PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado , 16 de abril de 2016.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado , 16 de abril de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: IVONE CLAUDETE COSTA
ENTREVISTADA: IVONE CLAUDETE COSTA
ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL BETEL ( LAR
BETEL)
Nos finais da década de 40 um
grupo dedicado de senhoras da então Igreja Metodista Central de Piracicaba,
lideradas por Branca Leite Marcondes, costuravam para os pobres, também
forneciam alimentos e outros auxílios, com materiais que eram doados com esse
fim, além de pagarem alguns aluguéis para famílias carentes. Esse trabalho
social gerou uma idéia mais abrangente, focada em idosos, decidindo elas criar
uma instituição beneficente, em 1953, que denominaram “Serviço de Assistência
Social Betel”. O nome Betel vem de inspiração bíblica, significando “Casa de
Deus”. A finalidade inicial era de construir pequenas casas para dar abrigo â
famílias carentes. Posteriormente a Instituição passou a se chamar “Associação
de Assistência Social Betel”, adquirindo ,assim, personalidade jurídica. Adotou
a denominação popular de Lar Betel.
Ivone Claudete Costa é
piracicabana, nasceu a 23 de fevereiro de 1948, na Rua Santo Antonio 412, filha
de Geni Ferreira Barros e Guilherme Ferreira Barros que tiveram ainda os filhos
Davi, Jonatas e Guilherme. Seu pai era
corretor, gostava muito de plantas cultivava mudas de eucalipto, café, vendia
mudas de uvas, laranja. Ele tinha um sítio onde esse cultivo era realizado.
Em qual escola a senhora fez os seus
primeiros estudos?
Estudei o primário no Grupo
Moraes Barros, em seguida no Instituto Piracicabano e depois no Instituto Sud
Mennucci. Perdi a minha mãe quando eu tinha ainda 14 anos.
Como o seu pai conseguiu educar
os quatro filhos?
Ele contraiu um novo matrimonio,
passamos a ter uma madrasta. Também casei cedo, cada um de nós foi tomando seu
rumo.
A senhora se casou em que data?
Foi a 8 de novembro de 1964, o
casamento foi realizado na Igreja Metodista da Paulista. Casamos juntos, eu e
meu irmão mais velho, as duas noivas iguais. Meu7 marido chama-se Antonio
Fernando Costa, super disposto, joga futebol duas vezes por semana.
Qual era a atividade profissional
dele?
Ele foi metalúrgico, trabalhou na
Ford, na General Motors. Em 966 mudamos para São Paulo, fomos morar no bairro
Ipiranga e depois em São Caetano. Minha atividade era dona de casa. Tivemos
quatro filhos: Helenice, Claudia, Fernando e Filipe. Tenho nove netos e no
final do ano deve nascer um bisneto.
Como foi o seu ingresso no Lar
Betel ?
Ingressei como voluntária, eu vim
trazer uma pessoa para vir morar aqui, depois de um tempo o pessoal da Igreja
concorreu a uma eleição, foram eleitos. Como mulher integrante da Igreja vim
ajudar no bazar: separar roupas, dobrar roupas, ajudar a vender para arrecadar
fundos para a Instituição poder caminhar. Depois fui convidada a trabalhar.
Trabalhei no bazar, em menos de um ano convidaram-me para ajudar na parte
interna.
Como funciona o bazar?
Trabalhamos de segunda a sábado,
são funcionários, são quatro funcionários remunerados, senão não funciona. Não
posso trabalhar com voluntariado. O voluntário vem acrescentar. Tem que ter
gente pilotando. São duas pessoas responsáveis e duas auxiliares. Trabalhamos o
dia inteiro, não fechamos nem na hora do almoço. Temos muitos clientes para
atender. A nossa clientela é muito boa, e o bazar é uma ferramenta muito boa.
Colabora muito com a nossa parte financeira. Às vezes as pessoas perguntam se
não temos uma equipe para participar da Festa das Nações. Se for fazer um
negócio tem que fazer muito bem feito, fazer “meia-boca” não é nosso perfil.
