domingo, setembro 02, 2018

CLÉIA MARIA DA LUZ RIVERO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 10 de abril de 2018.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: CLÉIA MARIA DA LUZ RIVERO


 

A Secretária da Educação do Município de São Pedro, Profa. Dra. Cléia Maria da Luz Rivero elegeu a Educação como seu objetivo profissional. Foi uma escolha muito acertada do prefeito desse município paulista, Hélio Donizete Zanatta, para compor a sua equipe administrativa. A Professora Cléia ao longo dos anos acumulou larga experiência em formular e desenvolver projetos educacionais de ampla escala. Os resultados estão aparecendo a olhos vistos. Quando muitos brasileiros concluem que sem formação educacional o país não se desenvolve, prefeituras sofrem com dificuldades de verbas para a educação, a cidade de São Pedro, sob a dinâmica e competente administração na área educacional, dá o exemplo de como superar dificuldades.   
A senhora é natural de São Pedro?
Nasci a 10 de maio em Quarai, situada no Rio Grande do Sul, na fronteira com o Uruguai, atravessando o Rio Quarai situa-se a cidade de Artigas, Departamento do Uruguai. Meus pais tinham propriedade em Quaraí, depois meus pais mudaram-se para Santana do Livramento também fronteira com outra cidade do Uruguai: Rivera. Sou filha de João da Luz Filho e Hulda Rosa da Luz que tiveram os filhos: Cléia, La-Hire, João Antonio e Rosa Maria.
 
                                                      MUNICIPIO DE SÃO PEDRO
 
 
A senhora realizou seus primeiros estudos em que cidade?
Sempre em Santana do Livramento. Quando mudamos de Quarai eu não tinha idade escolar. Comecei os meus estudos em Santana do Livramento.






