sexta-feira, abril 21, 2017

TOGO EDGARD YEDA


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 22 de abril de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/









ENTREVISTADO: TOGO EDGARD YEDA

Carlos José de Arruda Botelho nasceu em Piracicaba a 14 de maio de 1855, filho do coronel Antonio Carlos de Arruda Botelho, Conde de Pinhal, e de Da. Francisca de Arruda Botelho. Iniciou seus estudos em Piracicaba, terminou no Colégio de Itu. Em 1867 foi para o Rio de Janeiro onde cursou até o segundo ano de medicina, em 1875 viajou para a França, matriculando-se no terceiro ano da Faculdade de Medicina de Paris especializando-se em cirurgia. Dedicou-se ao exercício da medicina ao voltar para o Brasil. Fixou residência no Rio de Janeiro onde se casou com Constança de Brito Souza Figueiras. Carlos Botelho no governo de Jorge Tibiriçá foi Secretário da Agricultura englobando as pastas de Comércio, Obras Públicas, Viação, Navegação e Iluminação. Entre seus muitos feitos, resolveu dar impacto à cultura do algodão. Assim como incentivou a cultura do arroz, importado do Oriente. Carlos Botelho criou a Agencia Oficial de Colonização e Trabalho. Carlos Botelho estabeleceu diversos núcleos coloniais. Trouxe judeu-russos (Nova Odessa), espanhóis, italianos e japoneses. Antes da primeira imigração oficial de japoneses, providenciou a vinda de alguns deles, que foram para a Fazenda Dourados em Iguape.  Ao término de 1899, a armadora britânica Pacific Steam Navigator Company (PSNC) planejou um bom número de vapores destinados a renovar a sua frota. O primeiro foi lançado ao mar em junho de 1900, com o nome de Potosi, de desenho tradicionalmente britânico, com casa de comando separada da superestrutura central, eram navios destinados a ter capacidade mista. Possuía casco de aço, seis porões de carga, três conveses, duas hélices, única chaminé. Quando se encontrava em fase de acabamento, foi visitado por responsáveis da organização denominada Frota de Voluntários Russos (RVF), os quais procuraram na Inglaterra navios para comprar. O Potosi foi um dos escolhidos. Rebatizado Kazan, o vapor saiu, em setembro de 1900, de Newcastle para Odessa. Podia transportar cerca de dois mil homens e logo após a sua chegada ao porto russo foi integrado como navio auxiliar da Frota do Extremo Oriente. Em 1904, com a eclosão do conflito com o Japão, o Kazan foi transformado em navio-hospital. Capturado pelos japoneses passou ao serviço da Marinha Imperial do Japão, como transporte auxiliar, com o nome de Kasato Maru. No ano seguinte, o navio foi fretado à armadora Tokyo Kisen, e por esta, utilizado na inauguração da nova linha entre o Japão e a Costa Oeste da América do Sul. Em 1908, quando a Companhia Kokoku necessitava de um vapor para expedir seus primeiros imigrantes ao Brasil, é o Kasato Maru o navio escolhido.




 Esta leva de imigrantes nipônicos chegando a terras brasileiras era a conseqüência da assinatura, em 1906, de um acordo entre o Japão e o Brasil, estabelecendo um tratado de amizade entre as duas nações. O nome Kasato-Maru não é somente o nome próprio de uma embarcação. Para os japoneses que emigraram para o Brasil e seus descendentes, “Kasato-Maru” é também um símbolo.




