sexta-feira, dezembro 29, 2017

LIGIANA CLEMENTE DO CARMO DAMIANO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 30 de dezembro de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/


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ENTREVISTADA: Ligiana Clemente do Carmo Damiano

 



Bibliotecária de referência na Divisão de Biblioteca da ESALQ/USP desde 1998. Possui graduação em Biblioteconomia pela Escola de Ciência da Informação da UFMG (1998). Especialização em Gestão e Tecnologias da Qualidade pela Escola Politécnica da USP (2006). Atua nas atividades de atendimento e capacitação de usuários para o uso dos serviços de descoberta relacionados à informação científica, com ênfase em pesquisa avançada na web, estrutura de trabalhos acadêmicos e gerenciadores de referências. Tem experiência em temas relacionados à gestão de bibliotecas universitárias, como mapeamento dos processos de rotina e coordenação das bibliotecas setoriais do campus, atuando também no desenvolvimento dos canais de comunicação e disseminação de serviços e produtos da DIBD: website, redes sociais e eventos. Na área de Ciência da Informação desenvolve atividades de Information Literacy, compartilhando este conhecimento com os pesquisadores em treinamentos personalizados e seminários de capacitação, atuando nas disciplinas obrigatórias dos cursos de Ciências dos Alimentos (LAN 0132 - Informação Científica, desde 2010) e Engenharia Agronômica (LES 0216 - Conhecimento e Pesquisa, desde 2016) da ESALQ/USP.

Ligiana Clemente do Carmo Damiano nasceu a 12 de outubro de 1975, na cidade de  Santa Fé do Sul, filha de Silas do Carmo e Suely de Brito Clemente Soares, ambos já aposentados, ele do Banespa e ela como bibliotecária da UNESP. Ligiana tem dois irmãos Levi Heitor e Leandro. É casada com Adamis Souza Damiano Junior. Quem nasce na cidade de Santa Fé do Sul é chamado de Santa-Fé-Sulense.

O seu casamento com Adamis foi em qual igreja?

Na verdade não foi em uma igreja, foi em um barco chamado Odisséia! Foi um casamento ao ar livre, celebrado por um primo meu, que é pastor e juiz de paz.

Foi o casamento dos seus sonhos?

Foi! O barco é de Buritama,  São Paulo, fica ancorado no Rio Tietê, o barco viajou pelo Rio Tietê, até o Rio Paraná, onde fica Santa Fé do Sul situada no noroeste do Estado de São Paulo, a 625 km da capital. Hidrograficamente privilegiada e com clima tropical, Santa Fé é ponto de encontro dos amantes da pesca esportiva e dos esportes náuticos. É onde a minha família tem um “rancho”. O barco ancorou em frente ao rancho, usamos toda a estrutura do barco para fazer a cerimônia que foi feita no barco.

Como foi a decoração desse barco?

Foi feita por um tio, Saulo Clemente, muito talentoso, ele tem uma floricultura e ateliê de decorações na cidade, é a Moby Dick. Foi ele quem fez toda uma decoração própria, rústica, muito bonita.

Você estava vestida de noiva?

De noiva, com chapéu! O Adamis estava com um terno claro, os marinheiros todos a caráter,  uniformizados. Foi um casamento simples, mas ao mesmo tempo chique.

Foi a noite ou de manhã?

Foi pela manhã, as 10:30 começou o embarque para os convidados virem até o barco, foi servida uma entrada, típica ao local, os convidados conheceram o barco, do meio dia a uma hora da tarde foi feita a cerimônia, depois foi servido o almoço, enquanto o barco ficou navegando o tempo todo pelo Rio Paraná! O desembarque foi por volta das cinco e meia da tarde. A lua de mel foi na Costa do Sauípe, Bahia.  Quando manifestei o desejo de casar em um barco, um primo que é fotógrafo profissional, conhecia esse barco, que estava em excelente estado, só que eu teria que pagar o diesel para o deslocamento do mesmo até Santa Fé do Sul. Era um valor bem representativo só de diesel. Foi quando meu primo disse-me: “Prima, sonho não tem preço!”. O meu pai, que me criou, Pedro Soares, e a minha mãe fizeram esse investimento. Na cerimônia do casamento o meu pai biológico, Silas do Carmo me levou até o barco, subiu comigo e foi até a metade do caminho onde me entregou ao pai que me criou, Pedro  Luis Soarez, que em seguida me acompanhou até onde estava o Adamis. Foi muito emocionante!

Você iniciou seus estudos em qual cidade?

Sai de Santa Fá do Sul quando tinha uns quatro anos, mudamos para Rio Claro, onde tem a Unesp, minha mãe tinha feito o concurso e foi transferida para a Unesp de Rio Claro, estudei na hoje denominada Escola Estadual Carolina Serafim, na época era Escola Estadual Indaiá. Lá estudei do pré-primário até a sétima série. A oitava série eu estudei no Colégio Puríssimo Coração de Maria,O segundo grau estudei no Anglo em Rio Claro, prestei vestibular e passei na faculdade.

Você ingressou em qual escola?

Estudei na Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Morei por cinco anos em Belo Horizonte, residia em uma casa de família, no bairro Pampulha. A casa era muito grande, cada moça tinha seu quarto, como o casal que era proprietário da casa, não queria desfazerem-se dela alugavam para moças cujas famílias estavam fora de Belo Horizonte. Estudei Biblioteconomia.

O que a levou a optar por esse curso?

A minha mãe é bibliotecária, desde criança eu observava o trabalho dela, sempre gostei, admirei. Ela me incentivou bastante. Em janeiro de 1998 eu me formei. Na época eu escolhi Belo Horizonte para estudar porque era o melhor curso do Guia do Estudante. Prestei vestibular na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), fui aprovada. Preferi escolher a que era considerada a melhor do Brasil na área em que eu queria estudar.

A sua vinda para Rio Claro para visitar a família era de tempos em tempos?

Vinha sempre no período de férias, feriados prolongados, eram nove horas de viagem de ônibus.

Após formar-se a sua intenção era permanecer em Belo Horizonte?

Eu tinha três propostas de emprego, lá eu trabalhava na biblioteca da USIMINAS, no Centro de Documentação, foi o meu primeiro emprego. Nessa época eu estava namorando, empregada, uma opção era permanecer lá. Outra era a McKinsey & Company, a Ex-Libris, ambas empresas de consultoria situadas em de São Paulo. Outra opção seria assumir as bibliotecas do SESI do Estado do Paraná, deveria morar em Curitiba. Ou o concurso que eu tinha feito na ESALQ, despretensiosamente. Acabei passando em terceiro lugar, o concurso tinha duas vagas. Continuei trabalhando em Belo Horizonte, em setembro fui chamada para assumir a vaga na ESALQ, tinha surgido uma vaga na Biblioteca Setorial de Economia. Foi o período em que eu tive que optar por uma das vagas. Foi uma decisão onde tive que optar por uma série de fatores em detrimento de outros. Tive que fazer essa escolha em uma semana. Entrei na ESALQ em 1º de setembro de 1998. Meu marido é de Rio Claro, nos casamos em 2006.

Esse período de adaptação foi difícil?

