quarta-feira, dezembro 30, 2015

ALBERTO DIAS PEDROSO DO CARMO



PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 09 de janeiro de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
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ENTREVISTADO: ALBERTO DIAS PEDROSO DO CARMO


Alberto Dias Pedroso do Carmo nasceu a 21 de novembro de 1952 em São Paulo no bairro da Bela Vista também conhecido como Bexiga. É filho de Alice das Dores Dias Carmo e Roque Pedroso do Carmo, tem um irmão chamado José Antonio Pedroso do Carmo. Alberto é pai de três filhos: Aline, Alessandra e Cássio. É avô de duas netas piracicabanas Valentina e Mikaela. Hoje Alberto reside em Piracicaba. Formado em Administração de Empresas com especialização em Comércio Exterior. Músico de talento expressivo. É tradutor muito respeitado, traduziu livros, sendo muito procurado por empresas pelo seu talento em traduzir e conseguir transmitir a mensagem original de forma objetiva.
Inicialmente seus estudos foram feitos em qual escola?
O jardim de infância, pré-primário e primário até o segundo ano, estudei no Colégio Santa Monica, na Rua Augusta, próximo havia o Colégio Santo Agostinho. Do terceiro ano até me formar no colegial estudei no Colégio Imaculada Conceição, ficava na Rua Cincinato Braga, onde hoje existe um supermercado. Ficava próximo a Igreja Imaculada Conceição, os padres da Igreja participavam do colégio. O dono do colégio era o Professor Carramenha de Goes. Trabalhei quando tinha uns 14 a 15 anos, em um escritório de engenharia situado na Rua Rocha, onde nós morávamos. Ali eu ficava escrevendo com nanquim nas plantas de construções. Em 1970, aos 18 anos prestei o vestibular chamado MAPOFEI – sigla das escolas Mauá, Politécnica e FEI. Entrei na FEI- Faculdade de Engenharia Industrial. Era paga e ficava no ABC. Não tinha como eu ir para lá, nós éramos uma família simples. Prestei também no Mackenzie e entrei em Engenharia Civil no Mackenzie. Nessa época eu já falava inglês por causa dos Beatles, desde os doze anos eu era fã deles. Essa minha facilidade em falar inglês permitiu que entrasse no departamento de reservas da VARIG, em Congonhas. Era um trabalho de meio período, nós trabalhávamos um sábado e um domingo por mês. Lá só trabalhavam jovens universitários, tinha que saber falar inglês. Eu trabalhava das sete horas da noite até a uma hora da manhã. Estudava engenharia no Mackenzie, as aulas iam das oito horas da manhã até as seis horas da tarde. Minha mãe me levava uma marmita às seis horas da tarde, lá no Mackenzie, subia as escadarias da Rua Avanhandava e ia lá para o Mackenzie. Eu tomava o ônibus Jardim Miriam e ia para o aeroporto, pegava o ônibus lotado. Ao chegar à VARIG ia a uma espécie de cozinha, comia minha marmita, descansava um pouco e ia trabalhar.
E para voltar do Aeroporto de Congonhas até a sua casa?
Eu pegava o último ônibus Jardim Miriam, às vezes um amigo ia me buscar, nós já tocávamos juntos em uma banda desde os treze ou quatorze anos.
Como você aprendeu a tocar?
Começou quando eu tinha 3 a 4 anos de idade, meu pai tocava cavaquinho, ele tinha os discos de 78 rotações, colocavam os discos para tocar, eram com agulhas de metal, tocava um disco e já tinha que trocar de agulha. Era uma agulha por disco! Lembro-me da música “IV Centenário”, com Mario Zan na sanfona e de Luiz Gonzaga "Qui nem Jiló”. Eu pegava o cavaquinho do meu pai e ficava brincando, até que chegou uma época em que pela manhã ele afinava o cavaquinho e deixava para que eu tocasse. A primeira musica que aprendi a tocar foi “Toque de Silêncio”. Ficava o dia inteiro tocando essa musica. Por volta de 1962 a 1963. Andando com a minha mãe ela disse-me: Você viu que surgiu um conjunto de cabeludos? Disse-lhe que não sabia. Ela estava falando dos Beatles. Com os amigos acabei conhecendo os Beatles, com os quais ficamos maravilhados.

Naquela época o habito entre os jovens era usar o cabelo curto?

Todos usavam cabelos curtos. Lá pelos 13 ou 14 anos já começamos a ficar com os cabelos compridos. Era um choque um rapaz usar cabelo comprido, diziam palavras chulas a quem usasse. Começamos a ouvir Beatles. Os discos em vinil, dos Beatles saiam defasados aqui. Fui a um aniversário na casa de um amigo onde estava realizando uma festa de comemoração, esse meu amigo pegou um violão e tocou Twist and Shout. Foi lá que conheci um violão, fiquei fascinado e comecei a aborrecer meu pai, eu também queria ter um violão. Com muito sacrifício meu pai e minha mãe compraram um violão, pagaram em parcelas. Era um violão da marca Rei, Comecei a aprender e aprendi muito rápido. Já formamos um conjunto musical: “Os Nobres”. Era eu tocando um violão, meu irmão que ganhou de uma prima mais abastada um violão em que colocamos só quatro cordas, para ele tocar contrabaixo, o baterista era vizinho nosso, é um grande baterista que toca até hoje em um conjunto chamado Rockover, na época ele colocava uns pedaços de plásticos, como se fosse bateria, o prato da bateria eram aquelas caixas aramadas de transportar garrafas de leite, e o Cecílio que já tocava violão. Começamos a tocar e a fazer música também, versões das musicas dos Beatles. Nessa época eu ainda não falava inglês. Com os discos dos Beatles tentávamos imitar o som do inglês, nós falávamos sem saber o que queria dizer, aos poucos íamos conseguindo uma letra, não era como agora que você entra no Google e pega a letra! As vezes em alguma revista saia uma reportagem, pegávamos a letra e saiamos cantando, com isso começamos a treinar inglês. Isso foi até eu me casar aos 27 anos. Tivemos conjunto, tocamos na TV Excelsior, tocamos no Restaurante Bierhalle, em Moema. Tocávamos em troca do almoço, que era salsicha com maionese e pela sobremesa que podíamos pedir o que quiséssemos, pedíamos Banana split. Minha mãe costurou o uniforme do conjunto. Tocávamos música dos Beatles e algumas músicas compostas por nós. Usávamos uma calça listada, camisas com gola muito alta, um chapeuzinho de veludo vermelho. Eu fiz mais de 50 versões de músicas dos Beatles. Tocamos na TV Cultura, eles nos deram para cada integrante uma caixa de biscoito e pastilhas supra sumo.

Quando você menciona versão o que significa?

Você pega a música “Got To Get You Into My Life” , é uma música do LP Revolver, de 1966, eu fiz a versão dizendo: “Quero você em minha vida” . Não era tradução, às vezes não tinha nada a ver com a letra da música. Aliás, a maioria das vezes! Pegava uma música e inventava uma letra romântica.  Fazíamos isso por diversão, estudava antes de almoçar, o resto do dia tocava. Eu morava na Rua Rocha e o baterista morava na Rua Silvia, onde muitas vezes ensaiávamos. O avô dele era o proprietário da casa onde morávamos. Aos poucos arrumamos uma forma de tocar no Canal 9, há uma foto conosco tocando, éramos pequenos, pegamos as guitarras do conjunto que estava tocando lá. Quando tinha o “Salão da Criança” tinha música ao vivo, fomos tocar e acabamos conhecendo um pessoal da TV Bandeirantes, passamos a participar do programa “Mini Guarda” do Ed Carlos. Acompanhamos o Ed Carlos em muitas musicas. Lembro-me que uma das músicas que mais fazia sucesso quando tocávamos no programa era a música “Israel” que o Moacyr Franco gravou, o baterista Robertinho, um virtuoso, dava um show na bateria. Íamos e voltávamos de taxi com os instrumentos, até a Rua Brigadeiro Luiz Antonio nas imediações da Rua Pedroso. Tocávamos de ouvido, sem partitura. Nós acompanhávamos as crianças que iam cantar. Aparecia um catatau, perguntávamos o que ele iria cantar, ele dizia, por exemplo: “- Vou cantar “Quando” de Roberto Carlos.” Ele começava a cantar nós acompanhávamos, íamos até chegar ao tom de voz dele. Isso me ajudou muito em percepção musical. Quando passamos a estudar no curso científico, passamos a compor muita música. Músicas de Bossa Nova, acordes de Bossa Nova, mais sofisticadas. Em 1976 ou 1977 eu já trabalhava na Goodyear conseguimos um estúdio de gravação Gravamos uma fita, mas não gerou disco nenhum. Lembro-me que quando ainda estudava no Objetivo tinha o FICO Festival Interno do Colégio Objetivo nós participamos do segundo ou terceiro festival. Nessa época tínhamos umas cinco pessoas que tocavam conosco. Fiz uma música “Concerto em Flá Maior”, fiz essa musica para uma namorada chamada Flávia, Esse festival para participar tinha que ser aluno, só o baterista era aluno, arrumamos várias pessoas e colocamos sete músicas, todas entraram nas semifinais, com orquestra do Maestro Zaccaro, e a música “Concerto em Flá Maior” foi para a final. Um fato interessante é que a música estava em nome de um dos alunos do Objetivo: o Roger do Ultraje a Rigor. Na época pegamos em terceiro lugar. E por ai foi, continuamos tocando, estudando música, quando tinha festas de pessoas conhecidas nos convidavam, íamos com a turma toda. Eram cinco violões de doze cordas. Fazíamos três, quatro vozes nas músicas. Tocávamos Beatles, Bossa Nova e músicas nossas. Fazíamos vocal até no Hino Nacional. Começou a época dos namoros mais firmes, com isso houve gradativamente a dissolução do conjunto. Alguns de nós continuamos a nos encontrarmos. Eu, Tarcísio, meu imrão, outro amigo, o Bruno que infelizmente já faleceu, no ano 2000 ou 2001 conversando com o baterista, o Robertinho, que tem o conjunto Rockover disse-nos: ”Vamos nos reunirmos!”. Começamos a ensaiar, na minha casa no Alto da Lapa, fizemos um show em uma festa de final de ano em uma firma de informática, eles queriam só música dos Beatles, Rock anos 60, ficamos uns seis meses ensaiando aos domingos na minha casa, combinei com o Tarcísio e a última musica que tocamos foi What a Wonderful World, era uma festa de comemoração de Natal. Foi o momento mais emocionante do show. O Robertinho conseguiu a terça-feira para tocarmos no Café Piu Piu. O ensaio era na casa do Robertinho aos domingos, começamos a fazer o repertório, com músicas nossas e musicas MPB.

