sexta-feira, maio 10, 2013

SÉRGIO LUIS PICCOLI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 11 de maio de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADO: SÉRGIO LUIS PICCOLI




Sérgio Luis Piccoli nasceu a oito de abril de 1948, em Rio Claro, é filho de Pedro Antonio Piccoli e Maria Yolanda Piccoli, ambos agricultores, donos de uma propriedade rural. Tiveram nove filhos: Laurides, Eurides, Gilberto, Ides, Carmem, Natalina, Sérgio, João e Luis. Aos nove anos Ségio já estava na roça, alimentava os animais. Nessa época estudava em Ipeúna, andava uns sete a oito quilômetros a pé, pisando descalço no barro, até chegar ao ponto onde o ônibus passava. Naquela época ia para a escola descalço. A família mudou-se para a cidade de Rio Claro, foram morar no Bairro Santana. Seu pai ia e voltava ao sítio todos os dias, o trajeto era feito em carroça com tração animal, uma distância de uns 12 quilômetros, o tempo de percurso era de aproximadamente uma hora. Às vezes alguns filhos iam com ele. Logo que mudou para Rio Claro já passou a trabalhar em jornal. Na época os jornais funcionavam com linotipos. (Linotipo é uma máquina inventada por Ottmar Mergenthaler em 1886, na Alemanha, que funde em bloco cada linha de caracteres tipográficos, composta de um teclado, como o da máquina de escrever. As matrizes que compõem a linha-bloco descem do magazine onde ficam armazenadas e, por ação do distribuidor, a ele voltam, depois de usadas, para aguardar nova utilização. As três partes distintas: composição, fundição e teclado ficam unidas em uma mesma máquina). Clichê: chapa metálica que traz gravada em relevo a reprodução de uma composição tipográfica ou de uma imagem destinada à impressão, através de prensa tipográfica.


Onde foi o seu primeiro emprego?


Com uns treze anos entrei no jornal “Jornal Cidade de Rio Claro”, ficava na Avenida 4, bem no centro da cidade, entrei pra fazer serviços gerais, trabalhava a noite, entrava umas oito horas e só saia quando terminava o jornal. Não havia horário fixo para sair, poderia ser uma, duas, três, quatro, horas da manhã. Quem me indicou para o jornal foi um primo que era linotipista no jornal. Havia em Rio Claro outro jornal “O Diário”.


O que era linotipista?


Era quem trabalhava com o linotipo. Linotipo funciona como uma máquina de escrever mais sofisticada funciona com matrizes, tem todas as letras, quando bate no teclado uma letra ela cai, como se tivesse datilografando. Quero escrever “para”, por exemplo, basta bater as letras no teclado e elas caem formando a palavra. O linotipo tem o componidor, que é onde se regula o tamanho da linha, dois furos, três furos. É usada uma linguagem técnica própria de gráfica. A matriz era de metal. O chumbo misturado com antimônio era um material que já vinha pronto do fornecedor. Ficava em uma caldeira, a temperatura ideal para trabalhar tinha que atingir 400 a 450 graus centígrados.


Para fazer uma página quanto tempo levava em média?


Demorava! Um balanço de uma empresa, para ser digitado levava de duas a três horas. A composição corrida em uma hora e meia, duas horas, dava para fazer uma página, geralmente com dois ou três linotipistas. Era feita a composição da matéria, tirada uma prova, ia para o revisor, o erro encontrado era só tirar linha e corrigir, em seguida a matéria era encaminhada para a paginação. Uma página composta através de linotipo pesava em média 35 a 40 quilos só de chumbo. Após pronta era rodada de duas ou quatro páginas. Fazia um lado do papel, depois fazia o outro. Se era um jornal de quatro páginas rodava primeiro as páginas 1 e 4 depois a 2 e 3. Não era jornal a cores. Antigamente havia o clichê feito pelas empresas especializadas nessa arte. Uma foto era feita no zinco, preparava-se o zinco, tirava o negativo da foto, colocava-se em cima, mergulhado em ácido havia o processo de corrosão para permanecer as imagens. Era um processo trabalhoso, demorado. Fazer um jornal naquela época era difícil. Após um período como ajudante geral, passei a aprender a trabalhar com o linotipo. Ajudava na paginação. Na distribuição.


Em que ano você mudou-se para Piracicaba?


Foi em 1969. Teve um período de 1967 a 1968 me afastei do jornal e fui para Pirassununga, fazer carreira na aeronáutica. Não deveria ter saído de lá nunca! Cheguei a trabalhar nos hangares, abastecer os aviões, controlar o combustível da aeronave. Eu decidi não continuar. Acho que o jornal estava no meu sangue, sai de lá e já entrei no jornal. Eu era muito novo ainda, pegava um jornal e já tinha o olhar crítico para os defeitos que via em algum jornal impresso.


