domingo, março 13, 2016

ANTONIO GORGA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 13 de fevereiro de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: ANTONIO GORGA


Antonio Gorga nasceu a 4 de agosto de 1928, em Piracicaba, no Bairro Alto, próximo onde atualmente é o Corpo de Bombeiros, na Avenida Independência. Ali era uma região formada por chácaras: das famílias Gorga,Carrara, Picinatto, e outras. Já existia o Cemitério da Saudade, o famoso Bosque do Cemitério, onde hoje é o Estádio Barão de Serra Negra.  Mais abaixo, na Rua Silva Jardim, onde hoje existe um grande supermercado, era o local onde ficava vivendo isolados os doentes de hanseníase na época uma doença incurável. Permaneciam próximos a caixa de água da prefeitura, a área atrás da chácaraonde residia a família Gorga, depois teve ali o “cano frio”. Era um terreno vago, tinha umas casas muito precárias. A terra era ruim para o cultivo, conhecida como piçarra. Não produzia nada, não dava nada.
Como é o nome dos pais do senhor?
Miguel Gorga e Maria Irma Rubens Gorga, brasileiros, filhos de italianos. Meus avôs vieram da Itália como imigrantes, conheceram-se durante a viagem, chegando a São Paulo casaram-se.
Foram morar em que localidade?
Vieram morar nessa chácara em Piracicaba, ela era propriedade de um comerciante que morava em São Paulo. Essa pessoa trouxe o casal para cá, instalando-os como empregados. Não era uma área muito grande, devia ter em torno de 2 alqueires (48.400 metros quadrados), abrangia uns quatro quarteirões, incluindo boa parte da atual Avenida Independência. Não existia a Avenida Independência, era um carreador, um caminho, depois a avenida foi alargando, entrando na chácara, até então um dos lados da chácara ficava ao lado da estradinha de terra que mais tarde tornou-se a Avenida Independência. Na realidade a estradinha foi aberta no meio da chácara. Onde hoje há a Clinica do Dr. Bicudo, aquela esquina era o canto da chácara. Dali até o cemitério deve dar uns 200 metros. Atualmente o cemitério chega até ao lado do Corpo de Bombeiros, o cemitério cresceu.
Naquele tempo havia muitas superstições, que ainda existe até hoje, não havia nenhum receio de estar morando tão próximo ao cemitério?
Não, pelo contrário! Colhíamos mamão verde, furávamos o mamão, simulando um crânio, colocávamos uma vela dentro, no canto do cemitério, em cima do muro, acendíamos a vela, eu tinha uns sete ou oito anos, ficava esperando voltar a moçada do bairro que tinha ido ao centro a noite. Lá pelas nove a dez horas voltava todo mundo, atravessavam o bosque de canto a canto, quando chegavam junto ao muro do cemitério viam aquela “caveira”, alguns saiam correndo com medo, outros já sabiam. Nós ríamos muito. Era uma brincadeira sadia.
A água era de poço ou encanada?
Ali não havia poço, atrás da chácara já tinha a caixa de água que distribuía água para a cidade toda. Essa caixa de água existe e funciona até hoje. Tínhamos água, mas não tínhamos a luz elétrica. Ficamos muito tempo sem que a energia elétrica chegasse até lá. Tínhamos que estudar a luz de vela, lamparina. Tapávamos o nariz, a fumaça do querosene deixava-o preto. Usávamos também o lampião a querosene. Fogão a lenha. A cama tinha colchão com palha de milho. Para fazer o colchão tínhamos que rasgar a palha “na unha”. Como não havia energia elétrica, a comida era conservada na banha de porco. Tínhamos três “cevas” para porco, comprava um porquinho, colocavam-os na ceva, os três, quando um estava gordo era abatido, minha mãe e meu pai faziam a linguiça. Em cima do fogão a lenha tinha um varal, enchia esse varal de linguiça, a gordurinha ia pingando. Eu ia ao grupo escolar, levava como lanche o pão que a minha mãe sempre fazia em casa, com dois gomos de linguiça curtida no fogo, eu sentava para comer a molecada ficava ao meu lado, eu tinha que dar um pedaço para cada um.
