sexta-feira, novembro 10, 2017

JOSÉ INÁCIO MUGÃO SLEIMANN


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 04 de novembro de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/







ENTREVISTADO: JOSÉ INÁCIO MUGÃO SLEIMANN

José Inácio Mugão Sleimann nasceu a 31 de julho de 1947 em Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Seu pai é Jabra Abdala Sleimann e sua mãe Zarife José Tannus, naturais de Bakto, Síria. Tiveram sete filhos: Abdala e Maria nascidos na Síria e Julia, Tereza, Marta, Janira e José Inácio nascidos no Brasil. Foi casado em primeiras núpcias com Eliana Marta Sabino Sleimann, já falecida, com quem teve quatro filhos: Ricardo, Milena, Carlos Eduardo e Leandro. José Inácio é casado em segundas núpcias com Nurair Cristina Fuzinelli Sleimann. José Inácio Mugão Sleimann formou-se em Direito na Faculdade de Direito de São Carlos, em 1973. 

Como se deu a imigração dos seus pais e irmãos?

Inicialmente meu pai veio para a Argentina trabalhar na colheita de trigo, ele tinha um irmão que morava na cidade de Lobos, localizada na província de Buenos Aires, localizada a 115 quilômetros da cidade de Buenos Aires. Após um ano decidiu vir para o Rio Grande do Sul, veio de trem. No Rio Grande do Sul mudaram o nome dele, Originariamente era Suliman ou Suleiman, colocaram Sleimann O nome significa "homem de paz" e corresponde ao nome inglês Solomon . Meu pai chegou ao Brasil na década de 10. Ele foi para Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Dez anos depois ele mandou buscar minha mãe e meus irmãos. Meu pai vendia frutas, depois virou mascate, abriu loja, isso em Passo Fundo. Comprou um sítio onde plantou 1.500 pés de azeitonas. Era um sítio que além das azeitonas produzia 90% da nossa alimentação.

Você estudou em Passo Fundo?

Estudei no Colégio Notre Dame, fiz o jardim de infância e primeiro ano, fui colega do Filipão (Luiz Felipe Scolari), gaúcho de Passo fundo, somos amigos de familia, ele fez um livro onde sou citado. Meu pai apesar de estrangeiro era um grande cabo eleitoral. Meu primo Daniel Dipp foi prefeito de Passo Fundo, deputado federal, sempre foi político. Meu pai era amigo de Leonel Brizola e de Getúlio Vargas. O Brizola se criou com meu irmão Abdala em Passo Fundo, o Brizola gostava muito de ir em casa para comer quibe. Quem criou ele na cidade foi Dr. Sabino Arias, Brizola era de Carazinho, criou-se em Passo Fundo, quem o encaminhou foi Dr. Sabino Arias. O irmão do Brizola foi Chefe da Estação de trem de Passo Fundo da VFRGS – Viação Férrea Rio Grande do Sul.

Seu interesse por política começou quando?