A trajetória percorrida pelos japoneses e seus descendentes no Brasil tem seu ponto de partida na viagem do Kasato-Maru. Na tarde de 28 de abril de 1908, o sol se recolhia serenamente no porto da cidade de Kōbe. Debaixo dos fogos de artifício que anunciavam sua partida, o vapor Kasato-Maru pertencente à Companhia de Navegação a Vapor Oriental com capacidade de 6.167 toneladas zarpava em direção ao porto de Santos, levando os primeiros 781 emigrantes japoneses contratados para trabalharem no Brasil. Após mais de cinqüenta dias a bordo, os imigrantes desembarcaram no cais 14 de Santos na manhã de 18 de junho, tendo percorrido quase 12 mil milhas náuticas entre o início e o fim da viagem. Ao lado de Ryō Mizuno, presidente da Companhia Imperial de Colonização responsável pelo recrutamento dos imigrantes.  Esse dia é comemorado no Brasil como o Dia da Imigração Japonesa; no Japão, ele é o Dia da Emigração Ultramarina.  Ao longo dos anos e décadas seguintes à escala pioneira do Kasato Maru, numerosas embarcações do Japão trouxeram cerca de 260 mil imigrantes. Hoje a comunidade de japoneses e descendentes (já na quinta geração) soma aproximadamente 1 milhão e 200 mil pessoas. No dia 28 de junho de 1910, chegou a segunda remessa de imigrantes japoneses: 906 pessoas pelo vapor Royojun Maru. Elas seguiram para as fazendas da Alta Mogiana.




O Kasato Maru partiu para o Brasil uma segunda vez, em dezembro de 1916, aportando em 1917, mas como cargueiro, a serviço da Osaka Sosen Kaisha (OSK) Line. Quando ele retornou, veio para fazer pesquisa de frete, com o objetivo de se instalar uma linha marítima comercial entre os dois países. Anos mais tarde, em1920, a OSK Line começou a receber subsídios do governo japonês para operar na linha para a América do Sul. Na época, a armadora tinha 11 navios mistos (de cargas e de passageiros), que continuaram no tráfego até 1935, quando a companhia adquiriu novas embarcações. A frota da OSK Line contou com navios como Buenos Aires Maru, Montevideo Maru, Santos Maru e Manila Maru, entre outros. Em sua primeira viagem o Kasato Maru  trazia 781 imigrantes lavradores japoneses, sendo 165 famílias mais ou menos e 48 avulsos. Conta-se que, na verdade, o registro de embarque indicava 780 imigrantes, porém durante a viagem foi encontrado mais um indivíduo, escondido no navio e aceito sem maiores problemas.




 A viagem durou por volta de 52 dias e o Kasato Maru passou somente por dois outros portos antes de chegar a Santos – Singapura, na Ásia e Cidade do Cabo, na África do Sul. Não houve mortes durante a viagem, algo incomum para uma estada tão longa em navio no início do século XX. Todos os imigrantes que estavam nesse navio, nessa viagem, passaram pela Hospedaria de Imigrantes do Brás. Passaram a noite do dia 18 a bordo e no dia 19 rumaram de trem à hospedaria. José Yeda um dos primeiros imigrantes japoneses, foi um dos passageiros da primeira viagem do Kasato Maru, na época tinha apenas 15 anos, veio acompanhado do seu tio que não quis ficar no Brasil, no Japão havia um comentário de que havia canibais no Brasil. Ao chegar ao porto de Santos e ver a movimentação de carga e descarga de navios, ficou muito impressionado com a grande quantidade de estivadores negros, uma raça totalmente desconhecida para ele. A neta de José Yeda, filha de Togo Yeda, pesquisando descobriu que o nome do seu avô na verdade era Iida Matagi, ao fazer a naturalização ficou sendo José Yeda Matani.




 De Santos José Yeda foi para São Paulo, ficou hospedado na Hospedaria dos Imigrantes, ao lado da hoje Estação Bresser do Metrô. Na hora de fazer a distribuição das famílias para o local destinado José Yeda acabou se perdendo indo parar em Poços de Caldas.

Togo Edgard Yeda é filho de José Yeda, ele prossegue nesse relato histórico.

O seu pai foi trabalhar em quê quando chegou a Poços de Caldas, totalmente perdido?

Meu pai, José Yeda foi trabalhar no Hotel Central de Poços de Caldas, como carregador de malas, depois ele passou a ser garçom, foi cozinheiro, nas horas vagas ele trabalhava no Cassino Palace Hotel como garçom. Naquela época em Poços de Caldas havia cassino, hotéis luxuosos, era uma cidade freqüentada pela mais alta camada da sociedade brasileira: Conde Francesco Matarazzo, Morganti, Pignatari e outros. O Conde Matarazzo fez a proposta para ele ir trabalhar como mordomo em sua mansão em São Paulo. Meu pai consultou a minha mãe que não quis ir para São Paulo. O Comendador Pedro Morganti fez a mesma proposta para ele, vir para Piracicaba, na mansão da Usina Monte Alegre, iria ser o seu mordomo.

