quinta-feira, março 24, 2016

MARISA MORGANTI AYROSA FALANGHE

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 26 de março de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA:  MARISA  MORGANTI   AYROSA  FALANGHE

Marisa Morganti Ayrosa Falanghe é uma das protagonistas de um capítulo marcante da história de Piracicaba, nascida a 3 de agosto de 1936, filha de Alcides Ayrosa, médico e  de Bice. Bice é o diminutivo de Beatrice, sua avó chamava-se Beatrice. O que impressiona em Marisa é a sua disposição física e mental. Veio de São Paulo A Piracicaba dirigindo seu carro, sozinha. Voltou no dia seguinte e embarcou para visitar netos e genro no México. Seus movimentos são rápidos, firmes, seguros.
Uma das mais ricas histórias de Piracicaba envolve a Família Morganti e a sua ascensão social e financeira, que projetou o nome de Piracicaba no cenário nacional e internacional. Inúmeras famílias trabalharam na Usina Monte Alegre onde iniciaram suas vidas, uma comunidade com características próprias. Viviam como uma única família e um só objetivo, produzir cada vez mais. Casas, cinema, clube social, clube esportivo, campo de futebol, escola, uma igreja com afrescos de Alfredo Volpi. Estrada de ferro própria, locomotivas fabricadas pelo gênio João Bottene. O que antes era apenas um canavial transformou-se em uma pequena cidade, o Bairro Monte Alegre. Inicialmente havia uma casa que servia como sede da fazenda. Com o passar do tempo foi construído um palacete que recebeu inúmeras personalidades, entre elas Edda Muzzolini (Mussolini) filha do ditador Benito Muzzolini Mussolini. Ou seja, esteve em Piracicaba a filha de Mussolini. 











Marisa Morganti Ayrorsa Falanghe é personagem dessa história,  foi batizada e casou-se nessa igreja. Extremamente emocionada visitou a mansão, percorrendo-a e contando o significado de cada detalhe. O quarto onde dormia, mostrou a piscina aonde nadava, que existe ainda, a casa de bonecas que foi construída para ela brincar, mas que pode até abrigar uma pequena família. Durante algumas horas Marisa comoveu-se e comoveu seus acompanhantes narrando tudo o que viu passar pela mansão da família Morganti.  






                                CONDESSA EDDA MUSSOLINI FILHA DE BENITO MUSSOLINI EM PIRACICABA VISITANDO A USINA MONTE ALEGRE



     CONDEESSA EDDA MUSSOLINI VISITANDO USINA MORGANTI EM PIRACICABA
Quem era Pedro Morganti?
Pedro Morganti ou Pietro Morganti, nasceu a 2 de abril de 1876 na cidade de Massaroza, na província de Luca, na Toscana, Itália. Filho de Tomaso Morganti e Beatrice Sargentine Morganti. Eram seus irmãos: Carlo, Biaggio, Antonieta e Paulo. Casou-se em 25 de julho de 1901 com Giannina Dal Pino, nascida em 24 de outubro de 1879 na cidade de Alexandria, no Cairo, ocasião em que seus pais, José Dal Pino e Tereza Mannini Dal Pino, originários de Lucca, na Toscana, Itália, se encontravam naquela região, em função do trabalho do pai. Escultor ebanista, que foi contratado para esculpir a porta principal do Palácio Real da Alexandria. Eram seus irmãos: Ernesto, Humberto, Argia e Augusto. Do casamento de Pedro Morganti com Giannina (Dona Joaninha) Dal Pino nasceram: Fulvio, Renato, Helio, Lino, Bice e Elza Morganti. Lino e Hélio eram gêmeos. O Pedro Fúlvio foi assassinado ao socorrer um amigo que estava sendo assaltado, nessa época já tinha sido vendido o Monte Alegre. Ele sempre dizia que queria ser enterrado na terra de Monte Alegre. O então novo proprietário, Silva Gordo, mandou terra e nós colocamos na urna mortuária do Fulvio.
Com que idade o seu avô Pedro Morganti chegou ao Brasil?
Ele veio para o Brasil com 14 anos, sozinho, para encontrar-se com o irmão Carlo que trabalhava em uma torrefação de café. Desembarcou no porto de Santos. Morava em um quartinho na própria torrefação. Trabalhou com o irmão até os 18 anos, quando retornou a Itália para cumprir o serviço militar. Na volta ao Brasil, juntamente com seu irmão, associou-se ao primo Gori e fundou a “Refinação de Assucar e Torração de Café, Gori e Morganti”. Nessa ocasião conheceu Giannina, com quem se casou aos 25 anos.
Como Pedro Morganti passou a ser o proprietário da Usina Monte Alegre?
Vendendo a sua parte na sociedade com o irmão e o primo, investiu parte do capital, em 1907, na compra do Engenho Colonial Monte Alegre, em Piracicaba, que havia sido propriedade do padre Joaquim Amaral Gurgel, um dos maiores proprietários de terra da região. Em 1910, junto com o Comendador José Pugliese, fundou a Cia. União dos Refinadores. Nessa ocasião o pequeno engenho na região de Piracicaba, se tornou a Usina Monte Alegre  e em 1917 adquiriu o Engenho Fortaleza , na região de Araraquara, que mais tarde se tornou a Usina Tamoio. Os equipamentos da usina eram feitos pelo Mário Dedini. As locomotivas a vapor eram criações de João Bottene. Cada locomotiva tinha o nome de um neto, Eu tenho a “minha” locomotiva, a Marisa! Eu soube pelo Renato Ferro que essa locomotiva existe ainda, está em uma chácara em São Paulo. Dizem que o proprietário acrescentou o nome da filha dele também. O pessoal que trabalhava aqui era tão amigo que não havia a relação de empregado e patrão, era diferente. Lembro-me do Regitano que era chefe de uma seção, o Keller, chefe de outra seção. O João Bottene era chefe de outra seção. Tínhamos convivência com todos eles. Eu saia a tarde com a mamãe, pela colônia, tinha cafezinho aqui, bolinho ali. Era uma família! Isso que eu achava lindo! Quando eu completei sete anos mudamos para São Paulo, em Higienópolis, na Rua Maranhão, 690,  em uma casa que tinha pertencido ao meu avô.  No local hoje existe um prédio que tem entre seus moradores o artista Jô Soares. Foi nessa época que chegaram da Alemanha os tios Hélio e Lino. Meus pais tiveram duas filhas: eu e a minha irmã Maria Cristina.















A Usina Monte Alegre proporcionou uma grande mudança em seu entorno?
As velhas casas do engenho foram sendo substituídas por casas novas e formada as colônias, com água encanada, luz e esgoto, para uso dos funcionários e trabalhadores da Usina. Foram construídos também, o Grupo Escolar, o Ambulatório, o Posto de Puericultura, o Clube Social União Monte Alegre Futebol Clube, composto de salão de bailes, biblioteca e cinema, assim como, o açougue, o armazém e a linha de jardineiras, que fazia a ligação Monte Alegre a Piracicaba. A casa sede, após uma pequena reforma, permaneceu na sua forma original, com assoalhos de madeira e cercada por um grande terraço, com piso de ladrilho hidráulico e cujas janelas da casa, davam para esse terraço. Essa casa permaneceu assim até o falecimento de Pedro Morganti em 22 de agosto de 1941.


