PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 13 de fevereiro de 2016.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 13 de fevereiro de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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http://blognassif.blogspot.com/
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ENTREVISTADO: ANTONIO GORGA
ENTREVISTADO: ANTONIO GORGA
Antonio Gorga nasceu a 4 de
agosto de 1928, em Piracicaba, no Bairro Alto, próximo onde atualmente é o
Corpo de Bombeiros, na Avenida Independência. Ali era uma região formada por
chácaras: das famílias Gorga,Carrara, Picinatto, e outras. Já existia o
Cemitério da Saudade, o famoso Bosque do Cemitério, onde hoje é o Estádio Barão
de Serra Negra. Mais abaixo, na Rua
Silva Jardim, onde hoje existe um grande supermercado, era o local onde ficava
vivendo isolados os doentes de hanseníase na época uma doença incurável. Permaneciam
próximos a caixa de água da prefeitura, a área atrás da chácaraonde residia a
família Gorga, depois teve ali o “cano frio”. Era um terreno vago, tinha umas
casas muito precárias. A terra era ruim para o cultivo, conhecida como piçarra.
Não produzia nada, não dava nada.
Como é o nome dos pais do senhor?
Miguel Gorga e Maria Irma Rubens
Gorga, brasileiros, filhos de italianos. Meus avôs vieram da Itália como
imigrantes, conheceram-se durante a viagem, chegando a São Paulo casaram-se.
Foram morar em que localidade?
Vieram morar nessa chácara em
Piracicaba, ela era propriedade de um comerciante que morava em São Paulo. Essa
pessoa trouxe o casal para cá, instalando-os como empregados. Não era uma área
muito grande, devia ter em torno de 2 alqueires (48.400 metros quadrados),
abrangia uns quatro quarteirões, incluindo boa parte da atual Avenida
Independência. Não existia a Avenida Independência, era um carreador, um
caminho, depois a avenida foi alargando, entrando na chácara, até então um dos
lados da chácara ficava ao lado da estradinha de terra que mais tarde tornou-se
a Avenida Independência. Na realidade a estradinha foi aberta no meio da
chácara. Onde hoje há a Clinica do Dr. Bicudo, aquela esquina era o canto da
chácara. Dali até o cemitério deve dar uns 200 metros. Atualmente o cemitério
chega até ao lado do Corpo de Bombeiros, o cemitério cresceu.
Naquele tempo havia muitas superstições, que
ainda existe até hoje, não havia nenhum receio de estar morando tão próximo ao
cemitério?
Não, pelo contrário! Colhíamos
mamão verde, furávamos o mamão, simulando um crânio, colocávamos uma vela
dentro, no canto do cemitério, em cima do muro, acendíamos a vela, eu tinha uns
sete ou oito anos, ficava esperando voltar a moçada do bairro que tinha ido ao
centro a noite. Lá pelas nove a dez horas voltava todo mundo, atravessavam o
bosque de canto a canto, quando chegavam junto ao muro do cemitério viam aquela
“caveira”, alguns saiam correndo com medo, outros já sabiam. Nós ríamos muito.
Era uma brincadeira sadia.
A água era de poço ou encanada?
Ali não havia poço, atrás da
chácara já tinha a caixa de água que distribuía água para a cidade toda. Essa
caixa de água existe e funciona até hoje. Tínhamos água, mas não tínhamos a luz
elétrica. Ficamos muito tempo sem que a energia elétrica chegasse até lá.
Tínhamos que estudar a luz de vela, lamparina. Tapávamos o nariz, a fumaça do
querosene deixava-o preto. Usávamos também o lampião a querosene. Fogão a
lenha. A cama tinha colchão com palha de milho. Para fazer o colchão tínhamos
que rasgar a palha “na unha”. Como não havia energia elétrica, a comida era
conservada na banha de porco. Tínhamos três “cevas” para porco, comprava um
porquinho, colocavam-os na ceva, os três, quando um estava gordo era abatido,
minha mãe e meu pai faziam a linguiça. Em cima do fogão a lenha tinha um varal,
enchia esse varal de linguiça, a gordurinha ia pingando. Eu ia ao grupo
escolar, levava como lanche o pão que a minha mãe sempre fazia em casa, com
dois gomos de linguiça curtida no fogo, eu sentava para comer a molecada ficava
ao meu lado, eu tinha que dar um pedaço para cada um.