Os dois primeiros anos foi bem difícil. Sair de uma metrópole como Belo Horizonte, tinha uma vida independente e voltar a morar na casa dos meus pais, em Rio Claro, que é uma cidade bem pacata, essa readequação, ao mesmo tempo em que você quer avançar, foi bem contraditória, mas teve o lado positivo, em setembro de 2018 vou fazer 20 anos de ESALQ.

Quando você ingressou, em qual biblioteca você iniciou?

Fui trabalhar na Biblioteca Setorial de Economia, Administração e Sociologia. Fui para coordenar, gerenciar a biblioteca. Quando cheguei era uma área mais recatada, ficava em uma sala, a minha proposta era revitalizar a biblioteca, era pouco informatizada, estava no inicio da informática. Teve um período em que pensei em abrir mão de permanecer, já que tinha outras ofertas de emprego, ali estava difícil implantar as mudanças que eram necessárias. O Professor Paulo Cidade de Araujo Filho, era o chefe do departamento, me fez ver que eu deveria permanecer. Disse-me que a intenção era de revitalizar a biblioteca, eu havia sido contratada para isso. Ele abriu a gaveta, tirou um molho de chaves, me deu e disse: “-O prédio novo foi inaugurado, aqui do lado, você não vai embora, eu preciso que você faça essa mudança!”. Com essa motivação, passei a realizar meu trabalho com afinco, passei seis anos padronizando a biblioteca. O meu foco maior era padronizar a biblioteca setorial com a biblioteca central. O resultado foi tão bom que a minha chefe, Márcia Saad, me deu a incumbência de padronizar as outras bibliotecas do campus, como coordenadora das três bibliotecas setoriais, englobando a biblioteca de genética e a de ciências dos alimentos. Trabalhamos mais uns seis ou sete anos nessa padronização das três bibliotecas.

Estamos nos referindo a aproximadamente quantos mil volumes?

A biblioteca de Economia em torno de 20.000 volumes, a de Alimentos uns 15.000 e a de Genética uns 9.000 volumes. As bibliotecas de Alimentos e Genética posteriormente foram centralizadas, com toda a padronização que fizemos melhorias dos ambientes, trocas das estantes, ambientação, pintura das paredes, climatização com ar condicionado, com o apoio da chefia da biblioteca, com toda essa revitalização o número de usuários aumentou consideravelmente. Colocamos terminais de pesquisas mais modernos, mesas e salas para grupos ou individuais mais adequadas, foi feita toda uma revitalização e padronização. Quando finalizamos esse trabalho, mais uns seis ou sete anos, percebemos que a demanda começou a migrar para o suporte digital. A USP assina uma grande quantidade de livros e revistas digitais e esse acréscimo foi tornando-se cada vez maior. Em termos de acervo local e acesso físico já não tinha mais em que investir e sim de ensinar as pessoas a usarem toda essa coleção. Foi quando finalizei a coordenação das bibliotecas. Assumi a parte de comunicação e também de auxiliar a equipe, migrei da plataforma de trabalho de uma rotina de uma biblioteca impressa das  funções técnicas de coordenar e executar,  fui para a biblioteca central assumir o novo posto que é somar, hoje somos uma equipe de três pessoas que dão os treinamentos para utilizar todos esses recursos.

O acesso digital, através da re rede Wi-Fi local permite o acesso do próprio celular ou computador pessoal?

O aluno estando habilitado ele consegue obter todos os PDF de qualquer suporte. Nós vamos às salas de aulas, damos treinamentos, ensinado, capacitando, em parceria com o docente da ESALQ.

A tendência é a migração para o livro eletrônico?

Sim...e não! Em 1998, a internet estava no auge, trouxe  sensação do novo, da mudança, várias profissões foram realocadas ou extintas. Tínhamos a principio a impressão: “– O livro irá acabar!”. Atualmente, após 15 a 20 anos, percebemos que foi muito pelo contrário, a internet valorizou o livro. Hoje quando tenho uma cópia, tenho uma cópia daquele livro! Aquela cópia torna-se mais valiosa do que se ele estivesse em um PDF disponível. Diminuíram as tiragens de exemplares, só que aumentou o acesso. A internet de certa forma valorizou os conteúdos. Hoje  biblioteca é muito mais um ambiente de convivência, de usar, desfrutar. Sempre digo que a biblioteca tem que chamar a atenção de cinco sentidos da pessoa: o olfato; a visão; a audição e o paladar. Só em acervo digital a USP tem 260.000 ebook, o acervo da biblioteca da ESALQ é de 115.000 itens. Hoje o pessoal não precisa ir até a biblioteca para acessar o documento digital.

Quando você menciona olfato refere-se propriamente a que?

A nossa biblioteca é centenária, e de 1901 e você não sente o cheiro de livro velho! Há todo um trabalho de higienização, de manutenção, de restauro, conservação dos ambientes, ventilação, luminosidade, isso faz com que esses ambientes sejam agradáveis.

E o paladar?

Acho importante, com os devidos cuidados, porque não ter um ambiente com aroma de café, pão de queijo? Basta olhar o conceito das novas livrarias. O ambiente todo colorido, moderno, dinâmico. Atrai a pessoa. No nosso espaço acontecem muitos eventos, como lançamentos de livros, palestras, o nosso acervo impresso do setor agrário é o maior da América Latina.  Diariamente temos muitas consultas feitas por pessoas dos mais diversos países. A nossa equipe atua mais como fornecedora de informações. Fazemos parte de um sistema de bibliotecas cooperadas do mundo todo. Como somos a base em agrária, mais enviamos informações do que pedimos. Caso você queira um livro de literatura, como usuário da USP, nós solicitamos da Escola de Comunicação e Artes, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo nós trazemos, você vem, retira o material aqui, depois da devolução mandamos de volta à origem. Hoje a USP tem 48 bibliotecas, com empréstimos unificados, é tudo padronizado. Cada uma dessas bibliotecas é especializada em uma área. Na USP hoje são cerca de sete milhões de itens impressos nas estantes! Temos muitos documentos de acesso aberto, o usuário não precisa necessariamente estar registrado pela USP. Outros são de acesso restrito em função de custo. A relação do corpo docente e discente com a biblioteca tem melhorado ano a ano. O acesso é incentivado através de diversas ações praticas.

Você tem idéia de quantas pessoas acessam a biblioteca virtualmente?

Não, mesmo porque são 218 portais de repositório de documentos, cada portal é de uma editora, do mundo todo. Fazemos parte do consórcio internacional, somos associados a FAO, temos acesso a Biblioteca do Congresso Americano, EMBRAPA e muitos outros espalhados pelo mundo. Todo esse universo de informação demandou uma nova política implicou em mudanças: Vamos focar no acervo ou no acesso? Focamos no acesso, para não termos um acervo restrito.

Essa formulação de integração das bibliotecas da ESALQ é sua?

Foi uma proposta minha. Tínhamos muitas pessoas ocupando o espaço e poucas utilizando o acervo. Aumentou muito o uso do acervo digital. Somos produtores da Série Produtor Rural, divulgada no programa Globo Rural aos domingos pela manhã. Somos editores em parceria com professores e alunos que escrevem assuntos técnicos, em tese, de alta relevância e complexidade, eles transformam numa linguagem bem simples. Para que o pequeno produtor tenha acesso às informações geradas pela universidade.  A biblioteca faz toda editoração e impressão na gráfica da ESALQ por conta da biblioteca, o professor, o aluno, entra com o conteúdo, gera-se uma cartilha ilustrada, de poucas páginas, o pequeno produtor pode fazer dowload gratuito assim como também, pode receber pelo correio.

