sexta-feira, julho 20, 2012

RONAN BATISTA BORGES

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 21 de julho de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/

ENTREVISTADO:RONAN BATISTA BORGES
Do alto de seus quase 87 anos de vida Ronan Batista Borges comanda a administração da Pousada Nossa Senhora Aparecida em Águas de São Pedro. Extremamente ativo, vai às compras dos insumos necessários, está sempre atento ao mínimo detalhe. Seus hóspedes tornam-se seus amigos. Poucos imaginam sua trajetória de vida, a batalha que travou para conquistar seu lugar ao sol. Muitas pedras usadas para fazer a segunda pista do Aeroporto de Congonhas em São Paulo, foram transportadas por ele com seu caminhão, o fornecedor era o lendário Vicente Matheus que ficou muito conhecido como presidente do Corinthians. No então terreno em frente ao Aeroporto de Congonhas havia uma criação de suínos brancos. Não existia a Avenida 23 de Maio. Como taxista Ronan rodava 300 quilômetros por dia dentro de São Paulo, alimentava-se com sanduíches, ou às vezes ia comer no Gato Que Ri, um restaurante que saciou a fome de muita gente com comida boa e barata, hoje é um restaurante com clientela mais sofisticada. Ronan recorda-se do tempo em que existiam bondes em São Paulo. A malha viária da cidade era em boa parte chão de terra. Ronan Batista Borges nasceu a 24 de agosto de 1925 em Alterosa, foi registrado em Alfenas onde existia cartório. São seus pais João Olímpio e Ana Vitória dos Santos que tiveram 15 filhos. Seu sobrenome Borges foi herdado do seu avô paterno. Ronan casou-se com Julieta Alves Borges.

Qual era a atividade profissional do pai do senhor?

Ele era sitiante, procurava morar na cidade para que os filhos tivessem a oportunidade de estudar. Ele negociava creme de leite, despachava para a cidade de Casa Branca. Até 13 anos trabalhei na agricultura, estudei no Instituto Nossa Senhora Aparecida, de Campo do Meio e na Escola Estadual Coronel José Bento, em Alfenas.
 Escola Estadual Coronel José Bento, em Alfenas
 Escola Estadual Coronel José Bento, em Alfenas

 Escola Estadual Coronel José Bento, em Alfenas

 Escola Estadual Coronel José Bento, em Alfenas

 Escola Estadual Coronel José Bento, em Alfenas

 Escola Estadual Coronel José Bento, em Alfenas

                                     Escola Estadual Coronel José Bento, em Alfenas.




Em Alfenas o senhor trabalhou?

Trabalhei no Clube XV de Alfenas, tinha 17 anos, lá permaneci por uns dois anos. Ao sair de lá montei um pequeno comércio em Monte Belo. Não satisfeito em 1945 decidi ir para São Paulo, hospedei-me na casa de uma prima na Penha, peguei o bonde na Rua Cantareira e desci na Penha, dirigi-me até a Rua Senador Godoi. Comecei a trabalhar na Nitroquímica Brasileira em São Miguel Paulista, era um serviço de muito risco para a saúde, trabalhava na produção, com sulfato de alumínio .Tinha que tomar muito leite para evitar intoxicação. Sai daquele emprego e fui trabalhar na Casa Casoy situada na Rua Barão de Duprat, onde costurava maletas escolares para uso infantil, lá mesmo aprendi a costurar com máquina indústrial. Em seguida com 21 para 22 anos trabalhei na Alves Azevedo Importadora e Exportadora, onde permaneci até casar com quase 23 anos. O forte da empresa era a Manteiga Viaduto, Àgua Prata e bebidas estrangeiras.

Como o senhor conheceu a sua futura esposa?

