PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 12 de dezembro de 2015.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 12 de dezembro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
Alice das Dores Dias Carmo nasceu
na Rua Manoel Dutra, batizada na Igreja do Espírito Santo na Rua Frei Caneca,
fez a sua primeira comunhão na Igreja São João Batista. Foi crismada na igreja
Nossa Senhora Achiropita na Rua 13 de Maio. Casou-se na Igreja Imaculada
Conceição. Filha de José Pedro Dias e Tereza de Jesus Dias nascida em 1892.
Igreja Nossa Senhora Achiropita
Os pais da senhora nasceram no Brasil?
Os pais da senhora nasceram no Brasil?
Sou filha de pai e mãe
portugueses, assim como neta de portugueses. Meu pai é da região de Trás-os-Montes sua atividade profissional lá era
barbeiro.
IMAGENS DE TRÁS-OS-MONTES
Na época havia uma imagem de que no Brasil as libras esterlinas estavam em toda parte, o que era pura ilusão. Meu pai nasceu em 1888, embarcou em um navio e veio para o Brasil, desembarcando em Santos. Foi para São Paulo, no Brás, onde a irmã da minha mãe tinha uma pensão na Rua Marcos Arruda. Morei na Rua João Boemer entre a Rua Itapiraçaba e Rua Santa Clara.
Na época havia uma imagem de que no Brasil as libras esterlinas estavam em toda parte, o que era pura ilusão. Meu pai nasceu em 1888, embarcou em um navio e veio para o Brasil, desembarcando em Santos. Foi para São Paulo, no Brás, onde a irmã da minha mãe tinha uma pensão na Rua Marcos Arruda. Morei na Rua João Boemer entre a Rua Itapiraçaba e Rua Santa Clara.
Que dia a
senhora nasceu?
Nasci no dia 19 de julho de 1918, tenho 97 anos. Minha mãe teve três
filhos, um que faleceu precocemente, outro, o Alberto que foi o precursor da
música na família e eu. Quando eu nasci meu pai era militar, trabalhava no
quartel situado a Rua José Getulio. Naquele tempo meu pai pertencia a então
Guarda Cívica. A farda era bonita, com botões dourados. Logo depois que eu
nasci o meu pai pediu baixa, recebeu menção honrosa.
Ele então decidiu abrir uma casa de móveis. Alguns anos depois minha mãe adoeceu, ela queria ir embora para Portugal. Em 1922 fomos embora para Portugal onde permanecemos por quase três anos. Fomos para Portugal no navio Astúrias, da Mala Real Inglesa, levamos 14 dias de viagem Quando voltamos de Portugal ao Brasil foram 9 dias de viagem, no navio Neptuno. Voltamos para o Brasil em 1925, aonde meu pai era patrão ele foi ser empregado, na casa de móveis. Ficou uns três anos lá até juntar algumas economias, abriu outra vez uma casa de móveis. Em 1932 veio uma crise muito forte, não havia uma casa comercial aberta, ninguém tinha emprego. Nessa época meu pai tinha uma casa de móveis, contava com cinco funcionários. Teve que encerrar as atividades. Calhou que o meu pai vendeu para pessoas que não eram boas pagadoras. Papai perdeu tudo. Morávamos em uma casa onde pagávamos de aluguel oitocentos mil réis, que naquela época era muito dinheiro. Fomos morar em um quarto e cozinha meu pai, minha mãe, meu irmão e eu. Na época eu estava estudando. Meu pai chegou a pagar dívidas cortando cabelo pelo equivalente a um real hoje, e a barba a cinqüenta centavos.
Ele então decidiu abrir uma casa de móveis. Alguns anos depois minha mãe adoeceu, ela queria ir embora para Portugal. Em 1922 fomos embora para Portugal onde permanecemos por quase três anos. Fomos para Portugal no navio Astúrias, da Mala Real Inglesa, levamos 14 dias de viagem Quando voltamos de Portugal ao Brasil foram 9 dias de viagem, no navio Neptuno. Voltamos para o Brasil em 1925, aonde meu pai era patrão ele foi ser empregado, na casa de móveis. Ficou uns três anos lá até juntar algumas economias, abriu outra vez uma casa de móveis. Em 1932 veio uma crise muito forte, não havia uma casa comercial aberta, ninguém tinha emprego. Nessa época meu pai tinha uma casa de móveis, contava com cinco funcionários. Teve que encerrar as atividades. Calhou que o meu pai vendeu para pessoas que não eram boas pagadoras. Papai perdeu tudo. Morávamos em uma casa onde pagávamos de aluguel oitocentos mil réis, que naquela época era muito dinheiro. Fomos morar em um quarto e cozinha meu pai, minha mãe, meu irmão e eu. Na época eu estava estudando. Meu pai chegou a pagar dívidas cortando cabelo pelo equivalente a um real hoje, e a barba a cinqüenta centavos.
O que a
senhora se lembra de 1932?
