental em Defesa da Água. Esses professores vieram e convidaram-me para apresentar esse trabalho, fui para Genova em novembro de 2004 apresentar o projeto educativo em função da água, que fazíamos aqui. Tinha dois projetos brasileiros em uma apresentação envolvendo muitos países.
Quem era o prefeito?
Novamente o José Machado.
Você dava consciência de consumo de água.
Com dispositivos muito simples e práticos, próprios para economizar, que educavam a criança em particular. Eu tinha uma equipe de estagiários que eram estudantes do curso de Engenharia Ambiental da FUMEP- Fundação Municipal de Ensino. Nós os preparávamos com palestras, mini cursos, e eles passavam depois para as escolas, para os visitantes, era uma loucura o número de visitas, havia mês em que passavam por lá mais de 80.000 pessoas. Recebemos também a visita de um professor da UNESCO que morava em Paris, veio para conhecer o trabalho, ver o material, orientou-nos em algumas coisas, que infelizmente se acabaram no museu.
Após quatro anos o que você passou a fazer?
Eu me desliguei de atividade publica, comecei a escrever.
Quantos livros você lançou?
Na verdade eu consegui lançar só um. É um livro infantil, chama-se “Conto Para Pequeninos”. Junto com a Professora Marly Therezinha Germano Perecin escrevemos uma coleção de dez volumes, também voltados para crianças, adolescentes, que se chama: “Piracicaba Conhece e Preserva”. Tenho alguns outros, na mesma linha de conservação ambiental a procura de patrocínio a algum tempo. É a minha área de paixão.
Você é associada do IHGP – Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba, onde já ocupou o cargo de Primeira Secretária, ai você passou a ser Presidente.
Escolheram-me!
Como está o Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba hoje?
Fiquei temerosa em assumir a direção isso porque o presidente anterior Vitor Vencovsky ficou aqui por duas gestões, muito dinâmico e ativo, fez muitas aberturas para o Instituto, a minha maior preocupação é não deixar “a peteca cair”.
Hoje existem quantos associados?
Efetivos, nós somos em 50. Efetivo é aquele mais próximo, que paga anuidade, associados eméritos acredito que temos aproximadamente uns 100. Os eméritos participam mandando trabalhos, vindo a reuniões festivas, lançamentos.
O IHGP tem uma representação bastante expressiva dentro e fora dos limites de Piracicaba?
Tem não só na cidade, como o presidente da gestão anterior conseguiu se relacionar com os demais Institutos Históricos do país. São poucos, aproximadamente uns 50. Em sua maioria em capitais. Com isso trocamos material, programação anual. Isso é muito interessante.