Em Pirassununga você tinha soldo, no jornal o salário, onde você ganhava mais?


Em Pirassununga ganhava praticamente uma ajuda de custo, no jornal ganhava mais.


O que o trouxe para Piracicaba?


Naquela época, em 1969, eu tinha acabado o meu aprendizado de linotipista. Aprendia-se com os amigos, na raça. Só havia a escola de linotipista no Senai em São Paulo, mas era muito restrita. A maioria se formava trabalhando, na prática.


O seu primeiro emprego em Piracicaba foi aonde?


Foi em “O Diário”. Fiquei sabendo que precisavam de um linotipista, fiz um teste, na época o responsável por essa área era o Seu Novaes. Acertamos, trabalhei por 10 anos em “O Diário”. Em determinada época chegou a ter quatro linotipos. Trabalhei com Antonio Foratto, Messias, Sérgio “Bico Fino” de Santa Barbara, Gaita. Muita gente passou por lá. Tinha um equipamento que rodava a provas da matéria que foi digitada, e havia uma pessoa encarregada de levar essa prova impressa para o revisor, era o paginador, conhecido como “Rolha”. O revisor fazia as correções, voltava para o linotipo, fazia as emendas, o paginador ia lá, tirava o que estava errado e colocava o que tínhamos feito certo.


Esse processo todo começava a que horas?


Duas horas da tarde, ia até duas, três, quatro horas da manhã. Fazer um jornal de quatro páginas era um processo demorado. Nesse período tomávamos lanches, às vezes o Cecílio levava o jantar.


Dava sono?


Tinha que dormir bem durante o dia senão não agüentava. Antigamente trabalhávamos de segunda a sábado. O único dia em que não circulava o jornal era na segunda feira.


Uma das visitas constantes junto aos linotipistas era a do folclorista João Chiarini?


Ele chegava e já ia dizendo: Olha a água! Aconselhava muito que tomássemos água. Às vezes ele mesmo ia buscar. Ele era bastante exigente, queria que seu texto saísse certinho. Assim como Hugo Pedro, Professor Benedito Andrade.


“O Diário” ficou com o linotipo por muitos anos.


Acredito que foi o primeiro jornal do interior do Estado de São Paulo a ter o sistema off-set. Era um jornal que reuniu grandes nomes como Jago, Araken Martins, Mauricio de Souza com suas “Mini Notas”, Dr. Mário Terra que fazia a coluna social, Carlinhos Gonçalves, Manoel de Mattos Filho, João Maffeis. Houve uma época gloriosa em que o”O Diário” tinha a página “Recados”, cujo principal mentor era o Cerinha, junto com Alceu Marozzi Righetto, Caetano Rípoli, tinha uma linha próxima ao famoso “Pasquim” de quem esse pessoal era amigo. Um período em que falar de política era perigoso e escrever mais ainda.


Quando veio o sistema off-set vieram equipamentos novos que complementavam o sistema, como por exemplo a máquina tituladora.


Isso facilitou muito. Uma página impressa em chumbo que pesava 30 quilos passou a pesar 30 gramas, que é um filme.


Atualmente qual é o processo de confecção de um jornal?


É digitada a matéria, o diagramador monta a página, envia para a oficina onde é tirado o filme, é uma máquina especial vem o filme e um tamanho certo, em rolo, fotografa, tira as cores: preto, magenta, amarelo e azul, são as quatro cores básicas para sair a imagem colorida. Para fazer uma página tem que ter quatro filmes. Um de cada cor. Se são oito páginas, pega-se a página 1 e página 8, o montador a monta, azul nas duas páginas,, vai para o gravador de chapa,a máquina com raio laser em 15 segundos grava. O que está no filme passa para uma chapa de alumínio. Cada página usa quatro chapas, cada uma em uma cor. Quando leio escrito em preto é em função da chapa gravada em preto.


Após gravada, se houver algum erro tem como corrigir uma chapa?


Não, não tem. Dependendo do problema tem que ser feita outra.


Qual é o momento crítico dessa operação toda?


Tem que haver muita atenção, não pode ocorrer nenhuma falha. Funciona com gabaritos, se sair do gabarito, as cores não se justapõem uma sobre a outra.


Por isso que vemos algumas publicações, até mesmo revistas, onde se percebe que as corês estão desalinhadas.


Isso é falha na impressão. Alguém dormiu no ponto.


Quantas pessoas trabalham só nas oficinas da Tribuna?


