sábado, novembro 24, 2012

JOSÉ ADEMIR CARLONI (MIKA)

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 24 de novembro de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADO: JOSÉ ADEMIR CARLONI (MIKA)


José Ademir Carloni, o Mika é proprietário de um estabelecimento comercial onde além dos produtos que comercializa, destaca-se numerosas fotos do XV de Novembro de Piracicaba. A princípio pode-se imaginar que é mais um apaixonado pelo time. De fato é e inclusive por anos a fio defendeu no gramado a camisa do “Nhô Quim”. Mika foi uma das estrelas do Corinthians, jogou ao lado de grandes astros como Rivelino, na época em que o folclórico e estimado presidente era Vicente Matheus. Tem a sabedoria daqueles que tratam o estrelato do passado com a dignidade que merece. Jogou nos maiores estádios do país, com milhares de torcedores observando cada detalhe. Soube reconhecer o momento em que deveria deixar o futebol profissional. Muitos esportistas ao apagarem-se as luzes da fama não sabem como trabalhar com a situação. José Ademir Carloni com muita determinação iniciou-se na área comercial, obtendo sucesso e reconhecimento. Nascido em Jaú a 29 de janeiro de 1953, é um dos nove filhos de Luiz Carloni e Emília Grava Carloni.


Qual era a atividade do seu pai em Jaú?


Meu pai era exímio comerciante, ele tinha uma loja com dois toldos e quatro portas, um sinal de prosperidade se comparado a muitos estabelecimentos mais acanhados, típicos da época. Ele tinha uma forma peculiar de apresentar os produtos, ficavam expostos em frente a loja, dependurados nos toldos. Naquela época os cavaleiros vinham do sítio para comprar sapatões, botas, que ele fabricava no fundo da loja, auxiliado por um funcionário. Morávamos no mesmo prédio em que havia a loja, e em função de dar espaço para a loja, a área residencial era pequena para família tão numerosa, sempre fomos muito unidos, até hoje.


Você ajudava na loja também?


Todos os irmãos ajudavam. Em Jaú tinha uma quadra de futebol de salão. Todos os dias Jonas Eduardo Américo, o Edu ponta esquerda do Santos, que é cerca de dois anos mais velho do que eu, jogávamos. O seu pai, que chamávamos de Seu General, formava um time para jogarmos Eu jogava na defesa, ele jogava mais na frente. A nossa infância inteira jogamos futebol.. O tempo que sobrava nós jogávamos, na hora do almoço, a tarde. Jogava descalço. Quando meu pai passou a fazer sapatão, eu era um jogador magrinho, tinha mais agilidade. Jogávamos com sapatão de sola de pneu, na quadra. Com 14 anos eu já tinha carteira de trabalho assinada, trabalhava em uma loja de tecidos,o proprietário era Felix Letaif, família tradicional de Jaú. A nossa família era muito grande, trabalhando em outro emprego eu complementava a renda.




Era comum a prática de esporte na família?

Todos os meus irmãos jogavam muito bem futebol, principalmente os dois irmãos mais velhos. Eu ia sempre “na cola” do meu irmão Jorge Roberto Carloni, que era uma estrela do futebol em Jaú. Na época o XV de Jaú havia paralisado suas atividades, as equipes de futebol amador ganharam destaque. Meu irmão era capitão do Torino Futebol Clube. Foi nesse time que me consagrei campeão da cidade, do Estado, no futebol amador.


Quem o convidou para ir jogar no Sport Club Corinthians Paulista?
Foi o Dr. Geraldo Jabur, na época ele já era um influente conselheiro do Corinthians. Ele tinha me conhecido na partida final do Estado. Eu estava jogando na Rua Javari, no campo do Juventus, contra a equipe da Máquinas Piratininga. Foi um jogo difícil, nós ganhamos de 3 a 1, sendo que eu fiz dois gols. Tinha um “olheiro” do Corinthians, logo fui levado para o Corinthians. Na época eu tinha 18 anos, em 1970. O Corinthians tinha Rivelino, Zé Maria, Vaguinho, Aladim, Tião, Buião. Adãozinho. Já fui morando no alojamento, dentro do Parque São Jorge, onde inclusive havia um restaurante. Vivi ali uns cinco anos.







Como era o presidente Vicente Matheus?


Foi um grande trabalhador para o Corinthians, seu irmão Isidoro Matheus o assessorava. Além do notável advogado Dr. Geraldo Jabur, tenho-o como um grande amigo, ele me ajudou bastante no Corinthians. Criou-se certo folclore em torno da forma simples de Vicente Matheus se expressar, fruto da sua personalidade. Ele era um apaixonado pelo Corinthians.


Como você era conhecido no Corinthians?


Chamavam-me pelo meu nome, Ademir. Eu jogava com a camisa número 5 ou 4.


Quando você entrou pela primeira vez no campo para disputar uma partida jogando pelo Corinthians qual foi a sua sensação?


Sou corinthiano, minha família toda sempre foi corinthiana. Em Jaú me mandaram entrar em um carrão dizendo que eu estava contratado pelo Corinthians e á noite já joguei contra o Nacional de Água Rasa, com todas aquelas estrelas do futebol. Saí de Jaú, tinha aqueles jogadores como ídolos, personagens de álbum de figurinhas e já a noite estava jogando com eles. Foi muito repentino, quase inacreditável. Entrei jogando no quadro principal.










Como era conviver com Rivelino?


Rivelino é uma pessoa muito doce, brincalhão. Amável, ele que era a estrela principal. Ele tinha um chute muito forte, era a chamada “Patada Atômica”










O salário atingia cifras elevadas?


Como fui sem empresário, assim como outros jogadores, quem fazia o salário eram os presidentes do clube. É muito diferente do que é hoje. O jogador de futebol treina cedo e a tarde, recebe ordens como um funcionário. Não é como treinar em uma academia, ao sentir-se cansado simplesmente para. Não pode parar, o preparador físico ganha para aquilo. Ele tem que mostrar serviço, para que dentro do campo o jogador renda e que fique claro que pelo menos na preparação física o jogador foi devidamente trabalhado.







Lá você estranhou o fato de ter roupeiro e outras facilidades?


