domingo, maio 01, 2016

QUIMIE KAMIYAMA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 30 de abril de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/ 

ENTREVISTADA: QUIMIE KAMIYAMA



Quimie Kamiyama é metódica, determinada, esbanja simpatia. Quem a vê pela primeira vez imagina que se trata de uma pessoa com temperamento oriental, reservado. De fato é muito discreta. Mal se pode imaginar que ela integra um conjunto de musica popular brasileira, tocando seu inseparável pandeiro. Horas, isso mesmo, horas a fio ela acompanha as mais diversas musicas, sempre com o mesmo entusiasmo e alegria. Atleta, ela cuida de seu físico realizando longas corridas. Nascida no Noroeste do Estado de São Paulo, na cidade de Onda Verde,


                                               ONDA VERDE CIDADE DOS APELIDOS
Com dois anos de idade veio para São Paulo. Nascida a 1 de abril de 1951. Quimie é filha de Tojiro Kamaiyama e sua mãe Kiyo Kamaiyama que tiveram nove filhos: Koiti, Midori, Usio,Tokugi, Tetsuso, Naoki, Miriam, Quimie e Hissashi.
Quando a família mudou-se para São Paulo foi morar em que bairro?
Fomos morar na Rua Pitangueiras,323, apartamento 74.  próxima a Praça da Árvore. Nessa ocasião meu pai já estava aposentado, ele faleceu cedo, aos 67 anos. Isso foi por volta de 1975.
Como foi o meio de sobrevivência da família em São Paulo?
Dois dos meus irmãos abriram casas de móveis. O Naoki começou a estudar e formou-se em engenharia na Escola Politécnica. Eu também me formei em enfermagem.  O curso primário fiz no Grupo Escolar Professor Arthur Marret, ginásio e colegial fiz no Carlos de Campos. No Brás.
A senhora chegou a utilizar bonde como meio de locomoção?
Cheguei a utilizar o bonde como meio de transporte, subia a Rua São Caetano. Era na época do bonde aberto, depois é que veio o bonde fechado nas laterais, o “camarão”, assim denominado pela cor vermelha.
Após concluir o curso colegial a senhora foi estudar enfermagem em qual escola?
Fui estudar enfermagem na UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo, entrei em 1972 e sai como enfermeira padrão em 1975.
A senhora foi trabalhar em qual hospital?
Eu gostava de trabalhar em hospitais públicos. Primeiro fiquei no Hospital São Paulo, por um ano. Depois fui para o Hospital das Clínicas onde permaneci por 13 anos, no setor de ortopedia. Na época em que eu estava pedindo demissão o governador era Paulo Maluf. Ele tinha congelado o salário de todos os “hagaceanos”, de todos que trabalhavam em hospitais estaduais.
O Hospital das Clínicas de São Paulo é um universo da medicina.
Na época o INCOR- Instituto do Coração estava ainda em construção. Depois que foi construído o Hospital do Câncer ficou maior ainda. Toda emergência de maior gravidade era direcionada ao Hospital das Clínicas. A atriz Elis Regina foi internada lá, não a vi, mas os colegas comentavam.
Como era a rotina da senhora no setor de ortopedia?
Eu circulava entre os setores: setor feminino, adulto, masculino, setor de paraplégicos. Circulava no PI que é a Paralisia Infantil. Quando eu estava no setor de Paralisia Infantil recebi a visita do Ayrton Senna, era uma pessoa bem simples, não falava nada, ficamos sabendo depois que ele trocou todos os aparelhos respiratórios das crianças do setor de Paralisia Infantil.

Esses pormenores nunca foram divulgados na mídia. Na Paralisia Infantil tinha alguns leitos reservados para casos especiais, como foi o caso do João Carlos de Oliveira, conhecido como João do Pulo, um atleta, especializado em saltos, sendo ex-recordista mundial do salto triplo,   Teve a carreira de atleta interrompida em 22 de dezembro de 1981, quando sofreu um grave acidente automobilístico na Via Anhanguera, no sentido Campinas-São Paulo. Após quase um ano de internação na UTI, sua perna direita teve de ser amputada.






  


A senhora chegou a ter contato com João do Pulo?
Às vezes tinha, ele era uma pessoa que não estava deprimido, o acidente tinha sido recente. Era uma pessoa maravilhosa.
Era muito comuns acidentes de trânsito?
Era. Mas não tanto como ocorre atualmente.
Qual é o requisito principal para um profissional trabalhar nessa área?
Além dos conhecimentos técnicos, tem que ter muita paciência, tolerância, carinho. Cada caso é um caso especial. Na época os pacientes eram mais tolerantes. Eu achava que eram menos revoltados. As pessoas eram diferentes naquela época, a educação era outra.
Nessa época a senhora morava em que bairro?
Em 1978 adquiri meu apartamento na Rua Artur Prado, paralela a Avenida Brigadeiro Luiz Antonio. É um ponto estratégico, vou para o Shopping Paulista a pé, vou até a Liberdade a pé, às vezes eu vou a pé para o centro. Vou até a Avenida Paulista em quinze minutos.
Em que ano a senhora saiu do Hospital das Clínicas?
Sai em 1988, eu disse à minha vizinha, que também era minha colega: “-Vou pedir demissão porque com esse ordenado prefiro ficar de braços cruzados”. Fui viajar para o Japão. Fiquei em Tokio, em Yamanashi, trabalhando na área hospitalar. Falo fluentemente o japonês, escrevo um pouco  e leio qualquer artigo.




