domingo, março 28, 2010

MARIA APARECIDA PEDREIRA JOLY

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 27 de março de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: MARIA APARECIDA PEDREIRA JOLY




Um poeta no auge de sua inspiração, tomado de amor pela beleza da majestosa queda de águas do Rio Piracicaba poderia até dizer que há mulheres em Piracicaba, donas de idades já expressas em três dígitos, que mantêm uma disposição física e intelectual das mais lúcidas e dispostas. Seria um milagre das águas do Piracicaba? Exemplos não faltam. Bela Joly é mais uma dessas mulheres incríveis, espírita, encontrou muitos desafios em sua convicção religiosa. Ainda bem moça conheceu um dos grandes nomes da doutrina espírita, o piracicabano Pedro Camargo. Nascido no dia 7 de maio de 1878, na cidade de Piracicaba, faleceu no dia 11 de outubro de 1966, na cidade de São Paulo. Não se pode fazer o esboço histórico do Espiritismo no Estado de S. Paulo, sem mencionar Pedro de Camargo, mais conhecido pelo pseudônimo de Vinícius. Durante muitos anos, Pedro de Camargo presidiu a Sociedade de Cultura Artística, de Piracicaba, tendo a oportunidade de trazer para cá famosos artistas. Chegou a assumir uma cadeira de Vereador, na Câmara Municipal de Piracicaba, eleito por indicação do Partido Republicano. No ano de 1904, foi fundada em Piracicaba a primeira instituição espírita da cidade, com o nome de Igreja Espírita Fora da Caridade não há Salvação. Dentre os seus fundadores salientava- se a figura de João Leão Pitta. O funcionamento dessa tradicional instituição trouxe a esse pioneiro uma série de perseguições movidas por inspiração de outras entidades religiosas, chegando ao ponto de não conseguir nem mesmo um emprego, necessário para o amparo de sua família, a qual ficou mais de um ano na eminência de completo desamparo. Pedro de Camargo tomando conhecimento do que sucedia com Leão Pitta, prontamente o empregou em sua loja de ferragens e, como segundo passo, desfez a secção de armas de fogo que representava apreciável fonte de renda em seu estabelecimento comercial. Durante cerca de trinta anos, Pedro de Camargo desenvolveu, em sua cidade natal, profícuo e intenso trabalho de divulgação da Doutrina Espírita. No ano de 1938, transferiu seu domicílio para a cidade de S. Paulo. Ali substituiu Moreira Machado na presidência da União Federativa Espírita Paulista

Como surgiu o cognome de Bela?

Foi o apelido que papai me deu. Joly é o sobrenome do meu marido. Sou piracicabana, nasci na esquina da Praça com a Rua São José, era onde ficava o Hotel Lago, propriedade do meu pai, José Vicente Pedreira. Minha mãe é Etelvina Silveira Pedreira. Papai é piracicabano e mamãe nasceu em São Pedro. Tiveram sete filhos, eu sou a penúltima.

Seu pai sempre teve hotel?

Não. Ele trabalhava no comércio. Ele passou a ter o hotel depois que se casou. Quando se casaram mamãe tinha quinze anos de idade e ele uns dezoito anos de idade.

Onde ficava o Hotel do Lago?

Como disse-lhe, ficava na esquina da Rua São José com a Praça, tinha uma porção de quartos, na outra esquina havia o Hotel Central, que era um hotel mais fino. O nosso era o segundo melhor hotel da cidade, só que o que chamava a atenção do nosso era a qualidade da comida, quem fazia era a minha mãe! O Hotel do Lago era um prédio bonito, não era sobrado, foi derrubado e no local foi construído o Clube Paulistano, mais tarde denominado Clube Coronel Barbosa.
 
Um hospede (adulto em pé), José Vicente Pedreira (proprietario e pai de Bela Joly) e o garoto também um provável hospede.

Quantos quartos tinham no Hotel do Lago?

Eram uns quinze quartos. Era muito procurado por viajantes.

Que tipo de comida gostosa havia no hotel?

Mamãe fazia de tudo, ela era ótima cozinheira. O arroz dela era uma delicia. A canja era uma delícia. Nós não tínhamos contato com o hotel, tínhamos uma casa ao lado, na Rua São José, havia um portão muito bonito, com duas grades muito bonitas. Tanto papai como mamãe não permitiam que nós tivéssemos contato com os hospedes do hotel.