Como o piracicabano vê o Instituto Histórico?              
Muitos ainda não conhecem o nosso trabalho, por isso divulgamos em eventos, estamos abertos a qualquer pessoa que queira conhecer o trabalho. Temos entre nossos associados médicos, advogados, pessoas autônomas, mais simples, é só ter amor a cidade.
Quem pode ser associado ao IHGP?
Vem muitas pessoas nos procurar para se associarem. Na realidade é o Instituto que o convida. rincipio para que seja feito esse convite é para pessoas que tenham feito algum trabalho na cidade, pode ser benemérito, educativo, cultural, qualquer coisa que ela faça em benefício da cidade. O Instituto é muito atento a um tipo de associado que quer apenas constar essa condição em seu currículo. Não importa se a pessoa não tem diploma algum, mas está fazendo a história do bairro dele. Pessoas que gostam de escrever sobre a família, história., sobre a igreja, sociedade que ele participa, quem tem amor a história, que é a finalidade do Instituto.Proteger e preservar a história da cidade. Qualquer pessoa que tenha um trabalho nessa linha é muito bem vinda.
O acervo do IHGP é relevante?
Fico até orgulhosa em dizer isso, mas o nosso acervo jornalístico, principalmente, é muito requisitado. Tivemos professores de universidades, até de outros estados, que passaram por aqui, quase um ano inteiro, pesquisando em nosso acervo. São professores da PUC de Campinas, da Fundação Getulio Vargas, de Londrina, da Unesp. A partir deste ano conseguimos um diretor de acervo que fica aqui um dia por semana a disposição desse pessoal. A pessoa vem o diretor agenda com ela. Todos aqui são voluntários e as pessoas têm os seus afazeres. Ninguém aqui tem salário. O nosso salário é o reconhecimento do público.
Como é feito o manuseio desse material?
É muito especial, o diretor de acervo vem, acompanha, a pessoa tem que usar luvas e máscara. Tivemos problemas sérios até não ter um diretor de acervo. Abríamos para pesquisa feita por pessoas que julgávamos ser de confiança, simplesmente ela cortava aquele pedaço de jornal do seu interesse e levava.
O IHGP está mudando de local?
Estamos realizando a mudança, indo para o bairro Jaraguá. Talvez dificulte o acesso principalmente para pessoas de fora de Piracicaba. O local que recebemos para irmos é um local bom. Nossa grande dificuldade é levar esse acervo. Não pode ser levado sem planejamento. É um material muito pesado, delicado.
O acesso físico ao prédio do IHGP em sua nova sede será mais fácil?
No prédio que ocupamos atualmente há uma enorme escadaria, isso dificulta o acesso de alguns associados. Essa preocupação existe desde outras diretorias. O espaço que recebemos é praticamente para comportar o acervo quer é muito grande.
Qual é a programação para os 50 anos de existência do IHGP?
Essa é uma das maiores preocupações da diretoria, já estamos nos programando para celebrar essa data. Esse é o nosso foco, o que cada membro da diretoria está pensando e começando a agir para o ano que vem, quando Piracicaba fará 250 anos e nós 50 anos. A fundação do Instituto ocorreu no mês de agosto no ano em que Piracicaba completou 200 anos. O objetivo já era de preservar a nossa história. Foi fundado por um grupo de pessoas preocupadas e interessadas nesse aspecto. Para esse ano já estamos recebendo material para a revista anual, temos três livros que estão em processo de lançamento, outros dois em que os autores estão escrevendo para lançar no próximo ano.
A verba é fornecida por quem?
A verba é fornecida através de um convenio com a Secretaria de Ação Cultural. No ano passado tivemos também um convenio com a Secretaria do Meio Ambiente para fazer a digitalização dos 15 livros do Cemitério da Saudade. Estão todos digitalizados, disponível na administração do cemitério. Foi uma prestação de serviço realizada pelo IHGP. Hoje se alguém quiser saber algo sobre um parente sepultado no Cemitério da Saudade, por exemplo, em 1948, localizam-se rapidamente todos os dados do falecido. através do computador antes havia dificuldades, os livros estavam completamente deteriorados. 
Qual é o nível do pesquisador que freqüenta o IHGP?
O maior número de pesquisadores é composto por universitários, doutorandos e professores universitários. É um acervo muito específico.
O que significa História para você?
É a base do que se faz hoje e será deixado para as futuras gerações. Uma forma de evitar cometer erros, dando melhores condições para as novas gerações.
A população, em particular esportistas e admiradores, sabem na ponta da língua a escalação de um time de futebol que jogou em data distante. Porque isso não ocorre com a História?
Acredito que isso deveria acontecer. Mesmo aqui na América do Sul, há países que tem esse cuidado em manter viva a História, esse respeito pelos antepassados, pelo passado, pela História do País. Essa lacuna pode até ser em função da enorme miscigenação de povos e raças com que formamos o país. È toda uma formação cultural que vem decorrendo há séculos.
Qual é a importância da Medalha Prudente de Moraes?
É uma comenda reconhecida pelos poderes públicos, inclusive estadual, pouquíssimas pessoas a tem, e é uma forma de homenagear pessoas que vem se destacando elevando o nome de Piracicaba.
Como você sente-se sendo a segunda mulher a ocupar o cargo de Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba?
Considero-me muito honrada, é um cargo de muita responsabilidade, vou fazer o possível para elevar o nome do IHGP a um nível cada vez mais alto. Todos os membros da diretoria têm uma bagagem maravilhosa, acho que nesse ponto o IHGP tem tudo para crescer, é muito bem visto pelo poder publico e pela mídia. Só tenho que agradecer.

                              

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