Seu pai conheceu a sua mãe no Brasil?

Em Poços de Caldas meu pai conheceu a minha mãe Aurora Malpaci Yeda ela era italiana, veio com os pais quando tinha três anos de idade, era da cidade de Acerina. Tiveram dez filhos: Paulo, Nelson, Julia, Benedita, Durval, José Yeda Filho(Zézinho) casado com Luci Cardinali, donos da Padaria Brasileira, Silvia que faleceu ainda jovem, nascidos em Poços de Caldas. Em Piracicaba nasceram: Sérgio afilhados de Hélio Morganti, Togo afilhado de João Bottene, Arack afilhado de Marchetti que juntamente com o artista Alfredo Volpi pintou o interior da Igreja de São Pedro, mais conhecida como Capela do Monte Alegre.

O senhor nasceu em que dia e local?

Nasci na Usina Monte Alegre a 22 de fevereiro de 1937, atualmente resido em Pouso Alegre, Minas Gerais. A casa onde morávamos na Usina Monte Alegre, na chamada Vila Joaninha, a de número 1 era do meu pai, a de número dois era onde morava minha irmã Julia, o seu marido Antonio Inácio Pinto Fonseca era motorista de Lino Morganti. A nossa casa tinha no fundo a quadra de basquete do Grupo Escolar . Morei no Monte Alegre até 1950. A minha mãe tinha pensão, eu levava a marmita para o Baltazar, o Cabecinha de Ouro, Baltazar foi um dos grandes artilheiros do Sport Club Corinthians Paulista. Quando ele vinha pegar a marmita trazia um pacotinho com torrões de açúcar que eu ia comendo. Lembro-me da Teixeirada, do Clube de Campo, da biblioteca, do clube velho que tinha o boche, no clube novo não tinha. Meu irmão Nelson jogou futebol no União Monte Alegre, o UMA, isso no tempo do Piccolino estudante da Escola de Agronomia. Conheci Gatão, De Sordi. Helio Morganti era padrinho do meu irmão Sérgio.






O senhor freqüentava a mansão de Monte Alegre?

Quando Dona Bice chegava de São Paulo, logo mandava me chamar. Ela por diversas vezes quis me adotar, pediu à minha mãe. Eu era tratado por ela como um filho. A última vez em que vi as suas filhas Marisa e Cristina foi em 1951. Quando éramos crianças, brincávamos juntos. Anteriormente a piscina era com linhas retas, depois remodelaram. A água que enchia a piscina era de uma mina de água da própria usina. Perto da igreja havia uma caixa de água bem grande que fornecia água para a fazenda.  Havia um tanque que fornecia água para a usina, ali existiam peixes. A água vinha de uma nascente chamada Macabá, era a mina de água que abastecia as caldeiras. Lino Morganti construiu um local para as mulheres poderem lavar as roupas aproveitando a água do tanque, assim como foi feito um espaço grande para secar as roupas, inclusive foi feito um banheiro coletivo com água quente. Fui batizado na Igreja Monte Alegre, ou Igreja São Pedro que é seu nome oficial. Quando Alfredo Volpi veio pintar o interior da Igreja São Pedro, ele tomava as refeições na nossa casa. Ao lado do casarão onde eu morava, havia dois sobradinhos, em um deles ficava hospedado Alfredo Volpi e no outro o Odorico Marchetti. O Lino Morganti mandou trazer a planta Vitória Régia para por no lago que havia na usina. Lembro-me que em 1947 Dona Bice resolveu fazer o Baile da Primavera, o Seu Lino mandou limpar o depósito de açúcar e foi enfeitado com a flor primavera. Foi feito um concurso para Rainha da Primavera as candidatas eram: Isolina (Secretária do Seu Lino), Leonor Sapronha e Esther Zinziler, a disputa foi grande, todas elas eram muito bonitas. Venceu a Isolina. Dona Bice mandou fazer uma capa de veludo vermelho para colocar na rainha. Uma coroa dourada. Tinha que segurar a capa nas pontas eu e meu irmão Arack fomos indicados.  A Dona Bice mandou fazer roupas especiais para nós, toda de renda nos pulsos, meia branca até o joelho, sapato de verniz preto e luvas brancas.