                                 Dr. Jairo Ribeir de Mattos e Marisa Morganti Ayrosa Falanghe
Ao fundo  afresco original descrevendo a usina Monte Alegre




A senhora foi batizada na Capela São Pedro?
A igreja foi inaugurada em 25 de dezembro de 1936 para o meu batizado. Construída em meados de 1930 para atender a necessidade da população de Monte Alegre, que na época era formada quase totalmente por operários de origem italiana e católicos fervorosos, a Capela de São Pedro carrega uma história cultural riquíssima. O projeto foi feito pelo engenheiro italiano Antonio Ambrote, que foi o  mestre de obras do Teatro Municipal de São Paulo. A decoração interna constituiu-se de uma encomenda aceita por Alfredo Volpi, um pintor recém-chegado ao Brasil, ainda sem projeção, originário da cidade de Luca, região da Toscana, Itália., quando o pintor não havia ainda alcançado fama e fazia obras de arte nos intervalos das pinturas de paredes que realizava nos bairros do Ipiranga e do Cambuci, em São Paulo. A presença do talento de Volpi é notada assim que se entra na igreja. São aproximadamente 600 metros quadrados de pintura ocupando todos os espaços: paredes, tetos e colunas. Os afrescos estão longe de retratar o estilo moderno com o qual o artista ficou conhecido. Revelam um retrato do pintor quando jovem, o despertar de um grande talento. Para realizar o trabalho Volpi morou no local entre 1937 e 1938, e contou com a ajuda do pintor Mario Zanini. É réplica de uma igreja da Toscana. a igreja foi inaugurada em 25 de dezembro de 1936 para o meu batizado.  
A família Morganti ganhou projeção nacional e internacional, a senhora lembra-se do nome de alguns dos hóspedes que se instalaram no palacete dos Morganti?
Foram recebidas personalidades da época como: Serafino Mazzolino, Vice Rei da Albânia, Cônsul da Itália, Edda Muzzolini (Mussolini) filha do ditador italiano Benito Muzzolini (Mussolini), Embaixador Macedo Soares, Giuseppe Castruccio, Cônsul Geral da Itália, Adhemar de Barros, Governador de São Paulo, Assis Chateaubriand, fundador dos Diários Associados.
A família Morganti realizou uma reforma na sede da fazenda?
Após a morte de Pedro Morganti os filhos decidiram reformar a casa sede da fazenda e transforma-la em outra  que pudesse abrigar, confortavelmente, todas as famílias dos irmãos e de personalidades em visita a Usina. Essa reforma foi feita de forma radical, onde foi contratado o serviço arquitetônico do ilustre professor Archimedes Dutra. Todos os trabalhos de confecção de portas, janelas e forros entalhados foram executados pelo Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. São portas e janelas que possuem vidro de cristal bisotê, nos pisos da casa foi instalado mármore branco italiano. O terraço foi conservado na sua forma primitiva, na entrada central foi construída uma escada de dois lados, onde foi instalada uma fonte, de frente para o jardim principal. Nessa fonte está colocada uma escultura, em bronze, representando uma índia agachada, que segura um grande peixe de cuja boca jorra água sobre a fonte. O autor é o escultor Otone Zorlini. O mesmo que esculpiu as estátuas de Pedro Morganti e Giannina (Joaninha) Morganti, recentemente roubadas. Após a reforma, foram recebidas na nova sede: Ada Rogato, a primeira mulher a receber brevê de piloto de aviões, no Brasil, por ocasião da inauguração do Aeroporto Pedro Morganti. Foram hospedes ainda Juscelino Kubitschek, o governador Jânio Quadros, Don Domenico Rangoni, Monsenhor da cidade do Guarujá, que por ter vindo da Itália a convite do Dr. Renato Morganti, foi inicialmente capelão da Igreja da Usina Tamoio.
Como vocês jovens divertiam-se?
Quando comecei a namorar o Francisco Falanghe Neto (Quico) fazíamos festinhas nesse terraço, o Coriolano era um grande amigo. O Francisco e eu casamos, tivemos três filhos: Alcides, Fábio e Beatriz. Hoje tenho oito netos. Ficamos 52 anos casados. Aqui nessa igreja onde fui batizada,  casamos a 25 de dezembro de 1957. O casamento foi celebrado pelo Bispo de Piracicaba, Dom Ernesto de Paula.
(Nesse momento adentramos ao palacete, conduzidos pelo Dr. Jairo Ribeiro de Mattos, que está fazendo as suas expensas, a restauração do mesmo, visto que a família Silva Gordo doou o palacete ao Lar dos Velhinhos de Piracicaba). Marisa emociona-se muito. Imediatamente identifica o ambiente, inclusive o quarto em que dormia, havia três camas a de Marisa, da sua irrnã e uma terceira cama onde dormia uma amiga que vinha passar as férias com elas. Aponta o quarto aonde dormia seu tio Hélio.
No período em que você morava em São Paulo era nesse quarto que dormia quando estava de férias?
Quando  estava de férias vinha com as amigas, era uma folia! O piso é o mesmo. Quero trazer minha amiga e minha irmã para relembrarmos. Íamos à Piracicaba nos bailes do Clube Coronel Barbosa, quando voltávamos, a noite, faziam serenata. Minha mãe queria saber quem estava fazendo serenata. Eram só festas.
Marisa dirigiu-se ao seu luxuoso e amplo banheiro, com louças importadas, maçanetas de porta em porcelana pintada, uma enorme banheira. Nos olhos a emoção das lembranças.
Essa minha amiga criava ratinho branco (hamsters) uma vez nasceram aqui, ela coloco-os nessa banheira. Amanhã irei encontrar-me com ela e relembrar.
Marisa emociona-se ao ver na enorme sala um afresco em perfeito estado de conservação, retratando a história da Usina Monte Alegre. Manifesta-se:
Vou tirar uma fotografia desse afresco!
Os lustres foram feitos por quem?
Dr. Jairo responde que foram feitos pelo Nardin, pai do Neno Nardin, são de cedro, mogno e sucupira. 
Caminhamos em direção a piscina em que Marisa nadava. Sua expressão é de pura emoção. Ao ver a piscina intacta, enorme, de forma irregular, artisticamente desenhada sua expressão não se contém.
 Ai que saudade!



                             PISCINA EM QUE MARISA NADOU QUANDO CRIANÇA
                                                    (ESTADO ATUAL)
No trajeto Marisa comenta que se lembra do seu “nono” recebendo a visita da filha de Benito Mussolini, Edda Mussolini, que ficou hospedada na casa. Marisa vê uma casa, próxima a piscina e lembra-se. 
No tempo da minha avó, morava aqui um japonês, José Ieda, que tinha três filhos: o Togo, o Araque e o Sérgio. Eu tive uma carrocinha puxada por um bode, conservo a carrocinha até hoje.
Passamos por uma Casa de Boneca, que possivelmente tem o tamanho de algumas das atuais casas populares. Marisa lembra-se e diz.:
Eu adorava vir brincar nessa casinha! Tinha um fogãozinho e a pia de outro lado. Ligávamos para o Tio Lino e dizíamos: “-Quando você chegar passa na nossa casinha que vai ter um lanchinho!” Mamãe fazia alguma coisa, Tio Lino subia, éramos
pequenas.
O sepultamento de Pedro Morganti foi realizado em São Paulo?