Era tudo muito bem organizado. Em determinada época chegou um treinador polêmico, o Dorival Knipel, mais conhecido por Yustrich, ele queria que estivessemos as sete horas da manhã dentro do campo. As seis e meia da manhã íamos tomar o café, era uma mesa que eu nunca tinha visto, Tinha de tudo, todas as espécies de frutas, achocolatados, biscoitos, bolachas, lanches diversos. Eu pensei que se o jogador igerisse aquela quantidade e varedade de alimentos como iriaa entrar no campo. Ele afirmava á todos que tinham que se alimentarem muito bem porque o treinamento iria ser duro. Ele fazia um verdadeiro banquete. Só que não deu certo por muito tempo, tinha uns que ficavam um pouco mais na mesa. Não cheguei a excursionar fora do país. Eu estava relacionado na delegação que iria para o Japão, o Eurico iria ser cortado, o que não aconteceu. Eu estava com o terno preparado, acabei não indo. Quem tinha feito o terno foi o grande estilista Thomazin, que se tornou meu amigo e sempre que posso converso com ele. Na época os jogadores que não estavam relacionados para jogar no time principal jogavam no time dos aspirantes. Todos os times grandes faziam esse campeonato dos aspirantes. Uma espécie de segundo quadro, onde havia muita fera. Joguei um bom tempo nesse segundo quadro, todo ano saia uma peneira dali. Jogadores que vinham com um sonho muitas vezes nem chegavam a jogar. Cada treinador tinha um estilo próprio, era difícil jogar em um time grande.


Você jogou contra grandes nomes do futebol brasileiro?


Joguei contra praticamente todas as feras do futebol. No São Paulo tinha o Chicão, Edson, Terto, jogamos muitas vezes contra o Murici. No Palmeiras tinha Alfredo, Luiz Pereira, Zeca, Eurico, Leivinha. Essa rivalidade entre Corinthians e Palmeiras sempre houve.


Qual é a sensação de estar em um campo de futebol, você com uma bola no pé, milhares de pessoas observando, uma responsabilidade muito grande?


É uma questão muito interessante. Muitos torcedores não sabem, mas os grandes atletas já estão jogando desde os 12 anos, em nenhum momento ele irá sentir-se estreiando, ou irá tremer diante de um público enorme. Ele já tem a vivência de seis a sete anos de clube, já se acostumou faz parte da vida dele. Se você quer ser juiz de direito, mesmo que leve 100 anos, um dia será juiz de direito. Se quiser ser médico, mesmo que demore 100 anos um da será médico. Ser um artista como jogador de futebol é um dom. Não adianta querer ensinar um garoto a ser jogador de futebol. Se ele não tiver a aptidão natural, o dom, ele nunca será um bom jogador de futebol. Nem que ele frequente a escola do Zico. Nos dias atuais quem não gostaria de ter em sua família um jogador de futebol? Todo mundo queria.


Você pegou uma época boa?


No aspecto financeiro não. Nunca cheguei a fazer publicidade de algum produto, o marketing com jogador de futebol era muito raro. Por isso digo que os jogadores merecem o que ganham, são os empresários que fazem o salário deles. Valorizam. Antigamente o jogador sentava-se a mesa com o presidente de um clube para fazer o seu salário, ele estava sozinho. Os presidentes sempre tiveram muita habilidade em manipular, com isso o jogador acabava se iludindo com o que estava sendo oferecido e assinava o contrato. Hoje o jogador nem participa da negociação, só vai para assinar o contrato. Ficou mais profissional. O Neymar que é a estrela principal do futebol mundial, tem atrás dele Ronaldo Fenômeno que sabe de tudo e tem uma grande equipe dando-lhe suporte.


O Ronaldo têm se revelado um grande empresário do esporte?


Ele foi muito feliz em ser o grande craque que conhecemos. Um dom que Deus lhe deu, ser um matador, com uma velocidade impressionante. Como empresário torcemos para que tenha bons resultados dos seus investimentos.


Todo atleta tem uma característica própria, qual era a sua?


As minhas características eram a velocidade e impulsão. Por ser um jogador de baixa estatura eu era bastante explosivo. Tinha uma impulsão muito grande, fora do comum. Os jogadores laterais tinham que ser muito rápidos. O time que não tiver dois bons laterais não irá chegar ao ataque nunca. Eles desafogam o meio de campo, desafogam os pontas de lança que jogam na frente do time.


Quando você jogava no Corinthians em alguma partida sentiu que arbitragem interferia contra o time?


No caso do Corinthians não prejudicava. Como todos os outros times grandes, se houve alguma interferência foi a favor desses times. O famoso caso da “Máfia do Apito” revelou fatos que já ocorriam há muito tempo. A presença da televisão inibiu bastante as distorções. No Brasil é muito difícil enganar um torcedor, todo mundo conhece futebol, tem o dom de ser treinador.


Recentemente o Neymar chutou um pênalti que lhe valeu muita critica, qual é o seu diagnóstico a respeito?


É muito difícil falar sobre pênalti. Todos os grandes batedores de pênalti acabam errando. Isso não ira tirar a credibilidade dele, às vezes basta bater mal na bola. Quem tem que bater o pênalti é o diretor do clube de futebol, é uma responsabilidade muito grande. Se ele marcar o gol não terá muito mérito, mas se errar a cobrança é alta.


Você chutou muitos pênaltis?


Eu batia pênalti, nunca cheguei a errar nenhum. Batia bem na bola e batia forte. Nunca fui um batedor muito clássico, daqueles que sabem deslocar o goleiro. Eu visava um canto e chutava bem forte. Tem jogador que tem uma visão maior, bate, dá paradinha, deixa o goleiro se deslocar primeiro para depois ele bater. O goleiro é o único que ganha com o pênalti. Se ele não pegar ninguém irá falar nada, mas se ele defender estará consagrado. Grandes goleiros se consagram defendendo pênalti.


Chegou a estudar o comportamento de goleiros?


Não. Estudava as gravações do jogo de um ponta. Via que ele fintava pelo fundo e saia para dentro, outro fintava para dentro e saia pelo fundo. Naquele tempo já se estudava. Hoje os treinadores dispõem de muitos recursos tecnológicos para suas análises. Atualmente o futebol é muito mais tabelado, antigamente era mais cruzamento,
Linha de fundo e cruzamento. Hoje os jogadores são mais habilidosos em termos de espaço, antigamente éramos mais habilidosos em termos de campo, geralmente o meia-esquerda era mais habilidosos. Os outros praticamente só carregavam o piano. Hoje cada jogador é especialista em sua posição e o espaço diminuiu bastante, é uma correria muito grande, mas todo jogador habilidoso desequilibra. Tem que proteger bem a bola e tocar rápido.


Qual foi o jogo onde ganharam com a goleada mais expressiva?


Foi um jogo onde o Corinthians ganhou de 7 a 0 do Ribeirão Preto. Saimos consagrados até pela torcida adversária. O Corinthians só saia escoltado quando perdia dentro do Pacaembu.


Em que ano você saiu do Corinthians?


