sexta-feira, novembro 10, 2017

ELZA DE CAMARGO EVANGELISTA


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com
Sábado 11 de novembro de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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ENTREVISTADA:ELZA DE CAMARGO EVANGELISTA


 

Elza de Camargo Evangelista, corpo ereto, varria a entrada da sua casa. As folhas e pequenos frutos estavam espalhados pelo caminho, diariamente esse é um dos seus afazeres. Ao me apresentar, disse-lhe o motivo da minha visita, uma entrevista para A Tribuna Piracicabana. De forma gentil, mas firme, disse-me que se considerava uma pessoa comum, não sabia como poderia contribuir, mas de forma hospitaleira convidou-me para entrar. Os seus 79 anos de existência pareciam constar apenas no calendário, tal a sua disposição.

A senhora nasceu em que cidade?

Nasci em Capivari, meu pai com a nossa família veio morar no Retiro, uma vilinha afastada, dentro do bairro Monte Alegre, época em que tinha outro lugar bem retirado conhecido por Viúva. Nasci a 23 de maio de 1938. Fiz o primeiro grau no Grupo Escolar Marquês de Monte Alegre. Sou filha de José de Camargo e Cecília Ricardo de Camargo. Tiverem treze filhos, sendo que três meninas faleceram com pouco tempo de vida. Os filhos que sobreviveram foram dez: Francisco, Manoel, Valdemar, Elza, Odete, Benedito, Maria Helena, Ana, Neusa Maria e Aparecida.

Com quantos anos a senhora foi morar no Monte Alegre?

Eu era bem pequena, naquela época comentavam que o Monte Alegre iria ser continuidade da cidade de Piracicaba. Não havia televisão, o meu pai tinha um rádio, no porta rádio fixado na parede, minha mãe dizia “venha escolher o feijão para mim” minha irmã e eu estávamos mexendo no rádio, disse:lhe “Dete, venha me ajudar a escolher feijão”, puxei-a com rádio e tudo. O rádio caiu no chão. Já imaginamos que quando meu pai chegasse do serviço iria bater em nós. Meu pai não bateu, pegou o rádio do chão, ele só tinha esfolado, era uma madeira tão boa que não quebrou. Colocou no lugar, ligou e funcionou!

Com que idade a senhora começou a trabalhar?

Aos catorze anos comecei a trabalhar na fábrica de papel da Usina Monte Alegre. Trabalhava na escolha, ia até a pilha de papel, uma pessoa ficava separando em  pilhas menores de papel, chamada de resma (500 folhas de papel) , separava, lembro-me de que tinha um banquinho para subir e alcançar o papel. Fazíamos os leques de papel sobre a mesa e escolhia. Verificava se havia alguma imperfeição, era o que denominamos hoje de controle de qualidade. O papel era branco, uma quantidade grande, era feita a exportação desse papel. O papel era produzido do bagaço da cana-de-açúcar.

A que horas era o inicio do trabalho?

Entrava às sete horas da manhã, parava para o almoço, alguém da família levava a marmita. Se fosse almoçar em casa tinha que caminhar pela estrada, e era um bom percurso. Permaneci uns três anos trabalhando na fábrica de papel.

Após sair desse trabalho, qual foi o próximo?

Vim para Piracicaba para ser empregada doméstica. Trabalhei na casa do Professor Alfredo Lineu Cardoso, pai do médico Dr. Lineu Antonio Cardoso. O profesor morava com a sua família a Rua Joaquim Andrè esquina com a Rua Boa Morte. A esposa dele é Dona Marina Capelato Cardoso. No período em que trabalhei lá eles tinham dois filhos: o Irineuzinho e o Augusto. O sobradinho onde eles moravam existe até hoje, eu sempre passo por lá. Trabalhei também na casa do Sr. Benedito Duarte Novaes. Ele trabalhava com pneus, a casa dele era anexa a sua empresa. Naquele tempo as ruas em sua maioria eram calçadas com paralelepípedo.

Era muito comum as casas terem um bom quintal naquela época.