Só na confecção do jornal umas 12 pessoas. Depois tem o pessoal do encarte. Por exemplo, um jornal com 16 páginas com dois cadernos de oito páginas, eles formam esses cadernos. No encarte há dias em que trabalham de 10 a 12 pessoas. O parque gráfico da Tribuna imprime muitos jornais para terceiros. Em qualidade técnica a Tribuna está em um patamar bem avançado.


Em sua opinião, a tendência do jornal é de ser mais um formador de opinião do que um veículo de notícia com a velocidade de outras mídias. Como a internet, por exemplo?


O famoso “furo” de reportagem praticamente terminou. Já fiz muitos furos de reportagem, às vezes ficávamos até as quatro, cinco horas da manhã esperando sair a noticia. Era aí que estava o sabor do jornalismo. Às oito horas da manhã o jornal já estava na rua com a notícia do que tinha acontecido as cinco. O Cecílio Elias Neto, João Maffeis, incentivavam muito isso.


Entre os inúmeros “furos” de reportagem, qual deles você se lembra que impactou muito?


Foi quando faleceu o Papa João Paulo I. Tínhamos uma máquina ligada a agência internacional de notícias chamada UPI, estávamos lá quando saiu a notícia do falecimento do Papa, “O Diário” publicou no dia seguinte. As redações de jornais mantinham máquinas de diversas agências de noticias como AP, UPI, ANSA, France Presse, DPA e Reuters.


Políticos gostavam de visitar oficinas de jornais?


Muitos sempre gostaram. Visitavam-nos muito.


Existe ainda linotipo?


Só em museu! O pessoal de hoje nem imagina como era. Aconselho ao pessoal de hoje: “- Vocês deveriam visitar um museu de jornal para conhecerem. Hoje vocês conhecem isso aqui, nem imaginam como era até a pouco tempo”. Duas chapas de jornal impresso pesam 300 gramas, antigamente eram 30 a 40 quilos.


Se alguma faculdade de jornalismo o convidar para uma palestra sobre o assunto, você tem essa disposição?


O que posso afirmar é que o volume de informações é muito grande. Peguei desde o começo até os dias atuais. Tem coisas que nem me lembro. Com o advento da informática, a diagramação tem tido grandes avanços e facilitado a vida de muitos. Imagine um jornal diário sendo diagramado no past-up. Hoje está tudo pronto no filme, 10 a 15 minutos e o jornal está pronto. Antes datilografávamos tudo. O próprio autor manda datilografado, e até mesmo a página montada. Com um computador, sentado na esquina, você monta um jornal. Antigamente, tinha que pegar a máquina de escrever, por a lauda, datilografar. Revisar para o linotipista não copiar errado. Edirley Rodrigues fazia bastante esporte, ele revisava tudo.


Eram mandados manuscritos para o jornal?


Muito pouco.


Tinha noticia que necessitava de autorização do editor ou diretor para ser publicada?


Tinha principalmente as que envolviam noticias policiais.


Com isso vocês eram as pessoas mais bem informadas da cidade?


Éramos os primeiros a saber!


Quais são as sessões mais lidas de um jornal?


No meu ponto de vista, pela ordem: noticias policiais, esportes e obituários.


Você deve ter visto coisas inimagináveis em termos jornalísticos.


Havia alguns clientes que gostavam de colocar anúncios de ponta cabeça! O Anúncio ficava virado ao contrário para chamar a atenção. Isso existia muito nos jornais antigos.


Sérgio, há quantos anos você trabalha na profissão?


Na Tribuna fui trabalhar com o Evaldo Vicente desde a sua fundação em 1974. No inicio funcionou na Rua Alferes José Caetano esquina com a Rua Voluntários de Piracicaba, foi para a Rua Rangel Pestana, próxima a Rua do Porto. Dali foi para onde está até hoje. Eu trabalhava no “O Diário” e dava uma mão na Tribuna. Terminava “O Diário” uma hora, duas horas da manhã ia para a Tribuna dar uma força se precisasse. A Tribuna sempre foi diária. Quando cheguei de Rio Claro fui morar na pensão da mãe do Evaldo, na Rua São José ,748, esquina com a Rua do Rosário. Dali saí só para casar.


Você se casou aonde?


Casei-me em Rio Caro com Elizabete Hohne Piccoli no dia 15 de abril de 1972. Temos três filhos: Claudia, Fabiano e Juliana.


Como é a relação familiar para um profissional que sempre trabalhou a noite?


É difícil. Aos finais de semana, se haver uma reunião na casa de algum parente, logo depois de chegar você já está dormindo. O cansaço vai acumulando, chega ao final de semana todo lugar que você vai logo está dormindo. Você está acordado quando todo mundo está dormindo e dormindo quando todos estão acordados.


A profissão tem insalubridade?