O banheiro para os hospedes como era?

Havia um banheiro e dois chuveiros. Eram chuveiros frios. Naquele tempo não tinha essas coisas de chuveiro quente.

Quantas pessoas dormiam nos quartos para hospedes?

Dormia uma única pessoa, eram quartos pequenos. Havia uma família que morava no hotel e tinha três ou quatro crianças. Na época eu tinha sete ou oito anos de idade.

Em que dia a senhora nasceu?

Nasci no dia 30 de outubro de 1908. Graças a Deus fui uma boa professora, sem falsa modéstia. Sou estimada pelos meus alunos, quando se encontram comigo na rua me carregam! Como professora eu era exigente, muito exigente, fazia questão que eles soubessem a matéria e não colassem. Eu não admitia cola.

Onde a senhora estudou?

Estudei onde atualmente é o Sud Mennucci, depois estudei em uma escola prática de odontologia que mudou para São Paulo. Eu parei os estudos nessa área.

Iria seguir a profissão de dentista?

Não! Eu gostava de estudar. Até hoje eu gosto de estudar.

Com a formação de professora onde a senhora foi lecionar?

Inicialmente fui dar aulas em Ipauçu, em uma escola rural, morava na casa dos proprietários da fazenda onde ficava a escola. Eu era estimadíssima lá. Para chegar até Ipauçu ia de trem, de lá seguia até o local onde era a escola em um dos dois automóveis que existiam na localidade naquela época. Permaneci um ano lecionando lá, em seguida prestei um concurso e fui removida para uma pequena escola no município de Piracicaba. Um fato marcante aconteceu na época. Meu irmão Luiz salvou a filha de Sud Mennucci de ser atropelada por um automóvel. Ele a agarrou retirou-a do iminente atropelamento e ambos foram ao solo, sem que acontecesse a tragédia com a criança. O Sud Mennucci foi sempre grato por esse ato que salvou a sua filha Astarté. Graças a ele eu vim á Piracicaba. Depois entrei em concurso e adquiri o direito de lecionar no Grupo Escolar Moraes Barros, em Piracicaba. Uma moça que tinha entrado no Moraes Barros foi para Charqueada onde eu estava e eu vim ara cá no lugar dela.

Conheceu Thales Castanho de Andrade?

Ele foi meu professor de história.

Teve aulas de música?

Tive com Benedito Dutra e Seu Lozano. Eram dois ótimos professores. O Seu Lozano era muito exigente.

Teve aulas de trabalhos domésticos?

Aprendi uma porção de pontos, crochê, tricô, a professora era a Dona Zinha.

A senhora teve aulas de português com quem?

Tivemos aulas com o Dr. Toninho Pinto, ele tinha muito conhecimento da matéria, muito acima da média, isso distanciava um pouco os alunos do mestre. Tivemos aulas com Benedito Dutra.

A senhora lembra-se do Teatro Santo Estevão?

Era uma belezinha de teatro. Atrás do teatro ficavam os carros de praça.

Como foi a movimentação da Revolução Constitucionalista de 1932?

Éramos entusiastas do movimento realizado por São Paulo. Fazíamos roupas, costurávamos, embaixo era o teatro, em cima era um salão de costuras, éramos em mais de vinte pessoas costurando, Dona Eugenia da Silva era a chefe, sempre foi uma pessoa de princípios filantrópicos, hoje a Rua Dona Eugenia é em sua homenagem. O folclorista João Chiarini a chamava de Santa Eugenia. Fomos muito amigas, a nossa diferença de idade era grande, mas os nossos pensamentos eram semelhantes.

Conheceu o Professor Walter Accorsi?

A Judith, sua esposa, foi minha colega!

Meu irmão Luiz Silveira Pedreira foi professor catedrático de química na ESALQ. Meu irmão Antonio formou-se na ESALQ. Meu irmão Milton embora dentista nunca exercesse a atividade.

O habito da leitura é cultivado pela senhora?

Adoro ler! Gosto de tudo, inclusive romances policiais de suspense.

Existe algum livro escrito pela senhora?

Ah não! Deveria talvez escrever a minha vida. Vou pensar nisso.

Como surgiu a Sorveteria Paris?