Lembro-me que morava em uma casa grande, no Brás, na Avenida Celso
Garcia, 56 em frente a Rua Joli, entre a Rua Bresser e a Rua Progresso, tinha o
cinema Brás Polyteama, do outro lado, do nosso lado era o Cine Universo. Era
quase na esquina da Rua Bresser. Estudei no Grupo Escolar Padre Anchieta, na
Avenida Celso Garcia. Minha primeira professora, ainda no Jardim de Infância,
chamava-se Dona Delfina, usava cachinhos nos cabelos. A professora do primeiro
ano foi Dona Luisa. A escola ficava próxima a Rua Santa Rita. Dali fui para a
Escola São João Evangelista. Até onde hoje é o Templo de Salomão é o Brás, a
seguir vem o Belém e mais adiante o Belenzinho. Mudamos para a Avenida Nove de
Julho aos quatorze anos tive que trabalhar para ajudar em casa e eu fui trabalhar
em uma casa na Alameda Lorena.
Vocês moravam
antes ou depois do túnel da Avenida Nove de Julho?
O túnel não existia, era um morro. Em cima havia uma casa de chá muito
bonita, onde hoje é o MASP – Museu de Arte de São Paulo. No sentido centro para
o bairro morávamos após o morro, nós íamos pela Rua Pamplona. Eu comecei a
trabalhar ajudando um casal que veio da Holanda, foram morar na Rua Iris, no
final da Avenida Brigadeiro Luiz Antonio e inicio da Avenida Santo Amaro. Tinha
uma igrejinha que se chamava Igreja Santa Terezinha. Os meus papeis de
casamento foram feitos na Igreja São Gabriel e na Imaculada. A Igreja São
Gabriel era bem pequena. A Igreja Santa Terezinha era na divisa da Avenida
Brigadeiro Luiz Antonio com Avenida Santo Amaro. Ela ainda existe, mas fica em
outra rua. Esse casal abriu uma fábrica de torradas holandesas, aqui chamam switchback. Naquele tempo jamais uma
moça entrava em um escritório para trabalhar, eram só homens. Meu pai abriu um
salão de babeiro, com um espelhinho que até a pouco tempo estava comigo, ficava
no Jardim Paulista, tinha uma casa de pedra, do Dr. Aché, nós fomos morar lá,
uma amiga nossa tinha uma casa com quarto e cozinha, o banheirinho como era
antigamente, lá no fundo do quintal. Meu pai abriu lá o seu salão de barbeiro,
ele tinha um amigo que disse-lhe: “- Zé Pedro, eu tenho um bar, é grande, vou
dividir com madeira de tal forma que cabe uma cadeira de barbeiro.” Meu pai
comprou uma cadeira usada, com aquele espelhinho, ali ele passou a trabalhar de
barbeiro. Eu empacotava as bolachas, o proprietário chamava-se Pete Fanel.
Faziamos torradas redondas e switchback. Nessa época nós estávamos
morando ainda na Avenida Nove de Julho, entre a Rua José Maria Lisboa e a
Alameda Lorena. Do lado da Lorena, após o morro a Nove de Julho chamava-se Rua
Salvador Pires. Do lado direito tinha uma chácara de flores, chamava-se Rose de
France. Do lado esquerdo já tinha casas bonitas, no estilo alemão, que ainda
existem na Rua José Maria Lisboa. Do outro lado havia muitas chácaras de
flores. As ruas eram todas em chão de terra. Nessa época o meu pai adquiriu uma
bicicleta, que mais tarde chegou a levar à Portugal. Ele saia dali de manhã, ia
até ponto final do bonde 45, no Jardim Paulista, lá ele tinha o salão de
barbeiro. Eu ia de bonde para trabalhar com os holandeses. Eles almoçavam e
faziam a comida em um fogãozinho chamado Jacarezinho. Ela me dava comida. Um
dia sai de lá e vim com meu pai, estava chovendo, meu pai tirou o paletó e colocou
nas minhas costas, para eu tomar o bonde. Eu subi, com o paletó dele no ombro,
quando o condutor, que equivale ao cobrador de ônibus hoje, disse ao meu pai: “
– O senhor não pode subir no bonde sem paletó!”. Meu ai explicou que tinha
colocado em meus ombros para me proteger da chuva e do frio. Em seguida ele foi
embora com sua bicicleta, para economizar quatrocentos réis, era duzentos réis
cada passagem. Logo em seguida faleceu o dono de um salão de barbeiro na Rua
Manoel Dutra, na Bela Vista, eram amigos dos meus pais. Meu tio, irmão do meu
pai, morava na Rua Manoel Dutra avisou o meu pai. Conclusão: Meu pai comprou o
salão de barbeiro. Trabalhou uma temporada. O falecido tinha um filho que era
barbeiro também. Um dia a viúva, Dona Rosinha avisou-nos que teríamos que mudar
porque o Rogério é barbeiro também. Meu pai falou com um senhor que era nosso
vizinho, um português, o Seu Magalhães que disse: “-Eu tenho esse salão que foi
um açougue, hoje esta alugado para uma leiteria, e é muito grande, eu faço uma
parede divisória e vocês ficam ai”. Era ao lado da nossa casa, números 112 e
114, isso na Rua Manoel Dutra esquina com Praça 14 Bis. Ficamos morando
bastante tempo ali. Meu pai tocava bandolim, meu irmão tocava violão, banjo,
todo tipo de instrumento de corda, ele ficava com o meu pai no salão e quando
não tinha freguesia meu pai tocava bandolim e ele tocava violão, conclusão:
ficava cheio de gente. Com isso meu pai ficou muito conhecido. Aquele salão
estava pequeno, mais acima, na Manoel Dutra, um armazém fechou, meu pai passou
para lá. Ai sim era um salão de barbeiro bom, bem arrumado. Quando sai da
fabrica de bolacha fui trabalhar na fábrica de toalhas de Vicente Define e
Pascoal Frascar. Nesse prédio na Rua Frei Caneca com a Rua Caio Prado trabalhei
em quatro empresas.
