PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 10 de outubro de 2020.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno
de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços
eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: FRANCISCO CARLOS MODESTO
Disciplina, Ordem e Hierarquia são cláusulas pétreas do Exército Brasileiro. Os generais podem ser: General de Brigada; General de Divisão e General de Exército, sendo este o posto máximo do generalato. O General de Exército Francisco Carlos Modesto nasceu na cidade de São Pedro em 27 de janeiro de 1952. Filho de Wilson Modesto e Denice Dias Modesto que tiveram ainda as filhas Ana Luiza e Lucia Helena.
No dia
30 de agosto realizou-se no Batalhão da Guarda Presidencial - "Batalhão
Duque de Caxias" uma formatura com a finalidade de oferecer as despedidas
do serviço ativo ao General de Exército Francisco Carlos Modesto, Chefe do
Estado-Maior do Exército. O General de Divisão Caixeta, Vice-Chefe do
Estado-Maior do Exército, fez uso da palavra enaltecendo a vida militar do
General Modesto, por meio da leitura de sua biografia. Na oportunidade, o
General Modesto foi agraciado com a Medalha Mérito Granadeiro, recebida das
mãos do General Leme, Comandante Militar do Planalto. Em suas palavras, o Chefe
do Estado-Maior do Exército destacou a igualdade de oportunidades que a vida de
soldado oferece a todos, independentemente de classe social. Em seguida, a tropa
do BGP realizou um magnífico desfile em continência ao General Modesto, o
último de sua brilhante jornada pelo serviço ativo. Compareceram à solenidade
diversos oficiais generais da ativa e da reserva, incluindo 6 atuais
integrantes do Alto Comando do Exército.
Mecânico de automóveis em Águas de São Pedro. Ele era muito hábil com maquinas, era mecânico de automóveis mas consertava trator, caminhão, máquina de piscina, máquina de elevador, ele tinha uma habilidade manual muito grande, hoje as coisas estão mais fáceis, com aparelhos o mecânico identifica a falha e troca a peça com defeito. Antigamente a pessoa tinha que entender o funcionamento da peça, para “fabricar” uma semelhante! Os carros eram importados e não tinha peças disponíveis a qualquer momento. Ou seja, além da habilidade, tinha que ser criativo. Ele trabalhou com a família que fundou Águas de São Pedro, a família Moura Andrade. Tudo que era máquina, era com ele.
O senhor
lembra-se do nome do fundador de Águas de São Pedro?
Foi Octávio Moura Andrade.
Águas de São
Pedro foi fundada em decorrência de uma prospecção de petróleo em seu subsolo?
Existe, segundo foi visto, através de estudos e análises, um lençol
petrolífero que vai daqui até a região de Piracicaba oi até mais, quando
estavam pesquisando, foi perfurado um poço aqui, tem até a estrutura. Dize, que
saiu gás, e o petróleo não é economicamente explorável. Mas nessas andanças por
aqui, descobriram aquela água malcheirosa. Tinha um senhor, Ângelo Franzin, que
era o dono da fazenda, ele tinha feito um balneário, era uma casa de banhos com
duas portas. Ou seja, dois banheiros, para tonar banho, isso porque ele estava
meio entrevado, com os banhos começou a melhorar cada dia mais. Isso despertou
a curiosidade popular, que ficou sabendo dos seus banhos com aquela água. A
água passou por uma pesquisa, foi feita a descoberta de que era água sulfurosa.
Isso foi por volta de 1930. O Dr. Octavio, que foi o fundador, tinha um irmão
mais velho do que ele, que trabalhava em Santos, com exportação de café. Esse
irmão veio até Águas de São Pedro. Essa água foi analisada por mais de um ano
na Universidade de São Paulo, os irmãos Moura Andrade adquiriram três ou quatro
fazendas, tanto que a cidade de Águas de São Pedro não tem área rural! Só tem
área urbana! Fundaram a cidade com a construção do Grande Hotel. Isso deve ter
sido por volta de 1950. Não tinha estrada, De Águas de São Pedro à Piracicaba
deveria levar uma eternidade! Ele chegou, por volta de 1959, a ter uma pista de
pouso de aviões, entre Águas e a cidade de São Pedro. Essa pista fica em São
Pedro, já outro município.
Ou seja,
naquela época o meio de transporte aéreo era relevante em Águas de São Pedro?
Teve, naquela época, uma revoada de mais de 250 aviões! Aviões “Paulistinha”.
