terça-feira, março 05, 2019

ALTAIR HELENA PIACENTINI


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 24 de novembro de 2018.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: ALTAIR HELENA PIACENTINI 

A história bucólica de Altair Helena Piacentini é uma demonstração de que vencer os obstáculo interpostos pela vida requer muita fé, determinação. Altair nasceu a 8 de outubro de 1921, está portanto com 97 anos, desfrutando de excelente saúde. Filha de Pedro Piacentini e Olímpia Gazziola Piacentini., que tiveram quatro filhos: Francisco Antonio, Padre Narciso Piacentini e Altair, o quarto filho faleceu ainda muito novo.  A Paróquia Santa Cruz, em São Paulo, teve origem na antiga Capelinha Santa Cruz, construída em 1903, na Avenida Santa Inês. Em 1965, seu irmão, Padre Narciso Piacentini, então Capelão do Hospital do Servidor Público de São Paulo foi convidado para celebrar missas na capelinha. O Padre Narciso não só aceitou, como passou a ter uma grande devoção à capelinha. A comunidade cresceu muito, a capela tornou-se pequena. No dia 30 de abril de 1972 Dom Evaristo Arns, Arcebispo de São Paulo  inauguro a Igreja, sendo que simbolicamente Dom Evaristo e o diretor do Horto Florestal de São Paulo plantaram cada um uma árvore em homenagem ao novo templo.
Em que cidade a senhora nasceu?
Nasci em uma chácara em Piracicaba, no bairro da Água Branca. Meu avô Ferdinando Gazziola tinha uma chácara lá. Meus pais também tinham uma chácara lá. Meu avô paterno chamava-se Raimundo Piacentini. Meus pais mudaram-se com a família para Rio das Pedras, eu tinha 5 anos, fomos morar no bairro Bom Retiro. Lá em Rio das Pedras eu estudei no Grupo Escolar Barão de Serra Negra, Osário Germano e Silva foi o meu último professor. Moramos na Rua Rangel Pestana, conhecida pela cidade como Rua Torta. Naquela época existia a Estação de Trem da Estrada de Ferro Sorocabana.  Lembro-me de que assistíamos filmes em um telão no clube social da cidade. Não havia calçamento na cidade, era chão de terra.
A senhora conheceu antigos moradores, como Natin Marino?
Conheci! Faleceu recentemente. Conhecia Paschoal Consomangno, Limongi, família Saliba, família Coury, Basílio, a minha mãe fazia crochê para o enxoval das moças. Conheci a fábrica de macarrão, conheci Américo Froner e Laura Froner, tinham a pedra de fazer fubá. Lembro-me das bandas de Jazz que havia na cidade.
Eu não queria encerrar os estudos, só que naquela época estudar era para poucos, eu tinha duas tias freiras: Irmã Justa Maria, irmã da minha mãe e Irmã Isabel, irmã do meu pai. As duas eram franciscanas. Fui para o Patronato São Francisco em Campinas. Permaneci por três anos lá. Só vinha nas férias.
Como era a vida de aluna interna?
Éramos em poucas alunas internas. Havia muitas alunas externas. Naquela época não se fazia a faculdade com a facilidade que existe hoje. As moças iam aprender a costurar, fazer bordados, pintura, fazer flores. Após esse período, voltei para Rio das Pedras, onde permaneci por um ano. Vi que não havia condições de conseguir trabalhar na cidade.
Para vir para Piracicaba qual era a condução utilizada?
Utilizávamos ônibus e trem. O ônibus era mais rápidos.
Quem era o pároco de Rio das Pedras naquela época?
Era o Monsenhor Martinho Salgot. Quando vim trabalhar em Piracicaba, inicialmente fui morar na casa do Monsenhor Martinho Salgot, Dona Rosa era cunhada do Monsenhor Martinho Salgot, ela que que me convidou, nessa época Francisco Salgot Castillon, sobrinho do Monsensenhor estava em São Paulo, estudando engenharia.
Nesse período a família da senhora estava em Rio das Pedras?
Após um ano, trabalhando com costura, fui buscar minha família em Rio das Pedras. Aluguei uma casa e meus pais vieram. Meu pai estava receoso em vir para cá. Meu pai era artesão: fazia jacás, trabalhava com bambu e madeira, fazia covo para pesca, naquela
época usava-se muito cestas de bambu para levar almoços. Ele trabalhava em casa mesmo.
E a senhora trabalhava em casa?
Trabalhava em casa confeccionando roupas femininas. Por um ano eu ia costurar nas casas das pessoas, aqui em Piracicaba. Depois Dona Odila Lopes Fagundes Morganti, esposa de Lino Morganti me chamou, fui trabalhar na casa dela onde permaneci por 10 anos.
A senhora conheceu o Palacete da Família Morganti, no Bairro Monte Alegre?
Conheci muito! Lembro-me de um mordomo.
Era o pai de Togo Ieda, hoje advogado.
Aquele palacete era um luxo deslumbrante. Eu costurava lá dentro, era na sala de jantar da meninas, tiveram três filhas: Heloisa, Liliane e Renata. Eu costurava muito bem, bordava, A Dona Odila reconhecia o meu trabalho. Eu morava perto do Mercado Municipal de Piracicaba, As seis e meia da manhã eu pagava o ônibus e chegava no Monte Alegre as sete horas. Geralmente eu tomava café em casa. Lá eu almoçava, parava um pouquinho. Era um local muito bonito.
E para os homens quem costurava?
Meu irmão Francisco Antonio era alfaiate, no início ele trabalhava na minha casa, ele fazia roupas para o pessoal de Piracicaba. Naquele tempo alfaiate era uma profissão valorizada. Era comum o uso de terno, usava-se casimira, linho. As roupas eram feitas sob medida. Usava-se muito algodão naquela época. Normalmente eu tirava a medida, fazia o molde no papel, depois eu cortava e costurava na máquina Singer, com motor.