Investimos no nosso bazar, construímos um prédio só para o bazar, temos uma
equipe muito boa trabalhando. Tenho o pessoal voluntário, que vem consertar
roupa, separar roupa, a roupa quando chega, sobe e vai para uma triagem, ela
não chega e vai para a banca. Ela é selecionada, se tem uma roupa boa que
merece um conserto, tem um descosturado, falta um botão, isso é refeito e vai
para o bazar. Tem roupa que chega boa, mas suja, ela passa por uma lavagem e
vai para o bazar. É um processo trabalhoso mas que para gente vale a pena.
As doações são retiradas pelo Lar
Betel quando a pessoa ou empresa oferece-as?
Temos um caminhão, com dois
funcionários, um motorista e um auxiliar, é um caminhão médio da Hyundai, antes
tínhamos uma Kombi, mas era difícil para trazer móveis. Esse caminhão fica
disponível para coleta de doações de segunda a sábado até as cinco horas da
tarde.
Quantos internos existem hoje no
Lar Betel ?
São 90 internos, sendo 45 homens
e 45 mulheres. São separados por alas, o lado masculino e feminino dos que são
independentes. Tem a enfermaria também separada em masculino e feminino. Já são
pessoas acamadas, que usam fraldas. São pessoas dependentes de cuidados as 24
horas do dia, sete dias por semana. Temos quartos independente, temos quarto para três pessoas,
há quarto com cinco mulheres, que é um quarto maior, bem ventilado, com
banheiro interno. Temos também os apartamentos individuais, onde a pessoa mora
sozinha ou pode compartilhar, há uma privacidade maior.
Existe alguma recomendação quanto
a religião que a pessoa pratica?
Os católicos e os evangélicos têm
espaço aqui. Há um dia em que é ministrado o culto católico. E os evangélicos
têm o dia deles também. Têm os domingos
e sábados organizados, eles vêm e fazem o seu trabalho sem impedimento nenhum.
Temos essa liberdade e esse respeito.
Qual é o cargo da senhora no Lar
Betel ?
Sou administradora, recebo um
salário para desempenhar minha função desde 1999.
Tem um presidente?
Temos! Qualquer documento que for
necessário da Instituição, nós temos tudo. Das áreas municipal, estadual e
federal.
Existe uma diretoria?
Sempre existiu.
Mas quem manda para valer, no dia
a dia é a senhora?
Eu cuido do dia a dia, mas temos
uma diretoria que planeja o ano. Toda parte de construções, ou que implicam
em obras maiores é sempre discutido, orientado, há um super planejamento. O
presidente é o Dr. Luiz Adalberto do Santos. Tem alguns empresários, advogados,
e pessoas da comunidade que dirigem. O Vice-Presidente Eduardo Mota Rodrigues,
Secretário Sebastião Mário de Souza, Tesoureiro João Antonio de Camargo,
Elenice de Souza Aparício Callaú, Jorge Vidigal da Cunha. O Conselho Fiscal é
composto por Adolpho Beismann, Juscelino Rodrigues Monção Neto, Ricardo Sales
da Silva, Rinalva Cassiano Silva e Uilson Luiz Sancassani. A Equipe de Gestão é
formada por: Ivone Claudete Costa, - Administradora, Celise Helena Calixto – Vice Administradora,
Dorivaldo Custódio Barbosa – Médico Voluntário, Antonio Fernando Costa do Setor
de Manutenção e Reparos, Davi Ferreira Barros – Controladoria e Finanças,
Caroline Pinto de Oliveira – Nutricionista, Isabele Juliana Marques Siqueira -
Enfermeira, Kellen Cristina Sabbadin – Assistente Social, Maria Aparecida
Medeiros da Silva – Setor de Higiene e Limpeza, Maria do Carmo Duarte Novaes –
Fisioterapeuta, Maria Perecim da Silva – Gerente do Bazar, Paula Fernanda de
Abreu Maia – Psicóloga e Samira Abude Scheidi – Terapeuta Ocupacional
Aproximadamente quantos
funcionários trabalham no Lar Betel?