O enterro percorreu a Avenida Paulista, em São Paulo, com um enorme numero de pessoas acompanhando, interditando o trânsito, ele foi sepultado no Cemitério São Paulo. A missa de sétimo dia foi na Igreja da Consolação. 





CORTEJO FÚNEBRE DE PEDRO MORGANTI NA AVENIDA PAULISTA EM SÃO PAULO








segunda-feira, março 14, 2016

LISABETH CANNAVAM RIPOLI (BETTH RIPOLLI)

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 12 de março de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.teleresponde.com.br/ 
ENTREVISTADA: ELISABETH CANNAVAM RIPOLI 
                               (BETTH RIPOLLI)



Artista renomada  Betth Ripolli no próximo dia 18 de março irá realizar um show em homenagem ao Mês Internacional Das Mulheres. São cinco mulheres tocando diversos instrumentos, Betth toca piano e violão, outras duas artistas tocam saxofone e flauta alternada ou simultaneamente, uma das artistas toca guitarra e baixo e outra toca percussão e bateria. O dinamismo do show envolve o público. Esse show foi eleito no ano passado como um dos melhores da cidade de São Paulo.  Será em Piracicaba, no Teatro  Erotides de Campos (Teatro do Engenho). Betth têm plena consciência de que as pessoas estão cansadas de notícias e músicas ruins.
Piracicaba é uma cidade que surpreende e encanta quanto mais a conhecemos. Com uma história riquíssima, um sólido patrimônio cultural, ao pesquisador quando parecer ter explorado tudo surge uma excelente novidade.
Betth Ripolli é o nome artístico de Elisabeth Cannavam Ripoli, nascida em Piracicaba a 2 de abril de 1952. Seu pai Romeu Ítalo Ripoli deu-lhe esse nome porque a rainha Elisabeth da Inglaterra estava sendo coroada naquele ano. Ainda mandou vir da Inglaterra um piano inglês, acústico, de cauda, como presente para sua filha. Sua mãe é Florisbella Cannavam Ripoli, mais conhecida como “Bella”, que também teve o filho Thomaz Caetano Cannavam Ripoli, falecido precocemente há três anos. Tem ainda o prazer de ter mais dois irmãos: Antonio Roberto de Godoy e Edson Diehl Ripoli, o primeiro general piracicabano, um orgulho para a nossa cidade.
Betth, seus primeiros estudos foram feitos em que escola?
Estudei no Grupo Escolar Prudente de Moraes, no bairro Cidade Jardim, loteado por meu pai. Construiu a primeira casa( pode tirar)com piscina da cidade foi a primeira ,tinha que ser um modelo para as demais que seriam construídas. Ela existe até hoje e está alugada para um escritório de advocacia. Meu pai era afilhado do Comendador Mário Dedini que foi quem emprestou o dinheiro para o loteamento .



Qual é o nome do livro?
“A  Sintonia Com A Alma – Largou O Marido E Abraçou O Piano”
Você lembra-se do nome de alguma das suas primeiras professoras?
Se não estiver enganada era Maria do Carmo Jordão. Estudei quatro anos no Grupo Escolar Prudente de Moraes. Ainda muito nova eu já me destaquei nesse esporte. Participávamos dos Jogos Abertos do Interior. Pequena e magra, muito ágil, acabei sendo campeã de natação por Piracicaba. Com 10 a 12 anos já tinha uma caixa de medalhas de campeã de natação. Até desfilei em um carro aberto segurando uma tocha. Eu procurava ser a melhor em tudo. Já estudava piano, dançava balé. Com sete anos dencei na TV TUPI. Dava entrevistas para o jornal dizendo que iria ser uma bailarina famosa na Europa. Como o mundo gira!!! Na adolescencia meu sonho era casar com o Roberto Carlos.



E o piano?
O piano estudei forçada pelos meus pais. Aos  doze anos eu dizia à minha mãe que não queria estudar piano, preferia ser lixeira na rua. Ela dizia: “ Filha, estuda meia horinha depois você vai para o clube. Um dia você irá me agradecer” Não tem um dia da minha vida que eu não diga: “Obrigada minha mãe, por você ter feito me formar, ou hoje eu não seria pianista”. Aos 16 anos entreguei o diploma a ela não mais toquei por quase vinte anos. Porém, foi esta base que me tornou uma pianista popular, quando fui estudar com o Zimbo Trio .  Aprendi inglês, na marra, já que tínhamos uma professora que almoçava em casa aos domingos, a Miss Elsie. Ou seja, meu pai me preparou para a vida. Do Grupo Escolar Dr Prudente de Moraes fui para o Colégio Assunção.



                                     BETTH RIPOLLI INTERPRETA HINO DE PIRACICABA
Como foi sua trajetória no tradicional Colégio Assunção?
No primeiro ano me apaixonei pela filosofia de freira maravilhosa, culta, chamada Irmã Ana e resolvi que queria ser freira. No segundo, já tinha perdido um pouco do entusiasmo. No terceiro ano não queria mais. No quarto ano briguei com a Madre. Tive q sair do colégio efui para o Sud e fiz Normal. Eu era politizada.  Entreguei meus diplomas para minha mãe,  e fui dar aulas: de piano, inglês e violão ( como autodidata).  Arrumei 55 alunos, de manhã, a tarde e a noite. Comecei a ganhar muito dinheiro, eu não tinha nenhuma despesa! Meu pai que era superprotetor, só me permitiria namorar aos 16 anos e beijar só depois de casada. Hoje eu tenho a certeza de que fez isso pelo meu bem. Com 15 anos descobriu que fui à matinê com um garoto, no Cine Polyteama. Eu cheguei antes e o menino sentou-se após apagar a luz... ele nem virou para o meu lado. Meu coração parecia que ia sair pela boca e ele acabou indo  embora antes de acender a luz e sem trocar uma palavra. Só que o meu pai era amigo do lanterninha que “me entregou”. Meu pai rasgou o meu vestido de debutantes ( haveria um baile no Clube Coronel) com um canivete, por conta do episodio da  matinê. Foi a única surra que levei do meu pai. Ele me bateu porque estava me protegendo, ele tinha medo de que os homens se aproximassem de mim. Quando fiz 19 anos já tinha um dinheirinho guardado, fui estudar nos Estados Unidos. Nessa época ela já estava há cerca de um ano na cama, com uma depressão que durou dois. Houve um fato que fez com que isso acontecesse,  está na minha biografia. Será um livro histórico, conto tudo do Esporte Clube XV de Novembro, como ele perdeu do Palmeiras em 74. Tenho no meu livro depoimentos do Wagner Ribeiro, empresário do Neymar, do Milton Neves, do Jairo Mattos. Na viagem comprei pintura, bijuteria, trouxe, e ao voltar, vendi tudo e acabei pagando meus custos. Meu pai me ensinou a lidar com dinheiro. Tanto é que quando me casei, como ele estava saindo da sua doença, eu é que, com meu dinheiro, dei uma festa para duzentas pessoas, fiz meu enxoval, confeccionei minha camisola da noite e até meus lençois.