Nesse período a senhora chegou a conhecer alguém? Casou-se?
Conheci! Quadrando o jardim em Piracicaba! Era assim que a maioria se conhecia! Ele era alfaiate chamava-se Antonio Banzato, depois Dona Odila gostou muito dele. Ele estudou o Curso de Desenhista Técnico na Escola Latino-Americana de São Paulo. As lições vinham ele as fazia em uma prancheta que havia em casa, assim que terminava mandava às sextas-feiras e vinham as lições para ele no sábado. Ele passava os domingos fazendo as lições. Até que ele tirou o diploma. Ele estudou na Escola de Desenho Megatec em Piracicaba também. Foram contratados vários engenheiros estrangeiros, italianos, holandeses, para construir a Fábrica de Papel em Piracicaba. Meu marido aprendeu muito com eles também. Interessante observar, que ele era desenhista nato, muitas técnicas de pintura e desenho ele aprendeu com um professor famoso: Frei Paulo! Isso antes dele dedicar-se ao desenho técnico. Logo no início, o Sr. Lino Morganti disse-me” Não precisamos de desistas artísticos e sim de desenhistas técnicos”. Com isso meu marido foi sendo promovido até ser chefe se seção. Casamos no dia 17 de fevereiro de 1952, na Igreja dos Frades. Meu marido faleceu com 68 anos.
A senhora conheceu Alfredo Volpi responsável por pinturas existentes até hoje na Capela Monte Alegre?
Eu ouvia falar o nome dele. Mas o meu trabalho era dentro de casa.
Monte Alegre era uma cidade: tinha dentista, um laboratório muito bem montado, um verdadeiro hospital! Meu filho nasceu lá.
Quantos filhos vocês tiveram?
Tivemos quatro filhos: Marco Antonio; Luís Alberto; Maria Teresa e Maria Olímpia. Eu fazia as roupas que eles usavam, não é como hoje que compra-se a vontade a roupa pronta.
A senhora tem uma disposição acima da média, o que faz com que esteja sempre disposta?
Não sei dizer. Acho que é da própria natureza. Como de tudo, embora não goste de carne vermelha.
O segredo é a quantidade de ingestão de alimentos?
Eu como pouco.
Em Rio das Pedras havia muitas procissões?
Tinha! Não vou à Rio das Pedras faz muito tempo, tenho vontade de voltar, para matar a saudade. Como estará a Escola Barão de Serra Negra? Eu gostava da minha escola!
Imagino que está igual ao tempo que a senhora frequentava, possivelmente com algumas mudanças superficiais.
Lembro-me da porteira do trem, não tem mais trem? Nossa a Sorocabana acabou!
A senhora lembra-se da olaria, das plantações de café?
Lembro-me sim.
Há quantos anos a senhora está morando no Lar dos Velhinhos de Piracicaba?
Estou aqui já a 21 anos. Vim em 1997. Um dos meus filhos mora em Campinas, ele vem toda semana. Os outros por razões profissionais moram em locais muito distantes. Tenho sete netos e três bisnetos!
Como é o seu dia, normalmente?
Quando vou a missa pela manhã, acordo as cinco e meia. Deito em torno das oito e meia da noite.
Gosta de televisão?
Gosto.
Acompanha política?
Não.
Do alto da sua experiência de vida, qual é a sua opinião sobre tantas mudanças que presenciamos?
Certas coisas passaram a ser melhores e outras piores. Os recursos materiais evoluíram muito, mas a parte espiritual regrediu. Antigamente casava-se e ia morar com a sogra, imagine se disser isso hoje em dia? Eu morei um ano com a minha sogra.
A senhora é do tempo em que as pessoas em Rio das Pedras colocavam as cadeiras nas calçadas e conversavam.
O pessoal fazia isso. Minha mãe não gostava de fazer isso.
Hoje tornou-se temerário esse tipo de reunião!
É verdade!
Por acaso a senhora usa celular, recursos eletrônicos?
Já ofereceram-me, mas não quero nada disso!
Era comum Rio das Pedras receber circos?
Era sim, iam muitos circos, lembro-me do Circo Garcia.
A senhora gosta de ler?
Gosto! Gosto muito das publicações católicas. Dou uma olhadinha nos jornais também. Quem morreu! (risos). É para ver se tem algum parente, algum conhecido.
A senhora é uma pessoa muito sincera, poucos dizem, mas muitos já buscam a seção de necrologia de imediato!
A senhora praticou algum esporte?
Não, nenhum.
A nova geração é muito preocupada com saúde, isso é importante. Mas algumas pessoas exageram, fazem procedimentos arriscados para manterem-se com aparência jovial.
Isso é bobagem! Imagino que fazem isso porque não trabalham em casa! Quem trabalha em casa, trabalha, trabalha, trabalha e não tem tempo para ir atrás dessas “novidades”.
A senhora trabalhou com agulha de tricô, crochê?
Eu ainda faço tricô, crochê! Faço sapatinhos para recém-nascidos! (A sua acompanhante Marlene pega uma caixa em um armário, cheia de sapatinhos). Vão para as crianças pobres da Santa Casa. Eu mando para Ribeirão Preto também. (O bom gosto, acabamento e qualidade dos sapatinhos deixam transparecer o com que amor foram feitos). 
Quanto tempo a senhora gasta para fazer um sapatinho desses?
Faço dois pares por dia! São feitos a mão!
E a lã onde a senhora arruma?
Eu compro com minhas economias.