São em torno de 57. A área que
mais temos funcionários é a da enfermaria. Temos enfermeiras, auxiliares de
enfermagem, a farmacêutica, depois tem a equipe de técnicos e auxiliares de
enfermagem. E os cuidadores, que ficam mais na área do banho, dos procedimentos
de higiene, da arrumação das camas. A enfermagem é quem faz a administração de
medicação, curativo, procedimentos mais de enfermagem mesmo.
Como é a parte recreativa junto
aos moradores?
Temos muitas atividades internas
com grupos externos, neste momento está tendo terapia ocupacional, uns fazem
caixas de madeira, pinturas. A encarregada prepara também um coral, canta com
eles, ensaiam musicas que eles escolhem, depois fazem um apresentação aqui
dentro para os funcionários. Toda quinta feira tem atividade física, Dr. Miguel
Duarte que é um cirurgião plástico vem há mais de dez anos como voluntário, pega
os cadeirantes e os não cadeirantes e faz atividades com bola, com faixas, tem
dias que ele Poe musica, canta e dança com eles. Temos grupos externos também,
recebemos a visita de cachorros, pessoas que vem apresentar um coral,
ventríloquos, palhaços, sessão de cinema com pipoca, guaraná e Coca-Cola.
Procuiramos filmes da época, filmes mais antigos, com artistas que eles
relembram. Trazemos muitas atividades
para dentro do Lar Betel. Geralmente aos homens gostam de assistir futebol, o
programa Cidade Alerta, esses jornais mais intensos. Promovemos muitos
passeios, no mês passado fomos até Barra Bonita, de ônibus, incluiu passeio,
almoço.Essas viagens fazemos da mesma forma como sai com um bebe, levamos
mochila, com medicamentos, primeiros socorros, fraldas, uma peça de roupa para
o caso de uma emergência durante o passeio. O ônibus alguma pessoa da sociedade
cede para nós.
Quantos anos têm o idoso de idade
mais avançada?
Ele completou 97 anos no começo
do mês agora.
A grande maioria do pessoal que
trabalha aqui ou é voluntário, é ligado a Igreja Metodista?
Temos de tudo, o fato de ser uma
Fundação Metodista não implica em sermos fechados. Temos muito apoio de
empresas e pessoas. A Drogal é nosso parceiro. O presidente da Unimed, Dr.
Carlos Youssef é nosso parceiro. Ele junta lacre e vem trazer cadeiras de rodas
para nós, o Vereador André Bandeira doou recentemente duas cadeiras de rodas. O
Lar Betel não é uma instituição privada, particular. Não temos barreiras,
recebemos bem todos mundo. Temos muitas escolas que vem aqui trazer as
crianças, às vezes fazem uma campanha, com detergente, açúcar, açúcar, eles vem
e trazem. Outras trazem um sabonete para cada idoso. Eles têm o prazer em
entregar. E o olho do idoso brilha quando vê criança. Mexe com eles, é muito
interessante. Temos uma agenda que as vezes precisamos organizar, não dá para
receber dois grupos de visitantes ao mesmo tempo.
A função do presidente no Lar
Betel é voltada mais para que setor?
È voltada para o planejamento. Os
três últimos presidentes são advogados. O presidente é a pessoa que dá as
diretrizes, são discutidos os assuntos, as necessidades, ouvindo a todos é que
acaba surgindo novas ações. O Presidente não fica aqui no dia a dia. A nossa
função é servir, só estamos aqui por causa desses idosos. Eu falo para a
equipe: “ Nós temos que afofar a cama”. Aliviar as ansiedades, às vezes eles
tem problemas familiares, ou de dor. Ontem uma das internas queria um pastel de
carne, fomos conseguir um pastel de carne. Ela estava com muita vontade. Eu não
consigo fazer isso todos os dias a toda hora, mas se é possível porque não? É
por que digo que a nossa função é “Afofar a cama”. Tentamos de todas as formas
fazer com que o interno sinta-se bem, com dignidade aqui dentro.
Como é a situação financeira do
Lar Betel?
