terça-feira, junho 02, 2009

Sidney Aldo Granato



PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF Jornalista e Radialista joaonassif@gmail.com
Sábado, 30 de maio de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/ http://blognassif.blogspot.com/ ENTREVISTADO : SIDNEY ALDO GRANATO


Sidney Aldo Granato é um dos mais antigos, constantes e versáteis colaboradores do Lar dos Velhinhos de Piracicaba. Tem contribuído por mais de 20 anos como procurador, advogado, presidente do Conselho, tesoureiro e secretário da diretoria. Sidney é carismático, transmite uma energia contagiante. Fiel a sua origem, cultiva hábitos simples. Extremamente discreto, colabora de forma totalmente anônima em benefício daqueles que são verdadeiramente necessitados. Nascido a quatro de agosto de 1941 em Piracicaba, no bairro da Paulista, á Rua Dr. João Conceição, sendo que viveu a boa parte de sua vida na casa de número 696 da mesma rua. Casado com Antonia Dirce Pandolfo Granato.
Como se chamavam os pais do senhor?
Meu pai se chamava Demétrio Granato e minha mãe Josefa Domingues Granato. Somos cinco irmãos, quatro homens e uma mulher. Meu pai era ferroviário da Companhia Paulista de Estadas de Ferro, seu cargo era de auxiliar de manutenção de locomotivas. Isso no tempo da locomotiva a vapor.
O senhor chegou a conhecer a locomotiva a vapor?
Eu brinquei na locomotiva a vapor! A nossa maior festa era subir na locomotiva, ver onde tinha o tanque de água, o local onde se colocava a lenha, abria a fornalha. Existia um dispositivo circular, com um trilho que ficava exatamente no nível da linha férrea, era o viradouro. (N.J. Era conhecido também como rotunda). A função era de virar a locomotiva a vapor, colocando-a no sentido contrario ao que tinha chegado à estação, esse trabalho era manual, esse dispositivo ficava na direção do embarcadouro de gado.
Quando o senhor iniciou os seus estudos?
Naquela época aos sete anos de idade era possível ir ao grupo escolar, foi com essa idade que eu fui estudar no Grupo Escolar João Conceição, situado ao lado da Igreja dos Frades, na Rua Alferes José Caetano, o prédio existe até hoje. Onde existe uma construção com três andares, havia um salãozinho onde eram passados filmes para a criançada, era promovido pela igreja. Assisti a um filme, onde o bandido tinha dado um tiro, aquilo me marcou tanto que meus irmãos tiveram que realizar um grande esforço para que eu voltasse a assistir outro filme novamente.
Lembra-se da “Missa do Galo”?
Era a missa da meia noite. (N.J: Tradicionalmente, a missa celebrada na véspera do Natal é denominada Missa do Galo, que deve acontecer a meia-noite do dia 24 de dezembro). Depois que saíamos da missa é que nos fartávamos de comer.
O senhor guarda muitas lembranças da Paulista?
Eu nasci ali, vivi ali, hoje estou um pouco mais afastado, estou no Jaraguá, mas continuo vivendo na Paulista. É bom que se diga uma coisa: oficialmente não existe o bairro da Paulista! Dizia-se que era a Vila Dr. João Conceição e mais tarde, dizia-se que era a Vila Nazareth. Paulista mesmo, oficialmente não existe. O nome deve ter a sua origem com a estação que era ali. Quem manda é o povo. É o povo quem diz. Então a Paulista existe! No conhecimento popular a Paulista era da Avenida Dr. Paulo de Moraes adiante, sentido bairro. É bom que se diga que a Avenida Dr. Paulo de Moraes não descia no sentido da ponte, ela era interrompida na Rua do Rosário. Ali tinha os barracões que eram os depósitos de café da Chácara Nazareth, ficava exatamente onde hoje passa a Avenida Dr. Paulo de Moraes. Eu ia lá, nesses barracões, onde era a sede do Jaraguá Futebol Clube, havia algumas mesas, uniformes, taças. Isso foi nos anos 50.
Onde hoje existe um posto Petrobras, já havia um posto de gasolina?
Era o posto construído pelo Joane Cantagalo. Ele tinha uma fábrica de vassouras chamada Cantagalo, que tinha um galo desenhado como logotipo.
Onde era a Alvarco como era na época?
Era um pasto só, com uma casinha de tábua, lá funcionava uma carvoaria de propriedade de Joel dos Santos, eu brincava com os filhos dele. Havia o embarcadouro da Paulista. Após o embarcadouro havia um fim de linha, reforçado. Subindo ali, conseguíamos ver o Rio Piracicaba.
A Serraria do Galesi o senhor conheceu?
Antes da serraria do Galesi, existiu ali uma fábrica de carretel. Lá eram feitos carretéis, a madeira utilizada era o guatambu, que mais tarde foi utilizada para fazer tamancos de madeira, o Heitor de Melo também conhecido como Pé de Ferro trabalhou nessa fábrica de carretel. Na Avenida Dr. João Conceição havia uma casa, que chamávamos de casarão, essa construção interrompia metade da rua. Por ser rua de terra, quando chovia o trânsito era quase impossível. Para passarmos, íamos dependurados na cerca da Estrada de Ferro Paulista. Pisávamos no arame, para não pisar no barro. Mais tarde a cerca foi feita com umas pranchas de peroba, isso tirou o nosso privilégio. Logo depois o casarão foi demolido. Ele ficava na esquina com a Brasílio Machado.