Tinha, havia muitas frutas. A carência maior era de um bom banheiro. Eram raras as casas que tinham banheiro interno, eram em sua maioria no quintal, onde havia uma fossa séptica. Banho era de bacia! Como tudo mudou, hoje meu chuveiro é dos modelos mais modernos, uma ducha grande, Aqueles banhos de bacia eram um terror, uma vida muito difícil. Tempo do sabonete Eucalol. A roupa era lavada no tanque, a mão, esfregava sabão peça por peça, sabão Minerva, sabão Campeiro, “Sabão Rinso Lava Mais Branco”, vassoura de palha, escovão para passar no assoalho após ter encerado. Lenbro-me da Etubaina, Gengibirra,  Existiam umas enceradeirs que trepidavam, pareciam britadeiras. Naquele tempo trabalhava-se aos sábados também.

A senhora no período em que morava no Monte Alegre plantou cana-de-açucar?

Plantei, cortei. Naquela época já queimavam a cana. Havia o campeonato para disputar quem era o melhor cortador de cana-de-açúcar, quando eu era pequenina sempre havia os piqueniques no campinho de futebol. O meu pai nunca deixou eu ir, Fui bem pouco na Teixeirada, era um evento que tinha brinquedos para as crianças, havia uma escada que ia até a beira do Rio Piracicaba, Muitas pessoas andavam de barco.

No Monte Alegre havia os bailinhos também?

Havia o Salão de Bailes, próximo ao cinema, Algumas vezes fui às matinês dos domingo no cinema. Baile, carnaval meu pai não deixava irmos.

Havia missa toda semana?

Todos os domingos havia missa na Capela São Pedro que tem em suas paredes afrescos do pintor Alfredo Volpi.

A senhora casou-se?

Casei-me com Hélio Evangelista. Ele foi motorista de taxi em Piracicaba por 17 anos. Começou a trabalhar no centro, no final ele era taxista no ponto da Churrascaria Beira Rio. Ainda tem dois amigos dele que trabalham lá. Já são aposentados, mas continuam trabalhando.

Como a senhora vê essa nova tecnologia que está presente na vida de muitas pessoas?

Acho ótimo! Uso WhatsApp, tenho Facebook, Instagram, Messenger, não podemos ficar para trás!

Como a senhora aprendeu a trabalhar com essas ferramentas tecnológicas?

Tenho um sobrinho que me ensinou bastante coisa, mas tive que aprender muita coisa sozinha. Fui pesquisando por mim mesma, aprendi muita coisa.

O computador é uma janela para o mundo?

Sem dúvida!

A senhora tem excelente saúde física e mental, qual é o segredo para tanta saúde e disposição?

Não sei explicar. A minha infência, adolelescência foi muito difícil. Acredito que para superar muitas dificuldades que encontrei na vida foi só pela fé em Deus. No ano de 1980, fui até a Unicamp, tinham aberto inscrições para prestar um concurso. Eu já estava casada, meu marido nem queria que eu fosse, mas fiz o concurso. Passei. Fui chamada em 1984. Fui trabalhar em Campinas, no restaurante da Unicamp. Meu marido ficou em Piracicaba, trabalhando com o taxi, eu trabalhava a semana toda em Campinas, morava com a minha irmã, aos finais de semana vinha para Piracicaba, segunda feira cedinho meu marido me levava até Campinas para trabalhar. Teve um concurso para motorista da Unicamp. Meu marido fez o concurso e passou. Foi trabalhar lá. Por 10 anos ele trabalhou em Campinas. Vinhamos para Piracicaba, a nossa casa era aqui, as crianças das primeiras nupcias do Hélio, estavam aqui, sempre os considerei como filhos. Por 13 anos trabalhei no restaurante, dia 5 de novembro fez 20 anos que me aposentei.

No restaurante a senhora atendia a alunos, professores, funcionários?

Todos que frequentavam o restaurante da Unicamp passavam por ali. A Unicamp é uma cidade! Foi uma vitória! Meu marido vendeu o ponto de taxi que ele tinha em Piracicaba, por uns tempos ficou com o automóvel Corcel. Meu marido era muito querido na Unicamp. Há quem diga que tivemos sorte, mas também lutamos muito para vencer.