ANGELO ALBERTO BERTOCCO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 02 de fevereiro de 2019.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: ANGELO ALBERTO BERTOCCO
 Quem tem o maior número de dados precisos de uma empresa, independente do seu porte, está fadado a fazer as correções necessárias. Ter um histórico que permite prever o futuro. E com isso obter sucesso. Salvo as exceções de filhos pródigos, hábitos dispendiosos e outros meios de gastar mais do que recebe. Atualmente o empresário brasileiro tem uma das mais pesadas cargas tributárias, nossa burocracia é arcaica, com um cipoal de leis, não somos nem práticos nem objetivos. Algumas leis são tão esdrúxulas que o próprio profissional de contabilidade tem que ter um tempo para poder entendê-la.  Conforme narra o escritor Clemente Nelson de Moura em seu livro a História da Contabilidade em Piracicaba, tivemos o privilégio de termos escolas de contabilidade, formando uma base sólida para as empresas. O Professor José Romão Leite Prestes, mudou-se de São Paulo para Piracicaba em 1845, fundou uma escola que chegou a ter 200 alunos. Entre outros ensinamentos os alunos faziam a “escrituração boa e limpa”. Jeronymo José Lopes de Siqueira foi Escriturário do Engenho Central. Outro guarda-livros foi Francisco Pimenta Gomes que a 12 de agosto de 1882 anunciou leilão de bens e vendas de escravos no Tabelião dos Pescadores. Piracicaba teve muitas escolas de contabilidade com excelentes professores: A Escola de Comércio Prudente de Moraes, com sede na Sociedade Beneficente Operária, em meados de 1921, o Professor, Dr, Jorge Canaan fundou na Rua do Rosário o Curso Prático Comercial. Dr. Jorge Canaan, era imigrante libanês, fixou-se no Rio de Janeiro onde estudou contabilidade, e mais tarde formou-se em Direito. Foi grande amigo de Dr. Noedy Kraembhul e Jacob Diehl Neto que sempre o estimou e admirou. Quando Jorge Canaan faleceu Jacob caiu em prantos (há documentação a respeito). Hoje existe em São Paulo a Rua Jorge Canaan, há pós-doutorados realizando pesquisas sobre a importância do seu trabalho (Há documentação a respeito). Grande orador, tinha o brilho que hipnotizava a sessão do tribunal em São Paulo, Rio de Janeiro e Piracicaba.  Outras escolas de Contabilidade abriram e com o tempo encerraram suas atividades. A Escola Técnica de Comércio Cristóvão Colombo inicialmente denominada “Curso Commercial Christovam Colombo” foi fundada em 12 de outubro de 1913 pelos professores Pedro Zalunardo Zanin, diretor, e Adolpho Carvalho, vice –diretor. Pedro Zanin era guarda-livros da Usina Monte Alegre, emprego que deixou assim que fundou a escola. Após funcionar em diversos locais, em fins de dezembro de 1943, passou a funcionar na Praça José Bonifácio, 930, telefone 366. Até 1936 já haviam sido diplomados 440 alunos, sendo que muitos ocupavam funções importantes. Ângelo Alberto Bertocco tem uma estreita ligação com a Escola Técnica de Comércio Cristóvão Colombo. Ângelo Alberto Bertocco nasceu a 20 de outubro de 1932 em Brotas, é filho de Waldomiro Bertocco e Nina Yarid Bertocco que tiveram os filhos Ângelo e Marcus Antônio. 
Até que idade o senhor permaneceu em Brotas?
Até os 14 anos. Estudei no Grupo Escolar Morais, nome dado ao Grupo Escolar de Brotas inaugurado em 15 de janeiro de 1912. Lá estudei até o quarto ano primário. Meu pai sempre trabalhou em comércio, teve bar, sorveteria, confeitaria, Já aos onze anos batia sorvete, fazia sorvete de massa, o sorvete de palito tem o momento certinho do colocá-lo no sorvete. Os sorvetes mais procurados eram o de limão, de massa o creme holandês, coco, coco queimado, abacaxi vendia bem. O sorvete de groselha era de palito. Eram sorvetes feitos com a própria fruta. O bar de propriedade do meu pai chamava-se “Bar Meia Noite”. Trabalhei com o meu pai também quando ele vendia retalhos de tecidos por peso.
Com 14 anos o senhor veio para Piracicaba?
Vim sozinho, de jardineira. Ia até Torrinha e de Torrinha para Piracicaba. Ou então de Brotas até Rio Claro e de Rio Claro para Piracicaba. A estrada era de terra, levantava uma poeira! Quando chovia era um barro só! Aqui fiquei na casa de uma madrinha minha Tereza Cardinalli. Dia 20 de outubro de 1947 completei os meus 15 anos de vida. Minha madrinha foi embora para São Paulo em 31 de dezembro de 1948. Fiquei um ano e pouco na casa dela. Nesse meio tempo trabalhei em lanchonete no “Café Broadway” ao lado do Cine Broadway. Logo ali na esquina da Rua São José com a Rua Alferes José Caetano era a Funerária Libório. Trabalhei em bar, em uma loja “Casa São Carlos” ficava na Rua Governador Pedro de Toledo, entre a rua Rangel Pestana e a rua Pedro II, era do Sr. Antonio Tanus. No início o Sr. Antonio achou que eu não estava preparado para vender roupas finas. Com o tempo fui me aperfeiçoando, depois ele não queria que eu saísse da loja. Nesse tempo eu estava fazendo a primeira série na Praça José Bonifácio, 930, na Escola Técnica de Comercio Cristóvão Colombo. A filha do Seu Zanin era Dona Evelina Zanin. Em 15 de maio de 1939 faleceu Pedro Zalunardo Zanin, assumiu a direção da Escola seu filho, o Contabilista Antonio Ítalo Zanin. Fui falar com Seu Antonio Zanin, que era o diretor, disse-lhe que teria que sair da escola. Ele queria saber o porquê, expliquei, ele disse-me: “Você não vai embora, vai trabalhar aqui!” Passei a trabalhar como auxiliar de secretaria. Eu já estava na segunda série. Nesse período minha madrinha estava mudando para São Paulo, Seu Antonio disse-me: “Eu arrumo um lugarzinho para você aqui.” Era um quartinho. Conclusão lá eu morava, trabalhava e estudava! A Escola foi para mim uma família!
No tempo em que o senhor trabalhou na Escola Cristóvão Colombo ela ficava em qual local?
