domingo, maio 21, 2017

RUY PEREIRA BARBOSA


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 20 de maio de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/









ENTREVISTADO: RUY PEREIRA BARBOSA

Ruy Pereira Barbosa nasceu na cidade de Machado, situada no sul de Minas Gerais a 18 de março de 1940, filho de Flauzino Pereira Barbosa e Francisca Ribeiro Barbosa que tiveram 15 filhos, os três irmãos mais velhos faleceram aos primeiros meses de vida, os demais são: Leopoldina, Sara, Rute, Célia, Paulo, Ivan, que é seu irmão gêmeo, Rui, Hélio, Hécio, Tércio, Ciro. Rubens. O Professor Dr. Rui Pereira Barbosa, já presta serviços à comunidade carente através do Escritório Experimental há 38 anos, sendo o decano do escritório. Com simpatia e amabilidade, atende a todos, sendo que seus ex-alunos, e estagiários, hoje trabalhando nos mais diversos locais do país, sempre encontram um momento para telefonar ao mestre, trocar uma palavra amiga.


                                                HINO DE MACHADO MG

Qual era a atividade principal do pai do senhor?   
Ele era administrador da agricultura e também comerciante. Nessa época era muito comum a pessoa estabelecer negociações de produtos agrícolas no atacado. Negociavam-se safras de produtos, cabeças de gado. Inicialmente ele arrendava a propriedade, mais tarde adquiriu-a. A produção principal era a de café, fumo, milho, feijão. Ainda hoje a região é grande produtora de fumo, batata, a batata alemã, conhecida como batatinha.
Os seus estudos iniciaram-se em que localidade?
Na época morávamos no distrito de Bandeira, pertencia a localidade de Campestre. Meu irmão gêmeo Ivan e eu começamos os estudos no distrito de Bandeira, hoje a localidade é denomina Bandeira do Sul, um município independente. A escola era muito próxima, íamos andando.


                                                        HINO DE CAMPESTRE MG
O senhor lembra-se do nome da sua primeira professora?
Era a Dona Terezinha. No distrito de Bandeira estudamos os três primeiros anos, que era o estudo máximo que havia na localidade. Meu irmão Ivan e eu fomos concluir o chamado quarto ano primário em Poços de Caldas.
O encaminhamento para a continuidade dos estudos foi uma influência maior do seu pai, da sua mãe, ou de ambos?
De ambos! Houve certa predominância por parte do meu pai. Quando concluímos o quarto ano primário, dentre os alunos urbanos e rurais, fui classificado como primeiro aluno. Recebi uma bolsa de estudos para estudar em Belo Horizonte e uma caderneta de poupança, se não me esqueço, a conta era no Banco do Estado de Minas Gerais. Era um valor significativo.
Como foi a reação dos seus pais?
Ficaram satisfeitíssimos! Afinal tinha sido o primeiro entre todos os alunos concluintes do quarto ano primário!
O senhor foi estudar em Belo Horizonte?
Não fui! Fiz outra opção, fui estudar em Ribeirão Preto.
Nessa época qual era a sua idade?
Nós não começamos muito cedo. Eu digo, nós, porque aonde eu ia o meu irmão gêmeo, o Ivan, também ia. A recíproca era verdadeira. Assim estávamos sempre juntos. Começamos a cursar a primeira série do curso primário com quase dez anos. Portanto concluímos o curso primário em 1954.
Em Ribeirão Preto vocês ficaram hospedados em que local?
Éramos semi internos no Colégio Metodista, mais precisamente, Instituto Educacional Metodista de Ribeirão Preto. Tínhamos a autonomia de permanecer ou não no colégio, não era o regime exclusivamente de internato. Permanecíamos lá, não necessariamente voltávamos aos finais de semana para a casa dos meus pais. Naquela época utilizamos o ônibus e o trem, usávamos os serviços da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro. Íamos até Poços de Caldas, lá cintinuávamos a viagem em um ônibus, a famosa jardineira. O percurso total era de umas seis a sete horas de duração. Era uma bela viagem!