O senhor estudava em qual escola?
Estudava na Escola Normal (mais
tarde denominada Sud Mennucci). O Grupo Escolar Alfredo Cardoso não existia
ainda, foi implantado mais tarde. A Escola Normal era a mais próxima que
existia na época. Cruzávamos onde hoje é o campo de futebol do Palmeirinha, com
isso diminuíamos a distância. Ali era tudo pasto, só tinha terra ruim, só
piçarra. A nossa chácara já pegou uma parte de terra melhor. Era uma terra boa.
O que a chácara produzia?
A chácara era inteirinha de
frutas, um pedaço era horta. A renda da chácara era só verdura e frutas, era
tudo levado até o mercado municipal, a minha avó Rosa é que tinha a banca no
mercado. Era uma mesa quadradona, grande. Isso no tempo de mercado antigo. Meu
tio Antonio (Nico) Gorga, todo dia engatava o carrinho no animal. Minha avó
tinha sete filhos e duas filhas. A chácara era pequena para sustentar tantas
pessoas, a maioria saia para aprender um ofício. Tenho tios que são marceneiros,
carpinteiros, meu pai foi trabalhar na Escola de Agronomia, assim como o meu
tio Francisco. Naquela época meu pai estudou a noite, formou-se como guarda-livros
(contador). Só que ele não gostava dessa atividade. Ele entrou na Escola de
Agronomia no setor de Horticultura, isso na época do Dr. Phillipe Westin Cabral
de Vasconcellos. Meu tio mais velho do que o meu pai, Francisco Gorga morava na
Escola Agrícola, era chefe do setor de Horticultura. Abriu uma vaga, meu pai
falou com o Dr. Phillipe e foi trabalhar na roça da escola. Mais tarde ele
passou a trabalhar só na horta. Passou um tempo, meu tio Francisco
aposentou-se, o Dr. Phillipe chamou o meu pai e o nomeou como chefe da seção.
Meu tio mudou-se para a cidade, a casa onde morava na Escola Agrícola ficou disponível,
meu pai mudou-se para lá, na época eu tinha nove anos de idade. Havia cinco
colônias de casas na Escola de Agronomia. A nossa casa era logo depois do ponto
final do bonde, havia uma série de casas, a nossa era a segunda casa. A
primeira casa era a carpintaria. Após trabalhar por 35 anos na ESALQ meu pai
aposentou-se.
Após concluir o primário o senhor fez algum
curso?
Fui estudar na Escola Cristóvão
Colombo, mais conhecida como Escola do Zanin. Não cheguei a me formar, parei de
estudar no ultimo ano. Eu não gostava dessa atividade, não conseguia permanecer
por muito tempo em ambiente fechado. Eu tinha uns 17 anos. Quando estavam
fazendo o aviário na Escola, aqueles postinhos de cimento, as cercas de tela,
foram feito tudo com menores de 18 anos, era a criançada que trabalhava ali. Naquele
tempo podia. Apareceu uma vaga na seção, fiquei sabendo, fui falar com o Dr.
Phillipe. Fui para a Horticultura, varrer a sala de aula, limpar e trabalhar no
laboratório.
O que o senhor fazia no laboratório?
O primeiro serviço era fazer
café. Todo mundo tomava e gostava! No laboratório fazia análise de abacate, o
Montenegro estava fazendo a tese, ele desejava passar para catedrático. Eu
analisava a gordura de cada tipo de fruta. A floração. Às seis horas da manhã
eu ia ao campo esperar abrir a primeira flor, para ver se era masculina ou
feminina.
Como o senhor conhecia se era uma flor masculina
ou feminina?