Como a senhora conseguiu esse emprego no Japão?
Na época estavam começando a recrutarem pessoas para levar para o Japão, havia umas empresas que atuavam nessa área, ficavam lá no bairro da Liberdade. Eu me candidatei e fui. Tinha uma hospedaria certa e já tinha onde trabalhar. Já sai do Brasil com destino certo.
No Japão a senhora morou quanto tempo?
Foram uns cinco anos. Nesse tempo eu vim várias vezes para o Brasil.
Lá a senhora trabalhou na área de ortopedia?
Não. Lá eu trabalhei bastante com idosos, Trabalhei um pouquinho com ortopedia também.
Como é o idoso japonês?
É um pouquinho diferente dos nossos idosos. Dependendo do problema podem ser mais bravos. Às vezes a pessoa que sofre um AVC- Acidente Vascular Cerebral, a pessoa perde a paciência.
A senhora pode fazer um comparativo entre a medicina no Brasil e no Japão?
A medicina de uma forma geral não é diferente.
O tratamento com relação aos pacientes, lá são mais bem cuidados?
São! Recebem mais cuidados lá. São mais respeitados.
O idoso no Japão recebe um respeito maior do que o idoso no Brasil?
Qualquer idoso merece respeito. No Japão ele recebe muito mais respeito, não dá nem para comparar.
As doenças mais comuns com idosos no Japão são semelhantes às doenças com idosos no Brasil?
Tem Alzheimer, Parkinson, a seqüela de AVC é bastante comum.
O habito alimentar japonês difere muito do brasileiro?
Acho que o habito alimentar japonês é um pouquinho menos gorduroso, mais saudável. Os idosos têm atividades físicas conforme a capacidade e necessidade de cada um. Tanto dentro do hospital como fora, em passeios. Para mim foi uma experiência muito importante.




A senhora decidiu voltar ao Brasil por algum motivo em especial?
Eu não fui para ficar definitivamente lá. Voltei. Quando estava com quase 40 anos fui acometida de uma doença. Fui fazer tratamento lá, porque aqui não havia o tratamento que eu queria. Tratei-me, me curei totalmente. Depois voltei para o Brasil. É uma doença que não faço questão em evitar em falar, tive câncer de ovário. Permaneci em tratamento por quatro meses, no primeiro mês tive um tratamento convencional, tanto no Brasil como no Japão o médico tinha estimado que eu teria só mais três meses de vida. O hospital em eu estava no Japão trabalha em conjunto com a medicina americana. Resolvi parar com essa terapia convencional. Fui fazer um tratamento chamado imunoterapia. ( A finalidade da imunoterapia é incentivar o sistema imune do paciente a reconhecer o tumor e eliminá-lo). Eram duas vacinas diferentes que eu aplicava a cada cinco dias, subcutânea, quando recebi por seis meses essa vacina, eles me chamaram para fazer um check-up total e fazer uma auto vacina. Foi colhido material, com esse material foi feita vacina com dose para um ano. Isso foi em Tokio. Eles tem hospital, consultório e laboratório em três lugares diferentes de Tokio. Junto com as duas ampolas que eu tomava adicionei a auto vacina. Assim que comecei a tomar a auto vacina a recuperação foi surpreendente.
Isso foi há quantos anos?
Já faz quase 25 anos. Se eu não tivesse feito o tratamento lá eu não estaria conversando com você. Essa vacina quem está trabalhando é o filho do pioneiro, é a segunda geração do professor. O nome dela é Vacina Hassumi. Ele começou a pesquisa durante a Segunda Guerra Mundial, acredito que tenha sido até um pouco antes da Segunda Guerra. Se não me engano foi na década de 30, esta relatado em um livro escrito em japonês.
E quem pagava todas essas despesas?
Eu tinha algumas economias. Mas tenho dupla nacionalidade, sou cidadã brasileira e japonesa, tenho os dois passaportes. Nessa condição de cidadã japonesa obtive bons benefícios médicos. Primeiro você paga com seu dinheiro, quando o tratamento é de alto custo ai eles devolvem 70% do que você gastou. Eu recebi na hora.

                                                        MONTE FUJI - JAPÃO

Ou seja, o Estado cuida do cidadão?
Cuida! Há um grande respeito pela vida humana. Cada um respeita seu semelhante. É interessante, muitas vezes respeita mais o próximo que a si mesmo.
Os seus laços com o Brasil a trouxeram de volta?
Minha família toda está em São Paulo. Meus amigos. Minha profissão. Eu nasci, estudei e trabalhei aqui.
Após curar-se a senhora voltou a trabalhar?
Voltei a trabalhar no Hospital Santa Cruz, fui convidada a trabalhar lá. O Hospital Santa Cruz foi inaugurado em 1939, e sua história está intimamente ligada à da imigração japonesa. Trabalhei um ano. 