Já! Lembro-me do jogador de futebol “Ministrinho”, era do Palmeiras, nunca fizeram homenagens para ele. Era um rei do futebol, morava na esquina da Rua Pena Forte Mendes. O Ministrinho era sapateiro remendão, sua casa era em frente ao colégio de freiras onde meus filhos estudavam. Quando não tinha guarda para atravessar a criançada lá ia ele com aquele avental, ficava no meio da rua atravessando as crianças. Quando eles jogar em outros lugares ele que carregava o saco das bolas.
Na fábrica de tecidos quantos anos a senhora trabalhou?
Seus pais, os
dois portugueses, não é uma coincidência
muito grande virem a se conhecerem e casarem no Brasil ?
Foi! A minha tia Maria casada com Manoel João, irmã da minha mãe, veio
de Portugal para o Brasil antes do que a minha mãe. Abriram uma pensão nas
imediações de onde é a ROTA, na Avenida Tiradentes. Ali era o reduto dos
soldados. Após juntarem um dinheirinho, foram a Portugal para buscar uma irmã
para ajudar a trabalhar. Meus avós tiveram 10 filhos, minha mãe era uma das
mais novas. Trouxeram minha mãe para cá, ela tinha 20 anos. Ela preveniu a
minha mãe que iria trabalhar fora, e que era costume na época que a empregada
doméstica só ia em sua casa ver a família de 15 em 15 dias, geralmente no
domingo após o almoço. Ela foi trabalhar na casa da família Paula Souza. Lá ela
conheceu Washington Luís, a esposa dele era Dona Sofia. Ela trabalhava em uma
rua que mais tarde veio a se chamar Washington Luís. Naquela época em Portugal
havia o José do Telhado, equivalente português ao célebre italiano Gino Amleto
Meneghetti. Aqui tinha o Tenente Galinha, era um
homem de complexões físicas avantajadas, a polícia fazia de tudo para
prendê-lo, não conseguia. Nessa ocasião Washington Luís era ministro da justiça. Alguns tinham
rádio galena, inclusive meu pai, meu marido chegou a fazer rádio galena, mas já
havia rádio a venda em lojas. A noticia que o radio dava era que tinham prendido o Tenente Galinha. Um
deficiente físico, que tinha um caso amoroso com a mulher do Tenente Galinha o
matou, graças as indicações dadas por ela.
A senhora lembra-se da
revolução do liderada pelo General Isidoro Dias a
Revolução de 1924?
Lembro-me da musica: Quem fala que é
legalista/Legalista é uma banana/ Eu sou filha do Isidoro/ E sobrinha do Cabana
(Tenente João Cabanas). Víamos movimentos de tropas.
A senhora viu o Zeppelin quando ele esteve em São
Paulo?
Vi o Graf Zeppelin ele veio, ficou uns quinze minutos
parados. O dono da firma deixou que saíssemos da empresa e ver, era uma coisa
muito diferente, parecia de alumínio, o sol batendo nele. Antigamente os rapazes que não iam servir o exército
faziam a linha de tiro, meu pai tinha um empregado que aos sábados eles iam
fazer as instruções, praticavam, no Anhangabaú a noite, hoje um dos locais mais
movimentados da cidade. Faziam duas vezes por semana.
A senhora
viveu a Revolução de 1932 também?
Essa foi difícil pelo racionamento de alimentos.
Sabe como foi
feita a Avenida Nove de Julho?
