quinta-feira, outubro 26, 2017

ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 28 de outubro de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/




ENTREVISTADO: ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS

Armando Alexandre dos Santos é jornalista profissional, historiador e professor universitário, licenciado em História e em Filosofia, com pós-graduação em Docência do Ensino Superior em História Militar. Atualmente leciona no programa de Pós-Graduação em História Militar, da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL).

É membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e dos Institutos congêneres de São Paulo, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais e Santa Catarina, assim como da Academia Portuguesa de História, da Associação Nacional dos Professores Universitários de História-ANPUH e da Associação Brasileira de Estudos Medievais-ABREM. Autor de 64 livros nas áreas de História, da Ciência Política e da Religião, publicados no Brasil, em Portugal e diversos países. A tiragem total de suas obras já ultrapassou a cifra de 1,4 milhões de exemplares. Seu livro “Juro que é verdade” de 2017 é sua primeira publicação na área de literatura ficcional. Armando Alexandre dos Santos é filho de Antonio dos Santos, português de Trás-os-Montes, e Layr Alexandre dos Santos, nascida no Brasil filha de pai e mãe portuguêses.

Você tem origem legitimamente portuguesa.

Até a semana passada eu julgava que todo o meu sangue era português, foi quando fiquei sabendo por um exame específico de DNA, feito nos Estados Unidos, que tenho apenas 71,4% de sangue português, mais ou menos 7,5% de sangue italiano, que deve ter sido de italianos que foram para a Ilha da Madeira, lá pelo século XV ou XVI, tenho 8,4% de sangue árabe, me surpreendeu muito mas tenho quase 5% de sangue escandinavo e 1,2% de sangue negro de Serra Leoa. Esse exame de DNA atinge três focos, examina o lado masculino: pai,pai,pai,pai até o fim; o feminino: mãe,mãe,mãe,mãe. E um terceiro elemento que é o meu sangue, que é uma resultante da somatória desses dois e de todos os outros que estão no meio, esses dois quase desaparecem, pois temos quatro avós, oito bisavós, 16 trisavós, é uma progressão geométrica. Ao cabo de 500 anos já ha centenas de milhares de pessoas, se formos até os tempos de Jesus Cristo, portanto ha 2.000 anos, cada um de nós temos 4 quintilhões

(4 000 000 000 000 000 000) de antepassados linearmente. É uma quantia astronômica, eu fiz um calculo, se micro filmássemos essa lista, com os microfilmes mais reduzidos que existem, na ciência atual, se empilhássemos as caixinhas de micro filmes daria um cubo dentro do qual caberia o Himalaia inteirinho e ainda sobraria espaço. Isso significa que todo mundo é parente mais próximo ou menos próximo de todo mundo. A humanidade é uma coisa só. Entre um esquimó e um negro da África do Sul a proximidade é muito grande. Hoje se sabe que todo gênero humano descende de um único casal. Isso é sabido, independente de convicções religiosas, há um homem e uma mulher dos quais todos nós descendemos. É tido como certo de que essa mulher teria vivido na África. Se você pegar uma sociedade relativamente fechada, como por exemplo, a Inglaterra, que é uma ilha. Qual foi o último grande bloco imigratório para a Inglaterra? Foi na Idade Média quando chegaram os normandos, nunca mais a Inglaterra recebeu em quantidade significativa novos contributos étnicos. Isso faz com que todos os ingleses sejam parentes entre si, hoje se calcula por cálculos matemáticos avançadíssimos, que qualquer inglês, de qualquer classe social, é parente de qualquer outro inglês de qualquer ponto da Inglaterra, pelo menos em 14º grau. Isto significa que a Rainha da Inglaterra tem em 7ª geração um antepassado em comum com qualquer inglês. A 7ª geração é constituída em 200 e poucos anos! Posso dizer que nenhum nobre é só nobre e que nenhum plebeu é só plebeu! Na terra do meu pai, Trás-os-Montes, há um ditado que diz que: “Não há geração sem conde nem ladrão!” Isso é o gênero humano! Sou muito relacionado com genealogistas, acredito que eu seja talvez o único brasileiro com curso superior de genealogia, isso não existe no Brasil, existe em alguns países da Europa, um curso universitário de genealogia, o meu foi feito na Espanha.

Você nasceu em São Paulo em que dia?

Nasci a 30 de julho de 1954 entre os bairros Pari e Brás, fiz a minha primeira escola no Liceu Acadêmico de São Paulo, na Rua Oriente, travessa da Rua Rodrigues dos Santos. Fiz o ginasial e o colégio no Colégio Estadual de São Paulo, antigo Ginásio do Estado, foi o primeiro colégio público de nível secundário, do Estado. Foi fundado em 1894. A fundação desse colégio deve-se ao seguinte fator, durante o Império o Brasil tinha um regime Unionista. O governo todo era feito a partir da Corte no Rio de Janeiro. Os presidentes das províncias eram nomeados pelo governo central, não eram eleitos localmente, essa fase foi indispensável no Império, enquanto o Brasil se constituía e se firmava como uma nação unida. Havia um sério risco de acontecer com o Brasil o que aconteceu com a América Espanhola, uma fragmentação. Essa fase era necessária. Mas o próprio Império estava evoluindo para um sistema federativo, em que houvesse uma maior autonomia das várias províncias para que elas pudessem se gerir e se manterem por si próprias. Esse processo de evolução para federação foi cortado, pela proclamação da República. O Federalismo se transformou em uma bandeira republicana, quando na realidade já era do Império. Uma das primeiras medidas que o governo Republicano tomou para mostrar que representava o progresso, o futuro, foi fundar em todos os estados, colégios. Para dizer: o Império só tinha o Colégio Pedro II no Rio de Janeiro, nós levamos a cultura para o Brasil todo. Outra coisa: Institutos Históricos. No Império havia o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no Rio de Janeiro, fundado em 1838, a República começou a fundar esses institutos. Do ponto de vista do exterior, diria quase cosmeticamente, para a visão pública, pareciam grandes avanços, em relação ao período do Império. Na realidade, de uma visão mais crítica, e de quem acompanhou as coisas, a Proclamação da República foi um desastre para o Brasil. A corrupção que entrou, o desvio da finalidade da própria nação, o aproveitamento da coisa pública, uma série de fatores sobre os quais poderíamos fazer outra entrevista, conversar sobre isso largamente. Esses acontecimentos de um modo muito rápido tomaram conta do Brasil. No tempo de D.Pedro II havia a chamada Ditadura da Moralidade, D.PedroII era exímio na administração pública, com ele ninguém brincava. Poderia contar aqui dezenas de episódios nessa linha. Ele era um homem do seu tempo, naquele tempo, a figura do chefe de família, do patriarca, era aquele modelo. Um homem sério, sisudo, com uma grande barba, impondo respeito, aos parentes, aos amigos, era o ar próprio do tempo. Era um grande erudito, ele tinha, no meu modo de entender, uma qualidade muito brasileira, algo que o brasileiro gosta de ver na autoridade, o brasileiro não gosta de autoridade frouxa! O brasileiro gosta de autoridade firme. Que sabe mandar. O brasileiro não tolera autoridade que manda fria e insensivelmente. O brasileiro obedece uma coisa difícil de fazer, mas ele gosta que quem mandou, dê a entender que está sofrendo junto com ele. É o lado afetivo do brasileiro. Essa relação de proximidade de quem manda e quem obedece, é algo que a psicologia do brasileiro exige. E D.Pedro II tinha! Outra pessoa, em outro contexto, também teve, foi Getulio Vargas. Era extremamente autoritário, mas era jeitoso. O brasileiro gosta de jeito! Autoridade que manda com firmeza, mas com jeito. E D.Pedro II era assim!

Você tem uma relação muito forte com Portugal.

Inclusive sanguínea! Morei na Cidade do Porto, Lisboa, Coimbra.

Qual é a correlação que você faz entre Portugal e Brasil?