Hoje já é difícil imaginar uma coisa dessas, imagine há 70 anos atrás! Ele fez
isso para divulgar a cidade, depois ele chegou a comprar um avião que deveria
levar umas vinte pessoas, para trazer hóspedes para o Grande Hotel. Águas de
São Pedro nasceu em torno desse hotel! Para construir o hotel ele fez uma
olaria, não tinha nada aqui! Fez uma serraria. Fez a mecânica. O meu pai
trabalhava na manutenção disso tudo. Dos equipamentos todos. Após construído o
hotel, ele arrendou por algum tempo. Na época Águas de São Pedro foi emancipada
do Município de São Pedra, tornou-se Estancia Hidromineral. O que alavancou no
início da cidade foram os cassinos. Na época só eram permitidos cassinos em
estâncias, essa separação foi para que como estância Águas de São Pedro
comportasse cassinos. Em vez da pessoa ir para o exterior, vinha para cá. Os
brasileiros, pessoas que gostam de jogos, eram os frequentadores. O hotel é um
espetáculo. Onde era o cassino hoje funciona um salão para teatro ou coisa
semelhante. Em torno do hotel era um pasto. Hoje o hotel está no centro de um
belíssimo bosque, esse bosque foi plantado! Trouxeram muitas mudas de diversas
espécies de eucalipto. Era uma árvore que crescia rápido e permitia que
outras espécies de árvores que foram plantadas lá, crescessem.
A cidade
também foi projetada?
Na época no Brasil existia um escritório de engenharia, o Escritório
Técnico Saturnino de Brito, sediado no
Rio de Janeiro, era um dos mais famosos e conceituados.(Francisco Saturnino Rodrigues de Britto, mais
conhecido como Saturnino de Brito, foi um engenheiro sanitarista brasileiro que
realizou alguns dos mais importantes estudos de saneamento básico e urbanismo
em mais de 50 cidades do país, sendo considerado o "pioneiro da Engenharia
Sanitária e Ambiental no Brasil".).Ele
fez não só o paisagismo da cidade como também o tratamento de água,
esgoto. Octávio Moura Andrade foi uma pessoa visionária, muito além do tempo
dele, faleceu muito cedo, com 68 anos.
Existia mais
algum cassino ou só o do Grande Hotel?
Só existia esse cassino. O Hotel era referência para tudo, a única
piscina que existia aqui na área era essa do Grande Hotel. Só tinha uma
piscina, semiolímpica de 25 metros. Em Águas não havia o ensino médio, antigo
ginásio, tinha que estudar em São Pedro, eu tive a sorte de ter um professor, o
nome dele é José Maria, ele era de Rio Claro, eu valorizo muito os professores.
Ele foi até o Hotel, conversou com as pessoas do Grande Hotel, conseguiu dar
aulas para alunos da escola pública, na piscina do Hotel. Nós tínhamos aulas de
natação. Eu aprendi a nadar na piscina do Grande Hotel, graças a esse professor
e a ao Grande Hotel que cedeu as instalações. Em Águas tinha uma escola
primária, acabei estudando nela no quinto ano, no ano seguinte passou a ter o
exame para admissão, antigamente fazíamos o quinto ano e fazíamos o exame de
admissão. Com a mudança do currículo, fazia até o quarto ano, não me lembro se
fazia o exame de admissão ou ele foi abolido. Assim entrava no primeiro ano do
antigo ginásio.
O ginásio p
senhor fez em qual escola?
Comecei a estudar em São Pedro, morava lá, depois meus pais mudaram para
Águas, o Grupo escolar terminei em Águas. Estudei três anos em São Pedro no
Grupo Escolar Gustavo Teixeira e dois anos em Águas no Grupo Escolar Ângelo
Franzin. O ginásio estudei em São Pedro na Escola Estadual José Abílio de Paula.
Nesse período o senhor só estudava?
Só estudava. Quando eu cheguei no oitavo ano do ginásio era o período do
dilema: se queria fazer Direito, matérias voltadas para a área de Ciências
Humanas, fazia o Clássico. Se fosse estuda Engenharia, área de Ciências Exatas,
fazia o Curso científico. Era uma decisão muito importante. Na escola em São
Pedro, eu tinha dois grandes amigos: João Francisco e Toninho Possobon, formávamos
três grandes amigos. Estudávamos juntos, o João Francisco era muito estudioso,
primeiro aluno em sala de aula. O pai dele foi expedicionário de 32, e queria
muito que o filho fosse militar. Lá pelas tantas, o João Francisco,
convidou-nos, eu e o Toninho para irmos juntos fazer o exame. O pai do Toninho
era representante de Antárctica em São Pedro, o Toninho disse que iria ser
engenheiro, de fato, acabou sendo engenheiro, trabalhou na siderúrgica em Volta
Redonda, depois trabalhou na Embraer, teve muito sucesso o Antonio Carlos
Possobon. O João Francisco de Aguiar também teve uma carreira de muito sucesso
na área de economia. Aposentou-se no Banespa e hoje é professor nona
Universidade Mackenzie em São Paulo. Quando o João Francisco nos convidou para
ir fazer o exame para ingressar nas Força Armadas, ele ficou chateio com a
resposta do Toninho, àquela resposta “na lata”, ou seja, direta. Quando ele me
disse: “E você? ” Eu estava vendo a sua dificuldade em aceitar a determinação
do pai. Era uma situação delicada. Respondi: “-Vou lá contigo! ”. Decidimos
isso no final de 1966. Estava na sétima série, indo para a oitava do ginásio.