O senhor estudava em qual escola?
Estudava na Escola Normal (mais tarde denominada Sud Mennucci). O Grupo Escolar Alfredo Cardoso não existia ainda, foi implantado mais tarde. A Escola Normal era a mais próxima que existia na época. Cruzávamos onde hoje é o campo de futebol do Palmeirinha, com isso diminuíamos a distância. Ali era tudo pasto, só tinha terra ruim, só piçarra. A nossa chácara já pegou uma parte de terra melhor. Era uma terra boa.
O que a chácara produzia?
A chácara era inteirinha de frutas, um pedaço era horta. A renda da chácara era só verdura e frutas, era tudo levado até o mercado municipal, a minha avó Rosa é que tinha a banca no mercado. Era uma mesa quadradona, grande. Isso no tempo de mercado antigo. Meu tio Antonio (Nico) Gorga, todo dia engatava o carrinho no animal. Minha avó tinha sete filhos e duas filhas. A chácara era pequena para sustentar tantas pessoas, a maioria saia para aprender um ofício. Tenho tios que são marceneiros, carpinteiros, meu pai foi trabalhar na Escola de Agronomia, assim como o meu tio Francisco. Naquela época meu pai estudou a noite, formou-se como guarda-livros (contador). Só que ele não gostava dessa atividade. Ele entrou na Escola de Agronomia no setor de Horticultura, isso na época do Dr. Phillipe Westin Cabral de Vasconcellos. Meu tio mais velho do que o meu pai, Francisco Gorga morava na Escola Agrícola, era chefe do setor de Horticultura. Abriu uma vaga, meu pai falou com o Dr. Phillipe e foi trabalhar na roça da escola. Mais tarde ele passou a trabalhar só na horta. Passou um tempo, meu tio Francisco aposentou-se, o Dr. Phillipe chamou o meu pai e o nomeou como chefe da seção. Meu tio mudou-se para a cidade, a casa onde morava na Escola Agrícola ficou disponível, meu pai mudou-se para lá, na época eu tinha nove anos de idade. Havia cinco colônias de casas na Escola de Agronomia. A nossa casa era logo depois do ponto final do bonde, havia uma série de casas, a nossa era a segunda casa. A primeira casa era a carpintaria. Após trabalhar por 35 anos na ESALQ meu pai aposentou-se.
Após concluir o primário o senhor fez algum curso?
Fui estudar na Escola Cristóvão Colombo, mais conhecida como Escola do Zanin. Não cheguei a me formar, parei de estudar no ultimo ano. Eu não gostava dessa atividade, não conseguia permanecer por muito tempo em ambiente fechado. Eu tinha uns 17 anos. Quando estavam fazendo o aviário na Escola, aqueles postinhos de cimento, as cercas de tela, foram feito tudo com menores de 18 anos, era a criançada que trabalhava ali. Naquele tempo podia. Apareceu uma vaga na seção, fiquei sabendo, fui falar com o Dr. Phillipe. Fui para a Horticultura, varrer a sala de aula, limpar e trabalhar no laboratório.
O que o senhor fazia no laboratório?
O primeiro serviço era fazer café. Todo mundo tomava e gostava! No laboratório fazia análise de abacate, o Montenegro estava fazendo a tese, ele desejava passar para catedrático. Eu analisava a gordura de cada tipo de fruta. A floração. Às seis horas da manhã eu ia ao campo esperar abrir a primeira flor, para ver se era masculina ou feminina.
Como o senhor conhecia se era uma flor masculina ou feminina?
