PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado, 31 de agosto de 2013
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado, 31 de agosto de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADO: PADRE LUCAS MARANDI
A Paróquia Imaculado Coração de Maria,
mais conhecida como Igreja da Paulicéia, tem padres de diversas nacionalidades,
mas é com certeza absoluta a única igreja do Brasil que tem um padre que veio
de Bangladesh, Padre Lucas Marandi, que está a poucos meses no Brasil, e
comunica-se em português. Com cerca de 150 milhões de habitantes em 2012,
Bangladesh é um pouco maior do que o estado do Amapá. Bangladesh
foi governada, em diversos períodos da sua história, por hindus, muçulmanos e budistas.
Tornou-se parte do Império Britânico, quando o Reino
Unido, em 1858, assumiu o controle da Índia. Os conflitos
entre hindus e muçulmanos provocaram a divisão da Índia em duas nações 1947, quando a Índia se tornou independente. O
Paquistão, formado pelo Paquistão Ocidental e Paquistão Oriental foi criado a
partir das regiões nordeste e noroeste da
Índia. A maioria da população nas duas áreas é composta de muçulmanos. Muitas
diferenças, tanto culturais como econômicas,
dividiam os habitantes do Paquistão ocidental e oriental. Em 1971, essas
diferenças resultaram no estabelecimento do Paquistão oriental como uma nação
independente que é Bangladesh. Padre Lucas Marandi é filho de Mondel Morandi e
Elina Hembrom, nasceu na cidade de Dinajpur a 16 de junho de 1979, tem quatro irmãs.
A família
do senhor é católica?
A minha família
agora é católica. Ha quarent anos professavam o animismo (os cultos animistas alegam que: "Todas as coisas são vivas”). Tinham
uma grande fé nas forças da natureza. Cultuavam as forças espirituais dos seus
ancestrais.
Qual é a atividade profissional exercida por seus pais?
São agricultores, ainda
tem fazenda com arroz, cana-de-açucar, batata, milho, verduras. A agricultura
está cada vez mais mecanizada.
Quando o senhor era jovem ajudava o seu pai na agricultura?
Ainda jovem, estudava
de manhã e na parte da tarde ajudava meu pai. Eu plantava arroz, cana, batata.
Depois colhia quando estava na época da colheita.
Qual é a alimentação tipica do país?
O básico para nós é o
arroz e peixe.
Como se chama o idioma mais utilizado?
Nós chamamos de bangla.
Há também dialetos. O povo entende um pouco quando alguém fala em inglês. Lá é
mais comum o povo entender a lingua inglesa do que no Brasil.
O senhor fez seus estudos em que localidade?
O ensino fundamental, médio e faculdade de Serviço Social
fiz em Bangaladesh. Após concluir a faculdade entrei no seminário, fui atraído
pelos padres xaverianos que trabalhavam com as pessoas não-cristãs.
Antes de entrar para o seminário, ainda jovem, quais eram as formas de
diversões que o senhor praticava?
Eu gostava muito de jogar futebol.
O senhor jogava bem?
Sim! Era um bom atacante. Às vezes, raramente, ia ao cinema.
Qual é a religião predominante em
Bangaladesh?
O islamismo é
predominante com aproximadamente 88,3%, há outras religiões como o hinduísmo,
budismo, o cristianismo com 0,3%, cerca de 400 mil católicos. e outras. Há liberdade de prática de
diferentes religiões, cada um com suas igrejas, templos, e há respeito entre as
diferentes religiões.
O
islamismo tem regras rígidas.
Em Bangaladesh
não há regras rígidas ainda.
Como
é visto o consumo de álcool, tabaco, em Bangaladesh?
No nosso país
não existe o consumo de álcool, como cerveja, vinho, por exemplo, Tabaco é
consumido.
Quando
a família do senhor soube que tinha se dedicado a religião católica qual foi a
reação?
Uma parte da família ficou muito
feliz. Outra parte não ficou contente porque sabia que eu não iria trabalhar no
país. Hoje estou aqui no Brasil! Eles têm saudades do filho, filhos têm
saudades dos seus pais, eles estão vivos.
Por quanto tempo o senhor permaneceu
no seminário?
Fiquei dez anos no seminário. Em
Bangaladesh fiz quatro anos: filosofia, noviciado, depois fui pra as Filipinas.
Lá aprendi a língua local, tagalo, estudei inglês, após quatro anos estudei
teologia na capital, Manila. Nas Filipinas noventa e cinco por cento da
população é formada por católicos. O governo proibiu o autoflagelo que era
realizado durante a Semana Santa. No Natal é feita a novena durante nove
madrugadas. A missa começa as quatro horas da manhã.
