sábado, setembro 26, 2020

NATAL BOMBEIRO

 

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 28 de setembro de 2020

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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ENTREVISTADO: NATAL ANTONIO DE OLIVEIRA

                        (NATAL BOMBEIRO)

 

                                                 

                                                                                             Natal (Arquivo pessoal)                                                           



Natal Antonio de Oliveira é conhecido pela população como Natal Bombeiro, quem não o conhece pessoalmente pelo menos já ouviu mencionarem o seu nome. Um soldado da paz, Natal salvou inúmeras vidas, conviveu com situações quase sobre-humanas, destemido, nunca mediu esforços para fazer aquilo que mais gosta: salvar vidas. Sempre de bom humor, prestativo, já vivenciou cenas que poucos seres humanos suportariam ver. Após sua narrativa, perguntei a esse herói se a coleção de medalhas que ele recebeu por mérito é grande. Ele sorri, e com aspecto franco diz: ganhei uma medalhinha por fazer um salvamento quando eu estava na hora da minha folga. Para ele as medalhas são as vidas que ele salvou.

Você nasceu em qual cidade?

Nasci aqui em Piracicaba, em 24 de dezembro de 1954, no final da Rua do Porto, 2.197 se não me engano, próximo as olarias que existiam na época, próximo ao Bar do Lelé. Hoje lá onde eu morava funciona o Restaurante Vila Porto. São seus pais Luiz Antonio de Oliveira e Carmen Granado, que tiveram nove filhos, sendo que um deles, o mais velho de todos, faleceu precocemente… São seus filhos: Margarida, Neide, Luiz, Izabel, Carmen, Pedro, Zelita e Natal. Meu pai era pescador, nasceu ali na beira do Rio Piracicaba, na época era uma profissão como outra qualquer, ele aposentou-se pela Marinha do Brasil, o Piracicaba era um rio piscoso: tinha inúmeras espécies de peixes, os mais famosos eram os pintados, dourados, cascudos, mandis, e muitos outros. Lembro-me de que para conservar o peixe meu pai deixava os pinados amarrados no bote, imersos na água do rio, a espera de comprador. Como a abundância de peixe era grande, ficava difícil vender!

Toda essa família vivia em função da pesca?

Todos! Meu pai nos criou com pesca, após certo tempo a minha mãe mudou-se para a Rua XV de Novembro, 264, próximo à Rua do Porto, ali a minha mãe montou uma lojinha de roupas, armarinhos em geral, ela ia adquirir em São Paulo e trazia para vender aqui.

Ali você estava pertinho do Clube de Regatas de Piracicaba (Fundado em 12 de outubro de 1907)?

Eu só fui frequentar o Regatas com 14 a 15 anos. Estudava na Escola Estadual Francisca Elisa da Silva que ficava na Rua XV de Novembro, o prédio existe até hoje, a escola foi transferida para o Jardim Monumento. Ali fiz o curso primário. Minha primeira professora foi Dona Justina. Naquele tempo íamos descalço para a escola, com o bornal, que chamávamos de “borné” uma sacola de tecido onde levávamos o material escolar, que era pouco, um caderno, um livrinho chamado “Caminho Suave”, um lápis, a caneta só usava a partir do segundo ano escolar, era caneta tinteiro, a esferográfica surgiu quando estava no terceiro ano. Toda carteira escolar tinha um orifício largo o suficiente para colocar o vidro com tinta “Azul Royal”, tinha que levar penas de reserva, era comum quebrar ou entortar a pena da caneta, por onde saia a tinta. Isso me faz lembrar dos antigos barbeadores, onde o aparelho era sempre o mesmo, trocávamos a lamina, a gilete. Era extremamente importante ter o “mata-borrão” Papel mata-borrão é um tipo de papel muito absorvente. É usado para absorver o excesso tinta. Lembro-me do caderno de caligrafia.

A carteira escolar era feita para comportar dois alunos?

A nossa escola era mista, tinha meninas e meninos. Ao meu lado sentava uma menina.

Com essa idade você já trabalhava?

Perto de casa, ali na Rua XV de Novembro, o Virgílio fabricava pequenos automóveis de brinquedo em madeira, com 10 a 11 anos eu já trabalhava ali. Ficava na Rua do Vergueiro, fabricava-se muitos caminhõezinhos de madeira. O Virgílio era famoso no seu ramo de negócio. Com 11 anos fui trabalhar na Sapataria Santana, na Rua XV de Novembro, na área central de Piracicaba. O proprietário era o Mário Malusá. O dono da Relojoaria Rubi, o Seu Rui era o proprietário e me levou para trabalhar lá. Era uma relojoaria muito fina, frequentada por pessoas chiques, ficava no coração comercial da principal rua de comércio, a Rua Governador Pedro de Toledo.

Qual era o seu trabalho lá?

Eu trabalhava junto com o Seu Pizzani, ele fazia alianças e nós dois políamos. Ele me ensinou a utilizar umas pedras, borrachas, era uma arte. Ele fabricava manualmente anéis, alianças. (Era muito comum cada profissional ter um anel simbólico da sua profissão). O sonho de muitos é ter em seu dedo um desses anéis.



Você trabalhou depois em que lugar?

Fui Guarda Mirim por seis anos, no tempo do Comandante Frederico Ciappina Neto. Através da Guarda Mirim fui trabalhar no Banco de Minas Gerais. O banco me efetivou como contínuo. Saí da Guarda Mirim e passei a ser funcionário do banco.


                     Frederico Ciapina, comandou a Guarda Mirim de Piracicaba

Você permaneceu no banco?

Piracicaba por um período viveu uma “febre” de tobogãs (Pista ondulada e, geralmente, inclinada que pode ser usada para deslizar ou escorregar). O gerente desse empreendimento era um amigo meu, no banco eu já trabalhava com valores, esse meu amigo precisa de alguém com experiência e responsabilidade. Convidou-me para trabalhar na bilheteria, na época pelas mais diversas razões, o Tobogã passou a ser o centro de atenção da cidade. O afluxo de pessoas era enorme. Trabalhei ali onde funcionou o antigo Pronto Socorro, na Avenida 31 de Março, próximo a Avenida Independência. A seguir montamos na Vila Rezende e em seguida fomos para Santa Bárbara D`Oeste. Ir de Piracicaba para Santa Bárbara D`Oeste naquele tempo era uma viagem. Era pista de uma via só, cheia de curvas fechadas, a velocidade era baixa, ia com ônibus da AVA – Auto Viação Americana.