Há uma diferença bem perceptível entre uma e outra. O abacate depende muito do cruzamento. A flor de abacate às seis horas da manhã está se abrindo, são todas flores masculinas, não tem uma flor feminina. Isso dura até ao meio dia, pontualmente. Ao meio dia vai fechando aquela flor masculina e vem abrindo a flor feminina. Fica fora de posição para a abelha fazer o cruzamento. Tem variedades de abacates que é ao contrário, de manhã abre a flor feminina e a tarde abre a flor masculina. A abelha tem como trabalhar, ela leva o pólen da flor masculina para a flor feminina. Tinha que conhecer as variedades e plantar de forma alternada. De tal forma que a abelha pudesse trabalhar de uma planta para outra. A polinização era feita pela abelha.
Essas abelhas vinham de qual lugar?
Eram nativas e do apiário da Escola de Agronomia.
Que tipo de abelha havia no apiário da Escola?
Popularmente era conhecida como abelha italiana, naquele tempo não havia a abelha africana. Uma das atividades que eu tinha que saber fazer era a enxertia, conforme a variedade se faz uma estaca para se fazer uma muda. Tem estaca que enraíza bem e outras não. Têm que ter bastante habilidade para preparar tudo isso. O milho é muito utilizado quando se trata de uma planta grande, uma arvore com aquele torrão de terra grande, faz-se uma cova grande, joga-se bastante milho embaixo, é um adubo, não fermenta e não prejudica a raiz. Ele ajuda, dá um alimento à raia para puxar o enraizamento, já é próprio para isso.
Em que tipo de árvore eu  posso usar esse processo?
Em qualquer uma, a jabuticabeira por exemplo. Se você quiser mudar ela de lugar, sendo uma jabuticabeira grande, tira-a com um torrão de terra grande, um guincho, transporta-a para uma cova grande, conforme o tamanho da árvore pode-se colocar cinco, dez quilos. Irá servir como adubo. Se for uma jabuticabeira pequena, onde seja plantada em uma cova de um metro de comprimento por um metro de largura, jogam-se uns 5 quilos de milho. Quando a jabuticabeira foi retirada foi cortada a raiz, terá que sair outra raizinha. O milho irá ajudar.
Em que ano o senhor começou a trabalhar na Escola de Agronomia?
Foi em 1943 aposentei-me em 1985. Aos nove anos mudei com a minha família para uma casa na Escola Agrícola. Com 16 anos eu queria trabalhar. Trabalhei com o Dr. Phillip uns 15 anos. Meu pai aposentou-se, o Dr. Phillip me chamou e perguntou se eu queria substituir a vaga do meu pai. Eu quis, já estava bem entrosado com a rotina do campo, nessa época eu já não estava mais no laboratório. O Dr. Montenegro queria que eu permanecesse em função da sua defesa de tese. Tudo que era enxertia, estaquia eu fazia. Continuei morando na casa, antes disso a escola estava mudando um pouco e precisava dos prédios. A ESALQ adquiriu aquela parte da frente, próxima a Avenida Centenário, era tudo propriedade particular, não era da escola e construiu uma casa para o meu pai ali. Quando meu pai aposentou-se eu fiquei na casa em que ele morava. Já era fora da Escola, embora pertencesse a Escola.
A condução que o senhor usava para ir ao centro da cidade era o bonde?
Usava o bonde para ir a qualquer lugar, a Avenida Carlos Botelho era com o chão de pedregulho. As lâmpadas eram muito fracas, não chegavam a clarear nem o chão. Quando perdia o último bonde, as onze horas, tinha que vir a pé. Ia do centro até a Rua Santa Cruz e caminhava até chegar a Escola. Tudo terra. Pedregulho e cachorrada latindo atrás, a gente andando a noite no escuro.
Quando o senhor assumiu a chefia, quantos funcionários o senhor tinha como seus subordinados?
Tinha 73 funcionários. A seção de horticultura era a maior seção da Escola. Todos os parques da Escola, esses gramados, a Engenharia, o tanque, tudo era cuidado pela horticultura.  Só nesse parque eu tinha 10 funcionários. Tinha mais funcionários no  pomar, dos dois lados do Campo de Aviação.
Ia até o Campo de Aviação?
