sábado, março 12, 2011

GUSTAVO JACQUES DIAS ALVIM, Vice-Reitor da UNIMEP

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 12 de março de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADO: GUSTAVO JACQUES DIAS ALVIM, Vice-Reitor da UNIMEP.
O ensino ministrado por entidades metodistas trouxe enormes benefícios á Piracicaba, além do ensino básico foi criada uma universidade, a UNIMEP, fator decisivo para a implantação de importantes indústrias em Piracicaba, entre elas a Caterpillar. Após essa etapa a cidade teve um progresso vertiginoso proporcionando infra-estrutura para a vinda de novas e importantes indústrias com tecnologia de ponta. Profissionais formados pela UNIMEP contribuíram com a sustentação necessária ao desenvolvimento de Piracicaba. Um dos grandes nomes do ensino metodista, e que sempre realizou muito em benefício de Piracicaba é Gustavo Jacques Dias Alvim, natural de Vera Cruz, estado de São Paulo, filho de Candido de Faria Alvim e Nair Dias Alvim. Cidadão Piracicabano por decreto municipal, Dr. Gustavo é uma pessoa de personalidade marcante. Bacharel em sociologia pela Escola de Sociologia e Política, em 1959, em direito pela Universidade Mackenzie em 1962, em administração pela Universidade São Francisco, em 1975, em Jornalismo pela UNIMEP em 1988, diplomado em Publicidade e Propaganda em 1963 pela escola denominada atualmente de ESPM. Mestre em Filosofia da Educação pela UNIMEP em 1992, Doutor em Comunicação e Semiótica em 1998. Fez especialização em Administração Universitária no Instituto de Gestão e Liderança Universitária com sede no Canadá. Foi vereador e presidente da Câmara Municipal de Piracicaba, presidente do XV de Novembro de Piracicaba, é membro do Rotary Clube Piracicaba, do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba, da Academia Piracicabana de Letras, da Academia Ferroviária de Letras (Rio de Janeiro). Recebeu a medalha Prudente de Moraes concedida pelo IHGP em 1993. Participou como dirigente do Panathlon Clube de Piracicaba, Sociedade Hípica de Piracicaba, Clube de Campo de Piracicaba, E.C. Rezende, Bela Vista Nauti Clube, Federação Paulista de Basquetebol, Lar dos Velhinhos de Piracicaba, Associação dos Amigos do Basquete de Piracicaba. Autor de dois livros: “Autonomia e Confessionalidade” e “O Diário, a saga de um jornal de causas”. Têm mais de 500 artigos publicados. O que fascina na trajetória de Gustavo Jacques Dias Alvim é a sua visão multidisciplinar. O seu intenso relacionamento profissional, com clubes de serviços e entidades sociais, institutos e academias culturais ou agremiações esportivas, são pautados pela nobreza de atitudes e claro discernimento de objetivos sempre em um dinamismo sereno e constante. Com isso ele acumulou uma vivência riquíssima em todos os setores da sociedade. Bom observador, extremamente organizado, coleciona amigos e um interminável número de fatos acontecidos, que com sua pedagogia se transformam em saborosas narrativas. Dr. Gustavo já atuou como vice-reitor da UNIMEP nas gestões de 1991 a 1994, 1995 a 1998 e de 1999 a 2002. De 2003 a 2006 foi o magnífico reitor da UNIMEP No próximo dia 16 deste mês, 4ª feira, às 19h, no teatro da UNIMEP, Gustavo Jacques Dias Alvim assume novamente a vice-reitoria, ocupando um cargo que oferece não só a pompa do mesmo, mas que exige muito do seu ocupante, principalmente em um momento em que o ensino em nosso país mostra ser o verdadeiro Calcanhar de Aquiles da nação.
Dr. Gustavo quais eram as atividades profissionais dos seus pais?
Meu pai era médico e a minha mãe professora primária, ela foi a minha primeira professora, quem me alfabetizou, um grande privilégio, inclusive porque a primeira professora a gente nunca esquece! Estudei no Grupo Escolar Castro Alves, em Vera Cruz. Quando terminei o primário surgiu um problema, Vera Cruz era uma cidade muito pequena, não havia o curso ginasial, uma opção seria viajar diariamente de trem á Marília, distante uns nove ou dez quilômetros. Meus pais julgaram que para uma criança de 10 a 11 onze anos não era uma situação apropriada. Nessa época a minha mãe já manifestava o desejo de vir morar em Piracicaba, meus avós maternos moravam aqui, assim como outros parentes. Meu avô era professor primário, foi diretor de grupo, seu nome era Benedito Cotrim Dias.
O senhor passou a estudar em que escola?
Vim para o internato do Colégio Piracicabano, que funcionava na Rua do Rosário, naquela região onde hoje é ocupada pelo Hotel Nacional e prédios ali existentes, uma vasta extensão de área circunvizinha era de propriedade do Colégio Piracicabano. O internato feminino funcionava na Rua D.Pedro II. No internato tínhamos a praça esportiva, piscina, quadra de basquete, campo de futebol. Na baixada do bairro está canalizado o Itapevinha, afluente do Itapeva. As aulas eram no prédio da Rua Boa Morte. Eu não conseguia entender porque tendo avós e tios morando em Piracicaba os meus pais haviam me matriculado no internato. No inicio reagia um pouco contra essa decisão. Meus pais disseram que “Avós e tios estragam os filhos dos outros”, preferiam que eu ficasse em internato. Permaneci interno por apenas um semestre. Em julho de 1948 meus pais mudaram para Piracicaba.