Ficava na Praça José Bonifácio, existia o Cine Politeama, ao lado o Passarella, que era famosa pelas balas e doces, hoje acredito que no local foi construído o estacionamento do Bradesco. Um pouco depois do Passarella era a Escola. O prédio foi derrubado para construir o Banco Itaú. Antes, ao lado da escola, para quem olha na entrada, do lado esquerdo havia uma pastelaria. Estava ainda instalado naquela quadra o Cartório do 2º Ofício. Tendo à frente Mozart Aguiar e Cícero Portela. Entre o Cartório e a pastelaria, havia um corredor que dava acesso a uma escada. Ali era a Escola Cristóvão Colombo. Eram dois andares.
Quantos alunos frequentavam a Escola Cristóvão Colombo?
Chegou a ter 600 alunos! Havia sete classes de manhã, três classes a tarde e sete classes à noite. Os cursos eram: Comercial Básico e Técnico em Contabilidade. Esses dados eu sei porque fui subindo de posto, comecei como auxiliar, passei a Secretário, ajudava alunos em aulas, cheguei até a responder pela Diretoria quando seu Pedro faleceu.
Havia um controle rígido de presença de alunos?
Havia! Era uma escola com excelentes professores. Naquela época havia outra escola de contabilidade no Instituto Piracicabano e na Vila Rezende, na Escola Imaculada Conceição, que os alunos encarregaram-se de denominar “Escolinha do Carequinha”. Coisa de aluno. Eu não cheguei a conhece-lo, mas havia um escultor, Cienfuegos, que esculpia em madeira belíssimos quadros, verdadeiras obras de arte, com o local próprio para colocar a fotografia do formando. A ESALQ conserva muitos desses quadros com as fotos dos seus formandos.
Em que ano o senhor saiu da Escola Cristóvão Colombo?
Saí em 1980. Em 1984 a Escola de Comércio Cristóvão Colombo encerrou suas atividades. Um dos grandes professores foi o Dr. Frederico Alberto Blaauw. O Monteiro, da Casa Monteiro situada na Avenida Rui Barbosa, era um dos alunos que acompanhavam as aulas do Professor Blaauw com a máxima atenção. Não faltava de jeito nenhum. Aprendeu, formou-se contabilista e hoje atua no comércio. O Monteiro foi um dos alunos que eu admirava. O aluno aprendia português com o Professor Blaauw. A Escola Cristóvão Colombo primava pelos seus professores, Professor Acácio de Oliveira Filho, Affonso José Fioravante, Alfredo do Amaral Filho, Antonio Romero, Antonio Buco, Deusdedir Gobbo. Dr. Aurélio Scalise, Geraldo Bragion, Lourdes Aparecida Rocha Carvalho, Nazira Graciema da Silva, Thales Castanho de Andrade, Benedito de Andrade e muitos outros nomes de peso. Com isso, os alunos tinham um ensino de alto nível. Grandes empresários, comerciantes, industriais, executivos, saíram dos bancos da Escola de Contabilidade Cristóvão Colombo entre muitos Pedro Caldari, Tarcísio Mascarin, tinha muitos alunos que trabalhavam no Dedini. O pai do Olênio Veiga, mestre do violino, avô do Dr. Ivan Veiga foi um excelente professor de português. Humberto D`Abronzo formou-se lá. Justo Moretti, professor da ESALQ, estudou lá, outro grande violinista.
Algum religioso estudou na Escola Cristóvão Colombo?
Lembro-me de duas freiras, Irmã Hortência e Irmã Ana, iam às aulas com o habito de freiras. Muitos militares cursaram a escola. A Escola de Comércio era para dar ferramentas para trabalhar.
Existe ainda o arquivo da escola?
Os documentos todos da escola foram encaminhados para a Delegacia de Ensino. Uma vez precisei de uns documentos, havia dado uma enchente e danificado tudo.
A que horas a escola iniciava as aulas?
Eu que abria a escola. Os horários eram: das 8:00 às 11:00; das 14:00 às 17:00 e das 18:00 às 21:00 horas. No curso tinha aulas de datilografia até a terceira série, Havia aula de taquigrafia, Quem era muito bom em taquigrafia era o Telmo Otero, ele que lecionava taquigrafia. Muitos estudantes da Escola de Agronomia vinham cursar a noite a Escola Cristóvão Colombo.
Como era o Sr. Zanin?
Era muito querido pela cidade, tinha inúmeras amizades, não fazia distinção de classe, conversava com todos, sabia dialogar. Ele residia na Rua Governador Pedro de Toledo, próximo à rua Gomes Carneiro.
O senhor é uma pessoa muito considerada em Piracicaba.
Na escola sempre fui, e fora da escola também. Naquela época trabalhava de terno, gravata. Quando iniciei a Escola Cristóvão Colombo ficava na rua Governador Pedro de Toledo quase esquina com a rua XV de Novembro. Próxima onde hoje há uma farmácia na esquina, quase em frente a Sociedade Sírio-Libanesa. O prédio era da família Testa, foi demolido. Minha função era a de secretário, mas cheguei a ser tesoureiro da Escola. O porteiro é quem varria a escola inteirinha, quando ele faltava, eu até varria a escola. O Seu Zanin sempre foi muito bom para mim. Eu que recebia dos alunos, na falta de tesoureiro, muitas vezes sentava com o aluno e escutava as suas dificuldades. Uma vez eu estava atravessando o jardim da Praça José Bonifácio, veio um rapaz, apressado, e disse-me: “Seu Bertocco, tenho que agradecer muito o senhor, eu estava para sair da escola, o senhor não deixou, eu não tinha dinheiro, o senhor deu um jeito”. Para dizer a verdade, chorei junto com ele!. Tão logo fui admitido na escola como secretário, procurei atualizar o cadastro dos alunos, alguns nomes estavam com grafia diferente do documento apresentado. Consegui colocar um uniforme para a escola.
Como era o uniforme da escola?