Você tem algum hobby?

Tenho, embora esteja um pouco parado pretendo ressuscitá-lo, estudei por cinco anos o Conservatório de Piano. Toquei muito na igreja evangélica.

Você pratica algum esporte?

Atualmente estou praticando corrida.

JAIR ANDREATTO


Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
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Sábado 23 de dezembro de 2017

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ENTREVISTADO: JAIR ANDREATTO



 

Jair Andreatto nasceu a 23 de junho de 1947, na cidade de Campinas. Filho de Albino Andreatto e Maria da Costa Andreatto que tiveram nove filhos: Doracy; Nadir; Neide; Jair; José Carlos; Virginia; Angélica; Geni e Beto; seu pai era funcionário do DER – Departamento de Estradas de Rodagem, trabalhava com máquinas motoniveladoras.

Com que idade o senhor veio morar em Piracicaba?

Eu era nenezinho! Nem me lembro! Viemos morar em uma casa situada a Rua Cristiano Cleopath entre a Rua Santa Cruz e a Rua Bom Jesus. Depois mudamos para o então distrito de Saltinho. Fomos morar em uma residência que pertencia ao Estado. Havia um pátio onde eram recolhidos os veículos acidentados. A motoniveladora de marca Allis Chalmers com a qual o meu pai trabalhava ficava ali dentro. Não havia luz elétrica, a água era de poço.

O senhor chegou ainda criança a andar com seu pai nessa motoniveladora?

Eu ia com ele, na época eu tinha uns seis a sete anos,  a região na qual ele tinha que dar a conservação de estrada abrangia: Rio das Pedras, Piracicaba, Tietê.

As estradas eram asfaltadas?

Não! A Rodovia Cornélio Pires era terra. Os caminhões ao passarem com seu peso iam pressionando a terra para os lados da estrada, com a lamina da maquina, meu pai puxava essa terra para o centro de novo. Ia por uma lateral da estrada, voltava pela lateral oposta e depois passava a máquina esparramando a terra que ficava no centro da estrada.

O senhor estudou aonde?

O primeiro e o segundo ano de Grupo Escolar eu estudei em Saltinho. A primeira professora era Dona Ada. O DER construiu o prédio que existe até hoje na Avenida Pádua Dias, saída para São Paulo, viemos morar na última casa da Rua Voluntários da Pátria,  em frente onde hoje está o quartel dos bombeiros. A casa era alugada, meu pai trabalhava no DER. Passei a estudar no Grupo Escolar Dr. Alfredo Cardoso. Depois fiz um curso de ajustagem no SENAI, já estava no mesmo prédio que ocupa até hoje. 

Foi aí que o senhor descobriu a sua paixão por mecânica?

Acredito que sim. Eu sai do SENAI um pouco antes de 1969. Logo em seguida casei-me, no dia 6 de setembro de 1969, com Antonia Cangiani Andreatto na Igreja São Judas, o celebrante foi o Padre Henrique. Tivemos três filhos: Cláudio, Roberto e Andrea.

Nesse período o senhor trabalhou em algum lugar?

Trabalhei, na Floricultura Cobal, na parte da manhã freqüentava o SENAI e depois trabalhava na Cobal. A Floricultura Cobal ficava na Avenida Independência, em frente ao Jardim da Cerveja. No sentido do Ribeirão Piracicamirim era o Sítio dos Facco. Trabalhei uns 20 anos com plantas. Eu morava pertinho, ia a pé mesmo. A Avenida Independência era terra.

O senhor é um grande conhecedor de flores!

Fazíamos a ornamentação de igrejas para casamentos, eu era bom nisso: arranjos, cestas com flores, coroas fúnebres.

A coroa fúnebre tem que ser feita de forma muito rápida?

Tem sim. Lembro-me de quando faleceu Luciano Guidotti era muito grande o número de pessoas que queria fazer uma homenagem para ele. Trabalhamos por dois dias seguidos, sem pararmos, íamos buscar flores em Jaguariúna, naquela época praticamente a Cobal era a fornecedora de flores da cidade. A chácara onde ela situava-se foi feita por um agrônomo chamado Nelson Cobal. Depois Antonio de Pádua Libório adquiriu a Cobal, ele tinha a funerária Serviço Piracicabano de Luto, situada a Rua Benjamin Constant, esquina com a Avenida Independência, era uma loja aberta, os caixões ficam em pé, expostos. O Nelson Cobal tinha uma perua Dodge 1951.

Trabalhar com produtos voltados ao serviço funerário pode sem que a pessoa perceba, trazer um desgaste emocional?   

Não! Acostuma-se com o trabalho. Tem s pessoas que temos que consolar, os que não aceitam a morte.

E casamentos? O senhor ia enfeitar as igrejas? A Igreja dos Frades era a preferida pelas noivas?

A Igreja dos Frades era a mais procurada pelas noivas. Tinha um tapete vermelho que atravessava a igreja toda. Fazíamos uns arranjos que eram colocados nas pontas dos bancos, um cordão isolava o corredor onde passava a noiva. Alguns clientes queriam aproveitar parte da decoração para levar até o salão aonde seria realizada a festa. Fazíamos pirâmides com um floral no topo. A perua ficava estacionada em um local estratégico, enquanto os noivos estavam recebendo os cumprimentos na porta da igreja, saiamos pela porta lateral da Igreja dos Frades, na Rua Alferes José Caetano, colocávamos a peças dentro da perua e tínhamos que levar antes que os noivos chegassem no salão de festas que eles tinham escolhido. Aconteciam situações inusitadas, como em determinado dia um conhecido fotógrafo, buscando o melhor ângulo para fotografar os noivos, foi afastando sem olhar para trás, a noiva saindo, ele aflito em conseguir fotos expressivas, afastava-se, ia de um lado para outro, não percebeu que o tapete tinha formado uma ruga. O fotógrafo caiu de costas! A sua máquina fotográfica, juntamente com uma bolsa de couro que carregava a tiracolo, onde eram colocadas as baterias, filmes, e outras coisas, com o tombo inesperado foi uma chuva de objetos, a máquina caiu longe, a igreja toda despencou em uma gargalhada só.

Solidários, muitos convidados ajudaram-no, a essa altura roxo de vergonha.   

O tão famoso buquê de noiva também era fornecido?

Fazíamos, tem uma flor chamada angélica, perfumada, colocávamos um arame fino e com uns raminhos, o tradicional buquê de flores naturais ainda é a grande preferência das noivas. Os modelos mais comuns são: buquê redondo, cascata e braçada. Após celebrado o casamento a noiva jogava o buquê, quem pegasse era a próxima a se casar. Era uma festa! A moça que estava pensando em casar-se logo realizava uma disputa acirrada. Nesse ramo de floricultura, o início da semana era até folgado. Só que no final de semana, havia muitas festas, lembro-me de uma vez em que ornamentamos o Teatro São José, a volta inteira, é enorme, fizemos uns florões na volta inteira do Teatro. Quando envolvia um serviço muito grande alugávamos um caminhão. As pirâmides de flores que fazíamos eram altas. A camélia era uma das flores preferidas, tanto a rosa como a branca.

E finados como era?