Existe um barracão na Avenida Dr. João Conceição, que hoje está sendo reformado?
Ali funcionava uma fundição. Até algum tempo conseguíamos ver escrito na parede: A. Langriney. Era o nome da empresa. Segundo o que se dizia na época, foi utilizado sal na massa do reboco, era muito comum vermos cabras lambendo os tijolos e o reboco!
Ao lado, na Rua Sud Mennucci havia uma escolinha?
Essa escolinha era de responsabilidade da Companhia Paulista. A propriedade era do sindicato dos trabalhadores da companhia. Lembro-me de uma senhora que morava ali, Dona Noca, era uma pessoa fabulosa.
Qual era o cargo exercido pelo pai do senhor na Companhia Paulista?
Ele trabalhava na manutenção de locomotivas, as locomotivas eram alimentadas a lenha. Elas carregavam uma quantidade de lenha na parte posterior, a pessoa que conduzia a locomotiva era o maquinista, outra pessoa era o foguista, que alimentava a locomotiva com lenha. A locomotiva ia até Nova Odessa, em Nova Odessa já era eletrificada. Em seu retorno a Piracicaba era feita á descarga das cinzas e do carvão que ficava na caldeira, perto do viradouro tinha uma construção reforçada, eram duas paredes em forma de “V”, ali era feita sob pressão a descarga dos resíduos que ficavam na caldeira da locomotiva. Lamentavelmente meu pai estava passando de lado da locomotiva quando ocorreu á descarga, ele teve o braço esquerdo totalmente queimado. Sabe com o que nós tratávamos: com arnica e azeite. Ás vezes com pomada Beladona.
Qual foi a primeira linha de ônibus de Piracicaba?
Era o ônibus circular. Subia pela Rua Boa Morte, vinha até a Rua José Ferraz de Carvalho, seguia até o início da Avenida Independência, que na época era uma pista só e de terra. Ia até a Rua XV de Novembro, descia pela Rua XV, e voltava no abrigo. Mais tarde passou a ter duas linhas, uma fazia o mesmo percurso no sentindo inverso. Não havia mão de direção. Todas as ruas eram utilizadas em ambas as direções, não havia mão única. Os primeiros ônibus eram as jardineiras, com os motores sobressaindo na frente. Mais tarde vieram os outros ônibus, que nós chamávamos de Gilda, era o “Girdão”! Era o ônibus cara chata, não havia o motor exposto. Era comum a molecada perguntar para quem ia tomar o ônibus: “-Vai tomar o Girdão?”.
O senhor utilizava o bonde como meio de transporte?
Eu morava no número 696, vizinho ao Lagostim, ficávamos aguardando o bonde, quando ele ia até a garagem que se situava logo abaixo da Rua Benjamin Constant, na Avenida Dr. Paulo de Moraes, ao lado de onde foi o destacamento do Corpo de Bombeiros. Quando o bonde ia nessa direção, saíamos de casa, íamos até a Rua do Rosário e dava tempo de apanhar o bonde que voltava do seu ponto final. Com o tempo passamos a fazer uma esperteza, atravessávamos o terreno da Estrada de Ferro Paulista. Havia um guarda que tinha a função de impedir a passagem de pedestres pelas linhas. Enganávamos o guarda, enquanto um pulava e ele ia atrás, outro pulava de outro lado, e assim o deixávamos atrapalhado, com isso todos atravessavam. Isso no tempo que usávamos calças curtas!
Onde era o ponto final do bonde da Paulista no centro?
Ele parava na Rua XV de Novembro com a Rua Boa Morte. Ali tinha um cartório. Em frente havia a sorveteria “A Soberana”. Lembro-me quando foi construído o abrigo de ônibus atrás da Catedral, (N.J.: Hoje tombado como patrimônio da cidade.), nós íamos brincar nas obras desse abrigo. O bonde que vinha da agronomia parava em frente a Farmácia do Mattos, mais tarde foi a Droga XV. Atravessando a Rua XV de Novembro, uns 50 metros adiante havia a Farmácia do Tico, ela tinha uma marquise onde nos protegíamos do sol enquanto esperávamos o bonde que ia para a Vila Rezende. Ao lado da Farmácia do Tico havia um imóvel simples, ao lado desse imóvel havia um terreno vazio. Nesse imóvel funcionou a Escola do Sesc.
As crianças na época engraxavam a linha do bonde, como travessura?
Na Dr. Paulo de Moraes, no trecho entre a Rua Governador Pedro de Toledo e a Rua Benjamin Constant, nós colocávamos palito de fósforo na linha do bonde, púnhamos uma fileira de palitos. Como a roda era de ferro no impacto com o palito produzia um estouro, assustando o pessoal que estava no bonde. Outras vezes nós passávamos sabão na linha do bonde, o bonde tinha um depósito de areia, quando o trilho estava muito escorregadio ele soltava um pouquinho de areia.