O Campo de Aviação está no meio do pomar. A Usina Monte Alegre precisava de uma área ideal para utilizar como campo de viação. A área escolhida foi onde está até hoje. A divisa da Usina Monte Alegre é logo após o campo, onde tem um declive, tinha uma nascente de água, dentro da Escola, é a que abastece a Escola hoje. O Morganti, propôs à Escola em trocar: ele dava uma área que lhe pertencia e a Escola dava-lhe a área onde estava o pico, ideal para a pista do Campo de Aviação. A Escola concordou. Foi feita uma permuta, o terreno dele que era só cana-de-açúcar nós transformamos em um pomar. Depois o Campo de Aviação precisou de mais terreno, o governo passou a doar mais alguns pedaços. Então arranca todo o pomar e vai aumentando o campo. A Fazenda Areão era ocupada pela ESALQ, atualmente encontram-se instaladas a Escola de Engenharia de Piracicaba e a Faculdade de Odontologia de Piracicaba FOP- UNICAMP.
Os produtos que a ESALQ produzia eram comercializados?
A horta pertencia a Horticultura, tinha três homens trabalhando na horta. Havia dois homens trabalhando na floricultura, plantávamos todo tipo de flor. Os produtos que colhíamos, vendíamos, nós precisávamos da renda, não tínhamos dinheiro.
Quais máquinas eram utilizadas?
Era tudo movido com burro. Arado, burro carroça. Depois de muito tempo adquirimos um trator Zadruga, esse trator está lá até hoje. Depois ganhei da seção de máquinas  um trator velho para cortar a grama da Escola, era um Massey Ferguson. Antes a grama embaixo das árvores era cortada com alfanje. . Aí comprei o tratorzinho pequeno, coloquei o trator grande no campo e o pequeno em locais onde o acesso era mais delicado. O resto da turma estava toda no pomar, carpindo na enxada. Eram pomares grandes de abacate, laranja, manga, tínhamos 56 variedades de mangas. Mais tarde o Professor Salim Simão ficou catedrático e passou a ser conhecido pelos seus conhecimentos inclusive na cultura de mangas. O Professor Salim Simão tinha uma grande confiança no meu trabalho, delegava muita responsabilidade para que eu cuidasse com afinco do pomar. Tenho boas lembranças do Professor Salim, uma excelente pessoa. Foi uma pessoa que teve muitas dificuldades no seu inicio, ele morava no sítio no hoje Bairro da Pompéia, quando chovia ele tinha que vir de lá e não tinha carro. O irmão dele o trazia com uma charretinha, debaixo de chuva. Ele já era professor. Naquele tempo tinha um livro em cima da mesa do Filipão, como era conhecido o Dr. Phellipe, era o livro-ponto, os professores assistentes tinham hora para entrar e hora para sair. Tinham que assinar o livro.
O senhor conheceu o Professor Doutor Friedrich Gustav Brieger?

O Professor Brieger foi um grande amigo, ele gostava muito de mim. Ele tinha verba, conseguia junto a seus contatos no exterior, a Fundação Rockefeller estimulava o ensino e a pesquisa, destinando recursos próprios.  O Dr. Brieger tinha um grande prestigio junto a Fundação Rockefeller, com isso obtinha recursos com mais facilidade. Até mesmo os meios de locomoção eram renovados anualmente. Dispunha de implementos agrícolas e até mesmo tratores com facilidade. Tudo doado por entidades estrangeiras. O Brieger era uma pessoa que trabalhava muito. Um dos seus objetivos era ter a maior variedade de orquídeas possível. Para aumentar a coleção da ESALQ. Na nossa região, percorríamos toda a redondeza de Piracicaba. Cada vez que ele saia com a perua para procurar novas espécies de orquídea ele me telefonava e íamos juntos. Passávamos o domingo no mato coletando orquídeas. O Brieger era excelente, um cientista. Conheci o Professor Dr. Guido Ranzani, o “Guidão”, era gente boa! Foi o responsável pela criação e direção do Centro de Estudos de Solos da ESALQ. A ESALQ me proporcionou além de uma carreira a realização de grandes amizades, com pessoas de grande projeção como o Professor Dr. Jairo Ribeiro de Mattos, um grande amigo, com o qual sempre que podemos conversamos e trazemos as lembranças gloriosas dessa grande instituição que é um orgulho para Piracicaba e para o Brasil, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – ESALQ. 