Ficávamos na loja. Montamos uma loja na Rua Moraes Barros quase esquina com a Avenida Independência. Em frente ao estádio Barão de Serra Negra. Era um sobrado, trabalhávamos ali. No dia de finados a flor preferida geralmente era a palma (gladíolo). Era a flor mais procurada, tinha uma durabilidade maior quando imersa em um vaso com água. A flor natural é imbatível, por mais perfeitas que as artificiais sejam.   


Após 20 anos trabalhando com plantas, como surgiu essa sua atração por mecânica?

Comprei uma Lambretta ano 1957, verde e branca. Quando precisava fazer algum reparo eu mesmo dava a manutenção. Meus amigos, proprietários de lambretas começaram a trazer para que eu desse a manutenção. Eu trabalhava em casa. Continuava na floricultura, mas fazia os reparos nas lambretas no tempo que tinha disponível. Eu comprava as peças do Seu Atos Cadioli que era a Revenda Oficial Lambretta de Piracicaba, situada a Rua XV de Novembro quase esquina com a Rua José Pinto de Almeida. Passei a ter bastante serviço em casa, a floricultura estava diminuindo o seu movimento, Por volta de 1975 a 1976 o Seu Atos Cadioli, que era italiano, teve um problema de saúde. Ele trabalhava com tratores da marca Landini, motor com um pistão só, funcionava com óleo queimado, óleo de cozinha, o que fosse colocado virava combustível! Se o motor esfriasse tinha que colocar um maçarico para aquecer o local apropriado e fazer funcionar o motor. Eu ajudei o Seu Atos a reformar um Landini que veio do Paraná, por motivo de saúde Seu Atos não podia fazer pessoalmente o trabalho, eu fui fazendo e ele me orientando. Fiz esse Landini, saiu com a partida acionada na mão. Não precisava nem esquentar o cabeçote do motor. Ele tem uma vela aquecedora dentro, o primeiro ponto da chave faz com que a vela fique avermelhada, quando dava a partida as vezes ele pegava até para trás, tinha que cortar o óleo dele, quando ele estava quase parando, tinha que soltar o óleo, ai ele pegava para frente. Tinha dois “volantes” enormes, era o pêndulo dele. Se deixasse o Landini funcionava o dia todo. Por recomendação médica, o Seu Atos decidiu vender a loja, a Ortema. Ele me ofereceu. Na época eu tinha Fusquinha 1966! Vendi o Fusquinha, dei como entrada, só que eu não pude ficar onde era a loja, o aluguel seria caro. No fundo do prédio ele tinha 18 boxes que ele alugava para os vizinhos guardarem veículos. Fechamos um, que ficou sendo a minha oficina, outro barracãozinho do lado, foi onde colocamos todas s peças da loja, permaneci ali de 1976 a 1982. Guardo até hoje o emblema de Revenda Autorizada Lambretta. Veio de lá. Consegui comprar um barracão na Rua D.Pedro I, entre a Rua São João e Santa Cruz. Atualmente ocupado pelo Bertoncelli que trabalha com uma distribuidora de doces. Ali permaneci por mais de 20 anos, Só Lambretta, Vespa e motos. Lá eu tinha peças de motos também, ai começou a aparecer Honda, Yamaha, Suzuki. Tive uma Moto Jawa 250 cilindradas, preta.


Em sua juventude havia um grupo de rapazes que tinha Lambretta?

Entre Lambretta e Vespa éramos uns 20. Parávamos em frente a catedral, a Rua Moraes Barros e a Rua São José não eram interrompidas na praça, elas continuavam normalmente. As motinhas ficavam todas ali. Íamos aos cinemas Politeama, Broadway, São José. Na época existia o Bar Americano, ali na Praça, alguns iam até lá. Não se usava capacete naquele tempo. Era necessário ter carta de motociclista. No auge da Lambretta, da Vespa, não havia outro tipo de moto só algumas Harley Davidson, Indian, Mas era uma minoria.  Quando surgiu a Lambretta todos os funcionários da Mausa, tinham Lambetta ou Vespa. Estacionavam todos em frente a Mausa, na Rua Santa Cruz, enfileirados lado a lado, passavam uma corda para evitar que alguém mexesse. Por volta de 1971 começou a aparecerem as máquinas japonesas. Todo mundo foi vendendo as Lambrettas.


Qual é a diferença da Vespa para a Lambretta?

A marca é uma delas. A Vespa fabricada pela Piaggio e a Lambretta produzida pela Innocenti ambas empresas italianas. Até 1963 a Vespa tinha 150 cilindradas. As primeiras Lambrettas tinham 150 cilindradas, após 1964 surgiu a de 175 cilindradas. Pesa pouco mais de 100 quilos, comporta duas pessoas. No pneu traseiro colocamos 30 libras de ar, no pneu dianteiro são de 18 a 20 libras. A Lambretta e a Vespa antiga tem partida no acionamento do pedal de partida, a Vespa de 1987 em diante já saiu com partida elétrica. Ambas tem pneu de estepe. 


A transmissão do motor para a roda é feita por corrente?

Na Lambretta até 1960 a transmissão é por cardam. De 1961 em diante já saiu com corrente de malha dupla. Não é simples como de moto e trabalha no meio do óleo. Ela trabalha em uma caixa de óleo, pega o óleo e joga para cima. Circula o óleo dentro do câmbio.





A Lambretta é mais confortável?

Uma das vantagens é ter pneu estepe. A posição em que o condutor fica é mais confortável.

Quantas marchas de velocidade possui a Lambretta?

O modelo LD que foi fabricada até 1960 são três marchas. A LE já são quatro marchas. Não existe marcha-a-ré.


E a velocidade máxima?

A 100 quilômetros por hora já está exigindo um pouco dela. Os freios são com pastilhas, na frente e atrás.

Como o senhor vê a substituição da Lambretta pela motocicleta?

A Lambretta parou no tempo! Na Itália o forte é a Vespa com motor de quatro tempos, antes eram dois tempos, a Vespa e a Lambretta, esse tipo de motor obriga a colocar certa proporção de óleo ao abastecer com gasolina. Torna-se uma mistura de óleo e gasolina. As Vespas italianas são com câmbio automático. As Vespas e Lambrettas são carismáticas!


O senhor está com um veiculo bem antigo sendo montado?

É um automóvel Ford 1929 Model A Roadster também conhecido como “Carro da Sogra”. Isso porque é um automóvel para dois passageiros, sendo que o porta malas pode transformar-se em um terceiro banco, o detalhe é que é conversível, a capota só cobre os dois passageiros da frente. Quem vai atrás está sujeito ao sol, chuva, neve. Diz a lenda que o casal de namorados ia na frente e a sogra sentava-se atrás. Esse veículo estou restaurando.


Qual é o consumo de um carro desses?

Para os padrões de hoje consome bastante. O motor tem 2.300 cilindradas. Com toda a potência do motor ele só alcança 2.200 rotações por minuto, é um motor de biela longa.

Piracicaba já teve corrida de Lambrettas?

Foi na época em faziam corridas de automóveis em ruas de Piracicaba, as vias eram isoladas, e os a automóveis da época DKW, Gordini, Simca, disputavam em plena via pública.  Participavam nomes como: Maks Weiser  Walter Hahn  Junior e muitos outros.

A Polícia usava Lambretta?

