domingo, janeiro 27, 2013

NATÁLIA RIBEIRO HILÁRIO BROZULATTO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 19 de janeiro de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADA: NATÁLIA RIBEIRO HILÁRIO BROZULATTO

A jovem de aparência simpática, um tipo físico delicado, pode induzir quem a vê a cometer o engano de que se trata de uma moça frágil e até mesmo indefesa. Natália é praticante de artes marciais, integrante da seleção que representa o Brasil no caratê. Já viajou para muitos países, realizou grandes conquistas. Determinada, forjou sua carreira de atleta vencendo inúmeros obstáculos. Natalia nasceu em Marília a 28 de janeiro de 1990, reside em Piracicaba há oito anos. Filha de Sonia Ribeiro e Diogo Antonio Hilário Brozulatto. Ainda recém nascida foi morar com a família em Limeira, mais tarde mudaram-se para Iracemapolis. Assim que terminou o colegial mudou-se para Piracicaba onde se formou em Educação Física na UNIMEP. Natália tem uma irmã mais velha do que ela, chamada Giuliana e um irmão mais novo chamado Germano. Todos iniciaram a prática de artes marciais, caratê, capoeira, sendo que apenas Natália seguiu a carreira como profissional.


Quem influenciou você e seus irmãos para a prática de esportes?


Nós três assistíamos filmes de lutas, depois brincávamos simulando as lutas assistidas. Em Limeira passamos a freqüentar o Clube Grã São João onde tivemos a oportunidade de treinarmos.


Qual é a sua sensação quando está praticando uma luta?


Além de ser uma atividade física que traz muitos benefícios para o corpo, para a saúde, atingi um estágio onde penso muito em rendimento, quero melhorar cada dia mais, os detalhes para mim são fundamentais. Pelo tempo que estou praticando caratê, a prática do mesmo não é uma novidade para mim. Desde os cinco anos de idade pratiquei algum esporte: caratê, vôlei, futebol. É gratificante saber que ainda menininha procurava galgar alguma vitória e hoje estou na Seleção Brasileira, viajando para vários países, conhecendo povos e costumes diferentes, vivendo do caratê. É uma realização pessoal.

Com quantos anos você passou a defender o Brasil através da Seleção Brasileira?


Ingressei na Seleção Brasileira aos 16 anos, onde estive nas categorias juvenil, sub-21, juniores. Hoje integro a seleção adulta principal. Sou tri-campeã brasileira na categoria adulto, nas categorias menores tenho muitos títulos. No total sou oito vezes campeã brasileira, sendo três vezes consecutivas campeã na categoria principal. Hoje, janeiro de 2003, tenho 22 anos de idade, acumulo um grande número de títulos para a minha idade.


Você tem patrocínio?


Tenho alguns colaboradores. Formei-me na UNIMEP com bolsa de estudo, patrocinada pela universidade. Quem me apóia muito é o Sindicato dos Metalúrgicos, o Grupo Labmat , a Tatu Suplementos, o English Center que ajuda com uma bolsa estudos, eu estudo inglês, o Açai Mil & Ross .


Quantas atletas defendem a sua categoria?


Duas: a Lucélia Ribeiro e eu, sendo que a Lucélia está se aposentando este ano, ela está com 34 anos, reside em Santa Catarina.


A carreira é curta?


A vida de atleta é curta. O atleta tem que estar muito bem preparado, cuidar sempre das lesões para não se agravar. Às vezes ocorre algo que impede o atleta de continuar a treinar por algum tempo. No retorno pode acontecer do treinamento não ser tão bom. Algumas pessoas são privilegiadas, não tem nenhuma lesão. Muitas vezes pelo fato de treinar intensamente pode aparecer alguma lesão. No ano passado quebrei o nariz por duas vezes. Tive uma costela quebrada, torção de tornozelo é bastante comum. É feito um trabalho de fortalecimento, prevenção de lesão, só que não se escapa, é um esporte de luta.


A noção popular é que o praticante de caratê realiza atos espantosos, como quebrar pilhas de tijolos.


Isso faz parte do caratê budô, o caratê competitivo muda muito: são socos retos, chutes diretos, sem muito intervalo, sem ser cruzado. O caratê é muito rápido. O objetivo é atingir com um critério de pontuação, de forma mais rápida o oponente. Não pode atingir-se o joelho, região da coxa, panturrilha. Pode ser atingida as costas, abdômen, peito, pescoço, rosto.


Há algum tipo de proteção?


Há o protetor de boca, mulheres usam o protetor de seios, protetor de tórax, caneleira, proteção no pé, luvas.


Você leciona caratê?


Conclui o bacharelado em educação física em 2011, em 2012, com uma bolsa de estudo, conclui a licenciatura. Sou faixa preta de caratê, que me habilita também a dar aulas.


Em alguma ocasião você precisou usar suas habilidades para se defender?


Graças a Deus nunca. Ao treinar uma arte marcial, passa-se a ter mais controle, mais paciência com coisas que anteriormente não se tolerava tanto. Quando não se treina, não se pratica algum tipo de arte marcial, você torna-se mais sensível a provocações. Hoje me sinto bem preparada com relação a isso, há um sentimento de superioridade, onde a busca do dialogo é o melhor caminho.


Quem poderia provocar algum tipo de desavença ou ameaça física sente que a sua autoconfiança tem motivos muito fortes?