Antonio Gorga nasceu a 4 de agosto de 1928, em Piracicaba, no Bairro Alto, próximo onde atualmente é o Corpo de Bombeiros, na Avenida Independência. Ali era uma região formada por chácaras: das famílias Gorga,Carrara, Picinatto, e outras, elas tomavam parte do leito carroçável da Avenida Independência que não era senão um pequeno “carreador”. Seu avô trabalhou na ESALQ. Seu pai trabalhou e morou na ESALQ  por 35 anos. Aos nove anos de idade Antonio Gorga mudou-se com seus pais para uma casa pertencente a ESALQ. Aos dezessete anos foi um dos garotos que ajudou na construção do aviário da ESALQ. Antonio Gorga trabalhou na ESALQ de 1943  até aposentar-se em 1985. Foi encarregado da Horticultura, que além de cuidar das verduras e legumes, cultivavam flores das mais variadas espécies. Foi responsável por 73 funcionários. Um dos seus passatempos prediletos era acompanhar o reconhecido cientista Professor Doutor Friedrich Gustav Brieger, ambos aos finais de semana internavam-se nas matas da região em busca de novos espécimes de orquídeas, formando um dos mais ricos acervos de orquídeas brasileiras. Antonio Gorga sempre foi um homem de campo, Como auxiliar de laboratório em seu trabalho praticamente anônimo teve participação fundamental nas experimentações que geraram grandes teses de renomados nomes da ESALQ. Fez muitas amizades, com nomes de expressão no cenário nacional. Conserva muitos amigos, entre eles o Professor Doutor Jairo Ribeiro de Mattos, um apaixonado pela ESALQ e pelo Lar dos Velhinhos de Piracicaba, local que conheceu mais proximamente quando ainda era estudante da ESALQ e foi responsável pelo plantio de inúmeras mudas de árvores.  Antonio Gorga manifesta sua tristeza em ver o pomar que formou e aos poucos foi sendo substituído por outras culturas, por construções de prédios.Antonio Gorga nasceu a 4 de agosto de 1928, em Piracicaba, no Bairro Alto, próximo onde atualmente é o Corpo de Bombeiros, na Avenida Independência. Ali era uma região formada por chácaras: das famílias Gorga,Carrara, Picinatto, e outras, elas tomavam parte do leito carroçável da Avenida Independência que não era senão um pequeno “carreador”. Seu avô trabalhou na ESALQ. Seu pai trabalhou e morou na ESALQ  por 35 anos. Aos nove anos de idade Antonio Gorga mudou-se com seus pais para uma casa pertencente a ESALQ. Aos dezessete anos foi um dos garotos que ajudou na construção do aviário da ESALQ. Antonio Gorga trabalhou na ESALQ de 1943  até aposentar-se em 1985. Foi encarregado da Horticultura, que além de cuidar das verduras e legumes, cultivavam flores das mais variadas espécies. Foi responsável por 73 funcionários. Um dos seus passatempos prediletos era acompanhar o reconhecido cientista Professor Doutor Friedrich Gustav Brieger, ambos aos finais de semana internavam-se nas matas da região em busca de novos espécimes de orquídeas, formando um dos mais ricos acervos de orquídeas brasileiras. Antonio Gorga sempre foi um homem de campo, Como auxiliar de laboratório em seu trabalho praticamente anônimo teve participação fundamental nas experimentações que geraram grandes teses de renomados nomes da ESALQ. Fez muitas amizades, com nomes de expressão no cenário nacional. Conserva muitos amigos, entre eles o Professor Doutor Jairo Ribeiro de Mattos, um apaixonado pela ESALQ e pelo Lar dos Velhinhos de Piracicaba, local que conheceu mais proximamente quando ainda era estudante da ESALQ e foi responsável pelo plantio de inúmeras mudas de árvores.  Antonio Gorga manifesta sua tristeza em ver o pomar que formou e aos poucos foi sendo substituído por outras culturas, por construções de prédios.