Para a época
era uma aventura!
Pois é. Em 1967, no início do ano, em janeiro, fevereiro, deu uma
enchente grande em São Paulo. Inundou tudo, inclusive as editoras que faziam os
livros didáticos. O livro didático chegou só no meio do ano. Principalmente
português e matemática, a prova era sobre português, matemática, ciências,
história e geografia. Os livros chegaram mais ou menos em junho, estudamos
metade do livro. Tínhamos uma escola pública excepcional. Fizemos a inscrição,
João Francisco como era sempre o primeiro aluno da sala, disse: “Eu não vou
fazer porque não vai dar para passar. Eu tinha ido até lá mais pela nossa
amizade, na hora pensei o que eu iria fazer. Narrei para o meu pai o que tinha
acontecido. Nessa hora é que valorizamos a sapiência de uma pessoa que só
estudou o curso primário. O meu pai disse-me: “Você começou, vá até o final!
Vai ver o que que é! Preste o exame não significa que você vai passar, mas não
desiste mão! ” Eu fui.
O exame foi em
que lugar?
Foi em Campinas, no Bairro do Castelo, ali tem uma escola rosada, é uma
escola grande, é a entrada para quem quer tornar-se oficial. É a Escola
Preparatória de Cadetes do Exército. Depois vai para a AMAN - Academia Miliar
das Agulhas Negras, em Resende, ele começa ali. Na minha época eram três anos,
hoje é um ano só. Ali fazíamos o Científico.
Como foi o
exame?
O primeiro exame tinha 50 questões de matemática, umas 30 ou pouco mais,
eu sabia, era prova de múltiplas escolhas, com 5 opções, nunca gostei de
“chutar” a resposta. As outras, cerca de 20 questões, eu não tinha nem ideia,
era da parte do livro que eu não tinha estudado. Todas elas, ou quase tidas,
tinha um desenho geométrico: arcos, esferas. Para não “chutar” aleatoriamente,
comecei a resolver por desenho, eu tinha tido um professor muito bom de desenho,
algumas coisas até encontrei solução. Saí de lá desanimado, quando eu estava na
fila, ela seguiu a ordem A, B. C, e assim por diante, sempre pelo primeiro
nome, estávamos todos em um pátio interno, repleto de candidatos, o pessoal que
tinha feito cursinho, falando fórmulas matemáticas, teoremas, mostrando um
saber que chamava a atenção de qualquer um. Na hora pensei: “-Meu Deus do céu
aonde é que eu estou! ”. Sentia-me completa e absolutamente perdido! Eu ali,
caipira, a primeira vez que tinha saído de casa em direção a outra cidade,
saímos daqui quatro e pouco da manhã, tinha que estar em Campinas as sete
horas. Fomos com um fusquinha que o meu pai tinha. Depois houve outras provas.
No final um coronel disse: “ Você tem o telefone tal, vocês ligam para cá para
saber o resultado. Se não puderem ligar (Naquela época não era todo mundo que
tinha telefone, isso em 1967), e quem não tiver telefone pode comprar o jornal
de Campinas. Quem não tiver nenhuma dessas opções, aguardem que irão receber um
telegrama”.
A expectativa
era grande?
Aí tem um detalhe, quando fiz a primeira prova, eu falei
para o meu pai: “ Não deu, vinte questões eu “chutei” e expliquei-lhe o que
tinha ocorrido. Eu disse a ele: “Não vou continuar fazendo as demais provas! ”.
Novamente ele disse: “Você começou, agora vai até o final, se for aprovado não
é obrigado a ficar. Você vai, continua se você quiser, mas aprenda a ir até o
final”. Fui, fiz as outras provas. Chegando em casa transmiti aquilo que o
coronel tinha dito. Ele perguntou-me se eu tinha anotado o telefone, eu
disse-lhe que nem tinha anotado.
O senhor seguiu sua rotina?
Já tinha feito a minha matrícula para cursar o curso
científico em São Pedro. Estava pensando em fazer um curso técnico que estava
começando aqui, era na área de hotelaria, no SENAC. Com o curso técnico eu
teria condições de trabalhar e estudar. E ia fazer um concurso para a Escoa Sud
Mennucci que era a melhor escola que havia na região de Piracicaba. Um belo
dia, cheguei em casa, tinha um telegrama. Eu não queria acreditar. Estavam me
chamando para fazer exame médico, exame físico, eu tinha sido aprovado no exame
intelectual. Em 1968 comecei na Escola Preparatória em 1968, sai de lá em 1970.