Como interno o senhor adquiriu muita disciplina?
Foi uma grande escola, depois os meus pais queriam me tirar do internato e eu não queria sair. Estava tão enturmado, tinha horário para tudo, para esportes, estudos, eu tinha que cuidar da própria roupa arrumava a minha cama. Fiz o Tiro de Guerra e assim como no internato acredito que ambos foram muito úteis em minha vida, bem como o período em que morei em pensão, na cidade de São Paulo. São situações que preparam o individuo para a vida, esse período longe da família serve para valorizá-la, dá uma nova visão.
Houve um período em que o senhor estudou em escola estadual?
Conclui o ginásio e o colégio no Sud Mennucci, minha família morava inicialmente em uma casa situada na Rua Treze de Maio entre a Rua Santo Antonio e Alferes, depois passamos a morar em uma casa na Rua Alferes entre a Rua Treze de Maio e a Rua Voluntários, em frente ao Grupo Escolar Moraes Barros. Um fato interessante é que no período em que eu estudava o Curso Científico no Sud Mennucci, iniciou-se o Curso Normal, com a finalidade de formar professores, as aulas eram dadas inclusive à noite. Passei a fazer esse curso também, assim estudava a tarde e a noite na Escola Sud Mennucci. Acabei por desistir do Curso Normal.
Qual foi a sua opção pela carreira profissional?
Eu tinha uma dúvida muito grande sobre qual carreira seguir. Alguns anos antes eu manifestei a vontade de fazer uma escola militar, propriamente o curso de aeronáutica, a aviação foi uma coisa que sempre gostei, por duas vezes iniciei o curso de pilotagem. Ainda criança eu tinha sofrido algum tipo de influência decorrente do clima militarista que havia no período após a Segunda Guerra Mundial, cheguei a optar em cursar o ITA, que é até hoje um dos melhores cursos de engenharia do Brasil, só que eu tinha um problema muito sério com a disciplina de química, havia um pouco de incompatibilidade da minha parte com a matéria. Nessa época fui convocado para servir o Tiro de Guerra na época situado na área denominada “Isolamento”, onde hoje há uma escola estadual na Rua São João, próximo a ESALQ havia uma plantação grande de eucalipto, fazíamos os exercícios de marcha pelo loteamento do bairro Jardim Europa, o estande de tiro era dentro da ESALQ nas proximidades do local onde hoje é o restaurante da escola. Tive uma forte inclinação para cursar Direito, mas tinha também alguns receios.
Quais receios?
Algumas pessoas passavam a idéia de que advocacia era uma atividade em que o bom advogado tinha que ferir alguns princípios éticos. É um conceito equivocado, mas existe, isso não é inerente a profissão e sim a própria pessoa. O fato de ser advogado não significa que será necessariamente um advogado antiético, você pode ser um advogado ético. Isso ocorre em qualquer profissão. No fundo eu desejava fazer direito para depois cursar diplomacia, no Instituto Rio Branco. Conversando com um diretor do Colégio Piracicabano, Norman Kerr Jorge, ele disse que havia uma escola muito boa, a Escola de Sociologia e Política de São Paulo, era uma fundação ligada a USP e que após concluir o curso eu poderia ingressar no Instituto Rio Branco onde era tido como pré-requisito ter feito um curso superior. Prestei o vestibular, entrei e passei a cursar, quando estava no terceiro ano prestei vestibular para Direito no Mackenzie e entrei. Cursei as duas faculdades. Na época freqüentava a ACM, Associação Cristã de Moços, onde jogava muito basquete. Sempre morei nas proximidades das escolas. Fui um dos primeiros estudantes a morar no prédio recém construído da ACM da Rua Nestor Pestana.
Na época o senhor já tinha carro próprio?
A minha loucura era ter uma lambreta, a muito custo consegui convencer a minha mãe a aceitar a idéia, e que ela fizesse um empréstimo na Caixa Econômica para dar a entrada na compra da lambreta. Logo percebi que os motoristas de ônibus da CMTC não respeitavam muito, vendi a lambreta e comprei um Ford 1934, mais velho do que eu! Era um azul tendendo para roxo, o marcador de gasolina era um cabo de vassoura que enfiava no tanque para ver o nível do combustível. Eu já trabalhava em São Paulo na revista Cruz de Malta com tiragem de 18.000 exemplares, ingressei como revisor e terminei como diretor,. Em 1959 prestei concurso para ingressar no Banco do Brasil, após aprovado passei a trabalhar das 13 horas ás 19 horas e continuava meus estudos na parte da manhã. Era uma vidinha puxada, tinha também que jogar basquete, namorar!
Quando o basquete entrou na sua vida?
Quando fui estudar no Sud Mennucci o professor de educação física Mané Bortolotti resolveu formar uma equipe nova do Grêmio Normalista e selecionou alguns meninos, eu era alto, jogava de pivô. Joguei basquete por muitos anos, com 1,83 metros de altura eu me destacava, atualmente um atleta de qualquer time amador tem mais de 1,90 metros. No basquete não é apenas a altura que influi, a envergadura conta muito. Atualmente ás terças-feiras e quintas-feiras eu participo de um “rachão” com os amigos.
Em que bairro de São Paulo ficava a agencia bancaria que o senhor trabalhou?
Era o Banco do Brasil situado na Lapa, escolhi ali por ser a saída para Piracicaba, o ônibus passava a 100 metros do banco. Com o tempo transferi-me para o Banco do Brasil de Piracicaba.
O senhor criou o sistema de consórcio para carros no Brasil?
