sexta-feira, junho 12, 2009

RARIDADE: ANZÓIS ORIGINAIS INTACTOS HÁ DÉCADAS


ANDRÉ LUIS DOS SANTOS




PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF Jornalista e Radialista joaonassif@gmail.com
Sábado 13 de junho de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO : ANDRÉ LUIS DOS SANTOS

Piracicaba é uma cidade privilegiada. O que a natureza ofereceu, nossos antepassados souberam valorizar. Hoje vivemos um período de grande expansão, o espírito provinciano dá lugar ao pensamento global. Vivemos e atuamos inseridos em uma época onde mais do que nunca o tempo é sinônimo de dinheiro. O piracicabano guarda ainda muito da sabedoria do caboclo, isso de certa forma o resguarda dos malefícios tão em moda nos grandes centros: a doença do pânico, stress, viroses desconhecidas, e tantos outros males bem conhecidos dos que moram em metrópoles. A definição de sagrado refere-se a algo que merece veneração ou respeito religioso por ter uma associação com uma divindade ou com coisas divinas. Não é nenhuma temeridade afirmar que o Rio Piracicaba é sagrado! Embora a Índia possua muitos outros rios sagrados, o Ganges é considerado o rio da vida e da purificação. Para os egípcios havia uma sagrada simbiose entre o Nilo e todos os reinos vivos da Terra. Nada havia na natureza que dele não dependesse. Por muito tempo os rios foram os principais pilares que deram origem às primeiras cidades. Os rios serviram, além de fonte de água para o abastecimento, como importantes artérias de transporte num tempo em que a rede de estradas se encontrava ainda muito rudimentar. As civilizações tinham uma relação com os rios associadas aos ritos de purificação como o batismo, de perdão, de castigo, de vida e morte, passando pela harmonia até as fases subseqüentes que se caracterizaram pelo controle das águas, a degradação e a sujeição dos ambientes fluviais. A pesca que sempre foi uma fonte de alimentação hoje se tornou forma de lazer, é muito popular o jargão: “Tá Nervoso? Vá pescar!”. Caso funcione de forma incondicional, iremos dizimar os peixes e aposentar os profissionais que cuidam da saúde mental. André Luis dos Santos é um entusiasta do Rio Piracicaba, bem como tudo a que se refere á pesca. Nascido em Piracicaba, no dia 1 de maio de 1981, filho de Otávio Paulo dos Santos e Clarice Calderan dos Santos.
Como começou a sua atração pelo rio e pela pesca?
Eu comecei a pescar a partir dos oito anos de idade. Meu tio Hélio Mosquetto, tinha uma chácara no Canal Torto, perto de Ártemis, meu pai já era falecido, então meu tio nos levava para a sua chácara todo final de semana.
Você foi aluno em quais escolas?
Estudei na Escola Infantil Smurfs com a professora Raquel, em seguida ingressei no Colégio Estadual Dr. Jorge Coury.
Você passou a trabalhar ainda bem jovem?
Em 1994 comecei a trabalhar com a Danone, tinha 14 anos de idade, comecei como ajudante de vendas e permaneci trabalhando até abril de 2008, já como vendedor.
Qual foi o primeiro peixe de bom tamanho que você pescou?
Foi no Pesqueiro Ondinhas, consegui pescar um pacu de três quilos. Hoje pescar um peixe de três quilos em um pesqueiro é uma tarefa fácil. Só que existem nesses pesqueiros peixes de até quarenta a cinqüenta quilos, são pintados, pirarara, tambaqui. Em pesqueiros normalmente pesca-se e solta o peixe.
O anzol machuca o peixe?
Existem normas rigorosas estabelecidas pelo Ibama nesse sentido. Ao que consta o peixe fisgado com o anzol correto sofre uma dor por três segundos.
Você pescou no Rio Piracicaba?
Foi a minha escola. Pescava no rancho do meu tio, perto de Ártemis. Pescava sempre de barco. A pesca era feita com vara e molinete. Na vara pegava mandi, lambari, sardella que é um peixe no estilo do lambari, só que um pouco maior e piava.
E o peixe cascudo?
Nunca peguei cascudo na vara. Só em rede e cavo.
Seu pai foi um grande pescador?
Foi! Meu pai morreu pescando. Foi no dia 27 de janeiro de 1985. O rio estava cheio, o barco virou a tarrafa ficou presa na mão dele, ele faleceu por afogamento.
Na sua casa só você gosta de pescaria?
Meu irmão mais velho também gosta de pescar.
Qual é o segredo para ser um bom pescador?