                                                      HOSPITAL SANTA CRUZ
Eu voltava ao Japão uma vez por ano. Após cinco anos parei de tomar a vacina.  Eu tinha feito um concurso para ingressar no Hospital do Servidor Publico Municipal, fui aprovada, quando voltei do Japão passei a trabalhar. Ali permaneci até me aposentar. Cinco anos antes de me aposentar me chamaram para trabalhar em uma pesquisa clinica, um serviço que eu nunca tinha feito. Em 2011, aos 60 anos, aposentei-me. Eu não via a hora de chegar aos 60 anos, minhas colegas achavam isso um absurdo! É que eu tenho algumas atividades a mais do que as minhas colegas. Leio em japonês, gosto de astronomia, história. Em 2008 eu resolvi voar de balão, eu gosto de umas aventurazinhas, não muito radicais. Marquei com uma colega de profissão, vim aqui em Piracicaba voar, decolando da ESALQ. Fiquei um dia hospedada no IBIS Hotel, perto do Shopping Piracicaba, voamos por uma hora e depois descemos em um campo onde tomamos um delicioso café da manha com champanhe. Nesse dia que fiquei sabendo do Lar dos Velhinhos. Resolvi marcar com o Serviço Social para conhecer o lugar, a Irmã Hilda nos acompanhou pessoas maravilhosas, fiquei encantada com o lugar e tudo. Em 2009 eu comprei o flat em que resido.
A senhora tem uma particularidade que são suas famosas caminhadas.
Na verdade eu pratico corridas já faz 19 anos. Em São Paulo eu corria no Parque Ibirapuera. Após tirar essa doença, achei que a corrida era a melhor opção para manter a minha saúde. Eu vou praticando e vou analisando. Não pratico corrida de curta distância onde tenho que desenvolver a velocidade. Corro lentamente, mas longa distância. No Parque Ibirapuera tem uma trilha de seis quilômetros, eu dava duas voltas, são doze quilômetros, demorava mais ou menos uma hora e meia. Hoje continuo correndo na ESALQ onde corro aproximadamente dez quilômetros. Por semana eu sinto que tenho que ir umas quatro vezes.



Existe outra particularidade da senhora que nos chama muito a atenção, a senhora é uma exímia pandeirista!A sua execução de pandeiro permanece por horas!
São duas horas. Quando cheguei aqui no Lar convidaram-me para ir a uma Feijoada do Gordo, fui, na ocasião o Laerte do Vinil colocava seu material de som e me orientou nas primeiras batidas de pandeiro. Eu gostei! Um dia o Seu Antonio me convidou para tocar na festa. Foi assim que comecei.









                                   
Qual é o sentimento que a senhora sente ao tocar esse instrumento?
É uma delicia ! Eu tento acompanhar!
Há um pouco de contradição em uma pessoa com forte formação oriental tocar um instrumento popular brasileiro?
Acho que a minha relação com o pandeiro foi de amor a primeira vista!
É uma atração inusitada, algo muito bonito, e não deixa de ser um exemplo de otimismo!Percebe-se que seus sentimentos estão nas pontas dos dedos ao tocar pandeiro de forma tão concentrada!
Nosso objetivo, do conjunto musical, é beneficiar as pessoas, levar alegria.
A senhora já saiu em algum desfile de carnaval?
Não! Acho que não tenho samba no pé! Mas se me mandarem tocar pandeiro eu toco sim!
A alimentação da senhora é normal?
Eu evito frituras. Tenho colesterol alto, é genético, mesmo sendo magra o índice de colesterol é acima do normal.
A senhora gosta de literatura, sua preferência é pela literatura brasileira ou japonesa?
Ultimamente estou lendo mais em japonês. Mas gosto de literatura ocidental também.
A senhora gosta de História, a seu ver é importante conhecer História.
Você conhecendo História pode prever muitas coisas do futuro. Com a História você pode aprender.
Quem quiser conhecer a sua arte em tocar pandeiro qual é o horário em que o conjunto se apresenta?
O Conjunto se apresenta todas as quintas feiras das duas horas até as quatro horas da tarde, no Lar dos Velhinhos.


ROBERTO RODRIGUES VIDAL

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado , 23  de abril de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/ 


ENTREVISTADO: ROBERTO RODRIGUES VIDAL




Roberto Rodrigues Vidal nasceu a 30 de dezembro de 1937, filho de Ramon Rodrigues Vidal Júnior e Teresa Correia Vidal, que tiveram ainda os filhos Ramon, Raquel e Renato.
Quando o senhor nasceu seus pais moravam onde?
Quando nasci meus pais moravam em Piracicaba na Rua Treze de Maio, junto ao Clube Treze de Maio, nessa época ele já era funcionário das empresas da família Morganti.
Qual era a profissão dele?
Ele era contador, trabalhava também como revisor e redator do Jornal de Piracicaba. Ele trabalhou junto com Leandro Guerrini.  Quando meu pai faleceu Leandro Guerrini escreveu um “Adeus” muito bonito, onde ele conta sobre a convivência dos dois na sala do jornal, onde faziam as revisões e ajudavam na confecção do Jornal de Piracicaba. Gerrini fala de um Adeus, da amizade que tinham e pede um “Até breve, até a próxima redação”.

LEANDRO GUERRINI

O seu pai estudou contabilidade em Piracicaba?
Ele estudou contabilidade após retornar da frente de batalha da Revolução de 1932.






Na realidade ele não era paulista, nem brasileiro, era argentino, de Rosário, Santa Fé. Por um acidente também, quando meus avôs paternos vieram de Sevilha, Espanha, permaneceram na Argentina por uns três ou quatro anos. Meu avô paterno era construtor, eu não cheguei a conhecê-lo.  De lá vieram para Piracicaba. O meu avô materno, Alvim Correia de Godoy é originário de Avaré, onde era administrador de fazenda, minha avó materna é Ida Rigolo Godoy, ela veio da Itália. Minha mãe nasceu em Avaré. De lá meu avô veio para Piracicaba para trabalhar na Estrada de Ferro Sorocabana, na linha que ia até São Pedro.
O seu pai trabalhava na Usina Monte Alegre e no Jornal de Piracicaba?
Durante o dia trabalhava na Usina Monte Alegre e a noite no Jornal de Piracicaba. Na Usina ele foi contador, administrador e depois passou a Superintendente Geral. Passamos a morar no bairro Monte Alegre, na segunda casa para quem vai sentido centro-bairro. Ali moramos uns 10 anos. 
Os seus primeiros estudos foram em que escola?
Foi no Grupo Escolar Marquês de Monte Alegre. 