SANTANA DO LIVRAVENTO RS PRAÇA GENERAL OSÓRIO FRONTEIRA COM RIVERA NO URUGUAI
A senhora lembra-se do nome da sua primeira professora?
Lembro-me sim! Madre Joana! Eu estudava no colégio das Irmãs Teresianas. Era uma escola muito grande das Teresianas, uma irmandade católica que só tinha em três lugares no Brasil: Em Santana do Livramento  por terem vindo do Uruguai; uma escola em Porto Alegre e outra no Rio de Janeiro. Lá estudei desde o jardim da infância até me formar na Escola Normal, concomitantemente com a Escola Normal fiz também o Curso Científico. Fiz os dois curso hoje considerados de ensino médio. Estudava o dia inteiro. Desde pequena eu queria ser professora!
A senhora casou-se?
Casei-me em Livramento com um moço de Quarai: Carlos Roberto Rivero. Por acaso nos encontramos na juventude, em uma festa, namoramos por quatro anos. Tivemos três filhos: Martha Helena, João Miguel e Paulo Roberto. Fruto dos dois filhos, cinco netos.
Qual é a profissão do seu marido?
Ele sempre trabalhou com comércio. Quando viemos do Rio Grande do Sul para Piracicaba foi em função do seu trabalho: couro e artefatos de couro. No Rio Grande do Sul ele trabalhava com curtume e couros, junto com meu pai, inclusive exportavam tapetes, depois meu pai aposentou-se, fechou a empresa, o Roberto passou a trabalhar com uma empresa que se chama Fasolo S/A, ele foi escolhido para vir para São Paulo, para trazer a grife de artefatos de couro, cintos e carteiras. A marca Fasolo não tinha  em São Paulo, foi ele quem introduziu essa grife no Estado de São Paulo. Achamos por bem instalarmo-nos em Piracicaba, eu já tinha bastante conhecimento com o pessoal da UNIMEP, desde quando residíamos no Rio Grande do Sul. Era também uma forma para que eu continuasse meus estudos. Nunca parei de estudar. Eu vim de lá com 15 anos de carreira como professora do Estado, já tinha sido diretora e supervisora de ensino. Isso foi em 1982. Chegando aqui, já nos instalamos, ele começou a prospecção de clientes no Estado de São Paulo, eu mandei meu currículo para a UNIMEP, eu já tinha sido professora universitária no Rio Grande do Sul, dali a 15 dias o Reitor Professor Elias Boaventura mandou me chamar. Disse-me “- Professora eu vi o seu currículo, quero convidá-la para assumir a coordenação pedagógica do Colégio Piracicabano, estou sem coordenadora”. Ele estava 6 meses sem coordenadora. Disse-me: “O Colégio comporta muitos alunos, no momento temos só um decréscimo de alunos. Estamos com menos de seiscentos, vou confiar à senhora para fazer uma campanha para esse alunato crescer”. Disse-lhe: “Reitor, venho do Rio Grande do Sul, não vou negar a minha experiência de 15 anos, tanto de sala de aula como de coordenação, direção, supervisão. Mas preciso me ambientar, venho de um Estado diferente de São Paulo. Creio que há muitas questões, tenho que primeiro me atualizar.”. Ele disse-me: “-Não! Sei que vai dar certo! A senhora pode começar já!” Isso foi no comecinho do mês de fevereiro, comecei levando o professorado para o planejamento deparei-me com algumas coisas que aqui nem havia sido lançadas, na escola fundamental e de ensino médio. Tinha muitos cursos profissionalizantes no colégio. A primeira recomendação que o Reitor me deu foi: “-Faça um regimento comum da escola. Novo. A diretoria de ensino está pedindo e nós precisamos renovar”. A minha primeira dedicação foi arrumar a documentação da escola, depois me dediquei ao pedagógico e trabalhei por dois anos e meio como coordenadora lá. Quando saí tínhamos 1080 alunos!
A senhora saiu e foi para onde?
Fui para a UNIMEP! Para o Departamento de Ciências Humanas. Eu já estava fazendo o meu mestrado em Educação nessa época. Estava quase para defender a minha dissertação, quando fui chamada pelo diretor, perguntando-me se eu não queria assumir algumas aulas na sua área, na área de política educacional, de didática geral específica para os alunos. Das licenciaturas ou da pedagogia. Com isso sai do Colégio e fui para a UNIMEP, onde fiquei por 25 anos, como professora, lutando pela educação, sempre com a formação de professores. Trabalhei nas licenciaturas, no Curso de Pedagogia, na Pós-Graduação em Educação, isso depois que completei meu doutorado. Sou da primeira turma de doutorado da UNIMEP. Isso foi em 1996. A educação é a minha paixão, eu acredito ainda na educação. Acho que esse País no dia em que acreditar na Educação e colaborar para que os municípios possam fazer uma educação de qualidade, é através da Educação que o País irá se salvar. Não acredito em mais nada. Só na Educação!  
O título de cidadã piracicabana e são-pedrense já lhe foi concedido?
Ainda não! Nenhum dos dois! Recebi uma moção da Câmara de São Pedro.
Quantos livros foram escritos pela senhora?
Publicados tenho três livros, técnicos, na área da educação: “Interfaces da Gestão Escolar”; “Formação Profissional dos Educadores”; “Formação do Professor na Sociedade do Conhecimento”
A senhora assumiu como Secretária Municipal da Educação de São Pedro quando?
Foi em março de 2014, eu tinha mudado de Piracicaba para São Pedro fazia um ano e alguns meses, era o sonho do meu marido vir para São Pedro assim que se aposentasse. A minha tranqüilidade durou um ano. Recebi um telefonema de que o prefeito queria falar comigo. Disse-lhe: “-Se o senhor está procurando uma pessoa política, não encontrou!” Não sou política. Na administração anterior eu já tinha feito um trabalho de capacitação de professores através de uma empresa que criei para atender aos municípios que começaram a me chamar. Disse-lhe “-O meu voto foi em Piracicaba!” Mas tecnicamente se o senhor precisar do meu trabalho, eu estou em São Pedro. Ele disse-me: “Na Educação eu quero uma pessoa técnica! Se alguém quiser fazer política, faço eu!” Ele foi muito honesto e franco. Pedi-lhe uns dias para pensar, conversar com meu marido e dar-lhe a resposta. Eu já sabia o que significava ser uma Secretária da Educação. Os diretores que tenho até hoje, quase todos foram capacitados por mim.