Com enxadão! Naquela época é que o pessoal do norte começou a vir para
São Paulo. Tinha emprego a vontade. Eles trabalhavam dentro do túnel com água
pelo joelho. Na Praça 14 Bis tinha umas bocas de lobo altas. Tinha mais ou
menos uns vinte ou trinta burrinhos que puxavam aquelas caçambinhas,
carrocinhas, os burrinhos iam um encostado no outro, chegavam a Rua Manoel
Dutra, os burrinhos já sabiam, paravam, ali tinha uns rapazinhos que esvaziavam
a terra. Ai os burrinhos iam devagarinho até a boca do túnel. Lá tornavam a
encher as caçambinhas. Do lado onde é a fonte luminosa, a Escola Getulio
Vargas, o pessoal vindo do norte fez as casinhas em volta, barracos. Ali faziam as suas comidas, dormiam. O pouco
que eles ganhavam ainda mandavam para o norte. Eles recebiam as cartas de lá e
não sabiam ler, o meu pai era maravilhoso. Nessa ocasião papai era barbeiro no
começo da Manoel Dutra, eles levavam as cartas para o meu pai ler e escrever as
cartas para eles. Eles diziam: “Seu Zé é o nosso pai!”. Reclamavam que não
dormiam a noite, não traziam quase roupas, não dormiam porque os pés não
esquentavam. Meu pai dizia: “ Antes de dormir, vocês tomam um banho e colocam
os pés em uma água bem quente, embrulham os pés em uma folha de jornal, assim
vocês esquentam. Assim que fizeram o Túnel da Avenida Nove de Julho. Eu fui a
inauguração do túnel, até guardei uns tijolinhos de lá. A inauguração foi uma
grande festa, veio até pessoal do Rio de Janeiro.
A senhora
lembra-se do dia em que se casou?
No civil casei-me no dia 14 de fevereiro de 1952 e no dia 16 casei-me
na igreja. Meu pai me fez um casamento maravilhoso, com dois salões de festa..
Quantos
filhos vocês tiveram?
Dois, o Alberto e o José Antonio, nomes dos dois avós, do meu pai e do
meu sogro. Casei-me velha, tinha 32 anos. Fui na Tecelagem Santa Branca,
comprei sete ou oito metros de pano e mandei fazer o vestido. Depois com o pano
do vestido fiz uma colcha.
Meu marido e eu trabalhávamos na mesma empresa, os irmãos dele também
trabalhavam lá. Começamos a namorar e todo o mundo era contra porque eu era a
mais velha do que as demais. Como falam hoje, naquela época já tinha as
“periguetes”. Meu marido era mocinho, novinho, bonito, ele era ajudante de
contramestre e eu tecelã. Eu já ganhava mais do que ele. Esperei ele completar
25 anos dia 15 de janeiro, eu tinha 32 anos, senão ficava feio, com menos de 25
anos ele era muito jovem ainda. Meu desejo era casar com uma festa e um vestido
de noiva de cauda, tudo isso eu tive. Só uma coisa que eu tive e não esperava é
que casei-me no domingo de carnaval, acabamos de casar no dia seguinte
embarcamos para o Rio de Janeiro, minha cunhada morava lá, ficamos 18 dias no
Rio de Janeiro. Passei o carnaval. Fui ao Morro da Urca, Pão de Açúcar, Cristo
Redentor, Niterói. Deus me deu tudo que eu queria.
Navios: o Asturias de 1925
1925-1957
Porque Achiropita?
Como o título de Nossa Senhora Achiropita é tão diferente dos nomes
conhecidos atribuídos à Mãe de Jesus Cristo, devemos explicar muitas
vezes seu significado. Sempre o fazemos contando uma bonita história,
que pertence à tradição do povo italiano, vindo da Calábria para o
Brasil, no final do século XIX.
Eis a nossa história:
No ano de 580 um certo capitão Maurício enfrentou uma grande tempestade em alto mar. Gritava por socorro a Nossa Senhora e prometeu que, se fosse salvo com sua tripulação, construiria um santuário em sua homenagem. Desviado pelos ventos, por milagre, conseguiu salvar-se e, na aldeia em que atracou, encontrou um monge que lhe disse: “Não foram os ventos que o trouxeram para este lugar. Foi Maria, para que lhe construa um santuário, quando o senhor for eleito imperador”. A profecia cumpriu-se e o santuário foi construído em Rossano - Calabro.
Um artista da região iniciou uma pintura da imagem de Maria. Ocorria, no entanto, que tudo o que pintava durante o dia, desaparecia durante a noite. Assim, colocaram um vigilante para impedir a entrada de possíveis intrusos, que estivessem danificando a pintura.
Numa certa noite, uma formosa mulher, com uma criança no colo, pediu para entrar e rezar. Após insistir, obteve a permissão. Que mal poderia fazer aquela gentil senhora?
Passaram longos minutos e a mulher não saía da igreja. Quando o vigilante entrou, viu a imagem da mulher e do menino estampada no lugar da pintura. Por esta razão o vigilante saiu gritando pelas ruas: Nossa Senhora Achiropita! Nossa Senhora Achiropita! (A-kirós-pita - não pintada por mãos humanas).
Esta é a devoção Mariana que nossos irmãos italianos trouxeram para o Brasil e que nós veneramos como protetora e Mãe de nossa comunidade. Sua festa é celebrada no dia 15 de agosto, dia da Assunção de Nossa Senhora. No Brasil, só existe uma igreja dedicada a Nossa Senhora, com o título de Achiropita que se encontra em São Paulo no bairro da Bela Vista - Bixiga. Sua festa é a maior comemoração religiosa da cidade. Que a Mãe de Deus, Achiropita, nos proteja como filhos e cuide de nós com amor!