 Camisa branca e calça marrom. As moças com saia marrom e blusa branca. O emblema da escola era colocado nas camisas e blusas, quem desenhou o emblema foi Edson Rontani! O Edson foi um grande amigo, participava das festas da escola. A escola tinha o seu brazão, bandeira. Tudo desenhado pelo excelente Edson Rontani. Tínhamos um grêmio, fazíamos excursões, passava cinema na escola. Palestras. Tudo isso eu consegui fazer.
Em desfiles cívicos a escola participava?
Participava! Até hoje sinto falta. Foi tudo construído com muito carinho, era uma outra época, dificilmente haverá algo parecido. O professor entrava na sala de aula os alunos levantavam-se, aguardavam a ordem para sentar. O Professor Andrade nunca fez chamada por número, sempre pelo nome.
A escola proporcionou conhecimentos que resultaram em casamentos?
Tinha um grande número de moças e rapazes. Nada mais natural do que resultasse em um bom número de casamentos!
Os alunos daquela época costumam visita-lo em sua casa?
Ganhei uma gravação com mais de 400 músicas de Roberto Carlos! Um ex-aluno fez uma pesquisa, por uns quatro anos, das gravações internacionais e nacionais do Roberto Carlos, ficou excelente. Recebo a visita de muitos ex-alunos da Escola Cristóvão Colombo. Fiz o cursilho, com essa experiência formei um movimento religioso dentro da escola: Juventude Estudantil Cristã – JEC. Fazia reuniões no Seminário Seráfico São Fidélis ou no Seminário da Nova Suiça. Participavam uma centena de pessoas. Ou até mais.
O senhor morou quanto tempo na escola?
Morei cinco anos. Depois casei com Elza Ochiusi Bertocco e fomos morar na Rua XV de Novembro. Vivi com a minha esposa 60 anos, 4 meses e 14 dias casados. Manoel Lopes Alarcon foi meu padrinho, era seresteiro. Conservo até hoje uma coleção de medalhas, certificados, que ganhei por estimular o esporte entre os nossos jovens. O bispo na época era Dom Aniger Francisco Maria Melillo. O Cecílio Elias Netto exerceu por muitos anos a função de Reitor do Cursilho. Após deixar a Escola Cristóvão Colombo, tive um pequeno escritório, todos que ali trabalharam estão muito bem.
O senhor é detalhista?
Quando o assunto me desperta o interesse sou detalhista.
O senhor já ganhou o título de cidadão piracicabano?
Não. Ganhei o título de Contabilista do Ano. Além de uma profusão de medalhas, troféus, Moro nesta casa desde 1957.
No escritório dependurada, a gravura de um jovem, pergunto quem é.
Eu! Foi uma pintura de Edson Rontani! Mais acima outro quadro temático de Edson Rontani.
As festas de formatura eram realizadas em qual local?
Geralmente no Teatro São José. Ângelo Alberto Bertocco do alto dos seus 87 anos dirige o seu veículo, sendo que a sua vaga na garagem possivelmente desafiaria muitos motoristas com experiência. O seu raciocínio rápido e sua memória prodigiosa, mostra como o ser humano pode e deve agradecer os anos vividos. A simpatia de Ângelo Alberto Bertocco possivelmente é a mesma como sempre tratou os alunos da gloriosa Escola de Contabilidade Cristóvão Colombo, a nossa querida Escola do Zanin.

ANTONIO VALENTIM BERTIM (Mazzola)


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 26 de janeiro de 2019.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: ANTONIO VALENTIM BERTIM (Mazzola)

Antonio Valentim Berttin nasceu a 11 de fevereiro de 1938, às 8:00 horas da manhã, natural do bairro rural Cillos, município de Americana. Hoje essa região pertence ao município de Nova Odessa.  Antonio é um homem de larga experiência de vida, dinâmico, Gosta de trabalhar. Aposentado, ainda faz visitas a alguns cliente-amigos, pelas cidades próximas. Ele mesmo dirige seu veículo. Já não se arrisca a longas viagens como fazia antigamente, nem vai mais a sua querida Curitiba, onde tinha um amigo, o Professor Dalton Áureo Moro, cujo filho o Sérginho é hoje o Ministro Dr. Sérgio Fernando Moro. Antonio Valentim Berttin é filho de Primo Berttin e Carolina Angela (Tegon) Berttin, que tiveram quatro filhos: Olga, Zilda, Irene e Antonio. Seu pai era empreiteiro de mais de cem alqueires de cana-de-açúcar, que ficava aos cuidados da família, tios, totalizando 17 pessoas. Formava uma colônia. Tinha uma água que vinha da nascente, fizeram um condutor de bambu, a água passava na porta da cozinha, caía dentro de uma caixa, servia também para irrigar a horta. Em Santa Bárbara d´Oeste, todos os sábados seu pai ia ao barbeiro fazer a barba, depois ia trocar uma prosa com os amigos em um bar que havia no centro da cidade, de onde moravam até lá dava uns seis quilômetros, iam de carrocinha.
O senhor estudou em qual escola?
Até o quarto ano primário estudei no Cillos, minha primeira professora foi Maria Amélia Camargo, a segunda professora foi sua irmã Aída Camargo, no terceiro ano foi Dona Maria Helena depois veio Dona Judite. Após concluir o quarto ano fui trabalhar em uma fábrica de tecidos de propriedade do Sr. Ítalo Scuro. Eu tinha 12 anos, fui registrado, tudo conforme a legislação, Aposentei-me com 48 anos. Aos 12 anos fazia trama para fazer tecidos. Aos 14 anos passei a ser tecelão, já na fábrica de Roviglio Antonio Cordenonsi. Foi quando meu pai faleceu aos 45 anos. Permaneci por um ano aproximadamente na tecelagem, em seguida fui trabalhar com Geraldo Gobbo. Estudava em uma escola situada atrás da Matriz antiga de Americana. Nas proximidades tinha a Fábrica de Adubo do Zanaga, que espalhava as vezes um odor desagradável. A Basílica Santuário de Santo Antônio de Pádua é o maior templo católico construído ao estilo neoclássico no Brasil, conhecida como “Catedral Nova”, ocupa um quarteirão quadrado, ali foi um colégio de freiras. Pasei a estudar como torneiro mecânico em Campinas, trabalhava na tecelagem das cinco horas da manhã até as cinco horas da tarde, saía, correndo, tomava banho, ia até a estação da Companhia Paulista de Estadas de Ferro de Americana. Pegava o trem as 23:03 em Campinas de volta, chegava em casa meia noite, meia noite e pouco. As quatro horas da manhã me cutucavam, para levantar e ir trabalhar. Fiz isso por dois anos. Continuei os estudos em Piracicaba e me formei na Escola Coronel Febeliano da Costa Piracicaba, conhecida na época como Escola Industrial.