Fiquei até 1975, foi quando vim jogar no XV de Novembro de Piracicaba, o presidente era Romeu Ítalo Ripoli, uma pessoa muito inteligente, de raciocínio rápido, brigava pelo XV. A estrela principal do time era ele. Tínhamos um time muito bom. Nos campeonatos nacional, quando chegávamos a grandes estádios, de grandes capitais, notava-se uma aglomeração, parecia que estava ocorrendo alguma briga, era todo mundo aplaudindo o Rípoli, ele brigava contra a federação em nome dos times menores. A federação fazia resultados, prejudicando os times pequenos. Hoje melhorou muito em função da presença da televisão nos estádios.







No XV você permaneceu até que ano?


A primeira vez que joguei no XV foi em 1972, o time estava mal das pernas, foram me buscar no Corinthians. Fui muito bem sucedido aqui, fiz uma ótima campanha, o XV estava para cair, conseguimos nos classificarmos. Eles não conseguiram comprar o meu passe eu voltei para o Corinthians. Em 1975 vim em definitivo para o XV, onde joguei até 1981, como lateral direito. Disputei três campeonatos nacional. Joguei de quarto zagueiro, em um campeonato nacional ficamos em oitavo lugar com todo assalto que havia em cima de nós. Era um roubo descomunal em cima da gente. Ganhamos de todos os times grandes, ficamos invictos em treze partidas, acho que nenhum time faria isso hoje.













O Rípoli costumava dar um bom bicho aos jogadores?


Ele foi excelente, tinha jogos em que ele via que o juiz tinha favorecido nosso adversário, ele dizia em frente a toda imprensa, que daria o bicho para nós, pois nós éramos de fato os vencedores, a parcialidade do juiz tinha favorecido o resultado para o adversário. O Rípoli explicitava a toda imprensa quando o XV era prejudicado pela arbitragem. Uma vez empatamos com o Palmeiras no Parque Antártica, Ele nos disse que não teríamos bicho, dizia que tínhamos empatado com um time medíocre. Aquilo deu uma repercussão enorme na imprensa. Ele reafirmou que seus jogadores não podiam empatar com aquele timinho. Já em Piracicaba ele nos deu o bicho. Na história do futebol “bicho molhado” você recebe logo após a partida, quando o jogador está embaixo do chuveiro. Nosso bicho era sempre molhado. Muitos times prometem um bicho bom e não pagam, levam 90 dias para pagar. O Ripoli quando acabava o jogo já nos pagava o bicho, não tinha que passar na sede.


Qual é o aspecto ruim da concentração?


É ter que deixar a família. Em 1979 me casei com uma piracicabana, Sonia Regina de Paula Carloni, temos três filhos: Matheus de Paula Carloni, Eloah Roberta Carloni e Renan de Paula Carloni. Eu a conheci quando morava na Rua Riachuelo. Naquele tempo jogador de futebol não era visto com bons olhos, principalmente para contrair matrimônio. Como chefe da concentração eu impunha algumas regras de disciplina dos jogadores com o pessoal do bairro. Eu era querido por todo mundo. Com o passar do tempos nos conhecendo melhor. Para começar a namorar eu tinha que ir primeiro muitos domingos a missa. Eu sempre fui de ir a missa, mesmo nas concentrações, aos domingos ia a missa. Fui coroinha por três anos, na Igreja São Sebastião em Jaú. A concentração é boa, você se enturma com o pessoal, conversa o que tem que conversar, quem gosta de jogar um baralhinho joga, quem gosta de ping-pong joga, quem gosta de música, ou algum pesqueiro de pesque e pague.


Alguns jogadores, inclusive falecidos, chegaram a perder somas representativas em carteado de concentração.


São jogadores viciados em jogo, isso pode ocorrer inclusive em times grandes, pelo fato de ganhar um salário bem mais alto ele já não se empolga em jogar apenas por brincadeira. No XV praticamente nunca teve essa situação de jogar a dinheiro. Um fato perigoso é que o perdedor pode nutrir raiva contra o companheiro por ter perdido dinheiro para ele no jogo. Ao invés de lazer cria-se uma bronca da pessoa. O baralho quando foge do controle, sai da normalidade, pode destruir famílias, vidas. Nas concentrações sempre tivemos passatempos inocentes e amigáveis, passamos mais tempo juntos do que com nossas próprias famílias. Vivemos todos os dias juntos, viajamos, concentramos.


Em seu estabelecimento há muitas fotos ampliadas referentes ao XV de Piracicaba.


É o time da cidade, foi onde permaneci por mais tempo jogando. É um time pelo qual tenho grande amor. Joguei oito anos defendendo o XV.


Conseguiu ficar rico?


Infelizmente não. Se na época tivéssemos um orientador financeiro possivelmente o dinheiro aplicado em automóveis de luxo poderia ter sido aplicado em um bem durável, como terrenos por exemplo.


Até que ano você permaneceu no XV?


Fiquei até 1982, depois montamos um time muito bom. O Dracena Futebol Clube queria montar um time para ser campeão da Segunda Divisão, o Rípoli acabou me cedendo, fui capitanear aquele time com 18 jogadores contratados de times que disputavam a divisão especial. Fizemos uma campanha muito boa, Dracena nunca irá esquecer. Montamos um timão, perdemos apenas duas partidas no ano inteiro, só que não deixaram que nós subíssemos. Era ano político. Fizeram um jogo de apagão em Araçatuba, onde fizeram com que perdêssemos os pontos.


Política influencia no futebol?


Dracena era uma cidade de seis a sete vezes menor do que Araçatuba. A renda maior se dá em cidade maior. No ano seguinte fui para a cidade de Novo Horizonte no Novorizontino.Depois fui jogar no União Agrícola Barbarense Futebol Clube, fizemos uma campanha extraordinária, quando chegou no quadrangular final eu me machuquei, não pude disputar o quadrangular final. Tive que fazer uma cirurgia de reconstrução total dos ligamentos. Operei por três vezes o joelho esquerdo. Depois voltei a brincar nos clubes de Piracicaba, não tive mais nada.


Hoje você ainda joga um pouco?


Hoje já não jogo mais porque está dando artrose no joelho. (risos).


Como surgiu o nome Mika?


Mika era o meu apelido em Jaú. Não sei direito o porquê desse apelido, o que sei é que mica era a resistência de ferro de passar roupa. Quando vim jogar no XV, era conhecido como Ademir, de vez em quando ouvia na torcida alguém gritar: Mika! Imaginava que poderia ser meus primos de Jaú que tinham vindo para trabalhar na Caterpillar, os Pracucho, entre eles o João Batista.


Como é a relação do jogador de futebol com a imprensa?