Em 1825. Monte Alegre passou a ser propriedade do Dr.José da Costa Carvalho, futuro Barão, Visconde e Marquês de Monte Alegre. 

Em 1927, as Escolas reunidas foram transformadas em Grupo Escolar. Criando-se assim o Grupo Escolar Marquês de Monte Alegre, em 21 de Janeiro de 1927


No bairro Monte Alegre convivi dos quatro anos de idade até quando fui trabalhar um tempo em São Paulo já com uns 20 e poucos anos.
O senhor chegou a trabalhar na Usina Monte Alegre?
Trabalhei no escritório. Eu gostava mesmo era de nadar, pescar. Eu agradeço por ter vivido e sentido em minha pele essa vivência no bairro Monte Alegre. Foram tempos felicíssimos.
O senhor conheceu a família Morganti?
Principalmente! Conheci Pedro Fúlvio Morganti, ele era o sobrinho mais novo de Lino Morganti. Ele casou-se com uma moça do Paraná e veio morar na usina como diretor. Conheci a Marisa Morganti, era uma moça muito bonita. Ela vinha de São Paulo, principalmente nas férias de julho, ficavam hospedados na casa da fazenda. Essa casa existe até hoje, Nessa época eu já ia trabalhar no escritório. Conversei algumas vezes com a Marisa, com sua mãe Dona Bici. Eu não cheguei a conhecer, mas o meu pai falava muito do pai dela, Dr. Alcides Ayrosa, médico. Ele ficou algum tempo na direção da usina. Dona Bici, Marisa e Maria Cristina vinham para o centro de Piracicaba, lembro-me do automóvel que usavam, era um Oldsmobile 1950, era um carro com duas cores, uma parte era escura outra era clara. Quando era umas oito e meia, nove horas da noite elas vinha para a cidade. Foi assim que a Marisa conheceu seu futuro marido, o Quico, que andava sempre acompanhado do Orlando Coury, o China. A Maria Cristina namorava o China.
Quantos anos o senhor morou no Bairro Monte Alegre?
Na usina morei 33 anos. Antes de ir para essa casa do lado direito eu morei uns 15 anos na casa em frente ao bar.
Com que idade o senhor  voltou para São Paulo?
Acredito que com quase 30 anos. Continuava mantendo a residência aqui, vinha todo fim de semana para a casa onde meus pais moravam. Em São Paulo fui trabalhar na refinadora mesmo, no Açúcar Tupy. Pertencia a família Morganti, ficava na Rua 25 de Janeiro, próximo a Estação da Luz. Ali funcionava a refinaria de açúcar. O açúcar cristal ia daqui para lá, era refinado, ensacado e distribuído em São Paulo, nos bairros. Havia um 50 caminhões Chevrolet Brasil que faziam essa distribuição, recebiam o dinheiro e eu que conferia o dinheiro que o motorista trazia da rua. Isso foi entre 1950 a 1955. Eu morava em uma espécie de república, na Rua Aurora, 544. Trabalhei no Escritório Central da Usina Monte Alegre, em São Paulo, onde trabalhava a família Morganti, ficava na Rua Formosa, 367. Depois eu fiquei louco para voltar, meu pai, que era chefe do escritório, tinha adquirido um carro, o Morganti financiou para ele em São Paulo, um Studbacker 1950. Financiou dois veículos, um para o meu pai e outro para o Dr. Eno Mena Cardoso, que era engenheiro-agrônomo e passou a ser diretor geral naquela época.

Studbacker 1950.