Foi dificil acostumar-se a vida no internato?
Acostumamo-nos com certa facilidade. Inclusive desfilamos no primeiro centenário de Ribeirão Preto, em 1956, fui escolhido pela escola para levar o simbolo “Pirmeiro Centenário de Ribeirão Preto”. Faz parte da minha história. Iamos todos rigorasamente unifomizados, eramos do Instituto Metodista Educacional. É uma instituição que existe até hoje, com muitos alunos, no centro da cidade.



Nessa época havia o ensino de linguas estrangeiras?
Por quatro anos estudei latim. Considero que foi muito bom, estimo que em torno de noventa e cinco por cento da língua portuguesa sejam formadas por palavras latinas. As fábulas de Esopo! Meu irmão Ivan tinha o costume de responder a chamada feita pelo professor em latim, ao ser chamado seu nome Ivan Pereira Barbosa! Reaspondia: Adsum !  (em latim significa «Aqui estou !», «Eis-me aqui !»). Tinhamos também aulas de inglês e de francês. Antes de termos a aula de francês cantávamos o Hino Nacional da França: Allons enfants de la Patrie; Le jour de gloire est arrivé! (Avante, filhos da Pátria, O dia da Glória chegou) Era uma iniciativa do professor de francês para ensinar a pronúncia. Isso tudo me despertou o gosto pela literatura, que posteriormente me fez tornar-me professor de literatura. Hoje há uma tese de doutorado de um professor que cita 600 provérbios em português e latim. São provérbios com muito conteúdo, sábios, profundos.



















Como era a vida no internato?
Acordava às seis horas da manhã, tomava um banho, o café da manhã, um café apropriado para a idade ia a aula pela manhã, após o almoço havia o estudo dirigido, para os alunos internos havia o professor acompanhando e reforçando as matérias, os exercícios para serem feitos, para levar na aula seguinte.
Era um ensino integral praticamente?
Exatamente! Esse método eu acredito que faria uma diferença muito grande em nosso ensino.
Boa parte dos alunos da escola pública freqüenta um período de aula apenas, depois ficam sem uma obrigação formal.
O aluno fica solto, não há uma educação, uma disciplina. Por isso nosso período da tarde era exatamente o período de estudos. Era muito útil, o aluno não perdia tempo.
Tinha alguma forma de lazer?
Tinha! Jogávamos futebol, havia as aulas normais de educação física.
O fato de ser uma escola Metodista tinha influência dessa natureza sobre os alunos?
Todas as escolas Metodistas, no inicio do século passado eram iniciadas por missionárias de origem norte-americana. Temos como exemplo o Colégio Piracicabano, com a missionária Miss Martha Watts. Lá também, muitas escolas foram fundadas por iniciativa da Igreja Episcopal do Sul.
Seus estudos foram realizados no internato até concluir o curso ginasial?
Na época alguns cursos embora com terminologia, diferente vinham após o ginasial. No meu caso, fiz o colegial. Após concluir, fui fazer o curso de Bacharel em Teologia.
O que o levou a fazer o curso de Teologia?
Talvez a convivência familiar, com colegas, professores. A Igreja Reformada da época dos meus pais chamava-se Igreja Presbiteriana Independente, meus pais cultivavam conosco a Doutrina da Igreja Reformada. A Igreja Presbiteriana Independente era um ramo da Igreja Reformada, que representou uma cisão da Igreja Presbiteriana.
O senhor é Pastor?
Eu fui Pastor Metodista. Atualmente estou aposentado dessa atividade.

Quem é Pastor nunca deixa de ser!
Eu afirmei ter sido por ter atuado como pastor em exercício regular. Sempre acumulando o magistério. Quando conclui o curso de pastor recebi a nomeação Episcopal para a cidade de Piracicaba, isso foi em janeiro de 1968.
Nessa época o senhor já tinha se casado?
Em Piracicaba permaneci solteiro por três anos. Eu morava no Colégio Piracicabano, ele era internato, mas havia também, sobretudo jovens, que moravam no Colégio, alugando acomodações, não era apenas um internato. Havia apartamentos independentes, eu morava em um desses apartamentos, alugava.
Antes de vir para Piracicaba, o senhor fez o Curso de Teologia em que cidade?
Fiz em São Bernardo do Campo, onde hoje é a Universidade Metodista de São Paulo -  (UMESP). Todos que estudavam lá tinham acomodações, geralmente quartos que abrigavam dois alunos. Os estudos eram todas as manhãs, A tarde era livre para cada um estudar da forma que desejasse. Havia esporte também. Foram cinco anos de estudos, que é o tempo para formar-se como bacharel em teologia. As vezes tinha aulas a tarde também. O bacharel em teologia estuda muita filosofia, sociologia, psicologia, hebraico, grego. São matérias ligadas a história da Igreja, ao Velho e ao Novo Testamento. Passei a gostar da lingua portuguesa por conhecer a sua origem.
Quantos idiomas o senhor fala?
Sou professor de inglês e português com registro no Ministério de Educação e Cultura- MEC, já lecionei espanhol. Conheço francês, tenho facilidade de entender, até de traduzir, tenho predileção pelo inglês. Leio fluentemente em inglês, tenho muitas obras nesse idioma.
HINO DA INGLATERRA