Primeiro ele deve ter o equipamento adequado para o tipo de pesca que pretende realizar. Se for pescar lambari uma varinha de bambu é um equipamento adequado. Se for pescar jaú irá precisar de equipamento pesado. O básico é estar pescando com o equipamento certo. Nunca querer pescar com a linha mais grossa do que a indicada. O peixe irá ver a linha! Se você for para o Mato Grosso, tem que saber em qual rio irá pescar, e saber que tipo de peixe é mais comum naquele rio.
Qual foi o maior peixe que você pegou no Rio Piracicaba?
Foi um pintado de vinte e dois quilos. Fotografei!E tenho testemunhas! Foi perto do Nauti Clube, um local que chamamos de Ilha das Flechas.
Partindo do Mirante, como você pode denominar os locais do Rio Piracicaba?
Mirante, Rua do Porto, Ponte do Morato, Corredeira do Carrefour, Corredeira em frente ao Clube dos Militares, depois vem o Poção dos Navegantes, é o lugar mais fundo do Rio Piracicaba, chega a doze metros de profundidade.
Você já chegou a mergulhar no Poção?
Não! Nem os bombeiros mergulham ali. Sabemos da profundidade pela medição feita por sonar. Depois do Poção vem a Ponte do Caixão, em seguida vêm o Bongue, Ondinhas, o trecho do Pau D`Alhinho que vai até o Nauti Clube, a Ilha das Flechas, Canal Torto e a Ponte de Ferro em Ártemis. Mais adiante tem o Limoeiro, o Paredão Vermelho. O nosso rio não é navegável, quem anda no rio tem os pontos certos já demarcados. Em seguida vem o Tanquã e a Represa de Santa Maria da Serra.
Geralmente quantas pessoas vão a uma pescaria?
Uma pescaria boa é composta por uma turma com dez pessoas. Tem que ser um pessoal bem organizado, o local deve ser abundante em peixe.
O pescador costuma usar algum “combustível”?
Eu não bebo nenhum tipo de bebida alcoólica. Só tomo água e refrigerante. E também não fumo.
Tem aquele tipo de pessoa que usa a pescaria como pretexto para tomar seus drinks?
Têm! Ele usa o motivo da pesca para sair de casa.
Essas pescarias para o Mato Grosso muitas vezes é um motivo para a pessoa sair, passear?
É uma forma de fugir de casa!
Qual é o lugar mais largo e o lugar mais estreito do Rio Piracicaba?
Sem contar a represa, o lugar mais largo é no Ondinhas. E o lugar mais estreito é passando o Clube Militar.
Você já nadou no Rio Piracicaba?
Nadei lá embaixo, no Canal Torto.
Quais são os tipos de vara de pesca?
A de bambu, vara de molinete e vara de carretilha. No molinete a linha corre no espaçador embaixo da vara. Na carretilha a linha corre acima da vara.
Quais são os materiais utilizados para fazer varas de pesca?
Fibra de vidro, fibra de vidro e carbono e fibra de carbono. Ela pode ser maciça, uma única peça, ou oca, para ficar mais leve.
Qual é a sensação de pescar?
É inexplicável! Para quem gosta é maravilhoso!
Quando você sente que o peixe mordeu a isca, qual é a sua reação?
É a ação total! A adrenalina sobe!
Na pesca feita no rio você recolhe o peixe?
Eu costumo pescar e soltar. Principalmente no Rio Piracicaba, que é um rio que já tem um pouco de poluição, é meio difícil de comer o peixe, ele tem um sabor diferente. Quando vamos ao Mato Grosso cada pescador traz um peixe.
Os peixes que são servidos na beira do Rio Piracicaba são do próprio rio?
Eu acho que não tem mais peixes desse tipo no rio.
Na Ponte do Morato ficam várias pessoas pescando, que tipo de peixe eles pescam?
Pegam lambari, piaba, dourado, piapara. A piapara tem a carne mais saborosa, é um peixe que viaja muito na água, vem de longe, o gosto é diferente, é bom.
Você já comeu sashimi?
Já. Não gosto. Prefiro peixe frito. O peixe assado é muito bom, mas para meu gosto prefiro o peixe frito.
Em alto mar você já realizou alguma pescaria?
Só uma vez, e passei mal. O peixe é que passou bem!
Existem iscas especiais?
Cada tipo de peixe tem uma isca própria. Você pode estar pescando hoje um jaú, utilizando um minhocaçu como isca, amanhã com a mesma isca você já não pega mais, tem que mudar a isca. Cada dia ele quer uma coisa diferente. Todos os peixes são assim.
Ele não repete o cardápio?
Não! Ele muda muito. Depende da temperatura da água, da cor da água. Altura da água, se o rio está cheio ou está baixo. Quanto mais limpa for a água é mais difícil pescar. Ele enxerga o anzol.
E com chuva?
Não muda muito.