Portugal e Brasil são continuidades, não vejo uma dissociação. É o mesmo povo, o mesmo país, sentimentos, a própria visão do universo, aquilo que os alemães chamam de cosmovisão (Weltanschauung, termo alemão que se pronuncia "vèltanxauung", cosmovisão ou mundividência) a portuguesa e brasileira são muito parecidas. A arquitetura tradicional brasileira foi muito influenciada pela portuguesa. A forma do brasileiro acolher pessoas que vem de todas as partes do mundo, os imigrantes de qualquer parte do mundo não se sentem um peixe fora da água aqui no Brasil. Sempre encontraram aqui uma receptividade que não encontram em outro lugar. Os italianos vieram para cá e se inseriram na sociedade. Os italianos da mesma época foram para os Estados Unidos, encontraram um ambiente bem diferente, hostil, fecharam-se entre si, uma das consequências foi a formação das máfias. Um meio de proteção dentro daquele contexto. Uma defesa que tomou um rumo que lamentamos, obviamente.

Você mudou-se para Piracicaba em que ano?

Vim para Piracicaba em 2006, eu morava em São Paulo na Avenida Angélica, a 50 metros da Avenida Paulista, era um barulho muito grande, e iniciaram a construção de uma estação do metrô, ao lado, dia e noite o som de bate estacas, foi quando decidi mudar de lá.

O seu ingresso no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo deu-se quando?

Foi em 1994. Atualmente sou emérito. Ingressei em 1994 embora tivesse livros publicados muito antes. Tínhamos uma administração no IHGSP que tinha decido fechar o ingresso de novos membros, por algum tempo, de fato tinha havido no passado uma abertura excessiva, tinha entrado muita gente com mérito, com menos mérito, a administração tinha sido muito boa, eu era muito amigo do presidente antigo, Dr. Licurgo de Castro dos Santos Filho, um grande médico, um grande historiador, enquanto foi presidente estabeleceu que: “Não entra ninguém, ou quase ninguém”, a partir do momento em que ele cedeu a presidência ao Dr. Hernani Donato, ele continou a fazer parte da diretoria, e chegaram a conclusão de que já estava na hora de receber novos membros. De posse da lista dos que já frequentavam e faziam parte da casa, mesmo sem serem membros, eu fui um dos primeiros a ser chamado. Entrei na última leva dos que entraram no primeiro século de existência do IHGSP, em agosto de 1994. Dois meses depois o Instituto completou 100 anos.

Onde é a sede do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo?

Na Rua Benjamin Constant, 158, centro de São Paulo.

Qual foi o primeiro livro que você publicou?

Foi “A legitimidade monárquica no Brasil”, um estudo publicado em 1988, sobre a Princesa Isabel, a família da Princesa Isabel, o ato de renuncia do seu filho D.Pedro de Alcântara, é um estudo muito específico para saber quem de acordo com o Direito era o Chefe da Casa Imperial do Brasil. Foram 7 anos de pesquisas, estremamente demorada, acurada.

Escrever é uma atividade rentável?

Depende do que se escreve! Rende imensamente em satisfação interior, o que dá grandes resultados finaceiros é escrever livros didáticos, só que existe um circulo restrito das grandes editoras.

Você trabalhou em editoras?

Trabalhei muitos anos em várias editoras, a editora recebe um grande número de originais, um grande editor não consegue dar conta de tudo que recebe, ele tem uma série de freelancers (profissionais autônomos) estudantes de letras, professores desempregados, pessoas que lêem os originais, fazem uma sinopse em 20 a 30 linhas, e dão um parecer favorável ou contrário à publicação, de cada 100 títulos recebidos, 7 ou 8 vão para o editor, esse editor, no final de semana vai para a casa de campo ou de praia dele, leva os sete ou oito livros com as sinopses. Irá ler as sinopses, se interessar ele terá acesso ao livro, irá escolher um ou dois livros para ser lançado. De 100 livros 7 ou 8 chegam as mãos dele, ele vai escolher, se escolher, 1 ou 2. Isso faz com que muita gente com obras excelentes não publique, porque caiu em determinado crítico que não gostou, ou torceu o nariz, ou estava de mau humor, levantou com o pé esquerdo. Recentemente houve um caso engraçado de uma pessoa mandou, para uma grande editora, alguns contos menos conhecidos de autoria de Machado de Assis, como ele tem contos psicológicos muito bons, que são atemporais, não há elementos que identifique que o conto foi escrito no século XIX, a pessoa pegou os contos de Machado de Assis que poderiam ter sido escritos hoje, fez uma coletânea e mandou para uma editora. Um professor X que foi analisar, leu e foi contrário a publicação porque não tinha nenhum valor literário. João Scortecci deu voz e vez a esse público. Há muitos prêmios Jabuti que começaram os passos com João Scortecci. Certa vez estávamos no escritório do João Scortecci em uma roda de pessoas, uma dela era psicólogo ou psicanalista, entrou em pauta o assunto Paulo Coelho, e surgiu a questão: Qual é o segredo do sucesso do Paulo Coelho? Que ele não tem mérito literário todo mundo concorda. Mas ele vende uma quantidade enorme, assombrosa, de livros no mundo todo. Algum segredo deve ter.

Qual é o segredo?

Chegamos às conclusões: primeiro lugar é a propaganda; há algo mais no Paulo Coelho que o torna tão atraente  universalmente. Na conversa, concluiu-se que os livros do Paulo Coelho são baseados na literatura clássica, contos de fada, folclore. Das mais variadas nações, ele reescreve isso. A característica dessa forma de literatura, é que fala para todas as épocas, todos os tempos, se dirige muito mais ao subconsciente da pessoa do que ao consciente. Isso aborda, trata de problemas muito profundos, que está no fundo da nossa cabeça, em todas as épocas, são problemas permanentes da espécie humana. O que o Paulo Coelho escreve corresponde a necessidades profundas de muitas pessoas, esse é o segredo!

Quem escreveu mais livros, você ou o Paulo Coelho?

Eu pergunto se o Paulo Coelho escreveu alguma coisa! O Paulo Coelho pega lendas, reescreve em mal português, não permite que se corrija uma vírgula, ele diz que o que escreve segue princípios da numerologia do livro. Uma vez eu estava em debate sobre esse autor na escola do João Scortecci que é um grande amigo, grande editor que revelou grandes nomes da literatura brasileira. João Scortecci é um rapaz modesto, de origem cearense que fez o curso universitário no Mackenzie pagou o curso dele, com outros colegas, faziam poesias e imprimiam em mimeografo a álcool e saiam vendendo pelos botecos de Higienópolis. Após formado, fundou uma editora, é a editora que lança o maior número de títulos do Brasil, a Editora Scortecci, dedica-se a fazer pequenas tiragens, de livros de autores iniciantes, que não conseguem vencer o bloqueio das grandes editoras. Ele publica de três a quatro livros por dia. Como ele muitos optaram por esse caminho, chama-se edições por demanda

Com relação a literatura brasileira, como estamos?

O brasileiro é um dos povos mais criativos do mundo, não só na literatura, mas em qualquer àrea, o brasileiro tem condições de se destacar e estar dentre os melhores do mundo todo.

Por que não há nenhum prêmio Nobel brasileiro?

Penso que entra muito a falta de método do brasileiro. O brasileiro é genial, mas é um pouquinho desordenado. Ele não tem disciplina. Nós somos brasileiros, sentimos isso na nossa pele. Um norte-americano, um alemão, um europeu, ele tem dentro da vida dele uma certa disciplina. Um exemplo ficticio: a pessoa trabalha em uma agência bancária, tem como hobby ficar na garagem da sua casa para brincar de fazer invenções. Ele tem um método, todos os dias, seja a época do ano que for, faça sol ou faça chuva, entre 19:00 e 21:00 horas ele se fecha naquele mundo dele. Não atende telefone, desliga rádio, desliga televisão, naquelas duas horas ele não pensa em outra coisa. Vai trabalhar naquele projeto. Ao cabo de algum tempo ele inventou alguma coisa, patentou, vai viver daquilo. Se for escritor, na hora de escrever, ele vai fechar a porta do quarto, proibir a mulher e os filhos de o incomodarem, desliga o telefone, desliga tudo, ele vai trabalhar duas horas naquilo. Quando marcar duas horas, ele pode estar no mais emocionante e culminante ponto de uma redação, ele para e irá continuar no dia seguinte. Essa disciplina faz com haja resultados concretos observáveis e palpaveis. O brasileiro não se desliga totalmente do mundo de fora, é hora de escrever, mas lembra-se que tem um e-mail para responder. Entra, dá uma “sapeada”, entra no Mercado Livre, ele nem se desligou completamente do mundo externo e nem se entregou completamente ao que está fazendo. Também quando chega uma inspiração ele faz qualquer negócio para não perder aquele fio. Ele é muito mais levado por esses impulsos. Quando o brasileiro tiver método, acho que nenhum povo da Terra nos supera!