Quando você ingressou no Corpo de Bombeiros?

Foi depois disso. Aos vinte anos.

O que levou você a ingressar no Corpo de Bombeiros?

Sempre tive vontade de ingressar no Corpo de Bombeiros. Como eu morava na Rua do Porto eu estava acostumado a nadar no Rio Piracicaba, eu nadava muito bem, conhecia bem o Rio Piracicaba. Uma vez o Mariano, meu amigo que era bombeiro disse-me: “Vai fazer o curso de bombeiro! ” Acendeu uma luzinha! Meu cunhado, hoje major aposentado, casado com a minha irmã, disse-me: “-Vai fazer o exame para admissão! ”. Fui em Campinas fazer o exame. Passei! Aí fui fazer a escola em Santos, fiquei um bom tempo em Santos, São Paulo, Campinas e voltei para Piracicaba.


                                               10 caminhões diferentes

No tempo em que você era criança, era comum atravessar o Rio Piracicaba nadando?

Para nós era a maior moleza! Quando tinha a Festa do Peixe, havia uma brincadeira chamada “Caça ao pato”. Nós conseguíamos pegar o pato dentro da água, veja se nadávamos bem! Soltavam os patos dentro da água, nós íamos nadando, éramos grupos de cinco ou seis moleques em cada grupo. Hoje seria até proibido deixar uma criança entrar no rio, naquela época isso era um fato normal. Mergulhávamos, víamos mais ou menos onde estava a ondinha que ele deixava, ía em cima dele e pegava.

Você saltava do trampolim que existia no Rio Piracicaba, ao lado do Clube de Regatas?

Saltava muito! Do piso mais alto. Nadava muito no Mirante! Saltava lá também! Nós conhecíamos tudo, cada pedra do Rio Piracicaba. Ia no Salto do Rio Piracicaba, de manhã, levava sal, óleo, pescava o peixe, limpava, aquele grupo de crianças, fritávamos ali mesmo.

A Rua do Porto tinha saída lá em cima, perto de onde hoje é o Museu da Água?

Tinha, mas era uma estradinha de terra. Era um lugar onde os caminhões de cana-de-açúcar subiam, para irem descarregarem no Engenho Central, nós puxávamos algumas canas para fazer garapa, isso com o caminhão andando, devagar, mas em movimento.

Geralmente a molecada não nadava com roupa, deixavam na margem do rio. Tinha quem escondia essas roupas?

Nadar ali era proibido, o Juizado de Menores que vinha pegar as nossas roupas. Às vezes era a Guarda Municipal, mais conhecida na época como Guarda Noturno, que fazia isso. Com isso faziam com que fossemos até onde eles tinham a sede e fossemos obrigados a chamar nossos pais, na presença dos quais eles devolviam as nossas roupas, com as advertências sobre os perigos que corríamos. De fato, era perigoso, só que éramos acostumados com o rio.



E as pedras do Salto do Rio Piracicaba são extremamente lisas?

Muito lisas! Na época usávamos Alpargatas Roda para pode andar lá, cor de mosaico, popularmente chamada de “enxuga-pocinha”. Era uma lona por cima e corda como solado. Quem ia andar no Salto tinha que usar aquilo ali. Só quendo pisava em um mandi o ferrão atravessava. Tinha que tirar a alpargatas, para arrancar o ferrão do mandi que estava no pé. Na hora era muito dolorido.






Você chegou a pegar cascudo?

Muito! Pegava cascudo na toca. Inclusive eu ajudava o Trovão e o Jair na rede para pegar cascudo. Acima de onde hoje está a Ponte do Lar dos Velhinhos, lá em cima. Arrastava a tarrafa e a rede para pegar cascudo. Eles viviam disso aí. O Leo Trovão era fiscal aposentado, a pesca era o complemento do salário dele. O Leo Trovão foi Rei Momo do Carnaval de Piracicaba, isso foi por volta de 1965. O Jair matou o Leo Trovão, seu próprio pai. O Leo Trovão era conhecidíssimo na Rua do Porto. Até hoje tem muita gente que o conheceu.

Você desfilou em algum carnaval?

Eu saí na Equyperalta. Fazia ensaio no Clube de Regatas, sai nos dois ou três anos logo que eles montaram, depois não saí mais.

No Clube de Regatas você usava os sandolins?

Andava de sandolim, de catraia, remo com patrão, o Seu Celso tomava conta dos barcos, era também treinador de quem usava os barcos. O Seu Júlio, pai do jornalista Carlos Nascimento fabricava os barcos.

E as Festas do Divino como eram?

Eu participava de todas! Desde criança eu gostava. Cheguei a ser festeiro do Divino também em 2015. Existe um cerimonial muito respeitoso, o agradecimento para quem conseguiu um milagre.

Voltando um pouco em sua trajetória de vida, o ginásio você fez aonde?

Fiz em São Paulo, naquele tempo havia o Curso de Madureza. Continuava morando em Piracicaba. Quando fiquei em São Paulo trabalhando, morava no quartel mesmo. Naquele tempo para entrar para o Corpo de Bombeiros era exigido só o curso primário. Depois fiz o ginásio. Na época eu já tinha habilitação para ser motorista. Para dirigir viaturas precisa ter cursos especial. Fiz diversos cursos, de bomba, de auto em bomba, caminhões com escadas específicas. São meses de treinamento para aprender o mecanismo de cada viatura.

Você foi operador da escada Magirus?

Fui, em Piracicaba fui. Apesar das viaturas serem importadas, um dos bombeiros ia fazer os cursos no exterior, vinha um instrutor do fabricante para dar cursos, aqui íamos repassando os conhecimentos. Se eu fosse a São Paulo aprender sobre determinado equipamento, repassava os conhecimentos para o pessoal de Piracicaba.