Com certeza sente. Percebem que sou uma pessoa diferente.


Você tem namorado?


Meu namorado é o meu técnico, é o Diego Spigolon, proprietário de uma academia. Meu “up” no caratê foi treinando com ele, estando junto a ele.


Como ocorreu a sua primeira convocação para a seleção brasileira?


Eu era bem novinha. Primeiro tem que disputar o campeonato brasileiro, ter um bom desempenho, eu tinha 16 anos quando fui campeã do campeonato brasileiro. No caratê existem várias federações, eu disputava em uma que não era oficial, passei a disputar a oficial. Comecei a disputar com 14 anos, aos 16 tornei-me campeã pela Confederação Brasileira de Caratê. No ano seguinte participei de uma seletiva, fui para a final, comecei a treinar com a seleção brasileira juvenil, hoje mudou a nomenclatura. Fui bem, fiquei vice-campeã sul-americana. No pan-americano fui a quarta colocada.


Quais países você se lembra de ter ido para disputar títulos?


Fui para a Itália em 2006, em 2007 fui para o campeonato em Lima, Peru. Nesse mesmo ano fui para o campeonato pan-americano realizado no Equador. Em 2009 fui para El Salvador, no pan-americano, disputando a categoria sub-21. Fui ao sul americano realizado na Colômbia. Em 2012 participei dos jogos pan-americanos da categoria adulto também realizado em Medellín, Colômbia. Em 2011 comecei a ir para o “Open de Las Vegas”, um campeonato preparatório para as competições, nesse mesmo ano participei do campeonato sul americano realizado em Assunção, no Paraguai, onde tive três colocações muito boas: campeã por equipe, vice-campeã na categoria open e terceiro lugar na categoria até 68 quilos.


Qual é o seu peso?


Peso 60 quilos, tenho 1,64 metros de altura. Minha categoria na seleção brasileira é a de 61 a 68 quilos. Às vezes estou abaixo dessa categoria, estou sempre ingerindo água.


E as olimpíadas?


Caratê não é olímpico, está tentando galgar esse espaço faz muito tempo. Vamos ver se em 2016 o caratê entra como experimental nas olimpíadas do Rio de Janeiro. O Brasil pode colocar um esporte, esperamos que seja o caratê. S e isso acontecer o caratê torna-se olímpico.





Quantas horas você treina por dia?


De três a cinco horas, inclusive aos sábados.




No Brasil, atletas de todas as áreas afirmam que falta incentivo para a pratica de esportes, você concorda?


É verdade. Além dos apoios que recebo, preciso participar de muitas competições, em cada competição as despesas são elevadas. Mesmo fazendo parte da Seleção Brasileira a maioria dos campeonatos não são pagos. Eu não ganho nenhum centavo da seleção brasileira. Hoje sou contratada por uma cidade de Santa Catarina, eles me pagam uma mensalidade.


Você mora em Piracicaba, e recebe incentivo de uma cidade de Santa Catarina?


Eu disputo por Itajaí, Santa Catarina porque tenho um contrato. Espero que este ano possa defender Piracicaba com garras e dentes. Aos 18 anos comecei disputando por Piracicaba, houve algumas mudanças, chegaram a me chamar, só que por um valor muito pequeno, eu não tinha como aceitar. Em 2008, 2009 e 2010 disputei por Piracicaba. Em 2011 mudaram as condições. Fui chamada por outra cidade contratada por um valor de quatro a cinco vezes maiores do que Piracicaba oferecia. Atletas de fora da nossa cidade recebiam valores acima do que me foi oferecido, para representar Piracicaba. Fiquei por dois anos disputando por Pindamonhangaba. Este ano, 2013, está indo tudo bem para que eu volte a disputar por Piracicaba. Estou feliz da vida, não é a mesma coisa disputar um título por outra cidade que não seja a sua. Como atleta profissional de esportes eu procuro agir a altura.


O caratê é uma opção para os jovens com tempo ocioso?


Não só o caratê como todo esporte. Acredito que têm que haver projetos de iniciação esportiva, núcleos esportivos, é um meio onde a criança vê a oportunidade de se superar, de autoconhecimento, disciplina. Fui uma menina que sempre tive dificuldade financeira, o esporte é que me deu uma estrutura para estabelecer minhas metas. Há muitos casos em que a estrutura familiar é falha, se não houver uma compensação o jovem entra em área de risco. Eu estava cercada de oportunidades para desenvolver um comportamento autodestrutivo. O esporte pode interferir na formação do caráter de uma pessoa. O professor tem que ser muito responsável, ele que conduz, deve tomar cuidado com as palavras.


Você é um ícone do esporte nacional?


Sou. Muitas pessoas me conhecem e eu não as conheço. Sou considerada um ícone do esporte. Sou muito conhecida, embora não seja famosa. O caratê tem que crescer muito.


Em nosso país certas profissões têm grandes dificuldades de reconhecimento, inclusive financeiro, você acredita que no futuro isso pode mudar?


Pode melhorar como já melhorou para mim. Antes eu trabalhava para poder pagar o meu treino, era garçonete aos finais de semana em Iracemápolis. Aos 12 anos. em 2002, comecei a trabalhar., só para pagar os meus treinos.


Você sabia que pelo Estatuto da Criança e Adolescente com essa idade é proibido trabalhar?