Nessa época eu tinha 15 anos de idade quando comecei lá.
De lá o senhor foi para a Academia de Agulhas Negras?
Na Academia fiquei de 1971 a 1974. Concluído o curso o aluno
sai como Aspirante. Na Academia você tem o ensino universitário e o ensino
profissional. Equivale a um curso superior. Nos 1° e 2° anos o mais forte é o
ensino universitário. O aluno permanece em regime de internato, período
integral. No 3° e 4° anos ele equilibra, metade universitário e metade
profissional. No ensino universitário você estuda matemática, desenho, física,
química, psicologia, filosofia, direito, administração, cálculo integral,
diferencial, trigonometria, topografia, é uma miscelânea de assuntos para dar um
embasamento que é fundamental inclusive para a parte militar.
E a parte militar?
Depende das armas, o 1° e 2° anos é o curso básico, ensina a
ser soldado, depois de acordo com a classificação, na minha época, hoje no 1°
ano de Resende que escolhe, antigamente era no 2° ano você escolhe uma das sete
armas: Cavalaria; Artilharia; Infantaria; Engenharia; Comunicações; Material
Bélico e Intendência. O aluno escolhe uma dessas armas e vai fazer os dois
últimos anos nessa arma que ele escolheu. A parte universitária continua. Os
dois últimos anos é meio a meio. Metade da semana com atividades universitária
e a outra metade da semana com atividades profissional.
O senhor escolheu qual arma?
Infantaria! Como todas as profissões tem seus encantos e
suas dificuldades. No caso do militar tem um aspecto: você está sempre mudando.
Quem sofre muito com isso é a família. Principalmente o oficial, você está dois
ou três anos em um lugar, depois vai para uma sucessão de outros lugares. Você
não sabe para onde vai. O Exército vai determinar. A não ser que seja convidado
para um curso, ou ministrar um curso. São as coisas que você pode escolher.
Essas mudanças trazem também algumas vantagens para os filhos, tem que se virar
e aprender. Adaptarem-se a cada dois ou três anos em um local diferente. E tem
a desvantagem de deixar os amigos. Sempre recomeçando.
Em 1974 o senhor formou-se em Agulhas Negras?
Fiquei lá até ser 1° Tenente. Antigamente quando você era
promovido, você mandava um rádio, rádio é como se fosse um telegrama, para a
diretoria de movimentação, è um departamento que transfere as pessoas, dizendo
três locais para os quais você gostaria de ser movimentado, você era promovido,
fazia isso, o Exército tentava conciliar o seu interesse com a necessidade do
Exército. Sempre que possível acontecia. Eu sempre quis fazer o Curso de Guerra
na Selva, por dois anos mandei requerimentos, aí vinha a resposta: Indeferido
por dar preferência a oficiais na área. Tinha um major que tinha sido
comandante de Itaituba, no Pará, ele veio falando mil maravilhas de Itaituba,
dizia: “ Estou precisando de você, vamos para lá! ” Tinha um outro tenente que
tinha ido para Marabá, veio falando maravilhas, dizendo: “Modesto, vamos para
lá! ” Coloquei no requerimento: 1ª Opção Itaituba, 2ª Opção Marabá, 3ª Opção
Manaus, que era onde eu queria fazer o Curso de Guerra na Selva. Em agosto de
1977 fui promovido, tinha me casado em julho de 1977, me casei em São Pedro.
Minha esposa estudou na UNIMEP é formada em português e inglês. Nessa época
estava em Caçapava. Em dezembro de 1977 eu estava de férias, me ligaram de
Caçapava dizendo: “Modesto, você foi transferido! ”. Vai para Tabatinga.
Procurei no mapa, não tinha nem estrada! Fronteira com a Colômbia. Fronteira
com Leticia. Letícia é uma cidade da Colômbia,
capital do departamento de Amazonas. Letícia é como se fosse a nossa Manaus.
E o senhor foi para lá?
Foi a melhor coisa que me
aconteceu! Eu tinha seis meses de casado.
A sua esposa o acompanhou?
Lógico! Aí vem as
dificuldades. Ela tinha passado em um concurso, em Caçapava, para ser
professora do Estado. O dilema: assume o cargo de professora, ou abandona e me
acompanha? A decisão foi abandonar e acompanhar. Fomos para lá. Isso foi em
janeiro de 1978. Naquela ocasião, a visão do Exército sobre a Amazônia não
priorizava um efetivo com alta qualificação. Tinha muita gente boa servindo,
sob condições não prioritárias. As condições de comunicações eram precárias.