Nunca fui um jogador com nota abaixo de sete, com isso eu estava sempre bem com a imprensa. Um jogador de altos e baixos será criticado, isso é normal. O profissional da imprensa está ali para fazer o seu trabalho, se o desempenho foi sofrível ele tem que falar.






sexta-feira, novembro 16, 2012

DARIO CORREA DE ANDRADE

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 17 de novembro de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/


                                Dario Correa e sua esposa Maria Idalina


ENTREVISTADO: DARIO CORREA DE ANDRADE
Possivelmente o programa apresentado em rádio, dedicado a música e costumes mexicanos, com maior longevidade no mundo, 50 anos, é apresentado por um brasileiro, em Piracicaba, pelo radialista Dario Correa de Andrade, tenente reformado da Polícia Militar do Estado de São Paulo. O programa de Dom Dario Correa é digno de reconhecimento e um verdadeiro caso a ser estudado por analistas em comunicação. Como um programa se mantém por meio século no ar apresentando músicas mexicanas? A explicação mais evidente é a paixão que Dario Correa tem pelo México. Dom Dario Correa é um cônsul não oficial daquele país. Esteve inúmeras vezes em visita ao México, tanto ao pousar o avião que o conduz, ou levantar vôo, a emoção transborda em seus olhos. Piracicaba tem raros mexicanos que residem nela. O próprio país, só recentemente passou a ter laços comerciais mais significativos com o México. Nascido na cidade de Cerqueira Cesar a 1 de novembro de 1936, é um dos 9 filhos de Cantídio Correa de Andrade e Olimpia Cornélio. Seu pai trabalhava com vendas. Dario frisa que sua origem é bem modesta. Dario Correa é casado com Maria Idalina Rossini Pompermayer Correa de Andrade, que já foi ao México com Dario Correa e fez várias observações sobre hábitos e costumes que conheceu naquele país.


Com qual idade o senhor começou a freqüentar a escola?


Nossa família tinha passado a residir em Botucatu. Com oito anos passei a estudar na Escola Rafael de Moura Campos. Fazer o curso ginasial era privilégio de pessoas cuja família tinha um poder aquisitivo elevado. Durante a semana eu andava descalço, tinha apenas um sapato que era utilizado aos fins de semana. A minha paixão não era ser rico, mas estudar. Fui até o Ginásio Diocesano de Botucatu, cujo diretor era um bispo. Ele me atendeu, perguntou-me qual era a minha necessidade. Disse-lhe que gostaria de cursar o ginásio. Na época não existia ginásio no período noturno. O bispo me arrumou uma bolsa de estudos, deu-me uma botina preta e uma roupa cáqui. Consegui cursar o ginásio na cidade de Botucatu. Um padre da Igreja de São Benedito, em Botucatu, arrumou-me um emprego no Campo de Aviação. Eu tinha uns 15 anos e fui trabalhar lá.


Qual era a sua função no Campo de Aviação?


Era almoxarife. Após concluir o ginásio fui para São Paulo, trabalhar no Campo de Marte. O hangar onde eu trabalhava tinha vários proprietários de aviões. Um senhor, Rufino Lomba, arrumou um quarto para que eu pudesse dormir no Campo de Marte. Ele também me arrumou um curso preparatório, ficava na Rua São Bento no vigésimo primeiro andar. Era um curso para ingressar na escola de aviação de Guaratinguetá. Permaneci por um ano em Guaratinguetá. Voltei para São Paulo onde ingressei na Guarda Civil, isso foi em 1956. A Guarda Civil de São Paulo tinha uma escola na Rua São Joaquim, 580, na Liberdade. Era uma corporação de elite. Os guardas civis trabalhavam com espadins, em cinemas, festividades, nos aeroportos, nas grandes agências como Cometa e Expresso Brasileiro. Como guarda civil fiz no Pátio do Colégio em São Paulo, um curso de espanhol e outro de italiano. Era um requisito necessário para trabalhar em aeroporto, agencias de ônibus. Fiz o curso cientifico, a noite, em uma escola próxima a Praça da República.


Nessa época o senhor morava em que bairro?


Eu era ainda solteiro, morava na Rua Visconde de Parnaíba, no Brás. Depois fui para a Rua Campos Salles.


Em que ano o senhor chegou a Piracicaba?


Foi no final de 1962. No dia 30 de janeiro de 1963 foi inaugurada a Guarda Civil de Piracicaba, na Rua Moraes Barros. No finalzinho de 1962 eu já estava trabalhando na rádio “A Voz Agrícola do Brasil”.


Como surgiu o rádio na vida do senhor?


Comecei na cidade de Botucatu, no “Serviço de Auto Falante do Venceslau” Era um serviço de auto falante com as características de uma emissora de rádio. Era instalado em um automóvel, parava em uma esquina fazia publicidade, como uma emissora de rádio, anunciava os filmes que seriam projetados nos cinemas da cidade, anunciava notas de falecimento e tocava músicas. Fiquei lá alguns meses, em seguida fui chamado pela PRF-8 - Rádio Emissora de Botucatu, cujo diretor era Plínio Paganini. Comecei a fazer um programa das 3 às 5 horas da tarde. O programa chamava-se: “Peça o Que Quiser e Ouça o Que Pediu” Tinha um companheiro que trabalhava lá e foi para a Rádio Record em São Paulo, ele me ajudou a ir trabalhar na Rádio Hora Certa de Guarulhos. Fui contratado pela Rede Piratininga, com emissoras em muitas cidades. Quando vim para Piracicaba a Rádio A Voz Agrícola do Brasil pertencia a Rede Piratininga. No finalzinho de 1962 passei a apresentar um programa onde tocava música mexicana. Muitos ouvintes ligavam perguntando por que eu não criava um programa mexicano. Em 1963 passei a apresentar o programa “México Canta”, na Rádio “A Voz Agrícola do Brasil”. Por 7 meses trabalhei também na Rádio Difusora de Piracicaba.


Em que ano o senhor passou a trabalhar na Rádio Educadora de Piracicaba?


Em 1968 fui contratado pela Rádio Educadora, o programa “México Canta” passou a ser “Noites do México”. Dr. Nelson Meirelles que me contratou. Ele era médico, diretor do INSS, da Santa Casa de Misericórdia. Mais tarde quem assumiu a direção da rádio foi sua filha Dona Ana Maria Meirelles de Mattos. Dr. Nelson Meirelles me ajudou muito, ele me aconselhava muito. Sua residência era na Rua XV de Novembro próxima a Rua Boa Morte. Ele me chamava de menino. Dizia-me para que estudasse. Fiz o curso de Administração de Empresas formei-me em 1978 e mais tarde em 1984 o de Jornalismo. Fiz a Academia de Polícia Militar do Barro Branco em São Paulo.