Sabia. Mas acredito que só cresci como pessoa. Passei a dar valor a tudo, ao dinheiro que ganhava que gastava. Eu era diferente de uma criança de 12 anos, era madura.


Você é vaidosa?


Sou. Apesar de praticar um esporte que envolve luta, freqüento salão de beleza, faço uma progressiva no cabelo, pinto as unhas. Só que em uma luta isso tudo passa para um segundo plano, tenho que ter um rendimento máximo, se for caso refaço unha e cabelo depois de ganhar a disputa.


Qual seu maior sonho?


Que o caratê se torne olímpico e que eu possa participar de uma olimpíada.


Você já foi convidada para protagonizar anúncios?


Já, realizei um trabalho para a loja “Aparência”


Sua estatura não é avantajada, já ocorreu de lutar contra uma adversária com estatura muito superior?


Na categoria “open” posso disputar com uma menina de 50 quilos até 80 quilos. Em Las Vegas lutei com uma menina da Alemanha, muito grande, que quebrou o meu nariz. Eu estava ganhando de 4 a 0. Após ela atingir e quebrar meu nariz, provocar muito sangramento, ela conseguiu virar o resultado. No ano passado fiz muitas lutas bonitas, ganhei o título para o Brasil que ficou campeão geral do Sul Americano com a medalha que eu trouxe.


O caratê ajuda no caso de crianças hiperativas?


Ajuda muito. A criança vem até a academia, gasta o excesso de energia, vai para casa deita e dorme. O número de mulheres está crescendo muito em todas as modalidades de lutas. Seja por redução de peso, autodefesa. O caratê vem de uma filosofia, não envolve apenas lutas.


Diego Spigolon, proprietário da academia onde Natália treina e trabalha, fez um depoimento bastante animador sobre o futuro do caratê em Piracicaba.


Para 2013 apresentamos um projeto que teve bastante receptividade por parte do Dr. Pedro Mello, esta quase acertada a nossa retomada do controle da equipe piracicabana de caratê. Tivemos o apoio de todos os professores de Piracicaba. Quero destacar a participação do professor Gilson Felipe da Associação dos Funcionários Públicos de Piracicaba e do professor Silvio Giatti. Há uma possibilidade muito grande de assumirmos e trazer a Natália de volta a casa para representar nossa cidade de uma forma muito prazerosa.










DINIVAL TIBÉRIO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 19 de janeiro de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADO: DINIVAL TIBÉRIO

 
Dinival Tibério nasceu em Piracicaba a 27 de abril de 1942, filho de Paulo Tibério e Angela Cocco Tibério que tiveram os filhos Anaide, Dinival, Laerte, Marlene, Humberto e Paulo, o Paoléo fotógrafo do Jornal de Piracicaba.


Você morava em que bairro?


Nasci e fui criado na Cidade Alta, na Rua Aquilino Pacheco entre a Rua D. Pedro I e D. Pedro II.


O seu pai tinha qual atividade profissional?


Ele foi construtor e goleiro do XV de Novembro de Piracicaba, ele jogou de 1940 a 1944, era conhecido como Tibério. Isso no então Estádio Roberto Gomes Pedrosa. Onde hoje é o Estádio Barão de Serra Negra era um bosque, tinha um campo de futebol de várzea, do Paulistano.


Você freqüentou quais escolas?


Estudei no Grupo Escolar Dr. João Conceição, ao lado da Igreja dos Frades, depois estudei no Grupo Escolar Dr. Alfredo Cardoso. Sou formado em jornalismo pela UNIMEP. Rádio eu comecei na antiga Rádio A Voz Agrícola do Brasil, mais tarde tornou-se Rádio Alvorada e atualmente é a Onda Livre. A Rádio A Voz Agrícola ficava na Rua Moraes Barros entre a Rua José Pinto de Almeida e Rua Santa Cruz.


Na rádio “A Voz Agrícola do Brasil” como foi seu início?


O time do Santos Futebol Clube ia jogar com o XV de Novembro, no Estádio Roberto Gomes Pedrosa. Eles estavam concentrados em Águas de São Pedro. Deram-me a tarefa de entrevistar as feras do Santos: Gilmar, Zito, Dorval, Mengaldo, Coutinho, Pelé, Pepe. O gravador na época era enorme, pesado, com fita de rolo. Era uma mala de porte significativo. Fui com a viatura da rádio. Pensando como iria enfrentar esse desafio. Lembrei-me de que Wilson Antonio Honório, o Coutinho, foi criado comigo no Bairro Alto. O pai dele era pedreiro, trabalhava com o meu pai. Imaginei que a salvação da lavoura ia ser o Coutinho. Assim que cheguei, na entrada do hotel já tinha uns verdadeiros “guarda-roupas”, eram os segurança do Santos. Perguntaram-me: “O que você quer aqui garoto?”. Identifiquei-me e disse que desejava conversar com o Coutinho. Entraram em contato com ele pelo interfone, Coutinho desceu, expliquei o que eu necessitava: realizar uma entrevista com o pessoal do Santos. Ele perguntou-me: “Serve o meu compadre?” Era o Pelé. Pelo interfone ele entrou em contato com o Pelé, que desceu. Expliquei ao Pelé que dependia daquela reportagem para ganhar uma vaga na rádio. Sugeriu que fizesse a entrevista ao vivo, ele acertou com o gerente do hotel, de lá liguei para a rádio, o operador não acreditou que o Pelé estava ao meu lado. O Seu Caldeira ordenou para colocar imediatamente no ar. O Pelé estava no auge, isso foi entre 1954 a 1955. Em 1958 ele foi campeão do mundo pela seleção brasileira. Fiz a entrevista com Pelé, no ar. Depois entrevistei Gilmar, o time inteiro do Santos.