Eis a nossa história:
No ano de 580 um certo capitão Maurício enfrentou uma grande tempestade em alto mar. Gritava por socorro a Nossa Senhora e prometeu que, se fosse salvo com sua tripulação, construiria um santuário em sua homenagem. Desviado pelos ventos, por milagre, conseguiu salvar-se e, na aldeia em que atracou, encontrou um monge que lhe disse: “Não foram os ventos que o trouxeram para este lugar. Foi Maria, para que lhe construa um santuário, quando o senhor for eleito imperador”. A profecia cumpriu-se e o santuário foi construído em Rossano - Calabro.
Um artista da região iniciou uma pintura da imagem de Maria. Ocorria, no entanto, que tudo o que pintava durante o dia, desaparecia durante a noite. Assim, colocaram um vigilante para impedir a entrada de possíveis intrusos, que estivessem danificando a pintura.
Numa certa noite, uma formosa mulher, com uma criança no colo, pediu para entrar e rezar. Após insistir, obteve a permissão. Que mal poderia fazer aquela gentil senhora?
Passaram longos minutos e a mulher não saía da igreja. Quando o vigilante entrou, viu a imagem da mulher e do menino estampada no lugar da pintura. Por esta razão o vigilante saiu gritando pelas ruas: Nossa Senhora Achiropita! Nossa Senhora Achiropita! (A-kirós-pita - não pintada por mãos humanas).
Esta é a devoção Mariana que nossos irmãos italianos trouxeram para o Brasil e que nós veneramos como protetora e Mãe de nossa comunidade. Sua festa é celebrada no dia 15 de agosto, dia da Assunção de Nossa Senhora. No Brasil, só existe uma igreja dedicada a Nossa Senhora, com o título de Achiropita que se encontra em São Paulo no bairro da Bela Vista - Bixiga. Sua festa é a maior comemoração religiosa da cidade. Que a Mãe de Deus, Achiropita, nos proteja como filhos e cuide de nós com amor!
Navios: o Asturias de 1925
Em setembro de 1925, nas páginas do jornal A Tribuna de Santos/SP, surgiu um artigo não assinado, provavelmente inspirado em material de divulgação da própria armadora,
que transcrevemos parcialmente para dar ao leitor o feeling da época. O Asturias em 1932, passando defronte ao Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro O Asturias é, no gênero, a unidade mais eficiente que se conhece até hoje. A engenharia naval inglesa, incontestavelmente a mais apercebida e aparelhada no que concerne à sua especialidade, tem, na nova construção, um dos seus mais legítimos títulos de glória. O Asturias é a prova mais eloquente. Lancemos um rápido olhar sobre os detalhes mais importantes desse novo transatlântico de 22 mil toneladas de registro bruto. É o maior e mais possante navio a motor do mundo, sendo acionado por seis motores de duplo efeito, de oito cilindros a quatro tempos, motores que são os maiores a diesel até hoje construídos para navios. Estes motores desenvolvem mais de 20 mil cavalos-vapor, transmitidos a dois eixos. O Asturias, que está destinado à linha sul-americana, satisfaz todos os requisitos do Ministério do Comércio e da Legislação Naval da Espanha. As suas principais dimensões são: comprimento de 655 pés (200 metros), boca (largura) de 78 pés (24 metros), possuindo luxuosas instalações para 1.740 passageiros e tripulantes. O navio tem proa direita e popa de cruzador e conta 11 anteparas estanques, que o dividem em 12 compartimentos. O casco duplo é contínuo de proa a popa, podendo ser lastreado com água doce ou salgada. Com essa magnífica unidade, fica a Mala Real Inglesa enriquecida de mais um transatlântico, que a coloca perfeitamente em harmonia com o espantoso desenvolvimento que vão alcançando os países da América do Sul." O transatlântico inglês Asturias atracado em Santos, no cais do Armazém 16 (Bagagem), nos anos 1920/30 26 de fevereiro de 1926 - Capitaneado pelo comodoro E. W. E. Morrison, o transatlântico zarpa de Southampton com destino ao Brasil e ao Prata. Nesta viagem inaugural já se denotam dois grandes problemas que perseguiriam o Asturias até 1934: baixa velocidade e alta vibração da estrutura, fazendo sofrer os passageiros pela trepidação e pelo excessivo rumor. Janeiro de 1927 - Primeira viagem entre Southampton e Nova Iorque, rota que serviria ocasionalmente. Em 1934, a Royal Mail Lines decide trocar os motores, seja do Asturias, seja do seu quase gêmeo, o Alcantara, com a finalidade de lhes dar mais potência e velocidade. Foram necessários quatro meses de estaleiro para se proceder a mudança no Asturias, pois toda a casa de máquinas teve de ser remodelada para permitir a instalação dos novos motores, maiores em dimensão do que os originais. Aproveitou-se para