Você deve ter ouvido falar que o consórcio foi criado dentro do Banco do Brasil, por funcionários, fui o primeiro gerente do que na época chamávamos de cooperativa. Com mais um ou dois colegas de banco criei o consórcio, sistema que mais tarde proliferou pelo país todo. Tenho a história toda de como ele ocorreu, como foi parar no mundo comercial. O primeiro grupo de consórcio tinha 21 participantes, chamava-se Cooperativa Lapa, a garantia de entrega do carro era dada através da entrega de uma nota promissória. O veículo consorciado era um Volkswagen. Quando os carros começaram a ser entregues ao consorciado, outras pessoas quiseram participar. O segundo consórcio que montamos chamava-se Laluz, era entre funcionários do Banco do Brasil da Lapa e da Luz. O automóvel consorciado era um Gordini. Quando vim á Piracicaba fiz um grupo dentro do Banco do Brasil, depois fui trabalhar no Dedini, fiz um grupo dentro da empresa. Conservo essa documentação até hoje nos meus arquivos.
A sua permanência no Banco do Brasil em São Paulo foi até que ano?
Foi até 1963, ano em que me casei, a minha esposa, Vera, morava no Rio de Janeiro, era nascida em Minas Gerais e nos conhecemos em Porto Alegre em 1956! Eu tinha um envolvimento com o trabalho da Igreja Metodista, fui líder da mocidade metodista da época, liderava uma região, tínhamos congressos regionais, nacionais, onde conhecia pessoas de outros lugares, eu já tinha conhecido irmãs da Vera em outro congresso em que ela não estava presente. Namoramos por seis anos, ela morando no Rio de Janeiro e eu em São Paulo. Trocávamos muitas cartas, que conservamos até hoje. Casamos na Igreja Metodista do Catete, em casamento religioso com validade no casamento civil, uma novidade da época. Eu consegui transferência para trabalhar na agencia do Banco do Brasil de Piracicaba, meu desejo era advogar. Ao chegar à cidade comentei com Jair de Toledo Veiga sobre a minha vontade de atuar na área, na época a cidade deveria ter duas dezenas de advogados. O Jair disse que o Dr. João Fleury estava procurando um advogado para trabalhar com ele, o Luiz Abrahão que tinha trabalhado com ele estava saindo para montar seu próprio escritório. Passei a trabalhar no Banco do Brasil do meio dia até as dezoito horas e de manhã trabalhava no escritório de advocacia. Por volta de 1964 pedi minha demissão do Banco do Brasil. Nessa época surgiu a primeira faculdade montada pelo Instituto Educacional Piracicabano, a Faculdade de Ciências Contábeis e Administração de Empresas, a famosa ECA. Era muito difícil encontrar professores de sociologia, pelo que eu saiba havia três pessoas habilitadas na cidade, eu era uma dessas pessoas. Fui convidado para lecionar, aceitei, assumi também a direção da faculdade, sendo o seu primeiro diretor.
A ECA iniciou-se em plena revolução de 1964?
A história da ECA é muito interessante, o primeiro vestibular dela foi a primeiro de abril de 1964. Havia duvida se deveria ou não se realizar o vestibular, os boatos diziam que os postos de gasolina estavam fechados. Tomamos uma decisão, se não faltasse nenhum dos 200 inscritos realizaríamos o vestibular. Não faltou ninguém. A prova foi realizada no salão nobre do Colégio Piracicabano. Começamos a faculdade com duas turmas de oitenta alunos. Por um determinado período de tempo eu ficava de manhã no escritório de advocacia, à tarde no Banco do Brasil e a noite na faculdade. Em 1966 foi constituída a segunda faculdade, a de pedagogia. Em 1970 foi organizada a terceira faculdade, da qual fui ser o seu diretor, a faculdade de direito. Em todas elas eu também lecionava sociologia.
Como se deu o seu ingresso na empresa Dedini?
Foi através do escritório do Dr. João Fleury que atendia grandes empresas de Piracicaba. Houve um momento em que o Sr. Mario Dedini quis que um advogado desse expediente por umas três horas diárias. Dr. João Fleury em função de uma série de compromissos pediu que eu o substituísse nessa atividade. Um dia o Sr. Mario me chamou e convidou-me para trabalhar em expediente integral. Em 1972 eu estava trabalhando na Dedini, realizando muitas viagens, acabei me afastando das faculdades, permaneci na Dedini até 1982, quando retornei as atividades acadêmicas na UNIMEP, exercendo as funções e atividades já citadas.
Haveria muito mais para contar. O papo com o entrevistado foi longo e agradável, porém, infelizmente, o espaço no jornal é limitado. Quem sabe, em outra oportunidade a gente continua. Parabéns, amigo Gustavo, Desejo-lhe feliz gestão.