Para fazer uma ligação telefônica de Tabatinga tinha que ligar para Tefé, de
Tefé para Manaus, de Manaus para São Paulo de São Paulo para Piracicaba, de
Piracicaba para São Pedro. Era um sacrifício, se caísse uma das linhas você não
iria conseguir se comunicar. A comunicação era mais por carta. Ninguém gostava
de ir para lá.
Quem ia para lá?
Percebi isso quando cheguei.
Eu tinha um subcomandante, Coronel Chagas, era uma pessoa muito ponderada, ele
começou a me perguntar: “Você é casado? ”. Disse-lhe que sim. Que havia me
casado fazia seis meses. Ele era muito calmo, perguntou-me: “Você é bem casado?
” “Vive bem com a sua esposa? ”
Respondi: “ Vivo muito bem sim! Estamos em lua-de-mel”. Com toda calma ele
entabula conversas, até que me perguntou: “ Você tem algum problema financeiro?
” Disse-lhe que não, tinha ficado dois anos solteiro, consegui ter minhas
economias. Comprei tudo que era necessário para mobiliar a casa. Minha esposa,
Márcia Modesto, formou-se na UNIMEP. Deu aulas em Capivari. Conseguimos fazer a
lua-de-mel e ainda sobrou dinheiro para comprar um aparelho de som 3 em 1, esse
aparelho era o sonho da época. Ai o Coronel perguntou-me: “-Você foi punido? ”
Respondi-lhe que não. Naquela época eram pouquíssimos os voluntários que iam
para a Amazônia. Eu tinha o interesse em conhecer e em fazer o curso, tinha
dois interesses, o gosto pelo desafio. Tabatinga tem 1.000 militares, eles têm
pelotões de fronteira, um pelotão de fronteira são 40 homens. Um tenente, um
médico, um dentista, uns dois ou três sargentos, o resto soldados. Ficam no
meio da selva. O Coronel disse-me “Você é o mais antigo”. Mais antigo em nosso
meio significa o que se formou antes. Então disse-me: “ Você pode escolher, tem
uma vaga aqui na sede e uma no pelotão”. Disse-lhe: “Quero ir para o pelotão! ”
Eu estava querendo desafio, queria conhecer o pelotão. Com aquela calma toda,
ele disse-me: Ah! Já percebi o seu problema! ”. Intrigado perguntei-lhe: Qual é
o meu problema Coronel?!”. Ele disse-me vagarosamente: “ Você é loucooooo!”.
(Risos). Ele disse-me: “ Imagine ir para o pelotão, você podendo ficar aqui! Na
sede tem mais recursos! ”. Foi a melhor decisão da minha vida! Foi fantástico!
Na época sintonizava a Rádio Nacional de Brasília até umas cinco horas da
tarde. Depois sumia. Aí entrava a BBC de Londres, a Havana de Cuba, entrava
forte, 5 por 5 que costumamos chamar, claro e alto. Olha o sonho, as pessoas
ali, boa parte índios, filhos de soldados, mestiços, queriam aprender inglês
para entender o que a BBC de Londres falava! A minha esposa dava aula na escola
e começou a noite ensinar coisinhas simples. Lógico que não iriam aprender
inglês. Os índios, as pessoas mais humildes têm sonhos. Não querem viver em uma
redoma, como se fosse um zoológico. Eles têm os mesmos sonhos que temos, querem
progredir, querem saber, entender.
De que tribo eles eram?
Na minha área Ticona.
A esposa do senhor encontrou inspiração
para escrever um livro?
Minha esposa Márcia Modesto
escreveu um livro. Nós tivemos muita sorte, só encontramos pessoas boas no
caminho. Desde o ensino, ela estudou em Piracicaba, gostou muito da UNIMEP, até
durante a vida militar. Com o olhar dela e sua expressão ela descreveu toda a
nossa vida. Nós que vivemos em centros urbanos, com recursos, não podemos nem
imaginarmos como é a vida deles, e o quanto eles nos ensinam.
Em convívio com eles aprendemos valores
que a humanidade esqueceu?