Usou bastante! Era para fiscalização de trânsito. Alguns investigadores utilizavam para entregar intimações judiciais, em 1968 a Prefeitura Municipal de Piracicaba adquiriu 10 Lambrettas para a Guarda Civil, que mais tarde foram incorporadas à Polícia Militar. Com essas Lambrettas eles faziam rondas, tinha até um amigo, o Cabo Ademar, que tinha uma Lambretta dessas. Com passar do tempo e a utilização, essas Lambrettas foram sucateadas. A Prefeitura recolheu essas 10 Lambrettas. No início as cores eram Azul e Branca, depois pintaram-nas de cinza, com dois revólveres cruzados nas laterais. Essas Lambrettas, sucateadas, foram doadas para a Associação dos Funcionários Públicos Municipais, o objetivo era vender para arrecadar fundos, eles estavam fazendo o Clube da Associação na Avenida Luciano Guidotti.






Além das Lambrettas e Vespas, o senhor teve participação em diversos times de futebol?

Sempre joguei como quarto zagueiro joguei na Associação Ferroviária de Esportes de Piracicaba, no União Porto, no Esporte Clube Cobal. A Ferroviária não tinha sede, reuníamo-nos na Rua Bela Vista, pegávamos um caminhão e íamos para a disputa com o time adversário. Para o União Porto eu ia de Lambretta, deixava-a no barracão do Largo dos Pescadores, trocava de roupa e ia para a partida de futebol. Era um uniforme vermelho com as listras brancas. A cor do uniforme da Ferroviária era bordô. A Ferroviária ficou campeã da Segunda Divisão da Liga Piracicabana de Futebol, isso foi em 7 de fevereiro de1981. O União Porto também chegou para a final. Jogávamos no Estádio Barão de Serra Negra. Outro time em que joguei foi no Ponte Preta de Piracicaba, também no Barão.







COMPLEMENTO:










MARIA DE LOURDES PEREIRA


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 16 de dezembro de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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ENTREVISTADA: MARIA DE LOURDES PEREIRA

 




Maria de Lourdes Pereira nasceu a 28 de maio, em Franca, filha de Alberto Rodrigues Pereira e Maria da Conceição Taveira, que tiveram mais dois filhos.

Até que idade a senhora permaneceu em Franca?

Eu tinha cinco anos quando a nossa família mudou-se para São Paulo, meu pai era comerciante. Fomos morar em São Miguel Paulista, Zona Leste. Havia uma fábrica enorme a Companhia Nitro Química Brasileira. (Foi criada em 1935 a partir de uma associação entre os empresários José Ermírio de Moraes e Wolf Klabin, da produtora de papel de mesmo nome. Eles importaram uma fábrica inteira dos Estados Unidos de 18 mil toneladas de máquinas, equipamentos e tanques e reconstruíram no Brasil. A Nitro Química começou produzindo seda sintética o fio rayon para ser utilizado pela Votorantim, então uma fabricante de tecidos, dando impulso ao bairro de São Miguel Paulista)

Em São Paulo a senhora iniciou seus estudos em qual escola?

Na Escola Normal Vera Cruz, escola particular. Lembro-me da professora do magistério Dona Guaraciaba.

A atividade da professora era muito valorizada naquela época.

Era muita valorizada. Tudo foi deteriorado. O mundo tem isso, aparecem coisas novas e deterioram-se outras. Após me formar fui fazer estagio.

Recém formada, ainda muito jovem como foi dar aulas pela primeira vez?

Gostei muito! Encontrei-me!

A senhora gostava de dançar?

Dancei muito! Gosto muito de dançar! Ia aos bailes do Clube Piratininga! O bairro do Brás era uma família!

A relação dos professores com os alunos era diferente?

Até hoje! Hoje estive fazendo um trabalho voluntário em uma escola, aqui em Piracicaba. Não gostei não foi pelos alunos, mas pela qualidade do ensino, que se deteriorou muito.

Não é só o aluno que está menos dedicado?

Na minha visão, não. O profissional não está preparado, e não é culpa dele, é culpa social, o momento. É uma situação mundial. O mundo não está acompanhando uma época que se desenvolve tecnologicamente muito rapidamente.

A senhora após um período lecionando decidiu ir para uma região bem distante?

Fui para Belém, (frequentemente chamada de Belém do Pará), eu me inscrevi no Centro Universitário Brasileiro, em São Paulo, fui selecionada, éramos uma equipe de sete professores. Fomos de avião, isso foi em 1963, Belém era muito bonita, sempre foi, aquelas mangueiras, o povo muito bom, gostei muito de lá, o Brasil é maravilhoso!  Trabalhei dando aulas para professores. Didáticas, metodologia, como eu tinha recebido aperfeiçoamento, fui repassar os conhecimentos.

Foi fácil adaptar-se a culinária típica?

Gostei muito! Esses dias estava vendo aqui em Piracicaba o  açai, meu Deus que coisa gostosa! Atualmente existe em nossa cidade, na época não era tão difundido. Não gosto de carne, mas tinha o famoso pato no tucupi, os peixes eram ótimos, uma variedade enorme. Frutas maravilhosas, muitas frutas diferentes das que encontramos aqui. (No século XVII, onde hoje funciona o Mercado Ver-o-Peso, numa área que era formada pelo igarapé do Piri, os portugueses instalaram um posto de fiscalização e tributos dos gêneros trazidos para a sede das capitanias ,Belém. Este posto foi denominado Casa de Haver o Peso que também tinha como atividade o controle do peso dos produtos comercializados. No início do século XIX, o igarapé Piri foi aterrado e, na sua foz, foi construída a doca do Ver-o-Peso. Em 13 Outubro 2002 bombeiros conseguiram controlar, por volta das 8 horas, o incêndio no mercado municipal Ver-o-Peso, em Belém. O fogo teria sido provocado pela explosão de um artefato pirotécnico disparado dentro do prédio histórico.) . (O incêndio ocorreu exatamente no dia da maior festa popular e religiosa de Belém, a do Círio de Nazaré, para a qual são esperadas 1,8 milhões de pessoas). O mercado de Ver-o-Peso está maravilhoso, ele foi reconstruído e está agora funcionando muito bem.

O artesanato é riquíssimo?

Muito! Redes, rendas, cerâmica, trançado em fibras, cuias, trabalho em sementes, gemas e jóias, cerâmica, trançado em fibras, cuias, trabalho em balata e seringa, os brinquedos de miriti. A influência da arte indígena é muito forte.

Vocês professores ficaram hospedados onde?

Nós alugamos uma casa, tínhamos pleno acesso a Secretaria da Educação local, o Secretário nos recebia, foi uma época de muita ética, trabalho,

Havia falta de material para ensino?

Não havia falta de material.

Atualmente há um desperdício enorme de material didático, em particular livros são enviados às escolas às toneladas. A diretoria se vê em uma posição delicada, não tem o que fazer com todo aquele excesso, e não pode descartar por força de lei. A “dinâmica” da “atualização” do material de ensino é assustadoramente voraz. As matérias nunca mudam de forma tão radical em tão curto prazo, de ano para ano. O MEC tinha um programa muito interessante, onde o material escolar era vendido a preço simbólico, subsidiado, com isso o aluno adquiria o necessário sem grandes despesas, e quando nem isso podia fazer havia a famosa “caixinha escolar” que era um fundo arrecadado entre pais e mestres.

Como a senhora vê isso?