HINO DOS EUA

                                                             HINO DA ESPANHA

Ao ler uma obra traduzida do inglês para o português o senhor percebe algumas diferenças que saltam aos olhos?
Não vejo como uma grande diferença, mais como aspectos culturais diferentes. Nesse período em que fiquei em Piracicababa, lecionei, inclusive espanhol. Passei a fazer outro curso Filosofia Pura. Foi um curso que me permitiu inscrever no MEC como professor de História, Psicologia e Filosofia. Essses cursos eram lecinados no então Instituto Piracicabano.


O senhor lembra-se do nome de alguns dos mestres que deram-lhe aulas?
Havia em Mogi das Cruzes uma faculdade liderada, organizada e administrada  pelo Padre Manoel Bezerra de Mello foi iniciativa dele apresentar um projeto que passou pelo Congresso Nacional, onde ele afirmava que todos que cursaram Teologia eram já professores. Mas eles não tinham autorização para dar aulas. A Teologia não era reconhecida oficialmente. O Curso de Filosofia Pura chamava-se Complementação Filosófica. Não íamos todos os dias, íamos prestar provas em Mogi das Cruzes. Depois esse tipo de autorização espalhou-se pelo Brasil. Íamos de trem de São Paulo até Mogi das Cruzes. De Piracicaba iam muitos alunos. Era uma oportunidade que foi criada,  e aqueles que tinham as condições acadêmicas, faziam uma prova e entravam para esse curso. Foram dois ou três anos de curso. Lecionei no Colégio Piracicabano inicialmente Educação Moral e Cívica, Estudos dos Problemas Brasileiros, Isso foi em de 1968 a 1970. Leecionava também em dois cursos de Madureza. Um deles ficava em frente ao Colégio Piracicabano e o outro na Rua Governador Pedro de Toledo. Era uma luta. Após três anos fui para Poços de Caldas, hoje a terra da maioria dos meus familiares. Eu já cursava a Faculdade de Direito em São João da Boa Vista, era a única faculdade que existia na região. Atualmente, se não me engano, a cidade de Poços de Caldas tem três cursos de Direito. São João da Boa Vista situava-se a quarenta minutos de Poços de Caldas, onde eu lecionava história e português.








Qual é a impórtância do estudo da História?
A história é muito importante, ninguém conhece sua terra, nem o próprio mundo e os regimes políticos se não conhece História. Em Minas Gerais a História aflora, é muito rica. Minas foi o estado que mais se desenvolveu, mais contribuiu, por causa do ouro, diamantes, esse ouro todo está na Europa, particularmente na Inglaterra.
Depois de ficar por três anos em Piracicaba , mudei-me para Poços de Caldas exatamente porque em 31 de janeiro de 1971 eu me casei com Zoé Pedroso Barbosa. Tivemos três filhos: Luciano, Lilia e Eliana, gemeas. Casamos em Cachoeira do Sul, no Rio Grande do Sul.




