PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 29 de agosto de 2015.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 29 de agosto de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADO: CELIO SOARES MOREIRA
ENTREVISTADO: CELIO SOARES MOREIRA
O professor doutor Célio Soares
Moreira nasceu em Jaú, a 1º de março de 1930. É filho de Silvio Moreira e
Minica que tiveram os filhos: Iná, Célio, Sonia, Raul e Fábio.
Qual era a atividade principal do
pai do senhor?
A sua atividade principal
iniciou-se por volta de 1932, em Cordeirópolis. Ele era agrônomo, formado pela
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiro em 1923. Ele é da terceira ou
quarta turma que se formou pela ESALQ. Naquele tempo a turma com a qual ele se
formou era composta por cerca de 10 formandos, sendo que ele formou-se em
segundo lugar. A Salitreira comercializava salitre do Chile. É uma empresa
grande, que existe até hoje. Meu pai foi contratado pela Salitreira para
trabalhar em Jaú. Naquela época Jaú tinha uma posição de muito destaque. O café
trazia muito dinheiro para a cidade. Eu já era adulto, quando um dia
perguntei-lhe: “-Pai, como foi chegar a Jaú, terra de coronéis?”. Ele respondeu
que tinha sido muito bem recebido. Muito fidalgamente. Quando a Salitreira o
contratou, deu-lhe um “Fordeco”, um carro Ford do ano para ir trabalhar. Quando
ele chegou a Jau chamou a atenção de seus moradores. Eles não sabiam o que era
um agrônomo! Diziam que se esquecessem um grão de café na terra virava árvore! Após
a formação e Jaú ficar um lugar conhecido, alguém mandou para a França uma amostra
de terra para analisar. De lá veio uma resposta: “Aquilo não era terra, devia
ter adubo misturado”. Era terra roxa.
Qual é a função do salitre para a
agricultura?
Ele é estimulador, principalmente
da clorofila. Ele tem que estar associado ao potássio e fósforo.
Naquela época não havia adubo
composto, eram elementos isolados que eram colocados junto ao solo?
Eu já era mocinho quando fui com
meu pai até a primeira fábrica de adubo composto que conheci, era fabricado
pela Manah, estava começando suas atividades, o Dr. Fernando Penteado Cardoso,
agrônomo formado pela ESALQ é quem estava desenvolvendo o projeto, ficava em um
barracão, antes de chegar a São Paulo, nessa época meu pai já estava
trabalhando na Estação Experimental de Cordeirópolis. Ele tinha saído da Salitreira, foi trabalhar
em Guatapará, ficou algum tempo e depois foi para a Estação Experimental de
Cordeirópolis. Meu pai nasceu em 1900 e faleceu em 1986.
Em que cidade o pai do senhor conheceu a sua mãe?
Em que cidade o pai do senhor conheceu a sua mãe?
Foi em Jaú. Meu avô chegou a Jaú
com o diploma de farmacêutico, ele era descendente de franceses, estabeleceu
uma vida comercial, casou-se com a minha avó,da família Prado, uma das filhas
do casal era a minha mãe. Meu pai e minha mãe se conheceram, casaram-se e foram
morar em Guatapará. De lá que vieram para Cordeirópolis, por volta de 1932. Ali
ficava a bifurcação da linha-tronco da Paulista que seguia para Barretos e
Colômbia, no rio Grande, e a linha do ramal de Descalvado. Existia a estação,
uma colônia dos funcionários da Companhia Paulista, não havia mais nada. Naquele
tempo o governo estava formando essa rede de estações experimentais. Tinha uma
em Sorocaba, em Cordeirópolis, em Campinas. Quando meu pai aposentou-se era
chefe da divisão de Estações Experimentais do IAC- Instituto Agronômico de
Campinas.
O curso primário o senhor estudou em qual escola?