Há uma diferença bem perceptível
entre uma e outra. O abacate depende muito do cruzamento. A flor de abacate às
seis horas da manhã está se abrindo, são todas flores masculinas, não tem uma
flor feminina. Isso dura até ao meio dia, pontualmente. Ao meio dia vai
fechando aquela flor masculina e vem abrindo a flor feminina. Fica fora de
posição para a abelha fazer o cruzamento. Tem variedades de abacates que é ao
contrário, de manhã abre a flor feminina e a tarde abre a flor masculina. A
abelha tem como trabalhar, ela leva o pólen da flor masculina para a flor
feminina. Tinha que conhecer as variedades e plantar de forma alternada. De tal
forma que a abelha pudesse trabalhar de uma planta para outra. A polinização
era feita pela abelha.
Essas abelhas vinham de qual lugar?
Eram nativas e do apiário da
Escola de Agronomia.
Que tipo de abelha havia no apiário da
Escola?
Popularmente era conhecida como
abelha italiana, naquele tempo não havia a abelha africana. Uma das atividades
que eu tinha que saber fazer era a enxertia, conforme a variedade se faz uma
estaca para se fazer uma muda. Tem estaca que enraíza bem e outras não. Têm que
ter bastante habilidade para preparar tudo isso. O milho é muito utilizado
quando se trata de uma planta grande, uma arvore com aquele torrão de terra
grande, faz-se uma cova grande, joga-se bastante milho embaixo, é um adubo, não
fermenta e não prejudica a raiz. Ele ajuda, dá um alimento à raia para puxar o
enraizamento, já é próprio para isso.
Em que tipo de árvore eu posso usar esse processo?
Em qualquer uma, a jabuticabeira
por exemplo. Se você quiser mudar ela de lugar, sendo uma jabuticabeira grande,
tira-a com um torrão de terra grande, um guincho, transporta-a para uma cova
grande, conforme o tamanho da árvore pode-se colocar cinco, dez quilos. Irá
servir como adubo. Se for uma jabuticabeira pequena, onde seja plantada em uma
cova de um metro de comprimento por um metro de largura, jogam-se uns 5 quilos
de milho. Quando a jabuticabeira foi retirada foi cortada a raiz, terá que sair
outra raizinha. O milho irá ajudar.
Em que ano o senhor começou a trabalhar na
Escola de Agronomia?
Foi em 1943 aposentei-me em 1985.
Aos nove anos mudei com a minha família para uma casa na Escola Agrícola. Com
16 anos eu queria trabalhar. Trabalhei com o Dr. Phillip uns 15 anos. Meu pai
aposentou-se, o Dr. Phillip me chamou e perguntou se eu queria substituir a
vaga do meu pai. Eu quis, já estava bem entrosado com a rotina do campo, nessa
época eu já não estava mais no laboratório. O Dr. Montenegro queria que eu
permanecesse em função da sua defesa de tese. Tudo que era enxertia, estaquia
eu fazia. Continuei morando na casa, antes disso a escola estava mudando um
pouco e precisava dos prédios. A ESALQ adquiriu aquela parte da frente, próxima
a Avenida Centenário, era tudo propriedade particular, não era da escola e
construiu uma casa para o meu pai ali. Quando meu pai aposentou-se eu fiquei na
casa em que ele morava. Já era fora da Escola, embora pertencesse a Escola.
A condução que o senhor usava para ir ao
centro da cidade era o bonde?
Usava o bonde para ir a qualquer
lugar, a Avenida Carlos Botelho era com o chão de pedregulho. As lâmpadas eram
muito fracas, não chegavam a clarear nem o chão. Quando perdia o último bonde,
as onze horas, tinha que vir a pé. Ia do centro até a Rua Santa Cruz e caminhava
até chegar a Escola. Tudo terra. Pedregulho e cachorrada latindo atrás, a gente
andando a noite no escuro.
Quando o senhor assumiu a chefia, quantos
funcionários o senhor tinha como seus subordinados?
Tinha 73 funcionários. A seção de
horticultura era a maior seção da Escola. Todos os parques da Escola, esses
gramados, a Engenharia, o tanque, tudo era cuidado pela horticultura. Só nesse parque eu tinha 10 funcionários. Tinha
mais funcionários no pomar, dos dois
lados do Campo de Aviação.
Ia até o Campo de Aviação?
