PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 04 de novembro de 2017
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 04 de novembro de 2017
Entrevista:
Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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http://blognassif.blogspot.com/
José Inácio
Mugão Sleimann nasceu a 31 de julho de 1947 em Passo Fundo, Rio Grande do Sul.
Seu pai é Jabra Abdala Sleimann e sua mãe Zarife José Tannus, naturais de
Bakto, Síria. Tiveram sete filhos: Abdala e Maria nascidos na Síria e Julia,
Tereza, Marta, Janira e José Inácio nascidos no Brasil. Foi casado em primeiras
núpcias com Eliana
Marta Sabino Sleimann, já falecida, com quem teve quatro filhos: Ricardo, Milena,
Carlos Eduardo e Leandro. José Inácio é casado em segundas núpcias com Nurair
Cristina Fuzinelli Sleimann. José Inácio Mugão Sleimann formou-se em
Direito na Faculdade de Direito de São Carlos, em 1973.
Como se deu a
imigração dos seus pais e irmãos?
Inicialmente
meu pai veio para a Argentina trabalhar na colheita de trigo, ele tinha um
irmão que morava na cidade de Lobos, localizada na província
de Buenos
Aires, localizada a 115 quilômetros da cidade de Buenos Aires. Após um ano
decidiu vir para o Rio Grande do Sul, veio de trem. No Rio Grande do Sul
mudaram o nome dele, Originariamente era Suliman ou Suleiman, colocaram
Sleimann O nome significa "homem de paz" e corresponde ao nome inglês Solomon . Meu pai chegou ao Brasil na década de
10. Ele foi para Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Dez anos depois ele mandou
buscar minha mãe e meus irmãos. Meu pai vendia frutas, depois virou mascate,
abriu loja, isso em Passo Fundo. Comprou um sítio onde plantou 1.500 pés de
azeitonas. Era um sítio que além das azeitonas produzia 90% da nossa
alimentação.
Você estudou em Passo Fundo?
Estudei no Colégio Notre Dame, fiz o jardim de infância e
primeiro ano, fui colega do Filipão (Luiz Felipe Scolari), gaúcho de Passo fundo, somos amigos de familia,
ele fez um livro onde sou citado. Meu pai apesar de estrangeiro era um grande
cabo eleitoral. Meu primo Daniel Dipp foi prefeito de Passo Fundo, deputado
federal, sempre foi político. Meu pai era amigo de Leonel Brizola e de Getúlio Vargas.
O Brizola se criou com meu irmão Abdala em Passo Fundo, o Brizola gostava muito
de ir em casa para comer quibe. Quem criou ele na cidade foi Dr. Sabino Arias,
Brizola era de Carazinho, criou-se em Passo Fundo, quem o encaminhou foi Dr.
Sabino Arias. O irmão do Brizola foi Chefe da Estação de trem de Passo Fundo da
VFRGS – Viação Férrea Rio Grande do Sul.
Seu interesse por política começou quando?
Desde pequenino sempre gostei! Participava dos comícios,
época de Fernando Ferrari, o “Mãos Limpas”, participava com ele no Movimento
Trabalhista Renovador. Eu era ligado ao PTB, sai do PTB fomos para o MTR, Uma
turma da cidade foi para o Movimento, o prefeito, meu primo Daniel Dipp, depois
disso vieram os partidos políticos: ARENA – Aliança Renovadora Naciona e MDB –
Movimento Democrático Brasileiro. Por todo meu histórico aderi ao MDB. O
Adhemar de Barros esteve com sua esposa Dona Leonor duas vezes em Passo Fundo,
eu era criança, mas recordo que era um casal muito simpático, foram a missa das
seis horas da manhã nas dua vezes ques estiveram na cidade, comungaram. A
padroeira lá é Nossa Senhora Aparecida. O Jânio Quadros foi de trem, fez um
comício na gare, em cima de um caminhão Alfa Romeu, esses comícios eram
organizados sem a tecnologia atual, havia a necessidade de alguém segurar o
microfofone, os políticos gesticulavam muito. Na ida desses dois candidatos eu
estava cumprindo essa função ao lado deles. Essas passagens fui recordar com
Adhemar de Barros, junto com o filho dele que é muito meu amigo, o
Adhemarzinho. E junto cm o Jânio que eu estive com ele, em sua residência no
Guarujá e eu era vereador aqui em Piracicaba. Participei também da “Revolução da Legalidade” no Rio Grande do
Sul, um dos acontecimentos mais dramáticos da história do Rio Grande do
Sul, iniciou em 25 de agosto de 1961, pelo governador do Estado,
Leonel Brizola que, ao tomar conhecimento da renúncia de Jânio Quadros à
presidência do país, resistiu bravamente para garantir a posse do
vice-presidente João Goulart. Durante doze dias, Brizola manteve
firme a “Cadeia da Legalidade”, de dentro do Palácio Piratini,
tendo em volta uma multidão na Praça da Matriz, atingindo a Assembléia
Legislativa do Rio Grande do Sul, que se estabeleceu em sessão permanente. Eu
já morava aqui em São Paulo quando houve uma campanha para eleição de
governadores: Zé Bonitinho (José Bonifácio Coutinho Nogueira); Adhemar de
Barros; Jânio Quadros, eu ia aos comícios para agitar, gostava de agitar. Era
contra a ditadura, e tinha um padrinho general, sogro do meu primo, general
também.