Como o senhor veio morar em Piracicaba?
Decidi batalhar por minha conta, a princípio iria para Campinas, estava à espera da condução, quando vi o ônibus que vinha para Piracicaba, como eu tinha parentes aqui, os Moniz, decidi pegar esse ônibus. A família Chiquito são meus parentes, uma dessas tias tinha criado o meu pai, quando o meu avô faleceu. Muitos anos depois, meu pai pegava o trem na Estação Cillos, toda vez que fazia linguiça trazia para essa minha tia. Na safra de feijão ele vinha da Estação da Paulista até próximo ao Seminário Seráfico São Fidelis com o saco de 60 quilos de feijão nas costas.
Aqui em Piracicaba o senhor foi trabalhar em qual empresa?
O Gino da AVA Auto Viação Americana, era muito meu amigo. Quando desci do ônibus, na agência AVA, próxima onde hoje é o Edifício Canadá, na esquina da Rua Santo Antonio com a Rua Prudente de Moraes, encontrei-me com ele que perguntou-me: “O que você está fazendo aqui menino?” Disse-lhe que eu havia tido uma desavença em casa, e que precisava arrumar um emprego de torneiro mecânico. O Gino Disse-me: “Tem uma pessoa no Dedini que é gerente e me deve muita obrigação, vai lá e diz que eu pedi para arrumar-lhe um emprego!”.  Fui, a pé, até o ponto final do bonde da Vila Rezende. Cheguei lá, pedi para chamar o gerente, expliquei o que o Gino tinha dito. Eles respondeu-me: “Não posso negar nada para o Gino! Mas eu não tenho lugar para você aqui! Você vai na MAUSA fala que eu mandei, eles estão precisando de um torneiro mecânico lá!”. Mandou que pegasse o bonde de volta e perguntasse ao Gino onde era o prédio da MAUSA, pois eu não sabia. Voltei a pé da Vila Rezende, perguntei ao Gino, ele me explicou. Quando cheguei, já tinha sido combinado com o Artemio Bottene, tinha terminado de acertar para no dia seguinte começar a fazer a experiência. Nisso o Toninho, amigo do Gino, que tinha me atendido na Dedini, chegou com seu automóvel Galaxie perguntou-me: “Filho! Você tem onde ficar?”. Falei que pretendia ficar na casa da minha tia Pina Chiquito. Ele mandou-me entrar no Galaxie, disse-lhe que meus pertences estavam no Gino, e o Toninho me levou na casa da minha tia. Ela era a irmã mais velha do meu pai. Ela nasceu na Itália, meu avô Antonio após algum tempo no Brasil, as trouxe: Clementina, Pina, Marieta e Antonia, vieram da região de Veneza.
Voltando ao ingresso na MAUSA o senhor continuou seus estudos?
Conclui o curso, o terceiro ano, no Industrial. O meu professor de português era Orlando Veneziano. 
Quem era o seu chefe na MAUSA?
Era hábito cada um ter o seu apelido próprio, meu chefe era conhecido como “Galo”. Se perguntar por Bertim ninguém sabe quem é, mas se perguntar por Mazzola a cidade inteira sabe quem é.
Por que o apelido do senhor é Mazzola?
O jogado de futebol Mazzola estava no auge, fisicamente eu era parecido com o jogador. Até hoje os conhecidos daquele tempo me chamam de Mazzola. Fui candidato a vereador duas vezes com o nome “Mazzola”. A primeira vez tive mais de 400 votos, só que o partido era muito forte, prevaleceram outros candidatos. A segunda vez foi com o João Hermann Netto candidato a prefeito e José Borghesi candidato a vice-prefeito. Eu vendia grade para aradora que o João fabricava, para o José Borghesi eu vendia elásticos, cordas de varal e cordas de amarrar caminhão. Através do José conheci o João.
Voltando a sua admissão na MAUSA, o senhor continuou morando com a Tia Pina?