Eu a conheci em Minas Gerais, a família dela era conhecida da nossa família, fui passear em Minas, passamos a conversar, namorar e dentro de seis meses nos casamos. Aluguei uma casa no bairro da Penha em São Paulo onde fomos morar após casarmos. Por um período permaneci trabalhando na Alves Azevedo. Saí de lá e montei um bar em São Miguel Paulista. Após uns quatro anos com o bar resolvi mudar para Mato Grosso, na divisa próximo a Dracena. Por um ano e meio tive umaa pensão. Morei em Dracena, vim para São Paulo, voltei para Minas Gerais e acabei voltando para a Penha em São Paulo. Em Minas eu tinha um onibus Chevrolet fabricado em 1946 depois troquei por um outro ônibus Chevrolet 1950, conhecido como “Boca de Sapo”, fazia a linha de Areado para Alfenas, fazia uma viagem por dia, a distância era de uns quarenta quilometros entre uma cidade e outra, passava pelos sítios em estrada rural. Vendi o ônibus e vim para São Paulo onde comprei um caminhão Dodge 1951 transportava pédra da pedreira de propriedade de Vicente Matheus para a cidade de São Paulo. Transportei paralelepipedo para calçar a Rua do Grito, levei pedra britada para a segunda pista do Aeroporto de Congonhas, ainda não existia a Avenida 23 de Maio, para chegar lá era tudo estrada de terra. Saia de Guaianazes, passava pela Vila Formosa, tinha cerca de arame no Cemitério da Vila Formosa, passava pela Vila Carrão, Água Rasa, saia na Avenida do Estado perto do Ipiranga. Em frente ao Aeroporto de Congonhas, ao lado de onde hoje é a Avenida 23 de Maio havia um criame de porcos brancos, grandes. Fiquei com o caminhão uns três anos, vendi e fui trabalhar com um pequeno armazém na Penha. Como a renda era pequena, fui trabalhar como taxista.Quando cheguei em São Paulo tinha apenas dois viadutos: O Santa Ifigênia e o Viaduto do Chá. Depois fizeram o Viaduto do Gasômetro no Largo da Concórdia, antes existia uma porteira para barrar o trânsito e deixar o trem passar. Depois começou a ter viadutos. 
                         Elevado Presidente Costa e Silva, conhecido popularmente como "Minhocão".

 Paulo Maluf fez o Minhocão que é uma via elevada sobre a passando sobre a Rua Amaral Gurgel, a Avenida São João e a sua continuação a Avenida General Olímpio da Silveira. Na década de 50 a Rua da Consolação era estreita, com muitas casas, pouco comércio e algumas pensões no trajeto. Vi fazer a Avenida Rio Branco, plantarem as árvores. Eu trabalhava na Alves Azevedo que ficava na Rua Aurora, 60.
Localizado no número 100 da Rua Aurora passou a existir o Bar do Leo, famoso pelo seu chope, tinha um café muito bom, um dos atendentes era o Alarico.
                                          Caminhão Dodge 1951

Qual foi o seu primeiro carro, usado para trabalhar como taxista?

Comecei com um Chevrolet 1947 preto,

depois passei para um DKW “saia e blusa”, era assim chamado por ser verde claro com branco no teto,



trabalhei com Volks, com Corcel I, meu ponto de taxi era na Penha. Chegava a trabalhar até 16 horas por dia.

Quais as lembranças que o senhor guarda do DKW?

Por ser motor dois tempos as vezes era meio ruim de faze-lo funcionar. A porta dianteira abria no sentido contrario, era a chamada “porta assassina”. Era um bom carro. O Corcel I foi um carro muito bom, eu comprei um novo, zero quilometro.

Como era suas refeições?

Comia lanches, as vezes ia na Rua do Arouche, no Gato Que Ri, naquele tempo era muito frequentado por motoristas, era um lugar para matar a fome.

A classe dos motoristas de taxi era bem vista na época?

Não era não. Se fosse a uma oficina consertar o carro os mecanicos não gostavam muito, as vezes a pessoa não tinha dinheiro para pagar o conserto. Eu fui diferente ( Seu Ronan sorri satisfeito).

O senhor transportou pessoas famosas?