Seu pai foi um grande empreendedor imobiliário, isso não lhe trouxe recursos?
Ele fez a Cidade  Jardim, o Jardim Europa e o Jardim Brasil que passou a ser denominado pejorativamente como Ripolândia.
Essa denominação partiu de uma iniciativa desprezível de um adversário político
Toda essa história está no livro também! Eu sofri muito por conta disso, eu não sabia a história real.  As pessoas achavam que ele era muito rico, ele falava para mim e para o meu irmão Caetano: “ Deixa achar!” Ele não era rico. Em meu livro conto a passagem em que alguns comunicadores da grande mídia de São Paulo diminuíram sua capacidade, usaram termos pejorativos. Ele mandou convocar a imprensa toda da época, para responder à altura. Quando ele chegou aos estúdios, onde a mídia em suas diversas modalidades estava presente, sedenta de lincha-lo intelectualmente, ele iniciou sua fala dizendo: “ Prezados, em que idioma vocês querem que eu dê as respostas que desejam?”   Um silêncio sepulcral tomou conta do ambiente. Ele simplesmente desmontou o circo que haviam armado. Romeu Ítalo Ripoli era acima de tudo folclórico. 
Você casou-se em Piracicaba?
Casei-me na Igreja dos Frades, em novembro de 72. Já em SP, dava aulas de piano, violão e inglês nas casas dos alunos. Só que eu não tinha feito faculdade! Comprei as apostilas para um vestibular, li uma vez para não me confundir, e passei em quarto lugar. Durante os estudos tive meus dois filhos, Giulianno e Tatianna, minhas bênçãos.  Quem quer faz!
Você continuava morando em São Paulo?
Fiz a faculdade, continuei dando aulas.Pintava porcelana e vendia. Adquiria roupas na  Rua José Paulino  e as vendia. Sempre soube ganhar dinheiro. Eu tinha voltado a dançar  balé pela Joyce Ballet até que aos 33 anos tive artrite e depressão. O médico recomendou  voltar a tocar piano.Fui atrás de tocar musica popular: meu sonho era tocar Garota de Ipanema, Madalena. Em dois anos eu me sai super bem. O pessoal do Zimbo Trio,  me convidou para ser pianista profissional. Eu cheguei em casa, parecia que o George Clooney havia me pedido em casamento, eu iria ser uma pianista profissional!
Qual foi a reação do seu marido?
Quando dei-lhe a notícia a reação dele foi totalmente contrária. Comentou – “ mulher minha não toca na noite!” Consegui encontrar forças para não ter nenhuma reação intempestiva. Eu não queria uma separação, para mim a família é sagrada, é até o fim. Só que eu estava infeliz e não sabia. E hoje sei,  a artrite é a doença da mágoa. As minhas articulações estavam enrijecendo todas, porque eu não dava vazão à musica. Quando me assumi como pianista a dor sumiu. Comecei a tocar em casas noturnas requintadas. Na época não havia muita mulher pianista. Como eu não conseguia ir a três lugares na mesma noite chamava outras pessoas, para me substituir. Quando conheci meu atual marido, o jornalista Luiz Carlos Franco, ele sugeriu que abrisse a Harmonia Eventos Musicais, hoje com 26 anos de mercado. Só na sala de embarque da TAM tenho 12.000 apresentações, graças ao Comandante Rolim que criou um projeto de musica para os passageiros. Das seis da manhã até a noite tocando em duas salas.E nos aviões...

Como você desenvolve o seu lado espiritual?
Eu me apeguei muito ao espiritual.Estudo de antroposofia e PNL há 25 anos .Tenho um astrólogo que consulto todos os anos, um numerólogo que colocou um “t” e um “l” em meu nome. Faço curso com um alquimista todo mês e adoro tudo que é o mundo invisível pois isso me dá um equilíbrio.
Isso tem alguma influência do seu pai?
Nada. Meu pai era falante, inteligentíssimo. Assim como meus irmãos Beto, Caetano e Edson. Esse lado espiritual  é uma coisa minha: um pé na Terra e dois no Céu. Eu creio, não acredito, o “a” de a-credito tira o crédito, portanto creio em uma força maior que me rege. Tudo que eu tenho é fruto das minhas escolhas, nada do que me acontece é responsabilidade do outro.
Essa sua força tem origem em seus pais?
Meu pai era um homem muito forte, minha mãe sempre foi uma mulher resiliente, herdei essas características dos dois. Oro várias vezes ao dia e não durmo pensando em problemas. Dou importância ao que de fato tem importância. Um astrólogo disse-me: “-Você não está na sua missão”. Disse-lhe”: “ Sou voluntária há 12 anos no Hospital do Coração”, vou ao Lar dos Velhinhos e quando estou ganhando dinheiro dizem que estou fazendo bem às pessoas porque toco a alma. Ele disse-me: “Você veio para ajudar o mundo, não veio para falar para 4 pessoas nem 40, veio para falar para 400, 4.000 veio para fazer a diferença.” Virei palestrante por acaso, no Hospital do Coração, numa dessas apresentações  percebi um senhor ao meu lado que pedia  música . Era o Benedito Rui Barbosa”!Nossa|!Foi demais! O filho dele acabou fazendo meu terceiro CD. Por estar la me solicitaram para tocar no dia do enfermeiro, à noite, para aqueles que ficam na UTI, no Pronto Socorro . Respirei e comecei a contar para eles a história de uma menininha do interior, de um pai rigoroso e de um marido opressor.Só que eu falava um pouco e tocava uma música relacionada com  as passagens na vida daquela menininha.Fiquei uma hora e meia, as pessoas cantaram, se emocionaram. E agradeceram”. Fui embora chorando muito ao perceber minha missão. Peguei todos os meus conhecimentos, fiz um PPT e sai vendendo palestras.. Já fui fazer para a Dudalina, em Blumenau, Portugal para meninas que concorriam ao título de Miss Brasil-Europa, no Cassino Estoril. Tenho feito palestras onde me chamam porque ela junta autoconhecimento, autoajuda, motivação, permeadas da música. É uma palestra é uma transformação. Há dois anos tenho um programa do bem na www.alltv.com.br- SINTONIA, chamado do bem.Estão todos no meu site www.betthripolli.com.br em vídeos, no You Tube. Mais de 120.000 pessoas já nos assistiram
Como você trata como suas possíveis doenças?
Tomar Antroposofia, Homeopatia. Não trato uma dor, trato o sentimento que gerou a dor. Se eu tiver dor de cabeça, não vou tomar uma pílula contra dor de cabeça, vou descobrir o que gerou a dor de cabeça, pode ser que esteja sem me alimentar.
Hoje sou Palestrante Motivacional com uma banda feminina, 2 sax/flauta, piano , violao, baixo e bateria. Participam Betth Ripolli, Luciana Romanholi, Nina Novoselecki, Sintia Piccin e Alcione Ziolkowski. Já toquei em um congressopara o Rubinho Ometto, da Raizen, tive o prazer de receber seu abraço no palco. 1.000 pessoas, num lindo piano de cauda , o Hino de Piracicaba.

Você fará um show em Piracicaba?
Dia 18 de março, no Teatro do Engenho, (Teatro Erotides de Campos) e os grandes responsáveis por eu estar vindo para Piracicaba são Lucila Piedade Cesta e seu marido Francisco Cesta. Os valores dos ingressos são R$ 30,00 para estudantes, professores e aposentados. Até 72 horas antes, R$ 45,00 .Duração 1h 15´.Teremos cortesia do Café Morro Grande , mimos da Bauducco e o catering dos músicos ficara por conta do restaurante Marrom Glace. A Raizen está dando apoio com a filmagem. E a força do Jairinho Mattos da Rádio Jovem Pan, que será o meu mestre de cerimônias. Vendas pela bilheteria rápida on line, na do teatro (15 às 18) Livrarias Nobel.