Minha irmã e eu íamos de
automóvel até a Escola São José em Limeira, era colégio de freiras. Lá estudei
até o terceiro ano primário. Por volta de 1940, mudamos para Campinas, papai
foi transferido como chefe.
Foi um choque para o senhor sair
de Cordeirópolis e ir morar em Campinas?
Campinas era uma cidade muito
rica, que por determinada época chegou a rivalizar com São Paulo. Era uma
cidade muito orgulhosa. Campinas ainda era terra roxa. Teve o período da era
dos Barões do Café. Era toda região que se estendia por Jaú, Amparo,
Pirassununga, Araraquara. Veio até aqui, daqui para frente temos terra de
qualidade inferior. Quem tinha posse ia para terra boa, terra roxa, para ficar
rico rapidamente. As principais peças de teatro vinham da Europa para Jaú! Não
ia para Campinas que era uma cidade que tinha dinheiro, mas estava todo mundo
alvoroçado para sair de lá, precisavam progredir! Campinas tinha e tem ainda
terra boa, mas é pouca. Jaú já era uma área bem mais extensa.
Quando mudamos para Campinas, saímos da Estação Experimental de Limeira, que ficava na Rodovia Anhanguera, era estrada de terra, e mudamos para uma casa de um italiano, proprietário de um cortume, ele estava muito bem financeiramente, construiu uma casa na esquina, em frente ao Clube de Campo. Ele não podia morar ali, era a época da Segunda Guerra Mundial havia pessoas que o hostilizavam, pelo fato de ser italiano. Meu pai acabou alugando a casa, era finíssima, muito bem acabada, tinha um belo jardim em frente. Ficamos sócios do Clube de Campo que ficava bem em frente. Éramos cinco irmãos entre os grã-finos! Tinha piscina, quadra de tênis, quadra de vôlei, instalações para ginástica. Morávamos na Rua Guilherme da Silva esquina com a Rua Coronel Quirino. O bonde passava ali! Ao lado havia o Clube Regatas. Na época um clube modesto, mas com bons esportistas. Passei a freqüentar a natação do Clube de Campo. Os bailes eram memoráveis, freqüentados pela fina flor de Campinas. Eu tinha uns 15 anos. Em frente a nossa casa morava um juiz cujos filhos iam ao clube. Outro vizinho era o proprietário da Piccolotto Calçados e Roupas eles tinham dois filhos e uma filha. Fomos grandes amigos.
Quando mudamos para Campinas, saímos da Estação Experimental de Limeira, que ficava na Rodovia Anhanguera, era estrada de terra, e mudamos para uma casa de um italiano, proprietário de um cortume, ele estava muito bem financeiramente, construiu uma casa na esquina, em frente ao Clube de Campo. Ele não podia morar ali, era a época da Segunda Guerra Mundial havia pessoas que o hostilizavam, pelo fato de ser italiano. Meu pai acabou alugando a casa, era finíssima, muito bem acabada, tinha um belo jardim em frente. Ficamos sócios do Clube de Campo que ficava bem em frente. Éramos cinco irmãos entre os grã-finos! Tinha piscina, quadra de tênis, quadra de vôlei, instalações para ginástica. Morávamos na Rua Guilherme da Silva esquina com a Rua Coronel Quirino. O bonde passava ali! Ao lado havia o Clube Regatas. Na época um clube modesto, mas com bons esportistas. Passei a freqüentar a natação do Clube de Campo. Os bailes eram memoráveis, freqüentados pela fina flor de Campinas. Eu tinha uns 15 anos. Em frente a nossa casa morava um juiz cujos filhos iam ao clube. Outro vizinho era o proprietário da Piccolotto Calçados e Roupas eles tinham dois filhos e uma filha. Fomos grandes amigos.
Em Campinas o senhor fez seus
estudos em que escola?