Quantas escolas estão sob a responsabilidade do município?
São 20 escolas. Temos 5.520 alunos. Isso na rede municipal. Depois existem as escolas estadual e particulares. Quando assumi acho que não chegava a 3.600 alunos.
Como a senhora consegue manter uma rede municipal com esse número de alunos em uma cidade de 40.000 habitantes?
Recorremos ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), vamos para Brasília, lutamos pela verba, sou da União dos Dirigentes Municipais de Educação do Estado de São Paulo (UNDIME-SP), represento um dos pólos da UNDIME, o pólo 33. É composto por 11 municípios.
Como está a nossa Educação?
Eu acredito que aqui em São Pedro a nossa educação está caminhando. Cada dia melhor. O corpo educacional une-se mais em torno de uma proposta. Não tínhamos uma proposta fechada, a minha equipe, são 18 pessoas, mais os diretores e coordenadores, atendemos desde a creche a partir de 4 meses até o 9º ano.
A creche é período integral?
Quase todas em período integral. Ensino fundamental do primeiro ao nono ano (antigo ginásio). As Escolas Estaduais cuidam do ensino médio (antigo científico). Não tem ginásio do Estado, só do Município de São Pedro. O currículo é elaborado por nós, pela equipe. Seguem as normas federais, adequado a nossa realidade. Nossa proposta, principalmente na educação infantil e parte da educação fundamental, é uma proposta muito lúdica, eles compreendem tudo de forma lúdica, essas crianças tem muita energia, não são mais crianças criadas em uma família sedentária, como era antigamente. Agora elas não têm mais família completa em casa, são famílias com outra formação, quando tem o pai e a mãe juntos os dois trabalham, as crianças precisam se socializar na escola.
Eles ficam em período integral na escola?
Tenho programa de educação integral. Não tenho em toda a rede. Tenho período integral que começou com subvenção federal, depois as escolas nossas que tiveram o Ideb alto (Ideb é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) eles não estão mais subvencionando o integral, só permaneceram com subvenção as que ficaram com Ideb baixo, que tem maior número de bolsas famílias, vulnerabilidade social. A nota da escola não atingiu o nível suficiente comparado com as outras, isso não deu margem para que ela também fosse dispensada do programa de tempo integral, que o governo subsidia. Essa minha escola que tem 400 alunos ainda é subsidiada para o tempo integral pelo Governo Federal. As outras todas minhas eu tenho tempo integral, mas com subvenção própria. O município custeia.
Como o município consegue obter renda para isso?
É uma renda muito bem gestada! Muito bem administrada! São Pedro foi considerado no Estado de São Paulo o Primeiro Município Gestor. Que tem a melhor gestão! No Brasil ele está em terceiro lugar!
O foco do Município de São Pedro é a Educação?
O foco do Município de São Pedro é Educação e Saúde! A Saúde alavancou uma qualidade! Tanto que cirurgia de média complexidade já está em parceria com Piracicaba. Quando eles não têm vaga lá, mandam para operar aqui!
Há uma história curiosa sobre a criação de uma mascote pelos alunos?
Surgiu em 2017, ano passado, o Governo Municipal junto com a Saaesp (Serviço Autônomo de Água e Esgoto de São Pedro) implantaram um projeto na Educação Ambiental, com o foco na reconquista do Selo Verde e Azul. (O programa analisa o desempenho em dez diretivas, onde são avaliadas ações nas áreas: esgoto tratado, lixo, recuperação da mata ciliar, arborização urbana, educação ambiental, habitação sustentável, uso da água, poluição do ar, estrutura ambiental e conselho de meio ambiente). São Pedro é uma cidade turística. Com isso, nossas escolas foram chamadas pela Secretaria da Educação para fazermos com as crianças muitos projetos da área de  Educação Ambiental,e a nossa resposta foi quando veio o Vice-Prefeito Tiago Silva que ao mesmo tempo é diretor da Saaesp. Uma empresa externa veio implantar o projeto, fomos chamados para que os nossos diretores incentivassem os alunos a terem projetos a fim de que todo esse arsenal fosse também considerado nesse projeto maior do município. Demos o nosso depoimento que no nível escolar nós já fazíamos isso. Nós já tínhamos tudo pronto: projetos da água, do plantio, horta. Só não tínhamos bem estruturada a questão seletiva do lixo. Tivemos o aval, isso incentivou mais essa parte. Até que chegou o momento em que eles quiseram fazer uma caminhada, da Praça Central até a Praça Santa Cruz. Para conscientização, era o dia da conscientização. Muitas das nossas crianças foram, na caminhada, mas antes da caminhada, teve um concurso, eles queriam uma mascote. Nossas crianças fizeram uns desenhos, as coordenadoras classificaram os desenhos, montamos um júri com os desenhos considerados mais destacados, o júri tirou três desenhos mais expressivos. Dos três o que tirou o primeiro lugar foi a formiga! A Dona Catarina! Nosso corpo docente é bastante comprometido com o ensino de excelência. Temos sempre o que fazer para melhorar, nunca digo que a coisa está completamente boa! Mas estamos no caminho!