Você voltou a tocar na noite?

Eu estava morando com os meus pais, tinha me separado, ficava a noite em casa, meus amigos me convidaram para ir tocar em uma boate chamada “Azul da Meia Noite” na Rua Franz_Schubert. Nessa época eu trabalhava no Banco de Boston. Fiquei tocando na boate “Azul da Meia Noite” e em uma boate chamada “House”, em uma travessa da Avenida Jardim.

Você trabalhou na VARIG até que idade?

Eu tinha entrado no Mackenzie em 1972, sai porque o meu salário era todo para pagar a mensalidade. Eu não conseguia estudar, e engenharia civil você tem que estudar muito. Um dia peguei o meu salário, fui até a Del Vecchio na Rua Aurora e comprei um violão de 12 cordas. Esperei, fiz vestibular na faculdade de música na Faculdade Paulista de Música era em um prédio que parecia um castelo, ficava na rua atrás do MASP e comecei a dar aulas no FISK e aulas particulares de inglês. Fiz isso uns dois anos, fiz a opção por composição nosso professor era Edmundo Milani, toda sala tinha um piano, quando ele dava aula executava a musica explicando a composição, nós olhávamos extasiados. Um dia ele estava na lousa e percebi que ele estava com a calça rasgada, aquilo me chamou a atenção. Ao terminar a aula, convidei-o para tomar café, fomos até a Rua Frei Caneca. Perguntei-lhe como era a vida de musico. Ele disse-me que trabalhava no Programa do Chacrinha, tocava em boate até as quatro horas da manhã, vi a vida que um gênio da música levava. Naquele mesmo dia deixei a faculdade. Por coincidência um vizinho que trabalhava na Goodyear ia sair de férias e eles estavam precisando de um funcionário no departamento de marketing por um mês. Fui lá, fiquei um mês, o meu chefe era um americano que morava com a família no hotel Caesar Park. Um dia ele disse-me que tinha nascido um terceiro filho e os outros dois estavam no Caesar Park, eles só sabiam falar inglês, ele precisava de alguém que ficasse com seus filhos enquanto ele dava atenção a sua esposa que estava no hospital, fora uma gravidez complicada. Fui, sob a maior gozação do pessoal da Goodyear, chamavam-me de babá! Fiquei vários dias cuidando dos dois meninos até sua esposa sair do hospital. Nessa época a Goodyear estava formando o departamento de exportação, eles chamaram um senhor de nome Nakagima, chefe de exportação da Goodyear do Japão, maior exportadora da empresa. Fui contratado, começamos com três ou quatro funcionários, quando sai da empresa eram quarenta. Ali veio a minha profissão de comércio exterior. Fiz a faculdade de Comércio Exterior na FAASP. Entrei na Goodyear em 1977. No Banco de Boston trabalhei na Divisão Internacional, na Área de Controle. Foi a época em que começaram os computadores, eu trabalhava com um HP-41C, entraram os Personal Computers, comecei a colocar o meu trabalho todo em computadores. Fiz um banco de dados em Lotus, passei a fazer serviços para o departamento, automatizei a maior parte do serviço de câmbio em rede com o Clipper. No Banco de Boston entrei em 1981 e saí em 1990. Alguns amigos foram trabalhar em um banco chamado Exxcel, na Rua Augusta quase esquina com a Avenida Paulista. Permaneci algum tempo e decidi sair. Meu amigo Tarcisio sugeriu que eu trabalhasse com tradução. Anunciei na revista Veja São Paulo. No inicio apareceram muitas pessoas físicas, querendo traduzir currículo.  Eu e minha parceira Leila, trabalhávamos juntos e adquirimos um computador 286. Adquirimos um programa em DOS, começamos a trabalhar com uma empresa de assessoria de marketing, até que surgiu a internet, com uma novidade o e-mail! Trabalhei com essa empresa de 1992 até 2015.

Você faz tradução técnica e coloquial?

Faço ambas. Principalmente na área de informática e muito em comunicação de empresas. Marketing. Propaganda. Aconteceu um fenômeno no mercado de tradução, começaram a aparecer agenciadores de tradutores, são grupos de tradução na internet. Eles abrem uma agencia de tradução. Há o Sintra -Sindicato Nacional dos Tradutores, são eles que recomendam o preço a ser praticado pelos tradutores. Há sites com mais de 2.000 tradutores, até mandarim eles traduzem. O preço eles espremem, é quem paga menos, se você olhar textos de press-release de muitas empresas o vocabulário está mesmificando, nivelado por baixo.

Quando você traduz algo sigiloso é assinado algum termo de responsabilidade?

Normalmente não assinava, traduzi textos de grandes corporações e extremamente confidenciais, mas o que eu traduzo nem os meus filhos olham. Existe empresa que tem por norma assinar um termo de confiabilidade. Nunca precisei assinar. Trabalhei por dezessete anos com uma empresa, muitas vezes eu dava a minha opinião a respeito da eficácia do texto com relação ao objetivo a ser atingido. Fui tradutor para muitas empresas como Gartner, HP, Texas Instruments, Embratel/Olimpíadas, Dassault Systems, Polaroid, AMD, D-Link, EMC, Verint, Hamburg Süd, Roland Berger, DHL,Schneider Electric, Canon. Traduzi três livros técnicos do inglês para o português. Uma empresa que deseja fazer um anuncio em inglês para colocar no exterior eu sou uma pessoa capacitada para fazer isso. Há muitas empresas que recebem muita correspondência comercial da matriz, tem que colocar para o português, seja algo para ser publicado, um plano que a matriz queira que seja elaborado, textos corporativos, eu traduzia para um bom português para ser publicado. Cheguei a colocar “nota do tradutor” em vermelho quando começaram a vulgarizar demais o vocabulário. Por exemplo, “a nível de”, “focado” “obstaculizar”, cansei de ver escrito repetidamente no mesmo texto. Gosto dos textos do Veríssimo, quando ele é irônico com a americanização que estão fazendo com a nossa língua. Porque “50% off”  põe “50% de desconto”, “sale” escreva “venda”.
Qual é o seu facebook?

 É Alberto Carmo (existe um homônimo), o meu email é: lennon@netpoint.com.br . Um dos motivos que credito ao meu sucesso como tradutor é que eu estava sempre disponível. Lembro-me de uma pessoa que estava o exterior e ligou-me pedindo um texto para que ela usasse dali a algumas horas em uma reunião importante. Segundo ela me disse o texto que elaborei e enviei salvou a conta com um cliente dela. Conheço bem o linguajar do pessoal de propaganda e marketing para escrever de forma bem feita com uma conversa que venda o produto ou serviço. Esse sempre foi o meu diferencial, não era traduzir literalmente, mas sim traduzir de forma que atingisse o objetivo final. Eu opinava, dizia que não achava bom aquilo, que tal escrever desta forma. Nunca usei o que chamam de “motores de tradução” que são programas que traduzem. Vou traduzir de acordo com a realidade do momento, a tradução tem que ficar cada vez melhor. Por exemplo, no Brasil há muitas cidades que buscam investimentos de empresas do exterior. Só que tem que saber falar a linguagem das possíveis empresas interessadas. Simplesmente fazer um site pode funcionar de forma inversa, passa uma impressão errada da cidade, temos que saber que nem sempre a linguagem compreensível para nós é entendida da mesma forma por povos de outra cultura. Um ótimo site para nós pode suscitar duvidas e ate inviabilizar o investimento se não for dito na linguagem que o pretenso interessado entenda.

 

domingo, dezembro 27, 2015

WILSON TEODORO







PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS 
JOÃO UMBERTO NASSIF 
Jornalista e Radialista 
joaonassif@gmail.com 
Sábado 26 de dezembro de 2015.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana 
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/ 




ENTREVISTADO: WILSON TEODORO


Wilson Aparecido Teodoro nasceu a 10 de maio de 1971 em Piracicaba. Filho de Wilson Antonio Teodoro e Guiomar Flores Teodoro que tiveram ainda os filhos Fabiano e Fernando. A família residiu sempre no bairro Paulicéia. Wilson atualmente é empresário ligado ao ramo das artes marciais na Academia Company Top Fight, Coaching da Confederação Brasileira de Kickboxing. Para todos os eventos no território nacional e internacional. Wilson Teodoro é um Mestre de Artes Marciais.