Povos de outras culturas, cada um tem uma forma de pensamento proprio, o brasileiro tem uma forma de pensamento definida?  

O próprio do brasileiro é a improvisação! É um genial improvisador! Isso é uma riqueza fantástica. A capacidade de diante de uma situação difícil ter um jeitinho que resolve momentâneamente e rapidamente, situações complicadíssimas, é uma grande riqueza. Mas é uma riqueza que cobra um preço, ele confia demais no jeitinho e não prevê. Falta um pouco de equilíbrio, planejamento. Quando ele tiver essa capacidade de planejar e essa auto-disciplina estou convencido de que não ha nenhum povo no mundo que faça frente ao brasileiro.

Como vai nossa educação?

Esse é um outro capitulo que daria para conversarmos algumas horas. Por muito tempo fui professor no ensino fundamental, no ensino médio, atualmente estou só no universitário. O ensino no Brasil foi quebrado a pertir de 1963. Com a Primeira Lei de Diretrizes e Bases. Creio que foi Darcy Ribeiro um dos seus agentes, retirou o latim do ensino, mudou a Reforma Capanema que tinha vigorado por mais de 20 anos. Precisava realmente de um reajuste, uma atualização, mas que funcionava. Essa reforma previu para sete anos depois um segundo passo, estavamos em pleno regime militar, que aplicou o projeto que vinha do tempo de João Goulart, houve uma necessidade de adequar os curriculos para uma fragmentação de conhecimentos novos que surgiram, especificação técnica e tecnológica em várias áreas, por outro lado o desejo mal entendido de democratizar e levar o ensino à todos, produziu uma reforma que na realidade fez o ensino público cair vertiginosamente. De lá para cá tem vindo cada vez de mal a pior. O ensino público era difícil, respeitado, disputado, havia escolas particulares de muito bom nível, quase todas confessionais: católicas, protestantes. Eram escolas particulares de ótimo nível. Mas de um modo geral, a escola pública era melhor. Se costumava dizer que muitas vezes iam para escolas particulares pessoas que não tinham capacidade para estudar em uma escola pública. Isso mudou. Hoje estamos em uma situação iniqua, a escola particular é inacessivel para 90% das famílias, tem que ir para a escola pública. Na escola pública terão um sub-ensino e quando chega a hora de um curso superior, quem fez escola pública, se quizer fazer um curso superior terá que pagar para cursar uma faculdade de segunda, enquanto quem fez a escola particular consegue passar bem em uma universidade pública e sem pagar nada, irá ter uma formação muito melhor do que o outro. Essa distorção está em meu modo de ver na origem do problema educacional brasileiro. Era preciso pegar a escola pública de tempos anteriores, atualizá-la sem dúvida, ampliá-la, democratizá-la no sentido de transformar em algo acessivel, muito mais acessível ao Brasil todo, sem cair o nível. Ai entra um outro fator, que são as teorias pedagógicas novas. Que querem acabar com a linguagem culta. Querem ensinar: “Nóis pega o pexe”. Há uma porção de teóricos que querem dar os seus pitacos! Seus palpites. Querem fazer teorias novas para dizer que isto que está acontecendo, é muito bom que aconteça. E mais um outro fator: são autoridades que não entendem nada! Absolutamente nada! Não entendem nada de educação e põe leis, só atrapalham! Os próprios teóricos de pedagogia na maioria das vezes nunca entraram em uma sala de aula! Eles querem nos ensinar como controlar uma sala de aula quando eles mesmos nunca entraram! São livros teoricos que nos cursos de licenciatura e padagocia são “entronchados” na cabeça dos professores, no primeiro dia de aula o prefessor vê que não tem nada a ver com a realidade.

Como você vê a febre dos celulares nas salas de aula?

Essa semana eu vi uma noticia, que está sobre a mesa do Governador Alckmin para ser assinada por ele, uma lei já aprovada pela Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, que foi proposta pelo Secretário da Educação, José Renato Nalini, meu amigo, também do IHGSP, é um desembargador. Ele propos uma lei, essa lei foi aprovada pela Assembléia Legislativa, a lei que autoriza a livre utilização de celulares em escolas públicas do Estado de São Paulo! Fundamentação da Lei: “O celular se transformou em um instrumento de pesquisa, pode ser muito útil para o aluno e pode ser um poderoso fator de ajuda de pesquisa para o aluno e para o professor, logo pode ter”.

O celular vai ser usado para pesquisa em sala de aula?

Esse é o problema! Até agora qualquer professor sabe que a grande luta do professor é contra o celular, é uma praga na sala de aula! Atrapalha! Permite colar, distrai os alunos. Eu estava dando uma aula, em um colégio particular, tocou o celular de uma aluna. Ela atendeu, era a mãe dela querendo saber se ele queria batatas fritas na hora do almoço!

Os pais tem responsabilidade pela decadência do ensino?

É um fator global. Decadência é crise de valores, está claro que existe uma crise de valores que abrange toda a sociedade. Os pais obviamente tem uma responsabilidade nisso. A principal fonte da nossa formação é a família. Atualmente a própria influência e autoridade dos pais é muito limitada, influenciada por vários fatores, o poder da mídia, a própria legislação não permite que um pai tenha uma margem de liberdade como tinha em passado recente. Em fevereiro de 1961, quando fui ao Liceu Acadêmico São Paulo eu tinha de 6 para 7 anos, minha mãe me levou para o curso primário, a professora chamava-se Dona Lucila, apresentou-me à professora, e disse-lhe: “A senhora está autorizada a bater no meu filho quanto a senhora achar necessário para a formação dele!”. É claro que a professora nunca me bateu. Mas compreende como a mentalidade era outra? Hoje nem a mãe pode dar uma palmadinha no filho! Ela é capaz de ir presa! Isso significa o que?  

Que o Estado está interferindo dentro das casas, forçando os pais tomarem uma atitude e não outra. Hoje é muito reduzida a autonomia de um pai com relação a 50 ou 60 anos passados.

Qual é o objetivo dessa história toda? Criar um caos?

Pode ser! Eu tenho a impressão que o que aconteceu na humanidade nos últimos 100 anos, e de um modo mais específico, nos últimos 30 anos com essa imensa entrada da informática, foi uma tal transformação na vida humana, que isso não pode se manter por muito tempo.

Essas mudanças não foram ainda absorvidas pelo ser humano?

Não foram absorvidas, não sei se são absorvíveis e a prosseguir esse avanço nessa mesma cadência, acho que irá haver um enlouquecimento de toda humanidade! Hoje somos bombardeados por tantas informações, tantas solicitações, que o ser humano não tem capacidade de deglutir. Quem tratou muito disso foi Samuel Pfromm Netto nascido em Piracicaba a 3 de março de 1932, Formou-se pela USP em Pedagogia em 1959 e tem mestrado e doutorado em Psicologia pela mesma universidade. Fez estudos de pós-doutorado nos EUA, na Inglaterra, na França, na Alemanha e no Japão. Chefiou missões culturais a este último país e à China. Sua produção bibliográfica compreende mais de quarenta livros. O Samuel ao mesmo tempo era um homem extremamente tradicional, de uma cultura quase renascentista, lia latim, conhecia o alemão, um homem de uma cultura fantástica, mas era um homem muito aberto para as novidades, ele trabalhou na TV Cultura, tinha muita experiência televisiva, era um grande comunicador, era um entusiasta do ensino a distância. Viu o futuro do ensino universitário no Brasil no ensino a distância. Ele dizia que o problema geral dessas novas formas de comunicação é a velocidade com que elas são dadas. A intensidade e a velocidade dos dados que são colocados diante de nós a cada momento e que impedem um processamento natural do espírito humano. O espírito humano ensinava o Samuel, ele tem três fases: ver, julgar e agir. A pessoa em um primeiro momento vê, não significa só ver visualmente, ela prende a realidade pelo ouvido, pelo olfato, os sentidos dela apreendem alguma coisa. Num segundo momento ela julga: O que é? Isso é bom ou é mal? Verdade ou mentira? É belo ou é feio? Ela toma uma posição diante daquele estímulo externo. Num terceiro momento ela age. Ela decide: Isso é bom, vou guardar em minha memória. Isso é bom, vou fazer isso. Isso é mal, não vou fazer. Isso não tem importância, eu vou esquecer. Mas é um ato de vontade. Essa três etapas: ver, julgar e agir, desde que o mundo é mundo, desde quando existe o Homo sapiens sempre foram assim. Hoje em dia com a rapidez, a intensidade e a sucessão desenfreada dos estimulos, não há tempo mais para o ser humano desenvolver o processo inteiro. Uma pessoa diante de uma televisão vê uma cena horrível de sangue,  antes que o espírito dela possa explicitar uma recusa àquilo, muda a cena e ela tem uma paisagem maravilhosa que a embevece, e depois um estímulo comercial: compre tal coisa! Logo depois uma cena de sexo, depois uma outra cena de violência, a sucessão é tão rápida, contínua, prolongada, a pessoa perde o hábito de pensar!  Julgar! Para o ser humano, que é racional, mexe com muita profundidade! É antinatural! E por outro lado é muito perigoso, nós estamos em um regime democrático, um povo que está habituado a seguir estímulos, nunca irá racionalmente ser soberano!