                                                    Dona Catarina
                    A formiguinha símbolo criada por uma criança!
 
Turisticamente São Pedro oferece muitas opções, mas dá-se a impressão de que não é muito explorado.
Ele não era, estava muito tímido. Neste governo é que alavancou muito mais. Esportes radicais, saltos de ultraleves. A serra. Vem gente de todos os lugares. Final de semana fica lotado. 
Como a senhora se sente em São Pedro?
Eu me sinto muito bem, se tivesse que escolher de novo não escolheria outra cidade, eu viria para cá. Aqui é a nossa cidade. Gosto muito daqui.

ÉSIO ANTONIO PEZZATO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 28 de abril de 2018.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

ENTREVISTADO: ÉSIO ANTONIO PEZZATO

 
 

Ésio Antonio Pezzato nasceu a Rua Visconde do Rio Branco, 1281, Piracicaba, a 3 de dezembro de 1952, é filho de Lásaro Pezzato e Maria Virginia Rizzi Pezzato.
Você pratica atividade física regularmente?
Tenho uma boa disposição física: vou a Pirapora do Bom Jesus (Pirapora) a pé, já fui 51 vezes, desde 1968, são 120 quilômetros. Quando era mais novo levei uma cruz de 100 quilos, sem rodinha atrás. Arrastando pelo chão, eram 10 metros de vigota de peroba 12 por 6.  Naquele tempo não tinha pinus. Demorei 8 dias para chegar em Pirapora. Foi do dia 10 de janeiro a 17 de janeiro de 1980. Ando todos os dias 15 quilômetros, às vezes 30 quilômetros no dia. Vou de Piracicaba até Rio das Pedras e volto, saio às 5 horas da manhã às 10 horas estou de volta. Já fui mais de 200 vezes.
Você levava mochila?
A mochila ia dependurada na cruz. Comida havia nas paradas, tinha que levar muita água.
E Santiago de Compostela?
Para Santiago de Compostela, cidade e município no noroeste de Espanha, fui duas vezes, estou me preparando para ir a terceira. São 814 quilômetros, fiz em 30 dias, agora vou fazer em 32.
Qual é a sensação que você sente nessa caminhada?
Seu mundo está lá! Você encontra o mundo no Caminho de Santiago de Compostela. Pessoas de todas as idades, diferentes classes e poder aquisitivo, ali somos todos iguais. Cada cidade pelo caminho tem albergues. No total, entre pequenas vilas, lugarejos e cidades existem 180 lugares de parada no caminho. Em pelo menos 170 tem lugar para se hospedar. Alguns são pagos outros são gratuitos. Tem banho, alimento às vezes eles fazem, tem cozinha, vou até a tenda compro os ingredientes e faço a minha comida. Encontrei um casal que mora no Oriente Médio já há 18 anos, começamos a conversar e logo descobrimos que somos brasileiros, em seguida que a filha deles mora em Piracicaba! Estava em lugar chamado Sebrero, passa um moço por mim, com um castelhano diferente, pergunta-me se posso olhar sua bicicleta. Logo percebi que era brasileiro, perguntei-lhe onde morava no Brasil, ele achou que eu não conhecesse a cidade, disse que era de Piracicaba. Perguntei o nome do seu pai. É filho do Dr. Zago!
   Plano geral do Caminho de Santiagp de Compostela
E bolha no pé?
Eu não gosto! Não dá porque eu não gosto! (risos). Mas levo todo aparato: Rifocina, agulha com linha, Uso tênis e chinelo havaiana, com meia. O cajado ajuda a seguir em descida e impulsiona na subida.
 
