PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 07 de setembro de 2013.
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 07 de setembro de 2013.
Entrevista: Publicada aos sábados
na Tribuna Piracicabana
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http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADO: JOSÉ TIBUTINO DE SOUZA
Piracicaba criou uma tradição no
setor sucroalcooleiro, principalmente na metalúrgica
voltada a essa atividade. Por muito tempo o setor metalúrgico foi uma das
grandes molas propulsoras do desenvolvimento da cidade. Com isso criou um nome
muito forte e respeitado em todo o país e fora dele. O Brasil, país de extensão
continental, tem regiões onde o desenvolvimento é até hoje bastante precário, a
massa humana, principalmente os mais arrojados, se deslocam de uma região para
outra. Muitos sem o mínimo conhecimento necessário, para exercer qualquer tipo
de atividade dentro de uma indústria. Graças a sua determinação, conseguem com
muito esforço vencer os obstáculos a principio intransponíveis. José Tibutino
de Souza, é um exemplo vivo de que pode-se vencer com a força do trabalho. Nascido a 10 de dezembro de 1930
em Juru, município do estado da Paraíba, filho
de Antonio Tibutino de Souza e Maria Idalina da Conceição que tiveram tres
filhos. Viuvo, Antonio casou-se com Francisca Idalina da Conceição, irmã de Maria
Idalina, com quem teve quase uma dezena de filhos. Até os 22 anos José Tibutino
trabalhou na agricultura de algodão, com o advento de pragas, o algodão perdeu
sua produtividade.
O senhor saiu de Juru e foi para
qual localidade?
Naqquele tempo tinha esse negócio de
trazer peão de lá para cá, geralmente iam para o Mato Grosso. Arrumavam um
caminhão, o “Pau-de-Arara”. Um tio meu juntou uma turma e de “Pau-de
Arara”,viemos até o Ceará. Seguimos para Juazeiro, na Bahia, onde ficamos
hospedados em um barracão. A prefeitura fornecia alimentação. Lá permanecemos
esperando alguma condução. O meu destino era vir para São Paulo. Tomamos um
trem da Central do Brasil e viemos até Minas Gerais, em Teofilo Otoni
permanecemos por mais uns quinze dias. Eram vagões especiais, destinados só para
migrantes. Chegamos a São Paulo de trem, na Estação do Norte , no Brás. De São
Paulo fui para Presidente Prudente, trabalhar emuma lavoura de hortelã, cuja
finalidade era produzir óleo. Fui pensando
que não iria trabalhar na enxada, nunca gostei de trabalhar na enxada.
Permaneci por dois meses lá e vim para Piracicaba.
Porque o senhor escolheu Piracicaba?
Eu tinha um irmão aqui, o Moisés e meu
tio, João Nobre que ocupou um posto elevado na Guarda Civil. Cheguei em
Piracicaba em 1952, vim de Ourinhos para cá pela Estrada de Ferro Sorocabana.
Peguei um biriba (taxi) e fui até uma pensão na Vila Rezende, onde meu irmão
morava.
O senhor arrumou algum trabalho?
Eu não sabia fazer nada. Através da
minha tia, fui apresentado ao Luizinho, funcionário da Dedini. Após tirar a
carteira de saúde fui trabalhar na Indústria Dedini. Iniciei na caldeiraria
como ajudante, meu chefe era o Bergamim, que queria que eu trabahasse como
mçariqueiro. Após algum tempo, fiquei sabendo pelos comentários dos colegas,
que a melhor função era a de soldador,
tinha oportunidades de viajar. Ganhava um salário maior. Coloquei como objetivo
o de ser soldador.
O senhor sentiu algum tipo de
preconceito contra pessoas que vinham do norte do país?
Na época tinha demais. Eu não
ligava, levava na esportiva, trazia costumes e linguajar próprios da minha
terra, era conhecido como Paraiba. Eu tinha 22 anos, queria vencer na vida. Por
cinco meses trabalhei como ajudante. Tinha levado nesse período duas
suspensões, porque pegava algum serviço de solda sem o conhecimento do Bergamim. Na terceira vez, acabei me desentendendo
com o Bergamim. Deixei o emprego. Passando perto do Clube Atlético Piracicabano
tinha uma caldeiraria, a Motocana. Eram umas quatro horas da tarde de uma sexta
feira. Perguntei se não estavam precisando de um soldador. Pergutaram em que
empresa tinha trabalhado, quando disse que foi na Dedini, como soldador,
imediatamente fui aceito. Disseram-me que tinha um serviço na Usina São
Martinho, em Ribeirão Preto, mandaram que eu voltasse na segunda-feira, com
minha mala de viagem. Na segunda-feira de madrugada eu já estava lá com a mala.