Tinha. Hoje já não é mais considerada insalubre.


Você praticava esporte?


Já cheguei a jogar até no antigo campo do XV de Novembro, o Roberto Gomes Pedrosa, “O Diário” tinha um time de futebol, eu jogava nesse time, o uniforme era lindo, com o Mapa Mundi na camisa. Nós fazíamoso “ Torneio da Imprensa” , o “Jornal de Piracicaba” tinha seu time, as rádios tinham seus times de futebol. Havia um grande espírito de confraternização.


Você conheceu Sebastião Ferraz?


Trabalhei com ele, ele chegou a ser sócio do Cecílio Elias Neto. Era um homem integro. Chegou um dia em que ele não tinha dinheiro para fazer o pagamento dos funcionários, foi na época em que saiu o Karmann Ghia, ele tinha um, vendeu, a noite pagou todos os funcionários. Foi um grande jornalista e excelente pessoa.


Você lembra-se de um jornal que era impresso em “O Diário” chamado Inter News?


Lembro-me sim, fiz muito esse jornal. Eu que compunha esse jornal, o proprietário era o Roberto Santos, era um jornal distribuido no interior de São Paulo todo. A tiragem era de 40.000 exemplares, isso na decada de 70. Ele comprou o linotipo e a matriz que ele queria e mandou a máquina para “O Diário”. Era um tablóide de oito páginas. “O Diário” funcionou por muitos anos na Rua Prudente de Moraes, sendo que parte de suas instalações hoje é ocupada pelo banco HSBC, depois mudou-se para um prédio na Rua São José, quese em frente ao Teatro São José.


Ao pegar um jornal feito por terceiros antes de ler a noticia você faz a análise técnica do mesmo?


Com certeza! Olho, vejo, e penso, o amarelo teria que ter vindo para cá. O azul tem que baixar. Na hora já vejo os defeitos. Isso em qualquer publicação, como revistas também.


Você já pensou em escrever sobre a imprensa em Piracicaba?


Já, só que sou péssimo para guardar nomes, quantas pessoas trabalharam comigo, conheço de fisionomia mas não me lembro do nome. Carlos Bonassi trabalhava no “O Diário”, Caxuxo, Araquem Martins, Mário Clicherista, Germinal, Adolpho Queiroz, Carlos Colonegsi, Caetano Ripoli foi um tempo romântico. Após terminar o jornal íamos tomar um lanche no Bar do Tanaka na Rua do Porto. Lá encontrava gente do Jornal de Piracicaba, da Tribuna, amanhecia nós íamos embora. A cidade era mais humanizada.


Linotipista financeiramente era uma profissão rentável?


Nos anos 70 e 80 era. Foi rentável, ganhava-se muito bem. Quando faltava alguém outro era chamado as pressas. Quantas vezes eu terminava “O Diário” o Maurício Cardoso me chamava: “ Sérgio você não quer vir terminar “O Dário de Limeira” ? O Ferraz foi sócio desse jornal por muito tempo também. Eles me pagavam o combustivel, a mão de obra e eu ia para lá, acabar o jornal, isso porque alguém tinha faltado. De algum lugar todo dia aparecia serviço extra. Eu também consertava máquina de linotipo. Não só trabalho com a máquina, conheço seu funcionamento, fiz muitas reformas de máquinas. Desmonto e monto qualquer linotipo. Eu conhecia a parte mecânica da máquina, quebrava uma máquina em Cerquilho a proprietária que era a Célia me chamava, eu tinha um Fusquinha 75, ia para lá. Nós só chamávamos o técnico quando tinha que trocar a resistência que ficava na caldeira e com o passar do tempo ela queimava.


Quantos modelos de tipos gráficos tinha um linotipo?


Eram 90 modelos, com numeração, virgula, ponto e virgula, letras maiusculas, minusculas, isso tudo ficava armazenado no magazine da própria máquina. Assim como os tamnanhos, se quizesse o corpo 10 mudava Magazine Corpo 10. Tinha máquinas com 4, 8, 10 corpos. O tipo de letra mais usado era o corpo 10. O Times New Roman sempre foi o modelo mais usado, padrão de jornal. Manchete era feita em corpo 72.


O fato de trabalhar em jornal trazia alguns privilégios?


Recebia muitos convites para ir a festas em clubes, não pagava ingresso para entrar em cinema.


Como você vê o futuro do jornal impresso?


Pela minha experiência e vivência, acredito que o jornal impresso em papel não acabará nunca, poderá mudar de formato, métodos de produção.








