domingo, outubro 04, 2015

UMBERTO DE ALMEIDA ROCHA

Entrevista realizada a 28 de setembro de 2015
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 3 de outubro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: UMBERTO DE ALMEIDA ROCHA
Umberto de Almeida Rocha é casado com Maria da Paz Aguado Rocha
Umberto de Almeida Rocha nasceu a 30 de março de 1937,  tem 78 anos, filho de Antonio de Almeida Rocha e Ana Luiza Prando que tiveram oito filhos: Otávio, Dionísio, Georgina, José, Rosa, Ângelo, Umberto e Inês. Nasceu na época em que seus pais moravam no sítio do Pacheco, próximo ao Morro do Brandilla. Pertencia ao distrito de Rio das Pedras. Moraram no sítio dos Pardi que tinham engenho de Pinga, nas proximidades de onde é hoje o CEASA de Piracicaba. Moraram no sítio dos Ducatti. Meu pai era meeiro. No período em que moraram no sítio dos Pardi Umberto ia a Escola do bairro rural do Chicó. Quando mudaram para o sítio do Ducatti ele ia na escola do Bairro Dois Córregos. O local onde situava esse sítio atualmente é o bairro da Pompéia. A casa da fazenda estava desocupada, foi lá que moraram. Iam a pé a escola no bairro Dois Córregos. O nome da Escola era Grupo Rural Professor Corte Brilho. Ele deveria ter uns dez a onze anos. Naquele tempo ia amarrar feixe cana, cortar as pontas da cana para alimentar os animais. Umberto de Almeida Rocha é casado com Maria da Paz Aguado Rocha, são pais de cinco filhos: José Antonio, Francilene, Luiz Fernando, Ronaldo Dimas e Danilo Marcelino. Casaram no dia 13 de maio de 1962, na Capela São Dimas, hoje é Matriz São Dimas.

Quantos feixes de cana o senhor amarrava por dia?
Uns 100 feixes. Naquele tempo passava o facão, tirava a palha, cortava a ponta e cortava o pé, a cana ficava limpinha. Amarrava o feixe com a própria folha de cana. Trabalhava descalço, as vezes usava alguma alpargatas que meu pai comprava. Amarrava um lenço no pescoço, usava um chapéu de palha. Naquela época não colocava fogo no canavial, era tudo com palha, é mais difícil, tem que cortar, descascar, Essa cana ia transportada por carroça com três burros, um no tronco ou varal e dois na frente. até a carregadeira onde o trem da Usina Monte Alegre ia carregar.
Qual era em média o peso de uma carroça carregada de cana?
Com carroça e tudo dava uns 500 quilos. Era roda raiada de madeira com um cinto de ferro. Quando chovia tinha que ajudar, a roda atolava no barro. Anteriormente, lá no sitio da família Pardi fazíamos pinga, meu pai tinha cartola de pinga em casa. Tinha uma carretinha com uma pipa só para esse fim: o meeiro precisava engatava o animal na carretinha e levava. A cartola tinha capacidade para 100 litros. A pinga durava bastante tempo, descansava na cartola. Isso não vou esquecer.
Essa pinga era paga ao dono do engenho?
Eu acredito que não. Lembro-me que era feito em alambique de cobre, deixava a garapa ficar azeda, fermentada, depois colocava no alambique e acendia o fogo, a medida que ia fervendo ia subindo o vapor, que era conduzido por um cano de cobre, era a pinga. Tinha um ribeirãozinho, após passar por uma serpentina a pinga ia para uma caixa embaixo, com uma bombinha manual a pinga era enviada para o tonel. Meu pai dizia que uns 50 litros de garapa azeda dava uns quinze litros de pinga.