E quando termina a caminhada, o que você sente?
Ao mesmo tempo em que é uma vitória, é horrível! Você acorda pela manhã e não tem que andar! Você fica 30 dias ou mais andando, você esquece-se de veículos, que tem que olhar para atravessar a rua. Aqui a vida continuou. Ela parou para mim lá. Você não irá encontrar Santiago lá. O Santiago que você encontrará é aquele que esta dentro de você. É um caminho que tem 1200 anos.
Seu pai trabalhava em qual atividade?
 Meu pai faleceu no dia 26 de outubro de 1987 aos 73 anos, ele trabalhou na Companhia Telefônica Brasileira CTB, ficava inicialmente na Rua XV de Novembro, ocupava até a Rua Rangel Pestana, ao lado ficava o Curso Preparatório da Dona Amália. Depois a Companhia Telefônica mudou para CIPATEL, a Rua Voluntários de Piracicaba, 666. Do lado oposto, onde depois foi construído o novo prédio da CIPATEL Companhia Telefônica de Piracicaba.Minha mãe é um furacão! Trabalhou como empregada doméstica na casa da Dona Branca Motta de Toledo Sachs e depois trabalhou na Fábrica de Tecidos Boyes até quando ela se casou e teve a minha irmã mais velha. Somos quatro filhos: Regina, Dalva, Ésio e Maria Helena.