E o seu livro quando irá sair?
Sai este ano. Na minha cabeça ele já é um Best Seller. A gente cria a realidade. Criei que será um Best Seller. É a biografia da Betth Ripolli?  É um poudo de tudo. Romance,, cultura , auto ajuda.  
Relato meus altos e baixos. Hoje sou compositora, tenho quatro CDs gravados, meu quarto CD é inteirinho autoral

Esses CDs estarão a venda em seu show em Piracicaba?
Sim.
Você tem algum apelido conhecido pelos familiares e amigos?
Tenho! BBB – Betth, Brilho,Batom! Minha camisola tem brilho, meu biquíni tem brilho, passo batom depois de tirar a pintura, ao me levantar, antes de tomar café passo batom. Eu quero me olhar e me amar. Quero estar com esse carrinho até os 95 a 100 anos, bem!
Esse carrinho é você?
Esse carrinho sou eu! Todo mundo pega um carrinho para passar nesta vida! Somos um carro, se o deixarmos no relento, na chuva e no sol, sem nunca cuidar dele, ele irá se estragar. Como esse carro que sou eu, vai atravessar a minha vida comigo, vai me conduzir, será meu estereótipo físico. Vou a eventos, palestras, pago cursos. Por que? Para quem não faz nada, não acontece nada! Não ri nem chora, está tudo bem. Considero “O mal como um bem deslocado”. Tudo na vida é semente para uma nova oportunidade. Eu sou responsável por tudo àquilo que me acontece. Sou a prova viva disso.



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CECÍLIA SODERO POUSA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 27 de fevereiro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: CECÍLIA SODERO POUSA