Aprendemos muito com eles. Um
fato que mostra o nível de igualdade existente no meio deles. No pelotão não
existia carnes. O pelotão ficava a mais ou menos uma hora de voo de Catalina, é
um avião que não existe mais. É hidroavião e pode pousar em pista também, no
pelotão tinha pista de pouso. O pelotão hoje se chama Vila Bitencourt, Fica no
comecinho do Rio Japurá, ele é formado pelo Rio Apapós, que é brasileiro e
Caquetá que é colombiano. Na frente do pelotão tem uma ilha que é colombiana, e
um soldado colombiano criava gado, solto. Ele abatia e vendia para nós. A fonte
de renda dele era essa. Um dia um soldado do batalhão perguntou-me: “Tenente, o
senhor quer carne? ” Disse-lhe que queria sim, um quilo de picanha, outro quilo
de alcatra, e fui dizendo o que desejava, O soldado disse-me: “Aqui fazemos o
seguinte, perguntamos para todo mundo que quer carne e depois pegamos o boi,
vemos o seu peso e dividimos com todos igualmente”. Se tivesse 10 quilos de
carne de primeira e 10 pessoas para dividir era um quilo para cada um. A carne de segunda se for 20 quilos, são 2
quilos para cada um. Olhe o ensinamento que eu recebi de uma pessoa ali da
área, uma pessoa com pouco estudo, nunca me esqueci desse ensinamento. Que é
repartir! Não interessa se você tem dinheiro ou não. O bem está ali para ser
repartido com todo mundo. Não interessa se você é o comandante ou o soldado. O
direito é igual para todo mundo.
Tinha energia elétrica?
Tinha, era energia gerada por
óleo diesel, e felizmente não precisava desligar.
O Rio Japurá era grande?
Para você ter uma ideia, ele
tinha mais de dois quilômetros de largura! Em janeiro, fevereiro, chove pouco
lá. O rio ficava baixo, formando banco de areia, pegávamos uma voadora (embarcação movida a motor com
estrutura e casco de metal, geralmente alumínio, a maioria composta com motor
de popa. É largamente utilizada no transporte fluvial sendo um meio de
transporte bastante comum na Amazônia). Íamos do pelotão até o meio do rio,
para fazer uma educação física diferente jogávamos bola no meio do rio, no
banco de areia. Uma festa lá se faz com uma tartaruga, para 80 pessoas! Nós
fiscalizávamos, havia a presença de muitos colombianos, eles traziam as
tartarugas da Colômbia.
É boa a carne dela?
Talvez pela forma como era
feita, ficava agradável.
O “rancho” que era mandado para lá era
suficiente?
Era suficiente, só que
dependia do Catalina. Se não tivesse avião, atrasava a comida. Mentíamos o estoque,
tínhamos a padaria que fazia pão. O rancho era o não organizado. Os gêneros
vinham, eram repartidos pela quantidade que o militar tem direito. Se chama de
quantidade tabelar, tantas gramas de arroz por dia, vezes 30 dias, dá X. O
mesmo era feito com feijão, e demais gêneros alimentícios, assim distribuía com
o pessoal, cada um fazia na sua casa. As vezes o Catalina atrasava, aí tinha
que sair à caça. Tinha que se virar. Felizmente nunca tive grandes problemas
nessa área.
E o Curso na Selva o senhor fez?
Fiz! Como eu já havia mandado
o requerimento, um belo dia chegou um rádio, perguntando quem era o voluntário
para fazer o curso. Tinha teste de natação antes de começar o curso. Na
Amazônia vive-se muito na água, É muito risco. Não precisa ser um grande
nadador, mas tem que se virar bem na água. Realizei o curso, foi muito bom.
Eram 12 semanas de curso, além de aprender a trabalhar em equipe, sabe que
depende de todo mundo, você aprende a lidar com a selva, não pode enfrentar a
selva de peito aberto, tem que respeitá-la.
Alguém disse esses dias, que se houver
uma invasão na Selva Amazônica, até que entram, mas dificilmente saem.
Para explicar a selva, só
vivendo lá. Sob o ponto de vista militar, de grandes campanhas, você tem que
dominar os grandes rios, os rios são as estradas. E os aeroportos. Dominar,
entrar na selva, é muito difícil! Até para o próprio brasileiro. Você tem que
estar aclimatado. É um local úmido, com o sol, aquilo fica um calor muito
forte. De noite é um frio terrível. Na ocasião nós incorporamos um grupo de
índios Ticunas. A ordem era dada e o chefe deles é que dava a ordem para eles.
Não era o tenente dando a ordem diretamente.
Há uma polêmica muito grande sobre uma
grande presença estrangeira na Amazônia. Isso é folclore ou tem um fundo de
verdade?