Ao voltar para a rádio qual foi a reação que você encontrou?


Quando eu cheguei à rádio o Caldeira queria saber como eu tinha feito para conseguir aquelas entrevistas com os jogadores, era muito difícil entrar na concentração, principalmente do Santos, que era o melhor time da época. Disse-lhe que tinha cumprido a tarefa, a forma como consegui era habilidade da minha parte e que não desejava revelar, era segredo de imprensa.


Você conquistou um lugar na rádio, o que passou a fazer?


Cobria o esporte amador, o varzeano, basquete, vôlei. Depois passeia ser setorista do XV de Novembro.


O que é setorista?


Acompanhava o dia-a-dia do XV, treinamento, amistosos, contratações.


Atualmente você tem um programa fixo em uma rádio?


No último dia 5 de janeiro completei 24 anos no ar só na Rádio Educadora de Piracicaba. O programa chama-se “Bola na Várzea”. Esse nome foi criado por mim e até hoje está no ar. É apresentado todos os sábados das 12 ás 13:30. Falo do futebol da várzea, futebol amador, englobo todos os esportes de Piracicaba, jogo de botão, jogo de baralho, bocha, jogo de malha, o que me mandar eu divulgo, tudo que for esporte é divulgado nesse programa. O SESC é quem patrocina o jogo de futebol de botão, é praticado por adultos. Não focalizo as equipes de São Paulo, a mídia paulistana já divulga muito sobre esses times.


Como ocorreu essa sua identificação com o futebol de várzea?


Comecei a praticar futebol na várzea, jogava como quarto zagueiro. Hoje está fácil jogar bola, antigamente era difícil. Antigamente para vestir a camisa do XV tinha que ser craque. O futebol mudou muito, o jogador bem preparado fisicamente é craque. Antigamente ele tinha que ter habilidade. Não havia a mordomia que existe hoje: o material ajuda, a bola ajuda, tem fisioterapeuta, fisiologista, concentração. Não existia nada disso.


Futebol amador e varzeano é a mesma coisa?


Não. Futebol amador pertence a Liga Piracicabana de Futebol, filiada a Federação Paulista de Futebol. A Associação Varzeana de Futebol é filiada a Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Atividades Motoras (Selam).


Quem mantém a Associação Varzeana de Futebol?


A prefeitura cede o espaço, localizado embaixo das arquibancadas do Estádio Barão de Serra Negra. As pessoas que trabalham aqui são todas voluntárias, inclusive eu, nós trabalhamos por gostar de esporte. Temos uma subvenção da prefeitura para manutenção do local. Sou aposentado, quebro o galho no rádio, faço matérias para o Jornal de Piracicaba. Comecei a fazer jornalismo na Tribuna, devo muito ao Evaldo Augusto Vicente, um grande amigo. Trabalhei por seis anos na Tribuna como editor de esportes isso no tempo em que não havia internet, era tudo escrito a máquina de datilografia, as fotos nós tínhamos que correr atrás delas. Após seis anos recebi uma proposta para trabalhar no Jornal de Piracicaba, onde por 25 anos trabalhei. Hoje qualquer um é jornalista, qualquer um é radialista. Antigamente fazer a mesa de rádio era muito mais difícil, hoje se aperta um botão a rádio entra no ar, Para fazer reportagem de campo havia os cabos, era comum enrolarem, em uma partida entre XV e Santos na Vila Belmiro, na época o repórter podia entrar no campo, entrei com o microfone e o cabo no campo, embaralhei, com o cabo do repórter da Tribuna de Santos, o árbitro queria cortar os dois cabos, os jogadores do XV não deixaram, todos fora ajudar a desenrolar o fio, a torcida agitando. Retardamos o jogo quase meia hora. O XV para não ser rebaixado dependia do resultado de outro jogo que se realizava em determinada cidade, com o atraso da partida ficamos sabendo do resultado favorável ao XV, bastava empatar com o Santos, o que de fato ocorreu, com isso o episódio do cabo acabou sendo positivo para o XV.


Quantos times de futebol varzeano existem em Piracicaba?


Oitenta equipes. A Associação Varzeana de Futebol foi fundada por mim em 1996 que passou a funcionar nesta sala que estamos ocupando e que tem o nome de Francisco Jesuino Avanci, o Chicão, foi ele quem inaugurou esta sala. Chicão foi um grande atleta, jogou no São Paulo, Atlético, Seleção Brasileira. Equipes de futebol amador existem 29.


Essas oitenta equipes dependem da Associação Varzeana?


Eles dependem da associação para sobreviver. Agendo jogos para eles o ano todo. Promovemos campeonatos em parceria com a Selam. No primeiro semestre promovemos o “Copão da Várzea” e o “Campeonato de Veteranos”. No segundo semestre promovemos o “Campeonato Varzeano” e o “Campeonato Sub 20”, também promovemos “Chuteira de Ouro” e “Luva de Ouro” Bola Branca Esportes., para o melhor jogador e para o melhor goleiro da várzea.