Na época qual era o alcance de uma escada Magirus?

A que veio para Piracicaba tem o alcance até 60 metros. Tem a menor que alcança 18 metros. A que eu dirigia já tinha o elevador que levava o bombeiro lá em cima. Antes tinha escada que precisava subir pelo degrau.

                                                                            Natal (Arquivo pessoal)


Em Piracicaba você combateu grandes incêndios?

O incêndio na Casa Moniz foi de grandes proporções. Era uma grande loja na Rua do Rosário, em frente a então Brivest outra loja de muita fama.

Em sua juventude você jogava futebol?

Joguei em vários times na Rua do Porto: no Beira Rio, União Porto, no McLaren. Nunca fui bom de bola.

A turminha da Rua do Porto era respeitada na época!

Os moradores da Rua do Porto eram sempre os mesmos, quando vinha alguns de fora do bairro poderia sair alguma confusão. Isso ocorria em vários bairros da cidade. Assim como o pessoal da Vila Rezende também tinha alguma dificuldade de aceitar gente estranha no bairro. Quem morava na Rua do Porto era pacato, bom, era uma família. Até hoje, os moradores ficam em suas casinhas, só que as vezes aparece um pessoal fazendo bagunça.

Um nome famoso era o Tangará.

Tangará foi muito famoso pelos peixes que dispunha, na frente ficava o Seu João Garcia. Hoje é o Restaurante Petisco e Cia. Quem tinha em outro local a Peixaria Garcia era o Paco Garcia. A casinha do Paco Garcia existe até hoje ao lado do Mercadinho do Porto. Seu filho continuou o negócio do pai, já em uma escala empresarial, hoje um nome que está espalhado em muitas localidades, o Bom Peixe. Uma característica da época era que as famílias em média tinham oito, nove, dez filhos.

As famosas enchentes do Rio Piracicaba chegavam até a sua casa?

Uma época morei na Rua XV de Novembro 67, as águas do Piracicaba chegaram lá! Na verdade, o pessoal já está acostumado, fica precavido, então não era novidade, já sabíamos que tinha que erguer as coisas, tinha que sair da casa, ia até a casa de um parente, sem descuidar da casa, para evitar furtos, a turma que morava na Rua do Porto sabia todos como se virarem. Na época de safra o meu pai fazia bico: atravessava de barco o pessoal que ia trabalhar no Engenho Central. Na época só existia a Ponte do Mirante como é popularmente chamada a Ponte Irmãos Rebouças. Lembro-me da Chacara do Morato, com a entrada, uma alameda de eucaliptos. Ao fundo uma mansão. Na época não existia a Avenida Dr. Paulo de Moraes, era tudo Chácara Nazareth. Não existia nem a Rua Ipiranga que sai hoje na área de lazer. Onde é o SESC havia uma plantação de eucalipto e uma britadeira de pedras, era a pedreira do Adamoli. Quando éramos crianças íamos pegar eucalipto para fazer pau de sebo do Judas. No final da Rua Rangel Pestana tem uma enorme saída de esgoto, era comum jogar a criançada que subia no pau de sebo e jogar no poço de fezes, esgoto, tudo misturado. Era um ritual todo ano. Eram 20, 30 a 40 crianças, ninguém ficava sem cair no poço de fezes.

M\as e o risco de uma contaminação?

Então! Ninguém ficava doente! Quando jogava bola no nosso campinho na beira do rio, bebia água do Rio Piracicaba! Entre a Rua XV de Novembro e a Rua Rangel Pestana, o então prefeito Nélio Ferraz de Arruda fez um campinho de areia.

O Rio Piracicaba também não era tão poluído?

Não era, de jeito nenhum. Hoje, o bombeiro para mergulhar tem que ter uma roupa própria para não ter muito contato com a água.



                                                                              Natal (Arquivo pessoal)

Você passou um período morando em Santos, quando chegou lá qual foi a sua reação?

Naquele tempo era comum fazer excursões para Santos. Eu tinha ido duas vezes para lá. Quando cheguei para morar a emoção foi grande. O quartel ficava próximo a Rua Conselheiro Nébias. O treinamento nosso incluia subir e descer correndo o Monte Serrat. Votava colocava roupa de praia e dava a volta na ilha nadando, voltava para o quartel correndo. Só depois disso o comandante nos dispensava. Por dois anos fui salva-vidas na praia.

Qual é a pior coisa que um salva vidas enfrentava?

Sujeito bêbado! A época era outra, havia o respeito do cidadão civil para com o militar. Mas as vezes tinha que ter alguma atuação física se a pessoa estive muito alterada.



Quantos homens tinha no seu destacamento?

Por dia na ordem de 120 homens. Naquele tempo o bombeiro ia em pé em cima de um estribo atrás da viatura. Era bonito de se ver. Hoje é proibido. As viaturas eram de fabricação nacional. Hoje temos muitas importadas, com recursos sofisticados. De manhã, ao tomar posse do posto o condutor tem que revisar todos os detalhes da viatura. Desde uma lâmpada queimada, fluidos, calibragem de pneus, tudo que existir na viatura é da inteira responsabilidade de quem está assumindo o posto.





Quanto tempo você ficou em Santos?

Foram dois anos, a seguir fui removido para São Paulo. Até então, eu não era considerado bombeiro e sim policial militar da infantaria. Fui fazer um Curso de Infantaria e Equipamentos para Bombeiros no Barro Branco. Vim para Campinas, Depois voltei diversas vezes para São Paulo para fazer cursos de salvamento, de mergulho, sempre fazendo aperfeiçoamento. O curso de mergulho é dado em rio, mar, noturno.




Você veio para Piracicaba como bombeiro em que ano?

Foi por volta de 1979 a 1980, dei baixa em 2008. Hoje há muito cuidado com a prevenção de incêndios. A cada cinco anos é exigido o AVCB Atestado de Vistoria do Corpo de Bombeiros de edifícios, empresas, comércio. Há uma vistoria prévia do projeto.


                                           PRIMEIRA AMBULÂNCIA DO BRASIL

O que proporciona maior número de ocorrências em Piracicaba?