Você é técnico contratado por diversas entidades esportivas quando são realizados eventos?
Sou contratado pela Selam - Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Atividades Motoras. Quando você passa a ser um treinador que ganha muitos prêmios, automaticamente a Federação vai colocando você como técnico, quando vamos disputar pelo Estado de São Paulo eu sou o técnico de São Paulo.
Você estudou aqui no bairro mesmo?
Estudei na Escola Estadual Professor Antonio de Mello Cotrim até a oitava série. Minha primeira professora foi Dona Marta. A seguir fui estudar química no Anglo Piracicaba. Foram quatro anos, fiz simultaneamente o curso colegial.
Você seguiu a carreira de Técnico em Química?
Nessa época eu já estava desenvolvendo-me como atleta e simultaneamente fiz estágio na ESALQ onde trabalhei no laboratório de solos. Meu chefe era o Professor José Alexandre Melo Demattê. Pelo fato de ser perfeccionista, foram me segurando dentro do laboratório. Nesse trabalho fiquei por três anos. Eu sabia fazer todos os processos do laboratório, de análise foliar até análise de adubo.
Você não pensou em seguir carreira nessa área?
Pensei, mas o Estado não podia ficar comigo, o Conselho Regional de Química não admitia a minha permanência como estagiário por tanto tempo, eu teria que ser funcionário do Estado. Na época houve uma mudança na chefia do departamento e eu sentia que não era visto com muita simpatia pela nova chefia. Mesmo eu sendo um funcionário pontual e extremamente dedicado. Cheguei a fazer os corpos de provas repetidamente por cinco vezes para que reconhecessem que eu sabia de fato o que estava fazendo. Fiz análises com 1% (um por cento) de erro, sendo que a tabela permitia até 10% (dez por cento) de erro. Permaneci lá de 1991 a 1993. Em 1993 fui contratado pela Caterpillar. Minha intenção era trabalhar no laboratório de metalurgia. Fiz o curso de metalurgia na Metalúrgica Bom Jesus. Fui contratado como rebarbador de peças. Conheci como é o ambiente em uma grande empresa, o fato de eu ter uma disciplina marcial me auxiliou muito. Trabalhei por dois contratos, um de um ano e oito meses e outro de um ano e meio. Eu já havia descoberto outros setores dentro da empresa que necessitava de elementos cuja capacitação eu tinha. Fui trabalhar no que era chamado de rolete para montar o scraper. Em três meses eu já estava montando a caçamba do scraper. De lá fui trabalhar na afiação de brocas. De lá fui trabalhar com o Jaime, um colega que faleceu em frente a empresa em um acidente de moto. Era um setor estratégico da logística da empresa. Em 1996 sai da Caterpillar. Minha mãe disse-me: “- Você não gosta de luta? Porque você não investe na luta?”
Quando surgiu essa sua atração pela luta?

A primeira luta marcial minha foi capoeira. Isso ocorreu no Jardim Esplanada, era o Mestre Ousado. Ele tinha vindo de Recife. Seu intuito era ficar em São Paulo, tinha vários atletas formados por ele. Ele estudava química comigo, um dia disse-me “–Wilson! Você não quer fazer uma luta?” Eu já praticava musculação desde muito novo. Comecei em 1986. Meu primeiro professor foi o“Maçã”, seu nome era Maciel, era proprietário da academia Hercules. O segundo foi o Rainha. Fui para a Academia Clif Alternativa, situada na Rua Treze de Maio, de propriedade do Bertaglia e do Rainha que acredito ser um dos melhores treinadores de musculação que conheço, aprendi muita coisa com ele. É muito disciplinador nessa parte de musculação. Praticamente o que faço hoje na luta. Quando fiz o Tiro de Guerra em 1990 eu fazia 150 quilos de supino, 200 quilos de agachamento, eu sempre tive um potencial violento na parte de lutas. Quando o meu mestre foi embora para Londres ele queria me levar, ele foi conversar com os meus pais, disse que eu tinha um grande potencial, minha mãe não aprovou, sequer imaginava seu filho em um país tão distante. Foi quando na Clif Alternativa, fazendo musculação chegou um professor chamado Antonio Silva. Ele disse que ia ter uma modalidade chamada Box Tailandês em Piracicaba. Eu via o Box Tailandês no desenho que passava na televisão o Sawamu. Foi ai que ele implantou o Muay Thai que é a mesma coisa que Box Talilandês, Thai Box, Toy Muay,  Box in Tailândia. Existem algumas denominações regionais para ao mesmo esporte. Fui treinar o que na época era mais comum chamar de Box Tailandês. É muito dinâmico e competitivo. Em 1988 fui campeão regional de Muay Thay.