Quais times varzeanos que deixaram de existir?


Os varzeanos antigos, que pararam, foram o Benfica, Portugal, ambos da Vila Rezende, o Bangu, o Nacional, Madureira, Penharol, da Paulicéia.


A diferença entre futebol amador e varzeano é a filiação?


É a filiação, mais nada. Quem alimenta o futebol amador com revelações de atletas é o futebol varzeano. Fui um dos fundadores do Olímpico Futebol Clube, juntamente com o Carlos Francisco Puerta, Cláudio Coradini, Carlinhos Pescuma, Carlos Alberto Totti. É a equipe de várzea mais antiga de Piracicaba, deve ter completado 45 anos. Eu joguei uns oito anos no Olímpico.


Esses times jogam em que campos?


Em todos os campos existentes na cidade, inclusive na gestão do prefeito Barjas Negri e do secretário de esportes Pedro Mello, foram construídos 25 campos de futebol, com alambrado, vestiário. O meu sonho é construir um centro esportivo para o futebol amador e varzeano de Piracicaba. Já iniciamos no Estádio Pedro Morganti, no bairro Monte Alegre. Toda infra-estrutura está sendo realizada. Toda decisão do futebol amador,varzeano, feminino, juniores, infantil, será lá. Fizemos uma proeza em Piracicaba, transmitir os jogos da várzea pela internet. O narrador é Ronaldo Ducatti, como comentarista trabalharam conosco Adriana Passari, Samanta Marçal, André Camargo. Eu como repórter de campo. Fomos os pioneiros em transmitir futebol de várzea pela internet, tanto que ela é conhecida no mundo todo. Recebemos e-mails de Portugal, Alemanha, Espanha, México, Argentina e muitos outros países. O endereço é www.multiemidia.com.br


Como surgiu o futebol feminino em Piracicaba?


É outra atividade em que fui pioneiro em Piracicaba. Fui presidente da Liga Piracicabana de Futebol de 1980 a 1983. Fui diretor de futebol amador e do profissional do XV de Novembro. O futebol amador antigo era composto pelo MAF, que parou, União Costa Pinto, Clube Atlético Piracicabano, Estrela Dalva, Vila Boyes, El Tigre, Nacional, Sociedade Recreativa Palmeiras, XV Escola, Ferroviária, São João da Montanha, Flamengo, Tupi, União Monte Alegre, Katatumba, Saltinhense. Essas equipes pararam.


O jogador de futebol varzeano tem alguma remuneração?


Pelo contrário, pagam para jogar: lavagem de uniforme, condução. Jogam por amor ao esporte. No futebol amador tem jogador que recebe alguma remuneração. Na várzea é o contrário, eles sustentam a própria equipe. O futebol feminino nasceu quando fui Presidente da Liga Piracicabana de Futebol, em 1982. Surgiu pelo interesse de muitas meninas em jogar futebol e não havia quem organizasse um campeonato. Realizei o primeiro campeonato de futebol feminino em Piracicaba, inclusive ajudei a montar uma forte equipe de futebol feminino no XV de Piracicaba. O XV tinha uma atleta chamada Paula, irmã do Armando Tomazzielo, na época era a Marta do futebol feminino, ela jogava no Tiririca Futebol Clube. A Emília da Rocha Lima, a Lili, torcedora símbolo do XV também jogou futebol feminino. Existiam de oito a nove equipes de futebol feminino: Treze de Maio, do Jardim Primavera, de Artemis. O futebol feminino em Piracicaba foi lançado em 1982, era uma novidade no país. Atualmente no Sindicato da Alimentação existe um time de futebol feminino.


O que desmotivou o futebol feminino em Piracicaba?


A falta de apoio. O XV de Novembro tem um dos melhores times de futebol feminino, foi realizado um torneio internacional de futebol feminino no Estádio Barão de Serra Negra.


Quais são as diferenças entre o futebol masculino e feminino?


O masculino imprime mais força física. O feminino é mais toque de bola. Tem atleta do futebol feminino que joga melhor do que atleta masculino. Um exemplo é a Marta, pode coloca-la em qualquer time de futebol que ela irá realizar uma grande partida. Ela tem explosão, é inteligente, habilidosa.


Os salários multimilionários ajudam ou prejudicam o futebol?


Prejudicam. Tem jogador que ganha muito e outros quase não ganham nada. Deveria existir uma escala salarial, onde seriam classificados os jogadores, sem essas diferenças enormes. Deveria ter um salário base desde a segunda divisão até a primeira divisão. Enquanto uns ganham milhões outros ganham alguns reais.


Porque o brasileiro gosta tanto de futebol ?


O introdutor do futebol no Brasil foi Charles William Miller, nascido em São Paulo a 24 de novembro de 1874, onde faleceu em 30 de junho de 1953, filho de pai escocês e mãe brasileira. Com dez anos de idade foi estudar na Inglaterra onde conheceu e se encantou pelo futebol. Com uma única bola 22 pessoas praticam esporte de baixo custo. É um esporte popular. Qunado fundei a Associação Varzeana de Futebol o objetivo era tirar os rapazes da rua para praticar esportes. Ao invés de se construir presídios construam-se praças de esportes, ginásios. É um dinheiro bem mais aplicado do que em presídios. Em meu programa, na abertura, sempre falo: “ Mãe, leve seu filho á igreja, não importa a religião, leve seu filho para praticar esportes, para que no futuro não tenha que visitá-lo no presídio”.E para encerrar o programa, desde que comecei a fazer rádio, a frase que uso é: “Se amanhã eu acordar Deus estará comigo, se eu não acordar estarei com ele”.