Acidentes de motocicletas. Todos os dias ocorrem. Hoje trabalham os bombeiros e o SAMU. Diminuiu um pouco a sobrecarga dos bombeiros. O SAMU trabalha bastante.



Após um dia com ocorrências chocantes, como é o estado psicológico do bombeiro?

Bombeiro não é super-homem, não é machão. Quando começa tem bombeiro que tem medo até de cadáver! Ele não tem muita pré-disposição para mergulhar e trazer a tona um cadáver, ir buscar um cadáver no meio do mato. O dia a dia vai fazendo com que ele se acostume, ninguém entra nesse serviço insensível, isso é do ser humano. Com o passar do tempo ele passa a encarar com mais coragem, disposição. Eu ia no Tanquã, buscar o corpo de afogados, são cinco horas de barco, trazia até o Clube Regatas. Na época a viatura da polícia tinha dificuldades em chegar lá. Não tinha viatura geralmente trabalhávamos em dupla. Na época os recursos eram escassos. Colocávamos pó de café no nosso nariz, para disfarçar o odor. Geralmente eu era o piloto do barco, todo aquele cheiro forte ficava impregnado em mim. Era uma semana para sair. Diluia creolina e dava uma borrifada no meu próprio corpo.

Era muito rustico!

Demais! Não tinha equipamento, nem proteção, hoje usa-se luvas descartáveis, na época eram luvas de borracha, usava, deixava no quartel de molho em uma solução e depois lavava e usava novamente. Graças a Deus isso não existe mais. Cada um tem seu pacote de luvas descartáveis. Máscaras de proteção.








                                                                                Natal ( Arquivo Pessoal) 



Você salvou um cavalo?

Foi em Tupi, um cavalo caiu dentro de um poço com a pata para cima. Desci, passei uma corda, com muito cuidado para não quebrar nada dele. Ele movimentou-se, desceu muita terra em cima de mim, quase morri ali dentro. Subi, puxamos ele, ele permaneceu um tempinho deitado, dali a pouco levanta o cavalo, firme. O dono chorava, era a única coisa que ele tinha. Teve um caso que deu muita repercussão (Natal mostra os recortes de jornais da época, com matérias detalhadas). Foi um caso de uma mulher em Rafard, ela permaneceu por 25 horas dentro do rio, todo mundo já dava ela como morta, nós a resgatamos com vida. Ela tinha cinco filhos, foi apanhar cambuquira na beira do rio, ela caiu, colocamos o barco no rio e fomos descendo pela correnteza, dali a pouco ela se meche no meio de uns entulhos. O Marido estava procurando ela, só nos chamaram após muitas horas.

Você tem filhos?

Tenho três: Natalia, Jader e Marcelo.



Você tem alguma religião?

Sou católico, frequento, faço parte do Terço dos Homens, do Salão do Divino na Rua do Porto, toda terça-feira.

Natal, você salvou muitas vidas, prestou socorro, e fez um trabalho muito difícil, que é o resgate de corpos. Alguns casos transcuremos, outros preservamos.  Qual é a principal característica do bombeiro?

Tem que ter amor a profissão! Se não gostar não consegue suportar, encontramos coisas muito difíceis de ver, sentir ou aceitar.

 

Dez caminhões de bombeiros mais surpreendentes de 2020

sexta-feira, setembro 18, 2020


 






LUIZ AURÉLIO MONTEZANO MARTINS

 

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 19 de setembro de 2020.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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O entrevistado de hoje pelo jornalista João Umberto Nassif é o Deputado Estadual Alexander Muniz de Oliveira

ENTREVISTADO: LUIZ AURÉLIO MONTEZANO MARTINS





Luiz Aurélio Montezano Martins nasceu dia 1º de junho de 1973, na cidade de São Paulo, na Maternidade São Paulo. É filho de Ângela Maria Montezano Martins e Luiz Martins. “Um fato curioso ocorreu poucos momentos antes de eu nascer, meu pai queria registrar o meu nascimento, mas talvez devido a emoção e adrenalina, ele só então percebeu que estava sem a máquina de fotografar. Saiu do hospital, atravessou a Avenida Brigadeiro Luiz Antonio e do outro lado da rua havia uma loja de artigos fotográficos. Adquiriu uma máquina de fotografia, colocou o filme, não havia ainda máquinas digitais e voltou rápido para o hospital.  Era uma máquina Olympus Pen. Ela tem uma característica que a diferencia, com um filme de 12 poses você fotografa de 24 a 27 poses. Com um filme de 36 poses já tirei 83 fotos com ela. É uma máquina muito rara e ela tem a minha idade 47 anos! E funciona até hoje. Meus pais tiveram mais um filho: Leandro Vinicius Montezano Martins. ”

Qual era a atividade do seu pai em São Paulo?

Ele era contador. Ele trabalhou no Banco Nacional. Minha mãe também trabalhou no banco, por um período curto. Nessa época morávamos no Brooklyn Velho, na Rua Princesa Isabel. Meu pai passou a trabalhar com vendas: trabalhou na Bombril; Bozzano e depois trabalhou na Bardahl. Nesta empresa ele teve a possibilidade de vir para o interior ou ir para o litoral. O sonho do meu pai era de ir para o litoral. Minha mãe ponderou, achou que seria mais conveniente para a família residir no interior. Ele veio para a região que abrangia Piracicaba, Limeira, Rio Claro. Quando ele conheceu Piracicaba, o Rio Piracicaba, o potencial de crescimento da cidade, como supervisor, ele informa a Bardhal que tem preferência por Piracicaba, ele foi o responsável por trazer os produtos Bradhal para Piracicaba. Quando ele veio, ficou hospedado no Hotel Beira Rio. Na época Piracicaba tinha poucos restaurantes e o melhor hotel era o Beira Rio. Foi buscar a minha mãe, disse-lhe: “Vamos passar uns dias em Piracicaba”. Quando ela chegou aqui e viu o Rio Piracicaba, a Escola de Agronomia e seus parques, almoçou no Restaurante Mirante, ela ficou deslumbrada: “-Que cidade maravilhosa! ”. Ao sair do Restaurante Mirante, que na época ficava na beira do Rio Piracicaba, havia uma cigana croata, ela achou a minha mãe parecida com a sua irmã que havia ficado na Croácia. Ofereceu-se para prestar seus ofícios graciosamente, leu a mão da minha mãe e disse-lhe que ela tinha vindo a passeio para Piracicaba, iria mudar-se para cá e aqui teria dois filhos. Na época a minha mãe fazia um tratamento psicológico para ter filhos, ela tinha sido testemunha de uma situação muito triste ocorrida com a irmã dela. A perda precoce de um nascituro em circunstâncias inesperadas.