ANTONIO CARLOS FIORAVANTE - “BOLÃO”

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 04 de maio de 2013.
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADO: ANTONIO CARLOS FIORAVANTE - “BOLÃO”




Antonio Carlos Fioravante, o Bolão, canta com alma, coração e espírito. Seu prazer é cantar, afinadíssimo, é capaz de cantar sem nenhum instrumento musical acompanhando-o com o dom supremo de comover seus ouvintes. Com uma memória privilegiada emite suas emoções em letras muito bem elaboradas pelo compositor. Um grande artista piracicabano, que como muitos nos mais diversos setores não são devidamente reconhecidos. Infelizmente valores medíocres, mas com bom marketing pessoal ganharam fama de bons artistas, na música, nas letras ou nas artes. Alguns até “desterraram” na própria cidade verdadeiros gênios, para que eles ocupassem o pedestal da fama. Conforme Marcel Proust: “O tempo passa e um pouco de tudo aquilo que nós chamávamos de falsidade se transforma em verdade” Nascido a 11 de julho de 1941 em Piracicaba, no bairro da Paulista, na Rua Benjamin Constant entre a Rua Joaquim André e Dr. Paulo de Moraes, na “Vila” do Sr. Panfilo Passari, mais conhecido como Pampaluche. Filho de Luciano Fioravante, natural de Rovigo, Sul da Itália, e Rosalina Guizzer Fioravante nascida em Piracicaba. Bolão é o filho caçula, teve os irmãos Luiz Osvaldo Fioravante e Luciano Oneido Fioravante.


Qual era a profissão do pai do senhor?


Ele trabalhava com marcenaria, na Rua Moraes Barros esquina com a Rua Riachuelo, onde hoje há um edifício com um apartamento por andar. Ali meu pai tinha sua oficina. Naquele tempo era muito comum o uso de carroças em Piracicaba, era o segmento que ele mais trabalhava.


A mãe do senhor tinha qual atividade?


Ela por 30 anos trabalhou como parteira na Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba. Ela era conhecida como “Dona Nina”.


Aonde a família do senhor foi residir depois de sair da Paulista?


Fomos residir em um antigo bangalô, uma casa com uma área e a frente em arco, que havia na Avenida Independência, perto do Lar Franciscano, onde há uma igreja. Na época era tudo chão de terra, mato, ali passei a minha infância. Lembro-me quando estavam asfaltando a Avenida Independência. Aos sete anos passei a freqüentar o Grupo Escolar Barão do Rio Branco, ia a pé com os colegas. Na época havia dois ônibus, que faziam o percurso em sentidos contrários, um subia enquanto outro descia passando em frente a Santa Casa. Minha primeira professora foi Dona Nena, a segunda Dona Helena, a terceira Dona Mimi e a quarta Dona Eline.


O primeiro emprego do senhor foi em qual local?


Foi na Companhia Cervejaria Rio Claro que tinha um depósito na Praça Enes da Silveira Mello, Largo da Sorocabana. Tinha uns 16 anos, entregava bebida, carregava caixas de madeira, com dúzias de garrafas, a caixa de Caracu vinha com três dúzias, eram garrafas pequenas, tinha uma cerveja que era do Rio de Janeiro a Cayrú, era uma cerveja comum. Mãe Preta era de outra cerveja, era em uma garrafa pequena. Vinha para um depósito grande que havia no Largo Santa Cruz, de propriedade do Sr. Gelindo Lovadini. Meu grande amigo Antonio Goldschmidt Sobrinho que me apresentou à Cervejaria Rio Claro.


Que caminhões eram utilizados para a entrega?


Eram utilizados um caminhão International L180 e um caminhão Thames. Ambos pintados de amarelo com uma inscrição: “Companhia Cervejaria Rio Claro”. A carroceria era especial. Era aberta, com divisória de madeira no meio, e de cada lado uma inclinação no assoalho de tal forma que, as caixas ficavam inclinadas para o centro do caminhão, e as caixas não caissem nas curvas. Entregávamos também refrigerantes, o chope não havia ainda.


A cerveja Caracu passou a ser encarada popularmente quase como um remédio para diversos males?


Naquele tempo batiam Caracu com ovo no liquidificador, sem tirar a casca do ovo. O brasileiro tem essa mania de fazer essas misturas, colocavam de tudo com a Caracu.


Por quanto tempo o senhor permaneceu na Caracu?