Quem manda no país?

Quem tem o controle do estímulo! Está ocorrendo um fenômeno, por meio da internet uma imensa quantidade de pessoas que nunca tiveram voz nem vez, estão conseguindo falar. E muitas são pensantes! Há muita bobagem, mas também há comentários de uma sabedoria e capacidade de analise profunda. Aí esta a esperança do futuro. Na década de 30 veio ao Brasil um grande matemático italiano, convidado pelo governo, para dar sugestões para reforma do ensino. Quando ele viu o curriculo escolar ficou abismado: “Os brasileiros são geniais, estudam na terceira série do ginásio o que na Itália, na Europa é matéria de faculdade!”. Ao cabo de um ano ou dois, ele mandou um relatório, para o Ministério da Educação, dizendo que o sistema de ensino no Brasil estava inteiramente errado, vocês colocam para crianças principios de matemática que elas irão decorar sem entender. Elas não tem conhecimento básico, nem filosófico para entender o alcance disto. Quando chegam a faculdade vamos ter pessoas que não aprenderam a pensar. Ensinem a pensar no ginásio e deixem esses assuntos matemáticos profundos para ensinar no curso universitário.

O primeiro passo é fazer com que o ser humano pense?

É por isso que é humano e não simplesmente um animal ! Nossa definição é animal racional! Há pessoas em todos os níveis sociais capazes! Tenho um material escrito onde abordo entre outros aspectos que todo homem público deve educar seus filhos na escola mais próxima de onde ele mora, não escolher nichos de excelencia; nenhum homem público deverá ter planos privados de saúde; é Presidente da República? Trate da sua saúde no SUS! Ele, a mulher, os filhos, netos. Proibir segurança privada. Se o cidadão não pode ter uma arma para se defender por que um deputado tem quatro ou cinco seguranças armados para acompanha-lo?

Você tem uma coluna na A Tribuna Piracicabana?

Tenho,todos os sábados, chama-se “Educação e afins” o título foi sugestão do Erich Vallim Vicente.

 

domingo, outubro 22, 2017

LUIZ ANGELO MARCHINI


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado, 21 outubro de  2017.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADO: LUIZ ANGELO MARCHINI

 