O programa “Noites do México” irá completar quantos anos?


Comecei no finalzinho de 1962, apresentado música mexicana, depois é que coloquei os nomes dos programas, considero que no final de outubro de 2012 completei 50 anos de apresentação de músicas mexicanas. Na Voz Agrícola do Brasil eu fazia também um programa chamado “Manhãs da Roça”. Na Rádio Educadora fiz muitos programas: “Eu, Você e a Música”, “Só Música Romântica”, com poesias, crônicas. Fiz um programa chamado “Sempre é Bom Recordar”, outro foi “Domingo em Alta Fidelidade”. Fiz o programa “Polícia Militar em Marcha”. Fui assessor de imprensa do quartel.


No quartel existe uma sala de imprensa?


É a “Sala de Imprensa Tenente Dario Correa”. Trabalhei no gabinete de vários prefeitos: Francisco Salgot Castillon, Cássio Paschoal Padovani, Adilson Benedito Maluf, João Hermann Netto.. Trabalhei com o Presidente da Câmara Municipal Homero Anéfalos. Por 10 anos fui oficial de gabinete do prefeito municipal.


Quantas vezes o senhor foi ao México?


A primeira viagem foi para fazer a cobertura da Copa do Mundo de 1986. Depois fui muitas vezes. Mantenho fortes laços de amizade com mexicanos, de certa forma me considero representante diplomático daquele país em Piracicaba. Existe a Escola de Agronomia em Chapingo, próxima a cidade de Texcoco, Essa escola quando mandava seus alunos para fazer pós-graduação, doutorado na Esalq, mandavam que essas pessoas me procurassem aqui. Eu me tornava um padrinho dessa pessoa. Orientava-a em muitos aspectos.


                                                                   CANTINFLAS

O senhor foi convidado a participar de um programa de televisão no México?


Eu estava hospedado na casa de Juan Pitalua, ele disse-me que tinha um irmão que era diretor do Clube de Futebol America. Decidiram me levar á Televisa, para participar do programa de Juan Calderon. Na época meu programa estava a 28 anos no ar. Fui até e Televisa, para ser entrevistado e homenageado. Fui entrevistado também na Rádio Mundo, que naquele tempo tinha 200.000 watts na antena. Fui recebido pelo presidente do México Vicente Fox Quesada, de quem recebi um diploma de gratidão. Conheci muitas cidades: Vera Cruz, Guadalajara, Puebla uma cidade com muitas igrejas cujo teto e revestido em ouro. Em Puebla tem a fabrica Volkswagen. Estive em Guadalajara onde surgiram os mariachis.Mediante um determinado valor, um casal por exemplo, pode pagar para ouví-los a tocar e cantar musicas tipicas mexicanas.

                               Dario Correa em trajes típicos mexicano

O senhor está ha 50 anos apresentando um programa mexicano em Piracicaba, uma cidade que praticamente não tem laços culturais com o México, isso é um fenômeno?


O programa atualmente tem a participação de dois mexicanos, que acompanham do México o programa, via internet. O programa sempre foi apresentado as sexta feiras das oito as 10 horas da noite. Apresento outro programa diário das 4 ás 6 hras da tarde, é o programa “Chapéu de Palha” com música sertaneja de raiz, esse programa está ha 27 anos no ar.


Como é o programa “Noites do México”?


Apresento músicas mexicanas e aspectos de toda cultura do México. É um programa que requer conhecimento sobre a cultura mexicana. Tenho em um local um acervo muito significativo sobre o México. Objetos típicos de cada região, material fonográfico, fotográfico, documentação, certificados e diplomas que recebi. Tenho inclusive a imagem da padroeira da América Latina Nossa Senhora de Guadalupe.


No seu ponto de vista qual o motivo de identificação do piracicabano com a música mexicana?


As músicas mais tocadas no programa são corridos mexicanos. É próxima da música sertaneja brasileira. Muitos ouvintes são apaixonados pelo programa.


Cantinflas foi um grande artista mexicano?


Quando me perguntam como nasceu a minha paixão pela música mexicana, digo que quando era jovem ia assistir os filmes de Cantinflas, nome artístico de Fortino Mario Alfonso Moreno Reyes, ou simplesmente Mário Moreno. Ele trazia os mariachis que surgiram em Guadalajara. Interpretavam músicas lindíssimas do México.Como adolescente me apaixonei pela musica mexicana. Quando fui trabalhar na rádio “A Voz Agricola do Brasil” fui a discoteca e passei a tocar a musica que eu gostava, a mexicana, os ouvintes pediram que eu montassem um programa nessa linha. No dia em que fui ao programa de Juan Calderon, Cantinflas estava assistindo-o. Quando contei essa história, ele telefonou dizendo que ia para o programa imediatamente. Era um programa extenso, deu tempo de ele chegar a Televisa. Os mariachis cantaram, dançaram, fizeram homenagens ao brasileiro Dom Dario Correa. Na tela aparecia a legenda Ciudad de Piracicaba.


Sua paixão pelo México é enraizada, muito forte.


Tanto que quando vou ao México, o avião sobrevoando a capital, começam a cair lágrimas, o mesmo corre na minha volta ao Brasil. Tenho dois países: Brasil e México.


Como é a culinária mexicana?


O taco assemelha-se a uma panqueca, mais mole. A tortilha é uma massa mais crocante. guaca mole é puré de abacate bem temperado, que funciona como um complemento da salada. Os mexicanos são loucos por feijoada brasileira.


É um povo que cultiva o habito de adicionar muita pimenta a comida?


A pimenta é opcional. Uma criança de dois a três anos já se acostuma a consumir pimenta, os “chilis”. Antigamente no Brasil eram vendidos salsichas que ficavam de molho em um vidro. Geralmente em bares e restaurantes pricipalmente á beira de estradas. No México ao invés de salsicha usam pimenta ao molho. Tudo depende da vontade da pessoa, ela pode comer sem pimenta. Barbacoa é um dos pratos mais caros do México. Colocam pedaços de carneiro em uma vala, onde há uma espécie de prateleira. A barbacoa, ou carneiro como é chamado no Brasil é um dos pratos prediletos deles.


Como o senhor se sente, sendo dono de um patrimônio histórico, acumulado ao longo de 50 anos de apresentação de programa mexicano? Sabemos que será muito difícil existir outra pessoa que venha a acumlar tanto conhecimento sobre esse tema.


