domingo, agosto 15, 2010

Tereza Takagi Sato e Susumu Sato

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 14 de agosto de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/



ENTREVISTADOS: Tereza Takagi Sato e Susumu Sato

A comunicação imediata de qualquer acontecimento no planeta colocou por terra as grandes distâncias entre os povos de cada nação, um fato impensável há um século. A mobilidade de massas populacionais pelas mais variadas razões, fatos políticos, pouca disponibilidade de recursos naturais para a sobrevivência, discriminações religiosas, e algumas vezes o espírito de buscar novas oportunidades fez com que os países da América ganhassem uma nova face, uma fenomenal mistura de raças que conserva as melhores características de cada uma delas. No Brasil os japoneses e seus descendentes são respeitados pelo profissionalismo e honestidade de propósitos com que atuam nas mais diversas áreas. Os descendentes já nascidos no Brasil são carinhosamente denominados também de japonês. Ninguém questiona a qualidade de um pastel feito por um japonês, da mesma forma que confia no projeto estrutural de um edifício feito por um engenheiro calculista japonês. O imigrante japonês sempre foi muito criativo, adaptou-se logo ao Brasil, transformou o que seriam dificuldades em oportunidades, á custa de uma dedicação obstinada avançou com coragem e firmeza, conquistando o respeito e admiração, evoluindo rapidamente na pirâmide econômica e social. Uma enorme diferença cultural, de hábitos alimentares, costumes, barreira do idioma, foram obstáculos demolidos pelo imigrante japonês, a custa de muito suor, com raríssimas exceções podemos afirmar que é um povo que veio, viu e venceu. O bairro da Liberdade em São Paulo é um pedaço do Japão no Brasil, em Piracicaba o bairro com maior presença de japoneses e seus descendentes é a Paulista, que exibe entre outros, sobrenomes como Takaki, Sato, Ito, Nishimura, Kawai, Kubo, Otsubo, Icizuka, Mizutani, Takematsu, Hara, Yamashita, Komatsu, Nishide, Kamiyama, Hayashi, Onishi, Sudo, Miyazaki. Nas esquinas da Avenida do Café com Rua Sud Mennucci está a sede do Clube Cultural Nipo Brasileiro de Piracicaba, que preserva os costumes e tradições japonesas. Tereza Takagi Sato nasceu no Porto João Alfredo, hoje Ártemis, em 10 de junho de 1930, Susumu Sato nasceu em Yokohama, Japão, a 27 de outubro de 1924 casaram-se há seis décadas conforme o antigo costume japonês, onde a futura esposa era escolhida e após a concordância paterna celebrava-se o casamento. Ela é filha de Shigueki Takaki, o primeiro imigrante japonês falecido em Piracicaba, cujo nome denomina uma das mais conhecidas praças de Piracicaba situada na Paulista. Takaki em japonês significa “árvore grande”.

Susumu o senhor veio com quantos anos para o Brasil?

Ao completar seis anos vim com a minha família composta pelos meus pais e mais cinco filhos. Descemos em Santos, de onde seguimos para Piracicaba, ao chegarmos havia uma recepção festiva com banda de música e tudo, ficamos contentes achando que era pela nossa chegada, quando na realidade era em homenagem ao Governador do Estado que vinha naquela composição. Fomos para a Fazenda Pau D`Alho de propriedade de Paulo Moraes Barros, médico e político piracicabano, era colônia de café. No Japão não se carpia o mato, e sim se arrancava com a mão, aos imigrantes carpir era quase uma novidade. Plantávamos arroz no Japão, para consumo próprio.

Ao chegar à fazenda foram residir em casa?

Cada família passou a residir em uma casa da colônia, já havia japoneses que havia chegado antes. O primeiro impacto que sofri foi com a barreira da língua, próximo a minha casa moravam uns meninos negros, tínhamos vontade de brincar, mas não havia forma de nos comunicarmos pela palavra. Tanto a linguagem como as brincadeiras eram muito diferentes. Logo que cheguei já fui para a escola, só que por três anos permaneci estudando no primeiro ano, simplesmente não sabia falar português! Alguns colegas japoneses, que tinham chegado antes, tinham um pouco mais de domínio da língua e nos ajudavam. Em matemática conseguia excelentes notas, mas quando o professor fazia o “ditado”, onde ele lia e nós tínhamos que escrever, eu recebia péssima nota. A professora era a Dona Candinha.

Com que idade o senhor passou a trabalhar?