Qual era o nome da primeira professora do senhor?
Dona Maria Baiana. Muito brava, dizem que ela não gostava que a chamassem por Maria Baiana, parece-me que o nome dela era Bahena. Mas como ela era muito brava, brava mesmo, nós a chamávamos de Baiana. A diretora da escola era Dona Domitila, a minha professora do segundo ano era Dona Estela, o meu professor do quarto ano chamava-se Pedro Negri, por sinal sou colega do seu filho Dr. Pedro Negri. Pelo fato de eu nunca ter repetido o ano, eu não podia prosseguir meus estudos por não ter idade suficiente, a única escola que me aceitou foi o Senai. Na época o Senai ficava na Rua Dr. Otávio Teixeira Mendes, eram prédios antigos, existe uma casa antiga na esquina (em frente á Escola de Musica), que é ainda daquele tempo. Passei a fazer tornearia mecânica de onde fui transferido para a marcenaria. É muito bonito pegar a madeira bruta, e construir algo. Formei-me em marcenaria em 1957, foi á primeira turma que se formou no prédio novo, que existe atualmente. O meu número durante o curso era G 56, G de Granato. É interessante observar que a planta de marcenaria era feita na escala natural, ou seja, 1:1, o tamanho da planta é o mesmo do objeto a ser construído.
Do Senai o senhor foi estudar onde?
Fui para a Escola Industrial estudar desenho mecânico, foi um curso de quatro anos de duração, tive um professor excelente, o Professor Olavo Ferreira da Silva.
O senhor conheceu Danilo Sancinetti?
Viajamos muito com a Banda Marcial. Ele era um grande amigo. Eu tocava trombone na Fanfarra do Industrial. O uniforme era muito bonito. Quando fomos á São Paulo, passamos uma vergonha tremenda, porque até então o uniforme era uma roupinha branca com um quepezinho azul. Ao chegarmos a São Paulo vimos todas aquelas fanfarras e bandas marciais com aqueles uniformes lindos. Retornando para Piracicaba começamos a trabalhar para fazer um uniforme bonito. O Danilo foi um grande incentivador da Banda Marcial, ele era de Jaú, estive lá. Piracicaba deve muito a Danilo Sancinetti.
Como o senhor conheceu a sua esposa?
Na minha época de mocidade nós quadrávamos o jardim, eram quatro quadras. A primeira quadra virava no sentido da Rua São José para a Rua Moraes Barros, seguia para a Rua Governador, prosseguíamos no sentido da São José onde fechávamos a quadra. Virava outra quadra junto no sentido contrário. Na parte interna do jardim virava uma outra quadra no mesmo sentido dessa primeira. A maior delas, a primeira quadra era de pessoas mais simples. A quadra interna era das pessoas de classe média, e a mais fechada, situada internamente, era a classe dos mais abastados. Não adiantávamos ficar olhando para as mocinhas da quadra interna porque elas nem tomavam conhecimento da gente.
Já havia uma pré-seleção?
Quanto a isso não havia nenhuma dúvida!
E os negros?
Os negros não podiam quadrar jardim. Não que houvesse uma proibição, eles se separavam mesmo. Eles caminhavam pela calçada onde havia a Brasserie, do Banco do Brasil até a esquina da Tabacaria Tupã e de lá até a Rua Governador Eles faziam um “L” que ia e voltava. Eles não quadravam. Com o tempo a Rua Moraes Barros tornou-se um lugar mais luxuoso, havia o Café Haiti que tinha uma freqüência mais selecionada. Nós tomávamos chopp no Bar do Tanaka, na Rua São José. Eu não ia comprar nada na feira, mas ia para encontrar os amigos, ver o movimento, passear. A primeira vez que vi a minha esposa vi na feira que existia na Paulista, na ocasião ela estava carregando um seu sobrinho. Vi aquela mocinha, nossos olhares se cruzaram, era comum quando você visse alguém em algum lugar que você cruzasse o olhar encontravam-se no jardim. Isso era matemático. Em qualquer ponto da cidade que um moço visse uma moça e trocassem aquele primeiro olhar poderia ter a certeza de que no sábado ou no domingo se encontrariam no jardim.
O senhor trabalhou na Esalq?
Fui funcionário admitido através de concurso, trabalhei na Esalq por cinco anos.
O senhor lembra-se de alguma peça que o senhor tenha fabricado nesse período?
Lembro-me, um professor de Entomologia queria fazer um arquivo para insetos, ele pediu três armários com sessenta gavetas cada um, essa gavetas tinham 60 milímetros de altura, a tampa era de vidro. Fiz com cedro, o professor elogiou. Com certeza se você procurar na Esalq irá encontrar essas peças.
Em que ano o senhor casou-se?
Casei-me em 1969 na Igreja dos Frades, celebrado pelo Monsenhor Juliani.
Em que ano o senhor iniciou a faculdade de direito?
Fiz o curso de 1971 a 1975. Sou da terceira turma da faculdade de direito da Unimep.

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