No dia seguinte o Toninho me levou para ficar na “Pensão da Vó”, era assim conhecida a pensão que ficava em frente ao Laticínio Noiva da Colina, que ficava na Rua São João e Rua XV de Novembro, A “Pensão da Vó” era na Rua XV de Novembro. Hoje tem um prédio grande onde era a pensão. Isso foi em 1956, em 1958 eu arrumei uma namorada Laila Chuhi, casamos em 24 de maio de 1959. Infelizmente a sua família não apoiava o nosso namoro. Na época a Avenida Independência era terra ainda. Eles tinham uma mansão depois da Santa Casa. Eram muito ricos. Eles tinham fábrica de calcário. Onde era o salão da MAUSA que hoje está desativado, na Rua D. Pedro ali eles só processavam o produto.   Tinha a MAUSA funcionando na Rua Santa Cruz. A mina de calcário era na Estrada de São Pedro, na fazenda deles. Surgiu uma oportunidade para que eu fosse trabalhar em Jundiaí, na Vigorelli, fábrica de máquinas de costura. Eu trabalhava no período da noite, das 22:00 às 6:00 horas. Meu sogro foi fazer-nos uma visita, e viu que nossa situação financeira não era das melhores. Disse que estava abrindo uma empresa em Piracicaba, ia falar com eles. Dali uns dias ele voltou. Viemos de volta para Piracicaba. Provisoriamente fiquei na garagem da casa dele. Ele foi falar com Leonildo(Borrachudo) Checoli, irmão do Paulo. O Borrachudo perguntou ao meu sogro se por acaso o seu genro não era o Mazzola. Ele pediu para o meu sogro me trazer o mais rápido possível. Fiz o teste, passei, e comecei a ganhar o dobro do que ganhava em Jundiaí. Eles tinham um Torno de Revolver Automático que ninguém conseguia virar. Eu sabia porque tinha aprendido na MAUSA. Assim fui trabalhar na Auto Pira S/A Indústria Comércio Peças. Nessa época eu morava na Rua Aquilino Pacheco. Saí da Auto Pira e fui ser corretor. Eu saia da Auto Pira e ia vender o carnê Erontex, o Carnet da Sorte, nome comercial da Empresa Brasileira de Comércio Exportação Ltda. Fundada na década de 50 por Eronides Alves de Oliveira, conhecido por Eron, vendia carnês que sorteavam prêmios e distribuíam cortes de tecidos.
O senhor percebeu que era bom de vendas?
 Batia de porta em porta, no fim ganhava mais do que na Auto Pira. Surgiu o Hospital São Lucas em Americana, com o cunhado do Chafi Elias Aidar, pai da psicóloga Edazima Aidar, ao mesmo tempo fiquei cobrador do Bela Vista Nauti Clube, cobrava só os sócios com pagamento atrasado. Acabei conquistando a simpatia dessas pessoas, a ponto de muitos deixarem de pagar no dia correto pela atenção que eu dava quando ia receber. Não sei explicar, mas aumentou muito o número de sócios que só pagavam as mensalidades atrasadas. O empreendedor, que construiu o clube era o Luiz Guidotti, conhecido pela sua precisão em atirar. Ele colocava uma pessoa segurando um cigarro nos lábios e cortava o cigarro com um tiro de revólver. Apresentou-se várias vezes na televisão, era conhecido como “Rei do Gatilho”. Ele não estava nem um pouco satisfeito com o rumo que os pagamentos dos sócios estavam tomando. Todos os domingos eu saia de casa, ia a pé com a minha cestinha fazer compras no Mercado Municipal. Encontramo-nos lá, ele estava irado, disse que o pessoal estava pagando atrasado por minha causa, e descarregou uma série de ofensas, O mercado parou. Embora soubesse que ele estava armado, respondi-lhe a altura. O dono da banca em que estávamos em frente tremia, sabia que algo grave poderia acontecer. Continuei vendendo Erontex. Aí surgiu o loteamento das chácaras acima do Carrefour. Era do dono da Casa Espéria. Vendi muitas chácaras. Fundaram o Hospital Regional São José de Campo Mourão, Paraná. Como eu já tinha vendido filiação para os associados em Americana, naquela época não havia plano de saúde, você comprava a cota e ficava sócio do hospital. Fui de avião para Campo Mourão, Todo dinheiro que eu tinha deixei coma minha mulher, Fui com o dinheiro da passagem e o suficiente para ficar uns dois dias na cidade. Colocaram-me em um avião errado em São Paulo! Era avião da Redes Estaduais Aéreas Ltda. - Real Transportes Aéreos! Fui parar em Curitiba! Dessa maneira que conheci Curitiba. Depois por 27 anos trabalhei visitando clientes em Curitiba. A Real pagou o hotel, onde fiquei até o dia seguinte, quando teria voo pra Campo Mourão. Isso foi no dia em que nasceu o meu filho. Tivemos três filhos: Wagner, Silvia e Adriana. Quando desci em Campo Mourão, a pista de pouso não era asfaltada. Do aeroporto até a cidade dava uns dois quilômetros, pensei em ir a pé. Quando sai na estrada era um lodo só. Parou um homem dirigindo um Simca, perguntou se eu queria carona. De repente o carro encalhou, descemos para empurra-lo. Ele perguntou-me qual era a finalidade da minha ida, quando falei que fui para vender títulos do Hospital São José, ele disse que várias empresas já haviam tentado, trazendo prejuízos aos compradores, faltou honestidade dos vendedores. Ele era dono de uma casa lotérica, fui até o hotel, deixei as minhas coisas e fui até o escritório da empresa, onde tinha um funcionário me esperando. Os demais corretores tinham arrumado uma confusão e estavam me esperando detidos na delegacia. Fui até uma papelaria, peguei um talão de recibo, naquela época vendia-se talão de cheque em papelaria. Adquiri um. Você colocava o nome do banco, o número da conta do cliente, ele assinava, você ia a agência em que ele tinha conta e recebia. Comprei ainda um talão de Notas Promissórias. A entrada de cada plano era de 2.500,00 cruzeiros. Fui até a delegacia, no caminho fui vendendo planos, tinha vendido quatro títulos do hospital. Encontrei-me com Osvaldo Bená, que tinha sido meu barbeiro em Piracicaba, a barbearia dele ficava em frente à Igreja Bom Jesus. Havia a carência de um hospital, os médicos faziam consultas de forma precária, no hotel. Permaneci por 40 dias em Campo Mourão. Arrumei um parceiro que conhecia toda a região, fomos de jipe até uma localidade próxima, fomos até uma farmácia, lá vendemos ao farmacêutico um título de fundador. Tinha um homem sentado nos escutando, Ele nos convidou para ir até o escritório dele, era uma serraria enorme, tudo movido a água. Ele moia madeira para fazer compensado ou aglomerado. Ele pediu-me que repetisse o que tinha dito na farmácia. Disse que iria até o local onde o hospital estava sendo construído, se fosse verdade iria comprar um título para cada funcionário, eram mais de 100 funcionários. Fechamos o negócio. Fui ao hotel, paguei a minha conta e fui até o aeroporto onde alugava-se taxi aéreo, estava lá o Paulo Poli, que era deputado da região. Pedi para ele me levar para Maringá. Em Maringá peguei outro avião da Real que descia em Londrina. Vim para São Paulo, em seguida para Piracicaba.