Nessa época você trabalhava também?
Trabalhava na Caterpillar e treinava. Fazia três horas de treino, às vezes saia dali e ia para o Anglo onde fazia alguns cursos de especialização em química. Os treinos eram de segunda a segunda, incluindo sábado e domingo. Muitas vezes fazia quatro horas de treino por dia.  Ele fazia o mesmo tempo de treino que é feito na Europa. O dono da academia é como se fosse seu patrão. Na Tailândia é chamado de Boss ( patrão, chefe, mestre).  Treinava para ser um dos melhores, e para ser um dos melhores tem que treinar muito, muito mesmo.
Tinha alguma alimentação especial?
Como eu já tinha tido como professores o Rainha, o Maçã, eu usava a alimentação da musculação. Eu diluía, porque o nosso exercício é mais aeróbico e não de hipertrofia. Na época não tínhamos as opções alimentares que hoje temos.
A questão da suplementação em determinadas circunstâncias desperta polemicas?
Para alguns atletas de alto nível como o Jhonatan Teodoro de 20 anos, meu filho, o Marcos Roberto Alves de 19 anos, a Isabella Correr Spadotti de 11 anos,a  suplementação é usada perto do campeonato, você não pode viver só de suplementação. O Muay Thay é muito explosivo, o que não se admite é criar a dependência psicológica do suplemento. O corpo não irá agüentar, não irá conseguir processar tão rápido.
Em determinados meios esportivos há uma polemica muito grande com relação aos anabolizantes, também popularmente conhecidos como “bomba”. Qual é a sua opinião?
No Muay Thay não tem nem como utilizar anabolizantes. É uma boa pergunta, porque há generalização de algumas exceções, principalmente em determinado tipo de esporte, onde a recuperação do atleta é muito rápida após uma competição. Nós passamos treinando o ano inteiro para os eventos em um campeonato consegue-se recuperar entre uma disputa e outra, no máximo setenta por cento, jamais voltará a forma inicial rapidamente. Nós necessariamente passamos pelo exame de doping. Se você estiver tomando algum produto que não esteja relacionado em seu exame médico a medalha ganha pode ser contestada. Um simples analgésico para uma dor de cabeça, se não for antecipadamente declarado ao médico, pode ser a causa da perda de uma medalha. Além de multa e punições.
Quando foi a sua primeira luta?
A primeira luta minha foi em 1988, em Campinas, em um evento denominado “Aberto de Thai Box”. Foi quando me sagrei campeão conquistando a medalha de ouro. A próxima foi quando o Antonio fez um campeonato regional aqui em Piracicaba, veio um pessoal de São Paulo, também fiquei campeão na minha categoria. E assim foi a minha ascensão Tenho 1,84 metros de altura e na época pesava 96 a 97 quilos. Minha categoria era peso pesado. Um dia o Mestre Antonio disse: “- Wilson, não vou mais poder dar aulas aqui!”.  Isso tirou o nosso chão. Ele disse que tinha que ir para outra cidade, abrir outro espaço para conhecer a modalidade. Disse que iria nomear alguém para instrutor.  Disse-nos: “Agora vocês vão treinar com meu professor, com quem eu treinei!”. Chamava-se Paulo de Souza Faria Nicolai. Ele me telefonou e pediu que eu fosse até Campinas. A academia ficava na Rua Barão de Jaguara. Quando cheguei já senti o impacto, muitos lutadores, uma academia enorme. Ele então me disse: “- Agora você irá fazer parte da equipe principal! Você será a pessoa que irá dar aulas em Piracicaba. Terá que vir treinar em Campinas, a academia abre de domingo a domingo e o horário está lá embaixo.”
Nessa época você trabalhava em qual empresa?
Trabalhava na Caterpillar. Tomava o ônibus para Campinas em frente a Caterpillar, treinava em Campinas, pegava o ultimo ônibus de Campinas à Piracicaba, se não me engano era o das 23:30 horas. Fazia isso as terças, quinta e sexta feiras e no sábado. Ai chegou um dia que passei a fazer de segunda a segunda. De vez em quando trabalhava na Caterpillar na parte da manhã, pegava um ônibus e ficava lá, só voltava no domingo a noite. Treinava, quando não ficava na casa de amigos dormia em algum hotelzinho ou pensãozinha. Tomava o café da manhã e já entrava na academia, ia até a noite.
Você é casado?
Sou! Minha esposa é Selma Aparecida Paes Teodoro. Temos um filho, Jhonatan Teodoro.
Como ela vê essa agitação toda?
A partir do momento em que ela nos viu em competição ela também passou a ser atleta.
Eu continuei a ir treinar em Campinas, Até chegar a um ponto em que poucos permaneceram treinando, muitos desistiram pelo caminho. Ficamos em uma meia dúzia, que se tornou o conselho da academia de faixa preta. Um dia o mestre perguntou se acreditávamos que o Muay Thay poderia nos proporcionar um padrão de vida confortável. Eu disse-lhe: “Acredito no senhor Mestre!”. Os outros não acreditavam! Ele dizia que tínhamos que ter as nossas próprias academias. Eu fui um dos que foi acreditando. Em 1996 tornei-me faixa preta em Muay Thay. Falei com a minha esposa, meus pais, disse-lhes que a partir daquele dia iria viver da academia, o Jhonatan tinha um ano, ele nasceu a 21 de dezembro de 1995. Comecei a dar aulas na Academia Atlas, do Toninho. Dei aula na Academia Associação Giatti, na academia Athenas Fitness. O Giatti abriu um dos primeiros centros de artes marciais de Piracicaba tinha: Karatê com o professor Giatti, Aikidô com o professor Umberto, Judô com o professor Kleber,  Muay Thay com o professor Wilson Teodoro, Tai Chi Chuan com o professor Ronaldo Massaruto, Kendô, Kenjutsu (luta com espadas), o Zequinha na Capoeira Angola. Formou-se um grupo de professores de artes marciais, isso foi em 1997, ficava em um prédio na Rua Santo Antonio, onde anteriormente tinha sido a Loja Maçônica Piracicaba e mais tarde foi uma escola infantil.
Esse centro de treinamento de artes marciais existe até hoje em outro local ?
Não existe mais. O professor Giatti montou sua própria academia. Cada um foi seguindo o seu caminho. Foi quando decidi montar minha própria academia. Minha primeira academia foi montada em 2010 na Rua Basílio Machado, 2605, no bairro da Paulista.
Você chegou a ir à Tailândia?
Fui para a Tailândia em 2008.
A sua academia ocupa uma área expressiva, existe mais alguma academia na cidade?
Atualmente tem outras academias que são co-ligadas a nossa. Onde atletas meus montaram suas próprias academias. São filiais minhas, onde sou o coaching deles.
Quantos atletas da Company Top Fight existem hoje em piracicaba praticando Muay-Thai?
Na central temos cerca de 200 atletas. Próximo ao SESI deve ter uns 60 atletas. Do Leandro, que é na Vila Rezende são uns 70 atletas. Do João Paulo, na Rua Treze de Maio, no centro, deve ter mais uns 100. Do Gigante, no bairro Santa Rosa devemos ter uns 60 alunos. Jhonatan Teodoro, meu filho, tem em Rio das Pedras uns 80 atletas. Na praça central do bairro Santa Terezinha, aberta recentemente pelo João, tem uns 35 atletas. Na Rua Edgar Lima temos outra academia com mais uns 25 atletas, próximo a madereira Naléssio mais 25 atletas. Na Avenida Rio das Pedras tem mais uns 100 alunos. Totalizando chegamos a cerca de aproximadamente 750 atletas. Temos ainda em Capivari, Tietê, Rafard, Cerquilho, Jumirim.
Vivemos na atualidade um problema social muito sério, que é o envolvimento da sociedade e principalmente dos jovens com a dependência química, seja de qual natureza for. O atleta pode ter esses hábitos?
Não! Atleta nunca é da noite! Os atletas competidores não tomam bebida alcoólica, não fumam.
Você segue alguma religião?
Sou católico. Tenho muita influência da cultura budista, mais em função dos mestres. A filosofia que eles têm na Tailândia eu prego dentro do centro de treinamento. Ela diz que temos que “Doar-se para o esporte como Buda doou-se para o próximo”. O Muay- Thai tem essa cultura budista, essa parte filosófica, onde se prega que para ser feliz não há a necessidade de acumular riquezas e sim ter uma boa saúde, uma boa disciplina espiritual e mental. Essa é a disciplina que eles me ensinam quando vou para lá.
Há uma faixa etária definida para a prática do esporte?
Para o esporte não. Para a luta em cima do ringue sim. Começa aos 18 anos e termina aos 40 anos. Tem o tatame, que é outra modalidade, só que você não causa nocaute. É a modalidade onde o Victor Vagner é o máster. Chama-se Light Contact. Tem que colocar apenas cinqüenta por cento da potência.
A partir de qual idade pode ser praticado esse esporte?
Desde os sete anos. O Kauã é um atleta que começou treinar quando tinha quatro anos. A Isabella começou a treinar com oito anos hoje está com onze anos, faz três anos que ela treina. São crianças que já vem determinadas a treinar Muay-Thai.
Qual é a idade do atleta na faixa etária mais avançada que treina na academia?
O que tem mais idade tem 51 anos.
O atleta tem o poder de ser letal a um adversário ou em situação de risco. O que você pode afirmar a respeito?
A arte marcial Muay-Thai tem um poder muito grande com alto reflexo e alto impacto. O homem desconhece o próprio corpo. Quando colocamos um ambiente de família dentro da academia, fazemos com que o atleta prossiga esse trabalho. Quem ingressa na academia já entra pensando como atleta. Quando quiser encontrar um praticante de Muay-Thai basta vir até a academia, eles praticamente moram aqui, passam grande parte do seu tempo na academia. Com isso não sobra tempo para atividades que possam desvirtuar o comportamento do atleta. Vamos fazer um churrasco na casa de um deles, todo mundo vai. Vai ter uma festa no Clube de Campo onde vamos promover uma ação para ajudar alguma entidade, vão todas as academias. Eles não têm muito tempo para que a mídia, principalmente a televisão, os bombardeie com futilidades. Nós temos 15 eventos ao ano, todos querem participar. Não nos restringimos a lutar só em Piracicaba, vamos a todos os lugares do Brasil: Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Amazonas, Distrito Federal. Quando alguém vai ao cinema geralmente vão todos ao cinema, juntos. Nosso primeiro evento será no dia 17 de janeiro de 2016, vão lutar 45 atletas em São Pedro. O pessoal do Rio de Janeiro estará em Piracicaba no dia 18 de janeiro para fazer seminário comigo.
Como o público pode ficar sabendo dos eventos?
Pela internet. Temos vários endereços eletrônicos: wilsonteodoro.com.br, face book companytopfight, instagram wilsonteodoro, you tube wilsonteodoro. Tenho uns 6.000 seguidores no face.Uma boa parte são estrangeiros.
Quantos idiomas você fala?
Falo um pouco de tailandês, inglês, estou aperfeiçoando o espanhol. Em 2008 fui para a Tailândia sem saber de nada, sem falar inglês, permaneci por três meses na Tailândia.
Qual é a visão do tailandês a seu respeito?
No começo viam uma pessoa de porte grande, tatuado.
O que significam essas tatuagens que você tem pelo corpo?

São mantras, nem todos podem ter. Hoje sou considerado por eles como um professor da Tailândia, um tailandês. Vou para lá todos os anos. Criei uma identidade tão grande que quando entro na Tailândia sou muito conhecido. O brasileiro é muito comunicativo, pega na mão, abraça. Cumprimenta. O piracicabano parece que tem um jeito mais carinhoso com o povo. Quando fiquei na Tailândia fiquei sozinho, tenho um amigo que mora lá, um brasileiro, piracicabano, chamado Paulo Kawai, primo do Pedro Kawai, era quem me levava a todos os lugares. Cheguei à Tailândia usando uma camiseta do XV de Piracicaba, atrás escrito Wilson Teodoro nas costas, mando fazer na Deffende.  O Paulo me viu, olhou, perguntou de onde eu era. Disse-lhe que era de Piracicaba. Ele perguntou-me se eu conhecia o dono da Vidraçaria Kawai. Respondi que era pai de um grande amigo chamado Pedro, fizemos o Tiro de Guerra juntos, eu era número 150 ele 123. Ele foi me levando a todos os maiores centros de Muay-Thai da Tailândia. O Paulo Kawai fala nove idiomas. Passei a ter como mestre Khru Pairojnoi que foi mestre de um grande amigo, Cosmo Alexandre, um brasileiro que foi morar na Tailândia e ficou muito famoso na Tailândia. Eu estava treinando no mesmo centro de treinamento onde ele estava. Fui o quarto brasileiro a ir a um lugar onde um brasileiro tornou-se o rei do Muay-Thay na Tailândia. 





segunda-feira, dezembro 21, 2015

ALICE DAS DORES DIAS CARMO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 12 de dezembro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/



ENTREVISTADA: ALICE DAS DORES DIAS CARMO

Alice das Dores Dias Carmo nasceu na Rua Manoel Dutra, batizada na Igreja do Espírito Santo na Rua Frei Caneca, fez a sua primeira comunhão na Igreja São João Batista. Foi crismada na igreja Nossa Senhora Achiropita na Rua 13 de Maio. Casou-se na Igreja Imaculada Conceição. Filha de José Pedro Dias e Tereza de Jesus Dias nascida em 1892.

Igreja Nossa Senhora Achiropita





Os pais da senhora nasceram no Brasil?
Sou filha de pai e mãe portugueses, assim como neta de portugueses. Meu pai é da região de Trás-os-Montes sua atividade profissional lá era barbeiro.


                                              IMAGENS DE TRÁS-OS-MONTES
 Na época havia uma imagem de que no Brasil as libras esterlinas estavam em toda parte, o que era pura ilusão. Meu pai nasceu em 1888, embarcou em um navio e veio para o Brasil, desembarcando em Santos. Foi para São Paulo, no Brás, onde a irmã da minha mãe tinha uma pensão na Rua Marcos Arruda. Morei na Rua João Boemer entre a Rua Itapiraçaba e Rua Santa Clara.