O Campo de Aviação está no meio
do pomar. A Usina Monte Alegre precisava de uma área ideal para utilizar como
campo de viação. A área escolhida foi onde está até hoje. A divisa da Usina
Monte Alegre é logo após o campo, onde tem um declive, tinha uma nascente de
água, dentro da Escola, é a que abastece a Escola hoje. O Morganti, propôs à
Escola em trocar: ele dava uma área que lhe pertencia e a Escola dava-lhe a
área onde estava o pico, ideal para a pista do Campo de Aviação. A Escola
concordou. Foi feita uma permuta, o terreno dele que era só cana-de-açúcar nós
transformamos em um pomar. Depois o Campo de Aviação precisou de mais terreno,
o governo passou a doar mais alguns pedaços. Então arranca todo o pomar e vai aumentando
o campo. A Fazenda Areão era ocupada pela ESALQ, atualmente encontram-se
instaladas a Escola de Engenharia de Piracicaba e a Faculdade de Odontologia de
Piracicaba FOP- UNICAMP.
Os produtos que a ESALQ produzia eram
comercializados?
A horta pertencia a Horticultura,
tinha três homens trabalhando na horta. Havia dois homens trabalhando na
floricultura, plantávamos todo tipo de flor. Os produtos que colhíamos,
vendíamos, nós precisávamos da renda, não tínhamos dinheiro.
Quais máquinas eram utilizadas?
Era tudo movido com burro. Arado,
burro carroça. Depois de muito tempo adquirimos um trator Zadruga, esse trator
está lá até hoje. Depois ganhei da seção de máquinas um trator velho para cortar a grama da Escola,
era um Massey Ferguson. Antes a grama embaixo das árvores era cortada com
alfanje. . Aí comprei o tratorzinho pequeno, coloquei o trator grande no campo
e o pequeno em locais onde o acesso era mais delicado. O resto da turma estava
toda no pomar, carpindo na enxada. Eram pomares grandes de abacate, laranja,
manga, tínhamos 56 variedades de mangas. Mais tarde o Professor Salim Simão
ficou catedrático e passou a ser conhecido pelos seus conhecimentos inclusive
na cultura de mangas. O Professor Salim Simão tinha uma grande confiança no meu
trabalho, delegava muita responsabilidade para que eu cuidasse com afinco do
pomar. Tenho boas lembranças do Professor Salim, uma excelente pessoa. Foi uma
pessoa que teve muitas dificuldades no seu inicio, ele morava no sítio no hoje
Bairro da Pompéia, quando chovia ele tinha que vir de lá e não tinha carro. O
irmão dele o trazia com uma charretinha, debaixo de chuva. Ele já era
professor. Naquele tempo tinha um livro em cima da mesa do Filipão, como era
conhecido o Dr. Phellipe, era o livro-ponto, os professores assistentes tinham
hora para entrar e hora para sair. Tinham que assinar o livro.
O senhor conheceu o Professor Doutor
Friedrich Gustav Brieger?
O Professor Brieger foi um grande
amigo, ele gostava muito de mim. Ele tinha verba, conseguia junto a seus
contatos no exterior, a Fundação Rockefeller estimulava o ensino e a pesquisa,
destinando recursos próprios. O Dr.
Brieger tinha um grande prestigio junto a Fundação Rockefeller, com isso
obtinha recursos com mais facilidade. Até mesmo os meios de locomoção eram
renovados anualmente. Dispunha de implementos agrícolas e até mesmo tratores
com facilidade. Tudo doado por entidades estrangeiras. O Brieger era uma pessoa
que trabalhava muito. Um dos seus objetivos era ter a maior variedade de
orquídeas possível. Para aumentar a coleção da ESALQ. Na nossa região,
percorríamos toda a redondeza de Piracicaba. Cada vez que ele saia com a perua
para procurar novas espécies de orquídea ele me telefonava e íamos juntos.