Devo ter transportado, eu não as conhecia. Eder Jofre pegou meu taxi, desceu na Rua Frei Caneca, ele estava com um menino, acho que tinha chegado do exterior, assim que ele desceu o próximo passageiro disse-me: “- O Eder Jofre veio no seu carro!” Disse-lhe: “Não sei.” Ao que ele afirmou: “É o Eder Jofre sim!”. As vezes pegava turistas estrangeiros, eles tinham o endereço de destino escrito, mostravam e eu os levava. Eu já morava em Águas de São Pedro quando fui para a Europa com a minha esposa. Ela ficou em Portugal, eu segui até Milão, de San Remo fui à Paris de trem, em seguida fui à Bruxelas. Fui sem guia, sem falar a lingua desses países. Em Bruxelas fiquei no seminário dos premonstratenses. O Cônego Márcio faleceu em nossa casa, nós cuidávamos dele, e eu disse-lhe que iria até Bruxelas, como de fato fui.

Como taxista o sehor foi sempre muito discreto.

Eu procurava fazer o meu trabalho, não conversava se o passageiro não se manifestasse, não ligava o rádio com passageiro dentro do carro, sempre procurei me comportar como civilizado. Teve um outro caso marcante, peqguei uma passageira na rodoviária, e levei ao Jardim Europa, na Rua Dinamarca,160. A passageira desceu, ela era de Ourinhos, prossegui no meu trabalho, apanhei um passageiro para o Tucuruvi, quando ele entrou disse-me: “ Tem uma mala aqui!”. Disse-lhe que era da minha irmã, guardei a mala no porta-malas do carro após o pasageiro descer. Voltei para a Rua Diamarca, não conseguia achar a rua, girei muito fiquei preocupado em ficar rondando o bairro a noite, a qualquer momento poderia ser abordado pela polícia se alguém achasse estranho. Fui embora. No dia seguinte a minha preocupação era procurar a dona da mala. Fui até a farmácia do Seu Nestor, disse-lhe que precisava telefonar com alguém na residência situada na Rua Dinamarca,160. Procuramos na lista telefônica, achamos e telefonamos. Falei pelo telefone com o dono da casa, Seu Brito. Ele era da Rádio Record. Ele disse-me que a mulher dona da mala estava hospitalizada, tinha passado mal por perder a mala onde estavam seus documentos e bastante dinheiro. Era uma maleta de cromo alemão. Levei a mala, ele ficou muito contente, queria que eu fosse contar a história na Rádio Record. Agradeci o convite mas disse-lhe que não achava conveniente. Perguntou-me se tinha filhos na escola, respondi-lhe que tinha três. Ele então deu-me 15 unidades monetárias (cruzeiros ou moeda da época), era um valor significativo para comprar material escolar para as crianças. Vivi momentos maravilhosos. Levei o escrivão do catório para o Silvio Santos assinar uns documentos. Ele não ria tanto como na televisão, mas é uma pessoa especial.

O senhor torce por algum time de futebol?

Torço para o São Paulo. Em 1946 fui assistir um jogo no Estádio Pacaembu, era novo, cobravam quinhentos réis na acústica e um mil réis na lateral, foi lá que vi Leonidas jogar.

Quantos filhos o senhor e sua esposa tiveram?

Tivemos nove filhos: José Roberto e Maria da Glória são gemeos, nasceram dia 10 de janeiro de 1950, nasceram aos sete meses de gestação, tanto eu como minha espôsa não tinhamos experiência, íamos ainda comprar o enxoval, com o auxilio da parteira nasceu o menino e 25 minutos depois nasceu uma menina. Nós não sabíamos que iriam nascer dois filhos, achavamos que era apenas uma criança. Naquela época os recursos eram escassos. Os dois estão vivos, com 62 anos, ele nasceu com um quilo e trezentos gramas e ela com um quilo e duzentos gramas, foram para a maternidade Leonor Mendes de Barros, no Belenzinho, era nova essa maternidade.
                                    Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros
 Dona Leonor nos deu muito apoio, foi quem solicitou uma estufa emprestada com a Cruz Azul. Conheci Dona Leonor assim como o Governador Adhemar de Barros. Depois nasceu a nossa filha Ana Lúcia, Edna Aparecida, Luiz Carlos (já falecido), Paulo Cesar, Fátima, Ronan de Alencar, e o Júlio Cesar. Tenho 23 netos e 8 bisnetos.