REI MOMO E SUA CORTE

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 05 de março de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADO: REI MOMO E SUA CORTE
Carnaval é uma celebração coletiva de alegria, e nesse quesito o brasileiro sai-se muito bem. A magia do nosso carnaval está na contribuição que cada raça formadora da nossa nação insere nesse festejo. O Rio de Janeiro profissionalizou o carnaval, é um dos produtos do pacote turístico da cidade maravilhosa. No início do século passado, São Paulo celebrizou os carnavais na Avenida Paulista, onde renomadas e abastadas famílias desfilavam com seus elegantes carros decorados a caráter. Com confetes, serpentinas e inocentes jatos de lança perfume animados foliões externavam sua alegria. Muitos estudiosos afirmam que o carnaval é uma catarse coletiva. Piracicaba nas décadas de 30, 40 já tinha seus cordões, que eram grupos de foliões com fantasias alusivas a um determinado tema. Na década de 60 surgiram as famosas gincanas, que formaram as escuderias, embrião das grandes apresentações carnavalescas nos anos seguintes. Foi um período de grande envolvimento da população piracicabana com o desfile de carnaval. Das pessoas mais humildes até grandes figurões da sociedade todos participavam ativamente do carnaval de rua. Artistas de renome nacional vinham especialmente para compor a comissão julgadora dos desfiles de carnaval. Os clubes sociais ferviam, o não sócio só podia entrar em um baile de carnaval se como convidado fosse apresentado por um sócio do clube e pagasse o convite, vendido a um preço nem um pouco simbólico. Os mais eloqüentes diziam que o carnaval de Piracicaba era o melhor do interior paulista! Piracicaba mudou muito, cresceu, industrializou, os meios de comunicações deram saltos gigantescos, internet e telefone celular são dois exemplos. A oportunidade de demonstração de alegria coletiva, nos dias de carnaval deixa de ser exclusividade de um pequeno grupo, passa a ser de uma nação com quase duzentos milhões de habitantes. Como manda a tradição, democraticamente foram eleitos o rei, a rainha e as princesas do carnaval de 2011. Atualmente há uma preocupação maior com a saúde, basta vermos as inúmeras academias de ginásticas, as praças onde batalhões de pessoas caminham diariamente, tudo para manter a boa forma. Alinhado a esse pensamento Piracicaba elegeu com 217 votos o Rei Momo Wilson José Berto, 40 anos, representante da escola de samba Estrela de Prata, um Rei Momo “light”! Ele pesa 85 quilos e mede 1,69 metros de altura. A fantástica figura dezenas de quilos acima do peso deu lugar a um saudável monarca, reflexos dos tempos de cirurgias bariátricas! Daniele Sampaio Ferreira, 17 anos, representante da Ekyperalta, foi eleita rainha, recebeu 310 votos dos jurados Foram eleitas princesas Jaqueline Noemi de Oliveira, 22 anos, da Estrela de Prata com 304 votos e Camila Vaz Rocha, 19 anos, da Caxangá com 294 votos. A eleição ocorreu na Associação dos Funcionários Públicos Municipais. Omir Lourenço, secretário Municipal de Turismo e toda a sua equipe, realizam com muito empenho todos os esforços para o grande brilho do carnaval piracicabano cuja programação inclui diversas manifestações como blocos de rua, cordões, escolas de samba, manifestações culturais, carnaval de marchinhas e trio elétrico.
Rei Momo Wilson José Berto, vossa majestade é natural de que cidade?
Nasci no dia 27 de fevereiro de 1970, no Bairro da Freguesia do Ó, em São Paulo, sou o filho mais velho dos sete filhos de Agenor Berto e Maria Benedita Alves. Resido no bairro Mário Dedini.
O que o trouxe á Piracicaba?
Vim á Piracicaba para assistir a um casamento, acabei gostando da cidade, conheci a moça que veio a se tornar a minha esposa e fixei residência aqui, vim de São Paulo para cá com 22 anos.
Qual era a sua atividade em São Paulo?
Era cobrador de ônibus! Fazia a linha do Jardim Guarani ao Largo do Paissandu, pela antiga CMTC- Companhia Municipal de Transportes Coletivos. Iniciava o trabalho ás quatros horas da manhã e trabalhava até as onze horas da manhã.
Naquela época já gostava de carnaval?
Gostava, participava da Rosas de Ouro, quem nasceu na Freguesia, Vila Penteado, é adepto da Rosas de Ouro.
Atualmente qual é sua atividade profissional?
Trabalho na área de segurança.
Tem filhos?
Sou pai de quatro filhos, um de dezenove anos, um de dezessete, um de 14 e outra de 12. A minha esposa é professora, gosta também de carnaval, ela é Vice-Presidente da Estrela de Prata.
Como se deu o seu ingresso no carnaval piracicabano?
Na época em que o desfile era realizado na Avenida São Paulo eu ia para assistir, prestigiar. Comecei a participar do carnaval pela Imperador, desfilei por dois anos pela Caxangá, sai como destaque, fui um dos fundadores da Estela de Prata.
A decisão de participar do concurso para Rei Momo do carnaval de 2011 aconteceu como?
Quem me inscreveu para o concurso de Rei Momo foi a minha esposa, ela me avisou na semana em que iria ocorrer o concurso, argumentei: “-Vou fazer o quê lá? Olha o meu físico!” Ela respondeu: “-Não tem mais essas coisas do passado, de Rei Momo ter que ser gordo!”. Cheguei a pensar em desistir de participar do concurso, mas graças a sua persistência resolvi participar, sem nenhuma esperança de ganhar. Éramos quatro candidatos, sendo que eu era o menor e o mais magro.
O que é necessário para ser um bom Rei Momo?
Além de sambar, saber se comunicar, a simpatia é muito importante. Em minha opinião de todos os requisitos o mais importante é a simpatia. Para agüentar o pique dessas meninas (rainha e princesas) é muito difícil se for obeso.
Para dar uma “aquecida” antes do desfile existe o mito de ingerir algum tipo de bebida alcoólica?
Na companhia da minha família nas festas de natal e ano novo celebro com um copo de vinho, fora essas ocasiões eu não faço a ingestão de nenhuma bebida alcoólica. Nem uso tabaco. Sou apreciador de uma boa lasanha!
Quais são os compromissos assumidos pelo Rei Momo, a Rainha do Carnaval e as Princesas?