Qual era o prato preferido no restaurante da Unicamp?

Era quando tinha feijoada!

A senhora frequentava os cinemas de Piracicaba?

Frequenva o Politeama, Broadway, Colonial, São José. Hoje só temos cinemas no Shopping!

Existe uma cidade que conserva orgulhosamente como um monumento o seu tradicional cinema!

É o Cine Vera Cruz de Capivari! E funciona regularmente! Uma maravilha que preservaram! Quando viemos para Piracicaba o bairro Monte Alegre era circundado por mato. Na decada de 70 meu pai mudou-se para Piracicaba, foi morar no bairro Morumbi, também era mato. Para vir do Monte Alegre para a “cidade” de Piracicaba utilizavamos a estrada do Campo de Aviação, estrada de terra, vinhamos com a jardineira, enchia de poeira dentro dela. Hoje sinto-me milionária, porque tenho paz. Deito e durmo.

Ha quanto tempo a senhora reside no Lar dos Velhinhos?

Mudei qui em dezembro de 2013. Antes eu morava em um edifício a Rua Moraes Barros. Meu marido faleceu em 2008. Um dia vi Dr. Jairo Ribeiro de Mattos no centro, ele é muito conhecido na cidade, eu o conhecia, chamei: “-Seu Jairo!”. Ele virou na minha direção e perguntou-me se o conhecia. Disse-lhe: “Seu Jairo, quem não conhece o senhor nessa cidade?”. Disse-lhe que gostaria muito de morar no Lar dos Velhinhos. Expliquei-lhe minha condição, disse-lhe que não queria morar em outro lugar que não fosse o Lar dos Velhinhos. Ele anotou meus dados e disse-me: “-Em menos de 10 dias a senhora irá receber um chamado do Serviço Social do Lar”. Uma semana depois recebi uma ligação da Assistente Social. E pronto deu certo!

A senhora gosta de televisão?

Gosto ! Novela da Globo eu não assisto! Não gosto da Globo! Não vejo nada que tem na Rede Globo! Não dá para ver, é só mau exemplo, para os jovens isso é terrível! Mexe com a família, leva a discórdia entre casais. O canal da minha preferência é o SBT. Eu assisto as novelas escritas pela esposa do Silvio Santos. São novelas voltadas para a família.

E instrumento, a senhora toca algum?

Trabalhei em muitas casas em que a pessoa era professora de piano, passei a gostar de piano, meu marido comprou um teclado para mim. Até hoje eu tiro alguma coisinha.

Aqui na sua casa é a senhora mesmo que faz seu alimento?

Hoje eu comprei um marmitex, mas tenho meu fogão, faço feijão, arroz, salada, carne de panela de pressão, uma costela. Quando estou bem disposta, marco uma quitinete na praia, em maio fiz 79 anos, passei na praia. Vou para Santos, sozinha, pego o ônibus e vou. Fiquei uma semana.

Quando caiu o Edifício Luiz de Queiroz (COMURBA) a senhora lembra-se?

 Quando o COMURBA estava sendo construído, eu morava no Monte Alegre ainda,  tinha uma irmã que ia casar, vim com ela em Piracicaba, era assim que nos referíamos: “vou à Pircicaba”. Tinha uma sapataria a Rua do Rosário, chamada Casa Oliveira, viemos juntas para ela comprar o sapato do seu casamento. Nós duas passamos em frente ao COMURBA, era hora de almoço, aqueles jovens, pedreiros, estavam todos sentados descansando, minha irmã tinha 19 anos, eu era nova, bonita, ao passarmos percebemos que os moços nos olharam com atenção. Dali a uma semana ficamos sabendo que o COMURBA tinha caído, aqueles jovens todos possívelmente foram soterrados. Era dia 6 de novembro de 1964.
E o Rio Piracicaba? A senhora costuma ir passear as vezes?
Eu costumo pescar no Rio Piracicaba! A EPTV filmou meu marido e eu pescando, tenho a fita com o filme.
A senhora não conta histórias de pescador?