Dinival, uma iniciativa sua criou uma premiação anual concedida aos valores que se destacaram.


Em 2012 foi realizada a décima sétima edição da premiação “Melhores do Ano no Esporte e na Imprensa”. Tornou-se conhecia como o “Oscar Caipira do Interior”. Surgiu em 1995. Comecei com 10 troféus. A primeira festa foi na sala onde funciona a sede da Associação Varzeana. A Magic Paula estava no auge, a mãe dela, Dona Hilda, a Branca, todas estiveram presentes. O patrocinador dos primeiro e segundo ano foi a Passarella Calçados. O Clube Palmeiras abriu as portas para nós, onde por oito anos realizamos o evento. Quem bancava era a NM Abrasivos, do Marcos Chorilli. O Mauro Matta foi homenageado, gostou da festa e até hoje a Fast Work dá sustentação para essa festa. Realizamos a festa dois anos no Clube de Campo de Piracicaba, dois anos no SESC e dois anos no anfiteatro do Centro Cívico.


Você acredita que esse evento poderá fazer parte do calendário oficial do município?


Acredito que sim. O objetivo é incentivar quem pratica esportes e quem trabalha na imprensa, não só daqui, mas como de toda a região. A promoção é transparente, a pesquisa é feita pela empresa Teleresponde. A Teleresponde é um dos nossos patrocinadores há muito tempo.


Esporte e política se atraem?


Não se combinam esporte e política.


Voce tem idéia do número de jovens que através da sua ação com o esporte evitaram cair na marginalidade?

Foram muitos. O meu orgulho é poder tirar muitos jovens do risco da dependência química através do esporte. Tem caso em que a pessoa era dependente químico, passou a praticar esporte e hoje é um respeitado pai de família. Isso é muito gratificante. As indústrias de grande porte, o próprio governo, deveriam investir mais no esporte.










CYONÉA ED RAMOS

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 12 de janeiro de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/

ENTREVISTADA: CYONÉA ED RAMOS
Qual é a origem do nome Cyonéa?
Não sei. Quando eu estava para nascer uma tia foi morar em casa, ela estava lendo um romance em que a heroína chamava-se Cyonéa. Ela se encantou pela heroína e influenciou a minha mãe para que me colocasse esse nome. Nunca descobri qual era esse romance. Sou filha de Cecílio Ramos e Maria Santa Ramos, nasci a 9 de maio de 1935 em Nipoã, próxima a São José do Rio Preto. Meus pais tiveram mais duas filhas Celinia e Celida Maria. Após meu nascimento meus pais permaneceram em Nipoã por muito pouco tempo, mudaram-se para São José do Rio Preto onde tinham uma casa comercial que trabalhava com artigos de couro: arreios, botinas. Dali fomos para São Paulo, no bairro da Aclimação, lá permanecemos até eu completar uns seis anos. Fomos para Fernandópolis, a cidade estava sendo criada. Fiz o primário todo em Fernandópolis, era uma sala, há uns 10 anos voltei para rever a cidade e no mesmo local existe um grupo escolar. Minha primeira professora chamava-se Antonieta. O professor que se tornou inesquecível foi Paulo Sampaio Mattos, gostaria muito de revê-lo, não consegui ter notícias sobre ele. Na época eu tinha uns 10 anos, admirava-o muito. Ele era piracicabano. Voltamos para São José do Rio Preto onde fiz o curso ginasial e parte do curso normal no Colégio Santo André, mudamos para Araçatuba onde conclui o curso normal no Colégio Nossa Senhora Aparecida. Aos 18 anos, em 10 de dezembro de 1953, fui estudar em São Paulo no Colégio Sagrado Coração de Jesus, onde lecionei um pouco e assumi tarefas de direção da escola. Fiz o curso de pedagogia no Instituto Superior de Filosofia, Ciências e Letras Sedes Sapientiæ. Na época abrangendo a Rua Caio Prado, a Rua Augusta, mas com entrada pela Rua Marquês de Paranaguá. Passei a trabalhar sempre na direção da instituição de ensino. Em 10 de dezembro de 1966, logo no ano seguinte fui convidada para ser vice-diretora em uma escola particular situada na Rua Padre João Manoel, próxima á Rua Augusta, era uma escola de elite. Permaneci lá por seis anos, a escola mudou de proprietário e acabou encerrando suas atividades.

Qual foi seu próximo local de trabalho?

Fui trabalhar no Banco Nacional, entrei como gerente, na Agência República, em seguida foi transferida para a Agência São Luiz. Após algum tempo fui convidada para ir trabalhar na COMGÁS, com a função de supervisionar a parte de atendimento ao público. Situava-se na Rua Augusta, onde permaneci por 13 anos até aposentar-me. A central de atendimento por telefone foi para a Rua da Figueira e o atendimento pessoal permaneceu na Rua Augusta. Minha função era de supervisão. A minha vida sempre foi sem muitas dificuldades.