Minha família após permanecer por três anos no Bairro Pau D`Alho, mudou-se para o Bairro dos Marins, fomos tomar conta da chácara do Sr. Emilio Fabri. Minha mãe estava grávida, logo nasceram meus irmãos gêmeos, a Maria e o Mario, seu Emilio queria batizar as crianças, ele e a sua filha batizaram a menina, a sua esposa e o filho batizaram o menino. Com seu Ford 1929 ele ia sempre ao sitio, era proprietário de um armazém situado onde hoje está o Bradesco da Paulista, ali ele tinha uma área que abrangia boa extensão do quarteirão, além do armazém tinha um salão onde estocava algodão que adquiria de plantadores da região. Nossa família mudou-se para Tanquinho, de lá mudamos para o bairro da Assistência, próximo a Rio Claro. Com doze anos passei a trabalhar na lavoura, arar, gradear, em lavoura de algodão, isso na Fazenda Itaúna, onde permanecemos por sete anos.

No período da Segunda Guerra Mundial os japoneses no Brasil sofreram algumas restrições?

Pelo fato de morarmos no sitio sentimos pouco as medidas tomadas em relação aos imigrantes. Como era natural, tínhamos armas de fogo para a defesa contra possíveis ataques de animais silvestres. Meu pai tinha um revolver Smith & Wesson que ele deu para o administrador da fazenda guardar. Desmontamos as espingardas, acondicionamos em papel e as colocamos debaixo do paiol. Não podíamos ter rádio, os japoneses, italianos e alemães eram chamados de “quinta-coluna”. (Quinta coluna é um termo usado para se referir a grupos clandestinos que trabalham dentro de um país ou região, ajudando a invasão armada promovida por outro país em caso de guerra).

Qual foi o próximo trabalho que o senhor realizou?

Meu pai percebendo que a rentabilidade do trabalho na lavoura estava ameaçada pela ambição do proprietário das terras arrendadas, decidiu que deveríamos mudar, ou para nossa própria terra ou para a cidade. Estávamos cansados de tanto trabalhar com agricultura, decidimos mudar para a cidade, adquirimos o Restaurante Central, na cidade de São Pedro. Não entendíamos nada de cozinha brasileira, conhecíamos a comida japonesa, permaneceram trabalhando conosco o cozinheiro e dois garçons. Eu e meu cunhado tomávamos conta do restaurante, fomos adquirindo prática.

Nessa época que o senhor e sua esposa se conheceram?

Minha esposa morava com a família em Artemis, ia sempre á São Pedro para visitar um irmão que morava lá.

O namoro japonês é diferente?

Naquela época não havia namoro, os padrinhos é que ajeitavam o casamento. O Chico, que era verdureiro, foi quem ajeitou meu casamento. Toda vez que a Tereza ia visitar seu irmão, passava em frente ao bar onde eu trabalhava. O Chico falou com o pai dela, ela nem sabia que iria se casar comigo.

Dona Tereza, como a senhora recebeu a noticia que iria se casar com uma pessoa que praticamente nem conhecia?

Eu tinha dezenove anos, o Susumu tinha quase vinte e cinco anos, eu disse que não queria me casar, mas meu pai me convenceu a aceitar. O padrinho falou com o meu pai e já marcaram a data do casamento. O casamento foi realizado na igreja de São Pedro no dia 28 de março de 1951.

Após o casamento o senhor trabalhou no que?

Permaneci trabalhando no restaurante de nossa propriedade. Após algum tempo fui plantar em uma área de terras cujo administrador era o Sr. Orestes, por um ano cultivei arroz e algodão, ia para lá na segunda feira, retornava na quarta feira, na quinta feira já ia de novo para a lavoura, era próxima a Santa Maria da Serra, ia de caminhão com o encarregado da fazenda, isso foi em 1952. Minha esposa permanecia trabalhando no restaurante. Terminada a colheita, um conhecido que tinha uma leiteria ofereceu-me uma área de terras para cultivar verduras, assim passei a fazer, e ajudando-o a entregar leite para a sua freguesia, era litros fechados com sabugo e palha de milho. Meu pai voltou para a fazenda Itaúna e me convidou para ir fazer uma lavoura de dez alqueires de mandioca, sempre fui muito bom para riscar a terra. Meu sogro em uma visita que nos fez achou que eu poderia ter melhores condições trabalhando na cidade, meu cunhado Julio ajeitou um trabalho com o Seu Maneco, um português que tinha um bar e restaurante na esquina da Rua Governador Pedro de Toledo com a Rua D.Pedro II, onde hoje está à loja de roupas Hot Point. Trabalhei lá por um ano como pasteleiro, fazia coxinhas. Dia 15 de junho de 1953 mudei para uma casa de propriedade do Sr. Vecchini, situada na Avenida do Café, 533, onde morei por três anos, as ruas eram de terra, com pedregulhos.

Qual é o segredo de um bom pastel?

Pastel é a coisa mais simples de se fazer, não adianta ensinar, mesmo ensinando nunca fazem igual, a massa de pastel é feita com farinha, água, sal e óleo, não se acrescenta mais nada, nem fermento, pinga, ovos. Fazíamos pastel de carne e queijo. Comprava no mercado frangos, galinhas, abatia-as e fazia coxinhas.