Conto! É história que aconteceu mesmo, não é invenção não!

De que tamanho era o peixe?

Não era o peixe! Era garça! A garça veio, pegou a vara e saiu voando com a vara de pesca dependurada! Era de um dos moços que estavam pescando próximos de mim. Quanto peixe eu peguei! Cascudo, tilápia, meu marido pegava tanta tilápia que nem ficava com elas, distribuía com os vizinhos. Lambari pegava em grande quantidade. Uma vez comecei a pegar lambari sem isca! Só pelo brilho do anzol.

Vocês pescavam de barranco ou de bote?

De barranco, lá embaixo perto da ponte do Morato. Pesco até hoje. Estava pescando no lago do Lar dos Velhinhos, um peixe bem grande, arrancou uma parte da minha vara de pesca, ela é vara que monta e desmonta. Fiquei só com um pedaço da vara na mão! Eu pescava também no lago da Rua do Porto.

Mas ali não tem muita piranha?

Peguei uma piranha enorme lá! Para tirar tem que tomar muito cuidado, ela tem dentes afiados.

Dá para comer piranha?

Serve para fazer caldo! Sopa! É muito bom! No lago da Rua do Porto jogaram muitos alevinos de tucunaré. Até teve um dia que peguei um. Era pequeno, soltei, com cuidado para não se machucar.

 

 

JOSÉ INÁCIO MUGÃO SLEIMANN


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 04 de novembro de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/







ENTREVISTADO: JOSÉ INÁCIO MUGÃO SLEIMANN

José Inácio Mugão Sleimann nasceu a 31 de julho de 1947 em Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Seu pai é Jabra Abdala Sleimann e sua mãe Zarife José Tannus, naturais de Bakto, Síria. Tiveram sete filhos: Abdala e Maria nascidos na Síria e Julia, Tereza, Marta, Janira e José Inácio nascidos no Brasil. Foi casado em primeiras núpcias com Eliana Marta Sabino Sleimann, já falecida, com quem teve quatro filhos: Ricardo, Milena, Carlos Eduardo e Leandro. José Inácio é casado em segundas núpcias com Nurair Cristina Fuzinelli Sleimann. José Inácio Mugão Sleimann formou-se em Direito na Faculdade de Direito de São Carlos, em 1973. 

Como se deu a imigração dos seus pais e irmãos?

Inicialmente meu pai veio para a Argentina trabalhar na colheita de trigo, ele tinha um irmão que morava na cidade de Lobos, localizada na província de Buenos Aires, localizada a 115 quilômetros da cidade de Buenos Aires. Após um ano decidiu vir para o Rio Grande do Sul, veio de trem. No Rio Grande do Sul mudaram o nome dele, Originariamente era Suliman ou Suleiman, colocaram Sleimann O nome significa "homem de paz" e corresponde ao nome inglês Solomon . Meu pai chegou ao Brasil na década de 10. Ele foi para Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Dez anos depois ele mandou buscar minha mãe e meus irmãos. Meu pai vendia frutas, depois virou mascate, abriu loja, isso em Passo Fundo. Comprou um sítio onde plantou 1.500 pés de azeitonas. Era um sítio que além das azeitonas produzia 90% da nossa alimentação.

Você estudou em Passo Fundo?

Estudei no Colégio Notre Dame, fiz o jardim de infância e primeiro ano, fui colega do Filipão (Luiz Felipe Scolari), gaúcho de Passo fundo, somos amigos de familia, ele fez um livro onde sou citado. Meu pai apesar de estrangeiro era um grande cabo eleitoral. Meu primo Daniel Dipp foi prefeito de Passo Fundo, deputado federal, sempre foi político. Meu pai era amigo de Leonel Brizola e de Getúlio Vargas. O Brizola se criou com meu irmão Abdala em Passo Fundo, o Brizola gostava muito de ir em casa para comer quibe. Quem criou ele na cidade foi Dr. Sabino Arias, Brizola era de Carazinho, criou-se em Passo Fundo, quem o encaminhou foi Dr. Sabino Arias. O irmão do Brizola foi Chefe da Estação de trem de Passo Fundo da VFRGS – Viação Férrea Rio Grande do Sul.