Que dia a senhora nasceu?
Nasci no dia 19 de julho de 1918, tenho 97 anos. Minha mãe teve três filhos, um que faleceu precocemente, outro, o Alberto que foi o precursor da música na família e eu. Quando eu nasci meu pai era militar, trabalhava no quartel situado a Rua José Getulio. Naquele tempo meu pai pertencia a então Guarda Cívica. A farda era bonita, com botões dourados. Logo depois que eu nasci o meu pai pediu baixa, recebeu menção honrosa.

Imagem relacionada

 Ele então decidiu abrir uma casa de móveis. Alguns anos depois minha mãe adoeceu, ela queria ir embora para Portugal. Em 1922 fomos embora para Portugal onde permanecemos por quase três anos. Fomos para Portugal no navio Astúrias, da Mala Real Inglesa, levamos 14 dias de viagem Quando voltamos de Portugal ao Brasil foram 9 dias de viagem, no navio Neptuno. Voltamos para o Brasil em 1925, aonde meu pai era patrão ele foi ser empregado, na casa de móveis. Ficou uns três anos lá até juntar algumas economias, abriu outra vez uma casa de móveis. Em 1932 veio uma crise muito forte, não havia uma casa comercial aberta, ninguém tinha emprego. Nessa época meu pai tinha uma casa de móveis, contava com cinco funcionários. Teve que encerrar as atividades. Calhou que o meu pai vendeu para pessoas que não eram boas pagadoras. Papai perdeu tudo. Morávamos em uma casa onde pagávamos de aluguel oitocentos mil réis, que naquela época era muito dinheiro. Fomos morar em um quarto e cozinha meu pai, minha mãe, meu irmão e eu. Na época eu estava estudando. Meu pai chegou a pagar dívidas cortando cabelo pelo equivalente a um real hoje, e a barba a cinqüenta centavos.
O que a senhora se lembra de 1932?
Lembro-me que morava em uma casa grande, no Brás, na Avenida Celso Garcia, 56 em frente a Rua Joli, entre a Rua Bresser e a Rua Progresso, tinha o cinema Brás Polyteama, do outro lado, do nosso lado era o Cine Universo. Era quase na esquina da Rua Bresser. Estudei no Grupo Escolar Padre Anchieta, na Avenida Celso Garcia. Minha primeira professora, ainda no Jardim de Infância, chamava-se Dona Delfina, usava cachinhos nos cabelos. A professora do primeiro ano foi Dona Luisa. A escola ficava próxima a Rua Santa Rita. Dali fui para a Escola São João Evangelista. Até onde hoje é o Templo de Salomão é o Brás, a seguir vem o Belém e mais adiante o Belenzinho. Mudamos para a Avenida Nove de Julho aos quatorze anos tive que trabalhar para ajudar em casa e eu fui trabalhar em uma casa na Alameda Lorena.
Vocês moravam antes ou depois do túnel da Avenida Nove de Julho?
O túnel não existia, era um morro. Em cima havia uma casa de chá muito bonita, onde hoje é o MASP – Museu de Arte de São Paulo. No sentido centro para o bairro morávamos após o morro, nós íamos pela Rua Pamplona. Eu comecei a trabalhar ajudando um casal que veio da Holanda, foram morar na Rua Iris, no final da Avenida Brigadeiro Luiz Antonio e inicio da Avenida Santo Amaro. Tinha uma igrejinha que se chamava Igreja Santa Terezinha. Os meus papeis de casamento foram feitos na Igreja São Gabriel e na Imaculada. A Igreja São Gabriel era bem pequena. A Igreja Santa Terezinha era na divisa da Avenida Brigadeiro Luiz Antonio com Avenida Santo Amaro. Ela ainda existe, mas fica em outra rua. Esse casal abriu uma fábrica de torradas holandesas, aqui chamam switchback. Naquele tempo jamais uma moça entrava em um escritório para trabalhar, eram só homens. Meu pai abriu um salão de babeiro, com um espelhinho que até a pouco tempo estava comigo, ficava no Jardim Paulista, tinha uma casa de pedra, do Dr. Aché, nós fomos morar lá, uma amiga nossa tinha uma casa com quarto e cozinha, o banheirinho como era antigamente, lá no fundo do quintal. Meu pai abriu lá o seu salão de barbeiro, ele tinha um amigo que disse-lhe: “- Zé Pedro, eu tenho um bar, é grande, vou dividir com madeira de tal forma que cabe uma cadeira de barbeiro.” Meu pai comprou uma cadeira usada, com aquele espelhinho, ali ele passou a trabalhar de barbeiro. Eu empacotava as bolachas, o proprietário chamava-se Pete Fanel. Faziamos torradas redondas e switchback. Nessa época nós estávamos morando ainda na Avenida Nove de Julho, entre a Rua José Maria Lisboa e a Alameda Lorena. Do lado da Lorena, após o morro a Nove de Julho chamava-se Rua Salvador Pires. Do lado direito tinha uma chácara de flores, chamava-se Rose de France. Do lado esquerdo já tinha casas bonitas, no estilo alemão, que ainda existem na Rua José Maria Lisboa. Do outro lado havia muitas chácaras de flores. As ruas eram todas em chão de terra. Nessa época o meu pai adquiriu uma bicicleta, que mais tarde chegou a levar à Portugal. Ele saia dali de manhã, ia até ponto final do bonde 45, no Jardim Paulista, lá ele tinha o salão de barbeiro. Eu ia de bonde para trabalhar com os holandeses. Eles almoçavam e faziam a comida em um fogãozinho chamado Jacarezinho. Ela me dava comida. Um dia sai de lá e vim com meu pai, estava chovendo, meu pai tirou o paletó e colocou nas minhas costas, para eu tomar o bonde. Eu subi, com o paletó dele no ombro, quando o condutor, que equivale ao cobrador de ônibus hoje, disse ao meu pai: “ – O senhor não pode subir no bonde sem paletó!”. Meu ai explicou que tinha colocado em meus ombros para me proteger da chuva e do frio. Em seguida ele foi embora com sua bicicleta, para economizar quatrocentos réis, era duzentos réis cada passagem. Logo em seguida faleceu o dono de um salão de barbeiro na Rua Manoel Dutra, na Bela Vista, eram amigos dos meus pais. Meu tio, irmão do meu pai, morava na Rua Manoel Dutra avisou o meu pai. Conclusão: Meu pai comprou o salão de barbeiro. Trabalhou uma temporada. O falecido tinha um filho que era barbeiro também. Um dia a viúva, Dona Rosinha avisou-nos que teríamos que mudar porque o Rogério é barbeiro também. Meu pai falou com um senhor que era nosso vizinho, um português, o Seu Magalhães que disse: “-Eu tenho esse salão que foi um açougue, hoje esta alugado para uma leiteria, e é muito grande, eu faço uma parede divisória e vocês ficam ai”. Era ao lado da nossa casa, números 112 e 114, isso na Rua Manoel Dutra esquina com Praça 14 Bis. Ficamos morando bastante tempo ali. Meu pai tocava bandolim, meu irmão tocava violão, banjo, todo tipo de instrumento de corda, ele ficava com o meu pai no salão e quando não tinha freguesia meu pai tocava bandolim e ele tocava violão, conclusão: ficava cheio de gente. Com isso meu pai ficou muito conhecido. Aquele salão estava pequeno, mais acima, na Manoel Dutra, um armazém fechou, meu pai passou para lá. Ai sim era um salão de barbeiro bom, bem arrumado. Quando sai da fabrica de bolacha fui trabalhar na fábrica de toalhas de Vicente Define e Pascoal Frascar. Nesse prédio na Rua Frei Caneca com a Rua Caio Prado trabalhei em quatro empresas.

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A Rua Augusta já era calçada?
Já! Lembro-me do jogador de futebol “Ministrinho”, era do Palmeiras, nunca fizeram homenagens para ele. Era um rei do futebol, morava na esquina da Rua Pena Forte Mendes. O Ministrinho era sapateiro remendão, sua casa era em frente ao colégio de freiras onde meus filhos estudavam. Quando não tinha guarda para atravessar a criançada lá ia ele com aquele avental, ficava no meio da rua atravessando as crianças. Quando eles jogar em outros lugares ele que carregava o saco das bolas.