Tem que saber falar o idioma, conhecer a cultura e manter as amizades que possuo no México. É impressionante como em todos os locais onde vou ao invés de me chamarem pelo meu nome, me chamam por “Noites do México”. Isso ocorre também qundo ando pelas ruas da cidade. Observo também que intelectuais acompanham o programa. Tem muitos jovens apaixonados pela musica mexicana.


O senhor é religioso?


Bastante, quando fomos ao México visitamos a igreja matriz de Nossa Senhora de Guadalupe. É deslumbrante. Tanto ao subir como ao descer as escadarias é impressionante a ornamentação com flores. Em qualquer lugar onde se anda há abundância de flores. É muito comum o mexicano comprar um buque de flores e levar para sua casa, onde é quase unanimidade a existência de uma imagem de Nossa Senhora de Guadalupe.


Alguns habitos e costumes são bem diferentes da nossa cultura?


É um povo com grande epírito cívico, comemoram o dia da pátria com enorme devoção. Os festejos podem durar até uma semana. No natal consomem muito bacalhau, ao invés de peru ou suinos. O Dia de Finados é complétamente diferente do que se realiza no Brasil. Não há pessoas chorando no cemitério, Na noite da véspera de finados eles costumam ir aos cemitérios, tocam música mexicana, comem pratos típicos, isso se dá também no dia de finados. Eles acreditam que o espírito dos mortos vem até a família para visitá-los, e são recebidos com festas e alegria. Quem não for ao cemitério faz uma festa na residência.






WALDIR PEDRO GUIMARÃES

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 13 de novembro de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/



ENTREVISTADO: WALDIR PEDRO GUIMARÃES
Waldir Guimarães como é conhecido reúne qualidades admiráveis. Excelente voz, articulado, possui elevado grau de cultura geral, de raciocínio muito rápido. A sua franqueza e humildade o transformam em um profissional de nível muito elevado. Não só seus ouvintes, mas todo profissional de rádio que o conhece sabe que Waldir Guimarães poderia ocupar com absoluta competência espaço em qualquer emissora do Brasil. Dr. Nelson Meirelles soube perceber seu talento de imediato e o convidou para integrar a equipe da Rádio Educadora de Piracicaba. Waldir é hoje prata da casa, quase uma identidade da emissora. Nascido em Caldas, Minas Gerais a 30 de junho de 1952, filho de Arlindo Monteiro Guimarães e Benedita Ramos Guimarães.


Até que idade você permaneceu em Caldas?


Até cinco anos. Sou muito mais paulista do que mineiro. Andamos por diversos lugares de São Paulo, até vir morar em Piracicaba, no ano de 1973. Era um jovem sonhador, acredito ser sonhador até hoje.






Tema da rádio novela "O Cara Suja"


Você freqüentou qual instituição de ensino?
Entrei no rádio por causa da escola. Fiz o curso primário em Ribeirão Preto, no Colégio Oswaldo Cruz, minha primeira professora foi Dona Elza Chagas, usávamos a cartilha Caminho Suave de autoria de Branca Alves de Lima. Dona Elza ministrou também O Tesouro da Criança. Minha segunda professora foi Dona Francisca. Lembro-me também da Cartilha Sodré. Meu pai era o que na época denominavam-se Guarda-Livros. Nossa família mudou-se para Araras, ele trabalhou na empresa de transportes Sopro Divino existente até hoje, o proprietário era o Sebastião Lolli. Nessa época eu tinha uns 10 anos, fui trabalha na empresa Moagem e Torrefação Guarani de propriedade de Sérgio Orpinelli, o café era pesado embalado e fechado de forma manual. Tinha uns 10 funcionários, todos ainda muito jovens. Um dia eu fui até uma emissora chamada Rádio Centenário. Entrei, olhei, mas não era a minha praia. No dia seguinte um colega disse-me: “-Vamos visitar a rádio novamente”. Voltei, foi quando gostei da mesa de som. Parecia uma nave espacial! Achei muito bonita, pensei se um dia teria condições de trabalhar nessa mesa de som, parecia que seria impossível. No dia seguinte voltei novamente, e fui me encantando com a mesa de som, achando que aquilo era uma coisa acima do que eu poderia fazer. O diretor da rádio chamava-se Francisco Salles Nogueira, era professor. Ele me disse: “-Você gosta daqui?”. Respondi-lhe que havia achado o lugar muito bonito. Ele me perguntou se eu gostaria de aprender a trabalhar na rádio. Disse-lhe que sim. Ele disse que eu tinha que estudar. Ele era diretor da rádio e diretor do Instituto de Educação Cesário Coimbra. Fiz o curso preparatório, prestei o concurso, fui aprovado e passei a fazer o ginásio. Fiquei seis meses olhando. Os programas na época eram com músicas da Jovem Guarda. Os locutores todos com um vozeirão lembro-me do Roberto Raskid. Eu fazia mesa para ele. Naquele tempo era muito mais difícil operar, era vinil, fita de rolo, as propagandas eram jingles em discos de 78 rotações por minuto. Existia o Supersom, um disco de alumínio com dois furos, 78 rotações. Com um pequeno pedaço de papel marcava os trechos que seriam tocados da fita de rolo. Lembro-me de jingles famosos como das Casas Pernambucanas, Cobertores Parayba, Bardhal.. (Waldir cantarola trechos dos comerciais).






Comerciais antigos veiculados pelo rádio

Na época existiam as rádios novelas?
Existiam duas novelas, de manhã com o patrocínio da Gessy Lever. E a tarde sob o patrocínio da Colgate Palmolive. Lembro-me de alguns títulos “O Cara Suja”, “Eu Compro Essa Mulher”, “Quo Vadis”. Grandes atores faziam a rádio novela: Sérgio Cardoso, Lima Duarte, Ézio Ramos, Gilmara Sanches, que foi jurada do programa de televisão feito por Silvio Santos. Ela era muito bonita e tinha uma voz belíssima. Essas novelas eram acompanhadas por todo o mundo, televisão era privilégio de uma minoria.


Qual era o seu horário de trabalho na rádio?


Trabalhava do meio dia até as seis horas da tarde, como eu gostava muito acabava permanecendo na rádio durante a noite. Estudava na parte da manhã.


Como era a remuneração?


Era um salário razoável, um salário normal para a minha idade. Fui fazendo mesa, tinha programa jornalístico, policial, musical. Eu procurava caprichar. Após uns dois ou três anos, um locutor deixou a rádio. O diretor disse-me para dar a hora certa. Entrei no estúdio tremendo, só que dei a hora errada, estava muito nervoso. Passei a dar a hora certa, anunciar a próxima música, tremendo. Fui fazendo isso, comecei a pegar gosto pela coisa, devagarzinho. Lembro-me dos programas apresentados na época, hoje seriam ridículos. Percebi que aquilo eu poderia fazer e que me dava prazer. Eu tinha uns 14 anos.