Como seus pais se conheceram?

Ainda muito jovem a minha mãe não nutria a pretensão de contrair casamento em sua vida. Até que, um dia na rua em que ela morava apareceu um caminhão com uma mudança. Dentro tinha um belo jovem, que despertou até comentários elogiosos a sua beleza por parte da minha avó! O caminhão parou a uns 50 metros e começou a descer a mudança. Era o meu pai! Eles começam a se ver. Meu pai era muito bonito, elegante, na época só usava roupa social, terno e gravata. Minha mãe também sempre foi bonita. Minha mãe faleceu há uns 15 anos, e meu pai faleceu em 2010. Meu irmão nasceu em Piracicaba e foi batizado em São Paulo. Nessa transição, o meu pediatra, o obstreta eram todos de São Paulo. Quando eu tinha um ano e meio fui batizado aqui em Piracicaba, na Igreja Bom Jesus do Monte. Bem em frente a Igreja existe uma padaria tradicional, a Padaria Bom Jesus. Meu pai a adquiriu mais tarde. Isso foi há 40 anos. Foi um período em que a receita do meu pai como vendedor era significativa, a aquisição da padaria foi um investimento a mais. Ele tinha um depósito da Bardhal e a padaria. Na época ele tinha uma Kombi da Bardhal, guardo até hoje panfletos da Bardhal. Preservo uma série de brindes que a Bardhal costumava distribuir, é a preservação da história.

Houve um período em que a Bardhal investiu maciçamente em propaganda?

 A empresa criou a “Turminha Brava” (um bando de “malfeitores” que costumava atacar os “desprotegidos” motores dos veículos brasileiros”). Esses terríveis meliantes atendiam pelos sugestivos nomes de Chico Válvula Presa, “Zé dos Anéis Presos”, “Antonio Sujo”, “Carvãozinho”, “Clarimunda” e o “Detetive Bardhal” era o herói.

Luiz Aurélio conserva as figuras moldadas em plástico que era a loucura da criançada na época. A história da cigana foi em que ano aproximadamente?

Pelos relatos dos meus pais foi por volta de 1968. E tudo que ela previu realizou-se.

Seus pais mudaram-se para que bairro em Piracicaba?

Vieram residir no bairro Higienópolis. Ficava bem na divisa entre Jardim Elite e Higienópolis. A casa era alugada, meu pai tinha um projeto para construir em uma chácara, de sua propriedade, onde mais tarde se instalou o Jornal de Piracicaba, era uma área bem extensa. Com o tempo ele adquiriu outros imóveis.

Você iniciou estudando na escola infantil?

Iniciei na Escola de Educação Infantil Canarinho, depois fui para o Colégio Salesiano Dom Bosco onde estudei por oito anos. Tempo da Dona Iracema e do Padre Olívio Poffo.

No Dom Bosco você além de estudar praticava esportes?

Sempre joguei bola, gostava de jogar como atacante e também como central. Além do futebol de quadra tínhamos um campo de grama. Mais tarde joguei muito em um time chamado “Toco de Vela”, o uniforme era cor-de-abóbora e branco. Vinha escrito o nome do time “Toco de Vela”. Joguei bastante futebol de quadra, no time do bairro. Vinha uma pessoa, o Marcos, da prefeitura para treinar o time. Eu jogava de ala direita e pivô, fiz as duas posições. Ganhamos troféus, jogava com o Jaraguá, Noiva da Colina, Chegamos a ir para Limeira, Americana, Rio Claro, Santa Bárbara D`Oeste. O que impedia a nossa ida mais vezes e a outros locais era a falta de recursos. Na inauguração da Quadra Poliesportiva que temos no Bairro Primeiro de Maio participamos dos campeonatos. No Colégio Dom Bosco tem a Semana Olímpica, eu jogava Dama, Xadrez e Futebol.

Você chegou a tocar na Fanfarra do Dom Bosco?

Não. No meu tempo a Fanfarra do Dom Bosco era composta por alunos do Colégio Dom Bosco, mas em sua maioria era composta por integrantes do Oratório São Mario, unidade coligada ao Colégio Dom Bosco. O prédio enorme do Dom Bosco ficava ocioso aos finais de semana, minha mãe costumava me levar até lá, aos sábados pela manhã. Ali também aprendi a jogar bilhar e tênis de mesa.

Em Piracicaba, sua mãe teve alguma atividade profissional?

Ela tornou-se funcionária pública.

O Colégio Dom Bosco marcou a vida de grandes personalidades que ali estudaram e hoje tem situação de destaque nas mais diversas áreas.