O senhor praticou algum esporte?
Joguei futebol em um dos principais clubes do futebol amador que foi o São João da Montanha. Esse time tem a origem do seu nome na Fazenda São João da Montanha, de propriedade de Luiz Vicente de Souza Queiroz e doada ao Estado para a construção de uma escola agrícola. Eu jogava como beque esquerdo, o pessoal reclamava um pouco porque eu jogava meio pesado. Joguei todo o campeonato, fiquei tri-campeão na cidade. Um dos nossos adversários mais ferrenhos era o River Plate  da Vila Rezende.
O senhor conheceu o Dr. Jairo Ribeiro de Mattos em que época?
Eu o conheci quando ele ainda trabalhava na Casa da Lavoura. Depois que ele ingressou na ESALQ.
A ESALQ cresceu muito?
A escola cresceu, mas a meu ver o piracicabano não a valoriza como foi no passado. Era muito frequentada pela cidade todos os dias. Andavam, passeavam adquiriam verduras, tinha um ponto de venda de frutas, verduras, flores. Tínhamos mudo de todo tipo de planta que se possa imaginar, principalmente as frutíferas. Da estrada do Monte Alegre para lá, aquilo era tudo viveiro de mudas. Vendíamos barato. Eu tinha o preço da concorrência, como as mudas de Limeira, por exemplo, vivíamos pela metade do preço. A cada 15 dias ia até o Mercado Municipal de Piracicaba, fazia um levantamento de preços e vendia cinquenta por cento mais barato. Com esses recursos fazia uma caixinha para as necessidades básicas da seção. O dinheiro da renda do mês eu recolhia para a reitoria, a reitoria devolvia à diretoria da escola, Setenta por cento do valor vinha para o nosso departamento, trinta por cento ficava com a finalidade de ajudar nas despesas da diretoria.
E defensivo agrícola já era utilizado?
Usava-se muito pouco. Não tinha dinheiro para adquirir também, naquele tempo as coisas eram difíceis. O mais utilizado na época era o BHC,  um inseticida sua sigla advém do nome inglês - Benzene Hexachloride - é um produto que combate pragas na lavoura Seu uso foi banido.
E  a frase a frase “Ou o Brasil acaba com a Saúva ou a Saúva acaba com o Brasil”?
Eu tinha três homens o dia inteiro trabalhando só na máquina para exterminar a saúva. A máquina era composta por uma ventoinha, dentro de uma caixa de ferro fundido, enchia de carvçao, colocava fogo no varvão, colocava a saída de uma mangueira na entrada do “olheiro” do formigueiro. Abria a tampa  daquela fornalha colocava duas colheres de arsênico. O arsênico descia junto ao carvão em brasa e saia junto com a fumaça. Essa fumaça entrava pelo canal, ficavam dois homens, andando com a enxada na mão e fechando os “olheiros” onde saia a fumaça. Matva aquele mas vinha outro, vinha muito do Monte Alegre, da usina de cana-de-açúcar. Ninguém ia matar saúva em cana. Em novembro os iças saiam voando, caia no meio do pomar, caiam por todos os lados. Tinha dois homens que no tempo de içã pegavam a enxada e iam para o pomar passear. Quando o içá cai, afunda e forma uma panelinha para ela. As sauvinhas já começam a sair. Nesse caso não precisa de veneno, com a enxada cavoca e mistura tudo. Mata com a enxada, Isso um mês depois que o içá caiu e já formou um formigueirinho. Quando está em um local cheio de capim, não se enxerga com facilidade essa panelinha.
E cobras tinha muitas?
Cobra sempre teve. Nunca tivemos funcionários picados de cobra. Tinha jararaca, jararaquinha e jaracuçu. A jararaca tem uma característica, você pensa que ela foi embora ela volta, é dissimulada. Cobra não ataca as pessoas. Nós é que as atacamos. Se você não bater nela ela n]ao faz nada. Ela vai embora, foge da gente.