O senhor celebrava missas em tagalo?
Sim, celebrei missas em tagalo, em
inglês, os filipinos falam bem o inglês.
Por quanto tempo o senhor permaneceu
nas Filipinas?
Nas Filipinas fiquei por seis anos.
Em que ano o senhor ordenou-se padre?
Foi a 9 de setembro de 2011 em
Bangladesh, na minha paróquia. Fui ordenado pelo Bispo Moisés Montu Costa.
Quantos idiomas o senhor fala?
Falo a minha língua materna que é o
santalé, na Ìndia tem três estados que falam esse idioma: sanatalé, falo bangala,
inglês, tagalo. Agora português. Em dezembro de 2011 comecei a aprender
português no Brasil. Após permanecer por seis anos nas Filipinas fui designado
para vir para o Brasil.
O senhor já sabia alguma coisa a
respeito do Brasil?
No ensino fundamental a escola tem um
livro com histórias sobre Pelé. O futebol brasileiro é muito bom. Time e
jogadores muito bons.
Em que ano o senhor veio para o
Brasil?
Em 20 de novembro de 2011, vim de
avião pela TAM. Desci em Guarulhos, fui levao diretamente a nossa casa na Vila
Mariana. Descansei. A tarde fui visitar a Avenida Paulista. Minha primeira
impressão foi de espanto, principalmente com as roupas que as pessoas estavam
usando. Em noossa cultura usa-se o sari. Achei o trãnsito melhor do que no meu
país.
E a alimentação?
Agora como de tudo. Apenas o feijão
que ainda não posso comer. Gosto de feijão, mas sinto que para mim ainda é
pesado. Com relação aos demais alimentos me acostumei. Gosto de cafezinho, lá
nós bebemos muito chá. Assim como aqui se toma um cafezinho, lá se toma um
chazinho.
Da Vila Mariana o senhor foi para
onde?
Fui para região de Campinas, em Hortolândia, onde temos uma casa
e permaneci por três meses, onde estudei português.
O senhor sabia falar alguma palavra em
português?
Nada. Foi muito difícil.
A língua portuguesa é tida como uma
língua rica, por exemplo, “Saudade” é uma palavra de tradução muito difícil.
Não considero uma língua complicada,
mas sim difícil. Tem muitas regras. Diferente do inglês.
A figura do padre ainda conserva muito
respeito no Brasil?
Sim, é muito respeitada.
Como é o dia do senhor?
Normalmente levanto-me as seis e meia,
temos orações, café da manhã, em seguida começamos a trabalhar. Em determinadas
noites celebramos a missa. Aos domingos temos missa de manhã e a noite. Missa
de jovens é aos sábados à noite.
O senhor aparenta ter pouca idade,
isso lhe traz problemas?
Muitos dizem você é muito jovem! Será
que tem experiência?
Prepero!
Não posso celebrar a missa sem preparação.
Como o senhor vê a comunidade?
Aqui temos treze comunidades. Também temos setores
perto da nossa igreja. A paróqui é muito grande. O povo é muito unido, isso
fica claro em algumas atividades que realizamos, como a festa das comunidades.
Ao completar 60 anos, a paróquia mostrou-se presente com a participação de
muitas pessoas. Dia 6 de setembro as 19:000 iremos sagrar 50 anos de vida sacerdotal
do Padre Giovanni Murazzo.
Os fiéis se confessam ao senhor em um
confssionário tradicional ou em um ambiente reservado, como uma sala?
A confissão é um sacramento. Conversar é outra
coisa, diferente. Assim como conselho é outra coisa. Atualmente a confissão é
feita face a face.
O senhor tem o sonho de permanecer no
Brasil ou de conhecer novos países?
Eu não posso sonhar. Todas s coisas que irei
realizar dependem do meu chefe, meu superior. Depende da vontade deles se devo
ficar aqui ou ir trabalhar em outro país. Se eu não for mandado não posso
querer ir trabalhar em determinado país, não tenho essa autonomia para
escolher.
Quantos padres vieram de Bangaladesh
ao Brasil?
Até agora só eu.
Acredito ser o primeiro e único que veio de Bangaladesh ao Brasil.
Quem
nasce em Bangaladesh recebe qual denominação?
Em português
chamamos de bengalês.
Como
o senhor vê a figura do Papa Francisco?
Ele é muito
humilde e muito próximo do povo, especialmente dos pobres, dos excluídos. É um
papa muito próximo das pessoas.
Como
o senhor vê a violência?
Ela existe onde
há a presença do ser humano. Em alguns países é maior, em outro é menor, mas
sem violência não existe nenhum país.
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