Acredito que não seja um fenômeno apenas brasileiro, mas sim mundial, é uma desconexão maluca!

Após permanecer em Belém qual foi o seu próximo rumo?

Permaneci em Belém por cerca de um ano, voltei para São Paulo, já era professora efetiva, lecionava da 1ª a 4ª série, gostei demais, depois fui para Manaus.

Qual foi a sua impressão do Teatro de Manaus?

Nossa! É maravilhoso! (Teatro Amazonas é localizado no largo de São Sebastião, no centro de Manaus,  inaugurado em 1896 é a expressão mais significativa da riqueza de Manaus durante o ciclo da borracha). Gostei muito! Fui algumas vezes ao Teatro. A cidade é linda, os professores que foram eram de outra equipe, também alugamos uma casa, isso foi em 1965, 1966, permanecemos por um ano lá. Quando voltei continuei a trabalhar em São Paulo, após uns oito anos assumi a direção de uma escola, com 1.200 alunos, cerca de 50 professores. Apesar dos números expressivos, alunos e professores tinham apresentação e conduta muito distinta e respeitosa. Muito diferente do que vemos hoje.

Isso é conseqüência da formação familiar?

Eu penso que se confundiu: escola não é para dar educação social, é para dar educação formal. “Sim senhor!”;  “Com licença!”; “Por favor!” são palavras importantes. Eu penso que isso não ocorre só no Brasil.

Antigamente ninguém chamava a professora de “tia”!

(Risos). Não tem nada a ver! Eles pediam licença, quando tinham necessidade real de se retirarem da sala de aula, por motivos de força maior. Eles pegavam uma fichinha de controle que ficava com a professora, quando voltavam à sala devolviam.

Nessa época em que a senhora morava em São Miguel a região era asfaltada?

A Zona Leste já dispunha de asfalto.

Como a senhora vê a violência?

 Infelizmente a violência esta crescendo, no meu entender, no mundo. Penso que o ser humano está deteriorado. O mundo está totalmente diferente. Não sei se estão tentando acabar com o mundo. É o mundo que está caminhando. Estamos caminhando de forma acelerada na parte tecnológica e em proporção muito inferior no relacionamento humano. Há um desnível muito grande. Isso está conduzindo o mundo ao caos.

As diferenças sociais gritantes aceleram esse processo. Onde há pessoas que ganham fortunas enquanto outros estão abaixo da linha da miséria?

Eles não ganham! Apropriam-se! E não é só no Brasil! A Amazônia é maravilhosa, o Brasil é um país maravilhoso!

Qual é a impressão da senhora sobre a Vitória-Régia?

A Vitória-Régia é simplesmente deslumbrante! O povo ainda não sabe dar valor, mas estamos aprendendo! Que Deus não abandone ninguém! Todos nós iremos chegar lá!

A senhora gosta de ler?

Gosto e leio muito, acompanho as notícias, das novelas e programações de televisão não gosto. Ao que parece a mídia eletrônica, em especial o celular, ocupou uma grande fatia do mercado, está acima do normal. As pessoas andam pelas ruas distraídas, se você não estiver atento poderá ser atropelado por um pedestre concentrado em seu celular, eles vem em cima de nós. Eu penso que é um completo desequilíbrio mental. Em minha percepção estamos procurando um aperfeiçoamento e Deus esta permitindo. O ser humano está deslumbrado com tanta coisa bonita, como uma criança em um parque. Essas descobertas de desvios de dinheiro público não é uma exclusividade brasileira, isso ocorre também em países que imaginamos serem perfeitos.

A senhora acredita na evolução humana?

Creio que nos dão chances de melhorar. A caridade faz bem para quem recebe e faz bem para quem faz, porque aumenta a sua carga positiva. Deus é lindo, maravilhoso, ele deixa que você faça o que desejar,  só que depois ele puxa a cordinha. Você vem de joelhos. Existe uma lei na ciência da física que explica isso. É a terceira Lei de Newton estuda a interação entre forças. “Para toda ação surge uma reação de mesma intensidade, mesma direção e sentido oposto”. Se você plantar milho não irá nascer feijão! A auto-exaltação de atos caritativos aos olhos de muitos é mais visível do que a boa ação feita de forma anônima, isso é a pequenez do homem. Nós ainda estamos aqui em progresso. Por isso fazemos muita coisa que achamos que é ótimo, só que não é.  

A seu ver valorizamos inutilidades, futilidades, e deixamos valores significativos de lado?

Isso acontece em decorrência do nosso atraso. Enxergamos o que não sabemos explicar. Insisto em falar que isso é um mal do planeta. Nosso planeta está sendo trabalhado.

O nosso mundo está doente?

Não diria doente, mas sim uma fase que não é muito boa. Vai melhorar, acredito demais nas minhas bases.

Essa espiritualidade da senhora é antiga?

Desde menina! Meus pais pensavam da mesma forma, assim como meus avôs. Sempre respeitamos as formas de pensar de cada pessoa, sem nenhuma crítica ou segregação. Cada um faz aquilo que acha ser correto em seu coração. O exemplo é muito mais importante do que a palavra. Meu pai sempre foi um homem extremamente correto. Perdi a minha mãe quando eu tinha um ano. Fui criada pela mãe do meu pai, chamava-se Crisolita.

A senhora gosta de viajar?

Gosto e eu quero muito conhecer o Brasil, conheço o Paraná, Santa Catarina, Pará, Amazonas, Brasília e Pernambuco.

Qual é a sua visão geográfica e arquitetônica de Brasília?

Acho que Juscelino Kubitschek foi muito inspirado. O Brasil inteiro é maravilhoso, é uma pérola jogada no planeta.

Há uma crítica muito pesada por parte de diversas potências mundiais de que temos um país que talvez seja o melhor país do mundo, porém sem pessoas com capacidade mínima de administrá-lo. Isso é veiculado mundo afora.

É porque assim quis o Criador! Ele colocou criaturas para formar esse país. Temos os índios que deixaram coisas maravilhosas, aqui em Piracicaba mesmo. O povo que está aqui é maravilhoso. A farmácia do índio é a floresta. Posso afirmar que gostei muito da minha profissão, não tenho saudade exagerada, estou plenamente realizada. Já estou aposentada há duas décadas.

Para algumas pessoas a aposentadoria atemoriza um pouco, como a senhora reagiu?

Sempre encontrei o que fazer! Dei aulas para adultos, exercitei a minha filosofia espiritual.

As mudanças que estão ocorrendo são naturais?

É própria do homem, faz parte do planeta. Estamos em transformações constantes.

Essa diferença muito grande onde poucos tem muito e muitos têm quase nada, isso espiritualmente tem um significado?

Eu penso, não posso falar pela filosofia religiosa, cada um está aprendendo do que necessita,na evolução que necessita.

O excesso de dinheiro não traz felicidade?

Parece que não!

As pessoas que passam por desagregação de família, famílias desestruturadas sofrem muito.

Faz parte da evolução, vão aprender muito. Estamos em constante aprendizado. Envolve pessoas com dependência química, apego material, vaidade extremada, tudo isso é parte de um processo evolutivo. Irá provar da pequenez para que possa melhorar. São pessoas pequenas dentro de um contexto filosófico de caráter, de moral, atitudes.

Qual é a solução?

É o que está acontecendo! Deixar que cada um aprenda a sua parte!