substituir os hélices originais a quatro pás por outros de três pás, a proa foi encompridada três metros e seu desenho ligeiramente modificado. Outra alteração importante consistiu em aumentar a altura das duas chaminés originais em cinco metros cada uma. Em setembro de 1934, o Asturias ficou pronto, realizando novas provas de mar, quando alcançou velocidades superiores a 19 nós. Com as modificações internas efetuadas, a nova capacidade do transatlântico passou a ser de 330 passageiros em primeira classe, 220 em segunda e 768 em terceira. Aprovada a reforma pelos engenheiros navais, o Asturias foi, em seguida, enviado para realizar um longo cruzeiro, de vários meses de duração, saindo de Southampton para o Mediterrâneo, Canal de Suez, Extremo Oriente, Pacífico Sul, Estreito de Magalhães e retorno à Inglaterra via Atlântico Sul. O período entre 1935 e 1939 constituiu o ápice da qualidade de serviço dos dois grandes transatlânticos na Rota de Ouro e Prata. A cada uma de suas viagens, seja no sentido Norte ou no sentido Sul, os lugares a bordo eram reservados com, ao menos, dois meses de antecedência. O Asturias navegando na costa brasileira, em cartão postal da época, vendo-se as duas chaminés O Astúrias prestou, inicialmente, serviço em patrulhas no Atlântico Norte nas águas próximas à costa ocidental da Grã-Bretanha, sendo deslocado para o Atlântico Sul, após o encontro naval entre o corsário alemão Thor e o Alcantara, acontecido em julho de 1940. Após permanecer oito meses nesse teatro de guerra, o Asturias foi recolhido ao estaleiro da US Navy (Marinha dos Estados Unidos) em Newport News (EUA), para ser submetido a mais uma reforma. Novos canhões foram instalados no lugar dos antigos e o navio recebeu uma catapulta e um avião de reconhecimento. O Asturias no cais do armazém 16 do porto de Santos Foto: J.C. Rossini Terminado o conflito, o Asturias foi rebocado, inicialmente até Gibraltar, onde pôde ser feito trabalho provisório de consertos de maior urgência. Em seguida, levado para a Inglaterra, foi reformado inteiramente e reconvertido em navio de passageiros para o transporte de emigrantes. Nessa função, realizou viagens entre a Grã-Bretanha e a Austrália até 1953, ano em que foi novamente transformado em navio-transporte de tropas, repatriando soldados que haviam participado da Guerra da Coréia. Sua longa carreira de 32 anos chegou ao fim em setembro de 1957, quando foi demolido no Porto de Faslane (Inglaterra). O Asturias no Estuário de Santos, em pintura do inglês Kenneth Denton Shoesmith (1890-1939 "Asturias - Este cartão-postal mostra o navio inglês Asturias, em frente à costa do Rio de Janeiro. O cartão é um original da Royal Mail Steam Packet Company, editado com base em pintura do artista Bernard R. Lachevre e publicado pelos editores Raphael Tuck & Sons. O navio, de 22.071 toneladas e 192,16 metros de comprimento, transportava 408 passageiros em primeira classe, 200 em segunda e 674 em terceira (imigrantes). Fazia a linha entre Southampton e Buenos Aires desde fevereiro de 1926. Foi lançado ao mar, em 7 de julho de 1925, nos estaleiros de Harland & Wolff, de Belfast, Irlanda. Foi o segundo navio da armadora em esse nome; o primeiro era de 1908. Este era gêmeo do Alcantara II. No início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, serviu como navio de transporte de tropas inglesas. Em julho de 1943 foi torpedeado pelo submarino italiano Gagni, na costa da África do Sul. Ficou abandonado por algum tempo e em 1947 voltou a ser navio de transporte de tropas, até que em 1949 passou a conduzir imigrantes para a Austrália. Foi demolido em 1957".
Imagem: Acervo José Carlos Silvares/fotoblogue Navios do Silvares (acesso:
13/3/2006)
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Outros nomes: nenhum Bandeira: britânica Armador: Royal Mail Steampship Lines País construtor: Inglaterra Estaleiro construtor: Harland & Wolff (porto: Belfast) Ano da viagem inaugural: 1925 Tonelagem de registro bruto: 22.000 Comprimento: 200 m Boca (largura): 24 m Chaminés:2 Mastros: 2 Passageiros: 1740 MACEDO DE CAVALEIROS - PORTUGAL O bom gatunoMeneghetti se transformou numa lenda em São Paulo por praticar roubos e sempre conseguir escapar.
Os jornais paulistanos do dia 14 de junho de 1970 traziam uma notícia
pequena, mas que surpreendeu muita gente: no dia anterior, Gino Amleto
Meneghetti fora preso tentando entrar numa casa da Rua Fradique Coutinho
909, na Vila Madalena. Levava nas mãos uma lanterna, uma talhadeira e
um pé de cabra, ferramentas típicas de arrombadores de portas e janelas.