Fiz o curso preparatório para
exame de admissão ao ginásio. Prestei o concurso, entrei em uma escola do
Estado, era uma Escola Normal, o prédio inclusive muito semelhante a nossa
Escola Normal, hoje Instituto de Educação Sud Mennucci. Lá eu cursei o ginásio,
a primeira professora que tive era professora de música, regente, era muito
conhecida, Dona Dulce. Ela formava um orfeão, entrei no primeiro ano, ela foi
selecionando. Tive professores marcantes, inclusive o de inglês, que graças a
Deus era de uma exigência muito rigorosa. Ele tinha sua cartilha. Era o
Professor Coriolano. Tinha que estudar aquela cartilha, quando chegasse ao meio
do ano ele só falava em inglês. Quem não estivesse a altura de conversar, ele
não perguntava, mas também não molestava. Ele repetia a última nota que o aluno
tinha obtido, e geralmente era baixa. Vi-me nessa situação. Conversei com os
meus pais e passei a ter aulas de inglês com uma professora particular. Fiz
meio semestre de inglês com ela. Um dia do mês de junho ele perguntou se alguém
queria ir à lousa. Ofereci-me e fui. Fez algumas perguntas, pediu que eu
respondesse terminada a argüição mandou-me sentar. Começou a me por na
conversa, a conversa dele era mandar que ouvíssemos a BBC em inglês,
determinava o horário, a noite e o programa que deveríamos ouvir. Na aula ele
se referia ao programa. Deu uma prova escrita, fui muito bem. Estranhando o meu
desempenho pediu que fosse até a lousa e fez-me uma sabatina. Eu estava
preparado. A partir daquele dia passei a fazer parte do time dele. Meu primeiro
ano de ginásio foi no prédio onde existe uma praça cheia de palmeiras. O
intervalo das aulas era na praça em frente, não havia pátio. Havia o famoso
pouso das andorinhas, que chegavam de vôo, reuniam-se antes de continuar o vôo,
daí o cognome de Campinas: “Cidade das Andorinhas”. Era uma quantidade
incontável de andorinhas.
Após concluir o ginásio o senhor
foi fazer o colégio?
Fiz o curso preparatório e entrei
para o Colégio Culto à Ciência, colégio do Estado. Concluindo o
colégio vim para Piracicaba para estudar na ESALQ.
Como surgiu a vocação para estudar agronomia?
O meu pai tinha se formado na ESALQ. Eu sempre
viajei com ele, gostava da profissão. Uma vez disse que gostaria de plantar
feijão. Ele marcou um quadrado, disse-me: “-O arado está aí se quiser pode
plantar nesse pedaço”. Coloquei o arado no pedaço, mal ou bem acabei plantando.
, era arada com tração de um animal só. Na hora de colher foi uma decepção. Meu
pai disse-me: “Feijão é lavoura de manutenção própria para o individuo que a
planta”. Muito mais tarde tive a comprovação, depois de formado, em meu
terceiro emprego, o fazendeiro que quis plantar feijão perdeu muito. Eram
quatro alqueires de feijão que estavam em uma área cujo destino final era
servir de pasto.
Em que ano o senhor entrou na ESALQ?
Foi em 1950.
Tenho o nome de todos que se formaram na nossa turma, guardo comigo o convite
de formatura. A única mulher da turma era Olga Zardetto de Toledo. Tive aulas
com grandes professores: Prof. Felipe Westin
Cabral de Vasconcelos, Eduardo Augusto Salgado, genética tive aulas com Friedrich Gustav Brieger, Walter Radamés Accorsi,
Edgard do Amaral Graner, Salim Simão.
Em Piracicaba o senhor
morava em que lugar?
Você
conheceu uma república chamada “Mosteiro”? Éramos cinco moradores, fundamos a
república e alugamos uma casa, em frente onde mais tarde foi a Escola de
Odontologia, ali havia um colégio de freiras. Na Rua Alferes José Caetano. Na
outra esquina tinha a casa do Ex-Prefeito Luiz Dias Gonzaga, a república era no
sentido bairro-centro, a segunda casa.