Seu interesse por política começou quando?

Desde pequenino sempre gostei! Participava dos comícios, época de Fernando Ferrari, o “Mãos Limpas”, participava com ele no Movimento Trabalhista Renovador. Eu era ligado ao PTB, sai do PTB fomos para o MTR, Uma turma da cidade foi para o Movimento, o prefeito, meu primo Daniel Dipp, depois disso vieram os partidos políticos: ARENA – Aliança Renovadora Naciona e MDB – Movimento Democrático Brasileiro. Por todo meu histórico aderi ao MDB. O Adhemar de Barros esteve com sua esposa Dona Leonor duas vezes em Passo Fundo, eu era criança, mas recordo que era um casal muito simpático, foram a missa das seis horas da manhã nas dua vezes ques estiveram na cidade, comungaram. A padroeira lá é Nossa Senhora Aparecida. O Jânio Quadros foi de trem, fez um comício na gare, em cima de um caminhão Alfa Romeu, esses comícios eram organizados sem a tecnologia atual, havia a necessidade de alguém segurar o microfofone, os políticos gesticulavam muito. Na ida desses dois candidatos eu estava cumprindo essa função ao lado deles. Essas passagens fui recordar com Adhemar de Barros, junto com o filho dele que é muito meu amigo, o Adhemarzinho. E junto cm o Jânio que eu estive com ele, em sua residência no Guarujá e eu era vereador aqui em Piracicaba. Participei também da “Revolução da Legalidade” no Rio Grande do Sul, um dos acontecimentos mais dramáticos da história do Rio Grande do Sul, iniciou em 25 de agosto de 1961, pelo governador do Estado, Leonel Brizola que, ao tomar conhecimento da renúncia de Jânio Quadros à presidência do país, resistiu bravamente para garantir a posse do vice-presidente João Goulart. Durante doze dias, Brizola manteve firme a “Cadeia da Legalidade”, de dentro do Palácio Piratini, tendo em volta uma multidão na Praça da Matriz, atingindo a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, que se estabeleceu em sessão permanente. Eu já morava aqui em São Paulo quando houve uma campanha para eleição de governadores: Zé Bonitinho (José Bonifácio Coutinho Nogueira); Adhemar de Barros; Jânio Quadros, eu ia aos comícios para agitar, gostava de agitar. Era contra a ditadura, e tinha um padrinho general, sogro do meu primo, general também.

Você continuou estudando em Passo Fundo?

Fui estudar na Escola Nossa Senhora da Conceição, dos Irmãos Maristas, depois passei para o Colégio Estadual Nicolau Araujo Vergueiro, quando estava com 14 a15 anos vim para São Paulo.Meus irmãos Abdala e Maria já moravam em São Paulo, no bairro Cambuci, a Rua Dona Ana Nery, 563, quase esquina com a Avenida do Estado. Eu convivi ali, ia jogar futebol na Vila Mariana. Estudei no Liceu Acadêmico São Paulo, na Rua Oriente, onde iniciei o Curso Técnico de Contabilidade. Meu irmão era csado com uma baiana e trabalhava com artigos religiosos. Fui para a Bahia, não me adaptei. No Mercado Modelo, o antigo, meu irmão comprou um posto de gasolina em Piracicaba. Sem conhecermos a cidade! Ele adquiriu o posto de um grego, amigo do meu irmão e do meu pai, ele tinha uma confecção em São Paulo seu nome era Jean Athanase Billis. Ele tinha esse posto em função do cunhado dele que morava aqui e trabalhava no Banco da Lavoura de Minas Gerais. Foi assim que em 1966 eu vim para Piracicaba, com 19 anos.

Você não conhecia a cidade?