Fiquei por quatro anos. De lá fui trabalhar com o Sr. José Alves, da Antarctica. Era um depósito de bebidas muito grande que existia no Largo da Igreja Bom Jesus. Fiquei mais um ano e pouco ali, além das bebidas engarrafadas ele tinha chope e uma fábrica de gelo, ele colocava a água em uma espécie de caixa grande, tinha umas formas para saírem aquelas barras de gelo, na água era colocada uma mistura aonde ia sal. (Para fabricar gelo em barras: a água é colocada em formas especiais de 10 Kg, que são mergulhadas em solução de cloreto de sódio ou álcool hidratado, a uma temperatura de 15ºC. Dez horas depois o gelo está formado). Depois eram tiradas as pedras de gelo, geralmente pesavam uns 15 quilos. Colocava-se um pano no ombro para não molhar e a carregava. O local onde a entrega era mais difícil era no Mirante, tinha que levar o barril de chope e a pedra de gelo descendo as escadas, parava-se longe do local final de entrega. O primeiro Restaurante Mirante era de Rondino Pires Neto. Depois fui trabalhar em um lugar que me deixa muitas saudades, Companhia Industrial e Agrícola Boyes onde fiquei por quatro anos, lá eu era ajudante de contramestre. Contra mestre é o mestre de determinado setor da tecelagem, de determinados tipos de teares, grandes, menores. Como eu era muito forte, trabalhava nesses teares grandes. Produzia tecidos para sacarias de açúcar. A Boyes foi uma grande empresa, naquele tempo, em 1961, quando entrei na Boyes, tinha 1.5000 funcionários.


O senhor fez Tiro de Guerra?


Fiz, começamos a fazer no Ginásio Municipal e depois passamos para o prédio situado na Rua Santa Cruz, esquina com a Avenida Dr. Paulo de Moraes. Inauguramos o prédio. Isso no tempo do Sargento Olavo da Primeira Companhia, eram seis companhias. O Olavo era o homem mais bravo que tinha no Tiro de Guerra. Nesse período, foram 10 meses, não trabalhei, esse tempo foi computado para aposentadoria.


O senhor tem saudades desse tempo?


Muita! Não tem coisa de que eu tenha mais saudade do que da minha mocidade. Alguns me dizem: “Por que o senhor não entra na Melhor Idade?”. Pergunto: ”Qual é a melhor idade?”. Respondem: “Setenta anos, em torno disso.”. Digo-lhes: “ Não tenha dúvida! Dezoito, dezenove anos é que era ruim!”. Em minha opinião essa história de “Melhor Idade” é uma bobagem. Feliz aquele que tem histórias de amores para contar! Esse passou por aqui e viveu. Quem não tem nada disso para contar não viveu, só passou por aqui. Minha esposa, Teresa Contarelli Fioravanti eu conheci na Boyes, onde ela trabalhava.


Após sair da Boyes o senhor foi trabalhar aonde?


Ingressei na Guarda Civil de São Paulo. Sai da Boyes em 1964, a Guarda Civil já estava presente em Piracicaba em 1963, eu tinha um irmão que era Guarda Civil, ele me incentivou muito para ingressar na corporação. Fui para São Paulo, fiz os exames para ingressar, a escola de polícia ficava no bairro da Liberdade, na Rua São Joaquim, a sede administrativa ficava na Avenida Angélica próxima a Praça Buenos Aires. Prestei o exame, passei, fui chamado e permaneci por um ano. Entrei para a Guarda Civil no dia 15 de março de 1965. Após um ano em São Paulo vim para Campinas. No fim de 1965 vim para Piracicaba.


Como era o uniforme da Guarda Civil?


Azul marinho, poderiam ser colocados os botões dourados, no estilo da polícia norte –americana. Quepe com os dizeres: “Guarda Civil de São Paulo”. Havia uma cinta de lona cuja fivela tinha o emblema da guarda, e tinha sobreposto o cinturão, no último cinturão que usamos estava escrito “GC” Guarda Civil. Usávamos sapatos pretos, muito bem engraxados. A farda tinha que ser muito bem passada. Usávamos as divisas: Uma divisa pertencia a Terceira Classe; Duas divisas pertenciam a Segunda Classe; Três divisas eram para a Primeira Classe; Quatro divisas eram para a Classe Especial. Depois tinha uma divisa para quem tinha feito a escola de sargento, que nós denominávamos de Classe Distinta. Acima vinha Sub Inspetor, Inspetor, Chefe de Divisão e Chefe de Agrupamento. Sai como Guarda Civil. Em 1970 o Presidente Emílio Garrastazu Médici extinguiu as guarda civis do país. Não era toda cidade que tinha Guarda Civil, a de São Paulo além da capital tinha em Campinas, Sorocaba, Piracicaba, Ribeirão Preto, Marília, Santos e Jundiaí. Era muito difícil ter uma unidade da guarda civil em uma cidade.


O senhor usava arma de fogo?


Usava um revolver calibre 38, Taurus, só podia ficar de posse da arma após dois anos de estágio probatório. Usava também cassetete de madeira. Se trabalhasse em Rádio Patrulha levava algemas, a Guarda Civil tinha Rádio Patrulha, as viaturas eram preto e branco, já eram Volkswagen.