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Na fábrica de tecidos quantos anos a senhora trabalhou?
Trabalhei 14 anos. Lá eu era tecelã de seda. O proprietário era Jean Nicolau. A Rua Frei Caneca começa na esquina da Caio Prado, trabalhei ali. O Seu Jean Nicolau sabia que pegada a fábrica dele havia a Fábrica Santa Terezinha, era famosa, de seda também. Trabalhávamos só com peças de tecido, não era confecção de roupas. Fomos trabalhar lá, até que eles falaram que a fábrica ia mudar para a Vila Formosa, Zona Leste. Meu pai disse-me: “-Você não vai!”. O Jean Nicolau era um moço, ele andava com a azeiteira na mão subindo em cima dos teares azeitando, porque não tinha funcionário para fazer isso. Se estragasse um pedaço de fio, por menor que fosse ele chamava a nossa atenção, com luvas de pelica. Dizia que estávamos estragando, que aquilo custava. Ali nós aprendemos a sermos econômicas e a trabalhar direitinho. Permaneci 10 anos trabalhando ali. Ai a fábrica mudou para a Vila Esperança. Nessa fábrica conheci o meu marido, ele era ajudante de contramestre. Ele tinha 22 anos. Eu sou mais velha do que ele sete anos.
Seus pais, os dois  portugueses, não é uma coincidência muito grande virem a se conhecerem e casarem no Brasil ?
Foi! A minha tia Maria casada com Manoel João, irmã da minha mãe, veio de Portugal para o Brasil antes do que a minha mãe. Abriram uma pensão nas imediações de onde é a ROTA, na Avenida Tiradentes. Ali era o reduto dos soldados. Após juntarem um dinheirinho, foram a Portugal para buscar uma irmã para ajudar a trabalhar. Meus avós tiveram 10 filhos, minha mãe era uma das mais novas. Trouxeram minha mãe para cá, ela tinha 20 anos. Ela preveniu a minha mãe que iria trabalhar fora, e que era costume na época que a empregada doméstica só ia em sua casa ver a família de 15 em 15 dias, geralmente no domingo após o almoço. Ela foi trabalhar na casa da família Paula Souza. Lá ela conheceu Washington Luís, a esposa dele era Dona Sofia. Ela trabalhava em uma rua que mais tarde veio a se chamar Washington Luís. Naquela época em Portugal havia o José do Telhado, equivalente português ao célebre italiano Gino Amleto Meneghetti. Aqui tinha o Tenente Galinha, era um homem de complexões físicas avantajadas, a polícia fazia de tudo para prendê-lo, não conseguia. Nessa ocasião Washington Luís era ministro da justiça. Alguns tinham rádio galena, inclusive meu pai, meu marido chegou a fazer rádio galena, mas já havia rádio a venda em lojas. A noticia que o radio dava era  que tinham prendido o Tenente Galinha. Um deficiente físico, que tinha um caso amoroso com a mulher do Tenente Galinha o matou, graças as indicações dadas por ela.
A senhora lembra-se da revolução do  liderada pelo General Isidoro Dias a Revolução de 1924?
Lembro-me da musica: Quem fala que é legalista/Legalista é uma banana/ Eu sou filha do Isidoro/ E sobrinha do Cabana (Tenente João Cabanas). Víamos movimentos de tropas.
A senhora viu o Zeppelin quando ele esteve em São Paulo?
Vi o Graf Zeppelin ele veio, ficou uns quinze minutos parados. O dono da firma deixou que saíssemos da empresa e ver, era uma coisa muito diferente, parecia de alumínio, o sol batendo nele. Antigamente os rapazes que não iam servir o exército faziam a linha de tiro, meu pai tinha um empregado que aos sábados eles iam fazer as instruções, praticavam, no Anhangabaú a noite, hoje um dos locais mais movimentados da cidade. Faziam duas vezes por semana.
A senhora viveu a Revolução de 1932 também?
Essa foi difícil pelo racionamento de alimentos.
Sabe como foi feita a Avenida Nove de Julho?
Com enxadão! Naquela época é que o pessoal do norte começou a vir para São Paulo. Tinha emprego a vontade. Eles trabalhavam dentro do túnel com água pelo joelho. Na Praça 14 Bis tinha umas bocas de lobo altas. Tinha mais ou menos uns vinte ou trinta burrinhos que puxavam aquelas caçambinhas, carrocinhas, os burrinhos iam um encostado no outro, chegavam a Rua Manoel Dutra, os burrinhos já sabiam, paravam, ali tinha uns rapazinhos que esvaziavam a terra. Ai os burrinhos iam devagarinho até a boca do túnel. Lá tornavam a encher as caçambinhas. Do lado onde é a fonte luminosa, a Escola Getulio Vargas, o pessoal vindo do norte fez as casinhas em volta, barracos.  Ali faziam as suas comidas, dormiam. O pouco que eles ganhavam ainda mandavam para o norte. Eles recebiam as cartas de lá e não sabiam ler, o meu pai era maravilhoso. Nessa ocasião papai era barbeiro no começo da Manoel Dutra, eles levavam as cartas para o meu pai ler e escrever as cartas para eles. Eles diziam: “Seu Zé é o nosso pai!”. Reclamavam que não dormiam a noite, não traziam quase roupas, não dormiam porque os pés não esquentavam. Meu pai dizia: “ Antes de dormir, vocês tomam um banho e colocam os pés em uma água bem quente, embrulham os pés em uma folha de jornal, assim vocês esquentam. Assim que fizeram o Túnel da Avenida Nove de Julho. Eu fui a inauguração do túnel, até guardei uns tijolinhos de lá. A inauguração foi uma grande festa, veio até pessoal do Rio de Janeiro.  
A senhora lembra-se do dia em que se casou?
No civil casei-me no dia 14 de fevereiro de 1952 e no dia 16 casei-me na igreja. Meu pai me fez um casamento maravilhoso, com dois salões de festa..
Quantos filhos vocês tiveram?
Dois, o Alberto e o José Antonio, nomes dos dois avós, do meu pai e do meu sogro. Casei-me velha, tinha 32 anos. Fui na Tecelagem Santa Branca, comprei sete ou oito metros de pano e mandei fazer o vestido. Depois com o pano do vestido fiz uma colcha.
Meu marido e eu trabalhávamos na mesma empresa, os irmãos dele também trabalhavam lá. Começamos a namorar e todo o mundo era contra porque eu era a mais velha do que as demais. Como falam hoje, naquela época já tinha as “periguetes”. Meu marido era mocinho, novinho, bonito, ele era ajudante de contramestre e eu tecelã. Eu já ganhava mais do que ele. Esperei ele completar 25 anos dia 15 de janeiro, eu tinha 32 anos, senão ficava feio, com menos de 25 anos ele era muito jovem ainda. Meu desejo era casar com uma festa e um vestido de noiva de cauda, tudo isso eu tive. Só uma coisa que eu tive e não esperava é que casei-me no domingo de carnaval, acabamos de casar no dia seguinte embarcamos para o Rio de Janeiro, minha cunhada morava lá, ficamos 18 dias no Rio de Janeiro. Passei o carnaval. Fui ao Morro da Urca, Pão de Açúcar, Cristo Redentor, Niterói. Deus me deu tudo que eu queria. 

Porque Achiropita?    

Como o título de Nossa Senhora Achiropita é tão diferente dos nomes conhecidos atribuídos à Mãe de Jesus Cristo, devemos explicar muitas vezes seu significado. Sempre o fazemos contando uma bonita história, que pertence à tradição do povo italiano, vindo da Calábria para o Brasil, no final do século XIX.
Eis a nossa história:

No ano de 580 um certo capitão Maurício enfrentou uma grande tempestade em alto mar. Gritava por socorro a Nossa Senhora e prometeu que, se fosse salvo com sua tripulação, construiria um santuário em sua homenagem. Desviado pelos ventos, por milagre, conseguiu salvar-se e, na aldeia em que atracou, encontrou um monge que lhe disse: “Não foram os ventos que o trouxeram para este lugar. Foi Maria, para que lhe construa um santuário, quando o senhor for eleito imperador”. A profecia cumpriu-se e o santuário foi construído em Rossano - Calabro.
Um artista da região iniciou uma pintura da imagem de Maria. Ocorria, no entanto, que tudo o que pintava durante o dia, desaparecia durante a noite. Assim, colocaram um vigilante para impedir a entrada de possíveis intrusos, que estivessem danificando a pintura.

Numa certa noite, uma formosa mulher, com uma criança no colo, pediu para entrar e rezar. Após insistir, obteve a permissão. Que mal poderia fazer aquela gentil senhora?

Passaram longos minutos e a mulher não saía da igreja. Quando o vigilante entrou, viu a imagem da mulher e do menino estampada no lugar da pintura. Por esta razão o vigilante saiu gritando pelas ruas: Nossa Senhora Achiropita! Nossa Senhora Achiropita! (A-kirós-pita - não pintada por mãos humanas).

Esta é a devoção Mariana que nossos irmãos italianos trouxeram para o Brasil e que nós veneramos como protetora e Mãe de nossa comunidade. Sua festa é celebrada no dia 15 de agosto, dia da Assunção de Nossa Senhora. No Brasil, só existe uma igreja dedicada a Nossa Senhora, com o título de Achiropita que se encontra em São Paulo no bairro da Bela Vista - Bixiga. Sua festa é a maior comemoração religiosa da cidade. Que a Mãe de Deus, Achiropita, nos proteja como filhos e cuide de nós com amor!