Passávamos o domingo no mato coletando orquídeas. O Brieger era excelente, um
cientista. Conheci o Professor Dr. Guido Ranzani, o “Guidão”, era gente boa! Foi
o responsável pela criação e direção do Centro de Estudos de Solos da ESALQ. A
ESALQ me proporcionou além de uma carreira a realização de grandes amizades,
com pessoas de grande projeção como o Professor Dr. Jairo Ribeiro de Mattos, um
grande amigo, com o qual sempre que podemos conversamos e trazemos as
lembranças gloriosas dessa grande instituição que é um orgulho para Piracicaba
e para o Brasil, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – ESALQ.
Antonio
Gorga nasceu a 4 de agosto de 1928, em Piracicaba, no Bairro Alto, próximo onde
atualmente é o Corpo de Bombeiros, na Avenida Independência. Ali era uma região
formada por chácaras: das famílias Gorga,Carrara, Picinatto, e outras, elas
tomavam parte do leito carroçável da Avenida Independência que não era senão um
pequeno “carreador”. Seu avô trabalhou na ESALQ. Seu pai trabalhou e morou na
ESALQ por 35 anos. Aos nove anos de
idade Antonio Gorga mudou-se com seus pais para uma casa pertencente a ESALQ.
Aos dezessete anos foi um dos garotos que ajudou na construção do aviário da
ESALQ. Antonio Gorga trabalhou na ESALQ de 1943
até aposentar-se em 1985. Foi encarregado da Horticultura, que além de
cuidar das verduras e legumes, cultivavam flores das mais variadas espécies.
Foi responsável por 73 funcionários. Um dos seus passatempos prediletos era
acompanhar o reconhecido cientista Professor Doutor Friedrich Gustav Brieger,
ambos aos finais de semana internavam-se nas matas da região em busca de novos
espécimes de orquídeas, formando um dos mais ricos acervos de orquídeas
brasileiras. Antonio Gorga sempre foi um homem de campo, Como auxiliar de
laboratório em seu trabalho praticamente anônimo teve participação fundamental
nas experimentações que geraram grandes teses de renomados nomes da ESALQ. Fez
muitas amizades, com nomes de expressão no cenário nacional. Conserva muitos
amigos, entre eles o Professor Doutor Jairo Ribeiro de Mattos, um apaixonado
pela ESALQ e pelo Lar dos Velhinhos de Piracicaba, local que conheceu mais
proximamente quando ainda era estudante da ESALQ e foi responsável pelo plantio
de inúmeras mudas de árvores. Antonio
Gorga manifesta sua tristeza em ver o pomar que formou e aos poucos foi sendo
substituído por outras culturas, por construções de prédios.Antonio
Gorga nasceu a 4 de agosto de 1928, em Piracicaba, no Bairro Alto, próximo onde
atualmente é o Corpo de Bombeiros, na Avenida Independência. Ali era uma região
formada por chácaras: das famílias Gorga,Carrara, Picinatto, e outras, elas
tomavam parte do leito carroçável da Avenida Independência que não era senão um
pequeno “carreador”. Seu avô trabalhou na ESALQ. Seu pai trabalhou e morou na
ESALQ por 35 anos. Aos nove anos de
idade Antonio Gorga mudou-se com seus pais para uma casa pertencente a ESALQ.
Aos dezessete anos foi um dos garotos que ajudou na construção do aviário da
ESALQ. Antonio Gorga trabalhou na ESALQ de 1943
até aposentar-se em 1985. Foi encarregado da Horticultura, que além de
cuidar das verduras e legumes, cultivavam flores das mais variadas espécies.
Foi responsável por 73 funcionários. Um dos seus passatempos prediletos era
acompanhar o reconhecido cientista Professor Doutor Friedrich Gustav Brieger,
ambos aos finais de semana internavam-se nas matas da região em busca de novos
espécimes de orquídeas, formando um dos mais ricos acervos de orquídeas
brasileiras. Antonio Gorga sempre foi um homem de campo, Como auxiliar de
laboratório em seu trabalho praticamente anônimo teve participação fundamental
nas experimentações que geraram grandes teses de renomados nomes da ESALQ. Fez
muitas amizades, com nomes de expressão no cenário nacional. Conserva muitos
amigos, entre eles o Professor Doutor Jairo Ribeiro de Mattos, um apaixonado
pela ESALQ e pelo Lar dos Velhinhos de Piracicaba, local que conheceu mais
proximamente quando ainda era estudante da ESALQ e foi responsável pelo plantio
de inúmeras mudas de árvores. Antonio
Gorga manifesta sua tristeza em ver o pomar que formou e aos poucos foi sendo
substituído por outras culturas, por construções de prédios.