Quando cheguei na Usina São Marinho, vi que havia uma reforma grande sendo
feita. No momento em que chegeui era uma fase em que estavam usando mais o
maçarico do que a solda e de maçarico eu era bom. Quando chegou a hora da
solda, o chefe era um pernambucano chamado Benicio, naquela época a cana era presa
ao caminhão por cabos de aço, e na ponta eram soldadas ponteiras de latão. Seu
Benício me disse: “-Após o horário de expediente, você quer pegar esse
trabalho?”. Aceitei na hora. Eu ficava até as dez, onze horas da noite para
soldar aquilo. Quando começou a parte de solda para valer, SeuBenicio me chamou
e disse: “ Olha Paraiba, soldador você não é! Mas como você é esforçado, vou te
dar uma chance, vou mandar vir um soldador, e você vai acompanhá-lo. Tive tanta
sorte que o soldador que foi para lá era meu conhecido, era o Toninho Zéfundo. Permaneci
por onze meses na Usina São Martinho. O soldador mandava eu dar o primeiro
passo na solda, ele dava o segundo. Ai eu aprendi a soldar. Quando voltei à
Piracicaba, fui trabalhar em Carioba, na Companhia de Força e Luz. Estavam
precisando de soldador, eu não tinha carteira profissional, na época podia
trabalhar sem carteira profissional. Fiz
um teste, usei o eletrodo 5-P, fui provado. Já com carteira profissional,
registrado. Alguns funcionários que trabalhavam lá eram de São Paulo, me
incentivaram a ir para lá, diziam que lá em São Paulo eu poderia arrumar um
serviço melhor. Fui trabalhar em São Caetano. Foi uma decepeção, permaneci por
quase um ano trabalhando em um lugar com poucas com poucas condições. O lado
bom é que conheci São Paulo. Morava em São Caetano mas trabalhava em Osasco,
São Bernardo. De lá fui trabalhar na Fichet, situada em Santo André. Trabalhava
em montagens em todos os lugares.
O senhor conheceu sua esposa em
Piraicaba?
Em 28 de fevereiro 1960 decidi me
casar, casamos em Piracicaba, na Matriz de Santo Antonio. Eu a conhecia, nós quadravamos o jardim em
Piracicaba. Fomos morar em Piritituba. Eu trabalhava em uma firma no Bom
Retiro, essa empresa estava mudando-se para Cumbica. Foi no período em em que
Brasilia estava sendo construida, tinha muito serviço em São Paulo. Em Santo
André a Mannesmann fabricou grande parte dos postes
de luz de Brasilia, passei a trabalhar lá como soldador. Eu já tinha me
especializado. Da Mannesmann fui trabalhar como terceirizado na Petrobrás em
Capuava, Santo André. Ali soldava
tubulações, depois chegou a solda em aço inoxidável fiz alguns curso de
soldagem passei a soldar com argônio,
aluminio. As coisa melhoraram. Em 1961 nasceu a minha primeira filha. Em
empresas contratadas trabalhei na Sambra, na Liquigáz, comprei um terreno e fiz
uma casinha em Pirituba. Eu sempre vinha a Piracicaba, na época eu tinha um
automóvel Volkswagen. Em uma dessas vezes quando voltei para SãoPaulo,tinha
chovido muito e a água inundou a minha casa. Decidi mudar. Apareceu um
loteamento próximo ao Pico do Jaraguá, ali comprei um terreno. Contratei um
pedreiro e também trabalhei na construção da minha casa. Ali morei mais de 10
anos.
Quando o senhor voltou a Piracicaba para morar definitivamente?
Foi em 2002. Eu já estava aposentado. Comprei uma
casa antiga no centro de Piracicaba, a minha esposa não queria nem ver, de tão
ruim que estava a casa. Derrubei a casa antiga e fiquei um ano construindo uma
nova casa. Eu estava com 70 anos, hoje,2013, estou com 83. Esses dias choveu
muito, entortou a antena parabólica, esperei secar o telhado, subi e endireitei
a antena.