Tudo isso seria muito comum se o homem que fora detido não tivesse 92
anos de idade! Liberado por falta de provas, Meneghetti sustentou, com
histórias como essa, seu status de figura mitológica da história de São
Paulo.
Gato dos Telhados, Ladrão Nobre, Bom Ladrão, Grande Ladrão, Homem Gato e
Homem de Borracha foram algumas das alcunhas que ele ganhou da
imprensa, por sua habilidade de andar sobre as casas, de entrar nelas
pelos telhados e roubar ricos – sempre sem usar a violência –, e de
fugir espetacularmente dos presídios. Foram dezessete escapadas desde a
infância, passada em Pisa, na Itália, onde a pobreza o levou a cometer
os primeiros furtos.
Nascido em 1878 – segundo ele mesmo; para alguns biógrafos, seu
nascimento se deu em 1888 –, Gino chegou homem feito à capital paulista,
depois de desembarcar em Santos no ano de 1913. Já tinha um histórico
de roubos, prisões e fugas na Itália e na França, e veio para o Brasil
porque era, segundo contava, um homem marcado na sua terra. Histórias de
sucesso de uma tia e de outros italianos que viviam em São Paulo o
atraíram e o incentivaram a buscar o sustento na cidade de maneira
honesta. Mas sua vida boêmia atrapalhava tudo. O dinheiro que Meneghetti
ganhava na fábrica de chocolates Falchi era pouco para seus hábitos de
frequentador da noite e apreciador do vinho chianti.
Por isso, Gino largou o emprego e foi morar numa pensão, onde encontrou
o amor de sua vida, Concetta Tovani, e conterrâneos que o reconduziram
aos roubos. Passou a vender revólveres repassados por eles, que diziam
ser contrabandistas de armas. Armas que, na verdade, eram roubadas.
Meneghetti caiu numa armadilha policial, e em março de 1914 foi preso
pela primeira vez em território brasileiro, e condenado a oito anos de
prisão.
Na cadeia, junto com outros presos, tentou cavar um túnel, mas um
detento delatou o plano e o acusou de ser o mentor da ideia. Por isso, o
italiano foi colocado nu em um poço, fechado por cima com uma grade.
Foi aí que começou sua fama: numa noite fria do mês de julho de 1915,
ele escalou o poço com um pé em cada parede e conseguiu arrancar uma das
barras de ferro, mas o espaço aberto era pequeno. Mesmo assim, ele
atravessou o vão apertado, deixando pedaços de pele nas barras, fugiu
pelo telhado e desceu perto do Jardim da Luz. Era uma hora da manhã. Nu,
no meio da garoa paulistana, conseguiu despistar um guarda e seguiu
rumo à casa da tia para obter roupas.
Os jornais fizeram grande estardalhaço, e ele passou a ser um homem
procurado. Abusado, voltou a praticar furtos e deixava recados nas casas
roubadas. Como no palacete da baronesa de Arary, onde ele a alertou
para que escolhesse melhor seu fornecedor, pois suas joias eram quase
todas falsas. Também escrevia com frequência cartas para os jornais
gozando a polícia. Atitudes como essas o tornaram um mito, uma espécie
de Robin Hood de São Paulo. No entanto, embora ajudasse os pobres –
segundo algumas lendas, ele comprava alimentos para pessoas humildes que
chegavam aos armazéns sem dinheiro suficiente –, não praticava seus
furtos com essa finalidade.
Mas havia um outro motivo para a sua fama: ele nunca praticava qualquer
ato de violência. “Jamais roubei um pobre. Só me interessa tirar dos
ricos, e tirar joias, que são bens supérfluos que só servem para
alimentar a vaidade”, dizia, coerente com seus ideais anarquistas.
Quando criança,na Itália, Meneghetti já se sentia injustiçado por ser
muito pobre, enquanto havia ali perto pessoas muito ricas, que
desperdiçavam comida. Ele foi criando uma “consciência de classe” desde
essa época. Leu muito, estudou. Já chegou ao Brasil adepto do
anarquismo.
Seus furtos ocorreram em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, em toda a
Região Sul e até no Uruguai. Foi preso em vários estados, mas sempre
conseguia fugir e voltar para São Paulo. Relatos fantasiosos diziam que
ele usava molas nos pés para poder escapar da polícia saltando da rua
para os telhados quando ficava acuado. Seu heroísmo era reforçado porque
ele fazia com a polícia o que os pobres, constantemente perseguidos e
discriminados, gostariam de fazer.
Cansada, em 1926 a polícia armou um cerco em torno da casa na Rua dos
Gusmões, no Centro da cidade, onde moravam sua mulher e seus filhos.