 O Pardi tinha uns quatro ou cinco tonéis de madeira, cada um com uns 30.000 litros. Quando saímos do Pardi meu pai arrumou um outro sítio onde plantava “a terça”, duas partes para nós e uma parte para o proprietário. Lá tínhamos também espaço para plantar a lavoura de subsistência: arroz, feijão, milho. Podíamos criar animais. Quando malhava o arroz a tarde o dono das terras ia lá de charrete para olhar, era o Ducatti, Se desse nove sacos de arroz três ele colocava na charrete e levava, os outros seis sacos era nosso. Era arroz com casca ainda. Logo o Otavio e o Dionísio, conhecido como Tino, a Georgina, casaram. Nós mudamos para a cidade. Viemos para a Vila Progresso, hoje conhecida como bairro São Dimas. Minha casa ficava na Rua Barão de Piracicamirim, Perto da minha casa tinha dois campos de futebol: do IV Centenário e do Progresso. Ficava próximo a Avenida IV Centenário, vi fazerem aquela avenida, era um barro só. Na baixada, onde hoje é CENA – Centro de Energia Nuclear na Agricultura era a Vila Souza.
Aqui em Piracicaba o senhor passou a trabalhar onde?
Na Boyes. No inicio, meu pai tinha um carrinho de tração animal, as vezes ele ia fazer um carretinho, eu o ajudava. Quando completei dezoito anos arrumei serviço na fábrica. Isso foi em 1955, na época os maiores lugares para trabalhar era na Boyes, Prefeitura Municipal e o Dedini. Entrei na Boyes como funcionário em serviços gerais. Após um ano apareceu uma vaga como operador das máquinas. Tinha 45 máquinas na seção com dois operadores, metade das máquinas para cada um cuidar. Tinha quem transportava algodão para elas, outro que transportava o algodão pronto. O operador só ficava cuidando do bom funcionamento das maquinas. O algodão chegava na Boyes em fardos, sem caroço. O algodão já tinha passado no batedor quando chegava a essas máquinas, o trabalho delas era fazer fibras de algodão. No fim passei a ser contramestre da seção que recebia o algodão e da seção onde eram feitas as fibras. Fiquei encarregado de duas seções. Trabalhei 25 anos na Boyes.
A Boyes produzia o que?
A minha seção produzia só algodão, o fio era produzido depois. Quando entrei lá eles tinham uns tearzinhos para tecer tecidos, faziam uns panos xadrez, depois começaram a renovar, tear de dois metros, faziam tecidos para lonas. Depois passou a fazer fio e embalar fio para exportar. Ela ganhou prêmio nos Estados Unidos. Os caminhões do Expresso Piracicabano ficavam aguardando embalar os fio para transportarem até o porto.
Esses fios eram usados para que?
Aqui em São Paulo quem usava muito era a Alpargatas, a Firestone, a Goodyear, faziam lonas de pneus. Hoje vejo a fábrica no estado em que está e sinto o abandono em que se encontra.
Quantos funcionários trabalhavam na Boyes?
Teve época em que trabalhavam três turmas. Cheu a te 1.300 funcionários trabalhando. Uma turma ia das cinco horas da manhã até a uma e meia da tarde. A uma e vinte da tarde entrava outra turma e saia as dez horas da noite. As dez horas da noite entrava outra turma e ia até as cinco horas da manhã. Ligava as máquinas na segunda feira de manhã e só parava domingo de manhã. Mesmo assim por uns três anos eu ia domingo até a fábrica.
Ganhava horas extras?
A cada hora trabalhada contava como três horas. Eu trabalhava seis horas todos os domingos, contava como dezoito horas trabalhadas. Era serviço que só podia ser feito com as máquinas paradas, manutenção, lubrificação.
Quem era o proprietário da Boyes?
Era conhecido como Seu Ford. Ele vinha uma vez por mês. Quando sabia que ele ia vir o pessoal caprichava em deixar a fábrica em ordem. Muito limpa. Ele entrava, com as mãos cruzadas sobre as costas, ia verificando cada máquina, visitava cada seção. Não falava nada. Isso foi até o finzinho da minha carreira. Depois ele passou para os filhos: Peter e David. Com o pai, o velho Ford, nunca houve uma reunião. Trabalhávamos sem parar. Quando seus filhos assumiram foi montada uma estrutura administrativa, a meu ver, com mais pessoas do que era necessário. Um dia eu falei com o Dr. Peter. Colocaram um gerente geral que chamava os funcionários assobiando. Um dia ele fez isso comigo, eu fiz de conta que não ouvi. Ele veio saber por que eu não havia respondido. Disse-lhe que não estava acostumado a ser chamado por assobio. Foram desde pequenas atitudes como essa até o posicionamento junto ao mercado e suas mudanças que iniciaram a decadência da fábrica. Também foram admitidos alguns funcionários administrativos sem a devida competência. Sessenta por cento da energia elétrica utilizada na fábrica eram geradas por duas máquinas que estão funcionando até hoje, graças a um canal, braço do Rio Piracicaba. Não sei quem utiliza atualmente aquela energia. Tem gravadas o nome “Elvira”. Ao lado, ocupando um quarteirão, há um palacete que pertencia ao Ford.
A Boyes fazia muita sacaria ?
Fazia sacos para açúcar; Muitos. Chegavam sete a oito caminhões com fardos de algodão. Eram descarregados com o auxilio de equipamentos. Tinha elevador,o depósito ficava em frente ao palacete. Cada fardo de algodão pesava uns 200 a 230 quilos. Nós íamos trabalhar passávamos pelo meio do jardim que existia e mais tarde o local foi ocupdo para construir o Hotel Beira Rio. Nós morávamos no que é hoje bairro São Dimas, descíamos, a pé, ali era tudo pasto próximo a ponte Rebouças havia uma fábrica de refrigerantes. Não tinha avenida. Naquela época a atual Avenida Torquato Leitão, que passa em frente ao Lar dos Velhinhos era tudo terra. Assim como o Morro das Carmelitas. Não havia naquele trecho a Avenida Armando Salles de Oliveira, era só pé de mamona, e o Ribeirão Itapeva passava no meio. A linha de trem passa a Estrada de Ferro Sorocabana. Aqui na Vila Rezende, na Avenida Conceição havia duas biquinhas de água, foram canalizadas. Tinha uma água que era um cristal! Os mais antigos dizem que era um brejeiro muito grande, até pecavam. Dona Maria da Paz, esposa de Umberto conta um fato curioso, seu pai era espanhol, residia em Piracicaba, era o filho mais velho dos filhos do sexo masculino. A sua família continuava morando na Espanha, a filha mais velha mandou uma carta dizendo que estava doente e que estava com saudade dele. Ele foi para a Espanha visitar a sua família.A viagem de navio demorava um mês. Sua irmã faleceu, ele permaneceu até a missa de sétimo dia do falecimento, e depois voltou ao Brasil. Na volta a sua filha Maria da Paz já tinha nascido e batizada como Terezinha. É que a parteira achou que a criança ia morrer, perguntou à mãe que nome daria a criança, sua mãe respondeu: “ – Põe o nome de Terezinha, tenho tanta fé em Santa Terezinha!” Seu pai na volta da Espanha fez o registro dela em cartório com o nome de Maria da Paz. Naquela época a família que ia ter nenê chamava a parteira, que vinha e ficava na casa até a criança nascer. Até o umbigo cair, depois a parteira ia embora. Uma tia, irmã da minha mãe, fez a promessa de que se eu vivesse seria batizada como Terezinha em Bom Jesus de Pirapora. E foi de fato o que ocorreu.
Como surgiu o nome Maria da Paz?
Quando casei meu apelido era Terezinha do Açougue. Era um bairro que estava começando, meu pai colocou o primeiro açougue do bairro São Dimas, ali na Vila Boyes, próximo a igreja. Os dois primeiros filhos tive em casa: José Antonio e Francilena Aparecida.
A senhora nasceu em Piracicaba?
Nasci no bairro Limoeiro a 23 de janeiro de 1940, mudei para a cidade com nove anos.
Como o casal se conheceu?
Foi em baile da Festa de São Pedro, o Umberto estava tocando acordeão. Começamos a dançar. Antigamente na véspera de São Pedro era feriado, ele tocava sanfona, o musico que tocava violão casou-se com uma prima nossa, o Tito.Outro musico tocava cavaquinho. Formava um trio. Na véspera do Dia de São Pedro era feriado, então faziam aqueles bailinhos. Umberto de posse da sua sanfona executa a música “Saudades de Matão”.
O senhor permaneceu na Boyes até que ano?
A 30 de agosto de 1980 eu me aposentei. Formei a Banda Primavera, nós viajávamos para muitas cidades como Botucatu, São Manoel, Lençóis Paulista, Tietê, conchas, Boituva Cerquilho. Éramos seis, tinha outro sanfoneiro o José Clemente. O vocalista era deficiente visual Lourenço do Prado, Valter era o baterista, o Mineirinho no contrabaixo. Tocávamos forró, valsa, bolero. Aqui no varejão vai das sete e meia até as onze e meia da noite. Quatro horas de show. Nesse mundão começava as nove horas da noite e ia até as duas da madrugada.