No aspecto político há uma crença de que o político irá resolver tudo!

É o que eles deixam transparecer! A pessoa que tem certa vivência sabe que não é isso. Eles não vão arrumar tudo! Além de ser impossível, todos tem que participar, por que só eles? Todos são responsáveis!

Com toda a sua vivência e experiência, qual é o conselho que a senhora dá aos jovens?

Não aconselho nada! Acho que cada um tem que passar a sua parte! O que é bom para mim pode não ser bom para você.

JOSÉ DE OLIVEIRA


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 02 de dezembro de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/


http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: JOSÉ DE OLIVEIRA

 




José de Oliveira nasceu a 6 de setembro de 1931, em Piracicaba. Do alto dos seus 86 anos, esbanja uma disposição física e mental que impressiona muito. Postura ereta, dicção clara, raciocínio rápido, precisão de lembranças passadas e presentes. Sempre sorridente cuidadoso com sua aparência, faz com que aparente ser mais jovem do que  consta em seu registro de nascimento. Filho de Veridiano de Oliveira e Angelina Pádua que tiveram nove filhos: Alcides, Odair, Manoel, Verediano de Oliveira Filho, Enides Enoeh, José, João e Maria. Só a Enoeh é que foi registrada em Iracemápolis.

O pai do senhor trabalhou em Iracemápolis?

Meu pai trabalhava em uma fazenda, para lá era Iracemápolis, o lugar era chamado de Bate Pau, era muito famosa, eu imaginava que esse nome fosse em função de possíveis brigas, na realidade era em função de uma dança que havia, quase igual a congada, com bate pau, até hoje tenho amigos em Iracemapolis. Ali alem de trabalhar na roça, na usina, havia muitos bailes e jogo de futebol.

O senhor jogava futebol?

Joguei, minha posição era meio de campo, mas nunca fui profissional. Joguei em Piracicaba, no IV Centenário. Eu sou criado no Bairro São Dimas, que naquele tempo se chamava Vila Progresso. Herbert James Simenon Boyes com o irmão Alfred Simenon Boyes, constituiram a Boyes Irmãos & Cia., grupo inglês que adquiriu em 11de março de 1918 a fábrica de tecidos criada por Luiz de Queiroz inaugurada em 1876, inicialmente com a denominação “Santa Francisca”, Luis de Queiróz precisava de energia  criou a primeira usina hidrelétrica de Piracicaba fornecendo luz para a cidade em 1892. Assim como o palacete que ele construiu e no qual habitou, à Rua Prudente de Moraes. A fábrica e o palacete comprados pelos Boyes, eram então propriedades de Rodolfo Nogueira da Costa Miranda que mudou os nomes de ambos para “Arethusina”, desde 1902. Herbert casou-se com Elvira, natural de Piracicaba era filha do diretor técnico Artur D. Sterry, que Luiz de Queiroz trouxe da Bélgica para dirigir sua fábrica de tecidos. Kathleen Mary, uma das filhas do casal Herbert e Elvira, foi diretora- presidente da Companhia Industrial e Agrícola Boyes  residiu no palacete construído por Luiz de Queiroz até falecer em 7 de outubro de 1991. Outra filha, Dóris, casou-se com Norman Ford, que dirigiu a fábrica durante muitos anos. Em fins do século 20, dois filhos do casal, Peter e David, estavam à frente da empresa.

Por volta de 1939 a Boyes tinha 104 casas, eram quatro quadras paralelas, uma era a Rua José Ferraz de Camargo, nós a chamávamos de Rua Larga, era comum uma criança avisar em casa “Estou brincando na Rua Larga”. Depois existiam as ruas estreitas: Rua Alfredo; Rua Alberto; Rua Arthur. Naquele tempo havia uma rivalidade! Na Vila Boyes havia um clube, na Vila Progresso (atual São Dimas) havia outro, ali havia o União Progresso. Orlando Carnio, um vereador, decidiu acabar com essa rivalidade: criou o Bairro São Dimas, devido a igreja.

O nome teve como origem a igreja?

No Largo Santa Cruz havia fixada uma cruz de pedra, retiraram de lá e conduziram em cima de um caminhão até ao local onde permanece até hoje, em seguida fizeram uma capelinha, e hoje é uma igreja de porte, é uma paróquia. O nome da é Matriz Santa Cruz e São Dimas.

Como foi a infância do senhor?

Eu era criança e ia brincar no Lar dos Velhinhos, era conhecido como Chácara das Jabuticabeiras. Onde é o Clube de Campo era do Conde Rodolpho de Lara Campos.

O senhor o conheceu?

Conheci! Era difícil vê-lo. Na chácara dele tinha jabuticaba, todo tipo de fruta. Lembro-me que ele tinha um motorista a quem ele deu um carro de presente. Éramos crianças, eles não vendiam e nem davam nada, reuníamos um grupinho de crianças e íamos “pedir para o pé”. (Apanhar a fruta de forma sorrateira). Abríamos um buraco na cerca e entravamos quatro ou cinco meninos, voltávamos carregados de frutas.

Havia cães?

Tinha e dava muito medo! O Conde não deixava ninguém pescar no Rio Piracicaba em local em que estava a sua propriedade. A Avenida Renato Wagner não existia! A cerca da propriedade do Conde Lara ia até lá! A Estrada de Ferro Sorocabana passava sobre o Rio Piracicaba. Onde hoje é o campinho do Clube de Campo o Córrego Itapeva passava por ali desembocando no Rio Piracicaba.

Existia um moinho bem na cabeceira da Ponte Irmãos Rebouças?

Era a farinheira Eira da Pita!  Nós íamos lá pedir beiju! Era farinha de milho torrada em um enorme chapa. Um dos rapazes de lá jogava futebol no São João da Montanha Futebol Clube , da ESALQ.  Nossos prazeres eram pegar fruta no Lara, nadar na boca do Itapeva, a água do Rio Piracicaba era fria e a água do Itapeva era quentinha. Ficava aproximadamente onde é a loja D. Paschoal, ali passava o Itapeva.

Foi alterado o curso do Itapeva naquele trecho?

Foi! A atual Avenida Dr. Torquato da Silva Leitão era toda calçada com pedregulho, nós chamávamos de Morro do Lara. Nessa região havia muitas chácaras, a chácara do Pedro Rico era onde é a Cidade Jardim, lá também íamos colher frutas “dadas pelo pé”!Às vezes ele dava um tiro de sal na criançada.  (O tiro de sal pode ser dado com espingarda de chumbo troca-se o chumbinho pelo sal).

O senhor fez os seus primeiros estudos aonde?

Fiz no Honorato Faustino! Era nas proximidades do Colégio COC, subindo a rua onde hoje ficam as Irmãs Carmelitas. Em 1939 a Boyes construiu quatro ruas com 13 casas de cada lado, totalizando 104 casas, também deram um grupinho, na época ninguém queria morar na Vila Boyes, isso porque íamos quadrar jardim e o pessoal dizia; “-Ah você mora na Vila Vaca”.Havia uma conotação pejorativa tipo de afirmação totalmente falsa. Nós pagávamos de aluguel o equivalente a R$ 1,00 por mês! Totalmente simbólico! Pagando água, luz, não se gastava dois reais por mês! Já havia luz, só que o chuveiro era de água fria, mesmo sendo água canalizada.