A sua família via como a sua participação em rádio?


Minha família gostava. Fui fazendo programa musical, parada de sucesso. De repente eu estava no rádio. Fiquei em Araras até 1973. Meu irmão trabalhava na Planalsucar em Piracicaba, vinculado ao IAA Instituto do Açúcar e do Álcool, era o sonho de todo engenheiro entrar no Planalsucar. O filho do Dr. Nelson Meirelles entrou, foi assim que através do meu irmão acabei conhecendo o Dr. Nelson Meirelles. Meu irmão queria que eu mudasse para Piracicaba. Eu não queria sair de Araras, um sábado vim conversar com Dr. Nelson. Era uma pessoa reservada, paternalista. Perguntou-me: “ Você quer vir para cá?” Respondi que não queria sair de Araras. Ele expôs as vantagens de trabalhar em uma cidade maior, mesmo assim minha decisão era permanecer em Araras. Ele disse-me para pensar bem, caso quisesse para voltar a falar com ele. O tempo passou. A Rádio Educadora era na Rua São José esquina com a Rua Governador Pedro de Toledo. Seguia o padrão da Rádio Eldorado, hora certa e música. Um locutor foi desligado da rádio, Dr, Nelson mandou me chamar e disse:me “- Não sei quanto você ganha lá, mas vou te pagar cinco vezes mais”. Dr, Nelson era de poucas palavras. Nessas condições eu vim, com o coração apertado, mas vim. Eu estava ambientado em Araras, as rádios eram diferentes, lá era mais flexível em sua programação, o meu padrão era mais da rádio em Araras. Fiz um horário das 5 ás 7 horas. Outro horário que trabalhei foi das 23 até uma hora da madrugada. No início para mim foi difícil entrar no esquema da rádio. Das 18 as 19 horas havia o programa “Primeira Classe” apresentado pelo Dirlei de Almeida Canto. O programa “Primeira Classe” foi o xodó do Dr.Nelson, ele foi um dos fundadores da Escola de Música de Piracicaba. Ele sentia-se na obrigação de levar música erudita para Piracicaba. O Dirlei deixou de apresentar o programa, por um tempo eu apresentei o “Primeira Classe”.


A Educadora tinha uma programação própria para a época?


Era uma rádio sóbria, no período da manhã tinha um programa chamado “Clube da Frequência Fixa”. Era um programa mais solto, mais leve que iniciava às 8 horas e terminava às 12 horas. Era um programa de uma agência chamada “Orpan”, do Pantaleão Perillo Júnior e do Orlando Biscalchin.


Quando foi fundada a Rádio Educadora?


Foi fundada em primeiro de agosto de 1967. Em 1965 já estava em andamento o processo em Brasília, o Perillo, o Pereira Lopes, estavam envolvidos nesse trabalho. Como o Perillo fez toda a logística, Dr. Nelson concedeu-lhe um horário na parte da manhã da rádio. Através da Orpan esse horário era vendido, quem gerenciava era o Perillo. O agenciador publicitário era o Dario Correa. Ele já tinha o programa “Noites do México”. Quem fazia o programa era Rubens de Oliveira Bisson. Era um programa bem romântico, com bolero, guarânia. Quando o Bisson se ausentava ele pedia que eu fizesse o programa. Eu fazia do meu jeito, tocava flash-back, tocava música italiana. O pessoal gostava, era um estilo diferente, não era o padrão da rádio. Uns dois ou três anos depois o Bisson aposentou-se e eu fiquei no lugar dele. Fiz um programa chamado Tape Top, das oito horas ao meio dia. O programa foi um sucesso muito grande, isso foi em 1975. 1976. O programa estourou, foi um grande sucesso na época. O Waldir Guimarães tornou-se uma celebridade. Até então era um apresentador de programa. Durante alguns anos fiz esse programa. Existia na Rádio Educadora um programa apresentado aos domingos pelo Vovô Simões. Ele adoeceu Dona Ana Maria Meirelles de Mattos, diretora da rádio disse-me que estava procurando alguém para apresentar esse programa. Ela disse: “Tem um rapaz que faz as leituras na Igreja da Vila Rezende, o acho muito bom, tem boa desenvoltura, quero trazê-lo para fazer rádio, embora ele nunca tenha feito. Você me dá uma mão?¨ Eu disse á Dona Ana, que se eu pudesse orientar em algo estava a disposição. Ela disse que o achava muito comunicativo carismático e que deveria fazer bem o programa. Esse garotão era Luiz Antonio Copoli, assim nasceu Titio Luiz, sucessor do programa do Vovô Simões aos domingos. Titio Luiz fez o programa por muito tempo, foi um sucesso muito grande. A Rádio Educadora estava ainda na Rua São José esquina com a Rua Governador Pedro de Toledo. Titio Luiz deslanchou e passou a fazer o programa que ele apresenta até hoje: “Programa da Amizade”. Hoje ele é esse grande nome do rádio.


Você tem alguma paixão além da música?


Eu gostava muito de cinema, é uma paixão. Antes do Titio Luiz começar a apresentar o seu programa, eu apresentava um programa das onze horas ao meio dia, chamava-se “Cartaz de Cinema”.Era diário e no auge do rádio AM, na época a transmissão em FM era incipiente.Era tudo feito com discos de vinil, tínhamos uns 300 discos de cinema, cada dia tocava dois ou três, não tinha essa facilidade que existe hoje. Tocávamos temas de filme: “História de Elza”, “Os 10 Mandamentos”, “Lawrence da Arábia”, na ocasião o programa deu uma audiência razoável. Que é esse programa que apresento hoje na Rádio Educativa, aos sábados, das seis às sete horas da noite, já estou lá há oito anos, com mais de 5.000 trilhas.


Atualmente você faz que tipo de programa na Rádio Educadora?


Totalmente diferente. Do meio dia até a uma e meia participo do programa “Os Comentaristas”, que é um programa informativo, opinativo, totalmente diferente daquele musical. Tenho um programa aos sábados a tarde, que é um programa flash back, um estilo que gosto muito. Tenho um programa aos domingos, das 8 às 10 horas, chama-se: “Programa do Waldirzão”, onde é tocado flash back, música antiga.


Você tem um conhecimento muito profundo de música.


O pessoal diz, mas eu não me considero dessa forma, eu gosto muito de música, colocaram esse rótulo em mim, isso é um peso muito grande. Não sou esse profundo conhecedor de música que falam por ai. Apenas gosto de musica e conheço alguma coisa sobre alguns gêneros. O que eu conheço é o que vivenciei.