Quem escolheu o nome da
república?
Foram as
meninas internas do Colégio São José. Na verdade elas caçoavam de nós. Colocamos cortinas nas janelas, para podermos
ter mais liberdade. O pessoal da ESALQ colocou o nome de “Mosteiro”.
A diversão naquela época
qual era?
Eu não tinha
dinheiro para diversão! Fui equilibrar minha mesada quando mudamos para outra
casa da republica, descendo a Rua Alferes José Caetano, após a Rua Voluntários
da Pátria. Continuou com o nome “Mosteiro”. Nesse grupo de cinco estudantes, o
único que era pobre era eu. Arrumei um emprego, uma amiga de Campinas, disse-me:”
–Se você arranjar a sala, tenho como montar uma biblioteca”.
Como o senhor conheceu a
sua namorada?
Acho que foi
em um baile, no Cristóvão Colombo, na esquina da Rua Governador Pedro de Toledo
com Rua São José. O nome dela era Rosa Maria Fleury Moreira, conhecida como
“Tuia”. Filha de Aldrovando Fleury. Irmã de João Ribas Fleury. Casamos em São
Paulo, tivemos três filhos: Ângela, Eduardo, Arnaldo.
A Lua de Mel foi onde?
Foi em São
Vicente, era a moda na época. Fomos em um carro do meu pai, Chevrolet 1951,
azul. Fui ser agrônomo, chefe da Estação Experimental de Ubatuba. Era uma
localidade ainda em desenvolvimento, não tinha o movimento que existe hoje. Chegar
até Ubatuba era uma aventura, estrada de terra, tinha que ir até Taubaté, não
havia a Rodovia dos Tamoios. Quando assumi a Estação Experimental de Ubatuba
não estava casado ainda, me empreguei como Chefe do IAC em Ubatuba. O Instituto
Agronômico fornecia alguma condução para ir para lá, geralmente a pior
condução. Era muito comum ir de jipe, esse jipe era resto de guerra, americano,
descia a serra, era uma aventura, havia dois horários de ônibus, quem estava
descendo ficava preocupado por não ter cruzado ainda com o ônibus. Quando
cruzasse não passava os dois veículos. Tinha que ajeitar.
Não havia trânsito?
Havia
trânsito de caminhão de banana! Só que com o caminhão de banana era bem mais
fácil de passar ao lado do jipe. O perigo era o ônibus, porque ele vinha
despreocupado. Ali a cultura forte era a banana. Permaneci lá um ano e meio.
Tinha uma casa na Estação Experimental, a comida era feita por uma empregada. A
comida de Ubatuba é baseada em peixe. Quando havia sobra eles ofereciam de
graça o camarão. O porto de Ubatuba era muito pequeno, não tinha frigorífico,
toda semana passava uma barca com frigorífico. Eles pescavam e tinham que
vender. Se a barca não passasse aquela semana, ou atrasasse três ou quatro dias
o que tinha sido pescado podia estragar. Eu estava a sete quilômetros da
cidade. Às vezes ia de bicicleta. Formei muitos amigos lá, a Cachaça Ubatubana
era muito famosa, fabricada por uma família de Piracicaba que moravam na Fazenda Velha, os Irmãos Chiéus,
fabricavam a pinga Ubatubana. Fui membro do Rotary Club
que já existia em Ubatuba na época. Ia
daqui para lá o especialista em genética de cana, que era o chefe das Estações
Experimentais.
O senhor ficou
aproximadamente um ano e meio lá?
O Janio
Quadros fez uma circular onde todo funcionário que tivesse menos de 10 anos
trabalhando para o Estado até tal data estava dispensado. Dali a uns meses eu
iria completar os 10 anos. Vim para Piracicaba, marcamos o casamento, depois saímos
em viagem de núpcias em Itanhaem voltamos à Campinas e Piracicaba. Fui
trabalhar, arrumei um emprego para
trabalhar em Xiririca, hoje se chama Eldorado. Surgiu uma vaga na Casa da
Lavoura de Rio das Pedras. Rio das Pedras não tinha condução, não tinha sede,.