Pode estar havendo algum
exagero, mas tem um fundo de verdade. A biodiversidade que existe lá é
fantástica, as riquezas minerais existentes na Amazônia são muito além da nossa
imaginação. Apenas um exemplo, o petróleo. A Venezuela, considerada uma das
maiores reservas de petróleo do mundo, se não for a maior. Ela está na nossa
fronteira. Será que o lençol chega na fronteira com o Brasil e não vem para o
lado de cá? Há interesses internacionais ali! Muitas reservas indígenas estão
demarcadas exatamente em regiões riquíssimas. Não estou querendo dizer com isso
que devemos explorar e destruir a Amazônia! Ao contrário! São 20 milhões de
pessoas que vivem ali, temos que dar-lhes dignidade. Fazendo tudo de forma
racional, fiscalizada e sustentada. É uma situação complexa, tem gente que com
exageros querem tornarem as coisas piores do que são. Mas, há muita verdade
nisso! Uma das pessoas que conhece muito é o General Mourão. Serviu ali,
comandou São Gabriel da Cachoeira, foi adido na Venezuela, ele conhece bem essa
área de selva, ele é o Presidente do Conselho da Amazônia que está lidando com
isso e está funcionando. Temos que preservar, manter o que tem ali. Isso é um
trabalho para 20 a 30 anos. Temos que preservar o que tem ali, para os nossos
filhos, netos, bisnetos, temos uma riqueza enorme. Isso desperta a cobiça
internacional. Em todo o mundo. Esses missionários todos nessas áreas indígenas
é uma coisa complexa. Muito complexa! A sociedade brasileira tem que ser
educada, preparada para separar os radicalismos, mas para ver a verdade!
Nós estamos muito concentrados no Sul, Sudeste,
e na faixa costeira.
Na verdade, a gente padece de um mal que o nosso pais é um
continente! Quantos países da Europa não cabem aqui no Brasil? Quantos países
da Europa não cabem na própria Amazônia? Falo do pouco que conheci. Eu conheço
muito pouco. O povo de lá, o indígena de lá, eles querem progredirem. Não
querem ficar em uma redoma! Eles falam diferente, tem uma cultura diferente,
mas dentro das aspirações deles, eles têm as mesmas aspirações que nós temos.
Eles no seu ambiente e nós em nosso ambiente.
O que são marcos trigonométricos existentes na selva?
Uma das operações que tínhamos chamava-se Operação Abraço. Nós
tínhamos em Tabatinga, que fica no começo do Rio Solimões quando ele entra no
Brasil, para o Norte tínhamos o Pelotão do Ipiranga e o Pelotão Japurá, hoje
Vila Bitencourt. Cada um mais ou menos a 100 quilômetros um do outro. Para o
Sul tinha mais outros dois: Estirão do Equador e Palmeira dos Índios. Mais ou
menos a 100 quilômetros uns dos outros. E no meio desses trajetos, havia rios,
igarapés pequenos. Saia uma patrulha com direção ao Sul, outra patrulha saia
com direção ao Norte, encontravam-se no meio, onde eram resgatados por um
barco. A orientação era feita por bussola, e batia no marco. Íamos olhando nos
marcos, limpávamos, prosseguíamos até encontrar o outro pelotão. Todos esses
marcos de pedra, tem a data gravada, foi na época de Pedro Teixeira, por volta
de 1620 a 1640. Pedro Teixeira é um ícone da Amazônia, ele foi um militar, que
subiu e tomou posse da Amazônia. Após o Tratado de Tordesilhas, quando Portugal
se uniu a Espanha, nós devemos muito aos portugueses, os portugueses subiram,
Pedro Teixeira estabeleceu os marcos, estabeleceu a sede dos pelotões, todos
eles em pontos estratégicos, a Amazônia é nossa graças a esse grande militar
Pedro Teixeira.
O senhor de Tabatinga foi para qual localidade?
Após ter feito o Curso de Guerra na Selva, não pude mais
voltar para o pelotão. Voltei para Tabatinga. Permaneci na Amazônia por dois
anos. Até que pedi transferência, vim para Campinas. Ali nasceu o meu primeiro
filho, Felipe, trabalha na área de informática. O segundo filho, também nasceu
em Campinas, é o Guilherme, seguiu a carreira militar é Major. Eu vim para o
28º Batalhão de Infantaria Blindado em Campinas. Pouco tempo depois fui
promovido para Capitão. Em Campinas permaneci por três anos. Em seguida fui
fazer, como se fosse um mestrado, chama-se Escola de Aperfeiçoamento de
Oficiais- EsAO,
fica no Rio de Janeiro. É um ano de curso. Depois fui para Caçapava, onde só
fiquei um ano. Fui convidado para ser instrutor da EsAO onde fiquei dois anos
como instrutor. Eu era Major. O Capitão no último ano, ou o Major pode fazer um
vestibular para a Escola de Comando e Estado-Maior do
Exército, fica na Praia Vermelha. Se passar e estiver dentro do número de
vagas, irá fazer esse curso na Praia Vermelha. Esse curso dá direito a comandar
uma Unidade, um Batalhão, um Grupo de Artilharia, ou outra Arma.
Do Rio de Janeiro p senhor foi para qual
cidade?
Fui para Cascavel, onde
passei dois anos. De Cascavel fui convidado para ser Comandante do Curso de
Infantaria da AMAN- Academia Militar de Agulhas Negras em Resende. Passei dois
anos lá. A seguir fui convidado para ser Comandante do Corpo de Alunos da
Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx) de Campinas. Fui um ano só.