Você chegou a receber algum convite para ir trabalhar em alguma metrópole?


Quando jovem passei por essa fase de imaginar em ir para São Paulo. Considerei diversos aspectos e decidi ficar no interior mesmo. Trabalhei em Limeira, Americana, Campinas onde trabalhei na Central, na Educadora que hoje é Bandeirantes, o Sérgio Oba-Oba, trabalhou comigo. Tedeschi que está até hoje lá. Fazia Americana de manhã e Jornal de Limeira a tarde. Paulo Eduardo Temple Delgado fazia de manhã a Rádio Jornal e a tarde Limeira. Foi um aprendizado muito bom, aprendi muito com essas andanças.


Como radialista de sucesso qual a receita que você dá para quem está iniciando agora?


Acho que tem que gostar de rádio. Se não gostar, você não sobrevive. Gostando sua chance de sobreviver é em torno de 70%. Os outros 30% é ganho financeiro, vendas.


Rádio é uma cachaça?


É Diria até que é um vírus. Você sabe disso, você tem esse vírus.


Particularmente no interior temos uma situação diferenciada, onde o próprio locutor comercializa o horário do programa que apresenta.


Isso sempre existiu. No interior se você tiver uma boa carteira de clientes, você é um bom locutor. Eu contrariei essa máxima, nunca fui um bom vendedor. Sou um péssimo vendedor, nunca vendi nada. Tem gente que vende com facilidade, é uma característica pessoal. O Silvio Santos é um exemplo de bom vendedor e bom radialista. O que temos visto são bons vendedores e apresentadores razoáveis. Se você for um bom vendedor e um bom apresentador é como ganhar na mega sena ou super sena. Talvez seja uma deficiência minha, mas não sei vender.


O rádio trouxe-lhe satisfação?


O rádio me trouxe muitas alegrias.


Futebol você já fez?


Fiz plantão, sofri muito. Futebol não é a minha praia. Admiro o XV de Novembro de Piracicaba. Não sou uma pessoa apaixonada por futebol. Tem muitos cronistas que assumem posições de torcedores por razões profissionais.


Existe um ditado que diz que o futebol é o ganha pão da imprensa, isso em escala nacional.


Piracicaba é conhecida em muitos lugares em função do XV. Tem pessoas até no exterior que conhecem Piracicaba em função do XV. Ele é uma bandeira. Ele está fazendo 100 anos. Eu não entendo como uma instituição desse porte ainda não tenha sede própria. Falo como cidadão, como torcedor do XV, acho que já está na hora dele ter o seu estádio.


Há quantos anos você mora em Piracicaba?


Já são 40 anos.


Recebeu o título de cidadão piracicabano?


Não. Nunca me preocupei com isso. Tem gente mais importante que merece esse título. Faço rádio há tantos anos e ainda estou aprendendo, me considero um eterno aprendiz, por incrível que pareça sou uma pessoa extremamente tímida. No rádio sou aquela pessoa extrovertida. Eu, Waldir Guimarães sou extremamente tímido, é um paradoxo. O radio é como se fosse um teatro, faço aquilo, acabou, não misturo as coisas. Consigo separar essas duas situações. Existem pessoas que fazem questão em se apresentarem, divulgarem suas realizações. Eu fico na minha condição de cidadão comum. Não sinto a necessidade dessa janela. Sou mais reservado. Realizo-me ao microfone. Tenho amigos de muitos anos que não sabem que faço rádio. Não sinto a necessidade de falar de algo que não faz parte do assunto. Se a pessoa quer me agradar e acha que falando sobre rádio isso irá ocorrer, ela está enganada. Não sinto a necessidade de dizer que trabalho em rádio, não preciso disso. Isso não significa que estou menosprezando quem se sente bem se apresentando como radialista. Apenas digo que isso é uma característica minha. Um fato que me trouxe muita satisfação, é que em uma das minhas idas ao mercado, fui atendido por uma moça que me disse: “-Você trabalha em rádio!. Reconheci sua voz, você faz um programa na Rádio Educativa, o “Cartaz de Cinema”, eu acompanho o seu programa!” Fiquei contente, ela mostrou-se ser minha fã sem incorrer em elogios banais.Esse tipo de reconhecimento me faz bem. Continuo freqüentando o local, ela me trata da mesma forma que sempre me tratou.


Como é a sua relação com a internet?


Gosto de entrar em trilhas sonoras, algumas informações sobre filmes. Não participo de rede social, raramente uso correio eletrônico. Sempre gostei de preservar minha privacidade.


Mantém alguns hábitos alimentares típicos de Minas Gerais?


Gosto de um queijinho, de leite com farinha. Queijo frito. Gosto de comida simples, arroz, feijão, bife, um refogado, embora não saiba cozinhar. Faço o melhor miojo da cidade. Ovo frito é minha especialidade. Gosto muito de pão com banana.


Já fez cobertura de polícia?


Já. Já fiz de tudo em rádio, você tem que perguntar o que eu não fiz! Já fui discotecário, programador, apresentador. Conheci grandes nomes, como Hélio Ribeiro, Roberto Carlos, Roberta Miranda, que por sinal é uma pessoa muito agradável. Conversei com Dalva de Oliveira um pouco antes de ela falecer. Paulinho da Viola. Morris Albert. Fábio Júnior, também conhecido como Mark Davis,em determinada época. Moacir Franco. A Ivete Sangalo quando veio aqui em 1994 ela deu uma entrevista na Jovem Pan de Piracicaba, ela precisava fazer uma gravação para mandar para o Amazonas, era a época do MD Mini Disc ela gravou nos estúdios da rádio. Conheci Tião Carreiro, cujo nome é José Dias Nunes a ponte pênsil tem o nome dele, autor da música “O Rio de Piracicaba”. Milionário e Zé Rico. João Paulo e Daniel em 1976 gravaram uma vinhetinha para mim embaixo da escada na Rádio Educadora. O Zezé ia muito em Americana.


Como você vê o futuro do rádio?


O rádio sempre irá existir, embora já exista muita segmentação. O Repórter Esso por muitos anos foi a principal fonte de notícias do país. A Voz do Brasil é das 7 as 8 da noite porque era o período de maior audiência do rádio


Qual sua opinião sobre a Voz do Brasil?


Considero um jornal superado, desnecessário. Getúlio Vargas impôs a Voz do Brasil para veicular as notícias do período Vargas em horário nobre. Ficou esse entulho, um horário perdido. Estamos em uma democracia que ainda mantém Voz do Brasil, voto obrigatório. Se for uma democracia isso deixa de ser obrigatório.










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