O senhor praticou algum esporte?
Joguei futebol em um dos principais clubes do futebol amador
que foi o São João da Montanha. Esse time tem a origem do seu nome na Fazenda São João da Montanha, de
propriedade de Luiz Vicente de Souza Queiroz e doada ao Estado para a
construção de uma escola agrícola. Eu jogava como beque esquerdo, o pessoal reclamava um pouco porque eu jogava meio pesado. Joguei todo o
campeonato, fiquei tri-campeão na cidade. Um dos nossos adversários mais
ferrenhos era o River Plate da Vila
Rezende.
O senhor conheceu o Dr. Jairo Ribeiro de Mattos em que época?
Eu o conheci quando ele ainda
trabalhava na Casa da Lavoura. Depois que ele ingressou na ESALQ.
A ESALQ cresceu muito?
A escola cresceu, mas a meu ver o
piracicabano não a valoriza como foi no passado. Era muito frequentada pela
cidade todos os dias. Andavam, passeavam adquiriam verduras, tinha um ponto de
venda de frutas, verduras, flores. Tínhamos mudo de todo tipo de planta que se
possa imaginar, principalmente as frutíferas. Da estrada do Monte Alegre para
lá, aquilo era tudo viveiro de mudas. Vendíamos barato. Eu tinha o preço da
concorrência, como as mudas de Limeira, por exemplo, vivíamos pela metade do
preço. A cada 15 dias ia até o Mercado Municipal de Piracicaba, fazia um
levantamento de preços e vendia cinquenta por cento mais barato. Com esses
recursos fazia uma caixinha para as necessidades básicas da seção. O dinheiro
da renda do mês eu recolhia para a reitoria, a reitoria devolvia à diretoria da
escola, Setenta por cento do valor vinha para o nosso departamento, trinta por
cento ficava com a finalidade de ajudar nas despesas da diretoria.
E defensivo agrícola já era
utilizado?
Usava-se muito pouco. Não tinha
dinheiro para adquirir também, naquele tempo as coisas eram difíceis. O mais
utilizado na época era o BHC, um
inseticida sua sigla advém do nome inglês - Benzene Hexachloride - é um produto
que combate pragas na lavoura Seu uso
foi banido.
E a
frase a frase “Ou o Brasil acaba com a Saúva ou a Saúva acaba com o Brasil”?
Eu tinha três homens o dia inteiro
trabalhando só na máquina para exterminar a saúva. A máquina era composta por
uma ventoinha, dentro de uma caixa de ferro fundido, enchia de carvçao,
colocava fogo no varvão, colocava a saída de uma mangueira na entrada do
“olheiro” do formigueiro. Abria a tampa
daquela fornalha colocava duas colheres de arsênico. O arsênico descia
junto ao carvão em brasa e saia junto com a fumaça. Essa fumaça entrava pelo
canal, ficavam dois homens, andando com a enxada na mão e fechando os
“olheiros” onde saia a fumaça. Matva aquele mas vinha outro, vinha muito do
Monte Alegre, da usina de cana-de-açúcar. Ninguém ia matar saúva em cana. Em
novembro os iças saiam voando, caia no meio do pomar, caiam por todos os lados.
Tinha dois homens que no tempo de içã pegavam a enxada e iam para o pomar
passear. Quando o içá cai, afunda e forma uma panelinha para ela. As sauvinhas
já começam a sair. Nesse caso não precisa de veneno, com a enxada cavoca e
mistura tudo. Mata com a enxada, Isso um mês depois que o içá caiu e já formou
um formigueirinho. Quando está em um local cheio de capim, não se enxerga com
facilidade essa panelinha.
E cobras tinha muitas?
Cobra sempre teve. Nunca tivemos
funcionários picados de cobra. Tinha jararaca, jararaquinha e jaracuçu. A
jararaca tem uma característica, você pensa que ela foi embora ela volta, é
dissimulada. Cobra não ataca as pessoas. Nós é que as atacamos. Se você não
bater nela ela n]ao faz nada. Ela vai embora, foge da gente.