 
Você estudou em quais escolas?
O primário eu fiz no Sud Mennucci e terminei no Grupo Escolar Alfredo Cardoso em 1963. Minha primeira professora foi Therezinha Ferraz do Canto Kraide, a do segundo ano foi Maria Boloni Sávio, do terceiro ano foi Maria Aparecida Machado e a professora do quarto ano foi Dalva de Oliveira. No preparatório foi Dona Maria Tarsia, Entrei para o ginásio, onde tive muitos professores, lembro-me do nome de todos.
Conheceu o Professor Benedito de Andrade?
Conheci, ele não foi meu professor, Fizemos parte do júri de um concurso de poesias. Ele me fez um elogio que está na contracapa do meu primeiro livro.
Quantos livros você já publicou?
Tenho quinze livros publicados. Umas 40 antologias. Tenho mais de 300 prêmios literários em muitos Estados do Brasil e fora do Brasil também, em Portugal, Almancil e Seixal. Já fiz a loucura de subir em um banco em uma rua de Lisboa e declamar Guerra Junqueiro (Abílio Manuel Guerra Junqueiro).
                             Guerra Junqueiro (Abílio Manuel Guerra Junqueiro).
E faturou uns trocados?
Viram o meu chapéu, colocaram umas moedas dentro! Declamei “Fiel” e “Melro”. ( Ésio declamou entre outras, essas duas poesias, no Recanto dos Livros, espaço cultural do Lar dos Velhinhos, com entrada franca,evento que realiza-se uma vez ao mês, sempre trazendo convidados de alto nível cultural. Participam moradores e todos aqueles que buscam momentos de cultura e diversão. Nessas declamações a platéia composta por homens e mulheres foram as lágrimas).
Qual é a sua profissão?
Sou professor de literatura, não dou mais aula. Trabalho como funcionário público faz 21 anos. Tenho mais de 40 anos de contribuição com a previdência, já tenho tempo de trabalho para aposentar-me. Trabalho por hobby, ficar em casa o dia inteiro não tem o que fazer.
E fazer poesia?
Poesia não dá dinheiro!
É um fenômeno brasileiro?
É mundial! A época não é mais de poesia. Agora quem faz sucesso são cantoras que mostram o corpo, homens que viram mulheres, mulheres que viram homens. Grandes compositores como Chico Buarque, Caetano Veloso não tem suas músicas tocadas nas rádios. É tocado o que estamos ouvindo, a televisão tem uma influência enorme nesse fenômeno. Um livro custa muito caro, vamos imaginar que um livro custe 40,00 reais, uma televisão custa 2.000,00 reais, você assiste com a sua família 7 a 8 horas por dia, durante 10, 15 anos. Essa televisão sai por centavos. Duas pessoas lendo um livro de 40,00 reais passam a custar 20,00 reais para cada leitor. Não falta o poeta! Não falta o livro! Falta o leitor! Como eu posso em uma cidade com 400.000 habitantes como Piracicaba, fazer a edição de um livro “Os Caipiras”, um livro interessante onde conto toda a história de Piracicaba, uma edição de 1.000 livros deveria acabar, não é? Meus livros mais vendidos foram “O Evangelho” e “Os Caipiras”. Mas temos que considerar que é pouco! Em uma noite de autógrafos vendo de 100 a 150 livros, e eu sou conhecido! Única pessoa em Piracicaba que tem o epíteto de poeta.
Você é o sucessor de Lino Vitti, o “Príncipe dos Poetas Piracicabanos”?
Se não sou o sucessor estou no caminho que ele trilhou, ele me ensinou, foi meu mestre. Lino Vitti foi eleito Príncipe dos Poetas Piracicabanos pela Academia Piracicabana de Letras. Desde o falecimento do Lino, há dois anos, não foi realizada uma eleição para Príncipe ou Princesa dos Poetas. Alguns acham que essa eleição não deve ocorrer, outros apóiam a eleição. A meu ver, deve ser realizada uma nova eleição, onde seja analisado o passado da pessoa. Se alguém tiver o passado maior e melhor do que o meu eu vou ficar quieto.
Você tem uma memória espantosa, muito acima do que vemos normalmente. Você tentou investigar cientificamente a origem dela?
Eu acho que sou normal!
Que você é normal todos nós sabemos! Pelo menos eu não conheço alguém que declame horas a fio!
Eu também não conheço! Sei minhas 400 poesias de cor! Hoje apresentei “O Evangelho”, só que apresentei apenas 250 versos! (Sem ler, apenas declamando). No total “O Evangelho” são 1.500 versos! Assim como “Navio Negreiro”, declamei uma parte, existe outra parte! Vozes, D'África”, “Livre América” sei inteiras. Sei dezenas de sonetos, meu, de Vinicius de Moraes, Olavo Bilac, Augusto dos Anjos, Machado de Assis, sei um pouco de bastante coisa.
Você chegou a freqüentar algum ambiente fora de Piracicaba?
Já fui! Uma vez dei uma palestra em Santos, era para durar 50 minutos, fiquei quatro horas falando, ninguém me deixava parar. Presente estava um Desembargador Dr. Eldar, a palestra começou as 8 as 11:30 ele levantou a mão, pensei que ele fosse fazer alguma pergunta, ele disse-me: “-Meu filho! Nunca vi inteligência igual! Cada pergunta que foi feita aqui você sabe aonde  a pessoa nasceu, o dia em que ela nasceu, o ano em que ela morreu, o meio em que ela viveu. Você dá exemplos, você não fala, dá todo um jantar completo da pergunta que foi feita. Não conheço isso!¨ Respondi-lhe: “-É que eu gosto!”, ele disse-me: “-Eu também gosto! Mas eu não sei!”