Foi um marco muito gostoso, muito bom, agradeço o esforço dos meus pais por terem me colocado no Colégio Salesiano Dom Bosco, no qual eu sempre fui enfronhado na religião. Fui coroinha dentro do Colégio, fiz a Primeira Comunhão dentro do Colégio, sempre fui ligado a religião, desde pequeno. Minha mãe estudava muito a religião. Ela teve contatos com a espiritualidade também, ainda moça. Após determinados acontecimentos ocorridos em nossa casa só a espiritualidade explica. Por exemplo, no auge da Padaria Bom Jesus, meu pai com sete imóveis aqui em Piracicaba, apareceu um menino de uns 14 a 15 anos na padaria pedindo pão com leite. Ele estava com muita fome. Minha mãe com pena deu o pão com leite. No outro dia ele voltou e disse: “- A senhora tem um pão de novo? Só que me dá uma vassoura que eu varro aqui fora! ”. Minha mãe ficou abismada com a disciplina do menino. Ela deu-lhe a vassoura e ele varreu toda a esquina e os lados da padaria. Minha mãe deu um prato de comida. No terceiro dia minha mãe falou: “-Você não vai mais fazer isso, você quer trabalhar aqui comigo? Eu pago um salário você lava os copos, arruma a cozinha! ”. Minha mãe fazia café, pão na chapa. Ele respondeu-lhe: “-Quero sim! ”. Só que na hora de ir embora ele sempre demorava, ficava. Minha mãe dizia-lhe: “-Pode ir embora! ”. A resposta dele era: “ Não tenho pressa! ”. Foi quando descobrimos que ele já morava na rua, não tinha para onde ir. Ele tinha uma tia que cuidava dele, mas ele tinha horror em voltar para casa. Após essa constatação, minha mãe colocou uma cama no porão da padaria, disse-lhe: “-Se você quiser, você fica aqui! ” Para a época isso foi uma afronta, um negócio muito estranho.

Como o seu pai viu essa situação?

Ele não se conformava. E fechou o menino lá dentro da padaria., ele deveria ter de 17 a 18 anos. Quando a minha mãe abriu a padaria no dia seguinte as gondolas da padaria estavam perfeitamente arrumadas, tudo em ordem, tudo limpinho, a padaria estava cheirosa quando ela ergueu a porta. Tudo lavado, arrumado. Com um bilhete no caixa escrito: “ Muito obrigado! Nunca tive uma noite tão confortável na minha vida! ” Só que por praticamente tudo que ele fez na padaria, minha mãe percebeu que ele nem dormiu! A padaria ali sempre foi grande, ele arrumou tudo, ajeitou tudo. Tirou produtos das caixas colocou nas gondolas. A minha mãe o adotou como filho. Deu cama, roupa, matriculo-o no Curso Supletivo. Ele tirou carteira de motorista. Com o tempo, foi se aproximando, até que foi indagado quem era o seu pai, ele disse que não sabia, mãe ele não tinha. “-E a tia que você falou? ” Ele disse quem era. Minha mãe pesquisou e descobriu que era uma prostituta de luxo que recebia seus clientes em sua própria casa. Minha mãe a procurou, e contou os fatos acontecidos, dizendo que ele estava sob os cuidados dela. A tia do rapaz disse-lhe: “- É a melhor coisa que você faz! A mãe dele faleceu quando ele era pequeno e o pai nunca ligou para ele”.

Ele passou a viver com a sua família?

Ele ficou tão próximo da família que foi padrinho de batismo do meu irmão! Ele conservava umas maneiras estranhas, como por exemplo, dormia no tapete da sala atrás da porta, sendo que ele tinha a o quarto dele, com cama. Minha mãe acordava e dizia para ele ir para a cama dele. Era difícil, ele foi se adaptando aos poucos.

Isso era bem peculiar.

Era bem esquisito! Minha mãe tinha um amigo japonês que falava português, mas conservava um pouco de sotaque. Um dia ele disse para a minha mãe: “-Ângela! Leva esse menino no Centro de Umbanda! Porque espirito está rondando ele! Espirito tem que vir igual a borboleta! Tem que vir bem! Ele está dominado, está com problema sério! ”

Qual foi a reação da sua mãe?

Minha mãe o levou em um terreiro famoso na época o da “Moreninha”. Quando ele entrou ele saudou, bateu cabeça.

O que é “bater cabeça”?

É saudar. Quando entramos na igreja católica fazemos o sinal da cruz. Quando entramos em um terreiro fazemos também o sinal da cruz, também somos cristãos, e literalmente batemos a cabeça, tem uns que batem cabeça no chão (a semelhança de uma outra crença muito conhecida no Oriente Médio), o chão ali é considerado sagrado. Outros vão até o Congá, onde estão as imagens, e batem cabeça por três vezes. O que despertou espanto em todos é que ele fez todos os procedimentos regulares da Umbanda como tivesse sido iniciado a não sei quantos anos. Ele é orientado e começa a fazer os trabalhos de benzimentos, curas. Dentro da casa da minha mãe! Monta um altar. Aí tenho o primeiro contato com a egrégora espiritual da Umbanda.

Seu pai como reagia a isso tudo?

Esse rapaz era tão amigo do meu pai que saiam juntos, ele cuidava do meu irmão, cuidava de mim, meu pai começou a viajar, queria que ele fosse junto, como companhia, minha mãe dizia: “-Não, ele me ajuda na padaria, não vai leva-lo não! ”. Nessa mesma época quem trabalhou muito na minha casa, que a minha mãe acolheu, com os problemas todos, foi a “Madalena”, como é carinhosamente chamado e querido pelos piracicabanos o cidadão Luiz Antonio Leite, que mais tarde exerceu o mandato de vereador em Piracicaba. È uma grande figura, respeitado e estimado por quem o conhece. Ele é extrovertido, sabe brincar, mas sabe se impor e respeita todo mundo.

Na sua casa ele fazia o serviço doméstico?

Ele fazia todo serviço doméstico, na cozinha ficava a minha mãe que gostava muito de cozinhar. Ele também cozinhava junto com ela. Madalena fazia tudo. Tocava o telefone na minha casa ele atendia e dizia: “-Residência da Dona Ângela Martins, pois não? ” ou dizia: “Residência do Sr. Luiz Martins, pois não?” Se fosse algum conhecido que porventura fosse mais expansivo, ele mantinha o mesmo tom solene e dizia: “-Pois não, senhor? ” Lembro-me de que ele sempre estava com um lenço na cabeça. (Madalena trabalhou por muitos anos na casa da vereadora Maria Benedita (Ditinha) Pereira Penezzi. Madalena é tida como cozinheira de forno e fogão). Ele trabalhava todos os dias em casa, almoçava e jantava conosco. Ia para a sua casa. No dia seguinte voltava. Ele morava ali perto do Juumbo-Eletro, atual Pão de Açúcar do Bairro Altp. Madalena é um ícone de Piracicaba.