Temos visitado os clubes, escolas, faculdades, órgãos de imprensa.
Qual é a reação do público com relação as majestades do samba?
Na tarde de sábado dia 26 de fevereiro participamos do desfile da Banda da Sapucaia, com aproximadamente 20 mil foliões, tivemos uma calorosa acolhida por parte do público presente. Foi muito gratificante.
Rainha Daniele Sampaio Ferreira em que localidade vossa alteza nasceu?
Nasci em Piracicaba, no dia 24 de novembro de 1993, sou filha de Eliana Sampaio e Dermival Luiz Ferreira, tenho duas irmãs uma com 10 e outra com 14 anos. Moro no bairro Alvorada.
Você exerce qual atividade Daniele?
Estudo no Colégio Sud Mennucci. Sou modelo, fui dançarina de grupos de axé, bandas, meu grupo chamava-se “Alta Quebrança”, já dancei por três anos e meio.
Como foi o seu contato com os desfiles de carnaval?
É uma coisa de família, meu tio Rogério Constantino é mestre sala da Caxangá, minha tia Ivania Sampaio já foi porta bandeira, minha mãe Eliana Sampaio já saiu na Ekyperalta. Posso dizer que está no sangue, não tenho como negar a atração pelo carnaval. Desde muito pequena já convivo com o samba, o ano passado realizei o meu primeiro desfile pela escola.
Princesa Jaqueline Noemi de Oliveira é natural de que cidade?
Sou nascida em Piracicaba no dia 29 de janeiro de 1989 meus pais são Ângela Maria Barbosa de Oliveira e Paulo José de Oliveira, sou a mais nova dos cinco filhos do casal. Moro no bairro Mario Dedini.
Qual é a sua atividade profissional?
Sou modelo e tenho meu salão de beleza.
Como foi o seu ingresso no meio carnavalesco?
Entrei no samba meio por acaso! Foi em 2009, quando houve o concurso para escolher rainha e princesas do carnaval, que eu me lembre foi a primeira vez que estava dando premio em dinheiro ás ganhadoras. Minha irmã Miriam me incentivou a participar só que eu não sabia sambar á altura do que era exigido. Passei a treinar, treinei muito em minha casa. Minha irmã tinha um CD do carnaval realizado em 2007, tocava o dia todo o CD no volume máximo, e sambava muito. Os vizinhos tiveram muita paciência comigo. Minha mãe sempre me apoiou muito em tudo que fiz. O meu pai já é mais reservado.
Princesa Camila Vaz Rocha nasceu em que cidade?
Nasci em Piracicaba no dia 17 de janeiro de 1992, sou filha de José Roberto Rocha e Clóris Tereza Vaz Rocha. Moro no centro.
Você exerce qual atividade?
Estudo, eu faço cursinho no Colégio Dom Bosco da Cidade Alta, meu objetivo é cursar Ciência de Alimentos na ESALQ – Escola Superior Luiz de Queiroz.
Como você passou a participar do concurso de carnaval?
Em 2010 fui eleita a Primeira Princesa do Clube Cristovão Colombo.
Omir Lourenço, secretário Municipal de Turismo, como está sendo o trabalho realizado neste carnaval?
É um trabalho grande que está sendo desenvolvido pela secretaria, pelas escolas de samba que tem como presidente o Odivaldo Daragone. Nossa intenção é de iniciar um processo de resgate do carnaval de Piracicaba, vários fatores estão colaborando para que seja um bom carnaval. Teremos cinco dias de carnaval: sexta, sábado, domingo segunda e terça. Sexta e terça a Ação Cultural fará o famoso carnaval da marchinha no Largo dos Pescadores. Sábado e segunda a partir das 19 horas teremos o Trio Elétrico na avenida com arquibancada. O foco principal será no domingo, onde teremos cinco escolas se apresentando. Teremos uma programação paralela ás cinco noites de carnaval, são eventos realizados em diversos horários, durante o dia, em vários pontos turísticos de Piracicaba.
Há uma preocupação por parte da Setur em resgatar os célebres carnavais piracicabanos?
Considero o carnaval uma questão cultural, social, para as comunidades o carnaval não se resume apenas nos dias de carnaval, são feitos eventos no correr do ano todo. O prefeito Barjas Negri disponibilizou os próprios públicos para os eventos dessas comunidades realizados durante o ano: feijoadas, chopadas, tudo visando arrecadar fundos para conseguir realizar um bom carnaval. Os R$ 25.000,00 da subvenção não são suficientes, foi criada uma premiação de R$ 6.000,00; R$ 4.000,00 e R$ 3.000,00 para os vencedores, além da subvenção. Foi criada uma premiação de R$ 1.000, 00 para Rei Momo e para a Rainha; R$ 600,00 para as princesas. Temos um compromisso juntamente com as escolas de fazermos as entradas das mesmas dentro do horário pré-estabelecido, em respeito ao público presente. Se fizermos um bom desfiles teremos condições de além do patrocínio oficial buscarmos o apoio de empresas privadas.
É um carnaval para ser assistido pelas famílias?
Contamos com a colaboração e participação de todas as instituições de saúde e segurança pública que atuam em nossa cidade. Além dos eventos noturnos há uma série de atividades durante o dia, voltadas à todas as faixas etárias e culturais.
Há algum projeto de sambódromo em Piracicaba?
Temos que mostrar serviço para poder exigir! Há três anos que venho trabalhando para que as escolas não regularizadas assim o façam. As ditas exigências por parte da nossa secretaria na realidade são requisitos legais, que serão encaminhados ao Tribunal de Contas. Essas escolas que estão desfilando estão com suas declarações de utilidade pública em ordem.