Quais eram as áreas de atuações básicas da Guarda Civil?


Transito e diversões públicas. Eu gostava muito de trabalhar em cinemas. Mantinha a ordem na fila, rondava o cinema intermente durante as sessões. Trabalhei muito em campo de futebol. Naquele tempo ainda não existia a postura de ficar voltado para o público, assisti muitos jogos. Cheguei a ver Pelé jogando, tinha autógrafo dele. Trabalhamos em muitos bailes de carnaval em Piracicaba.


Onde foi a primeira sede da Guarda Civil em Piracicaba?


Era na Rua Moraes Barros, no prédio da antiga biblioteca. Depois ela passou para a Rua Voluntários de Piracicaba esquina com a Rua Alferes José Caetano, em um casarão antigo que resiste até hoje. Nessa época bem próximo havia a fábrica de bebidas do Andrade, que fazia as famosas Gengibirra e a Cotubaina. O Dario Correa já era um guarda muito antigo quando eu entrei.


Como Guarda Civil em Piracicaba quano tempo o senhor permaneceu?


Foram cinco anos. Fazia todo serviço de policiamento, menos trabalhar na cadeia. Trabalhava junto ao Fórum.


Havia aquelas ocasiões onde a Guarda Civil comparecia com sua roupa de gala, como era o procedimento para requisitar a presença da Guarda Civil e como era o uniforme?


Era feito um ofício ao comandante pedindo a presença de dois ou quatro guardas civis. O uniforme de gala constava do próprio uniforme azul, com polainas brancas, talabarte branco e espadim do lado direito. Não se usava armas de fogo nessas ocasiões. Eram ocasiões de muita pompa. Fui a muitas ocasiões solenes, casamentos, no Clube Coronel Barbosa, Igreja dos Frades, Igreja Bom Jesus, Igreja Matriz da Vila Rezende, fui a muitas procissões de Corpus Christi, ia à frente vestido de gala, a pé, muitos anos antes a Guarda Civil chegou a ter cavalos. Fiz a guarda de honra das pompas fúnebres do prefeito Luciano Guidotti. Ficava em posição de sentido em média umas duas horas, não podia se mexer, conversar, cumprimentar amigos.


Quem era o comandante da Guarda Civil em Piracicaba?


O primeiro comandante chamava-se Durval Nazeozeno Lopes era Inspetor, o comandante que mais permaneceu aqui e nos comandou por vários anos, foi um dos maiores homens que eu conheci na minha vida; Elias Domingos da Silva, o Sub- Elias. Ele era Sub-Inspetor da Guarda Civil.


Com a incorporação da Guarda Civil pela Polícia Militar o senhor passou a ser policial militar?


Permaneci por sete anos na Policia Militar em Piracicaba, o quartel já era onde está atualmente. Fizemos um treinamento, trocamos a farda. Passei muitas noites guardando presos, na época ficava na cadeia situada na Rua São José, ali passei muitas e muitas noites trabalhando. Um dia conversei com Ulysses Michi, ele era diretor da Itelpa. Foi mais difícil sair da polícia do que entrar. Eu era um bom elemento, não era vantagem à corporação se desfazer de um elemento bom. Sai em 1977. Em dois de fevereiro de 1977 entrei na Itelpa como chefe de segurança. Permaneci na Itelpa até 1993, quando me aposentei.




Como se iniciou a sua paixão pela música?


Francisco Alves, Silvio Caldas, Orlando Silva e Carlos Galhardo formavam o quarteto de aço. Tínhamos uma eletrola marca Arrow com capacidade para colocar 12 discos. Eram tocados em seqüência. Colocava-se 12 discos em um braço da eletrola, caia um por vez. Meus irmãos traziam muitos desses discos e também discos de tango. Eu adorava essas músicas, eu tinha uns 12 a 13 anos, fui aprendendo. A música ficou impregnada em mim. Gostava muito da Elizeth Cardoso.


O senhor toca algum instrumento?


Nenhum. Eu gosto mesmo é de cantar.


Há pessoas que sonham com o passado, paixões juvenis, em sua maioria platônica, o senhor como conhecedor da sensibilidade da alma o que diz a respeito?


Nessa vida não teve quem não amou, às vezes pode existir em alguém uma vontade louca de rever determinada pessoa, só que o tempo é uma máquina de fazer monstros. Peça a Deus para não encontrar-se com essa pessoa, caso isso aconteça você terá uma decepção danada. Isso sempre acontece. Sempre, invariavelmente. Bolão canta: “Tua imagem permanece imaculada/Em minha retina cansada/De chorar por teu/amor/Lábios que beijei/Mãos que eu afaguei/Volta, dá lenitivo à minha dor” (Composição: Leonel Azevedo uma das músicas interpretadas por Orlando Silva)

O senhor imagina quantas serenatas já fez?