Quanto tempo vocês ficaram com a padaria?

Acredito que uns cinco a seis anos. Quando a padaria estava com todas as dívidas saneadas, que o dono anterior havia deixado, o proprietário pediu o préo no prazo de 30 dias. Meu pai, meu irmão e o rapaz, filho adotivo, foram comprar um peixe no Mercado Municipal, na Peixaria Mori. Ao retornar, estavam com um Dodge Polara amarelo, o rapaz dirigindo, na Rua Boa Morte esquina com a Rua Gomes Carneiro, houve um violento choque do automóvel com um ônibus. Meu pai permaneceu 15 meses internado na Santa Casa de Misericórdia, realizou cirurgias, fisioterapia. Ele foi quem se feriu gravemente. Os demais ocupantes tiveram ferimentos superficiais. Isso tudo impactou no orçamento familiar. Além das complicações legais, pois embora habilitado, quem dirigia ainda não tinha recebido a carteira de motorista.

A situação da família ficou delicada financeiramente?

Tínhamos propriedades em terra nua, mas não tínhamos recursos para construir, acabamos optando por financiar uma casa modesta. Minha mãe prestou concurso e foi trabalhar na Justiça do Trabalho, onde permaneceu por 17 anos. Meu pai recuperou sua saúde, prestou concurso público na Prefeitura e no Estado. Foi aprovado nos dois. Por dois anos foi inspetor de alunos no Sud Mennucci, até que foi convidado a ser Supervisor de Direção na Escola Estadual Professor Benedito Ferreira da Costa. Eu fui estudar lá, onde terminei a oitava série. Ia e voltava de carro com ele. Em seguida matriculei-me por iniciativa própria no COTIP Colégio Técnico Industrial de Piracicaba. Em 1992 me formei em Processamento de Dados.

Você seguiu a carreira?

Em paralelo com isso surgiu a religiosidade da Igreja Messianica instituição religiosa fundada em 1 de janeiro de 1935, no Japão, por Mokiti Okada cujo nome religioso é Meishu-Sama (Senhor da Luz). Em Piracicaba fica na Avenida São João esquina com a Rua Campos Salles. Quando eu era pequeno minha mãe me levava lá. Com 18 a 19 anos lembrei-me daquilo, me encantei e quis estudar. Fui selecionado para fazer o Seminário da Igreja. O padre na Igreja Católica não pode casar, na Igreja Messiânica há um pensamento ao contrário, chega uma época em que o ministro adjunto deve casar-se. Para ser ministro tem um seminário de quatro anos e meio, dos quais fiz quatro anos. Fiquei dois anos interno aqui, em Rio Claro, em Sãç Paulo no Solo Sagrado de Guarapiranga, aprendi a falar algumas palavras essenciais em japonês, tem aula de japonês, Cooloquei na minha cabeça que só iria estudar, embora não houvesse o celibato. Esse foi um grande problema, dentro da Igreja conheci uma moça, nos apaixonamos, estava dentro das regras, mas por força do destino rompemos o namoro. Continuei na Igreja, porém já não tinha mais o mesmo entusiasmo. Permaneci por algum tempo na Igreja, mais para um período de reflexão.

O que você fez em seguida?

Conheci uma pessoa que viu mediunidade em mim, e me encaminho para um Colégio de Teologia de Umbanda, em São Paulo. Um dos mestres era Alexandre Cumino, Sacerdote Umbandista. Me aprofundei na Teologia da Umbanda, fiz o recolhimento no Candomblé. Fui iniciado na Umbanda e me encontrei. Fiz três anos Gnose. Hoje sou Candomblé e Umbanda.

Qual é a diferença entre Candomblé e Umbanda?

O Candomblé é de raiz africana, e a umbanda é brasileira. Os dois se afunilam em similaridades pelo sincretismo que a umbanda usa da Igreja Católica, com relação aos santos. Por exemplo: o nome do santo do candomblé é o mesmo nome do santo da umbanda. A Umbanda cultua São Jorge como São Jorge, Ogum. No candomblé não fala São Jorge, só de Ogum. Na umbanda São Sebastião é denominado como Oxóssi e no candomblé Oxóssi é Oxóssi! Não rezam no candomblé Pai Nosso, Ave Maria. Na umbanda rezam.

Tem algum padre que participa dos cultos?

Tem! Aqui em Piracicaba mesmo tem um que se une aos umbandistas, assiste ao candomblé. Ele vem aqui se consultar com entidades. Tomar passe. Se carregarem de energia. Tem dois padres que vem na minha casa. Tem um pastor também que vem.

Uma das atividades que atinge em cheio o sentimento do ser humano é o som do batuque?

Aquilo mexe com a gente de uma forma, estamos ligados a um todo, que é universalista, é partícula do Universo, o Universo são partículas em movimento. O Universo é musicalidade. O tempo não para, tudo é movimento. Quando toca o Tambor Sagrado, que invoca os Orixás, invocam os Santos, é inevitável um ser vivente não sentir absolutamente nada. Claro que existe pessoas que estão em um desequilíbrio harmonioso tão grande consigo mesmo, com seu eu interior, que passam para o efeito contrário, ela se irrita com a musicalidade.

A música é praticada nos dois ritos?

A música é tocada nos dois ritos. Mas existe um aprofundamento no candomblé, ele tem muitas etnias. Que são regiões africanas: “mina”, “angola”, “jeje”, “nagô”., “congo”, “angola, “macua”, “benguela” e outras.  Cada uma fala um dialeto e cada uma é um toque diferente. No candomblé, toca “Angola”, só fala em africano. Mas o som é atabaque, do mesmo jeito. O mesmo instrumento da Umbanda e do Candoblé. Os mesmos Orixás.

Qual é o título que você detém hoje?

Sou um Sacerdote Umbandista Outorgado pelo Superior Órgão de Umbanda do Brasil. Sou federado a Federação Espiritualista Reino dos Orixás que é presidida por Juberli Romão Soares Varela que é o meu Pai de Santo. Ele é de São Paulo e reconhecido no mundo inteiro como Sacerdote e Ministro da Paz, pelo Parlamento da Paz.