Nem sabia que existia! A primeira vez eu vim de carro com o Jean Athanase Billis. A mudança veio de trem. Eu morava no posto, tinha dormitórios no Posto Canta Galo. Meu irmão trouxe o meu cunhado Angêlo Zancanaro, para Piracicaba, juntamente com a sua esposa, nossa irmã Maria. Eles tiveram os filhos Sérgio e Azize, nome da minha avó, Marcos e Carlinhos. O meu cunhado e minha irmã assumiram o Restaurante Canta-Galo que ficava anexo ao posto. Ele fazia um churrasco diferente dos outros. Era um hmem muito sério, enérgico, não admitia nada errado.

Você era responsável pelo posto?

Eu tomava conta do Posto Canta Galo.

Tinha um funcionário que lavava carros e era muito famoso?

Pedro Chiquito! Maior cantador de cururu de todos os tempos! Temos grandes lembranças dele.

Como foi seu ingresso na política de Piracicaba?

Eu gostava de política! O Dr. João Pacheco Chaves parou no posto, perguntei-lhe se era deputado. Ele disse-me que sim. Perguntou-me quem eu era, disse-lhe que era o Gaúcho, dono do posto. Mas que eu gostava de política. O Dr. Francisco Antonio Coelho, o ¨Coelhinho” eu não o conhecia, ele se apresentou, disse-me que tinha trazido o livro de filiação para que eu assinasse como membro do partido MDB. Assinei, minha ficha de filiação ao MDB de Piracicaba é de número 67. Em 1968 houve eleições para prefeito. Lembro-me de alguns candidatos: João Guidotti, João Fleury, e tinha outros. Apoiei João Guidotti que era do MDB.

Em 1970 Dr. João Pacheco Chaves comentou com Franco Montoro que conhecia um rapaz bom de discurso. Vieram me buscar no posto e me levaram na Chácara Nazareth, onde estava Franco Montoro, na época candidato a senador. Já fui fazendo comício, fui abrindo espaço para ele. Fui participando. Disse a ele que se ganhasse a eleição precisava conseguir o asfalto entre Piracicaba e Anhembi.

Você teve algum “convite” para ir até a unidade militar de Campinas?

Quando o presidente João Baptista Figueiredo fez uma alusão que considerei depreciativa aos gaúchos, disse que preferia o odor de cavalos, mesmo ele sendo filho de gaúchos, fui à tribuna da câmara, meti-lhe o pau. No dia seguinte veio o Capitão Alfredo Mansur, e disse-me: “-O senhor precisa ir para Campinas!” no 5º GCAM. Liguei para Brasília, falei com o meu padrinho, expliquei o ocorrido, não disse nada do Capitão Mansur. Fomos para Campinas. O general deixou que eu entrasse, Capitão Mansur aguardou fora. O General disse-me que o que eu estava fazendo não estava correto. Disse ao general, um gaúcho: “Está certo o que o general Figueiredo falou de nós?” O general imediatamente respondeu: “Servi no 8º Regimento de Cavalaria de Santana do Livramento!”. Fui dispensado na hora. Houve outra ocasião semelhante, por outro motivo, quando também fui acompanhado do Capitão Mansur.

Você continuou fazendo política?

Apareceu o Quércia como candidato a senador. O comício dele era em Rio das Pedras. Cheguei lá, tinha uma pessoa que tinha trabalhado com o Montoro, perguntaram-me se eu ia falar, disse que se me autorizassem iria. Subi no palanque, comecei a falar, o Quércia veio me abraçar, me agradecer, eu não o conhecia, comecei a amizade com ele ali. Em Piracicaba fiz o comício também para ele. Ele perguntou-me se queria apoiá-lo em sua campanha, eu fui. Fiquei muito amigo dele. Para mim podem falar o que for, foi um dos maiores amigos que tive dentro da política. Tenho-o dentro do meu coração. Quando ele foi governador do Estado fui diretor da antiga Banespa Mineração, era diretor de patrimônio, era para fazer a liquidação da Banespa Mineração.

E a política piracicabana?