Navios: o Asturias de 1925

1925-1957
Em setembro de 1925, nas páginas do jornal A Tribuna de Santos/SP, surgiu um artigo não assinado, provavelmente inspirado em material de divulgação da própria armadora, que transcrevemos parcialmente para dar ao leitor o feeling da época.
O 'Asturias' em 1932, passando defronte ao Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro
O Asturias em 1932, passando defronte ao Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro
"A Mala Real Inglesa acaba de lançar ao mar, nos estaleiros da Harland & Wolff, de Belfast, mais um possante transatlântico destinado à linha da América do Sul. O novo navio, que recebeu o nome de Asturias, representa o esforço da grande empresa de navegação em dotar a carreira com os países sul-americanos das melhores unidades, atendendo o crescente e espantoso progresso que aqueles países estão alcançando.
O Asturias é, no gênero, a unidade mais eficiente que se conhece até hoje. A engenharia naval inglesa, incontestavelmente a mais apercebida e aparelhada no que concerne à sua especialidade, tem, na nova construção, um dos seus mais legítimos títulos de glória.
O Asturias é a prova mais eloquente. Lancemos um rápido olhar sobre os detalhes mais importantes desse novo transatlântico de 22 mil toneladas de registro bruto. É o maior e mais possante navio a motor do mundo, sendo acionado por seis motores de duplo efeito, de oito cilindros a quatro tempos, motores que são os maiores a diesel até hoje construídos para navios. Estes motores desenvolvem mais de 20 mil cavalos-vapor, transmitidos a dois eixos.
O Asturias, que está destinado à linha sul-americana, satisfaz todos os requisitos do Ministério do Comércio e da Legislação Naval da Espanha. As suas principais dimensões são: comprimento de 655 pés (200 metros), boca (largura) de 78 pés (24 metros), possuindo luxuosas instalações para 1.740 passageiros e tripulantes.
O navio tem proa direita e popa de cruzador e conta 11 anteparas estanques, que o dividem em 12 compartimentos. O casco duplo é contínuo de proa a popa, podendo ser lastreado com água doce ou salgada.
Com essa magnífica unidade, fica a Mala Real Inglesa enriquecida de mais um transatlântico, que a coloca perfeitamente em harmonia com o espantoso desenvolvimento que vão alcançando os países da América do Sul."
O transatlântico inglês 'Asturias' atracado em Santos, no cais do Armazém 16 (Bagagem) nos anos 20/30
O transatlântico inglês Asturias atracado em Santos,
no cais do Armazém 16 (Bagagem), nos anos 1920/30
7 de julho de 1925 - O Asturias é lançado ao mar, sendo madrinha do navio a duquesa de Abercorn, esposa do governador da Irlanda do Norte e diretor da armadora.
26 de fevereiro de 1926 - Capitaneado pelo comodoro E. W. E. Morrison, o transatlântico zarpa de Southampton com destino ao Brasil e ao Prata. Nesta viagem inaugural já se denotam dois grandes problemas que perseguiriam o Asturias até 1934: baixa velocidade e alta vibração da estrutura, fazendo sofrer os passageiros pela trepidação e pelo excessivo rumor.
Janeiro de 1927 - Primeira viagem entre Southampton e Nova Iorque, rota que serviria ocasionalmente.
Em 1934, a Royal Mail Lines decide trocar os motores, seja do Asturias, seja do seu quase gêmeo, o Alcantara, com a finalidade de lhes dar mais potência e velocidade. Foram necessários quatro meses de estaleiro para se proceder a mudança no Asturias, pois toda a casa de máquinas teve de ser remodelada para permitir a instalação dos novos motores, maiores em dimensão do que os originais.
Aproveitou-se para substituir os hélices originais a quatro pás por outros de três pás, a proa foi encompridada três metros e seu desenho ligeiramente modificado. Outra alteração importante consistiu em aumentar a altura das duas chaminés originais em cinco metros cada uma.
Em setembro de 1934, o Asturias ficou pronto, realizando novas provas de mar, quando alcançou velocidades superiores a 19 nós. Com as modificações internas efetuadas, a nova capacidade do transatlântico passou a ser de 330 passageiros em primeira classe, 220 em segunda e 768 em terceira.
Aprovada a reforma pelos engenheiros navais, o Asturias foi, em seguida, enviado para realizar um longo cruzeiro, de vários meses de duração, saindo de Southampton para o Mediterrâneo, Canal de Suez, Extremo Oriente, Pacífico Sul, Estreito de Magalhães e retorno à Inglaterra via Atlântico Sul.
O período entre 1935 e 1939 constituiu o ápice da qualidade de serviço dos dois grandes transatlânticos na Rota de Ouro e Prata. A cada uma de suas viagens, seja no sentido Norte ou no sentido Sul, os lugares a bordo eram reservados com, ao menos, dois meses de antecedência.
O 'Asturias' navegando na costa brasileira, em cartão postal da época, vendo-se as duas chaminés
O Asturias navegando na costa brasileira, em cartão postal da época, vendo-se as duas chaminés
Segunda Guerra - Com a eclosão do conflito e tal como seu irmão-gêmeo, o Asturias foi rapidamente  convertido em cruzador auxiliar armado, sendo dotado de oito canhões de seis polegadas. Sua segunda chaminé, que só possuía funções estéticas, foi retirada, assim como todos os móveis e as instalações para passageiros.
O Astúrias prestou, inicialmente, serviço em patrulhas no Atlântico Norte nas águas próximas à costa ocidental da Grã-Bretanha, sendo deslocado para o Atlântico Sul, após o encontro naval entre o corsário alemão Thor e o Alcantara, acontecido em julho de 1940.
Após permanecer oito meses nesse teatro de guerra, o Asturias foi recolhido ao estaleiro da US Navy (Marinha dos Estados Unidos) em Newport News (EUA), para ser submetido a mais uma reforma. Novos canhões foram instalados no lugar dos antigos e o navio recebeu uma catapulta e um avião de reconhecimento.
O 'Asturias' no cais do armazém 16 do porto de Santos, em foto de J.C. Rossini
O Asturias no cais do armazém 16 do porto de Santos
Foto: J.C. Rossini
25 de julho de 1943 - Quando se encontrava em navegação de escolta, 400 milhas (740 quilômetros) ao largo de Freetown, o Asturias foi torpedeado pelo submarino italiano Cagni. Apesar de ter tido a casa de máquinas inundada, o Asturias não afundou, graças às portas estanques, possibilitando, assim, seu reboque ao porto mencionado, no qual o navio permaneceu até 1945, sem maiores reparos.
Terminado o conflito, o Asturias foi rebocado, inicialmente até Gibraltar, onde pôde ser feito trabalho provisório de consertos de maior urgência. Em seguida, levado para a Inglaterra, foi reformado inteiramente e reconvertido em navio de passageiros para o transporte de emigrantes.
Nessa função, realizou viagens entre a Grã-Bretanha e a Austrália até 1953, ano em que foi novamente transformado em navio-transporte de tropas, repatriando soldados que haviam participado da Guerra da Coréia.
Sua longa carreira de 32 anos chegou ao fim em setembro de 1957, quando foi demolido no Porto de Faslane (Inglaterra).
O 'Asturias' no Estuário de Santos, em pintura do inglês Kenneth Denton Shoesmith (1890-1939)
O Asturias no Estuário de Santos, em pintura do inglês Kenneth Denton Shoesmith (1890-1939

"Asturias - Este cartão-postal mostra o navio inglês Asturias, em frente à costa do Rio de Janeiro. O cartão é um original da Royal Mail Steam Packet Company, editado com base em pintura do artista Bernard R. Lachevre e publicado pelos editores Raphael Tuck & Sons. O navio, de 22.071 toneladas e 192,16 metros de comprimento, transportava 408 passageiros em primeira classe, 200 em segunda e 674 em terceira (imigrantes). Fazia a linha entre Southampton e Buenos Aires desde fevereiro de 1926. Foi lançado ao mar, em 7 de julho de 1925, nos estaleiros de Harland & Wolff, de Belfast, Irlanda. Foi o segundo navio da armadora em esse nome; o primeiro era de 1908. Este era gêmeo do Alcantara II. No início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, serviu como navio de transporte de tropas inglesas. Em julho de 1943 foi torpedeado pelo submarino italiano Gagni, na costa da África do Sul. Ficou abandonado por algum tempo e em 1947 voltou a ser navio de transporte de tropas, até que em 1949 passou a conduzir imigrantes para a Austrália. Foi demolido em 1957".
Imagem: Acervo José Carlos Silvares/fotoblogue Navios do Silvares (acesso: 13/3/2006)
Asturias:
Outros nomes: nenhum
Bandeira: britânica
Armador: Royal Mail Steampship Lines
País construtor: Inglaterra
Estaleiro construtor: Harland & Wolff (porto: Belfast)
Ano da viagem inaugural: 1925
Tonelagem de registro bruto: 22.000
Comprimento: 200 m
Boca (largura): 24 m
Chaminés:2
Mastros: 2
Passageiros: 1740

                     MACEDO DE CAVALEIROS - PORTUGAL 


O bom gatuno

Meneghetti se transformou numa lenda em São Paulo por praticar roubos e sempre conseguir escapar.