A religiosa Irmã Cecília Sodero Pousa nasceu em Piracicaba a 31 de dezembro de 1931 a Rua do Rosário, nas proximidades do Grupo Escolar Moraes Barros.
A que distância do Grupo Moraes Barros ficava a residência da família da senhora?
Fica a apenas duas quadras, no sentido centro bairro. Era uma rua por onde o bonde passava, Dizem que nasci assim que o bonde passou, às oito horas e vinte minutos da noite. Sou filha de Orlandina Sodero Pousa e José Pousa de Toledo, ambos eram professores. Papai lecionava no bairro Pau Queimado, ele não saiu de lá por sua própria opção, ele queria lecionar no meio dos trabalhadores, agricultores.
Qual era o meio de transporte que ele utilizava para ir até a escola?
Usava seu próprio carro, sendo que levava também outras professoras.
A senhora lembra-se que modelo de carro que ele utilizava?
Sei que em certo momento ele utilizava uma “baratinha” azul. Eram veículos da época.
A senhora teve irmãos?
Tive uma irmã, Ângela Pousa de Coimbra casada com Plauto Lapa Coimbra, filho do Sr. Lamartine Teixeira Coimbra, que era Diretor do Instituto de Educação Sud Mennucci  O Plauto era sociólogo e advogado, trabalhou muito na área jurídica em Piracicaba. Isso na década de 50. A minha irmã era professora, ocupava cargos de orientação de ensino.
A senhora começou seus estudos em qual escola?
Foi no Grupo Escolar Moraes Barros. Minha primeira professora foi Dona Elisa Magalhães, ela deu aulas nos meus quatro primeiros anos. Conclui o primário e fui prestar exame no Instituto de Educação Sud Mennucci para entrar no ginásio. Ali fiz o ginásio e o curso Normal onde me formei como professora. Tive aulas com professores da família Dutra: Desenho, música.
Nessa época Erotides de Campos lecionava na Escola Normal?
Lecionava, embora eu nunca tenha sido sua aluna o conheci muito por que ele era muito amigo do meu pai. Meu pai também era musicista. Ele tem coisas lindas. Era seresteiro, aceitava muito as letras que os amigos dele faziam e pediam para ele colocar a música, então ele entrava muito na dinâmica daquela letra.
O pai da senhora frequentava a casa de Erotides de Campos?
Frequentava!
Qual era o instrumento musical que o pai da senhora tocava?
Meu pai tocava flauta. Estudava até de madrugada, dormíamos ao som da flauta dele.
Com isso despertou na senhora a vontade de tocar algum instrumento?
Desde oito a nove anos eu tocava piano. Estudei piano, até receber o diploma do Conservatório Musical de São Paulo. Depois estudei os cursos adjacentes que eles chamavam de Canto Orfeônico Eram cursos que nos preparavam para sermos professores de música. no ensino médio. Estudei na Escola do Maestro Julião. Estudei  piano com Fritz Jank No exame do Conservatório eu toquei uma música de autoria do meu pai chamada “ Meditação” que foi muito aplaudida. Uma valsa muito bonita.
O que significa a música para a senhora?
Eu nunca pensei nisso! Para mim significa a harmonia do Universo. A coletividade dos seres do Universo. Que faz esse Universo caminhar, crescer, produzir, Produzir artes, produzir o belo, o bom, a música reúne tudo isso, uma imensa produção dos sons que ela pode criar. A minha mãe na juventude dela tocou piano e a minha irmã Ângela tocou piano em sua infância. Sou formada como professora pela Escola Normal e também como professora de música e como musicista, pianista.
Quando a senhora concluiu a Escola Normal qual foi a próxima etapa?
Continuei a estudar música, em São Paulo. Eu viajava, não todos os dias, porque o curso era dado às vezes por semanas, depois eram feitas as provas.
A senhora ia como para São Paulo?
Ia de trem, a Companhia Paulista de Estradas de Ferro era muito boa! Para as aulas de piano com o Fritz Jank que morava nas proximidades do Cemitério da Consolação, no bairro Pacaembu, eu ia sozinha. Para os cursos de formação musical, com o Maestro Julião, a minha mãe ia também porque ela fez o curso.
Em seguida o que a senhora fez?
Eu tinha que decidir o futuro da minha vida. Através de muitas experiências, muitos contatos, de visitar muitos setores da sociedade e refletir eu resolvi dedicar a minha vida a um trabalho popular. Comecei uma série de estudos, especialmente a Educação Popular.
A senhora ingressou em uma instituição religiosa?
Essa organização religiosa tem o nome de congregação, é a Congregação de Nossa Senhora – Cônegas de Santo Agostinho,é uma congregação agostiniana, fundada a mais de 400 anos. É muito antiga, então o nome também é antigo, a sede no Brasil é em São Paulo, a sede internacional é em Roma, mas trabalhamos muito mais em Paris.
Quais idiomas a senhora fala?
Falo o português, francês e espanhol. Não estudei inglês, quando comecei a estudar inglês em Piracicaba a minha irmã faleceu, ai eu parei. Nunca tive a necessidade explicita do inglês, na Congregação todos pelo menos entendem, lê um pouco ou fala mesmo o francês. Após concluir a universidade trabalhei no setor internacional da Congregação
Em qual universidade a senhora estudou?
Primeiro morei por dois anos em São Paulo, no bairro Pompéia, depois em Perdizes. Estudei Letras, na Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre. Uma universidade católica, que era conduzida pelos Irmãos Maristas. Morei seis anos em Porto Alegre, logo após ter ingressado na Congregação. Lá eu estudava e dava aulas. Fui lecionar em um colégio bom, novo, em uma região nova de Porto Alegre, adiante um pouco de Viamão.
Nesse período de permanência em Porto Alegre a senhora adquiriu algum habito típico gaucho, como tomar chimarrão?
Não chegou a ser habito, mas posso dizer que gostei demais de Porto Alegre, assim como gostei muito do contato com as minhas companheiras de lá, com as quais até hoje tenho uma amizade muito boa. Apreciei muito a força desse povo, a autonomia que eles têm a força de produzir e amar cultura. Valorizar sua cultura. Eles preservam e apreciam sua cultura, produzem muita cultura, eles crescem. Eles afinaram a intelectualidade. Agora é mais direta, mais simples, mais orgânica.
A tão decantada “globalização” faz com que muitos percam sua identidade?
Isso ai, agora acho que tem que voltar para outra ponta. Depende da educação que as pessoas recebem ou não recebem. Depende da educação que penetra e que transforma, ou da educação que fica na superfície. Que passa e se esquece. A educação do berço está junto. Toda educação da vida fortalece a educação do berço. Ou então nos leva a ignorar. Procurar outros destinos.
Como educadora, em sua opinião, a aprovação quase compulsória de um aluno que não reúne o mínimo de conhecimentos básicos não é prejudicial ao aluno?
A meu ver a educação é muito institucionalizada. Quanto mais institucionalizada mais ela foge dos valores atuais. Mais ela entra nos esquemas propostos desde o passado. Penso que a educação tem que partir da experiência, da vida, dos valores. A educação não pode partir da instituição senão será repetitiva. E ela não pode ser repetitiva, tem que ser criativa.
A senhora acredita na formação do caráter do indivíduo?
Acredito! Senão não se forma ninguém! A educação é a formação do caráter pessoal e coletivo. A minha Congregação é educadora. Tem como trabalho nesse grupo a educação. Essa reflexão sobre educação é a proposta de processos criativos e educativos.
Cada instituição tem um lema, qual é o lema da Congregação a qual a senhora pertence?
O lema vem de quem fundou há 400 anos. Nós seguimos duas frases. Um delas é: “ Bem à todos, mal à ninguém.” Essa é uma frase do início da Congregação. A outra frase é pensando um pouquinho nos valores religiosos::“ Faze-o crescer”.
Quem fundou a Congregação?
Foi um vigário, de paróquia. Ele era cônego de Santo Agostinho. Era uma congregação masculina. Isso em um condado da França. Ele era um visionário, tem muitas cartas, completamente fora do estilo da época. Essas duas frases não dele, são da fundadora que fundou junto com ele, as Canonisas ou Cônegas de Santo Agostinho (Canonicæ Sancti Augustini) (CSA), fundada, em Lorena, França, em 1597, pela beata Alice Leclerc sob orientação do Padre Pierre Fourrier, com a finalidade de dedicar à educação das jovens. Inicialmente, a congregação tinha o nome de Cónegas de Nossa Senhora (Chanoinesses de Notre-Dame), mas em 1932 foi reformada, com o nome de Cónegas de Santo Agostinho.
A senhora de Porto Alegre foi para qual cidade?
Após seis anos em Porto Alegre vim para São Paulo, a Rua Caio Prado. Ali estava nosso colégio, que foi vendido, o Colégio Des Oiseaux, demolido em 1974.e até hoje não fizeram nada, é um estacionamento. Era um colégio lindíssimo, tinha um palacete na entrada. Tinha uma capela lindíssima. Tínhamos alguns momentos guardados por 400 anos. Um desses momentos era que nós rezávamos o ofício da igreja que é o que os padres rezam até hoje, o breviário. Rezávamos inteiramente. Era sete vezes na capela durante o dia. Para poder cumprir esse programa para cada dia. Essa capela era muito bonita, tinha uns lugares que chamamos de estalas, eram cadeiras especiais que davam toda a volta em todo o correr da capela. Quando tínhamos hóspedes, pessoas que também gostavam de rezar eles entravam também nas estalas.
Quantas irmãs residiam a Rua Caio Prado?
Quando eu entrei tinha umas oitenta.
A senhora permaneceu lá até que ano?
Fiquei no Colégio Des Oiseaux, que é o Colégio das Cônegas de Santo Agostinho, fazendo estudos por uns três anos, aprofundando os conhecimentos teológicos. Entrando em um campo em que teria que trabalhar com tudo, mais uma luz de fé. Fiz um curso de teologia, fiz um curso de experiência de missão, foi na época do Concilio Vaticano II, por volta de 1962 a 1963. Depois disso trabalhei um pouco com as jovens que estavam chegando à Congregação. .Ao mesmo tempo pedi para ir para o Nordeste.
O que a levou a fazer esse pedido?
Está  na base da minha escolha de vida. Resolvi dedicar a minha vida a essa população. Naquele tempo tínhamos apenas uma casa em Recife. Quando cheguei ao Nordeste a coisa cresceu, criaram-se outros grupos. Quando eu vim para ficar havia o colégio em Recife. Tínhamos um programa que atendia tanto as alunas filhas  de usineiros, mas também tinha escolas para pessoas que não podiam pagar. Eu  cheguei ao Nordeste em 1970. Cheguei a Recife, era uma comunidade com umas 18 a 20 irmãs. Havia varias sulistas, paulistas. O convento e o colégio lá foram criados pelas nossas irmãs da Alemanha. Nós de São Paulo fomos criadas pelas belgas. O que aconteceu é que quando anexaram os condados na Europa a Congregação foi perseguida e as que conseguiram fugiram para Portugal. Foi uma perseguição política Nesse desmembramento e saída para outro país, se formaram vários mosteiros separados. Como se formaram núcleos diferentes, depois esses núcleos foram se reunindo em uma modernidade mais avançada. A Congregação assumiu características do pais onde estavam sediadas, Alemanha, França, Bélgica. Até que decidiram ir em missões em outros continentes, para o Brasil inicialmente vieram as belgas que se instalaram em São Paulo.Depois as alemãs vieram para o Nordeste. Os dois grupos mantiveram a comunicação entre si, porém com muitas coisas diferentes entre elas. Com tradições diferentes. Após ficar em São Paulo estudando, passei dois anos na Bélgica em um grande colégio da Congregação. Era próxima a Bruxelas, eu ia todos os dias até Bruxelas para estudar. Isso foi em 1966, de lá fui para Paris várias vezes, seguíamos cursos interessantes.
Deixar a Europa e ir para o Nordeste do Brasil foi uma decisão de coragem?