Quanto tempo o senhor permaneceu em São Paulo?
Fiquei uns sete ou oito anos. Eu ia muito ao Restaurante Paladiun Ia muito tanbém no Taxi Dancing onde cantava Francisco Egídio. Era costume usar gravata. Havia sempre uma orquestra boa, você entrava e recebia um cartão. Se tirasse uma moça para dançar o cartão era picotado. Tinha bons aristas se apresentando, como Nelson Gonçalves. Começva as 10 horas da noite e ia até a cinco horas da manhã. Todos os dias, menos na segunda-feira. Era um salão enorme. Acabei saindo da Refinaria em São Paulo, fiquei aqui um tempo. Voltei para São Paulo, fui trabalhar na Pfizer Quimica – Área de Humanas. Tive aulas por tres meses com médicos. Tinhamos que levar ao médico a informação de qual era o sal (base) do remédio. Para que o médico recetasse e dai eu vendia nas farmácias. Permaneci um ano trabalhando nesse setor. Trabalhei em vários lugares.
O senhor tem filhos?
Tenho dois : Roberta e João Gabriel. Depois de me casar fiquei em Ribeirão Preto, onde permaneci por quatros anos trabalhando com a Pacaembu Auto Peças. Sempre tive carro bom: Galaxie, Maverick com oito cilindros. Trabalhei em Piracicaba para a Delta Retifica de Motores, era do Amadeu Castanho e seu sócio, um português.  Descobria clientes onde tinha motores para serem retificados e visitava-os regularmente. Várias vezes vim com quatro a cinco motores em cima da caminhonete, nem cabia direito. Por imposição da profissão acabei conhecendo peças. Quando fui trabalhar para a Pacaembu me aprofundei mais ainda no conhecimento de peças automotivas.
O senhor chegou a aposentar-se em que ano?
Aposentei-me ha oito anos.
O período que lhe traz mais saudades qual é?
Principalmente do tempo em que vivi no Bairro Monte Alegre ! Os Morganti sempre foram patrões maravilhosos. Cuidavam muito bem dos funcionários. Quando chegava no final de ano o Departamento de Pesoal fazia um levantamento dos funcionários, principalmente na época do Homero Paes Ataíde, se uma familia tinha duas meninas e um menino, recebia dois cartões cor de rosa, até “X” idade, e o menino um cartão azul, atraves desse cartão eram distribuidos para os meninos um caminhãozinho, bola e balas. Para as meninas, boneca, bola e balas. Todo ano era feito isso. A Dona Bici vinha muito de São Paulo trazendo muita coisa de lá também.
O senhor praticava algum esporte na Usina Monte Alegre?
Jogava basquete. Ajudei a fazer a quadra de basquete na Teixerada.
O que era Teixerada?
O Seu Teixeira tinha um rancho na beira do rio. Ele ia lá junto com alguns amigos. No fim os chefes da usina acabaram frequentando, o Seu Teixeira faleceu, ai fizeram uma quadra de boche, uma quadra de basquete, a qual eu ajudei a fazer, uma área de lazer com balanços. Diziam: “-Vai ter Teixerada hoje?” . Ai pegou. O lugar começou a se chamar Teixeirada.
O senhor vinha muito para a cidade?
A minha paixão era vir para a cidade. Vinha de onibus. Eu estudava em Piracicaba. Primeiro, em 1950, no Colégio Dom Bosco, depois no Instituto Educacional Piracicabano, a noite. Onibus saia da usina as seis horas, seis e meia ele parava aqui, eu descia e ia para a aula. As dez e meia da noite tomava o onibus para ir embora, o ponto era em frente a Estação da Estrada de Ferro Sorocabana.
Dizem que o carnaval no bairro Monte Alegre era muito animado.
Era bom, o povo esperava muito. As vezes não sabiam se era com conjunto ou com o Amazilio, sanfoneiro. Ele vinha de São Paulo, juntamente com o Walter que era guitarrista. Os dois casaram-se com moças do Monte Alegre, filhas do Castro. A instrução dele era limitada, o apelido dele era  “7000 Castro”  Isso porque ele assinava seu nome escrevendo o número “7” e em seguida tres “0”. Era assim que ele escrevia “João”. E Castro, pois seu nome era João Castro. Em contrapartida tinha uma dicção e uma oratória excelente.
E a Capela do Monte Alegre?
É uma igreja que tem uma história bonita. O Morganti trouxe Alfredo Volpi da Itália para pintar a igreja. Alfredo Volpi morou dois anos no Monte Alegre. Fiz a minha primeira comunhão nessa igreja. Todos os moradores do Bairro Monte Alegre iam a missa que era ali celebrada.
O Rio Piracicaba tinha muito peixe?
Lembro-me de que o Rio Piracicaba tinha muito peixe. Um dia eu e meu amigo Geraldo Ribeiro estávamos pescando na usina. Estavamos pescando mandi na Teixerada. O Geraldo estava com massa, eu com uma varinha de pescar lambari. Ele pegou um pelote de massa e colocou no anzol, íamos embora mesmo. O peixe pegou, embodocou a vara, arrebentou tudo. Ele disse: “Vamos lá em casa, vamos buscar a vara”. Morava a uns trezentos metros. Ele pegou a vara, um anzol grande, pegamos oito piracanjubas. Nunca mais vou esquecer daquilo. A sensação, a força, a pressão. Era algum cardume que estava ali. Mas tinha muito peixe, na parte de cima só não pegava jaú e pintado eles não conseguiam subir o rio naquele trecho. Dourado, piracanjuba existia muito, eles pulavam e subiam o rio.
No bairro Monte Alegre havia um armazém?
A direção do armazém era do Seu Gino Mateo Dinucci. Quem ia muito comprar lá em julho, era a Dona Bici e suas filhas. Vinha muito ali o linho 120, aquele que é 120 fios por centímetro quadrado. Ela comprava sedas importadas.
O senhor frequentava o centro de Piracicaba?
Eu ia muito ao Lider Bar, na época o proprietário era Sebastião Ortiz. Era onde o Jacob da Galeria dos Tecidos ia também. O japones era o Tanaka na Rua São José e o Gioconda de propriedade de Oscar Nishimura, ficava na Praça José Bonifácio. Lembro-me do Zé Pena, ele era piloto amador, chegou a passar com seu avião por debaixo da ponte de Artemis. Piracicaba tinha umas figuras tipicas. Uma delas era o “João Vinte Contos”, o nome real dele era João Vassão. Era o maior aprontão que já vi e segui de perto. Acompanhei algumas coisas dele. Inclusive  ali no Tuffi Elias, onde se reuniam os músicos para ensaiarem, lembro-me o dia em que ele foi até a padaria Vosso Pão e encomendou 200 coxinhas para que fossem entregues lá. E entregaram. O Elias ficou louco da vida. O João encomendou mas não pagou, como se fosse pedido do Tuffi. Mandou entregar no Tanaka 200 pães. Uma ocasião estávamos no rancho, a beira do Rio Piracicaba, ele pegou pimenta do reino branca, moída, desenrolou um pedaço do papel higiênico e colocou a pimenta sobre o mesmo, depois tornou a enrolar e a colocar no lugar correto do banheiro. Infelizmente um dos presentes, Chester McFadden tinha hemorroidas, e aleatoriamente foi o primeiro a utilizar-se do banheiro. O resultado é de se imaginar! O João Vinte Contos aprontou muito nesses encontros de amigos. Algumas brincadeiras mais pesadas. O Chester adorava-o, mas tinha pavor dele também. Uma ocasião no  Zimbaloo que era um boliche e transformou-se em boate, nessa noite eu estava presente junto com essa turma de amigos, era novidade em Piracicaba. O João Vinte Contos ia até o balcão buscar chope para o “Chestão”  só que colocava laxante no chope. Algum tempo depois o efeito começou, foi impossível o Chestão se controlar. O João levou-o para casa, em uma situação precária. No dia seguinte a esposa do Chestão telefonou para o João dizendo palavras pouco agradáveis, o estrago tinha sido enorme !
O senhor gosta de música?