Nessa época o Comandante era o General Heleno. Os alunos gostavam muito dele. O
General Heleno é uma pessoa diferente. Extremamente inteligente, extremamente
informal e extremamente objetivo. Ele reúne essas qualidades todas, é uma
pessoa de fácil trato. Ele é firme. Dali fui comandar o 28° BIB- Batalhão de
Infantaria Blindado. Onde permaneci por dois anos. De lá fui para o Centro de
Inteligência do Exército, fiquei por dois anos e meio lá, na época estavam
sendo implantados os Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam) e
Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM). De lá fui designado para ser o oficial
de ligação junto ao Exército Americano, junto ao Comando de Treinamento e Doutrina do
Exército dos Estados Unidos da América (TRADOC) É o coração do Exército Americano.
Todas as novidades aparecem nesse TRADOC. Passei dois anos ali. É uma posição
muito relevante. Foi concedida porque o Brasil participou da Segunda Guerra. Na
minha época eram 15 oficiais de ligação. O único da América Latina era o
Brasil. Esses oficiais convidados eram do Brasil, Canadá, Inglaterra, Coréia, Israel,
Grécia, Turquia, Espanha. Fiquei lá de setembro de 2000 a setembro de 2002 em
Hampton na Virginia. O primeiro dia do meu segundo ano foi 11 de setembro de
2001 quando houve os ataques ou atentados terroristas. Conhecemos o EUA,
principalmente a área militar, antes e após o atentado. De lá voltei e fui para
o Estado-Maior do Exército, em Brasília. Servi muito tempo em Brasília. Em 2004
fui promovido a General. Fui comandar a Aviação do Exército, em Taubaté, uma
experiência fantástica, fiquei dois anos no comando. Passei um ano e meio em
Campinas no Comando da Brigada Anhanguera. De Campinas, fui promovido a General
de Divisão, voltei para Brasília, para o Estado-Maior do Exército, na área de
Pessoal. Do Estado-Maior fui para o Ministério da Defesa, onde fiquei dois anos
e meio, ali fui promovido a General de Exército. Fui comandar o Rio de Janeiro,
que é o Comando Militar do Leste que abrange Rio de Janeiro, Minas Gerais e
Espírito Santo, onde permaneci dois anos e sete meses. Em seguida fui ao
Departamento Geral de Pessoal, em Brasília, onde fiquei um ano e meio mais ou
menos. Aí fui para a reserva.
O senhor no Comando Militar do Leste-CML
pegou um período agitado em termos de eventos populares de massa?
A equipe toda trabalhou
muito. O Rio de Janeiro é a menina dos olhos que todo estrangeiro quer
conhecer. As tropas viviam em emprego. Tivemos a visita do Papa, Copa das
Confederações, Copa do Mundo. Depois a operação na Maré que estava passando por
um problema sério.
A questão social é muito acentuada no
Rio de Janeiro?
O caso do Rio e das favelas, eu tenho experiência da Maré. O
Exército ficou um ano e dois meses, fiquei no comando um ano ali. Tinha um
general abaixo de mim. Eu dava as orientações gerais, eu ia no mínimo três
vezes por semana, até para não atrapalhar o outro general. Eu fazia questão de
pelo menos três vezes por semana estar presente. Nas mais diversas horas.
Sempre pegava um final de semana, durante a semana duas vezes, procurava ir à
noite, durante o dia, é muito importante estar presente. Você passa a conhecer
bem a comunidade. Na Maré tínhamos a estimativa de 135.000 pessoas, se tivesse
1,000 bandidos já seria muito. E se desses se tirasse 100 que de fato eram
bandidos, era o que tinha. Só que esse pessoal se misturava no meio do povo,
como o Estado não estava presente eles dominavam tudo. A gente queria que eles
respeitassem a polícia como nos respeitavam. Tem bons quadros na polícia do
Rio, principalmente jovens. Idealistas. O Rio de Janeiro tem que receber a
atenção de todos nós, dos ministérios, secretarias, quando o Estado se ausenta
alguém ocupa o espaço. Depois que passei para a reserva o General Villas Bôas que é muito meu amigo, ele que me passou o
Curso de Infantaria, servimos juntos como capitão, sentíamos a necessidade de
melhorar algumas coisas da área médica, pensamos em fazer uma faculdade de
medicina. Ele me pediu que estudasse esse assunto, eu fiquei em São Paulo,
estudando esse assunto por uns dois
anos, chegamos à conclusão de que poderíamos fazer uma escola de medicina, mas não no padrão das nossas
escolas. Teríamos algumas etapas para resolver. Fizemos o relatório, deixamos
esse projeto adiado.