Fiz serenatas por uns 30 anos. Pode ter gente que fez serenata igual a mim em Piracicaba, mas mais do que eu não. Fazíamos serenatas quase todos os fins de semana, naquele tempo todo mundo trabalhava aos sábados. As serenatas eram feitas aos sábados à noite. A nossa cidade era provinciana, dez e meia, onze horas da noite, já estavam todos dormindo. A cidade era um silêncio. Era uma maravilha. Todos com os instrumentos afinadinhos. Parava o carro uma quadra longe da casa da moça que era a homenageada pela serena
Ela abria a janela?



Ela acendia a luz e apagava. Era quando sabíamos que a homenageada estava ouvindo. Eu não fazia só para a minha namorada, fazia para muita gente, o enamorado ficava eufórico. No dia seguinte era aquele comentário da moça; “ – Nossa como gostei, tem que ver o que a vizinhança falou!’ Era um acontecimento muito bonito. Imagine uma moça adormecendo ouvindo alguém com uma voz considerada expressiva, cantando: “Ò linda imagem de mulher que me seduz / Ah se eu pudesse tu estarias num altar/ És a rainha dos meus sonhos, és a luz/ És malandrinha não precisas trabalhar”.Muitas famílias nos recebiam. Quantas noites eu não passei em casa de família cantando, a noite inteirinha, só saia quando tinha raiado o sol. Acabava tomando café e indo embora.


Nunca tinha um pai mais nervoso?


Tinha, mas nós fazíamos a serenata na casa ao lado, geralmente conhecíamos quem morava ao lado.


Os seresteiros tinham um ponto de encontro?


O Quatizinho foi o reduto das serestas de Piracicaba. Tem um menino em Piracicaba que canta muito bem, está gravando um CD é o Roberto Mahn. Esta semana, ele vai cantar em um teatro no Rio de Janeiro. Conheci um extraordinário flautista, Carlos Poiares.


O que é ser boemio?


É uma pessoa que gosta da noite, de bares, mulheres. Não precisa necessáriamente beber. Tenho um amigo que andou comigo por 30 anos nunca o vi tomar um copo de cerveja. Hoje já não sou mais um boemio, mas se fosse seria boemio sem beber, ontem saí do Quatizinho a meia noite, tinha bebido duas garrafs de refrigerantes zero.


Quantos componentes tem uma serenata?


Uma serenata bonita tem que ter um bandolim, dois violões, um de seis cordas outro de sete, naquele tempo não tinha violão de sete cordas, e uma flauta. E um cantor que cante razoavelmente bem.


O senhor aprendeu a cantar aonde?


Não se aprende a cantar, é um dom, nasce com a pessoa. Você pode aprender divisão, alguém que lhe ensine, como Sérgio Beluco me ensinou muito, foi um dos maiores violãonistas daqui, foi professor do artista Alessandro Penezzi.


O senhor se apresenta regularmente em algum local?


Gosto muito do Teatro Municipal, Teatro do Engenho e Teatro do SESC. Em barzinho não canto mais, já passei muitas noites cantando em bares. No Largo dos Pescadores quantas e quantas noites não passei cantando embaixo daquela árvore! A Rua do Porto não tinha quase nada, tinha o bar do Largo dos Pescadores, o Bar do Otsubo que era o mercadinho da Rua do Porto e o bar do Hélio Pecorari, naquele tempo ainda não era a Arapuca. Quem levou muito movimento para a Rua do Porto foi o Tanaka. Ele montou um bar e levou conhecidos frequentadores da noite. Hoje a Rua do Porto vive essa efeversencia principalmente voltada ao turismo. Na década de 70 foi um ponto de reunião da noite piracicabana.


Qual é a sua musica predileta?


Conheço mais de mil músicas, mas tenho predileção por Chuvas De Verão: “Podemos ser amigos simplesmente/ Coisas do amor nunca mais/ Amores do passado, do presente/Repetem velhos temas tão banais/ Ressentimentos passam como o vento/ São coisas de momento/ São chuvas de verão/ Trazer uma aflição dentro do peito./ É dar vida a um defeito/ Que se extingue com a razão / Estranha no meu peito/ Estranha na minha alma/ Agora eu tenho calma/ Não te desejo mais/ Podemos ser amigos simplesmente/ Amigos, simplesmente, nada mais”. Bolão embalado pela sua voz notável interpretou diversas músicas, mostrando que ainda consegue comover qualquer platéia, e fez isso sem nenhum instrumento musical o acompanhando.




















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