Desde pequenino sempre gostei! Participava dos comícios, época de Fernando Ferrari, o “Mãos Limpas”, participava com ele no Movimento Trabalhista Renovador. Eu era ligado ao PTB, sai do PTB fomos para o MTR, Uma turma da cidade foi para o Movimento, o prefeito, meu primo Daniel Dipp, depois disso vieram os partidos políticos: ARENA – Aliança Renovadora Naciona e MDB – Movimento Democrático Brasileiro. Por todo meu histórico aderi ao MDB. O Adhemar de Barros esteve com sua esposa Dona Leonor duas vezes em Passo Fundo, eu era criança, mas recordo que era um casal muito simpático, foram a missa das seis horas da manhã nas dua vezes ques estiveram na cidade, comungaram. A padroeira lá é Nossa Senhora Aparecida. O Jânio Quadros foi de trem, fez um comício na gare, em cima de um caminhão Alfa Romeu, esses comícios eram organizados sem a tecnologia atual, havia a necessidade de alguém segurar o microfofone, os políticos gesticulavam muito. Na ida desses dois candidatos eu estava cumprindo essa função ao lado deles. Essas passagens fui recordar com Adhemar de Barros, junto com o filho dele que é muito meu amigo, o Adhemarzinho. E junto cm o Jânio que eu estive com ele, em sua residência no Guarujá e eu era vereador aqui em Piracicaba. Participei também da “Revolução da Legalidade” no Rio Grande do Sul, um dos acontecimentos mais dramáticos da história do Rio Grande do Sul, iniciou em 25 de agosto de 1961, pelo governador do Estado, Leonel Brizola que, ao tomar conhecimento da renúncia de Jânio Quadros à presidência do país, resistiu bravamente para garantir a posse do vice-presidente João Goulart. Durante doze dias, Brizola manteve firme a “Cadeia da Legalidade”, de dentro do Palácio Piratini, tendo em volta uma multidão na Praça da Matriz, atingindo a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, que se estabeleceu em sessão permanente. Eu já morava aqui em São Paulo quando houve uma campanha para eleição de governadores: Zé Bonitinho (José Bonifácio Coutinho Nogueira); Adhemar de Barros; Jânio Quadros, eu ia aos comícios para agitar, gostava de agitar. Era contra a ditadura, e tinha um padrinho general, sogro do meu primo, general também.

Você continuou estudando em Passo Fundo?

Fui estudar na Escola Nossa Senhora da Conceição, dos Irmãos Maristas, depois passei para o Colégio Estadual Nicolau Araujo Vergueiro, quando estava com 14 a15 anos vim para São Paulo.Meus irmãos Abdala e Maria já moravam em São Paulo, no bairro Cambuci, a Rua Dona Ana Nery, 563, quase esquina com a Avenida do Estado. Eu convivi ali, ia jogar futebol na Vila Mariana. Estudei no Liceu Acadêmico São Paulo, na Rua Oriente, onde iniciei o Curso Técnico de Contabilidade. Meu irmão era csado com uma baiana e trabalhava com artigos religiosos. Fui para a Bahia, não me adaptei. No Mercado Modelo, o antigo, meu irmão comprou um posto de gasolina em Piracicaba. Sem conhecermos a cidade! Ele adquiriu o posto de um grego, amigo do meu irmão e do meu pai, ele tinha uma confecção em São Paulo seu nome era Jean Athanase Billis. Ele tinha esse posto em função do cunhado dele que morava aqui e trabalhava no Banco da Lavoura de Minas Gerais. Foi assim que em 1966 eu vim para Piracicaba, com 19 anos.

Você não conhecia a cidade?

Nem sabia que existia! A primeira vez eu vim de carro com o Jean Athanase Billis. A mudança veio de trem. Eu morava no posto, tinha dormitórios no Posto Canta Galo. Meu irmão trouxe o meu cunhado Angêlo Zancanaro, para Piracicaba, juntamente com a sua esposa, nossa irmã Maria. Eles tiveram os filhos Sérgio e Azize, nome da minha avó, Marcos e Carlinhos. O meu cunhado e minha irmã assumiram o Restaurante Canta-Galo que ficava anexo ao posto. Ele fazia um churrasco diferente dos outros. Era um hmem muito sério, enérgico, não admitia nada errado.

Você era responsável pelo posto?

Eu tomava conta do Posto Canta Galo.

Tinha um funcionário que lavava carros e era muito famoso?

Pedro Chiquito! Maior cantador de cururu de todos os tempos! Temos grandes lembranças dele.

Como foi seu ingresso na política de Piracicaba?

Eu gostava de política! O Dr. João Pacheco Chaves parou no posto, perguntei-lhe se era deputado. Ele disse-me que sim. Perguntou-me quem eu era, disse-lhe que era o Gaúcho, dono do posto. Mas que eu gostava de política. O Dr. Francisco Antonio Coelho, o ¨Coelhinho” eu não o conhecia, ele se apresentou, disse-me que tinha trazido o livro de filiação para que eu assinasse como membro do partido MDB. Assinei, minha ficha de filiação ao MDB de Piracicaba é de número 67. Em 1968 houve eleições para prefeito. Lembro-me de alguns candidatos: João Guidotti, João Fleury, e tinha outros. Apoiei João Guidotti que era do MDB.