A participação do folião tem sua origem em quais camadas sociais?
Em sua maioria são de origem nas comunidades, a partir do ano passado tenho percebido que está sendo despertado o interesse e a participação de diversos segmentos da sociedade, elementos de clubes tidos como de elite estarão participando.
Com a implantação de uma fábrica de veículos em Piracicaba deverão chegar pessoas de outros países, nosso carnaval estará preparado para recebê-las?
(Risos) Está muito precoce, a fábrica está vindo ainda, a nossa proposta á eles será de colocar o tema: “Tem coreano no samba!”. Nós temos que assimilar a cultura deles, mas eles devem assimilar em proporção maior a nossa cultura. Tivemos vários segmentos da nossa sociedade desfilando, inclusive o pessoal de Santa Olímpia. Na terça feira nós teremos em um dos eventos paralelos o “Carnaval da Cucagna”, das 10 da manhã até as 18 horas. É um evento muito peculiar e turístico, realizado no bairro rural Santa Olímpia. São culturas diferentes que acabam se adaptando. Acho importante que se preserve a cultura que chega até nós, contribuindo para um equilíbrio com a nossa cultura. Acredito que dentro de uns dois anos isso deverá acontecer com os coreanos que passem a residir em Piracicaba.
Há uma previsão da quantidade de pessoas que estarão presentes aos eventos?
Por amostragem dos anos anteriores devemos ultrapassar 70.000 pessoas, inclusive turistas de outros países. O potencial turístico de Piracicaba é muito grande, estamos implantando gradativamente diversos projetos, dentro do nosso orçamento.

MARLY THEREZINHA GERMANO PERECIN

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 26 de fevereiro de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADA: MARLY THEREZINHA GERMANO PERECIN
A Profa. Dra. Marly Therezinha Germano Perecin e a Profa. Valdiza Caprânico formaram uma das mais felizes parcerias em um empreendimento de fôlego e quem vai ganhar muito com isso é Piracicaba. Em uma iniciativa pioneira, passaram a catalogar símbolos próprios da nossa cidade e discorrer sobre eles, de uma forma objetiva e sintética, bem ao gosto do leitor da nossa época. Contaram com a participação de Thiago Guerreiro, um jovem artista plástico que realizou as belíssimas ilustrações. A obra é composta por 10 volumes e foi lançada na quinta feira, dia 24 na Biblioteca Publica Municipal, em cerimônia marcante contando com grande afluxo de pessoas, incluindo expoentes da intelectualidade piracicabana. A Profa.Valdiza concedeu entrevista á Tribuna Piracicabana no lançamento desse projeto, a profa. Marly discorre sobre aspectos envolvidos nessa obra, agora que parte dela está concluída. Dra. Marly é autora entre outras obras de: “A Síntese Urbana”, que recebeu o Premio Clio de História pela Academia Paulistana de História; “Candeias em Espelho D`Àgua”, Prêmio Especial de Melhor Texto Paradidático sobre a Revolução Liberal de 1842; “Ypié (Maria dos Anjos); “O Instituto Baronesa de Rezende”; “Os Passos do Saber”. Pelo lado materno descende de antiga família de tropeiros de Jundiaí; pelo lado paterno de velho tronco ituano, a família Germano é originária de 1827, junto a barranca do Rio Piracicaba, pelo casamento de Mariana Dias com o lionês Jean Germain (João Germano de França).
Dra. Marly a senhora é natural de qual cidade?
Meus pais começaram suas carreiras na região araraquarense, eu nasci em Taquaritinga a 6 de novembro de 1936, meu pai era piracicabano da gema, o seu desejo era retornar a Piracicaba, como funcionários públicos, de remoção a remoção acabaram voltando a Piracicaba, quatro anos após o meu nascimento. Meu pai ao retornar, disse uma frase: “-Minha filha, tiramos as rodinhas da mobília!” Estudei em Piracicaba até ingressar no curso de História na PUC – Pontifícia Universidade de Campinas.
Viajava todos os dias?
Morei lá certo tempo, após me casar viajava todos os dias. Em Campinas morei no famoso Pensionato das Irmãs de São José, na Rua Culto á Ciência, era reservado ás meninas que tinham o melhor aproveitamento escolar na faculdade, a seleção era feita desde o exame vestibular. Nós éramos o xodó da Madre Ruth. O fundador da Universidade Monsenhor Emilio José Salim zelava pelo pensionato, assim como o Cardeal Agnelo Rossi, um santo homem, estava sempre presente, ele foi meu professor, tive a oportunidade de encontrá-lo em Roma já como Cardeal e posteriormente em uma visita que fez ao Lar dos Velhinhos de Piracicaba. O Bispo Castanho foi outra presença religiosa muito marcante.
A senhora em algum momento almejou seguir a carreira religiosa?
Nunca! Tenho uma tendência mística, mas que não se afina com nenhuma das confissões religiosas. Estudei religião católica, meus pais eram espíritas, morei em colégio de freira, meu marido era protestante. Nunca consegui ter três coisas: partido político, confissão religiosa e doutrina filosófica. Sou muito céptica!
A senhora é céptica, mas tem elementos de expressivo cunho religioso em seu ambiente de trabalho!