O senhor trabalhava em quê?

Eu fazia qualquer serviço! Até em construção civil eu trabalhei! Sou de família que pegava no guatambu! Meu pai era especializado em olaria. Ele tinha uma sabedoria nata, os fazendeiros chamavam-no para fazer uma obra na fazenda, ele pegava um enxadão, depois cavoucava com uma cavadeira, pegava um pouquinho do barro, experimentava a textura em sua mão, em seguida colocava um pedacinho de barro na boca, mastigava por um bom tempo, dizia ao fazendeiro: “-Seus tijolos estão estourando porque contém areia! Tem que colocar mais tantas carroças de barro forte no picador, onde deve moer tudo” Ou então ele mandava colocar mais saibro. No dente meu pai percebia isso! Hoje é tudo feito através de processos que envolvem análises, adição de produtos químicos. Quando ele ia fazer fogo na olaria ele fazia o “esquente” se fosse 36 horas de fogo, fazia 12 horas de fogo brando, depois ele apertava o fogo. Ele fazia tijolo, telha. Naquele tempo telha francesa ele não fazia. Ele fabricava a chamada telha comum, era do tipo que eram feitas nas coxas pelos escravos, só que no tempo dele já tinha o gualapo. O gualapo era uma espécie de forma de madeira, curva, simulando a curvatura da coxa, côncava, em cima tinha uma espécie de grade com aproximadamente um centímetro de altura, minha mãe e meus irmãos pegavam aquele barro e preenchiam aquele espaço com barro. Passavam uma régua, ficava bem direitinho. Depois puxava devagar, com jeito, ela caia no gualapo como uma se caísse em uma coxa. O gualapo foi a evolução da coxa do escravo. As telhas feitas nas coxas dependiam muito da grossura da coxa de quem estava fazendo, com isso as telhas saiam desiguais. Depois com uma lata de água, meu pai passava a mão molhada, o barro ficava bem liso. Após estar no gualapo, eram colocadas em uma gradinha de ripa, o barro não podia ser muito mole e nem muito duro, tinha que estar no ponto certo. Deixava o barro secar, depois ia para o forno. Naquela época toda criançada trabalhava.

A entrega era feita como?

A maioria era feita com carroça, na época havia poucos caminhões, uma carroça levava 250 tijolos cada vez. Lembro-me até da medida dos tijolos, quando meu pai começou a fabricar a forma era de 28 centímetros, antes eram 30 centímetros, depois passou para 25 centímetros.

O barro era amassado como?

Havia um mecanismo rudimentar tracionado a burros, um chamava Solteiro, outro era o Cabrito, o barro era amassado, tinha uma espécie de boquinha por onde saia o barro amassado, chamado de pastão, e meu irmão ia carregando em uma carriola. Tinha uma turma que ia tirando e colocando na forma.

Em que local ficava a olaria?

Na Usina Boa Vista! Logo após na Cruz Caiada. Tem esse nome porque havia ali uma cruz, símbolo de que naquele local alguém faleceu, para pintar não havia as tintas que existem hoje, tinha que “queimar” a cal virgem e depois pintava, caiava. Havia muitas santas cruzes daqui para lá, algumas eram de madeira.

O senhor trabalhava durante o dia e estudava a noite?

Desde o curso primário, depois fui estudar contabilidade na Escola do Zanin.

Quando o senhor casou-se?

Em 17 de janeiro de 1959 , um sábado, nos casamos na Igreja Metodista, ela é metodista. Ela lecionava em Santo Anastácio, eu fui trabalhar em contabilidade a convite de um vereador daquela cidade. Ai houve uma remoção da minha esposa para Capivari, naquele tempo tinha a Estrada de Ferro Sorocabana. No fim mudamos para lá. Fui trabalhar na Usina Cillos, havia lá e em Santa Bárbara D`Oeste, todos os donos eram parentes, trabalhei um bom tempo na usina, na parte de contabilidade. Minha esposa foi removida para Piracicaba, voltamos para cá, vim morar em uma casa de propriedade de Lineu Krähenbühl, na Rua Gomes Carneiro esquina com a Avenida Armando Salles de Oliveira. Hoje moro perto da Igreja Bom Jesus.

Quantos filhos vocês tiveram?

Tivemos cinco filhos: Ângela, José Lincoln, João Marcos. Paulo e Andréia.

O senhor conheceu o pessoal do cururu?

Conheci todos! Pedro Chiquito, Parafuso, Nhô Serra e outros. Não só conheci como era amigo deles. Um dia estava com a minha neta que mora na Carolina do Norte, fiz uma moda de cururu, ela passou para o inglês! Saiu um cururu em inglês! Eu tocava um pouquinho de acordeom.

O senhor tem algum hobby?

Gosto de cantar bastante. Cantava em orfeon. Fui presidente do Clube da Terceira Idade.

Como surgiu o seu prazer pela música, pela dança?

Meu pai tocava acordeom, naquele tempo ele tocava em bailes. Levava a minha mãe junto, lembro-me disso. Ia a família inteirinha.

Isso no chão de terra?

Na Fazenda Boa Vista, Água Santa. Onde tivesse um rancho, jogavam uma água com regador, passava um rodo, no começo ia bem, depois quando secava vinha aquele poeirão! Varava a noite!

Procissão do Divino o senhor acompanhava?

Eu gostava de assistir!

E o Rio Piracicaba como era?

Não só nadava como bebia água dele! Não na beirada, porque tinha limbo. Ali na Rua do Porto o Adamoli tirava areia com carroça. Nessa época eu tinha uns doze a treze anos.

Vocês nadavam com roupa ou sem roupa?

De qualquer jeito!

Tinha um pessoal que escondia a roupa de quem nadava nu.

Tinha gente malvada sim. Às vezes o próprio pai fazia isso. Quantos amigos meus não vinha embora com duas folhas de mato! Folha de guaiambé! É uma folha utilizada para empalhar garrafão com ela.

O senhor pescava?

Pescava. No Rio Piracicaba as moças pegavam peixes com sombrinha! Não precisava pescar no Rio Piracicaba! Corria o risco de ser advertido pelos fiscais.  O Geraldo Toledo e o Nonô eram os fiscais. Depois que veio o Tutu Medeiros. Manzano e outros. Mas sabe o que as moças faziam? Onde é o aquário, não era daquele jeito, não tinha aquele paredão. Dava para descer até lá embaixo, beirando o rio, era um mato com trilhas. Ficávamos no meio do matinho, às vezes o fiscal nem nos via. Ali não dava para nadar, tinha muito mandi e podia tomar ferroada do mandi, ele tem um ferrão nas costas, parece uma agulha e dois ferrões de lado. As moças desciam, o sol estava quente, usavam a sombrinha, elas enfiavam as sombrinhas nas pocinhas saía cheia de peixe: mandi, lambari, piava. Se não tivesse sombrinha pegava também, com a mão. Conforme o rio dava um balanço, a âgua vinha com tanta força que jogava bastante peixe na barranca do rio. Se não fosse esperto, quando a onda viesse de novo levava o peixe de volta. A redução no volume de água do rio Piracicaba também tem ligações com o Sistema Cantareira, construído na região das nascentes formadoras da bacia hidrográfica ainda na década de 1960 e que desvia grandes volumes de água para o abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo. Acabaram com o nosso rio que tinha até jaú.

 

 

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