Naquela época havia muitas festas na Usina Monte Alegre?

Aos sábados havia baile com a orquestra da usina. Todos os anos havia carnaval, com confeti e serpentina. Havia dois motoristas que gostavam de fazer serestas: Pretelli no violão e Vinicius como cantor, tinha uma bela voz, era o “crooner” da orquestra.




Quem administrava a Usina Monte Alegre?

Quem administrava era o Comendador Pedro, que era o patriarca. Os diretores eram os filhos e Dr. Alcides Ayrosa pai da Marisa. Meu pai aposentou-se em 1950.

O seu curso primário foi feito em qual escola?











Foi no Grupo Escolar Marquês de Monte Alegre, na Usina Monte Alegre. Naquele tempo havia dois períodos da manhã masculino das 7:00 às 11:00 horas e a tarde as mulheres das 13:00 às 16:00 horas. Os meninos hasteavam a bandeira e cantavam o hino nacional, as meninas arriavam a bandeira e cantavam o hino nacional. Todo material escolar era oferecido pela Usina Monte Alegre, nos cadernos vinham impressos os Hinos Nacional e da Bandeira. Havia dois serventes, um era o Seu José, que morava na usina, e outro era o Seu Maestro que dirigia os ônibus das professoras. O diretor era muito enérgico. Se o aluno fosse mal comportado o seu pai era chamado pelo gerente da usina. Nos finais de ano havia uma festa onde tinha uma sala para mostrar os trabalhos manuais realizados pelos alunos, eu mesmo fiz diversas toalhas bordadas, havia peças de teatro, um conjunto musical chamado “Chorinho da Escola”. Eram seis salas de aula. Os banheiros tinham inclusive chuveiros.



Como era a Festa de São Pedro na Usina Monte Alegre?

Todos os anos no dia 29 de junho havia a Festa de São Pedro (Padroeiro da Usina), um dia antes havia a confissão para os que iam fazer a primeira comunhão, no dia seguinte havia a missa, comunhão e todos iam para a quadra de tênis que ficava na casa do Seu Lino Morganti, tomava-mos chocolate quente, lanche em seguida íamos até a escadaria da casa onde morava o Seu Lino e recebíamos cartuchos de doces distribuídos pela Dona Bice. As missas era celebradas por um frade do Seminário Seráfico São Fidelis, a usina mandava buscá-lo. Após a celebração o frade ia tomar café na mansão, servido pelo meu pai. A tarde havia aulas de catecismo ministradas por freiras do Lar Escola Coração De Maria, após as aulas elas iam tomar café na mansão, servidas pelo meu pai, por ordem da família Morganti.

Havia procissão?

Era feita a tarde, uma procissão com todos os santos, acompanhada pela Banda Marcial da própria usina, o maestro era o Seu Bilo, subiam pela Rua Dona Joaninha. Era a rua onde morávamos. O gerente do armazém que atendia aos moradores da usina era Gino Denucci, a filha dele, Maria Julia, era afilhada do Governador Adhemar de Barros, ela foi a primeira a sair na capa da Revista Mirante, edição número 1. Na usina tínhamos luz, água, saneamento básico, esgoto, ambulatório com dois médicos, dentista, posto de puericultura tudo sem pagar nada. O que adquiríamos no armazém era pago, desde alimentos até tecidos, linha, agulha, botão. Havia uma torrefação de café. Açougue. Recebíamos gratuitamente quatro litros de leite por dia, dois pela manhã e dois a tarde, havia um estábulo com diversas vacas leiteiras. A lenha para cozinhar era gratuita. Foi criada uma farmácia pelo farmacêutico Felix Zaca. Era uma pequena cidade, podia dormir com as portas sem trancá-las Existia guarda que apitavam, tínhamos segurança.