Quando eu morei em São Paulo viajei muito com as irmãs que eram professoras do nosso colégio em São Paulo, elas levavam grupos de alunas para conhecer o Nordeste. Talvez o meu primeiro impacto foi nessa viagem que fiz com as alunas, nós ficamos hospedadas com as irmãs que eram alemãs, mas que eram da nossa Congregação levantávamos as cinco horas da manhã com as noviças para ver os jangadeiros partirem na busca de peixe as famílias na praia, as mulheres rezando para ter bom tempo, todos os cantos de Dorival Caymi. Tudo isso era uma coisa muito bonita. A questão da vida, da sobrevivência.  Isso me tocou muito, até hoje me lembro. Íamos também para ver os jangadeiros que chegavam da noite, com os peixes, vendiam quase tudo ali. Eu tive a sorte de visitar bastante o Nordeste, não só Recife. A nossa educação é muito sólida. Uma das  irmãs que veio liderando essa excursão, é introdutora no Brasil dos métodos ativos em educação, que já abre pistas para Paulo Freire, para toda essa gente que depois fez toda uma metodologia para educação popular.  A nossa irmã é que trouxe de cursos que ela fez na Europa com um padre chamado Faure era o grande idealizador desses métodos mais ativos. Isso nós  levávamos para todos os cantos. 
A senhora está morando no Nordeste do Brasil desde que ano?
Desde 1970, portanto são 46 anos. A sua permanência por tanto tempo permitiu acompanhar o desenvolvimento de várias gerações, muitas mudanças.
O que mudou no Nordeste nesse período de quase meio século?
Morei 14 anos no sertão, havia o sistema de coronelismo, inclusive com a anuência de uma autoridade eclesiástica em conluio com os coronéis, para manter os “status quo” (no mesmo estado). Fui expulsa do sertão pelos coronéis. Era um trabalho que incomodava o sistema político e social deles, Fomos obrigadas a sair de lá, se permanecêssemos os pobres seriam sacrificados, naquele tempo havia o processo das listas das pessoas que seriam abatidas ou sacrificadas, pessoas que incomodavam a política deles. O meu nome estava em duas dessas listas. Quem nos contava era o povo trabalhador. Nós tínhamos muito contato com os sítios, saíamos muito para os sítios, e isso incomodava demais porque as cidades eram pequenas diante dos sítios, era o curral humano dos coronéis. Nós ficamos sete anos no Estado de Pernambuco e sete anos no Estado de Alagoas. Era um lugar onde Pernambuco e Alagoas eram limítrofes. Não podíamos manter grandes escolas, tínhamos que manter pequenas escolas. Em periferia, no interior, era esse o publico que precisava de nós.
E as filhas dos fazendeiros, frequentavam as escolas?
Elas estavam nos grandes colégios de Recife. Quando cheguei ao Nordeste fui eleita no ano seguinte fui eleita Regional no Nordeste, fiquei coordenadora nessa região. Meu trabalho era mais de animação dos pequenos grupos das irmãs. Nossa mentalidade naquele tempo dizia que era bom ir conviver mais com o povo e não ficar em colégio. Uma pessoa que teve muita influência em nossa decisão foi Dom Helder Câmara. Uma senhora que trabalhava para ele tinha uma filha que estudava conosco  no colégio de Recife, e Dom Helder ia lá às vezes por causa dessa menina. Um dia ele me disse: “É muito bom o colégio, mas tem muitos colégios religiosos aqui em Recife, as Damas Cristãs, os Maristas, os Dominicanos, muita gente trabalhando na formação do povo que era a elite da sociedade, seria tão bom se vocês descobrissem um valor em sair deste ambiente, não para rejeitar, mas para fazer uma coisa diferente, ir um pouco para o interior, ver o que se passa por ai, ver a educação como é que anda por aí criar um sistema de educação popular”..  Foi ele quem deu o primeiro empurrão. E daí começamos a discutir isso na comunidade das irmãs. Essa discussão nos levou a fechar o colégio de Recife. O colégio era bom, não tinha problemas financeiros, professores bons, mas a coisa caminhou tão forte na linha missionária que em 1974 resolvemos fechar o colégio. Foi uma zoada em Recife. Ninguém entendia. Tivemos que explicar, fazer um processo bem detalhado, com os pais dos alunos, professores, amigos, com pessoas que se juntavam a nós no colégio, e todo o mundo ajudou a fechar esse colégio. Chamei de São Paulo duas irmãs: uma para cuidar das finanças e a outra para ser a diretora do colégio nesse momento de fechamento. Organizamos-nos com elas e fechamos o colégio, Daí que eu fui para o sertão.
Para qual localidade do sertão a senhora foi?
Fui para Itacaratu, Pernambuco, é um município aonde tem muitos indígenas, os Pankararus, ali nós não criamos a primeira comunidade nossa, descemos a serra, embaixo tem uma vila que pertence a Itacaratu, nessa vila nos estabelecemos, chama-se Caraibeiras. O povo da região é artesão de redes de dormir, ou cobertas e cama, tudo feito no tear. Naquele tempo eram dependentes profundamente dos donos dos fios, que recebiam as redes prontas, quem fabricava rede guardava tudo, o fiozinho que sobrava, a lãzinha que saia da tecelagem, quando eles entregavam as redes para quem deu o fio, tinham que colocar junto tudo que tinha saído dos fios. Se desse um peso diferente os tecedores teriam que pagar. Era um cuidado para não deixar desviar nada. Se levassem 50 quilos de fio e recebessem de volta 45 quilos, os tecedores tinham que pagar cinco quilos de fio. Nós trabalhamos muito com esse pessoal do artesanato.
Qual era a alimentação básica deles?
Macaxeira (mandioca), comem muito inhame, muito milho, carne de bode, ovelha e também boi. Íamos a feira, eles matavam os bichinhos e vendiam o fígado quente. A matança dos bois não dá nem para pensar. Nos insurgimos muito contra essas coisas, como dependia dos homens que viam de longe para fazer essas coisas as nossas preces não ajudavam muito. Comiam muito feijão, que é o que eles plantam, além de comerem macarrão e bolacha. Morava conosco uma irmã francesa, que até hoje mora comigo, a Irmã Genevieve Remy ela ia comprar pão pela manhã, era bem jovem, tinha vinte e poucos anos, todo mundo a chama de Dona Gê. O padeiro dizia: “ Dona Gê! O pãozinho francês está quente!” Ela chegava em casa com aquele pão feito com água de barreiro. Marrom. Eles não tinham consciência do que seria a manifestação de bactérias. Essa irmã é enfermeira, ficou nove anos nessa vila, fez um trabalho maravilhoso de educação, saúde pública, sanitária, ela formou pessoas. Trabalhou muito a saúde alternativa, os remédios alternativos com o pessoal da roça. Quando saímos de lá tinha muita coisa nascendo e o povo assumindo. A gente só trabalha se o povo assumir. Não fazemos no lugar do povo. Há uns dez anos mais ou menos. Voltamos para lá, e encontramos as pessoas com quem trabalhamos, que já são mãe de famílias, e essas pessoas que ela formou, são todas que ocupam os cargos no posto de saúde de lá, e ganham para isso.
Essa consciência, motivada por uma vocação religiosa não deveria ser uma consciência nacional?
Precisaria ser! Sinto-me na obrigação de dizer sobre as mudanças de dez anos atrás para hoje. Obviamente que tudo não é ótimo. O Estado da Paraíba é o estado campeão da violência contra as mulheres. É um sentimento vivo da tradição do povo machista, como acontece em muitos lugares do Brasil. O sentimento vivo das classes sociais diferenciadas. O Nordeste é muito popular e pobre financeiramente. Por outro lado no Nordeste existe uma elite. Os ricos, que administram, que sabem tudo, que mostram os caminhos, isso é uma elite intelectual, financeira, social, amoral e não ética. Tem uma elite que vive isso muito forte, esse sentimento vivo sustenta essa discriminação. É uma confirmação da classe dominante que vem do passado, do tempo das capitanias hereditárias, dos ricos de Portugal.