Adoro música! Gosto muito das músicas Frank Sinatra. Posso citar algumas, embora goste de todas. I've Got You Under my Skin; Something Stupid ; Send in the Clowns: New York New York: Mac the Knife ; The Way You Look Tonight : Moon River : My Way : Summer Wind

IVONE CLAUDETE COSTA ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL BETEL ( LAR BETEL)

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado , 16  de abril de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: IVONE CLAUDETE COSTA



 ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL BETEL ( LAR BETEL) 

Nos finais da década de 40 um grupo dedicado de senhoras da então Igreja Metodista Central de Piracicaba, lideradas por Branca Leite Marcondes, costuravam para os pobres, também forneciam alimentos e outros auxílios, com materiais que eram doados com esse fim, além de pagarem alguns aluguéis para famílias carentes. Esse trabalho social gerou uma idéia mais abrangente, focada em idosos, decidindo elas criar uma instituição beneficente, em 1953, que denominaram “Serviço de Assistência Social Betel”. O nome Betel vem de inspiração bíblica, significando “Casa de Deus”. A finalidade inicial era de construir pequenas casas para dar abrigo â famílias carentes. Posteriormente a Instituição passou a se chamar “Associação de Assistência Social Betel”, adquirindo ,assim, personalidade jurídica. Adotou a denominação popular de Lar Betel.
Ivone Claudete Costa é piracicabana, nasceu a 23 de fevereiro de 1948, na Rua Santo Antonio 412, filha de Geni Ferreira Barros e Guilherme Ferreira Barros que tiveram ainda os filhos Davi, Jonatas e Guilherme.  Seu pai era corretor, gostava muito de plantas cultivava mudas de eucalipto, café, vendia mudas de uvas, laranja. Ele tinha um sítio onde esse cultivo era realizado.
Em qual escola a senhora fez os seus primeiros estudos?
Estudei o primário no Grupo Moraes Barros, em seguida no Instituto Piracicabano e depois no Instituto Sud Mennucci. Perdi a minha mãe quando eu tinha ainda 14 anos.
Como o seu pai conseguiu educar os quatro filhos?
Ele contraiu um novo matrimonio, passamos a ter uma madrasta. Também casei cedo, cada um de nós foi tomando seu rumo.
A senhora se casou em que data?
Foi a 8 de novembro de 1964, o casamento foi realizado na Igreja Metodista da Paulista. Casamos juntos, eu e meu irmão mais velho, as duas noivas iguais. Meu7 marido chama-se Antonio Fernando Costa, super disposto, joga futebol duas vezes por semana.
Qual era a atividade profissional dele?
Ele foi metalúrgico, trabalhou na Ford, na General Motors. Em 966 mudamos para São Paulo, fomos morar no bairro Ipiranga e depois em São Caetano. Minha atividade era dona de casa. Tivemos quatro filhos: Helenice, Claudia, Fernando e Filipe. Tenho nove netos e no final do ano deve nascer um bisneto.
Como foi o seu ingresso no Lar Betel ?
Ingressei como voluntária, eu vim trazer uma pessoa para vir morar aqui, depois de um tempo o pessoal da Igreja concorreu a uma eleição, foram eleitos. Como mulher integrante da Igreja vim ajudar no bazar: separar roupas, dobrar roupas, ajudar a vender para arrecadar fundos para a Instituição poder caminhar. Depois fui convidada a trabalhar. Trabalhei no bazar, em menos de um ano convidaram-me para ajudar na parte interna.
Como funciona o bazar?
Trabalhamos de segunda a sábado, são funcionários, são quatro funcionários remunerados, senão não funciona. Não posso trabalhar com voluntariado. O voluntário vem acrescentar. Tem que ter gente pilotando. São duas pessoas responsáveis e duas auxiliares. Trabalhamos o dia inteiro, não fechamos nem na hora do almoço. Temos muitos clientes para atender. A nossa clientela é muito boa, e o bazar é uma ferramenta muito boa. Colabora muito com a nossa parte financeira. Às vezes as pessoas perguntam se não temos uma equipe para participar da Festa das Nações. Se for fazer um negócio tem que fazer muito bem feito, fazer “meia-boca” não é nosso perfil. Investimos no nosso bazar, construímos um prédio só para o bazar, temos uma equipe muito boa trabalhando. Tenho o pessoal voluntário, que vem consertar roupa, separar roupa, a roupa quando chega, sobe e vai para uma triagem, ela não chega e vai para a banca. Ela é selecionada, se tem uma roupa boa que merece um conserto, tem um descosturado, falta um botão, isso é refeito e vai para o bazar. Tem roupa que chega boa, mas suja, ela passa por uma lavagem e vai para o bazar. É um processo trabalhoso mas que para gente vale a pena.
As doações são retiradas pelo Lar Betel quando a pessoa ou empresa oferece-as?
Temos um caminhão, com dois funcionários, um motorista e um auxiliar, é um caminhão médio da Hyundai, antes tínhamos uma Kombi, mas era difícil para trazer móveis. Esse caminhão fica disponível para coleta de doações de segunda a sábado até as cinco horas da tarde.
Quantos internos existem hoje no Lar Betel ?
São 90 internos, sendo 45 homens e 45 mulheres. São separados por alas, o lado masculino e feminino dos que são independentes. Tem a enfermaria também separada em masculino e feminino. Já são pessoas acamadas, que usam fraldas. São pessoas dependentes de cuidados as 24 horas do dia, sete dias por semana. Temos quartos  independente, temos quarto para três pessoas, há quarto com cinco mulheres, que é um quarto maior, bem ventilado, com banheiro interno. Temos também os apartamentos individuais, onde a pessoa mora sozinha ou pode compartilhar, há uma privacidade maior.