  Os jornais paulistanos do dia 14 de junho de 1970 traziam uma notícia pequena, mas que surpreendeu muita gente: no dia anterior, Gino Amleto Meneghetti fora preso tentando entrar numa casa da Rua Fradique Coutinho 909, na Vila Madalena. Levava nas mãos uma lanterna, uma talhadeira e um pé de cabra, ferramentas típicas de arrombadores de portas e janelas. Tudo isso seria muito comum se o homem que fora detido não tivesse 92 anos de idade! Liberado por falta de provas, Meneghetti sustentou, com histórias como essa, seu status de figura mitológica da história de São Paulo.
Gato dos Telhados, Ladrão Nobre, Bom Ladrão, Grande Ladrão, Homem Gato e Homem de Borracha foram algumas das alcunhas que ele ganhou da imprensa, por sua habilidade de andar sobre as casas, de entrar nelas pelos telhados e roubar ricos – sempre sem usar a violência –, e de fugir espetacularmente dos presídios. Foram dezessete escapadas desde a infância, passada em Pisa, na Itália, onde a pobreza o levou a cometer os primeiros furtos.
Nascido em 1878 – segundo ele mesmo; para alguns biógrafos, seu nascimento se deu em 1888 –, Gino chegou homem feito à capital paulista, depois de desembarcar em Santos no ano de 1913. Já tinha um histórico de roubos, prisões e fugas na Itália e na França, e veio para o Brasil porque era, segundo contava, um homem marcado na sua terra. Histórias de sucesso de uma tia e de outros italianos que viviam em São Paulo o atraíram e o incentivaram a buscar o sustento na cidade de maneira honesta. Mas sua vida boêmia atrapalhava tudo. O dinheiro que Meneghetti ganhava na fábrica de chocolates Falchi era pouco para seus hábitos de frequentador da noite e apreciador do vinho chianti.
Por isso, Gino largou o emprego e foi morar numa pensão, onde encontrou o amor de sua vida, Concetta Tovani, e conterrâneos que o reconduziram aos roubos. Passou a vender revólveres repassados por eles, que diziam ser contrabandistas de armas. Armas que, na verdade, eram roubadas. Meneghetti caiu numa armadilha policial, e em março de 1914 foi preso pela primeira vez em território brasileiro, e condenado a oito anos de prisão.
Na cadeia, junto com outros presos, tentou cavar um túnel, mas um detento delatou o plano e o acusou de ser o mentor da ideia. Por isso, o italiano foi colocado nu em um poço, fechado por cima com uma grade. Foi aí que começou sua fama: numa noite fria do mês de julho de 1915, ele escalou o poço com um pé em cada parede e conseguiu arrancar uma das barras de ferro, mas o espaço aberto era pequeno. Mesmo assim, ele atravessou o vão apertado, deixando pedaços de pele nas barras, fugiu pelo telhado e desceu perto do Jardim da Luz. Era uma hora da manhã. Nu, no meio da garoa paulistana, conseguiu despistar um guarda e seguiu rumo à casa da tia para obter roupas.
Os jornais fizeram grande estardalhaço, e ele passou a ser um homem procurado. Abusado, voltou a praticar furtos e deixava recados nas casas roubadas. Como no palacete da baronesa de Arary, onde ele a alertou para que escolhesse melhor seu fornecedor, pois suas joias eram quase todas falsas. Também escrevia com frequência cartas para os jornais gozando a polícia. Atitudes como essas o tornaram um mito, uma espécie de Robin Hood de São Paulo. No entanto, embora ajudasse os pobres – segundo algumas lendas, ele comprava alimentos para pessoas humildes que chegavam aos armazéns sem dinheiro suficiente –, não praticava seus furtos com essa finalidade.
Mas havia um outro motivo para a sua fama: ele nunca praticava qualquer ato de violência. “Jamais roubei um pobre. Só me interessa tirar dos ricos, e tirar joias, que são bens supérfluos que só servem para alimentar a vaidade”, dizia, coerente com seus ideais anarquistas. Quando criança,na Itália, Meneghetti já se sentia injustiçado por ser muito pobre, enquanto havia ali perto pessoas muito ricas, que desperdiçavam comida. Ele foi criando uma “consciência de classe” desde essa época. Leu muito, estudou. Já chegou ao Brasil adepto do anarquismo.
Seus furtos ocorreram em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, em toda a Região Sul e até no Uruguai. Foi preso em vários estados, mas sempre conseguia fugir e voltar para São Paulo. Relatos fantasiosos diziam que ele usava molas nos pés para poder escapar da polícia saltando da rua para os telhados quando ficava acuado. Seu heroísmo era reforçado porque ele fazia com a polícia o que os pobres, constantemente perseguidos e discriminados, gostariam de fazer.
Cansada, em 1926 a polícia armou um cerco em torno da casa na Rua dos Gusmões, no Centro da cidade, onde moravam sua mulher e seus filhos. Meneghetti sabia da armadilha, mas uma noite, um tanto alcoolizado, resolveu procurar a família. Acabou encurralado e, como sempre, subiu no telhado atrás de uma rota de fuga. Mas todo o quarteirão estava cercado. “Havia mais policiais do que paralelepípedos”, disse ele posteriormente. Informada, a população correu em massa para lá. Cerca de 50 mil pessoas, segundo os jornais, esperavam para ver como Meneghetti conseguiria fugir. Numa das várias tentativas de alvejá-lo, o delegado Waldemar Dória acabou sendo atingido por uma bala e morreu. O ladrão foi acusado do crime, coisa que negou até o fim da vida. Mais tarde ficou provado que ele tinha razão, pois foram tiros de calibre 38 que acertaram Dória nas costas – Gino portava um revólver 32. Algum desafeto do delegado o matou, aproveitando a ocasião.
Às 11h15 da manhã, Meneghetti finalmente se entregou. O fascínio daqueles que o viam como um herói bandido popular subitamente se transformou em ódio, enquanto a população o vaiava e fazia ameaças. Muito torturado, Gino foi posto numa cela da “Bastilha do Cambuci”, um presídio de péssima fama, para onde eram enviados os inimigos do regime.Mesmo assim, sozinho numa cela, era vigiado 24 horas por dia. Ficou trancafiado até que fosse construída, especialmente para ele, uma cela blindada. Sua agonia era tanta que havia momentos em que ele gritava repetidamente “Io sono um uomo” (eu sou um homem), para reclamar do tratamento desumano ao qual vinha sendo submetido. Mas sempre que o ladrão começava a protestar, um policial se aproximava do cárcere, cuspia e jogava fezes em sua direção, antes de submetê-lo a mais uma sessão de tortura.

Com medo de ser envenenado, Meneghetti “lavava a comida” que recebia. Certa vez, contou ao jornalista Orlando Criscuolo (1917-1992)que, quando um rato entrava em sua cela pelo buraco do esgoto, ele o deixava comer um pouco de sua comida, tampava o buraco e esperava para ver se o roedor não morria. Só depois é que Gino se alimentava. Quem morreu de infarto nessa época foi Concetta, que deixou os filhos Lenine e Espártaco – nomes que homenageavam o revolucionário russo de 1917 e o líder de uma revolta de escravos na Roma antiga – com parentes. Libertado 18 anos depois, em 1944, ele encontrou uma cidade diferente, cheia de arranha-céus e inviável para um gato dos telhados. Mesmo assim, o mito persistia; prova disso foi a multidão que o esperava na saída da cadeia. Para que pudesse viver “honestamente”, Meneghetti foi trabalhar em uma banca de jornal, mas não abandonou o hábito de roubar. Acabou sendo preso várias outras vezes, até 1970.

Numa das suas saídas da cadeia, na década de 1950, ele foi morar uns dias na casa de Criscuolo, que se tornara seu amigo. A mulher do jornalista, Iracema, ciente da fama do ladrão, ficou com medo. Mas o homem que recebeu em casa era um sujeito simpático, cortês, culto, que gostava de contar histórias para crianças. Por conta desse perfil, sua fama chegou a outros países. Quando o escritor e filósofo Albert Camus (1913-1960) esteve em São Paulo em 1949, ele fez questão de incluir em seu roteiro uma visita ao ladrão, que passava uma temporada encarcerado. Na despedida, o autor francês perguntou se podia fazer alguma coisa por ele. Meneghetti respondeu: “Sim, me dê um cigarro”.
O ladrão, que adotou vários nomes falsos e declamava versos do poeta italiano Dante Alighieri (1265-1321), passou seus últimos anos pobre, dependendo dos filhos, até morrer de trombose em 1976, aos 98 anos. Entre uma prisão e outra, Gino chegou a acumular fortunas, mas cada centavo que obteve foi confiscado pela polícia. Até hoje, Meneghetti é visto pelos paulistas como um exemplo do “bom ladrão”: amado pelos pobres e temido pelos ricos. Anarquista, admirador da Revolução Russa, respeitador das mulheres e das crianças, venerado e odiado – e nem por isso vingativo –, ele dizia: “Só não fiz em São Paulo o que eu não quis”. E, ao contrário de muitos homens supostamente honestos, tinha a sua ética: “Sempre detestei homens que malbaratam o dinheiro público”.
 
Mouzar Benedito é jornalista e autor do livro Meneghetti, o gato dos telhados (Boitempo Editora, 2010).




MENEGHETTI, O GATO DOS TELHADOS



Mouzar Benedito resgata a história de Gino Meneghetti, o anti-herói italiano que ganhou notoriedade por seus roubos e fugas espetaculares em São Paulo

“Minha primeira visão do mundo foi a cidade de Pisa, com sua torre inclinada. Tal como a torre, também o meu destino estaria sempre inclinado, cai-não-cai”. A frase de Gino Amleto Meneghetti já indica a trajetória incomum desta personagem da vida real. A história do larápio que fez fama na Pauliceia de meados do século XX será retomada na obra Meneghetti: o gato dos telhados, de Mouzar Benedito, que será lançada na próxima quinta-feira, dia 28.
Gino Meneghetti chegou em São Paulo pela onda de migração dos muitos italianos que vieram ao Brasil em busca de trabalho. Mas logo ficou claro que sua trajetória teria pouco de comum com a de maior parte de seus conterrâneos. Com uma linguagem irreverente, o jornalista Mouzar Benedito resgata a lendária “carreira” de Meneghetti, que foi avidamente acompanhada pela sociedade da época e gerou muitas histórias transmitidas até hoje na capital. Conhecido por roubar somente dos ricos e por sua politização contestadora, Meneghetti fez sua fama por empreender assaltos, fugas da polícia, por suas passagens pela prisão e por protagonizar muitos “causos” na cidade.
A pesquisa biográfica de Marcel Gomes e Antonio Biondi complementa o retrato de um dos maiores larápios que São Paulo já conheceu. A obra traz ainda a história em quadrinhos, criada em 1976 por Luiz Gê para o jornal Versus, que inspirou o curta metragem de Beto Brant sobre a história do italiano.
Na próxima quinta-feira, a Livraria da Vila recebe o autor, os pesquisadores e o cartunista para uma noite de autógrafos entre 19h e 22h. O lançamento será realizado na unidade da livraria localizada justamente em uma das casas que foi alvo do larápio no século passado – na Rua Fradique Coutinho, nº 915 (São Paulo).






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