O que você acha que está faltando? Divulgação?
Falta divulgação! Foi anunciado a muitos veículos de comunicação de que estaria no “Recanto dos Livros” no Lar dos Velhinhos, no entanto nem toda a mídia veiculou o evento. Considero-me ainda assim privilegiado, tenho muitos amigos nas mais diversas mídias, que divulgam. Mas e quem não tem essa facilidade? Talvez tenha poetas melhores do que eu e ninguém sabe.
Não é contraditório um país como o nosso, carente de cultura, ter disposições como a sua para levar cultura e não encontrar apoio?
Eu vim até o “Recanto dos Livros”, graciosamente, mas alguém ofereceu café, salgadinhos (Os voluntários ofereceram um modesto cafezinho). A mídia, quer o retorno financeiro, vira um ciclo. Não tem almoço de graça!
Se alguém quiser adquirir algum dos seus 15 livros ou das 50 antologias como deve fazer?
Não tenho mais! Vi aqui no “Recanto dos Livros” algumas obras minhas. Não tenho mais livros para vender, sou uma pessoa agraciada, vendo todos os meus livros. Tenho um blog na internet http://esiopoeta.blogspot.com.br/ lá tem todos os meus livros, tem livros inéditos, literatura de cordel, tem livro de poesia de forma fixa, são poesias que existem no mundo poético, mas como o soneto é uma forma fixa, 4,4, 3 e 3, a balada francesa é um poema de forma fixa, se a linha métrica dela for de 8 versos, 8 sílabas métricas, então deve ter 8 estrofes, 8 por 8. E tem que ter 3 estrofes de 8 e 1 de 4 que é o envio, a oferenda, a oferta. Se ela tiver versos de 10 sílabas, ela tem que ter estrofes de 10 sílabas. Existe todo um esquema rimário, Para a de 10 sílabas, por exemplo, é a,b,b,a,a, c,c,d,d,c. Se é de 8 nunca pode ser em oitava rima, oitava rima é aquele clássico de Camões: a.b.a,b,a,b,c,c  mas tem que ser a,b,a,b,b,a,b,a,a,b,a,b,c,d, cd, Sendo que o último verso tem que ser sempre igual nas quatro estrofes. Existe o Canto Real que são cinco estrofes, de 11 versos, e o envio final que pode ser de 5 ou de 6 versos, existe o triolé que tem 8 versos. Existe o Pantun que é um poema criado na Malásia e Victor Hugo trouxe para a literatura francesa. Para o Brasil quem trouxe o Pantun foram Alberto de Oliveira, Olavo Bilac, Gustavo Teixeira.
Qual é a sua opinião sobre Gustavo Teixeira?
A poesia dele é interessantíssima! Usa um vocabulário dificílimo. Tem os cacoetes, quando fala violeta vem borboleta. Isso na obra completa dele inteira. Acho que Ementário, publicado em 1908  é um livro bastante interessante, tem algumas poesias maravilhosas: Cleópatra; Na Várzea; Tempestade; Leda e Tântalo. Eu sabia de cor esses poemas. A obra dele só veio a ser publicada pela segunda vez em 1925, com Poemas Líricos. Mas são anacronicas, ele usou a mesma coisa de 1908, ele não cresceu. Em 1908 estava no fim o parnasianismo, em 1925 estava um parnasianismo ultrapassado. Em 1937 ele fez O Último Evangelho, uma coleção de 107 sonetos alexandrinos, uma técnica também ultrapassada, mas tem alguns sonetos maravilhosos! Alguns nem tanto. Nenhum poeta consegue ser bom em tudo. A arte de um poeta se resume a 10, 15 poesias. A não ser que seja um grande gênio. Machado de Assis foi um grande romancista e um poeta frustrado! Ele durante sua vida inteira queria ser poeta. A obra poetica dele é grande,  ressalto  “A Mosca Azul” ; “Circulo Vicioso”; “A Carolina”e “Soneto de Natal”. Olavo Bilac tem umas 10 poesias que são mais do que inspiração, é uma coisa etérea. Eu devo ter umas 4 ou 5 que são interessantes. Me coloco dentro da minha limitação. Sou um poeta que gosta de poesia. Procuro fazer aquilo que melhor eu consigo fazer. Se não faço melhor a culpa é minha, eu não sou gênio.
E Francisco de Castro Lagreca ?
Foi um poeta fantástico! Ele morava a Rua Bom Jesus esquina com a Rua XV de Novembro. Era a esquina mais famosa da cidade: de um lado Lagrega, de outro lado Dona Branca, do lado de baixo Arquimedes Dutra e Dona Zoraide e o Colégio Sud Mennucci. Eu tenho um pouco de Lagreca no tipo caipira que ele fez. Ele tem um poema que fez quando Pádua Dutra faleceu em 1939 que é um “monstro” de poema! Fez outro poema para a Revolução Constitucionalista de 1932, tem algumas páginas maravilhosas. Um grande poeta de Piracicaba é o Professor Newton de Almeida Mello autor do Hino de Piracicaba. Ele tem um livro chamado “Carrilhões”. É um livro maravilhoso. O chamado “véu da noiva” não são as águas que caem do Mirante, próximo ao Engenho Central. O “véu da noiva” é a névoa das noites piracicabanas, que sobrem do salto quando o rio está cheio. A expressão foi usada pelo poeta Brasílio Machado, quando, num de seus poemas, chamou Piracicaba de “Noiva da Colina”. Tendo a névoa matinal do rio se prolongando à maneira de um véu, escreveu em Madressilvas, seu primeiro livro, o poema Piracicaba, em versos alexandrinos, o qual assim se inicia:
“Sacode os ombros nus, ó noiva da colina”.

