terça-feira, setembro 01, 2009

"A diferença entre o dinheiro miúdo e o dinheiro graúdo é que este, naturalmente, fala mais alto."
Millôr Fernandes

“Pesquisa propõe sustentabilidade ambiental em pólo moveleiro”

A partir da estruturação dos
Arranjos Produtivos Locais (APL) Madeira-Móveis em diversas regiões do país, as indústrias moveleiras começam a se articular para discutir os principais desafios comuns
que precisam enfrentar para elevar o crescimento do setor. Dentre eles, a questão da sustentabilidade ambiental como valor corporativo tem sido indicado como
um dos mais importantes, tanto para reduzir as perdas e os riscos na atividade, como para aumentar a rentabilidade e atingir
novos segmentos de mercado.

Com objetivo de mapear o processo de desenvolvimento de produtos no setor moveleiro, a
designer Patrícia Azevedo concluiu a pesquisa. “Estratégias e requisitos ambientais no processo de desenvolvimento de produtos na indústria de móvel sob encomenda”. Orientada pelo
professor Geraldo Bortoletto e com a co-orientação da professora Adriana Nolasco do departamento de Ciências Florestais da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Patrícia fez um estudo de caso em
18 empresas do pólo moveleiro de Itatiba/SP.

O estudo promoveu uma análise descritiva e qualitativa fundamentada em ferramentas de ecodesign para o processo de
desenvolvimento de produtos (PDP). A análise abordou os três níveis de decisão nas empresas: diretoria (planejamento estratégico), designer (planejamento de projeto
) e gerente de produção (produção).

Segundo a pesquisadora, na década de 1980 Itatiba foi considerada a capital do móvel no Brasil e, de lá pra cá ela
perdeu essa característica por alguns fatores. “Os móveis produzidos ali são da linha colonial, utilizam madeira maciça, proveniente no norte e nordeste do
País. Com as mudanças na legislação ambiental, as empresas do Pólo de Itatiba passaram a enfrentar entraves legais no que se refere à extração e transporte do material”. Além
disso, a designer lembra que a massificação da produção moveleira, na qual temos um produto menos durável, feitos a partir de painéis de aglomerado
ou MDF, barateou a produção. “Há uma mudança de comportamento do consumidor, que passa a preferir móveis mais baratos, ainda que
sua durabilidade seja bem menor e mesmo que não apresente o viés da exclusividade”.

Os resultados da pesquisa
indicam que os fatores econômicos ainda ditam a forma das empresas responderem às questões ambientais, buscando continuamente adequação às leis e regulamentos ou a redução dos custos de
produção, principalmente por se tratarem de micro e pequenas. Além disso, a ausência planejamento de negócios ou uma organização administrativa estruturada dificulta a
inserção de requisitos ambientais no PDP. Além da falta de profissionais capacitados na área de desenvolvimento de produtos propiciando o aumento das dificuldades em estruturar o setor
. “Algumas acreditam que já fazem aproveitamento das sobras, confeccionando puxadores de gavetas, tábuas de carne e faqueiros, etc. Mas o bom planejamento
é aquele que considera o conceito da redução das sobras e não simplesmente continuar reaproveitando. O ideal é planejar para não sobrar”. O
baixo nível escolar desses profissionais é um fator que dificulta o aprimoramento das estratégias de planejamento e o aperfeiçoamento da produção. Há na maioria dos casos
apenas a reprodução de um desenho trazido pelo cliente em um recorte de revista, mas raramente existe um questionamento
do melhor uso da matéria prima. “É nessa falta de planejamento que se encontram as perdas. Pedaços de mogno usados em parte
estrutural, sendo pintados de branco e ou empregados em local em que não se aproveitaria o aspecto estético da madeira
maciça”, comenta Patrícia.

Como retorno aos produtores de móveis, a pesquisa propõe que as empresas passem a atuar dentro de uma estrutura
empreendedora e que empreguem requisitos ambientais em seu planejamento. Uma das questões levantadas foi a atuação do projetista. “Se o profissional responsável por essa função tiver a mínima
formação na área de desenvolvimento de produto, ele consegue perceber logo no projeto maneiras de interferir na idéia de modo a
reduzir perdas com um simples planejamento de corte dos painéis ou peças maciças, estudo da qualidade do material, do tipo
de encaixe ou junção, o emprego de adesivos químicos menos tóxicos”, pondera a autora do trabalho.

A pesquisa indica que
o planejamento estratégico daria subsídios para que os produtores se informassem de maneira clara sobre a minimização de sobras. “Uma das empresas, por
exemplo, faz doação das sobras para uma panificadora, mas acontece que nessas sobras encontramos MDF, que concentra substâncias tóxicas do seu processo de produção
e, ao ser queimado, acaba liberando essas toxinas a céu aberto”, conta Patrícia Azevedo.

Finalizando, a pesquisadora enviou um relatório individual para
cada empresa, tanto para as que contam com 180 funcionários, quanto para aquelas que tocam suas atividades apenas
com 3 pessoas da mesma família. “Nas informações repassadas procuramos destacar a importância de atuarem de forma planejada, avaliando todo o processo, desde a origem da
matéria prima até o descarte final. A intenção era trabalhar o conceito de que é possível obter o mesmo
rendimento a partir da preocupação com seu entorno e com o emprego de estratégias de sustentabilidade ambiental. Para esses produtores, essa é uma postura
que contribui inclusive com a imagem do seu empreendimento, podendo aumentar sua cartela de clientes. É possível criar benefícios
praticando apenas algumas alterações de conduta. Esse foi o grande desafio da pesquisa”.

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