Você continuou estudando em Passo Fundo?
Fui estudar na Escola Nossa Senhora da Conceição, dos
Irmãos Maristas, depois passei para o Colégio Estadual Nicolau Araujo
Vergueiro, quando estava com 14 a15 anos vim para São Paulo.Meus irmãos Abdala
e Maria já moravam em São Paulo, no bairro Cambuci, a Rua Dona Ana Nery, 563,
quase esquina com a Avenida do Estado. Eu convivi ali, ia jogar futebol na Vila
Mariana. Estudei no Liceu Acadêmico São Paulo, na Rua Oriente, onde iniciei o
Curso Técnico de Contabilidade. Meu irmão era csado com uma baiana e trabalhava
com artigos religiosos. Fui para a Bahia, não me adaptei. No Mercado Modelo, o
antigo, meu irmão comprou um posto de gasolina em Piracicaba. Sem conhecermos a
cidade! Ele adquiriu o posto de um grego, amigo do meu irmão e do meu pai, ele
tinha uma confecção em São Paulo seu nome era Jean Athanase
Billis. Ele tinha esse posto em função do cunhado dele que morava aqui e
trabalhava no Banco da Lavoura de Minas Gerais. Foi assim que em 1966 eu vim
para Piracicaba, com 19 anos.
Você não conhecia a cidade?
Nem sabia que existia! A primeira
vez eu vim de carro com o Jean Athanase Billis. A mudança veio de trem. Eu
morava no posto, tinha dormitórios no Posto Canta Galo. Meu irmão trouxe o meu
cunhado Angêlo Zancanaro, para Piracicaba, juntamente com a sua esposa, nossa
irmã Maria. Eles tiveram os filhos Sérgio e Azize, nome da minha avó, Marcos e
Carlinhos. O meu cunhado e minha irmã assumiram o Restaurante Canta-Galo que
ficava anexo ao posto. Ele fazia um churrasco diferente dos outros. Era um hmem
muito sério, enérgico, não admitia nada errado.
Você era responsável pelo posto?
Eu tomava conta
do Posto Canta Galo.
Tinha um funcionário que lavava carros e era muito famoso?
Pedro Chiquito! Maior cantador de
cururu de todos os tempos! Temos grandes lembranças dele.
Como foi seu ingresso na política
de Piracicaba?
Eu gostava de política! O Dr.
João Pacheco Chaves parou no posto, perguntei-lhe se era deputado. Ele disse-me
que sim. Perguntou-me quem eu era, disse-lhe que era o Gaúcho, dono do posto.
Mas que eu gostava de política. O Dr. Francisco Antonio Coelho, o ¨Coelhinho”
eu não o conhecia, ele se apresentou, disse-me que tinha trazido o livro de
filiação para que eu assinasse como membro do partido MDB. Assinei, minha ficha
de filiação ao MDB de Piracicaba é de número 67. Em 1968 houve eleições para
prefeito. Lembro-me de alguns candidatos: João Guidotti, João Fleury, e tinha
outros. Apoiei João Guidotti que era do MDB.
Em 1970 Dr. João Pacheco Chaves
comentou com Franco Montoro que conhecia um rapaz bom de discurso. Vieram me
buscar no posto e me levaram na Chácara Nazareth, onde estava Franco Montoro,
na época candidato a senador. Já fui fazendo comício, fui abrindo espaço para
ele. Fui participando. Disse a ele que se ganhasse a eleição precisava
conseguir o asfalto entre Piracicaba e Anhembi.
Você teve algum “convite” para ir
até a unidade militar de Campinas?
Quando o presidente João Baptista
Figueiredo fez uma alusão que considerei depreciativa aos gaúchos, disse que
preferia o odor de cavalos, mesmo ele sendo filho de gaúchos, fui à tribuna da
câmara, meti-lhe o pau. No dia seguinte veio o Capitão Alfredo Mansur, e
disse-me: “-O senhor precisa ir para Campinas!” no 5º GCAM. Liguei para
Brasília, falei com o meu padrinho, expliquei o ocorrido, não disse nada do
Capitão Mansur. Fomos para Campinas. O general deixou que eu entrasse, Capitão
Mansur aguardou fora. O General disse-me que o que eu estava fazendo não estava
correto. Disse ao general, um gaúcho: “Está certo o que o general Figueiredo
falou de nós?” O general imediatamente respondeu: “Servi no 8º Regimento de
Cavalaria de Santana do Livramento!”. Fui dispensado na hora. Houve outra
ocasião semelhante, por outro motivo, quando também fui acompanhado do Capitão
Mansur.
Você continuou fazendo política?