O avô do meu marido era francês, meu marido chamava-se Mario Joly, e ele colocou o nome de Sorveteria Paris em homenagem ao seu avô.

Como surgiu a idéia de colocar uma sorveteria em Piracicaba?

Meu marido não gostava de lecionar, para ampliar a renda familiar ele colocou a sorveteria. A sorveteria tinha um movimento! Faziam fila para tomar sorvete! Ficava na Rua Prudente de Moraes esquina com a Praça José Bonifácio.

Quem fazia a massa do sorvete?

Inicialmente era o Pink, um sorveteiro quem fazia a massa do sorvete. Ele resolveu sair e montar a sua própria sorveteria, que infelizmente não deu certo. Passei a fazer os sorvetes, usando sempre frutas, nada de pó artificial.

Aonde eram encontradas as frutas?

No mercado! Piracicaba é uma cidade que produz muitas frutas.

Qual era o sorvete mais vendido?

O segredo do sorvete está no açúcar utilizado. Todos eram feitos com frutas naturais.

Poucas pessoas sabem mais a sorveteria proporcionou uma agradável viagem?

Graças a sorveteria fomos passear na Europa! Vendíamos muitos sorvetes.

As famílias iam até lá para tomarem sorvete?

Havia um salão com mesinhas que ficava cheio de pessoas. Dr. Lula ia tomar sorvete. A família do Dr. Samuel de Castro Neves mandava buscar sorvetes com um canecão. O Arnaldo Ricciardi ia sempre conversar com meu marido.

Uma pergunta indiscreta, alguém ficou devendo sorvete para a senhora?

Muita gente! Muita gente não pagou!

O que a senhora falava?

Ia falar o que? Brigar com eles?

Por quanto tempo a senhora foi proprietária da Sorveteria Paris?

Ficamos com a sorveteria por uns quatro anos, depois meu marido resolveu vender, quem comprou foi um japonês, inclusive comprou as fórmulas dos sorvetes.

Os famosos comícios que eram feitos na praça a senhora assistia?

Veio muita gente fazer comício em Piracicaba.

O que a senhora mais gosta de Piracicaba?

Gosto de tudo!

Como é ter 101 anos de idade?

É a mesma coisa! Não há diferença nenhuma!

O que a senhora imagina que seja a morte?

Ainda hoje eu estava dizendo sobre isso, não existe morte, o corpo desaparece mas o espírito permanece. É o espírito que domina que manda no corpo. Portanto a morte não existe. A morte não é nada, Deus nos pôs aqui e nos deu a oportunidade de nós nos desenvolvermos e voltarmos no ambiente Dele, não no nosso ambiente que é bem abaixo do ambiente de Deus. Naturalmente que não iremos ficar em um ambiente com Deus, mas sim que iremos á um ambiente melhor.

Gosta de assistir televisão?

Assisto ao programa do Silvio Santos, sinceramente eu não gostava dele, o achava muito convencido, mas agora ele quase não aparece.

Aos fins de semana como são seus passeios?

Passeio pela praça, nas imediações da minha casa, periodicamente reúno meus sobrinhos em um almoço que realizo em minha casa.

Por determinado período de tempo sua residência foi em Santos?

Morei em Santos e em São Vicente. Em ambas as localizações eu tinha vista para o mar. Na época mergulhava nas águas do mar.

Em São Paulo a senhora morava em que local?

Morava na Avenida São João, que na época era um local muito bem conceituado.

Qual seu tipo de musica predileto?

Gosto de música clássica.

A senhora pertence a alguma associação beneficente de Piracicaba?

Eu e a família Salatti que fundamos o Centro Espírita. O Senhor Pedro de Camargo com pseudônimo de Vinicius era um pregador maravilhoso, gostava muito do evangelho. A União Espírita fomos nós que fundamos. Eu era muito amiga de Adélia Salatti, em frente á casa dela havia o Centro Acadêmico Luiz de Queiroz.

A senhora viajou pelo exterior?

Na Europa conheço 16 países, conheço todos os países da América. O Brasil é melhor por causa do seu povo.

Gosta de pintar?

Tenho facilidade para desenhar. Embora não toque gosto muito de violino.

Em que igreja a senhora casou-se?

Casei-me apenas no civil por professar o espiritismo.







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