Luiz Ângelo Marchini nasceu a 6 de março de 1945 no bairro Água Branca, Piracicaba. Filho de Luiz Marchini e Margarida Razera Marchini que tiveram 11 filhos: Luiz Ângelo, José Antonio, Maria Elisa, João José, Maria Inês, Sueli Margarida, Marcos Francisco, Pedro Roberto, Humberto Sávio, Roberto Sávio e Maria Regina. Sendo que Humberto e Roberto são gêmeos, assim como José Antonio e Maria Elisa são gêmeos também.
Qual era a atividade do seu pai?
Meu pai tinha olaria, plantava cana, tinha leiteria, uma fábrica de rapadura, fábrica de melado, onde a criançada estava empregada. O primeiro engenho ele adquiriu de José Nassif, era um engenho de tração animal, com três cilindros de ferro. Eu cheguei a tocar o burro que puxava o varal e movia as moendas. Na época eu tinha de 12 a 14 anos. O burro era mansinho, virava sozinho, às vezes ficava muito lerdo tinha que apressar o passo dele. A cana-de-açúcar era produzida no próprio sítio. Calculo que era moída uma tonelada de cana por dia. Havia um tacho muito grande, fazíamos muita rapadura, tinha o formato de um tijolo medindo 10 centímetros de largura por 20 centímetros de comprimento, uns 4 centímetros de espessura. Eram embrulhadas em papel celofane, uma a uma.
Quem fazia a rapadura?
Minha mãe era a técnica! Eu também aprendi e de vez em quando ainda faço, limpo a cana como se fosse fazer garapa, sai uma garapa clara, depois que passo a cana na escova, lavo a cana, coloco no engenho de inox, para não oxidar a garapa, depois em um tacho de inox, coloca-se no fogo por umas cinco horas. No sítio aproveitávamos o próprio bagaço da cana para fazer o fogo na fornalha. Antes eram colocados em uma cerca, como se fosse um varal, onde secavam. Depois meu pai adquiriu um engenho maior, já com o cilindro deitado, o de tração animal tinha o cilindro em pé. Esse segundo engenho era movido por um motor a gasolina de um Chevrolet 1928. O radiador era um tambor de 200 litros de água, saia a água fria embaixo e jogava a água quente em cima. Funcionava o dia inteiro. Depois veio a energia elétrica, ai o motor do Chevrolet foi substituído por um motor elétrico de 10 HP.
Como essa rapadura chegava a São Paulo?
No inicio a produção era menor, trazia com carrinho de tração animal até a Estação da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Despachava também latas de melado com capacidade para 20 litros. Meu pai comprava as latas vazias, daquelas que tem a tampa maior, igual às utilizadas para tintas, não havia rotulo, nada que identificasse. O nível de exigência era bem diferente.
Havia funcionários no engenho?
Sempre tinha algum. A maior parte eram pessoas da nossa família que trabalhavam no engenho. Na olaria que ficava paralela ao engenho tinha os funcionários, foram construídas casas para eles.
O sítio tinha quantos alqueires?
Eram nove alqueires, era uma área bem aproveitada, tinha pasto, vacas de leite. Faziamos até queijo, manteiga. Trabalhei mais na rapadura e na olaria. Na época fabricávamos só tijolos. No início a produção era de uns 3.000 tijolos por dia, tudo artesanal. Quando chegou a energia elétrica colocamos máquinas, que faziam 1.500 tijolos por hora.
Quem fazia as entregas?
Teve época em era só eu que fazia as entregas, com um caminhão F-6 ano 1951. Um Ford a gasolina, transportava 1.500 tijolos a cada viagem. O tijolo era grande. O tamanho padrão dos tijolos foi diminuindo, passei a levar 2.000 tijolos e cheguei a levar até 3.000 tijolos. O tijolo passou a ser metade do que era antes. E hoje está menor ainda!
Você lembra-se de alguns lugares onde entregou tijolos?
Tem muitos lugares! Às vezes estou passando em algum lugar e lembro-me de que aquele prédio foi construído com os tijolos que entreguei. Fiz muita entrega de tijolos na Cidade Jardim, quem construiu muito lá foi o João Fleury.
Você ia entregar com um ajudante?
Ia com ajudante, às vezes ia sozinho. Comecei a puxar tijolo muito novo ainda. Muitas vezes vinha entregar tijolos a noite, de madrugada, não dava tempo durante o dia. Às vezes deixava o caminhão carregado e vinha entregar bem cedo. Quando o pedreiro chegava às sete horas eu já tinha descarregado. O pedreiro assinava o “valinho”. Naquela época a Guarda Civil fazia blitz na curva do “S”.
Você trabalhou nesse sítio até que idade?
Estudei até o quarto ano, no bairro Pau Queimado, ia a pé, naquela época não havia escola no bairro Nova Suissa. A distância de casa até a escola era em torno de três quilômetros, ia descalço, era comum andarmos descalços naquele tempo. Minha primeira professora foi Dona Hilda e a última Dona Rute. Eu saí desse sítio quando tinha 22 anos. Com 22 anos, aluguei uma fazenda que tinha uma olaria grande, e fui tocar a fazenda, sozinho. Era a fazenda do Santo Bueloni. Conheci muito o Francisco (Chico) Bueloni. Lá moravam cinco famílias que trabalhavam na olaria, eu alugava um pedaço, era uma fazenda muito grande. Eu produzia tijolos, depois comecei a fabricar um pouco de telhas e um pouco de lajotas para pisos. O Santo queria fazer uma sociedade comigo para modernizarmos, adquirir máquinas, mas infelizmente ele logo faleceu. Pouco depois, minha família também estava passando por um processo de mudanças, foi quando decidi vir para a cidade e montei a Angemar. Lá se chamava cerâmica Angemar. Meu avô tinha falecido há pouco tempo, o nome dele era Ângelo Marchini, o nome Angemar era em sua homenagem.
Em que local você montou a Angemar?
Na esquina da Rua do Rosário com a Avenida Dona Jane Conceição havia dois lotes de terreno vazios, onde periodicamente montavam circos, parques. Esse dois lotes eram de dois donos distintos: o da esquina era de um membro da família Amstalden, e o outro era do José Valério. Acabei comprando primeiro o lote do Valério, já pensando em adquirir a esquina. Construí no primeiro lote.
No inicio eram só o lote com uma edícula no fundo?
No inicio aluguei o terreno da esquina, fiz uma cerca, uma edícula de taboa e a 1º de maio de 1969 comecei a trabalhar comercializando tijolo, areia, pedra, cimento, cal, um pouco de ferro, um pouco de manilha. Naquele tempo vendia-se muita manilha, não existia tubo PVC! A manilha era produzida em Rio Claro. Comprei um caminhãozinho, um Ford ano 1948, verde, funcionava bem, ficou por muitos anos trabalhando.
Era um tempo em que não havia os problemas de segurança existentes atualmente?
Não tinha!
No início você já tinha o caminhão para fazer entregas?
No inicio não, após um mês da abertura do depósito o meu tio vendeu o caminhão para mim, para que eu pagasse da forma que pudesse pagar. Em dezembro de 1969 acabei de pagar o caminhão. Foi um período muito bom para a construção civil, meu estoque aumentou e consegui pagar o caminhão. A carga tributária era menor. Quando comecei já contratei um funcionário: Paulo Polva. Era um senhor já maduro, uma pessoa muito útil. Honesto. Eu saia fazer entrega ele ficava no depósito, ele conhecia os preços, tinha a lista de preços feita a caneta, ele vendia, fazia o troco. Logo depois arrumei um motorista, Miguel Novelo conhecido como “Gué”, irmão do Zé Lambretta. Era um bom motorista, às vezes o Paulo saia com ele, dependendo da carga. O Gué nos ajudou muito, foi muito bom para nós.
Em seguida vocês construíram?
Compramos o lote vizinho, trabalhando no lote da esquina fui construindo no lote anexo. Após construir e mudar a empresa para lá consegui comprar o terreno da esquina, que ficou como depósito.
Você teve um funcionário que o mencionou com muito respeito e gratidão, trabalhava em uma das rádios da cidade.
Tarciso Chiarinelli !  Ele foi muito útil para a Angemar! Outro que foi muito bom, muito útil é José Ângelo Bonamin. Ele entrou menino, aposentou-se e continou trabalhando. Era o financeiro da empresa. Honestíssimo. Surgiu uma oportunidade para nós adquirirmos uma área com 1250 metros quadrados em um local privilegiado. Precisamos de um sócio para fazer a aquisição, na ocasião foi o Marcos Contarini, da Alvarco, que tornou-se nosso sócio. Èramos em três sócios, eu, o Antonio, e o Marcos. Depois o Marcos faleceu fizemos uma divisão, a esquina ficou com a viuva, e a àrea que tinhamos adquirido ficou conosco. Mudamos a loja. Foi um período no mínimo desagradável, houve a influência de terceiro que foi agregado a família do Marcos e que infelizmente trouxe prejuizo para todos nós. Mudamos a loja para a Avenida Madre Maria Teodora em 1992. Lá já morávamos na frente e tinhamos feito um barracão grande no fundo. A minha casa e do Toninho era na frente. Demolimos a casa do Toninho primeiro, depois demoli a minha casa. Expandimos a Angemar. Houve o interesse de terceiros em estabelecerem-se naquele local, alugamos e decidimos encerrar as atividades comerciais da Angemar. Ainda pór algum tempo emprestei o nome Angemar para um ex-funcionário. Hoje já não existe mais essa loja.
Você ainda lembra-se do número do telefone da Angemar?
Era um “telefone quente”, Eu tinha um telefone alugado! O número era 227174.
Nesse período voce casou-se?
Em 19 de outubro de 1968 eu casei com Maria Odete Valverde, na Igreja dos Frades, celebrado por Frei Augusto, tivemos duas filhas, Márcia e Débora. Tenho os netos Rafael, Isabela, Ana e Olívia. Meu genro Tiago mora em Cingapura, juntamente com minha filha e minhas netas. São 27 horas de vôo.  
                        Luiz Ângelo Marchini e sua esposa Maria Odete Valverde
Você chegou a entregr tijolos na Igreja São José quando ela estava em construção?
Entregamos sim, para o cônego Luiz. Meu pai fez doação. Também para o Lar dos Velhinhos, Igreja Imaculada Conceição do Monsenhor Jorge, levamos muito tijolo na Igreja da Paulicéia, Paróquia Imaculado Coração de Maria do padre João de Echevarria.
Você conheceu a Serraria do Galesi, situada na Avenida Dr. João Conceição?
Conheci! Ele fornecia algumas coisas para nós. Mais abaixo, ficava o Ferrari, que fornecia para nós a carriola para puxar tijolo dentro da olaria, era uma carriola manual, com dois varais e uma roda de madeira como de carroça. Carregava uns 50 tijolos por viagem. Levava o tijolo no forno para queimar e depois tirava do forno para por no caminhão. Depois eles criaram a carriola com duas rodas e pneu de Gordini, DKW. Ai foi outra história! Carregava mais e era mais suave.
Seu primeiro carro qual foi?
O meu primeiro carro, depois de casado, foi um DKW Fissore, cor vinho. Era um carrão! O Waldemar Fornazier, vizinho de frente, tinha um também. Conheci o Vittório Fornazier, proprietário de um armazém onde hoje funciona o Supermercado Balan. O José A.(Juca) Dionisio, pai do vereador Vanderlei Luiz Dionísio trabalhou a vida inteira com Vittório Fornazier. Na Praça Takaki tinha a sorveteria Bar da China de propriedade de João Beduscchi, um comerciante que atendia a todos com muita educação, de poucas palavras, mas muito prestativo. Só vendia sorvete. Na esquina da Rua do Rosário com a Avenida Madre Maria Teodora havia o boche do Aliberti e na Avenida Madre Maria Teodoro, a uns 50 metros de distância havia o boche do Roque Bortoletto. Lembro-me da inauguração da Padaria Suissa, depois passou a chamar-se Padaria Takaki por razões de contrato comercial entre os envolvidos, Quem iniciou foi o Francisco (Chicão) Amstalden,filho de Thomaz (Bem-Te-Vi) Amstalden.
Você chegou a fazer um barco inusitado junto com Pedrinho Silveira?
Quem fez foi o Marco da Alvarco, com Pedrinho Silveira, Luiz Vargas e o Antonio (Gegé) Beneton. No início esse barco chamava-se “Barco Quatro Amigos”.


Esse barco existe até hoje?
Esse barco é meu! Eu adquiri a sucata dele, reformei inteirinho, ele tinha afundado, ficou só o teto fora, estava na ponte do Rio Tietê. Atualmente o barco tem dois quartos, doze camas, dois banheiros, cozinha com fogão de seis bocas, pia de granito com dois metros de comprimento, geladeira com trezentos e tantos litros, televisão, bar completo. Ele fica ancorado dentro da água, pesa 20.000 quilos, o casco é de chapa.




Inicialmente esse barco foi construído sobre tambores de 200 litros?
No início era um barco sobre tambores, eu acompanhei a história porque o Toninho trabalhava na Alvarco, quando começamos a Angemar, começamos juntos. Depois o Marco da Alvarco ficou meu sócio. Constantemente eu ia com o Marco até o barco. Esse barco foi sofrendo transformações, uma vez fizeram uma reforma, o Marco colocou dois tubos grandes de aço e um assoalho. O Pedrinho Silveira colocou uma carroceria de ônibus monobloco em cima. Funcionou assim por um bom tempo. O primeiro motor era um Dodge a gasolina, seis cilindros, depois mudou para um Mercedes-Benz 1111. Depois eu mudei para um MWM seis cilindros.