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Como o senhor conheceu uma gaucha que tornou-se sua esposa?
Nos conhecemos em um Congresso de Juventude em Lins, Estado de São Paulo. Após três anos de namoro, através de cartas, telefonemas, a cada dois a três meses eu ia até Cachoeira do Sul. Em Poços de Caldas lecionei no maior colégio que existia na época,, chamava-se Colégio Pio XII. Após casarrmos, permanecemos em Piracicaba por mais quatro anos, depois mudamos para Goiania. Lá foi o inicio da minha profissão como advogado. Logo depois vim para o Estado de São Paulo, a convite do Professor e Reitor Elias Boaventura vim como professor em tempo integral da UNIMEP. Vim em 1 de fevereiro de 1979. Fiz também três pós-graduações: em Administração Escolar, na Universidade Católica do Estado de São Paulo, durante três anos, fiz  o Curso de Mestrado em Direito Civil e depois fiz mestrado em Direito Processual Civil, aqui na UNIMEP. Estou completando 38 anos de ensino na UNIMEP. Minha esposa é professora de matemática, aposentada, lecionou no ensino oficial do Estado.







Atualmente o senhor é professor atuante no Escritório Experimental da UNIMEP?
O Escritório Experimental foi criado para atender a parte prática do Curso de Direito. Há uma parte prática que é dada em sala de aula nos sétimos e oitavos semestres, aqui no Escritório Experimental, recebemos os clientes, vemos os problemas, preparamos uma petição inicial, distribuímos e vamos até o final. Foi crido exatamente para que os alunos tivessem essa experiência. Foi iniciado no final da década de 70. Inclusive um dos meus alunos é o juiz Excelentíssimo Juiz Dr. Eduardo Velho Neto. Um dos primeiros professores do Escritório Experimental foi José Benedito Cotrin, Dr. Osvaldo Cardoso da Silva e eu trabalhamos juntos por 30 anos. A administração do Fórum ofereceu uma sala para que funcionasse o Departamento de Assistência Judiciária “Dr. Julio de Mesquita Filho”. Durante muitos anos funcionou dentro do Fórum, quando era ainda na Rua do Rosário esquina com a Rua Prudente de Moraes. Ali foi o início, enquanto o Fórum existia na Rua Santo Antonio ainda não havia esse tipo de assistência. O espaço começou a ficar pequeno, eu me encarreguei de encontrar um local mais apropriado. Encontrei uma residência, que após passar por uma reforma foi adequada para atender aos clientes, e abrigar o numero de alunos interessados em fazer o curso prático. Hoje estamos instalados próximos ao Fórum, foi um local que procurei e apresentei ao Reitor. Veio para cá com o novo nome “Escritório Experimental Professor Geraldo Bragion”. Foi uma forma que encontramos para homenagear um dos nossos professores. Posteriormente abrigamos aqui o Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) e o Juizado Especial Civil – JEC, inicialmente chamado de Pequenas Causas, a função é a mesma, só o nome é que mudou. Aqui são atendidas pessoas que tem um rendimento familiar de até três salários mínimos.


O senhor escreveu alguns livros?
Escrevi “Assistência Jurídica”, e a autobiografia “Memória Viva”. Tenho alguns artigos que escrevi, como sobre os advogados dos Inconfidentes Mineiros, artigos para O Jornal do Advogado, artigos sobre a assistência judiciária gratuita.


A UNIMEP tem feito um trabalho de prestação de serviço público à população carente e garantido a qualidade de ensino à seus alunos através dessa iniciativa?
É exatamente o que vem ocorrendo há muitas décadas, um serviço olhado com muito carinho por quem usufrui e deles se beneficiam, assim como as autoridades direta ou indiretamente envolvidas. Temos grandes apoiadores, entre muitos, o Diretor da Faculdade de Direito, Dr. Jarbas Martins Barbosa de Barros, Dr. José Renato Martins, que é o Coordenador do Curso de Direito, o Prof. Dr. João Miguel da Luz Rivero que é o responsável pelos estágios oferecidos pela UNIMEP, especialmente pelo estágio oferecido no Escritório Experimental. Lembrando que o Dr. José Renato Martins foi orientador na área penal, o Professor Dr. João Miguel da Luz Rivero foi estagiário do Departamento de Assistência Judiciária. Temos diversos colegas, trabalhamos em equipe, como a Dra. Rosa Maria Furoni, Dr. Francisco César Paiva Cecconello, Dr. José de Medeiros. São grandes colegas e amigos, estamos sempre em contato, em convívio acadêmico, e eu gostaria que os nomes deles constassem para que o público saiba quem presta serviço de forma despreendida e com muita dedicação.


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