São símbolos muito fortes, como a Bandeira do Divino! Ela é cultural na minha família, a minha tetravó, bisavó, avó, eram devotas do Divino! Sempre participaram com o sal e a carne do Divino. Esse culto na família do meu pai é muito antigo. As novas gerações cresceram e passaram a achar que a Festa do Divino era coisa de somenos importância, como eu sou a ultima neta da família Germano, esse legado acabou ficando para mim, afeiçoei-me muito com essa antiga tradição, cultivo folcloricamente, socialmente, culturalmente a Festa do Divino e tenho uma fé com uma das pessoas das pessoas da Santíssima Trindade, o Consolador Prometido por Jesus. Na minha singularidade isso desempenha uma idéia-força muito importante. Oro na minha intimidade e oro socialmente. Gosto muito de orar!
A senhora tem elos fortes com a Escola Sud Mennucci.
Lá eu fui tudo, fui aluna, sai formada como professora, voltei, dei aulas, desempenhei outras funções na escola e lá permaneci até me aposentar.em 1995.
Algumas pessoas afirmam que Piracicaba em seu início era a “terra do degredo”. Qual é a sua opinião?
Essa historia do degredo é uma expressão muito usada entre os primeiros tempos da expansão povoadora no oeste paulista. Quem eram os degredados de Portugal? Geralmente os injustiçados, os cristãos novos, nem todos eram criminosos embora fossem perseguidos pela justiça por inveja, malquerença, comportamento, dinheiro, acusava-se de judeu e confiscavam-se os bens. Há casos que ocorreram em São Paulo. A história do degredo já vem de Portugal, os degredados eram enviados aos povoados distantes, para iniciarem a ocupação do local. Isso era muito comum. Diz-se que para Piracicaba vieram indivíduos de ínfima plebe, índios vadios, isso está no documento do capitão-mor Vicente Taques da Costa. A sociedade da época era dividida em três classes: clero, nobreza e povo. O povo tinha as suas gradações, individuo de ínfima plebe era o ultimo degrau da pobreza. A raspa do tacho. Onde se incluíam bêbados, arruaceiros, prostitutas e as que não eram tão prostitutas, mas as ditas mulheres do fado, mulheres de má vida. As bruxas. Essa gente toda era banida para populações distantes. Os índios vadios não eram vagabundos, eles não estavam com ocupação definida, eram os índios preados, que ficavam em campos de concentração, as aldeias indígenas ao redor de São Paulo, Barueri é uma delas, assim como Itapevi, Pinheiros. Esses índios eram depositados nessas aldeias. Administrados. Esses são os tais índios vadios trazidos pelo Capitão Antonio Correia Barbosa para Piracicaba. Pequenos agricultores, artesãos também foram convencidos a vir. Piracicaba teve uma vanguarda que era o Forte de Iguatemi, outra colônia povoadora. Para lá foi a chamada ralé da ralé, padres apóstrofos, frades amaldiçoados, bruxas, muitas prostitutas, desertores, bandidos. Iguatemi se agüentou por 10 anos, quando a fortaleza foi tomada pelos espanhóis. Ali é chamado de “cemitério dos paulistas”, a maleita ceifava centenas de vidas. Era um processo de “limpeza” e ocupação. Quando trato do assunto em “Águas do Adeus” significava que quem descia pelo Rio Tiete para Iguatemi não voltava mais. Após a conquista de Iguatemi pelos espanhóis, por dois anos havia gente voltando á Porto Feliz.
Qual era o tempo de duração dessa volta?
Correndo tudo bem quatro meses. Mais da metade ficava sepultada pelo caminho. Ao chegar a Porto Feliz, havia uma ordem, os soldados eram considerados culpados pela derrota, eram presos. Muitos soldados que voltavam com a família ao invés de ir a Porto Feliz tomavam o caminho para Piracicaba, sabiam que o Capitão Antonio Correia Barbosa acolhia essa gente.
Qual era o perfil do Capitão Antonio Correia Barbosa?
Admirável sob todos os pontos de vista! Era um bom construtor de barcos, sua origem é de família pobre, era inteligente, ambicioso. Quando para o Real Serviço foram convocadas pessoas do Terceiro Estado, da sessão dos pobres, ele foi indicado pelo Capitão Dias de Almeida, armador das monções para o Baixo Tiete. Quando uma pessoa desempenhava funções ás suas próprias custas, e que fizesse parte do plano real, como fundar povoações, fazer expedição de desbravamento, fundar uma cidade mais extrema, essa pessoa inteligente, ambiciosa, e com posses entrava para o Real Serviço. Se o seu desempenho desse certo ele acabava ganhando um título de nobreza, como por exemplo, “capitão” e angariava pensões do governo. Todos os paulistas eram sertanistas, iam ao mato procurar riquezas.
Por qual motivo fala-se mal de Antonio Correia Barbosa?
Ele entrou em conflito com o padre! O padre queria os dízimos para a sobrevivência da igreja. Houve três padres com os quais ele se indispôs. Os rendimentos de Piracicaba eram muito pequenos. Houve o conflito entre o poder temporal e o clero. Isso é multimilenar na história da civilização ocidental. A produção de canoas que era a riqueza de Piracicaba deveria ser usada para o desenvolvimento de Piracicaba. O governo da capitania quando viu que era uma riqueza apropriou-se dela. O Barbosa ficou vitima dos capitalistas de Porto Feliz e Itu. Ele foi obrigado a fazer o povoamento do Tietê, fato que só se consumou no século XX, com as cidades que vão até Itapura. Imagine onde Barbosa poderia obter recursos para fundar cidades do Baixo e do Médio Tietê? As despesas que o Barbosa teve que enfrentar implodiu o projeto de Piracicaba.
A tão decantada história da mudança de padroeiro de Piracicaba como se deu?