Aqui o senhor continuou trabalhando como corretor?
Fui vender para o Seu Hermínio Petrin uma chácara, ele disse-me que eu era um vendedor especial, deveria trabalhar com um produto que rendesse um pouco todo dia. Recomendou-me para ir falar com seu filho, Júnior, “Fala que eu mandei ele dar dinheiro para você viajar e dar um itinerário para você. Você vai vender balas Atlante”. (Bons produtos garante. Era o slogan). Ele me deu 30.000,00 cruzeiros. Deixei 25.000,00 cruzeiros com a minha mulher. Comecei a fazer as vendas em Tietê. O primeiro lugar em que entrei já vendi. No fim da semana estava em Sorocaba. Eu não tinha carro, ia de ônibus e a pé. Eu dormia no jardim, para não pagar hotel. Deixava minhas coisas guardadas com um dono de um bar onde parava o ônibus de Sorocaba. Uma madrugada ele passou, me viu sentado no jardim, perguntou o que eu estava fazendo ali, respondi que estava descansando um pouco, não tinha como pagar pensão. Ele me levou para a casa dele. Ele era japonês. Fiquei três dias em Sorocaba, dormia e comia na casa dele. Fui para São Roque, e cidades próximas. Quando voltei para Piracicaba, no final da semana, eu tinha 7.000 quilos de balas vendidas. Era uma carga dos caminhões da época. O Júnior pagou metade da comissão adiantada. Comecei a vender outras coisa também, vendia gaiolas para o João Canomena, eram as Gaiolas Piracicabana. Em 1966 eu comprei uma Lambretta com cardam, ia daqui até Brasilia, coloquei um porta mala, onde ia minha mala, e a pastinha com as amostras de balas ia na minha frente, até Uberlândia era asfalto, De Uberlândia para frente eu ia de ônibus. Deixava a Lambrtetta guardada em algum lugar já combinado. Ia até Goiás Velho. Quando João Goulart caiu, eu estava em Brasília. Tinha sete ministérios, eu vendia para as lanchonetes dos sete ministérios. O irmão da minha mulher, meu cunhado, Eduardo, era ajudante de ordens de João Goulart. Esse cunhado gostava do meu esforço. Ele morava em um apartamento, eu dormia na sala. Quando João Goulart caiu, ele disse-me que teria que levar o presidente deposto e eu teria que sair do apartamento. Foram ele, o filho de Assis Brasil e João Goulart, até o Uruguai. Voltaram para o Brasil, o filho de Assis Brasil foi morto, e o meu cunhado foi preso. Depois por uns tempos ele ficou morando na fazenda do Gibran Athié Coury, ficou uns seis meses, preparou a defesa dele e foi para Brasília. Teve todos os seus direitos restituídos, foi promovido, foi quatro vezes deputado, e por dois anos Governador do Rio de Janeiro.
O senhor vendia em Curitiba também?
Em Curitiba, passava, fazia a clientela e seguia em frente. Lá eu vendia implementos agrícolas, ração de sabiá, gaiolas. Tinha um fornecedor de gaiolas de São Paulo, chamado Páscoa Eram gaiolas bonitas, coloridas. Vendia os produtos do José Borghesi. no dia em que caiu o governador de Goiás, Mauro Borges afastado por intervenção federal após o golpe de 1964, tendo seus direitos políticos cassados em 1966. Fiquei apavorado, apareceram soldados de todos os cantos, paraquedistas, apareceu um carrão, desceu um militar que deu ordens: “Algeme o Mauro! Algeme todo mundo, menos esse menino! Ele que saia daqui agora!” Como eu vendia sabão Rabeque, de Itatiba, após 60 dias fui para Brasília, pegava o ônibus em Campinas. Vendia no SAPES era uma divisão de abastecimento, assim como o SESI também foi. Seu José, gerente do SAPES disse-me que eu tinha que falar com o Coronel Carlos de Meira Matos. Deu-me o endereço. Fui lá. Dali a pouco ele chegou. Disse: “- Meu Deus! Menino entre!”. Ele disse-me que no dia da tomada do palácio, foi de muita tensão, e ele havia me tratado rispidamente. Perguntou-me o que eu desejava, disse-lhe que o Seu José havia me mandado, eu precisava vender sabão. Ele disse-me: “Você tem que ir em Uberlândia, procurar tal pessoa, fale que eu mandei ele comprar o seu sabão!”. Pegou o telefone, ligou e disse: “Luzia! Hoje eu estou feliz! O menino da bala está aqui e ele vai almoçar conosco.”. Em Uberlândia fui procurar a pessoa indicada. Ele perguntou se eu tinha amostra, testamos com água. Acertamos os detalhes, ele comprou uma quantidade de sabão que na história ninguém vendeu até hoje! Três vagões da Mogiana! Com esse dinheiro, eu tinha já adquirido o terreno, comprei todo material para construir a minha casa. Na Casa Perianes Materiais Para Construcao Ltda. Trabalhei por 50 anos com as confecções Elite, de Matão. Quando começamos, tinha eu, como vendedor, o Lourenço, e quatro funcionários. Hoje tem 1500 funcionários, só no escritório tem mais de 50 pessoas. Atualmente uso muito o Facebook e o WhatsApp.
A história de Mazzola, é muito rica em detalhes, edificante pela sua garra em vencer com determinação e trabalho, e talvez o principal fator é que ele é um profundo conhecedor da natureza humana. Sabe como tratar cada um, da forma que gosta de ser tratado. Seu sucesso é consequência dessa soma de fatores. Há um ditado popular que diz: “Se um cavalo selado passar perto de você, suba porque pode ser que ele passe apenas uma vez”



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