O que você faz é um trabalho espiritual positivo, mas existe o negativo também?

A negatividade está ai solta na rua, com você, comigo. Há um conhecido ditado que diz que temos dois lobos dentro de nós. Qual você alimenta? A maldade foi introduzida dentro da religiosidade por desvios de caráter hoje praticados por algumas pessoas.

Essas oferendas colocadas em encruzilhadas, tem objetivos negativos?

Não necessariamente. O que vale é a intenção. Às vezes você vê uma oferenda que é para a saúde da pessoa. Pode ser um agradecimento. Tem várias vertentes, o que pode aconteceu é que foi demonizado por algumas religiões tradicionalistas que não queriam aceitar outras formas de manifestações. Nesse aspecto entra o desejo humano do poder. O objetivo de muitas crenças é agregar o maior número possível de pessoas com objetivos claramente financeiros. Qualquer outra crença significa concorrência material. Incute na pessoa crenças absurdas.


O que é magia negra?

É magia! É manipulação negativa. Ela não é o folclore que o povo fala. Quando alguém deseja mal a outro, na maioria das vezes nada mais é do que a Lei do Retorno. Algo, alguma coisa, provocou uma mágoa profunda em quem deseja mal ao outro. “Ori” é sua cabeça, “Xá” é sagrado. Orixá é Cabeça Sagrada. Quando você vê uma vela preta, você acabou de colocar algo preto em sua cabeça, pela tradição secular uma vela preta é símbolo de negatividade. Isso significa que ao olhar você coloca negatividade em sua cabeça. E se a tradição fosse vela rosa como negatividade? Em ambos os casos você já está em desvantagem imaginária. Há correntes filosóficas que dizem que a cor preta nada mais é do que um isolante! Vamos falar de coisa ruim? Vamos falar de Lúcifer! Era o anjo mais bonito!

Quando você iniciou o seu trabalho com fotografia?

Voltei à Piracicaba, meus amigos tinham se dispersado, encontrei alguns, entre eles o Anystime, o Nysta. Grande amigo. Comecei a trabalhar com seguro de vida, saúde e previdência. Trabalhava no Bradesco, no setor de seguros. Me especializei no negócio, meu cargo era tão bom que foi extinto. Com o valor do ticket comprei um carro. Vendendo seguro, fui até a um lugar onde meu irmão fazia um bico de Cabo Man. Era uma festa para a molecada, todos com 12 a 14 anos, faziam a festa quando iam trabalhar, comiam salgadinhos, doces, de tudo que havia em um casamento, refrigerante tudo grátis e ainda ganhavam um dinheirinho. Na época havia quatro fotógrafos requisitados, o Henrique Spavieri, Christiano Diehl, o fotografo com quem meu irmão trabalhava e um outro. Na época eu tinha uma moto, vendia consórcio de moto e seguro. Fui vender para esse fotógrafo. Ele perguntou quanto eu ganhava por mês. Ofereceu o dobro para ir trabalhar com ele. E me orientou: você vai vender eventos de formatura. Ele me deu a chave de um carro, disse-me: “-Você vai de carro, não vai de motocicleta não! ”. Disse-me: “-Vai na UNIMEP.”. Fui. Foi onde enfrentei o Silvio da Sagae, era o maior e único concorrente. Fechei o negócio para realizar as fotografias, cerimonial, tudo que envolvia essa área da formatura das turmas de Educação Física, Fisioterapia e Direito. Eu iria ganhar uma comissão de 6% do valor da formatura inteira. Lembro-me que dava para adquirir uma casa e um automóvel Brasília. Só que ele nunca me pagou! Com muito esforço, consegui pegar algum dinheiro, tudo em parcelas. Deu só para trocar a minha moto por uma melhor.

O que você fez a seguir?

Pensei: “-Sempre gostei de fotografia, vou comprar uma máquina! ”. Fui ajudar um fotógrafo, ele me admitiu para vender formaturas e fazer uns bicos junto com a molecada. Jogou uma máquina na minha mão e disse-me: “É assim que tira o foco. Faça, quero ver depois! ”. Isso na época do filme ainda. Comecei a fotografar casamentos. No terceiro casamento ele disse-me: “-Você vai ter que fazer sozinho, suas fotos estão maravilhosas. Pode ir. ” Levei 15 filmes de 36 poses e quase precisei mais! No próximo casamento levei 25 filmes de 36 poses. Ele adorava as minhas fotos. Aí comprei a minha máquina, usada.

Atualmente os custos para fotografar são menores?

Os custos são menores, só que os preços finais dos álbuns são maiores. A responsabilidade é muito grande, de tirar fotografias, organizar, posicionar o noivo, a noiva, o nível de exigência das fotografias, das formalidades aumentou.

Qual máquina você usa hoje?

Hoje tenho diversas máquinas, todas Cannon. Tenho máquinas com recursos bem avançados. Mantenho uma carteira de clientes, alguns estão comigo há anos. Eu não filmo, só fotografo. Tem certos momentos que é importante ter uma segunda pessoa. Minha esposa, Rosana Andreia de Moraes Montezano, também é fotógrafa, ela me acompanha se for necessário, e tem uma terceira pessoa que se for preciso também me ajuda.

As fotografias de um casamento deixaram de ser apenas aquela clássica?

O casamento em si começa desde o making of da noiva, toda a produção para o casamento, desde o penteado e a maquiagem até a troca para o vestido e vai até quando ela joga o buquê de flores. Há casamentos em que também são feitas fotos do noivo em sua fase de preparação para o evento.

Deve haver fatos hilários que aconteceram, principalmente em casamentos?

Muitos! Alguns inacreditáveis! Eu não me limito a fotografar, posiciono o cortejo, a sequência natural da cerimônia, eu me envolvo muito, gosto disso! Isso também dá muita segurança aos participantes, noiva, pais, padrinhos. Essa é uma característica que conservo em todas as situações: casamento, formaturas. Eu me envolvo muito, sou perfeccionista. Procuro cuidar de cada detalhe, por menor que seja. Essa é a razão porque tenho clientes que permanecem comigo em todos os seus eventos.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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