Como foram construídas as casas da usina?

Foram construídas com tijolos e telhas da própria cerâmica da usina, os tijolos tinham três furos, eram difíceis de quebrar. Nossa rua foi a primeira a receber calçamento de paralelepípedos, nessa rua morava o Regitano, lsaltino Rocha Mello, Manoel Enfermeiro, Mariano Bethiol, Família Bouchete, Ronco, Pedro Sapronha, Angelo Picaluga.

Havia campeonato de corte de cana?

Anualmente havia campeonato de melhor cortador de cana-de-açúcar, alguns vinham da Usina Tamoyo para concorrer com os da Usina Monte Alegre. Eram entregues prêmios, troféus, era uma festa sem fim, com churrasco no campo de futebol. Havia um refrão: “Na pelota e no podão, o Monte Alegre é Campeão”. Toda semana recebíamos um jornal editado pela tipografia de Aloísio Fernandes, situada em frente ao Cine Broadway. Era muito comum Lino Morganti fazer festas, churrascos, meu pai era o responsável pelo cardápio. No sábado de aleluia havia a malhação do Judas, escolhiam um eucalipto bem alto para fazer o famoso pau de sebo, tinha prêmios em mercadoria e até em dinheiro, depois da retirada do boneco (Judas) era uma festa a malhação.  Lembro-me quando Dona Bice e as crianças vinham passar as férias na usina, uma das noites após o jantar, as filhas Marisa, Maria Cristina e eu fomos ver o salão de baile onde estavam todos dançando, quando aparecemos na porta pararam de dançar, Dona Bice mandou continuar a dança. Mandou a seguir que eu e a Marisa fossemos dançar naquela época era disco de vinil. Tocou Tico-Tico no Fubá e Aquarela do Brasil. Eu e a Marisa rodopiando no salão. No dia seguinte foi o maior comentário, porque nunca tinha acontecido isso. Havia uma casinha feita nos moldes uma casa, está em pé até hoje, ali brincávamos de fazer comida. Meu pai é que preparava para comermos de fato. Após o almoço íamos andar a cavalo junto com o cocheiro, voltávamos e íamos nadar na piscina. Toda vez que Dona Bice vinha trazia-me um presente, um relógio, uma caneta, roupas. Nas férias vinha o Pedro Sérgio, Pedro Fúlvio, Marcos Fúlvio, Antonio Carlos (Irmão de Marcos Fúlvio), a mãe dele pedia a meu pai que cuidasse da alimentação dele, pois estava acima do peso, Em uma das vezes em que estávamos andando a cavalo fomos parar em uma plantação de cana onde morava uma descendente de escravos. O Marcos Fúlvio viu um porquinho e gostou tanto que a senhora deu-lhe de presente. Enquanto estava na fazenda ia todos os dias ver o porquinho que ficou em nosso quintal. Lembro-me quando o ator Helio Souto começou a flertar com Maria Helena, ela era muito bonita.

Como era o seu lanche na escola?

A nossa casa era vizinha a Escola, na hora do lanche ia até o muro e pegava o lanche. Tinha colegas que traziam as roupas e trocavam após as aulas, já iam cortar cana. Um dia eu fui também para aprender a cortar cana.

Como era transportada a cana-de-açúcar até a usina?

Eram utilizados carroções puxados por seis burros que traziam os feixes de cana cortados no canavial até os vagões. Lino Morganti adquiriu uma frota de caminhões para transportar do canavial até os vagões. Durante a Segunda Guerra Mundial houve problema de fornecimento de gasolina. Através de João Bottene as oficinas da Usina Monte Alegre adaptou os caminhões para utilizarem álcool com combustível. A Usina tinha uma estrada de ferro que transportava da descarregadeira a cana transportada pelos caminhões e levar para a produção. O açúcar er transportado para Santo por via férrea. A usina tinha a Fazenda Taquaral onde fazia conexão com a Estrada de Ferro da Companhia Paulista

Como era comemorado o dia Primeiro de Maio?