Meneghetti sabia da armadilha, mas uma noite, um tanto alcoolizado,
resolveu procurar a família. Acabou encurralado e, como sempre, subiu no
telhado atrás de uma rota de fuga. Mas todo o quarteirão estava
cercado. “Havia mais policiais do que paralelepípedos”, disse ele
posteriormente. Informada, a população correu em massa para lá. Cerca de
50 mil pessoas, segundo os jornais, esperavam para ver como Meneghetti
conseguiria fugir. Numa das várias tentativas de alvejá-lo, o delegado
Waldemar Dória acabou sendo atingido por uma bala e morreu. O ladrão foi
acusado do crime, coisa que negou até o fim da vida. Mais tarde ficou
provado que ele tinha razão, pois foram tiros de calibre 38 que
acertaram Dória nas costas – Gino portava um revólver 32. Algum desafeto
do delegado o matou, aproveitando a ocasião.
Às 11h15 da manhã, Meneghetti finalmente se entregou. O fascínio
daqueles que o viam como um herói bandido popular subitamente se
transformou em ódio, enquanto a população o vaiava e fazia ameaças.
Muito torturado, Gino foi posto numa cela da “Bastilha do Cambuci”, um
presídio de péssima fama, para onde eram enviados os inimigos do
regime.Mesmo assim, sozinho numa cela, era vigiado 24 horas por dia.
Ficou trancafiado até que fosse construída, especialmente para ele, uma
cela blindada. Sua agonia era tanta que havia momentos em que ele
gritava repetidamente “Io sono um uomo” (eu sou um homem), para reclamar
do tratamento desumano ao qual vinha sendo submetido. Mas sempre que o
ladrão começava a protestar, um policial se aproximava do cárcere,
cuspia e jogava fezes em sua direção, antes de submetê-lo a mais uma
sessão de tortura.
Com medo de ser envenenado, Meneghetti “lavava a comida” que recebia.
Certa vez, contou ao jornalista Orlando Criscuolo (1917-1992)que, quando
um rato entrava em sua cela pelo buraco do esgoto, ele o deixava comer
um pouco de sua comida, tampava o buraco e esperava para ver se o roedor
não morria. Só depois é que Gino se alimentava. Quem morreu de infarto
nessa época foi Concetta, que deixou os filhos Lenine e Espártaco –
nomes que homenageavam o revolucionário russo de 1917 e o líder de uma
revolta de escravos na Roma antiga – com parentes. Libertado 18 anos
depois, em 1944, ele encontrou uma cidade diferente, cheia de
arranha-céus e inviável para um gato dos telhados. Mesmo assim, o mito
persistia; prova disso foi a multidão que o esperava na saída da cadeia.
Para que pudesse viver “honestamente”, Meneghetti foi trabalhar em uma
banca de jornal, mas não abandonou o hábito de roubar. Acabou sendo
preso várias outras vezes, até 1970.
Numa das suas saídas da cadeia, na década de 1950, ele foi morar uns
dias na casa de Criscuolo, que se tornara seu amigo. A mulher do
jornalista, Iracema, ciente da fama do ladrão, ficou com medo. Mas o
homem que recebeu em casa era um sujeito simpático, cortês, culto, que
gostava de contar histórias para crianças. Por conta desse perfil, sua
fama chegou a outros países. Quando o escritor e filósofo Albert Camus
(1913-1960) esteve em São Paulo em 1949, ele fez questão de incluir em
seu roteiro uma visita ao ladrão, que passava uma temporada encarcerado.
Na despedida, o autor francês perguntou se podia fazer alguma coisa por
ele. Meneghetti respondeu: “Sim, me dê um cigarro”.
O ladrão, que adotou vários nomes falsos e declamava versos do poeta
italiano Dante Alighieri (1265-1321), passou seus últimos anos pobre,
dependendo dos filhos, até morrer de trombose em 1976, aos 98 anos.
Entre uma prisão e outra, Gino chegou a acumular fortunas, mas cada
centavo que obteve foi confiscado pela polícia. Até hoje, Meneghetti é
visto pelos paulistas como um exemplo do “bom ladrão”: amado pelos
pobres e temido pelos ricos. Anarquista, admirador da Revolução Russa,
respeitador das mulheres e das crianças, venerado e odiado – e nem por
isso vingativo –, ele dizia: “Só não fiz em São Paulo o que eu não
quis”. E, ao contrário de muitos homens supostamente honestos, tinha a
sua ética: “Sempre detestei homens que malbaratam o dinheiro público”.
Mouzar Benedito é jornalista e autor do livro Meneghetti, o gato dos telhados (Boitempo Editora, 2010).
MENEGHETTI, O GATO DOS TELHADOS
Mouzar Benedito resgata a história de
Gino Meneghetti, o anti-herói italiano que ganhou notoriedade por seus
roubos e fugas espetaculares em São Paulo
“Minha primeira visão do mundo foi a cidade de Pisa, com sua torre
inclinada. Tal como a torre, também o meu destino estaria sempre
inclinado, cai-não-cai”. A frase de Gino Amleto Meneghetti já indica a
trajetória incomum desta personagem da vida real. A história do larápio
que fez fama na Pauliceia de meados do século XX será retomada na obra Meneghetti: o gato dos telhados, de Mouzar Benedito, que será lançada na próxima quinta-feira, dia 28. |
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