O capitão general Dom Luiz Antonio de Souza Botelho Mourão, Morgado de Mateus, era uma pessoa de difícil trato, usava e abusava do poder que detinha, foi um dos piores tiranos da história de São Paulo. Seu sucessor provou que as povoações fundadas pelo Morgado não passava de um pau fincado em uma praça com meia dúzia de choças. Esse homem foi o autor da desgraça de Iguatemi. Foi o algoz dos paulistas. Algumas das povoações que ele mandou fundar deram certo, como a de Lages, em Santa Catarina, ou Guaratuba, Itapetininga, elas estavam situadas em pontos estratégicos da estrada para o sul. Ele implodiu o projeto de desenvolvimento de Piracicaba pela sua ganância ao dinheiro das embarcações. Motivo pelo qual Barbosa saiu de Piracicaba com a roupa do corpo, indo abrir uma sesmaria para o lado de Mogi - Mirim. Seus filhos foram herdeiros das terras á margem direita do Rio Piracicaba que posteriormente foram adquiridas pelo Barão de Rezende. O capitão general manda nas suas tropas e é autoridade civil, o bispo manda na igreja e é autoridade religiosa, quem decide quem será o orago (santo padroeiro) de uma igreja é o bispo. Não importava que o capitão general desejasse que fosse Nossa Senhora dos Prazeres, que ele dizia ser sua madrinha. O bispo quis, declarou, ordenou e assinou o documento: será Santo Antonio! A igreja foi inaugurada com o orago Santo Antonio. Nunca tivemos Nossa Senhora dos Prazeres no altar da igrejinha de Piracicaba! A história de que jogaram a santa no rio não passa de uma balela. É uma lenda! Por isso estamos escrevendo e publicando essa coletânea, para tirar duvidas!
Piracicaba recebeu o cognome de Ateneu ou Atenas Paulista?
O intelectual italiano, Roberto Capri foi quem denominou Piracicaba de Ateneu Paulista. Em visita a nossa cidade ele viu que aqui havia muitas escolas, um fenômeno para a época, proporcionalmente tínhamos mais escolas do que Campinas e Santos, na época as maiores cidades do estado. Eram tantas escolas que ele chamou Piracicaba de “Ateneu Paulista”. Ateneu é o local onde os intelectuais se reúnem centro de intelectuais, ele jamais poderia falar que aqui era Atenas, pois Atenas é a pátria da democracia e aqui era a terra dos coronéis!
Com relação a Casa do Povoador?
Nunca foi e nem poderia ser! Barbosa fundou Piracicaba na margem direita, a chamada Casa do Povoador está na margem esquerda. Caso ele se mudasse para a margem esquerda perderia a posse das terras da margem direita, ele era posseiro, uma vez que a cidade mudou-se de lugar e ele foi a Itu comprar a esquerda, encontrei a escritura dessa compra em Itu. Mesmo ele saindo de Piracicaba as terras da margem direita continuaram de sua propriedade. A construção existente, a chamada Casa do Povoador, é do inicio do século XIX, com alguns recursos arquitetônicos do século XVIII, como a construção com taipa de mão. Aquela não é uma habitação residencial, é apenas um sobradinho, com duas janelas de frente com vista para a corredeira Itaipava do Vai-e-Vem. Era provavelmente a Casa da Ponte, onde o vigia fiscalizava a ponte e cobrava os pedágios. Não podemos dizer se foi da primeira ponte construída em 1823, ou se foi de outras duas pontes posteriores construídas entre 1824 e 1827. O primeiro construtor de ponte ali foi o meu tetravô Manuel Dias Ribeiro.
O que é esse trabalho que está sendo apresentado á Piracicaba?
É uma coletânea de 10 volumes sobre os ícones piracicabanos. Qual é a árvore símbolo de Piracicaba? É o tamboril, justamente a árvore com que Barbosa construiu a sua frota de barcos. Qual é o peixe símbolo do Rio Piracicaba? É o dourado! O animal símbolo de Piracicaba? Ai vai outro desmancha mitos, o Rio Piracicaba se chama Piracicaba na nossa região, antes ele tem outro nome, ele se chama Jaguari, mineiro que atravessa todo o Estado de São Paulo. O que é jaguari? Jaguary com “Y” significa rio, o rio do jaguar, o animal de grande porte, furor da selva, era o jaguar, a onça pintada! E porque Piracicaba? Por causa da sua própria geografia, quando qualquer criança diz: “Piracicaba é o lugar onde o peixe para!” Por que ela diz isso? Por que tem um salto? E como se fala salto? Piracicaba é o salto! A região de Piracicaba é a região do salto, que deu nome a uma vasta região. Piracicaba significa lugar onde cai o rio, o peixe para porque ali tem um salto.
Um dos volumes da coletânea é sobre o XV de Novembro, a senhora é quinzista?
Na minha família todos nascem de camiseta! Pedi ao meu pai que me levasse a um jogo do XV, eu precisava ver como era isso, era uma religião! Na época os espectadores iam de terno, chapéu e gravata. Assisti De Sordi jogando.
Outros ícones piracicabanos tratados nessa coletânea?
A fruta símbolo é a pitanga, a flor símbolo é a orquídea, o parque Beira Rio. São 10 volumes: “O meu amigo Tamboril”, “O Diário de uma Onça Pintada”, “O Show do Rio”. “A Festa do Divino”, “ O XV ÃO”, “Vôos de Liberdade”, “Doces Sabores de Nossa Terra”, “Piracicaba Cheia de Flores”, “O Parque da Beira Rio”, “O Rio de Piracicaba”, e um complemento pedagógico, o caça-palavras referente aos temas abordados..

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