Apareceu o Quércia como candidato
a senador. O comício dele era em Rio das Pedras. Cheguei lá, tinha uma pessoa
que tinha trabalhado com o Montoro, perguntaram-me se eu ia falar, disse que se
me autorizassem iria. Subi no palanque, comecei a falar, o Quércia veio me
abraçar, me agradecer, eu não o conhecia, comecei a amizade com ele ali. Em
Piracicaba fiz o comício também para ele. Ele perguntou-me se queria apoiá-lo
em sua campanha, eu fui. Fiquei muito amigo dele. Para mim podem falar o que
for, foi um dos maiores amigos que tive dentro da política. Tenho-o dentro do
meu coração. Quando ele foi governador do Estado fui diretor da antiga Banespa
Mineração, era diretor de patrimônio, era para fazer a liquidação da Banespa
Mineração.
E a política piracicabana?
Em 1972 Dr. Adilson Benedito
Maluf foi candidato a prefeito, o Hidinho Maluf, irmão do Adilson e eu,
sentados no banco da praça, ele disse: “Acho que o meu irmão vai ser candidato
a prefeito!”. Perguntei de qual partido. Quando ele disse-me que era do MDB
disse-lhe: “- Pode dizer à ele que tem um cabo eleitoral, que sou eu !” Eu
estava no Posto Cantagalo, o Hidinho havia dito que ele tinha um corcel azul,
quando o Adilson parou, perguntei-lhe se ele era o Dr. Adilson Maluf?
Disse-lhe: “Sou o Gaúcho, sou seu cabo eleitoral!”.
Até então você era conhecido por
Gaucho?
Era! Mas o Professor Helmeister do Colégio Piracicabano, onde continuei meus estudos de contabilidade, me
apelidou de Mug, Mug da Sorte. O cantor Wilson Simonal havia lançado a música
do Mug da Sorte. Quando entrei na classe ele dise-me: “Chegou o Mug da Sorte!”.
Eu era magrinho, jogava polo aquatico no Palmeiras em São Paulo. Fizemos a
campanha do Adilson, ganhamos, e houve a briga política com o Cecílio Elias
Netto, hoje um grande amigo meu. O Cecílio foi cumprimentar o Adilson pela
vitória, em uma reunião na casa da irmã do Adilson, eu impedi a sua entrada. No
dia seguinte “O Diário” trazia referências a minha atitude, denominando-me por
Mugão. Nunca mais me chamaram pelo nome José Inácio! Tanto que incorporei ao
meu nome oficial o apelido Mugão. A cidade inteira me conhecia por Mugão! Em
1976 fui eleito vereador, ganhei a eleição por 3 votos do João Sachs e do
Taquara. Estavamos empatados, até que tive 3 votos a mais. Fui eleito com 963
votos. O segundo mandato fui eleito em 1982, Piracicaba tinha 632 candidatos a
vereador, fui eleito em primeiro lugar com 2523 votos na proporcionalidade fui
o mais votado até hoje. Tinha 11 candidatos a prefeito. O mandato de vereador
era de seis anos, fui vereador seis anos com o prefeito João Hermann Netto e
seis anos com o prefeito Adilson Benedito Maluf.
Você sempre teve uma atuação
expressiva.
Sempre
batalhei apaixonadamente pela causa que defendia; em 1974, fui nomeado responsável pela
limpeza pública do município, quando criei as famosas “margaridas” (como eram
chamadas as mulheres que varrem as vias públicas). Incentivei ativamente a
criação do Parque das Torres, no Capim Fino, possibilitando as retransmissões
de televisão em Piracicaba. Atuei na criação do entreposto municipal de
abastecimento de hortifrutigranjeiros, dando ao entorno do mercado municipal
melhores condições de higiene. Participei de diversas conquistas junto ao
Governo do Estado, como as passarelas em frente à empresa Dedini e do bairro
Cecap, as escolas da Vila Industrial e Vila Monteiro, instalação da Regional da
Cetesb, Distrito Policial de Santa Terezinha ( o único da cidade com sede
própria) na articulação para o
asfaltamento das estradas Piracicaba-Anhumas e Piracicaba-Anhembi, autorizadas
pelo então governador do Estado, Franco Montoro. trabalhei pela expansão
da iluminação e telefonia nos bairros de Anhumas, Ibitiruna e Tanquã, sendo a
maior extensão do Estado de São Paulo em iluminação e telefonia em bairros
rurais na época. Lutei ainda pela instalação do Posto de Saúde de
Ibitiruna, realizada com recursos próprios, atuei pela criação de centros
comunitários, creches, postos de saúde, iluminação publica, extensão da rede de
água e esgoto e expansão do asfalto. Fui diretor de patrimônio da Empresa
Paulista de Turismo (Paulistur) no governo Orestes Quércia e na gestão Antonio
Fleury Filho fui sub-diretor do interior da Cetesb. Ocupei ainda o cargo de
membro da Executiva da União dos Vereadores do Estado de São Paulo e como
conselheiro da Associação Paulista dos Municípios.
Você recebeu o título de cidadão
piracicabano?
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