Era comemorado com um piquenique em um local com muitas árvores e grama. Era chamado de Guarantã pelas árvores existentes. Íamos de trem, em três vagões fechados,  iam as famílias dos gerentes, as mulheres de outros departamentos, e a banda musical, em cagões abertos iam os homens. Em outro vagão que era transportado o açúcar para Santos transformava-se em um verdadeiro bar, aonde iam as bebidas. Após o lanche havia diversas competições: corridas de saco, ovo na colher; bater no pote dependurado em uma árvore com os olhos vendados e outras brincadeiras.

 

Lembra-se do nome de alguma professora?  

Lembro-me sim! Dona Niobi Tricânico, Dona Alice, Dona Lavínia e sua irmã, Dona Rosália, e mais outras quatro professoras. Diretores nós tivemos: o Seu Oscar, Seu Carlos, Dona Guaraciaba Guerra cujo marido foi médico na usina.










O senhor prosseguiu seus estudos?

 Em seguida fui estudar no Colégio Dom Bosco, que se situava na época ao lado da Igreja Sagrado Coração de Jesus, mais conhecida como Igreja dos Frades. Depois é que foram para o Bairro Alto construíram em um terreno que foi doado para eles. Estudei um ano lá, fiz o ginásio no Colégio Piracicabano. Fui estudar na Escola Normal, situada no Instituto de Educação Sud Mennucci. Fiz na Faculdade de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração de Empresas Piracicabana Curso de Liderança e Relações Humanas com o Professor Dr. Mauro Pereira Viana. Sou Bacharel em Direito com Curso de Pós-Graduação pela Faculdade de Direito do Sul de Minas- FDSM- Pouso Alegre- MG. Atuando nas áreas Civis e Criminais desde 1980.

Com que idade o senhor começou a trabalhar?

Com 12 anos fui trabalhar na Loja Cruzeiro do Sul de tecidos, propriedade de Zacharias Salomão, situada na Rua Governador Pedro de Toledo esquina com a Rua Floriano Peixoto,ali permaneci por cinco anos, o Zacharias abriu uma segunda loja na Rua Benjamin Constant, em frente ao Posto do Jacinto Bonachella, hoje tem uma padaria no local, é na esquina com a Avenida Dr. Edgard Conceição. A seguir trabalhei na Mepir – Metalúrgica Piracicabana. Fui trabalhar com os Irmãos Adamoli: Zezé, Zoca, Carlos. Ainda em Piracicaba trabalhei na Refrigeração Guidotti na Rua Governador Pedro de Toledo. Fui para São Paulo, onde trabalhei na Cooperativa Central. Voltei para Piracicaba, para trabalhar na Padaria Brasileira de José Yeda Filho. Montamos o primeiro boliche de Piracicaba, posteriormente meu irmão José Yeda Filho e Pedro Fúlvio Morganti transformaram na Boate Jequibau com a presença de artistas de renome como Juca Chaves, Dekalafe, Wilson Simonal, Cauby Peixoto, e outros nomes importantes. Marcou época em Piracicaba.

Quando a boate encerrou as atividades qual foi seu próximo emprego?

Foi na SABIC- Administração de Serviços de Cobrança, em São Paulo. Depois trabalhei no Mappin, na Acrivideo-Palomar, Beta Indústrias de Jóias e Relógios, Malharia Campos de Jordão, MINAFE- Importadora de Ferramentas. Lembro-me do Viaduto do Chá, quando havia o namoro dos negros, em uma calçada iam as mulheres e em sentido contrario vinham os homens. Assim ficavam passeando, era um local quase demarcado por eles. Da Praça Patriarca até a Praça Ramos. Geralmente se encontravam na Praça Patriarca onde começavam o namoro. Os homens usavam paletó e gravata, as moças iam de vestido longo.

Como se chama a sua esposa?

Em primeiras núpcias casei-me com Maria Doracy Spoladore Yeda, tivemos três filhos: Gracia, Jefferson, Shizue, 5 netos e 3 bisnetos. Um dos netos toca violino na Orquestra Sinfônica de Piracicaba. Sou casado em segundas núpcias com Maria Nazaria Andrade. 

 


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