Redondinha! Está muito
redondinha! Por exemplo, se eu vejo que não tem recursos, puxo o freio. Se
tiver capacidade, caminha. Mas nunca voltamos. A organização dessa diretoria é
muito rígida. 2 mais 2 são 4 ! Só damos um passo se tivermos condições de dar
esse passo. Não é questão de sobra, é
questão de organizar. Tem que ter reserva, garantia de folha de pagamento. Isso
é imexível. Não se faz nada contando com essa reserva. Cuido como se fosse a
minha casa, eu peço: “Cuidado com a porta, com o móvel, falta um parafuso,
conserta, não deixa cair.”
Há idosos que usam computador?
Temos uma sala de computação para
o uso dos idosos. Alguns têm facebook. É uma forma de resgatar a dignidade,
colocá-los na comunicação. Aproximá-los o Maximo possível da realidade. Temos
jornais e revistas a disposição. Tem gente que traz revista para nós, são
coloridas, revistas como Contigo, Veja, revistas de moda, tem um atrativo. Se
pensarmos bem, cama e comida é a parte mais simples. Mais fácil. Está mais
próximo. Temos convenio com a FOP – Faculdade de Odontologia de Piracicaba,
onde são feitas as próteses, extração de dentes que estão prejudicando, isso é
resgatar a dignidade, dar para o idoso boas condições de saúde e qualidade de
vida. São detalhezinhos que fomos conquistando ao longo do tempo. Fomos
crescendo e aprendendo aqui. É um investimento em resgatar a dignidade dessas
pessoas. E é trabalhoso, a equipe trabalha muito. O trabalho é intenso, as
vezes faltam braços.
A senhora consegue sair no
horário normal?
Só que o meu celular fica ligado,
já cheguei estar em Florianópolis e ligarem perguntando: Aconteceu isso, mais
aquilo, o que eu faço? Onde quer que eu esteja estou a disposição. Já vim para
o Lar Betel muitas vezes de madrugada. Hoje a equipe amadureceu mais. Quando
comei era muito carente, muita falta de recursos, dependia muito mais da minha
presença. Não tinha a equipe de profissionais que hoje existe. Mas mesmo assim
aos sábados, domingos, as vezes venho aqui resolver alguns problemas.
Atualmente muitas empresas e
entidades lutam com o uso do telefone celular pelo funcionário em horário de
trabalho. O Lar Betel conseguiu chegar a uma solução?
No nosso regulamento interno já
proibimos o uso de celular durante o expediente. O celular fica dentro do
armário de cada funcionário. Não fica com a pessoa durante o trabalho. Se for
alguma coisa urgente a família irá ligar na Instituição. Agora ficar com conversa
coloquial durante o expediente é impensável. O funcionário que quiser adquirir
algo no bazar o valor é descontado na folha de pagamento. Caso tenha atingido o
limite pré-estabelecido de compras o funcionário é avisado que já atingiu seu
limite de gasto naquele mês, não pode comprar mais. No caso de chegar doações
que interesse a um funcionário ele pode adquirir, irá pagar o mesmo preço que
um cliente comum pagaria.
Quem desejar ser voluntário passa
por algum processo de seleção?
A psicóloga ficou responsável por
isso, quem desejar ser voluntário preenche uma ficha, é analisado o perfil da
pessoa, qual é a área mais indicada para ela trabalhar. Quando tenho que
apontar alguma falha de algum funcionário, digo-lhe: “Como você gostaria de ser
tratado quando chegar nessa idade?”. Com respeito! Você tem que olhar para ele
como se fosse você nessa situação. Amor e paciência têm que caminhar muito
juntos.
Pode-e dizer que o poder não
afetou o comportamento da senhora?
Não tenho poder, só tenho vontade. Tem que contagiar a
equipe a atender o idoso com dignidade. Todo dia de manhã, das 8:30 as 9:00
tenho uma reunião com a equipe multidisciplinar, quando resolvemos os
problemas. Aqui o idoso, independente de quem ele foi, aqui ele vai ter uma
página em branco, aqui ele terá uma nova história.
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