domingo, março 14, 2010

MARCIO ANTONIO STANKOWICH

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 05 de dezembro de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/

ENTREVISTADO: MARCIO ANTONIO STANKOWICH

Trazido em 1856 para o Brasil, pelo precursor Pedro Stankowich, atualmente é coordenado por Antonio Stankowich, sua esposa Miriam e os filhos Adriana, Márcio e Marlon, que construíram uma grande companhia considerada por críticos e empresários circenses como sendo um dos maiores circos da América Latina. São seis gerações empenhadas em manter viva a tradição do Circo Stankowich, a companhia mais antiga do Brasil. Para iluminar esta cidade viajante são necessários 10 km de cabos de eletricidade, projetores especiais para o picadeiro que possibilitam a realização de efeitos especiais. O circo também usa um gerador de eletricidade de emergência com uma saída de 150 quilowatts de força. O sistema de som tem 5 mil watts totalmente digital. No transporte, o circo utiliza 23 carretas, 35 trailers-moradia dos artistas, oito cavalos mecânicos (caminhões) que viajam por todas as estradas carregando cerca de 800 toneladas de equipamentos. A montagem da grande estrutura do circo leva apenas 8 horas. . Para acomodar tal estrutura é preciso um terreno de 30 mil metros quadrados. A montagem do circo leva apenas 8 horas. A gigantesca lona é antichamas e resiste a ventanias e temporais, trabalham no Circo Stankowich 155 pessoas, entre artistas e outros profissionais como administradores, publicitários, equipe de som e luz, técnicos, camareiros, motoristas, mecânicos, ajudantes e técnicos especializados para montagem. Com capacidade para 2000 pessoas que se acomodam com todo conforto e segurança, o Circo Stankowich também possui uma bela praça de alimentação acarpetada e que oferece uma ampla variedade de produtos. O Circo Stankowitch realiza cerca de 500 shows e não utiliza animais em suas atrações recebe anualmente mais de 130 mil pessoas. De origem romena, o Circo Stankowich mantém uma tradição na qual a arte circense vem transmitida de geração para geração. Em 1856, Pedro Stankowich chega ao Brasil somente com os animais amestrados, pois tinha perdido o circo que naquela época já existia na Romênia.. Juntamente com várias famílias circenses vieram para São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. No estado de Minas Gerais, a família ficou numerosa e teve que se dividir porque era difícil todos trabalharem juntos. Ao chegarem a Soledade, uma pequena cidade do Rio Grande do Sul, Constantino Stankowich, filho de Pedro Stankowich, conheceu Aurora que era professora na sua cidade. Ela tinha 21 anos quando o circo passou por ali, se casaram e seguiu com o circo. Antônio Stankowich, um dos filhos de Constantino e Aurora Stankowich, nasceu em 1935, na cidade de Guaíba, Rio Grande do Sul, faz parte da quarta geração da família Stankowich. Foi acrobata, malabarista, trapezista, equilibrista e palhaço com o nome de "Lamparina", nome esse herdado de avos e tios. Aos 23 anos teve o privilégio de ser o diretor e proprietário do circo, incumbido de ser responsável pela família e pelos funcionários. Ao passar do tempo, para que o circo não morresse, contrataram artistas para a segunda parte com altos dramas, além de grandes shows de rádio e televisão. Nessa época tratava-se de um circo de médio tamanho. São 6 gerações empenhadas em manter viva a tradição do Circo Stankowich, a companhia mais antiga do Brasil. Possuí uma grande estrutura empresarial e familiar que mantém a magia do circo da infância, mas também acompanha o dinamismo dos novos tempos..Nestes muitos anos trilhando as estradas deste país, tem muitas historias para contar, lembranças incríveis que revelam um pouco do povo de cada parte do país, um público que valoriza e ama a arte circense. Nas inúmeras viagens, não levam apenas uma gigantesca lona, toneladas de equipamentos e muitas pessoas que vivem pela arte, mas carregam principalmente, muitos sonhos ideais e um desmedido amor pelo trabalho. O amor pelo circo é um mistério para quem nunca viveu a sensação mágica de subir num picadeiro, uma incógnita para quem pretende decifrar o olhar satisfeito de um artista quando realiza seu numero. Para acomodar tal estrutura é preciso um terreno de 30 mil metros quadrados.
Marcio Antonio Stankowich você nasceu onde?