No começo eu ia de ônibus. Existia um armazém grande, cujo proprietário era
sócio da usina, ele ofereceu à Casa da Lavoura para que ocupasse uma sala no
prédio dele. Em resumo, tinha uma sala
que não era de ninguém, uma mesa, eu tinha que andar a pé. Não tinha condução,
não tinha nada. A opção que restava era um sitiante vir me buscar e levar para
seu sítio. Mas ninguém estava interessado nisso. Tinha a cooperativa, dentro da
Usina Bom Jesus. Quando eu produzia muda, plantei uma fileira de palmeiras
imperiais em frente a Usina Bom Jesus. Depois de algum tempo eu ia de Lambretta
para lá. Estrada de terra. Um dia que choveu muito não cheguei. A roda empastou
de lama. Decidi sair, pedi demissão em Xiririca, meu irmão Raul, tinha se
formado agrônomo, foi para lá onde ficou o resto da vida.
O senhor voltou à
Piracicaba?
Voltei,
decidi adquirir um sítio. O Bellato substituiu o Dante. Ele foi ótimo, ele
gostava desse entrosamento com as famílias. Foi excelente. Adquiri um sítio em
Tupi, eram 15 alqueires, adquiri junto com O Esmani Junqueira Dias e outro
sócio era o João Fleury, ambos meus cunhados. Adquiri para fazer mudas, comecei
a fazer mudas de laranjas, uma área que eu tinha bastante conhecimento. Cheguei
a ter de 40 a 60 mil mudas de laranja. Em paralelo comecei a plantar mudas de
rosas eu trazia de uma localidade próxima a São Paulo.
O clima aqui é bom para esse tipo de
cultivo?
Roseira e
laranja vai bem no mundo inteiro. Fazia a enxertia. Tinha uma coleção de
plantas e laranjas para tirar borbulhas e fazer enxertos. Naquele tempo era
obrigado a ter árvores selecionadas, de origem conhecida, vendidas pelo governo
e o governo fiscalizava. A Casa da Lavoura ia a cada três meses verificar se as
plantas estavam de acordo com as normas. As minhas plantas eram garantidas pela
Casa da Lavoura. A primeira viatura que adquiri era mais velha do que eu, era
uma caminhonete Chevrolet, 1927. Depois tive uma Kombi. Nesse meio de tempo o Prof. Felipe Westin Cabral de Vasconcelos convidou-me para trabalhar com ele, na ESALQ. Isso foi em
1960. Entrei como professor assistente convidado. Após quatros tinha que fazer
um concurso para ser professor assistente. Fui professor adjunto. Fui livre
docente e depois professor titular na horticultura. Finalmente tornei-me
professor catedrático. O Heitor
Montenegro foi para a FAO- Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura onde ficou um tempo. Trabalhei
bastante tempo com o Professor Dr. Jairo Ribeiro de Mattos.
O senhor aposentou-se
quando?
Aposentei-me
como professor titular em 1990.
O senhor foi Presidente
do Lar dos Velhinhos?
Entrei com o
Jairo Ribeiro de Mattos em 1971, permaneci até 2.000. Ocupei os mais diversos
cargos dentro da instituição, inclusive a de Presidente do Lar dos Velhinhos.