Isso é uma característica da sua personalidade?

Não sei como explicar a forma como sempre encarei as dificuldades.

Em que ano a senhora mudou-se para Piracicaba?

Foi em 1997. Morávamos em São Paulo, em pouco tempo fomos perdendo pessoas da família. Ficamos minha irmã e eu. Ela estava muito doente. Nós duas gostávamos muito de São Paulo. Passei a comentar com minhas amigas: “-Eu quero ir para o interior, morar em uma cidade que não tenha muro, cerca”. Todos riam de mim, diziam: “- Essa cidade não existe”. Visitei algumas cidades do interior, nada me agradou. Um dia uma amiga me telefonou dizendo: “ -Aquela cidade que você procura, existe!”. Ela tinha visto uma matéria veiculada pela Rede Globo sobre o “Lar dos Velhinhos” em Piracicaba. Um jornalista da Rede Globo conheceu o Lar e fez uma reportagem. Telefonei para o Lar, fui atendida por uma senhora que residia no Lar, de forma muito agradável ela fez o convite para que viéssemos conhecer. Vim. Gostei. Lembro-me muito bem que fui até a capela e orei pedindo uma orientação divina. Senti que o local era este mesmo. Negociamos a nossa casa em São Paulo e viemos.

A casa foi construída pela senhora?

A minha casa e a casa vizinha foi construída em um terreno onde seria edificado um hospital. Era um terreno considerado quase “sagrado”. Dr. Roberto Canciglieri era o diretor de patrimônio. Minha amiga Zilda que também queria vir, iria construir a sua casa ao lado da minha. A diretoria aprovou o uso do terreno, comecei a construção, a minha amiga não começava. O terreno destinado a ela foi cedido à outra pessoa que hoje está no pavilhão.

Em que ano a senhora mudou-se para o Lar dos Velhinhos?

Foi no dia 12 de fevereiro de 1997.

Qual foi a sua primeira impressão ao mudar-se para o Lar dos Velhinhos?

Perfeita. Tenho uma vizinha aqui no Lar que foi minha vizinha em São Paulo por 17 anos. Ela morava em Limeira, com seu marido. Ela veio para ajudar um pouco quando mudei, um fato pitoresco é que ela trouxe de Limeira uma panela com sopa já pronta. Ela sabia que precisávamos de algo para nos alimentar. Todos os moradores do Lar nos atenderam muito bem. Foi uma recepção maravilhosa.

A senhora passou a ter uma participação mais ativa no Lar dos Velhinhos a partir de quando?

Pelas suas condições de saúde minha irmã precisava muito de mim, eu ficava a sua disposição. Em outubro de 1998 ela faleceu. Passei a ter muito tempo disponível. Um dia estava andando pelas dependências do Lar, entrei em um pavilhão onde encontrei a Irmã Virginia. Conversando com ela perguntei-lhe como funcionava o uso de fraldas geriátricas. Ela disse que usavam pano. Comecei a trabalhar no sentido de fabricar internamente as fraldas. Fralda sempre foi muito cara. Fui até o SEBRAE, infelizmente não tiveram como me ajudar. Passei um ano inteiro trabalhando nisso, fui muitas vezes à São Paulo, a máquina de fralda infantil não dá certo. Numa dessas viagens à São Paulo, quando fui levar uma pecinha para ver se adaptava para fralda geriátrica, vi um equipamento grande, perguntei o que era e me disseram que era uma máquina para fazer fraldas geriátricas. Nessa altura adquiri uma dessas máquinas, com meus recursos, e doei ao lar. Algumas pessoas como a Mariazinha, Marina fomos para São Paulo para aprender a usar a máquina. Eles trouxeram o equipamento, Mariazinha passou a ser a operadora da máquina, Marina ajudava, e muitas pessoas passaram a contribuir com dinheiro para adquirir o material necessário à fabricação. Temos uma lista de pessoas que contribuem mensalmente para comprar a matéria prima. A 29 de setembro de 1999 fizemos o primeiro bloco de fraldas, eram 10 pacotes com 18 fraldas em cada um, totalizando 180 fraldas. Para nós foi um grande sucesso. Conduzimos com pompa e circunstância para a administração do Lar. Continuamos a trabalhar, a Mariazinha passava fralda por fralda na máquina. Surgiu uma voluntária, muito jovem ainda, começou a trabalhar como Mariazinha ensinou. Essa moça, dotada de uma habilidade própria, começou a passar as fraldas em seguida. Produzimos mais. Hoje fabricamos mais de 6.000 fraldas por mês, com a mesma máquina acrescida de mais um módulo, o que faz o corte, antes fazíamos o corte, colávamos as etiquetas e embalávamos.

Essas 6.000 fraldas produzidas mensalmente atende a demanda do Lar?

Não atende. Nossa máquina só produz fraldas médias. Faltam as fraldas G e GG.

Qual é a maior necessidade existente hoje no fraldário?

Falta mão-de-obra.

Se uma pessoa quiser ser voluntária e tiver disponibilidade de duas horas por semana ele pode ajudar?

Pode sim, tanto durante o dia como a noite. O fraldário fica permanentemente aberto. Basta a pessoa aprender e poderá passar a vir trabalhar como voluntária quanto tempo desejar. A pessoa voluntária pode sair do seu trabalho, chegar aqui as sete horas da noite e trabalhar o tempo que desejar. Basta ter vontade.