Qual percurso você faz?
Não ando muito não, subo até perto de Tanquã, tem um lugar bom ali para pescar umas trairas, pousar lá, é uma delícia, no dia seguinte voltamos. É mais pelo passeio.

Você é bom pescador?Não! Vou na retaguarda!



Você guarda recordações de moradores do bairro da Paulista?
No bairro da Paulista tinha figuras marcantes: o juiz de futebol José de Barros que trabalhava na Estação Paulista e aos finais de semana apitava jogos de várzea. Lembro-me do José Grella, Augusto Grella, João Sabino Barbosa, o José Grella era sogro do Hélio Saipp, que tinha os irmãos: José Saipp e Alcides Saipp. O José Saipp trabalhou para mim por muitos anos, era conhecido como “Tio Zé”. Todos gostavam muito dele, era vendedor de balcão. O Hélio tinha a Casa do Lavrador, onde atualmente é uma casa de calçados. Em determinada época ele montou uma serralheria, vendeu a Casa do Lavrador. Eu comprei. O José Saipp veio trabalhar conosco, tinha muitos medicamentos veterinários, e também para uso em plantas, quem entendia do assunto era o José. O estoque foi vendido e ele continuou trabalhando conosco. Ao lado do nosso depósito havia um açougue de propriedade de Mário Scarpari e seus filhos Antonio e Alcides. Depois eles montaram um supermercado na esquina da Avenida Madre Maria Teodora esquina com a Rua da Palma, foi possivelmente o primeiro supermercado da região, mais tarde esse supermercado foi vendido para Décio Canale, e passou a ser o Supermercado Canale.
Você usou muito o trem?
Eu ia para a escola de trem! Na época em que morava no bairro Água Branca ia até bairro Chicó de trem. Eu nasci na Àgua Branca e mudei para a Nova Suissa com onze anos. Comecei a escola no Chicó e terminei no bairro Pau Queimado.
Esse trem passava pela Água Branca e pelo Chicó?
A Estrada de Ferro Sorocabana tinha uma plataforma quase em frente a Igreja da Água Branca, eu morava ali perto. A criançada toda do bairro ia de trem. Tinha uma carteirinha anual, não pagava nada.
Você conheceu uma paineira muito grande que havia nas imediações de onde hoje há o terminal urbano?
Conheci! O João Maranhão morava ali perto.
Consta que essa paineira, por sua beleza e tamanho, recebeu uma proteção legal no terreno que a circundava, documento devidamente registrado em cartório público.
Naquela época havia o Mato do Pupin, não tinha o Postão ainda, a Estrada do Governo como era conhecida a hoje Rodovia Cornélio Pires, era uma estrada bonita, boa, bem apedregulhada. Onde é a Avenida Luciano Guidotti, Avenida 31 de Março, não havia nada. Era tudo pasto. Tinha hortas.
O caminho que você fazia para chegar até a cidade qual era?
O sítio em que morávamos, era do meu avô, saia ali no Postão. O sítio vinha até ali. Era estreito e comprido. Terminava onde hoje é uma fábrica de blocos de cimento. A cidade terminava no Posto São Jorge, na Avenida São Paulo que na época era uma estrada. Depois teve um progresso rápido. Nessa região havia leiteria do Emílio Razera, tio da minha mãe, irmão do meu avô pai da minha mãe. Luiz Razera. Ângelo Marchini era pai do meu pai. Este ano está sendo comemorado 130 anos da imigração dos meus bisavôs, vieram da Itália, da região da Sicília. Estamos organizando uma reunião dos descendentes.
Quando você era jovem qual era a diversão mais comum?
Havia pouca diversão e muito trabalho. Nunca joguei futebol. Não tinha dinheiro para ir ao cinema. Bailinho era pouco, lá pelo sítio às vezes algum. Já moço, os pais não deixavam ficar até tarde.
A família tinha o habito de ir aos domingos à missa?
Todos os domingos meu pai enchia o Fordinho, minha mãe e a criançada menor embaixo, os grandões em cima, na carroceria. Vinhamos para a Igreja dos Frades. Quando chegava a família na igreja, enchia dois bancos, eram treze pessoas! Meus avôs também freqüentavam a Igreja dos Frades, vinham de charrete, de trole. Onde é atualmente a pracinha em frente a Igreja dos Frades era o lugar onde guardavam os troles, os cavalos. A hoje praça, na época era um terreno com um cercadinho. Havia um bebedouro de água para os animais. Em frente o depósito de cargas da Estação da Paulista havia um bebedouro para animais, existia um cano que despejava água, era comum colocarem o dedo impedindo que a água saísse pelo cano, ela saia por um orifício superior tornando-se um bebedouro para as pessoas. Possivelmente deveria ter uma nascente, a água jorrava sem parar.
Você chegou a cortar cana-de-açúcar?
Cortava, carregava, entregava na usina. Naquele tempo não queimava a cana. Meu pai comprou um sítio no Pau DÀlho e encheu de cana, com isso eu tinha que puxar o tijolo, a lenha para queimar o tijolo e a cana na safra. O caminhãozinho trabalhava dia e noite. A lenha comprava cortada, mas tinha que ir buscar e carregar. As coisas mudaram muito, eu sou do tempo da Maria Fumaça, é só comparar com a tecnologia do Metro, para perceber o salto da tecnologia. Máquina de escrever é peça de museu.
Isso é bom para a humanidade?
É bom! Hoje se comunica muito pelo celular. Uso todos esses melhoramentos tecnológicos. Hoje pela manhã conversei com a minha filha em Singapura, ela estava dentro do Uber, estava indo para uma festa de aniversário. Às seis horas da manhã estava conversando com a minha criançada!
Antigamente fazer um interurbano para são Paulo era uma aventura!
Levava às vezes cinco horas para a telefonista completar a ligação! Outra vantagem é que você pode escrever e a pessoa recebe a mensagem imediatamente. A medicina evoluiu muito, lembro-me quando inaugurou o primeiro pronto-socorro de Piracicaba, ficava em cima da rodoviária. Foi inaugurado pelo Dr. Francisco Salgot Castillon. Não tinha nada, recorria-se a farmácia, o Lico tinha farmácia na Rua Benjamin Constant. Os dois médicos mais acessíveis ao povo eram Dr. Alfredo de Castro Neves e o Dr. Samuel de Castro Neves, filho e pai, ambos até hoje venerados pela população. Consultavam gratuitamente e se o paciente não pudesse adquirir os remédios eles davam gratuitamente. Atualmente é obrigação do Estado o fornecimento ao paciente carente dos medicamentos receitados. É vedado ao médico fornecer gratuitamente medicamentos de forma regular. Tenho uma passagem marcante com o Dr. Alfredo (Alfredinho) de Castro Neves. O motor Chevrolet que virava o engenho estava ruim de dar partida, eu estava acertando o platinado dele. Com doze anos fiz curso de mecânica para dar manutenção lá no sítio. Na Avenida Dona Jane Conceição, quase esquina com a Rua da Glória, tinha uma oficina de caminhão, fui lá ajudar e aprender. Com isso passei a trocar molas de caminhão, limpar carburador, regular o platinado. Eu estava regulando o platinado do motorzinho, o botão da partida ficava longe, eu tinha que apertar a partida para por o motor no ponto certo. Estava em desequilíbrio, segurei na correia do gerador, virou na polia, abriu a ponta do dedo da mão, meu pai me levou até o Dr. Alfredinho, já estava escuro, ele me atendeu a noite, na casa dele, na Rua Alferes José Caetano entre a Rua Prudente de Moraes e Rua 13 de Maio.
A alimentação no sítio era bem diferente?
Nós plantávamos arroz na várzea, feijão no meio da cana, tinha horta, leite a vontade, milho, tratava de porcos, naquele tempo não se usava óleo, minha mãe comprava óleo de algodão para colocar na salada. A comida era feita com banha, não existia geladeira, era utilizado um tambor de leite, cheio de banha e os pedaços de porco dentro. Dependurava lingüiça em cima do fogão a lenha, ia depurando. Eu comprei até uma máquina para moer carne, para fazer lingüiça. No sítio eu fazia, descascava alho, moia alho, usava pimenta do reino, ensacava lingüiça. Eu fazia de tudo em casa, dava a mamadeira para o irmão menorzinho, lavava louça, puxava tijolo,
O bairro da Paulista tinha tipos característicos.
Muitos permaneceram em nossa lembrança, como o Geep, do Bar do Geep, Milton Scarpari, um bom mecânico, o Ito que tinha banca no Mercado Municipal, Júlio Takaki, O José Martins seus irmãos Alexandre e Cristóvão tinham um depósito de material de construção a Rua Benjamin Constant quase esquina com a Avenida Dr. Edgar Conceição. Conheci Jayme Pereira, morava na esquina da Rua Sud Mennucci com a Avenida Dona Jane Conceição, foi vereador, era casado com uma das filhas de Vittório Fornazier. Conheci seu pai, Abel Pereira. Sou amigo do Rubens Zillio, o Valdir Zillio mora em Goiás, a família Zillio tinha um açougue na esquina da Avenida do Café com a Rua do Rosário. Eles tiveram um sítio vizinho ao sítio do meu pai, abatiam boi, distribuíam os miúdos com os vizinhos. Em frente tinha o estabelecimento do Francisco(Chico) Sabino que permanece funcionando até hoje com seu filho Giuseppe  administrando. É a Loja do Italiano. Tempo do Ciro Mendes Silveira e a Loja Lev Cred, Alcides Saipp, Manoel Castillho. Lembro-me do Jacinto Bonachella, tinha um posto de gasolina na Rua Benjamin Constant, esquina com a Avenida Dr. Edgard Conceição, onde atualmente funciona uma padaria. Lembro-me do tempo em que a Avenida Dr. Paulo de Moraes terminava na Rua do Rosário, dali para frente era a Chácara Nazareth. O Romeu Gomes de Oliveira, dono da Rodomeu, quando adquiria carrocerias Facchini era no mínimo um lote de 10, não adquiria uma carroceria apenas. Naquele tempo havia muito consórcio de caminhão, conforme ele ia recebendo o  caminhão já ia colocando a carroceria. Romeu tinha um Simca preto com estofamento vermelho. O Sr. João Ferrazzo (Joane Vassoureiro) subia quase todos os dias a Rua do Rosário, em um Simca Rally, vermelho, dirigido pela sua filha. O Joane tocava bem um violão, o Zico Novello com a sanfona e tinha mais alguém que batia alguma coisa formavam uma festa. Lembro-me do Sebastião Rocha, tinha um caminhão que transportava combustível, Osário Pantojo,trabalhou muito tempo na Companhia Paulista de Força e Luz. São pessoas que permanecem em nossa lembran