Com 83 anos o senhor subiu no telhado da sua casa para fazer reparos?
Além da antena parabólica, troquei umas telhas que a
chuva tinha danificado. O unico problema de saúde que estou tendo é um gripe
muito forte.
O senhor dirige veiculos ainda?
Dirijo, a renovação da carteira de motorista é feita a
cada três anos.
O senhor pratica algum esporte?
Meu esporte é trabalhar. Sempre gostei de trabalhar com
soldagem.
Qual é a diferença da solda normal para a solda de
alumínio?
Além do material utilizado para soldagem, o argônio, tem
que ter uma mão muito firme.
Atualmente o soldador usa equipamentos de segurança e
proteção, isso já existia quando o senhor começou a trabalhar?
No inicio não usava nada, não sabia, ninguém me
orientava. Quando entrei no Dedini nunca tinha visto isso. Quando me queimava
saia correndo.
Tanques de combustíveis, de grande porte, o senhor
soldava?
Em uma ocasião fui soldar um tanque em Ribeirão Preto,
ele tinha 10 metros de altura. Por uma abertura entrava no tanque, a cada duas
horas saía de lá de dentro com a roupa encharcada de suor, o sapatão tinha que ficar em cima de uma
tábua, isso a noite, durante o dia parecia que do teto saia fogo de tanto
calor.
Tanque de transporte de combustíveis em caminhão o senhor
soldou?
Soldei em Limeira, trabalhei em uma fábrica de tanques de
transporte de combustíveis. Um tanque tem três repartições dentro, em cima só
tem a boca de entrada, trabalhava dentro, onde não dá para ficar em pé.
Soldar tanque de combustível que já foi usado para o
transporte, não é perigoso?
É perigoso explodir. Tem que deixá-lo cheio de água por
bastante tempo, depois tira-la e fazer o serviço. Primeiro tem que ser bem
lavado. O ideal é soldar o tanque usado cheio de água. Se a solda for no fundo,
vira-lo. A água ocupa o espaço onde ficaria o gás residual do combustível
transportado.
O senhor trabalhou em Brasília?
Trabalhei com a Liquigás, fazendo os encanamentos de gás
para os apartamentos funcionais, de propriedade do governo federal. Trabalhei
no Eixo, isso foi na década de 70. O cano que foi colocado era de meia
polegada, de ferro. As curvas feitas no cano para passar da sala para a cozinha
eram feitas a mão. Um serviço de qualidade duvidosa. Eram canos que conduziam
gás, e que com o passar do tempo iriam enferrujar. E nós tínhamos que soldar, o
que aumentava o risco de no futuro ocorrer problemas s´rios de vazamentos.
Não é muito arriscado usar cano de ferro para conduzir
gás?
O correto é usar cano de cobre.
Chuveiro a gás é seguro?
Pessoalmente não acho prático. Levam uns 20 minutos para
poder aquecer a água, ou esquenta demais ou de menos. Não tenho paciência de
ficar regulando a temperatura ideal.
O senhor chegou a trabalhar a solda com carbureto?
A solda a carbureto tem um botijão de oxigênio e o
carbureto que dá a chama. (O Carbureto de Cálcio aplicado em geradores
apropriados reage com água, produzindo o acetileno que quando combinado com
oxigênio, proporciona uma chama quente). Na Petrobras, quando íamos soldar um
tubo era colocado um produto que produzia um ar a baixa temperatura,
internamente, mesmo fazendo a solda por fora do tubo, internamente não ficava nenhuma
rebarba, a superfície interna do tubo, onde foi soldada, ficava totalmente
lisa.
Qual é a solda mais resistente
que existe?
Quem faz a solda ficar mais ou
menos resistente é o soldador. Todas são resistentes, o importante é como a
superfície foi preparada para receber a solda, como essa soldagem foi
realizada. Se não tiver uniformidade na solda, fica um buraco, ali ela perde a
resistência e quebra. Por isso existe um exame de Raio –X em determinadas peças
que foram soldadas, se existir algum ponto fraco, nesse exame aparece.
O senhor como pessoa nascida no
nordeste, experiente, consegue responder por que até hoje o nordeste não
resolveu o problema da seca?
Não há empenho de fato em resolver. Falta orientação,
educação para o povo.
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