Em Nilópolis, Estado do Rio de Janeiro, terra da campeã do carnaval do Rio de Janeiro, Beija Flor de Nilópolis. Flamenguista de coração. Nasci a 20 de janeiro de 1960. Sou filho de Antonio Stankowich e Altamira da Silva Stankowich. O Circo Stankowich neste ano de 2010 comemora 170 anos de vida! A minha família permaneceu no porto Rio Grande no Rio Grande do Sul. Foi uma época em que as famílias que tinha condições financeiras fugiam da Europa, quem não tinha meios acabava morrendo lá. Quando eles chegaram ao Brasil passaram a trabalhar como saltimbancos, em praças públicas. Temos a documentação referente á época. Hoje possuímos outra unidade de circo, que está no momento no Vale do Paraíba. Esta que trouxemos á Piracicaba, Rio das Pedras e que se apresentará neste sábado em Santa Terezinha é uma unidade com apenas seis anos de existência.
Hoje você é representante da classe dos artistas de circo no Brasil?

Já por seis anos sou representante do Circo de Lona junto ao Ministério da Cultura.
 
                                                               

Qual é a principal atração de um circo?
Até hoje são os animais. Philip Astley é considerado o pai do circo moderno. Ex-integrante da cavalaria do Exército inglês aplicou as rígidas regras do quartel a seu novo negócio, inventou o picadeiro e juntou nele números com seus cavalos, palhaços, malabaristas e outros artistas que costumavam se apresentar nas feiras das cidades para ganhar a vida. As apresentações com o uso de animais remontam os tempos de Nero, da própria China. Eu faço parte do Colegial Setorial de Circo, teremos a Segunda Conferencia do Congresso Nacional de Cultura, teremos lá representados os setores de teatro, dança, música. Represento o setor do circo. Estamos lutando para o circo ter melhores condições legais, maiores condições de vida, para que seja tombado como patrimônio histórico. Para que haja áreas destinadas á recepção de circos, que alguns prefeitos tenham um respeito maior. Quando não havia televisão, rádio, o circo era a grande atração. Hoje abandonaram um pouco o circo.

Mas é emoções diferentes, um espetáculo de circo ao vivo com relação a outros meios de diversão!

Por determinação dos pais e responsáveis, as crianças acabam permanecendo presos, enjaulados dentro de casa! Eu sou suspeito para falar sobre o circo, mas é uma emoção que o artista passa através de sua arte, da sua alma.
 
                                                              
O senhor é um estudioso da arte circense?

Procuro me informar muito sobre o assunto, uma das grandes fontes são as pessoas com mais tempo de vida dentro do circo. São verdadeiras enciclopédias. Contam histórias que trazem muita emoção. Hoje temos trailers que são verdadeiras casas ambulantes, com ar condicionado, água quente, água fria, chuveiro, forno microondas, banheiro, DVD. Antigamente moravam em barracas, na época nem a disponibilidade de tratores era fácil. Vinham pela estrada Rio-Santos com os Ford 29, hoje são utilizadas carretas. Naquela época os artistas viajavam em cima dos caminhões, pegando poeira no rosto. Hoje está tudo mais fácil.

Quanto mede a lona desta unidade do circo?
São 52 metros, comporta 1500 pessoas.
Se a mídia divulgasse melhor a arte circense haveria maior freqüência?

Tivemos uma campanha onde era dita a frase ”Receba O Circo De Braços Abertos”. Foi veiculada uma campanha com a participação de Tarcisio Meira, Glória Menezes, Renato Aragão, Cid Moreira, procurando incentivar a participação do público junto aos espetáculos circenses, considerados uma forma de arte. O Ministro Juca Ferreira, o próprio Presidente Lula, estão incentivando a arte. Resta a dúvida de que se após o término do mandato haverá continuidade no sentido de incentivo ao circo.
 
 
                                                                        
 

O seu circo anda pelo Brasil todo?

Não só pelo país como pela América do Sul. Já levamos o circo á Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile. A receptividade é muito boa.

Fora dos grandes centros brasileiros a receptividade ao circo é maior?

Por incrível que pareça, hoje no Estado de São Paulo deve estar rodando mais de 250 circos! Existem muitos circos ruins com boas propagandas. As pessoas são induzidas pela propaganda, como você paga antes de saber o produto que irá ver poderá ter uma decepção. O Stankowich leva um publico bom porque estamos sempre lutando para manter um alto nível de qualidade.

Qual é a tradução para a palavra Stankowich?

O meu avô falava que significava espingarda em iugoslavo.

Quais atividades você exerceu como artista no circo?