Há necessidade de mais fraldas?

Existe a necessidade. Tudo que produzimos é consumido. Sabemos que são adquiridas fraldas para atender a demanda. A máquina às vezes quebra, passamos até uma semana sem produzir nenhuma fralda. Não conseguimos manter fraldas em estoque, por falta de mão-de-obra. A nossa operadora Ana Zurk é fantástica, ela conhece essa máquina muito bem. Ela tem um circulo de amizades com muitos engenheiros, quando a máquina dá problema ela traz essas pessoas para ajudar a solucionar. Às vezes até vir um engenheiro da fábrica situada em São Paulo há uma demora. Temos custos com sua vinda: transporte, estadia.

Seria ideal ter uma segunda máquina ou não há espaço?

Espaço se arruma. Poderia ser uma máquina para tamanho G. Existe uma máquina mais completa, que exige menos mão de obra. Hoje temos uma máquina que monta e corta, antes eu e outra pessoa que cortávamos a mão. Eu só conheço um fabricante de máquinas de fazer fraldas, nessa escala de produção. Existem outros fabricantes de máquinas maiores, voltadas para indústrias, são equipamentos que custam a partir de R$ 300.000,00. Não é o que necessitamos. A nossa máquina é um pouco mais do que doméstica, mas que nos atende quase plenamente.

A senhora participa da administração do Lar dos Velhinhos?

Já fui secretária, atualmente sou diretora de patrimônio. Sou apaixonada pela gruta existente no Lar dos Velhinhos. A Marina e eu trabalhamos lá um ano inteiro na revitalização da mesma. Quando foi construído o Memorial do Lar, tivemos que revitalizar novamente. Não mudamos nada do projeto original. Fizemos a Praça São José atrás dos pavilhões Lula e Lili. Fizemos um roseiral, com a colaboração de muitas pessoas. Uns regam o roseiral, alguns ajudam na gruta.

A leitura ocupa parte do seu tempo?

Gosto muito de ler, só não tenho lido mais por falta de tempo. Estou terminando de ler “A Arte de Morrer”, uma obra com vários autores, cada um foca um segmento.

Em seu ponto de vista o que é a morte?

Acho que a morte é uma passagem. Houve um tempo em que era chique entre os intelectuais, não acreditar em nada. Era intelectual, era ateu. Comparo muito a morte com o nascimento. Ao nascer você vem de um lugar tranqüilo, gostoso e cai em um lugar totalmente novo. Ali você começa uma vida. Acho que a morte é uma continuação disso, em que você tem um renascer.

Existe felicidade plena?

Temos momentos de felicidade. É aquele momento em que você acha: “- Se eu morresse agora seria bom!”.

O Lar dos Velhinhos de Piracicaba tem atualmente quantos moradores?

Aproximadamente 520 pessoas. São 130 chalés com uma ou duas pessoas. Às vezes três pessoas. É uma cidade.

A senhora é responsável por um informativo interno?

Sou eu quem cuida. É dirigido á todos os residentes do Lar. Fica alguns exemplares na portaria, na recepção, a disposição daqueles que querem ler. O objetivo é informar. Seja um edifício, um condomínio fechado, o ato de morar em uma comunidade tem certa complexidade. Morar em uma verdadeira cidade como é o Lar dos Velhinhos envolve inúmeros fatores. O informativo é um dos instrumentos para levar as principais notícias ao morador. Elaboro no computador e depois tiro cópias. Por exemplo, a recreacionista me passa a sua programação para o mês. As atividades realizadas pelas terapeutas também são passadas para publicação.

Esses informativos podem ser enviados via e-mail para pessoas externas ao Lar?

Posso mandar basta entrar em contato pelo e-mail: cyonea@gmail.com Nesse informativo colocamos um editorial, é impressa a agenda das atividades programadas para o mês. Eventos com datas fixas e que já se tornaram tradição, com data e local determinados nem colocamos. O Clube do Vinil é um exemplo, ele é realizado todos os sabados, o forró é realizada todas as quintas-feiras. O jornal tem um obtuário, assim como temos a relação dos aniversariantes do mês. Alguns moradores, mais reservados preferem não divulgar a data de aniversário. Há a relação de novos moradores do Lar.

Quem financia o custo da publicação?

Eu.

Há interesse em ter patrocínio, mediante anuncio do patrocinador?

Com certeza, é uma boa oportunidade para quem quizer anunciar, o custo é bem acessível, além de colaborar com o Lar.

Há abertura para que estudantes ou profissionais da área de comunicação colaborem voluntáriamente?

Com certeza. Nós damos os subsídios suficientes sobre as atividades do Lar e eles podem acrescentar matérias de utilidade aos moradores do Lar.

Qual é a motivação que a leva a prestar tanta colaboração ao Lar?

Se eu não fizer isso acho que fico doente. É da minha natureza. Uma vez ouvi de uma moradora uma frase marcante: “A Cyonéa tem a remuneração dela pelo prazer de fazer”. Achei que ela tem razão.

A senhora tem algum hobby!

Trabalhar!

Gosta de música?

Prefiro a música clássica, estudei piano por seis anos, tive um piano que acabei doando, o piano estava reclamando de ficar mudo. coitado. Não tenho apego a nada.























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