Hoje é comum termos estudantes de agronomia do sexo masculino e feminino, antigamente era assim também?
Era comum ter no máximo uma ou duas moças que estudavam agronomia. Ultimamente aumentou muito o número de mulheres que fazem o curso. Hoje a ESALQ está mais voltada à pesquisa.
Como surgiu a intenção de construir uma usina de açúcar dentro da ESALQ?
Surgiu com a iniciativa do Professor Dr. Jaime da Rocha de Almeida, diretor da ESALQ. Naquela época as usinas de açúcar estavam no auge, com uma usina funcionando dentro da escola o aluno tinha a facilidade de aprender tudo ali dentro, já para sair, trabalhar ou montar uma usina. Ao que contam a verba para concluir o prédio da usina infelizmente não foi deliberada. E caso estivesse entrado em atividade atualmente não teria mais condições de funcionar.
O senhor conheceu o Engenho Central?
Muito! Carregava bagacinho de cana para usar na composição de esterco para a Horticultura. Eu mandava o caminhão com dois homens, até a hora do almoço lotava o caminhão de bagaço de cana de açúcar. Na zootecnia eu mandava uma carroça por dia, eu aproveitava o esterco dos bezerros. Todo dia um funcionário meu colocava uma carroça na esterqueira para curtir. Não tinha dinheiro para comprar adubo. Plantava milho para alimentar 36 burros. Eram burros chucros, que vinham de Minas Gerais, tinha dois funcionários meus, dois irmãos: Silvio Pavão e Virgilio Pavão, dois irmãos, que os domavam. Três burros eu tirava para puxar charrete. Um era para uso da esposa do Dr. Phillipe em sua charrete esse era o único que usava ferradura. Os demais não precisavam porque só andavam na terra.
O Rio Piracicaba passa pela ESALQ?
Passa entre a Fazenda Areaão e o bairro Santa Rosa. O Piracicamirim passa no meio da ESALQ,Tem um salto no meio do mato, é uma beleza, Tinha a colônia da Zootecnia, a colônia da Fazenda Modelo, a colônia da Horticultura, a colônia do prédio principal e a colônia do Pombal. Todas cheias, hoje estão todas fechadas. Hoje estão todas fechadas.
O senhor mantém contato com o pessoal daquela época?
Infelizmente com poucos, uma boa parte já faleceu. Dos funciorios, de setenta e poucos sei de apenas dois que estão vivos.
Atualmente temos frutas com aspectos muito bonitos, mas não são tão saborosas como eram antigamente. Por que?
Quando trabalhava na Hoticultura da ESALQ cheguei a usar uma variedade de caqui permitia transformá-lo em passa, plantei uma verdadeira coleção de Tâmara na ESALQ.Colhia a tâmara, colocava em um quarto, passava enxofre pra não dar fungo, deixava amudaerecer, todos os dias tinha que ir lá colher. Hojes são frutas sem sabor, não tem açúcar suficiente, são produtos híbridos. Antigamente tinha a laranja Serra D`Agua, era enjeitada, é uma laranja antiga, ninguém ligava para ela, Agora deram esse nome á um tipo de laranja baiana. Hoje o  mamão é uma fruta que está bem cultivada. Infelizmente a pulverização aérea da cana-de-açúcar destrói tudo. E depois que me aposentei, no meu sítio tive leiteria, parei. Passei a trabalhar com carneiro, cheguei a ter 300 cabeças parei também.
Sou muito amigo do Marinho, da Agropecuária Marinho. Trabalhamos na ESALQ na mesma época.  Conheci muito Dr. Walter Accorsi. Assim como era utilizado fórceps para fazer um parto humano com dificuldades, o Spalini usava trator para auxiliar as vacas a parirem. Isso é muito antigo. Urgel de Lima, formou-se e tornou-seprofessor da ESALQ onde aposentou-se. 

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