O pessoal põe uma série de artifícios para pesca, funciona?
São as miçangas. Funciona sim. O peixe gosta de cor. O tucunaré que é um peixe muito agressivo ele gosta de cor azul, verde limão, amarelo.
Você já pegou piranha alguma vez?
Bastante! No Rio Paraguai. Fizemos caldo de piranha na chalana, é maravilhoso. Os dentes dela parecem uma navalha.
Quais são os peixes mais perigosos dentro do rio?
A piranha, a arraia é a criatura mais perigosa do rio. Existe arraia de várias cores, preta com bolinha branca, ela é bem parecida com a arraia marítima. Ela tem um ferrão no rabo. Se pisar nela em vinte e quatro horas pode matar.
A pescaria deve ser feita usando botas?
É necessário estar sempre calçado. Isso impede que se pise em arraia, em ferrão de pintado, de jaú, caco de vidro, anzol, é necessário estar sempre usando calça, camisa de manga cumprida, por causa de pernilongos, e usar luvas.
Porque se devem usar luvas?
Por causa dos peixes grandes. Para manuseá-lo é mais fácil.
Qual é o tempo médio de duração de uma pescaria?
Uma pescaria boa implica em cinco dias de pesca. Fomos a uma no Rio Coluene, na bacia do Rio Xingu, são dois dias de ida e mais dois dias de volta. Lá que tem os famosos borrachudos que furam até calça jeans.
No período da piracema posso pescar em alguma cachoeira?
Em nenhuma cachoeira é permitida a pesca nessa época. Nem em cima de ponte é permitida a pesca.
Para pescar é necessário ter alguma licença?
É necessário ter a licença amadora de pesca.
Qual é a principal exigência para ser pescador profissional?
É viver exclusivamente da pesca artesanal.
Quando você pesca quem limpa o peixe?
Eu mesmo limpo, na própria água do rio. Os detritos dele são comidos por outros peixes.
Você costuma trazer o peixe com a cabeça?
Se for uma pescaria no Mato Grosso você não pode cortar a cabeça, ao passar pela barreira ambiental, um jaú tem que medir no mínimo noventa centímetros. Se você cortar a cabeça já perde no mínimo trinta centímetros. A cabeça também caracteriza como a pesca foi realizada, se foi com rede ou outro meio, sendo que a pesca só é permitida através do anzol.
Você tem em sua loja duas enormes cabeças de peixe, embalsamadas, quem fez esse trabalho?
As duas cabeças são de jaú. Um deles pesou 54 quilos, e o outro 28 quilos. O maior foi pescado no Rio Paraguai e o menor no Rio São Lourenço. Nenhum deles foi pescado por mim. Esse trabalho eu mesmo que faço. Há uma técnica que exige muita paciência.
Como a sua mãe vê o seu interesse pela pesca?
Minha mãe gosta. No começo ela estranhava um pouco. Além da influência que recebi do meu tio, acredito ter herdado o gosto pela pesca do meu pai.
O que é mais importante, o pescador ou o equipamento?
Os dois. Um pescador bom sem equipamento não pesca. Um pescador leigo com bom equipamento também não pesca.
Qual é a capacidade de um motor para um barco de pesca?
Normalmente usa-se motor de 15 cavalos, ou 15HP. Em um rio maior usa-se de 25.
Você tem uma lancha?
Tenho uma de 19 pés, motor de 90 HP. O nome dela é Marvada. Comporta cinco pessoas.
Você é casado?
Casei-me dia 30 de maio de 2009.
Como sua esposa vê essa sua atividade?
Ela gosta. De vez em quando vai pescar.
Qual é o percentual de mulher que são pescadoras?
Deve girar em torno de noventa e oito por cento de homens e dois por cento de mulheres. Mas está crescendo bem o segmento voltado para o público feminino. Já existe equipamento, caixa, vara cor de rosa. As indústrias estão investindo no segmento feminino. A tendência é crescer a participação da mulher no esporte.
Quando você está parado, pescando, no que você pensa?
Nós temos um ditado: “Quando estamos pescando no Mato Grosso esquecemos daqui, e quando estamos aqui lembramos de lá”.
Se você deixar o barco descer sozinho pelo Rio Piracicaba ele irá?
Vai sim. Da Rua do Porto até a ponte de Ártemis irá levar umas oito horas.
Qual é o significado do Rio Piracicaba para você?
Para mim é tudo. Eu digo que o dia em que morrer eu quero que passem com o meu corpo ás margens do Rio Piracicaba para que eu possa vê-lo pela última vez. Eu gosto tanto do Rio Piracicaba que quando ele está cheio eu vou todos os dias visita-lo.

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