ALEXANDRE SARKIS NEDER


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado, 14 outubro de  2017.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/                        


http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: ALEXANDRE SARKIS NEDER


 

Piracicaba possivelmente por ser uma das pioneiras do rádio, logo que ele passou a funcionar comercialmente no Brasil, por muitas décadas é um manancial de talentos na área de comunicação radiofônica. Além das rádios comerciais, tradicionais, tem um grande número de rádios alternativas, via internet. Grandes nomes que brilharam e brilha nos meios de comunicação, a chamada “grande mídia” é oriunda de Piracicaba. Desde Carlos Nascimento, Roberto Cabrini, José Occhiuso, executivo que ocupa o cargo de Diretor de Jornalismo do SBT, um currículo de trabalho nas grandes redes de televisão. Gilberto Barros é piracicabano. Luis Carlos Quartarollo. Carlos Colonnese, que foi produtor e diretor da TV Cultura é diretor de uma empresa de comunicação de São Paulo. O lendário Léo Batista que até hoje trabalha na TV Globo já foi locutor em uma das emissoras de rádio de Piracicaba. O não menos impactante Gil Gomes, no inicio de sua carreira trabalhou também em radio piracicabana, assim como o saudoso Francisco Milani, que se tornou muito popular na “Escolinha” apresentada por Chico Anísio. E muitos outros que brilharam na chamada grande mídia. Alguns ainda estão na ativa em Piracicaba e região. Além dos nomes acima citados, muitos saíram de Piracicaba, permaneceram por muito tempo fora, com grande sucesso, mas a saudade da Noiva da Colina falou mais alto. Isso sem mencionarmos os “Monstros Sagrados” do rádio piracicabano, que por décadas desfilaram e muitos continuam ainda encantando seus ouvintes com seu talento. Alexandre Sarkis Neder conta-nos como iniciou a sua paixão pela comunicação social, escrita falada e através da imagem. Conquistou seu público, busca estar sempre com a informação mais precisa possível, ele sabe que a credibilidade do comunicador é o seu maior patrimônio.

Alexandre Sarkis Neder você natural de Piracicaba?

Nasci no dia 30 de janeiro de 1969, em Piracicaba, meus pais são o Professor Dr. Antonio Carlos Neder, cirurgião dentista, professor universitário e farmacologista e Jamile Sarkis Neder que por muitos anos trabalhou em posto de saúde em Piracicaba, foi professora da Rede Pública de Ensino, tiveram dois filhos: Silvia e Alexandre.

  Em qual escola você iniciou os seus estudos?

Foi na Rua D.Pedro I em uma escola denominada Escola Nova Recanto Infantil, depois fui fazer o meu pré-primário na Escola Nossa Senhora da Assunção. Era o tradicional Colégio das Freiras, naquela época era freqüentado tanto por alunos do sexo feminino como alunos do sexo masculino. Lá eu estudei o curso primário, o ginásio eu estudei no Colégio Salesiano Dom Bosco. O curso colegial técnico em administração eu fiz no Colégio Piracicabano. Cursei Jornalismo na UNIMEP Campus Centro, a minha formatura foi em 1991.

Como surgiu essa sua paixão pela comunicação social?

Costumo dizer que o que me levou para o jornalismo foi o esporte, sempre fui fã de esporte em especial futebol e Fórmula-1. No início da década de 80 eu demonstrava uma tendência ao jornalismo. Eu recortava os jornais que recebia em minha casa, às vezes até irritando pai e mãe, eles não tinham como ler, estava todo picotado. Montava do meu jeito, um jornal em folha de papel almaço, com várias páginas. Escrevia o nome fictício do jornal, isso eu tinha meus 9 a 10 anos. Fui me desenvolvendo, lendo, me interessando mais pelas coisas do jornalismo. No ano de 1982 houve uma grande revolução na minha vida: tinha chegado ao mercado o videocassete! Isso era uma coisa louca, poder gravar o que você está vendo na televisão!

Havia até consórcio para adquirir videocassete.

Por ai medimos como era difícil adquirir! Em 1982 houve a Copa do Mundo da Espanha. Comecei a fazer um acervo de imagens, que preservo até hoje, Em 1983 um grande amigo da família, Mário Monteiro Terra, veio em minha casa, conversou comigo, viu e leu algumas coisas. A essa altura já estava também escrevendo meus comentários e opiniões. Foi quando ele disse: “-Tem que levar esse menino para ter uma coluna de esportes em O Diário”. Ele viu um comentário que eu tinha feito a respeito do presidente da CBF na época, o Giulite Coutinho, era uma critica que eu tinha feito ao futebol brasileiro. O Mário levou o artigo para ser publicado. Em abril de 1983 eu comecei a ter uma coluna semanal, saia aos domingos,  denominada “Papo Esportivo”. Com o passar do tempo essa coluna foi crescendo. Na época eu tinha 14 anos! Em 1985 comecei a escrever uma segunda coluna que era publicada toda quarta feira,  voltada ao automobilismo, chamava-se “Alta Velocidade”. Até que em 1986 passei a ficar permanentemente em O Diário, com o então editor Renato Fabretti. Em 1987 o Renato mudou-se para São Paulo, foi trabalhar no “Diário Popular”. Eu assumi a editoria de esportes de O Diário. Entrei na faculdade em 1988. De 1988 até 1991 trabalhei no Jornal de Piracicaba. Em 1983 criei o meu próprio jornal “O Democrata” que circulou de abril de 1993 até inicio de 1999.

A sede de “O Democrata” era onde?