Você iniciou seu trabalho em qual órgão da imprensa?
Comecei como revisor no Jornal de Piracicaba a 14 de janeiro de 1972, fiquei até 1974, quando fui trabalhar para a Xerox do Brasil. Fui para o setor de cobranças, ganhando três vezes mais do que ganhava antes. Na época eu tinha um Fusca 1972, amarelo, placa RM6174.
Você é casado?
Sou casado com Ana Maria Morales Fogaça, filha de Leonidas Fogaça, herói da Revolução de 1932. Ana e eu temos os filhos: Thaís, Thales e Ésio.
 
Você tem retratos pintados por artistas famosos?
Fui muito amigo de Arquimedes Dutra que pintou o meu retrato; do Renato Wagner que pintou o meu retrato; do Pacheco Ferraz que pintou o meu retrato. Eu gosto da arte.
Você freqüenta escolas?
Recebo muitos convites para dar palestras em escolas, faculdades, universidades, clubes. As pessoas, parece que estão descobrindo o meu trabalho. Quando as pessoas me vêem declamar ficam hipnotizadas. (Enquanto Ésio declamou muitos ficaram imóveis, espantados, suas poesias como ópera tocaram fundo os sentimentos dos presentes, lágrimas furtivas, boca entre abertas, silêncio total).
Qual é um epitáfio próprio para um poeta?
Quero que ponha que sou poeta. “Aqui jaz o Poeta Ésio Antonio Pezzato”. Mas vai demorar! Só vou falecer no dia 20 de fevereiro de 2041, aos 89 anos.
Você tem alguma clarividência?
Tenho! Funciona!
Você usa pseudônimos para escrever?
Uso muitos! Inclusive de autora: Samantha Rios. Outros são: Manoel Cançado, Clara Cançado, Martinho Nogueira, Martinho Chaves,
Você já fez alguma poesia causticante que tenha provocado a ira de alguém?
Já! Eu era diretor social de um clube da cidade e publiquei uma poesia, erótica, mas não pornográfica. Uma senhora zelosa dos bons costumes, horrorizada ligou para o clube, dizendo que eu não poderia mais ocupar o cargo de diretor de um clube tão tradicional. (Ésio declama o poema, com maestria transmite o sentimento natural entre um homem e uma mulher, sem cair na vulgaridade).

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