Existe alguma recomendação quanto a religião que a pessoa pratica?
Os católicos e os evangélicos têm espaço aqui. Há um dia em que é ministrado o culto católico. E os evangélicos têm o dia deles também.  Têm os domingos e sábados organizados, eles vêm e fazem o seu trabalho sem impedimento nenhum. Temos essa liberdade e esse respeito.
Qual é o cargo da senhora no Lar Betel ?
Sou administradora, recebo um salário para desempenhar minha função desde 1999.
Tem um presidente?
Temos! Qualquer documento que for necessário da Instituição, nós temos tudo. Das áreas municipal, estadual e federal.
Existe uma diretoria?
Sempre existiu.
Mas quem manda para valer, no dia a dia é a senhora?
Eu cuido do dia a dia, mas temos uma diretoria que planeja o ano. Toda parte de construções, ou que implicam em obras maiores é sempre discutido, orientado, há um super planejamento. O presidente é o Dr. Luiz Adalberto do Santos. Tem alguns empresários, advogados, e pessoas da comunidade que dirigem. O Vice-Presidente Eduardo Mota Rodrigues, Secretário Sebastião Mário de Souza, Tesoureiro João Antonio de Camargo, Elenice de Souza Aparício Callaú, Jorge Vidigal da Cunha. O Conselho Fiscal é composto por Adolpho Beismann, Juscelino Rodrigues Monção Neto, Ricardo Sales da Silva, Rinalva Cassiano Silva e Uilson Luiz Sancassani. A Equipe de Gestão é formada por: Ivone Claudete Costa, - Administradora,  Celise Helena Calixto – Vice Administradora, Dorivaldo Custódio Barbosa – Médico Voluntário, Antonio Fernando Costa do Setor de Manutenção e Reparos, Davi Ferreira Barros – Controladoria e Finanças, Caroline Pinto de Oliveira – Nutricionista, Isabele Juliana Marques Siqueira - Enfermeira, Kellen Cristina Sabbadin – Assistente Social, Maria Aparecida Medeiros da Silva – Setor de Higiene e Limpeza, Maria do Carmo Duarte Novaes – Fisioterapeuta, Maria Perecim da Silva – Gerente do Bazar, Paula Fernanda de Abreu Maia – Psicóloga e Samira Abude Scheidi – Terapeuta Ocupacional
Aproximadamente quantos funcionários trabalham no Lar Betel?
São em torno de 57. A área que mais temos funcionários é a da enfermaria. Temos enfermeiras, auxiliares de enfermagem, a farmacêutica, depois tem a equipe de técnicos e auxiliares de enfermagem. E os cuidadores, que ficam mais na área do banho, dos procedimentos de higiene, da arrumação das camas. A enfermagem é quem faz a administração de medicação, curativo, procedimentos mais de enfermagem mesmo.

Como é a parte recreativa junto aos moradores?
Temos muitas atividades internas com grupos externos, neste momento está tendo terapia ocupacional, uns fazem caixas de madeira, pinturas. A encarregada prepara também um coral, canta com eles, ensaiam musicas que eles escolhem, depois fazem um apresentação aqui dentro para os funcionários. Toda quinta feira tem atividade física, Dr. Miguel Duarte que é um cirurgião plástico vem há mais de dez anos como voluntário, pega os cadeirantes e os não cadeirantes e faz atividades com bola, com faixas, tem dias que ele Poe musica, canta e dança com eles. Temos grupos externos também, recebemos a visita de cachorros, pessoas que vem apresentar um coral, ventríloquos, palhaços, sessão de cinema com pipoca, guaraná e Coca-Cola. Procuiramos filmes da época, filmes mais antigos, com artistas que eles relembram.  Trazemos muitas atividades para dentro do Lar Betel. Geralmente aos homens gostam de assistir futebol, o programa Cidade Alerta, esses jornais mais intensos. Promovemos muitos passeios, no mês passado fomos até Barra Bonita, de ônibus, incluiu passeio, almoço.Essas viagens fazemos da mesma forma como sai com um bebe, levamos mochila, com medicamentos, primeiros socorros, fraldas, uma peça de roupa para o caso de uma emergência durante o passeio. O ônibus alguma pessoa da sociedade cede para nós.