   


Quanto tempo a Banda Primavera executou músicas?
Foram uns quinze anos. Tocamos no Teatro São José, em Piracicaba. A faixa etária que frequentava era a maioria da terceira idade. Fui uma vez no auditório da Rádio Difusora com o meu compadre Laerte Zitelli, ele foi padrinho do meu filho. Ele trabalhava conosco na fábrica Boyes, aposentou-se conosco na fábrica. Conheci o Hilário Luccas, ele era chefe da sala do pano. A minha seção era Cardas e Batedor. “Cardeava “ o algodão e no batedor, bati o algodão e fazia um rolo. O rolo passava nas cardas e saia só o algodão, só fibras. Dalí ia para a passadeira, dali saia na maquina de fiação, depois saia a espula(bobina) com o fio.
A comida o senhor levava de  casa?
Levava a marmitinha, e como gostava! Meu irmão Otávio vinha lá da Vila Monteiro, a pé.
Os jovens da Vila Rezende não aceitavam muito rapazes de outros bairros passeando por aqui, e a recíproca era verdadeira?
Tinha a Turma do Zoca, que era muito valente. Agora estão todos já com idade mais avançada. A parte de cima do algodoal até o frigorífico era plantação de sisal (pita), utilizada para fazer corda.
Da fábrica dava para ver o Rio Piracicaba?


Na Boyes tinha a fábrica velha e a fábrica nova. Da fábrica velha, onde as vezes tinha algum vidro quebrado, dava para ver o pessoal pescando no Véu da Noiva, pescavam cada dourado! Tinha muito peixe. 

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