Em 1972 Dr. Adilson Benedito Maluf foi candidato a prefeito, o Hidinho Maluf, irmão do Adilson e eu, sentados no banco da praça, ele disse: “Acho que o meu irmão vai ser candidato a prefeito!”. Perguntei de qual partido. Quando ele disse-me que era do MDB disse-lhe: “- Pode dizer à ele que tem um cabo eleitoral, que sou eu !” Eu estava no Posto Cantagalo, o Hidinho havia dito que ele tinha um corcel azul, quando o Adilson parou, perguntei-lhe se ele era o Dr. Adilson Maluf? Disse-lhe: “Sou o Gaúcho, sou seu cabo eleitoral!”.

Até então você era conhecido por Gaucho?

Era! Mas o Professor Helmeister do Colégio Piracicabano, onde continuei meus estudos de contabilidade, me apelidou de Mug, Mug da Sorte. O cantor Wilson Simonal havia lançado a música do Mug da Sorte. Quando entrei na classe ele dise-me: “Chegou o Mug da Sorte!”. Eu era magrinho, jogava polo aquatico no Palmeiras em São Paulo. Fizemos a campanha do Adilson, ganhamos, e houve a briga política com o Cecílio Elias Netto, hoje um grande amigo meu. O Cecílio foi cumprimentar o Adilson pela vitória, em uma reunião na casa da irmã do Adilson, eu impedi a sua entrada. No dia seguinte “O Diário” trazia referências a minha atitude, denominando-me por Mugão. Nunca mais me chamaram pelo nome José Inácio! Tanto que incorporei ao meu nome oficial o apelido Mugão. A cidade inteira me conhecia por Mugão! Em 1976 fui eleito vereador, ganhei a eleição por 3 votos do João Sachs e do Taquara. Estavamos empatados, até que tive 3 votos a mais. Fui eleito com 963 votos. O segundo mandato fui eleito em 1982, Piracicaba tinha 632 candidatos a vereador, fui eleito em primeiro lugar com 2523 votos na proporcionalidade fui o mais votado até hoje. Tinha 11 candidatos a prefeito. O mandato de vereador era de seis anos, fui vereador seis anos com o prefeito João Hermann Netto e seis anos com o prefeito Adilson Benedito Maluf.

Você sempre teve uma atuação expressiva.

Sempre batalhei apaixonadamente pela causa que defendia; em 1974, fui nomeado responsável pela limpeza pública do município, quando criei as famosas “margaridas” (como eram chamadas as mulheres que varrem as vias públicas). Incentivei ativamente a criação do Parque das Torres, no Capim Fino, possibilitando as retransmissões de televisão em Piracicaba. Atuei na criação do entreposto municipal de abastecimento de hortifrutigranjeiros, dando ao entorno do mercado municipal melhores condições de higiene. Participei de diversas conquistas junto ao Governo do Estado, como as passarelas em frente à empresa Dedini e do bairro Cecap, as escolas da Vila Industrial e Vila Monteiro, instalação da Regional da Cetesb, Distrito Policial de Santa Terezinha ( o único da cidade com sede própria)  na articulação para o asfaltamento das estradas Piracicaba-Anhumas e Piracicaba-Anhembi, autorizadas pelo então governador do Estado, Franco Montoro. trabalhei pela expansão da iluminação e telefonia nos bairros de Anhumas, Ibitiruna e Tanquã, sendo a maior extensão do Estado de São Paulo em iluminação e telefonia em bairros rurais na época. Lutei ainda pela instalação do Posto de Saúde de Ibitiruna, realizada com recursos próprios, atuei pela criação de centros comunitários, creches, postos de saúde, iluminação publica, extensão da rede de água e esgoto e expansão do asfalto. Fui diretor de patrimônio da Empresa Paulista de Turismo (Paulistur) no governo Orestes Quércia e na gestão Antonio Fleury Filho fui sub-diretor do interior da Cetesb. Ocupei ainda o cargo de membro da Executiva da União dos Vereadores do Estado de São Paulo e como conselheiro da Associação Paulista dos Municípios.

Você recebeu o título de cidadão piracicabano?

Por enquanto não! Tenho Piracicaba e o XV de Novembro em meu coração!


 

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