Hoje é comum termos estudantes de
agronomia do sexo masculino e feminino, antigamente era assim também?
Era comum ter no máximo uma ou
duas moças que estudavam agronomia. Ultimamente aumentou muito o número de
mulheres que fazem o curso. Hoje a ESALQ está mais voltada à pesquisa.
Como surgiu a intenção de
construir uma usina de açúcar dentro da ESALQ?
Surgiu com a iniciativa do
Professor Dr. Jaime da Rocha de Almeida, diretor da
ESALQ. Naquela época as usinas de açúcar estavam no auge, com uma usina
funcionando dentro da escola o aluno tinha a facilidade de aprender tudo ali
dentro, já para sair, trabalhar ou montar uma usina. Ao que contam a verba para
concluir o prédio da usina infelizmente não foi deliberada. E caso estivesse
entrado em atividade atualmente não teria mais condições de funcionar.
O
senhor conheceu o Engenho Central?
Muito! Carregava bagacinho de
cana para usar na composição de esterco para a Horticultura. Eu mandava o
caminhão com dois homens, até a hora do almoço lotava o caminhão de bagaço de
cana de açúcar. Na zootecnia eu mandava uma carroça por dia, eu aproveitava o
esterco dos bezerros. Todo dia um funcionário meu colocava uma carroça na
esterqueira para curtir. Não tinha dinheiro para comprar adubo. Plantava milho
para alimentar 36 burros. Eram burros chucros, que vinham de Minas Gerais,
tinha dois funcionários meus, dois irmãos: Silvio Pavão e Virgilio Pavão, dois
irmãos, que os domavam. Três burros eu tirava para puxar charrete. Um era para
uso da esposa do Dr. Phillipe em sua charrete
esse era o único que usava ferradura. Os demais não precisavam porque só
andavam na terra.
O Rio Piracicaba passa pela ESALQ?
Passa
entre a Fazenda Areaão e o bairro Santa Rosa. O Piracicamirim passa no meio da
ESALQ,Tem um salto no meio do mato, é uma beleza, Tinha a colônia da Zootecnia,
a colônia da Fazenda Modelo, a colônia da Horticultura, a colônia do prédio
principal e a colônia do Pombal. Todas cheias, hoje estão todas fechadas. Hoje
estão todas fechadas.
O senhor mantém contato com o pessoal daquela
época?
Infelizmente
com poucos, uma boa parte já faleceu. Dos funciorios, de setenta e poucos sei
de apenas dois que estão vivos.
Atualmente temos frutas com aspectos muito
bonitos, mas não são tão saborosas como eram antigamente. Por que?
Quando trabalhava na Hoticultura
da ESALQ cheguei a usar uma variedade de caqui permitia transformá-lo em passa,
plantei uma verdadeira coleção de Tâmara na ESALQ.Colhia a tâmara, colocava em
um quarto, passava enxofre pra não dar fungo, deixava amudaerecer, todos os
dias tinha que ir lá colher. Hojes são frutas sem sabor, não tem açúcar
suficiente, são produtos híbridos. Antigamente tinha a laranja Serra D`Agua,
era enjeitada, é uma laranja antiga, ninguém ligava para ela, Agora deram esse
nome á um tipo de laranja baiana. Hoje o
mamão é uma fruta que está bem cultivada. Infelizmente a pulverização
aérea da cana-de-açúcar destrói tudo. E depois que me aposentei, no meu sítio
tive leiteria, parei. Passei a trabalhar com carneiro, cheguei a ter 300
cabeças parei também.
Sou muito amigo do Marinho, da
Agropecuária Marinho. Trabalhamos na ESALQ na mesma época. Conheci muito Dr. Walter Accorsi. Assim como
era utilizado fórceps para fazer um parto humano com dificuldades, o Spalini usava
trator para auxiliar as vacas a parirem. Isso é muito antigo. Urgel de Lima,
formou-se e tornou-seprofessor da ESALQ onde aposentou-se.
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