Quando o senhor chegou, havia algum plano de mudar-se para Águas de São Pedro?

Não tinha planos para nos estabelecermos aqui, foi por acaso. Viemos no dia 2 de novembro de 1972, eu, minha esposa e duas irmãs. Minha espôsa sofria muitas dores reumáticas, indicaram o médico Dr. Arlindo Genarri como especialista da doença. Ele recomendou que deveria vir para Águas de São Pedro, fazer um tratamento aqui que ficaria bem. Foi o que nós fizemos, de fato minha esposa sentiu-se melhor e queria ficar aqui. Tinha uma pensão à venda, minha irmã Francisca dos Reis estava junto, disse-me: “- Pode arrendar a pensão que eu trabalho para que sua esposa faça o tratamento”. Por cinco anos fui arrendatário. Em 1977 adquirimos a pensão. Passou a ser a Pousada Nossa Senhora Aparecida. Atualmente comporta 60 hóspedes.

Quanto tempo faz que a esposa do senhor faleceu?

Faz seis anos, um mês e um dia. Guardo a saudade e o respeito, lutamos juntos. Hoje administro a pousada, vejo se tem que fazer alguma manutenção, faço as compras. Pela idade e saúde que tenho só posso agradecer a Deus.

O filho do senhor é prefeito em Águas de São Pedro, como é ser pai de um prefeito?

É uma responsabilidade que você nem imagina. É bom, fico contente em ver que ele chegou a esse ponto. Os pais se preocupam se a administração é boa ou não. Me preocupo até em estacionar um carro na rua, não posso “queimar” a faixa senão irão dizer: “É pai do prefeito pode fazer isso”. Não pode. Tem as coisas maravilhosas, fui com o meu filho Paulo até o Palácio dos Bandeirantes, o governador Geraldo Alckmin disse-me: “Filho como esse é orgulho para o pai.” Os pais tem amor igual por todos os filhos, as vezes um não faz o que o pai deseja, talvez não o satisfaça muito, mas o amor a gente tem.

Como o senhor se sentiu em sair de uma cidade enorme como São Paulo e vir morar em uma cidade pacata?

Em Águas de São Pedro o povo procura viver em harmonia e tratar bem o turista. Naquele tempo era mais pacata ainda. Só tinha um médico na cidade, Dr. Ângelo Nogueira Vila. Mudei de cidade, mas mantive o ritmo de trabalho que levava em São Paulo, cheguei até a trabalhar como servente de pedreiro na construção da minha casa.

A cadeia tem algum preso?

Não existe, se alguém for preso é levado para a cidade de São Pedro.

Na opinião do senhor hoje o povo está melhor?

Está melhor, por exemplo, pelo número de veículos existentes são poucos acidentes que acontecem. O próprio veículo evoluiu muito, antes tinha carro que ficava sem freio, pneu que estourava com facilidade. O povo está entendendo como é que tem que ser.

O ser humano em suas relações de amizades mudou?

Mudou. O povo não tem tempo para conversar, se conhecerem.

Do que o senhor sente saudades?

Saudades de quando era criança, a vida de andar a cavalo, tinha um cavalo pampa vermelho e branco. Mamãe fazia gemada de ovo caipira, punha vinho Adriano Ramos Pinto que papai comprava de caixa e gostava de dar uma garrafa para as mulheres que tinham tido nenê. Dizia: “-Tome um calicezinho todo dia!”. Papai comprava caixa de bacalhau, era baratinho. Tenho saudades da reunião dos irmãos na casa dos meus pais que também se mudaram para São Paulo.

















































































Postagem em destaque

      TÉO AZEVEDO E THAIS DE ALMEIDA DIAS     TÉO AZEVEDO E THAIS DE ALMEIDA DIAS       TÉO AZEVEDO E THAIS DE ALMEIDA DIAS             ...