Em seguida o senhor trabalhou onde?

Comprei banca no mercado, no tempo em que tinha mesas de um metro, parte do prédio era descoberta, nessa época o mercado foi reformado, por três anos fiquei no mercado. Eu tinha trabalhado como pasteleiro com o Abe, pai do Antonio, Ricardo e do Fernando, aos sábados e domingos ele me chamava para ir trabalhar na pastelaria. Os irmãos Plínio e João Zaia tinham um bar situado atrás da Catedral, chamava-se Americana, encostado ao bar existia a agência de viagens da Viação Piracicabana, ele ofereceu-me porcentagem sobre as vendas de pastel para ir trabalhar com ele. Entrava às seis horas da manhã e ficava até as onze horas da noite, nessa ocasião eu morava no Jaraguá. Até a esquina da Rua do Rosário com a Avenida Dona Jane Conceição havia casas, da Rua do Rosário para baixo, sentido do Jaraguá não havia nada, apenas pastos. Cheguei a jogar futebol no Campo do MAF, no campo do Jaraguá Futebol Clube. Na quadra entre a Rua da Palma, Rua Campinas, Avenida Dona Jane Conceição e Avenida Dr. Edgar Conceição era o campo do MAF. As ruas estavam com suas quadras definidas, mas era tudo mato. Quando eu tinha horta, como havia muitos animais soltos, vacas, cavalos eu catava esterco por essa região onde hoje é o Bairro Jaraguá. Após para com a horta aprendi a trabalhar como cabeleireiro, montei um salão na Rua Prudente de Moraes entre a Rua do Rosário e a Rua Tiradentes. Corto cabelo até hoje. Meu cunhado Ângelo fez o curso de cabeleireiro em São Paulo veio trabalhar comigo, uma mocinha era a manicure. Eu penteava os cabelos de senhoras, fazia permanente. Minha esposa passou a trabalhar também como cabelereira.Uma das minhas freguesas era funcionária da Ultralar na Rua Governador Pedro de Toledo, eles precisavam de uma pessoa para trabalhar lá. A princípio eu fui trabalhar com botijão de gás. Aprendi a montar e desmontar fogões a gás e passei a cuidar dsso, fazia entregas, tive a oportunidade de conhecer a cidade de ponta a ponta.

Sr. Susumu o senhor era católico?

Pelo fato de ser japonês, tinha o budismo como religião em minha terra natal. Quem nos casou foi o padre Peroni, era muito conhecido na cidade de São Pedro. Em Piracicaba, participei do Movimento dos Cursilhos de Cristandade, queriam me batizar. Fui batizado quando tinha 52 anos, pelo Cônego Luiz Gonzaga Juliani.

Da. Tereza o seu pai, Shigueki Takaki veio morar onde?

Ele dirigiu-se a Fazenda Pau D`Alho, em seguida ele adquiriu uma área na Fazenda Cachoeira.

Como se deu a denominação da Praça Takaki em homenagem ao seu pai?

Meu pai foi o primeiro imigrante japonês a falecer em Piracicaba, em junho de 1958, fizeram essa homenagem a ele e a colônia japonesa, a Praça Takaki foi inaugurada em 17 de abril de 1960, a Paulista é o bairro onde existe a maior concentração de japoneses. Meu pai foi um dos fundadores do Clube Cultural Nipo Brasileiro de Piracicaba.

Qual é o objetivo principal do Nipo Brasileiro?

Quando o meu pai fundou o objetivo principal era fortalecer a união entre os japoneses, desde aquela época existe a gincana, onde há a participação de concorrentes em diversas modalidades de atrações com premiação aos melhores colocados. O baseball já existia. Festas de casamentos eram realizadas ali, naquele tempo era um clube destinado exclusivamente á japoneses, atualmente temos até diretores brasileiros, como o nosso Vice-Prefeito, o médico Dr. Sergio Pacheco.

Sr. Susumi como surgiu o grupo da terceira idade dos japoneses?

Na administração do prefeito José Machado, a primeira dama Janete Machado disse que seria interessante montar um grupo de terceira idade dos japoneses, na época uns trinta associados nessa faixa etária participava do baseball, incluímos essa turma toda no novo grupo. Com o tempo foram aproximando-se mais associados, inclusive brasileiros. Tanto eu como a Tereza por vários anos fomos diretores do grupo da terceira idade.

Dona Tereza, a senhora como cabeleireira conheceu muitas pessoas importantes da sociedade piracicabana?

Conheci, a esposa de Erotides de Campos foi minha cliente, senhoras francesas esposas dos diretores do Engenho Central, moças da família Kraide, Ana D`Abronzo, moças e senhoras da família Ometto.







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