Era na Rua Boa Morte, entre a Rua D.Pedro I e a Rua Ipiranga. Era um jornal de circulação semanal, aos sábados, após um ano e meio passou a ser bi-semanal, quarta-feira e sábado. Inicialmente ele era impresso na Gráfica do Jornal de Piracicaba, depois passamos a imprimir no Diário do Povo de Campinas. Até que foi feita uma negociação  com o Ex-Governador Orestes Quercia, isso em 1995, quando adquirimos uma impressora do Diário Popular de São Paulo, não era off-set, era nylon-print, a chapa de impressão era diferente. Tratava-se de um maquinário mais antigo, que tinha servido todos os anos históricos do Diário Popular, o Quércia que era proprietário do jornal havia adquirido equipamentos modernos para sustituir essa impressora. Na época foi feita uma negociação muito camarada e  essa máquina veio para Piracicaba. Rodamos na nossa máquina até o final do nosso jornal. Tinhamos uma equipe própria. A confecçaõ do jornal na época era mais trabalhosa: tinha que fazer o fotolito; “queimar” a chapa, atualmente é mais fácil, através do computador transfere-se para a máquina de impressão. Até então havia um trabalho artesanal e caro. Uma característica marcante dessa máquina é que era muito grande, no dia em que ela chegou no prédio da Rua Boa Morte causou um impacto enorme pelo seu tamanho. Era uma máquina muito antiga. Para acertar o registro da fotografia, sobrepor olho no olho, nariz no nariz, tonalidade da cor, gastava-se uma quantidade de papel assustadora. Quando fechou O Democrata essa máquina foi vendida para um jornal de Poá.

Primeiro você ingressou na televisão ou no rádio?

Primeiro no rádio, na Rádio Educadora de Piracicaba, foi ela que me abriu as portas pela primeira vez em 1988. Comecei a participar de um programa chamado Educadora Esportiva, era as 6 horas da tarde. Quem me convidou para participar do programa foi o Professor Rubens Braga. Além dele participavam o Beto Pastor, Edvaldo Tietz. Nessa época eu estava na redação do Jornal de Piracicaba. Eu ia fazer os comentários juntamente com a equipe todo final de tarde, adquiria a Gazeta Esportiva e analisava para os ouvintes as notícias. Naquele ano houve eleições, o Rubens Braga como candidato a vereador teve que se afastar da rádio. Alguns dias depois o Edvaldo Tietz saiu. Logo em seguida o Beto Pastor saiu também. Assim eu fiquei apresentando por um bom tempo esse programa. Após alguns meses fui para a Rádio Difusora no final de 1988 onde permaneci até o começo de 1992.

Na Rádio Difusora você apresentava qual programa?

Na rádio difusora fiz de tudo, na época havia a Central Difusora de Jornalismo, eu cobria a Câmara Municipal, fazia reportagens de rua ao vivo com a famosa Motorola (equipamentos de transmissão externa). Gravava entrevistas de estúdio. Cobria apresentadores que não podiam fazer o programa em determinada data. Tive ali uma grande experiência. Fui assessor de imprensa do Conselho das Entidades Sindicais de Piracicaba (Conespi). Fiz umas inserções do Conespi na Rádio Difusora. Em 2011 voltei para a Rádio Difusora onde fiz o programa “Neder Especial” das 15 às 17 horas, isso até 2012. Era um programa bem eclético. Um musical com inserções populares: receitas; horóscopo; novela; generalidades. Quem participava comigo desse programa era o saudoso José Alexandre de Almeida, o Xandão. O grande projeto que faço em rádio acredito que seja o que estou realizando atualmente na Rádio Educadora. É um programa muito interessante que foi criado por Jairinho Mattos, ele me deu a honra de tocar esse projeto com toda equipe da rádio, é o programa “Novo Dia”. É um jornal da manhã que tem toda a responsabilidade de dar a primeira notícia, o que não é fácil, você tem os fatos que ocorrem na madrugada ou na noite anterior. Tem que ter tudo mastigado, para poder passar para o ouvinte. É um programa muito ágil, tem que ser muito dinâmico, de uma instantaneidade muito grande. Os comentários também, dentro do calor da notícia. Com isso os comentários saem as vezes emocionados, outras vezes com irritação, as vezes comentários polêmicos, mas são comentários daquele momento. Muito ágil do ponto de vista jornalístico, isso foi uma proposta muito interessante da rádio. Fico feliz com a audiência que está tendo desde janeiro de 2014 quando o programa entrou no ar. O programa tem a produção de Maurício Furlan, que tem um trabalho importante. O João de Oliveira que é um baluarte do rádio, na sonoplastia, eu faço a coordenação das notícias, apresento e comento. É um programa que na véspera já estou trabalhando nele, vejo as notícias em minhas fontes e trabalho a forma como vou apresenta-las. Procuro ter acesso a notícia na madrugada, no momento em que acontece. Tenho que fazer um comentário objetivo sobre a notícia que chega. Tem-se que tomar cuidado, conferir as informações antes de divulgar a notícia. Como exemplo posso citar um determinado dia em que cheguei a rádio e deparei com uma sucessão de acontecimentos ocorridos na noite piracicabana. Eventos de violência em vários bairros da cidade. Tomei o cuidado de verificar com as autoruidades responsáveis, fomos apurando e felizmente não era isso tudo, ocorreu um fato isolado que foi propagado com acrescimos e invencionices de uma tragédia. Pura lenda urbana.

A internet é uma fonte preciosa de informações, mas para um formador de opinião pode ser uma armadilha?

A gente tem que tomar muito cuidado. A internet fez surgir uma geração de comentaristas e de profissionais de influência pública que ninguém sabe de onde veio e para o que veio. Tem muitos se auto proclamando como isto ou aquilo, na verdade nunca ninguém ouviu falar. As vezes eles vem com alguns conceitos, algumas teorias que tem dois significados: ou a pessoa está de brincadeira ou tem algum interesse escuso. Quando vem no campo da informação é perigoso.

Os pais ultimamente estão aconselhando os filhos a tomar muito cuidado com a internet, a recíproca também é verdadeira, o pai tem tomar cuidado com o que está vendo?

Ultimamente os adultos estão sendo influenciados por “histórias” da medicina! Tem muita gente de jaleco que está gravando vídeos, dizendo que “comer abacate com cenoura é cancerígeno” ou “se não tomar um copo de água quando acorda irá ter dor nas pernas”, coisas dessa natureza. Isso é reproduzido de uma forma exponencial, quando você adverte sobre a veracidade desse tipo de notícia, muitos ficam tristes. Quem vê a notícia nem sempre percebe a ironia com que ela é colocada. Lógico que a internet tem o seu lado bom. Por exemplo quando não havia a internet e eu queria ouvir o meu Corinthians jogar, tinha que ouvir no rádio, tinha que sintonizar uma rádio de São Paulo, com aquela chiadeira toda, ninguém imaginva que você estava ouvindo alguma coisa. No meio da interferência de outras rádios dava para ouvir alguma coisa. Hoje temos as rádios via satélite, canais a cabo, a internet reduziu todos os problemas. O programa que apresento tem audiência em Portugal, além de que, coloco o programa no you tube, facebook.

Você está na tevisão também?

Estou na TVR – TV Regional, Canal 26 e Canal 526 da NET em Piracicaba. Lá eu apresento Neder Especial que em 2018 estará completando 20 anos no ar. Nesse tempo todo abordamos todo tipo de assunto, das mais diversas formas: médico, economico, político, de caráter geral da sociedade, de interesse público. Eventos sociais também. Fatos marcantes no decorrer da história. Cobertura de shows. Acredito que a graça desse programa é fazer de forma diversificada. Segue um formato padrão sendo maleável quanto as abordagens.

Você participa de algumas instituições de Piracicaba?

Sou tesoureiro do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba, conselheiro do Clube de Campo de Piracicaba, diretor de Comunicação do Clube Coronel Barbosa, fui presidente por dois mandatos na Sociedade Sírio Libanesa de Piracicaba, de janeiro de 2008 a janeiro de 2012.

Foi uma experiência importante dirigir uma instituição secular?

A experiência ali para mim foi muito importante pelos resultados que alcançamos. Cada um que passa pela sociedade desenvolve um tipo de trabalho prioritário. Deixa uma marca, uma contribuição. A nossa Sociedade Sírio Libanesa tem muito dessa característica porque é a única entidade àrabe-brasileira que nunca parou de funcionar. Nós conseguimos fazer um trabalho muito forte na questão da solidariedade. Da beneficência.

 

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