Como a minha família, todos exercemos atividades artísticas, meu pai hoje tem 74 anos de idade, ele foi palhaço, malabarista, domador, trapezista, mágico, acrobata. Eu e meu irmão também seguimos essas carreiras, fomos palhaços, trapezistas, malabarista.

Qual era seu nome como palhaço?

Chelito! Não sei nem o quer dizer isso!

Qual é a atividade mais difícil dentre essas?

A mais difícil é dirigir um circo. O palhaço é uma das profissões mais difíceis. Muitas vezes a pessoa tem problemas de natureza pessoal, mas ela tem que rir e fazer com que a platéia ria! Para fazer o ser humano dar risada é difícil, fazer chorar é fácil.

Seus filhos estão seguindo a carreira circense?

Dos meus quatro filhos, três estão seguindo a profissão no circo, um não está, talvez por ser ainda muito novo, tem apenas quatro anos de idade.

O que atrai na arte do circo?

Aprendemos desde criança a trabalhar no circo, fazemos amizades, aparecem os filhos, os ensinamos, acaba sendo uma atividade para a qual fomos qualificados.

O profissional do circo tem reconhecimento profissional pela legislação trabalhista?

O domador, o malabarista, o palhaço tem suas funções reconhecidas pela CLT. Existe até uma situação peculiar, o domador tem sua profissão reconhecida, porém não pode exercer sua função pela proibição de existir animais no circo.

Qual é o critério para escolher o local onde irão montar um circo?

Estivemos em Piracicaba, teremos que esperar no mínimo oito ou dez meses. Quanto maior for o intervalo para a montagem entre um circo e outro melhor será o resultado. As épocas ruins para circo são novembro, dezembro, janeiro, fevereiro. Há a interferência de chuvas, férias escolares.

Na praia há muita procura pelo circo?

Depende muito da praia. Já foi muito bom, o horário de verão permite que o banhista permaneça maior tempo na praia.

O diretor de circo tira férias?

Não. Nunca.

O custo do ingresso para o circo é acessível?

Já faz uns 10 anos que não aumentamos o valor do ingresso.

Você já chegou a propor a bolsa-circo?

Algumas empresas estão lançando o ticket circo. Já saiu a lei. As empresas irão comprar uma quantidade de ticket e doar aos funcionários. É um ticket cultura que poderá ser utilizado em cinema, teatro e até circo.

Dizia-se que fulano tinha fugido com o circo quando ele ia embora da cidade. Como é isso hoje?

As coisas mudaram muito. Se um menor engaja-se a um circo as conseqüências para o responsável pelo circo certamente serão muito graves. Hoje só trabalhamos com elementos profissionais, não há espaço para amadores. Os maiores trapezistas que se apresentam na Europa saíram do Brasil, inclusive três sobrinhos meus, os irmãos Marcelo, Marlon e Alex que formam o grupo de trapezistas Flying Michaels em janeiro conquistaram um troféu Clown de Prata no 34o Festival Internacional de Circo de Monte Carlo, o prêmio do Flying Michaels foi entregue pela princesa Stéphanie. Esses meninos saíram do Stankowich.

O palhaço é ladrão de mulher?

Isso é folclore. Houve uma época em que os palhaços tinham que ser bonitos, olhos verdes. O palhaço sempre chamou a atenção em um circo. O palhaço é um ponto principal. As moças ficavam admiradas. Nós temos engolidores de espadas. Já tivemos homem-bala, estamos pensando em reativá-lo.

Pessoas importantes que já estiveram no Circo Stankowich?

Quando fazemos grande captais temos a presença de artistas famosos. A Xuxa já veio assistir a um espetáculo. Zezé de Camargo e Luciano. Geralmente eles ligam para deixarem os lugares reservados entram com a luz apagada, muitas vezes sentam-se usando um boné. O Marcos Frota trabalhou muito tempo no nosso circo. Os Trapalhões trabalharam com a gente. Roberto Carlos começou no nosso circo. Silvio Santos trabalhou conosco, Carlos Alberto da Nóbrega, seu pai Manoel da Nóbrega. Tonico e Tinoco, Milionário e José Rico, Chitãozinho e Xororó, Nhá Barbina. Gugu Liberato fazia o Show Viva a Noite no Stankowich, isso foi na época em que um dos planos econômicos congelou os recursos de praticamente todo mundo. Lima Duarte era de circo. Zé do Caixão, Chacrinha, Jerry Adriani, Erasmo Carlos, Sérgio Reis, Nelson Ned todos esses artistas trabalharam no Circo Stankowich. Nelson Ned era espetacular, vinha no circo, sentava no colo da minha avó e a chamava de mãe!






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