Quantos anos têm o idoso de idade mais avançada?
Ele completou 97 anos no começo do mês agora.
A grande maioria do pessoal que trabalha aqui ou é voluntário, é ligado a Igreja Metodista?
Temos de tudo, o fato de ser uma Fundação Metodista não implica em sermos fechados. Temos muito apoio de empresas e pessoas. A Drogal é nosso parceiro. O presidente da Unimed, Dr. Carlos Youssef é nosso parceiro. Ele junta lacre e vem trazer cadeiras de rodas para nós, o Vereador André Bandeira doou recentemente duas cadeiras de rodas. O Lar Betel não é uma instituição privada, particular. Não temos barreiras, recebemos bem todos mundo. Temos muitas escolas que vem aqui trazer as crianças, às vezes fazem uma campanha, com detergente, açúcar, açúcar, eles vem e trazem. Outras trazem um sabonete para cada idoso. Eles têm o prazer em entregar. E o olho do idoso brilha quando vê criança. Mexe com eles, é muito interessante. Temos uma agenda que as vezes precisamos organizar, não dá para receber dois grupos de visitantes ao mesmo tempo.

A função do presidente no Lar Betel é voltada mais para que setor?
È voltada para o planejamento. Os três últimos presidentes são advogados. O presidente é a pessoa que dá as diretrizes, são discutidos os assuntos, as necessidades, ouvindo a todos é que acaba surgindo novas ações. O Presidente não fica aqui no dia a dia. A nossa função é servir, só estamos aqui por causa desses idosos. Eu falo para a equipe: “ Nós temos que afofar a cama”. Aliviar as ansiedades, às vezes eles tem problemas familiares, ou de dor. Ontem uma das internas queria um pastel de carne, fomos conseguir um pastel de carne. Ela estava com muita vontade. Eu não consigo fazer isso todos os dias a toda hora, mas se é possível porque não? É por que digo que a nossa função é “Afofar a cama”. Tentamos de todas as formas fazer com que o interno sinta-se bem, com dignidade aqui dentro.
Como é a situação financeira do Lar Betel?
Redondinha! Está muito redondinha! Por exemplo, se eu vejo que não tem recursos, puxo o freio. Se tiver capacidade, caminha. Mas nunca voltamos. A organização dessa diretoria é muito rígida. 2 mais 2 são 4 ! Só damos um passo se tivermos condições de dar esse passo.  Não é questão de sobra, é questão de organizar. Tem que ter reserva, garantia de folha de pagamento. Isso é imexível. Não se faz nada contando com essa reserva. Cuido como se fosse a minha casa, eu peço: “Cuidado com a porta, com o móvel, falta um parafuso, conserta, não deixa cair.”
Há idosos que usam computador?
Temos uma sala de computação para o uso dos idosos. Alguns têm facebook. É uma forma de resgatar a dignidade, colocá-los na comunicação. Aproximá-los o Maximo possível da realidade. Temos jornais e revistas a disposição. Tem gente que traz revista para nós, são coloridas, revistas como Contigo, Veja, revistas de moda, tem um atrativo. Se pensarmos bem, cama e comida é a parte mais simples. Mais fácil. Está mais próximo. Temos convenio com a FOP – Faculdade de Odontologia de Piracicaba, onde são feitas as próteses, extração de dentes que estão prejudicando, isso é resgatar a dignidade, dar para o idoso boas condições de saúde e qualidade de vida. São detalhezinhos que fomos conquistando ao longo do tempo. Fomos crescendo e aprendendo aqui. É um investimento em resgatar a dignidade dessas pessoas. E é trabalhoso, a equipe trabalha muito. O trabalho é intenso, as vezes faltam braços.

A senhora consegue sair no horário normal?
Só que o meu celular fica ligado, já cheguei estar em Florianópolis e ligarem perguntando: Aconteceu isso, mais aquilo, o que eu faço? Onde quer que eu esteja estou a disposição. Já vim para o Lar Betel muitas vezes de madrugada. Hoje a equipe amadureceu mais. Quando comei era muito carente, muita falta de recursos, dependia muito mais da minha presença. Não tinha a equipe de profissionais que hoje existe. Mas mesmo assim aos sábados, domingos, as vezes venho aqui resolver alguns problemas.
Atualmente muitas empresas e entidades lutam com o uso do telefone celular pelo funcionário em horário de trabalho. O Lar Betel conseguiu chegar a uma solução?
No nosso regulamento interno já proibimos o uso de celular durante o expediente. O celular fica dentro do armário de cada funcionário. Não fica com a pessoa durante o trabalho. Se for alguma coisa urgente a família irá ligar na Instituição. Agora ficar com conversa coloquial durante o expediente é impensável. O funcionário que quiser adquirir algo no bazar o valor é descontado na folha de pagamento. Caso tenha atingido o limite pré-estabelecido de compras o funcionário é avisado que já atingiu seu limite de gasto naquele mês, não pode comprar mais. No caso de chegar doações que interesse a um funcionário ele pode adquirir, irá pagar o mesmo preço que um cliente comum pagaria.
Quem desejar ser voluntário passa por algum processo de seleção?
A psicóloga ficou responsável por isso, quem desejar ser voluntário preenche uma ficha, é analisado o perfil da pessoa, qual é a área mais indicada para ela trabalhar. Quando tenho que apontar alguma falha de algum funcionário, digo-lhe: “Como você gostaria de ser tratado quando chegar nessa idade?”. Com respeito! Você tem que olhar para ele como se fosse você nessa situação. Amor e paciência têm que caminhar muito juntos. 
Pode-e dizer que o poder não afetou o comportamento da senhora?
Não tenho poder, só tenho vontade. Tem que contagiar a equipe a atender o idoso com dignidade. Todo dia de manhã, das 8:30 as 9:00 tenho uma reunião com a equipe multidisciplinar, quando resolvemos os problemas. Aqui o idoso, independente de quem ele foi, aqui ele vai ter uma página em branco, aqui ele terá uma nova história.  

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