Foto by J.U. Nassif
Foto by J.U. Nassif
A ESTAÇÃO: Cordeiro, ou Cordeiros,
era um lugar perdido perto da histórica Fazenda Ibicaba que acabou sendo
escolhida para ponto de saída da estrada do Mogy-Guassú, mais tarde
chamado de ramal de Descalvado, porque, apesar do seu isolamento,
apresentava condições técnicas mais favoráveis para a saída da nova linha. A
estação foi inaugurada em 11 de agosto de 1876, no mesmo dia da abertura da
estação de Rio Claro, como um barraco de madeira, como a maioria das estações
daquele tempo. Seu nome viria da existência por ali de cordeiros - ou seja, fabricantes de cordas,
embora hoje em dia se aceite como mais provável a herança do nome, pela
estação, da antiga fazenda Cordeiro. Mesmo com o isolamento, somente
cinco anos mais tarde se pensou nos funcionários do local, de acordo com o
relato de 1881: "Em Cordeiro tambem se construiu um rancho de madeira
para os empregados dalli, visto não haver commodidade alguma naquelle logar".
Dois anos depois, construiu-se um botequim na estação - não seria este ainda,
no entanto, aquele que foi conhecido pelos freqüentadores da estação até os
anos 1990. Em 1914, o prédio foi reformado e ampliado, ganhando um botequim
novo em forma de quiosque, no centro do triângulo formado pelo prédio da
estação e as plataformas de embarque de cada uma das duas linhas. O quiosque
tornou-se famoso pela sua beleza e arquitetura. Cordeiros tornou-se, então,
mantendo basicamente o mesmo prédio de 1883, uma das estações mais belas da
Paulista. Em 1916, com a modificação das linhas de bitola larga da Paulista,
continuou como uma estação do tronco principal, mas a linha para Descalvado se
tornou a partir daí o ramal de Descalvado, e o tronco seguia para Rio
Claro e São Carlos. Nos anos 1940, a cidade emancipou-se com o
nome de Cordeirópolis. A partir de fevereiro de 1977, os trens de
passageiros para o ramal de Descalvado não circularam mais. Cordeirópolis
continuou a atender os passageiros do tronco, com a estação seguindo ativa até
1995. O abandono pesado veio em seguida. Mesmo embarcando uma quantidade muito
diminuta de passageiros até março de 2001, quando passou por ali o último trem
de passageiros da nefasta Ferroban, o prédio foi sendo invadido aos poucos por
mendigos, que causaram dois grandes incêndios, um, em 1993, que destruiu
totalmente o belo quiosque de madeira, e teria sido causado por um funcionário
da Fepasa descontente, e outro em 1995, depois do fechamento da estação no
início de abril, que destruiu o interior da casa de controle, do outro lado da
plataforma em relação ao prédio da estação. Aliás, ainda pode se ler no dístico
pintado na casa de controle, o nome Cordeirópolis, e, por baixo dele,
apagado, o nome antigo: Cordeiro. Sem portas e janelas, e um prédio
totalmente vazio e depredado, a estação de Cordeirópolis parece gritar
por socorro para cada trem que passa por ali (Do livro de Ralph
Mennucci Giesbrecht - "Caminho para Santa Veridiana" - Ed. Cidade,
2003). Em fevereiro de 2004, a Prefeitura acertou a compra do prédio, já
nas últimas, com a Rede Ferroviária Federal, sua proprietária desde a extinção
da Fepasa, em troca das dívidas existentes. No entanto, desde então, a estação
está cada vez mais em frangalhos. Alguns edifícios do imenso pátio foram
recuperados. O belo e histórico prédio da estação e a cabine de controle, bem
como o armazém das locomotivas, não foram. Notar que o prédio da estação de Cordeirópolis
é o mesmo, com algumas reformas, desde a inauguração da estação, em 1876. É ele
o prédio de estação mais antigo das linhas da hoje extinta Companhia Paulista.
Ao que tudo indica, o milagre esteve perto: em 2009, começaram obras para a
restauração do prédio da estação. Mas logo pararam e a estação degradoi-se mais
ainda. Em novembro de 2014, a estação estava cercada, de forma a restringir o
acesso de vândalos. Porém, continua do mesmo jeito, abandonada e arruinada.
Ralph Mennucci Giesbrecht