Há a influencia da colonização holandesa?
Os holandeses eram poderosos, tem o poder e tem a riqueza, as duas coisas às vezes coincidem, mas também podem não coincidirem. A pessoa pode ser poderosa sem ter riqueza. A classe de elite do Nordeste é poderosa e construiu a riqueza do Nordeste. Os pobres do Nordeste até chegar um Lula no governo não tinham nada. Os que subiam na política, deputados, senadores, vinham como representantes da região em Brasília, eles maltratavam o povo. De Caraibeiras fomos morar em Inhapi, próximo a Canapi, terra da Ex-mulher do Collor, a Roseane, seu pai é um dos coronéis. Tem mais dois irmãos dela, um que fica em Inhapi e outro que fica em Mata Grande. São as três principais cidades da região. Os irmãos da Roseane são quem dominam a região, eles que nos mandaram embora. Esse espírito de posse que eles têm, a terra é deles, tudo é deles, o povo é deles, os votos são deles O Nordeste não digo que seja feudal, mas é agrário. É uma região agrícola do Brasil.
E a seca?
A seca é um fenômeno, que atrapalha que não é agradável.
Pode ser resolvido esse problema?
Não será resolvido.
Israel conseguiu resolver!
Aqui para o Brasil, pelo menos Roberto Malvezzi pensa assim, é um problema que temos que conviver. O que o Governo da Presidente Dilma fez? Milhares de cisternas. Hoje não falta água para aquele povo. Caso não tenham água na cisterna por ficar dois ou três meses sem chuva, o Governo Federal manda carros pipa enchendo de água a cisterna deles. Os governantes dos Estados do Nordeste tem a intenção de abafar isso: não parte deles e ao mesmo tempo tira o poder que eles tem. Não generalizo e nem posso generalizar, há regiões que são atendidas a contento outras ainda não, há um impedimento na ação do governo central.
O fato de pode mostrar que é possível, que é viável já não é um grande avanço?
A Dilma proporcionou a aquisição de máquinas para eles trabalharem no campo, motos para eles irem trabalhar geralmente em locais distantes, essas motos permite que eles tragam o que puderem da produção, inclusive água. As mulheres andavam até seis quilômetros com duas latas de água. A tarde voltavam a pé mais seis quilômetros para pegar água para a noite. Eu sei porque vivi 14 anos no campo, e até então era tudo movido por tração animal e tração braçal. Fui muito para a roça com eles, aquelas roças imensas. Que não eram deles e sim dos senhores da terra. Isso tem a ver com aquelas listas de nomes de pessoas. Essas pessoas trabalham como “alugados” aos senhores da terra, eles vão até a casa do proprietário da terra para receberem o salariozinho deles. Escutavam toda a conversa e nos contavam. Nós mantemos o contato com elas até hoje, elas nos escrevem ou telefonam, Dizem: “Precisam ver o campo como está! As hortaliças como estão!”. Isso é mérito da Lula e da Dilma. Nenhum político fez isso antes. Nem os políticos nordestinos.
E o Movimento dos Sem Terra – MST?
Eu tive contato mais seguido quando o movimento começou na área, isso a mais de vinte anos, agora não sei como estão na área. Eles estavam na área há vinte anos como os donos da verdade, tínhamos pessoas das comunidades de base da igreja, eram boas pessoas, trabalhavam bastante, tinham casas de farinha. Aí começaram a dar cursos e a fazer uma análise histórica da igreja, a meter o pau na igreja. A Igreja não é santa não, mas precisamos entender o tempo, a época, porque agiram assim. Que mentalidades tinham.
A seu ver o MST saiu do seu objetivo principal?
Acho que mais pela falta de pessoas que orientassem, o movimento crescia e tinham poucos lideres. bem situados. Lá no sertão eles ficavam sozinhos e nós procurávamos ajudar. Hoje acho que amadureceram, não estou falando da região, estou me referindo ao movimento.
É inegável que existe uma rejeição ao MST por parte da população em decorrência das atitudes de alguns líderes.
É um movimento que cuidando de si está cuidando dos outros. É mais do que sabido que eles têm muita gente hoje no Brasil. São muitas famílias com muitas crianças, eles instituíram escolas com métodos ativos, dinâmicos, usam muito a metodologia do Paulo Freire. Eles cuidam deles, essas crianças estão crescendo, já têm jovens cursando as universidades. Entre as faculdades cridas recentemente está nascendo uma de medicina para cuidar dos membros do MST. Eles não são egocentristas, são missionários.
Pode  existir correntes de pensamentos divergentes dentro do MST?
Isso pode existir. O movimento é muito grande, alguns não permanecem. Devem produzir o trabalho exigido pelo MST. São conduzidos, tem os animadores, tem que trabalhar, não podem apenas ir e desfrutar tem que trabalhar para poder usufruir.
E a Amazônia como a senhora vê?
Conheço pouquíssimo a Amazônia. Acredito que o perigo de perdermos a Amazônia já foi mais forte. Acredito que exista muito preconceito, são criados pelos que não querem perder nada, então eles atacam E há uma tendência dos preconceitos se popularizarem. A nossa organização tem uma unidade na Amazônia, sendo que uma das integrantes é quase doutora em Engenharia Florestal. Temos outras irmãs que dirigem o grupo, vão para congressos, elas são ótimas. Estão abrindo uma casa na fronteira da Bolívia, Peru e Acre. São quase todas descendentes de indígenas. Elas conhecem a vida indígena. Estive lá há dois anos, elas tiveram uma reunião entre elas, eu participei, elas puxaram muita coisa de mim, tive que dizer o que pensava e também o que eu perguntava, elas respondiam, eu disse o que pensava, o que eu via, dentro do trabalho delas que não é só social é também político. 
A senhora está morando no Nordeste do Brasil desde que ano?
Desde 1970, portanto são 46 anos. A sua permanência por tanto tempo permitiu acompanhar o desenvolvimento de várias gerações, muitas mudanças.
O que mudou no Nordeste nesse período de quase meio século?
Morei 14 anos no sertão, havia o sistema de coronelismo, inclusive com a anuência de uma autoridade eclesiástica em conluio com os coronéis, para manter os “status quo” (no mesmo estado). Fui expulsa do sertão pelos coronéis. Era um trabalho que incomodava o sistema político e social deles, Tivemos que sair de lá, se permanecêssemos os pobres seriam sacrificados, naquele tempo havia o processo das listas das pessoas que seriam abatidas ou sacrificadas. Entre as faculdades cridas recentemente está nascendo uma de medicina para cuidar dos membros do MST. Eles não são egocentristas, são missionários.
Com relação aos medicamentos naturais, obtidos das plantas qual é a impressão da senhora?
Eles estudam muito as plantas, são doutores em plantas e efeitos. Sabem muito sobre o assunto, fazem misturas, há remédios feitos por eles que são preciosos. É uma grande riqueza, abandonada de um lado e explorada de outro lado. Os norte-americanos, japoneses, já vieram explorar muito as patentes. Houve um momento em que isso esteve em perigo. 


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