Em 1970 Dr. João Pacheco Chaves comentou com Franco Montoro que conhecia um rapaz bom de discurso. Vieram me buscar no posto e me levaram na Chácara Nazareth, onde estava Franco Montoro, na época candidato a senador. Já fui fazendo comício, fui abrindo espaço para ele. Fui participando. Disse a ele que se ganhasse a eleição precisava conseguir o asfalto entre Piracicaba e Anhembi.

Você teve algum “convite” para ir até a unidade militar de Campinas?

Quando o presidente João Baptista Figueiredo fez uma alusão que considerei depreciativa aos gaúchos, disse que preferia o odor de cavalos, mesmo ele sendo filho de gaúchos, fui à tribuna da câmara, meti-lhe o pau. No dia seguinte veio o Capitão Alfredo Mansur, e disse-me: “-O senhor precisa ir para Campinas!” no 5º GCAM. Liguei para Brasília, falei com o meu padrinho, expliquei o ocorrido, não disse nada do Capitão Mansur. Fomos para Campinas. O general deixou que eu entrasse, Capitão Mansur aguardou fora. O General disse-me que o que eu estava fazendo não estava correto. Disse ao general, um gaúcho: “Está certo o que o general Figueiredo falou de nós?” O general imediatamente respondeu: “Servi no 8º Regimento de Cavalaria de Santana do Livramento!”. Fui dispensado na hora. Houve outra ocasião semelhante, por outro motivo, quando também fui acompanhado do Capitão Mansur.

Você continuou fazendo política?

Apareceu o Quércia como candidato a senador. O comício dele era em Rio das Pedras. Cheguei lá, tinha uma pessoa que tinha trabalhado com o Montoro, perguntaram-me se eu ia falar, disse que se me autorizassem iria. Subi no palanque, comecei a falar, o Quércia veio me abraçar, me agradecer, eu não o conhecia, comecei a amizade com ele ali. Em Piracicaba fiz o comício também para ele. Ele perguntou-me se queria apoiá-lo em sua campanha, eu fui. Fiquei muito amigo dele. Para mim podem falar o que for, foi um dos maiores amigos que tive dentro da política. Tenho-o dentro do meu coração. Quando ele foi governador do Estado fui diretor da antiga Banespa Mineração, era diretor de patrimônio, era para fazer a liquidação da Banespa Mineração.

E a política piracicabana?

Em 1972 Dr. Adilson Benedito Maluf foi candidato a prefeito, o Hidinho Maluf, irmão do Adilson e eu, sentados no banco da praça, ele disse: “Acho que o meu irmão vai ser candidato a prefeito!”. Perguntei de qual partido. Quando ele disse-me que era do MDB disse-lhe: “- Pode dizer à ele que tem um cabo eleitoral, que sou eu !” Eu estava no Posto Cantagalo, o Hidinho havia dito que ele tinha um corcel azul, quando o Adilson parou, perguntei-lhe se ele era o Dr. Adilson Maluf? Disse-lhe: “Sou o Gaúcho, sou seu cabo eleitoral!”.

Até então você era conhecido por Gaucho?

Era! Mas o Professor Helmeister do Colégio Piracicabano, onde continuei meus estudos de contabilidade, me apelidou de Mug, Mug da Sorte. O cantor Wilson Simonal havia lançado a música do Mug da Sorte. Quando entrei na classe ele dise-me: “Chegou o Mug da Sorte!”. Eu era magrinho, jogava polo aquatico no Palmeiras em São Paulo. Fizemos a campanha do Adilson, ganhamos, e houve a briga política com o Cecílio Elias Netto, hoje um grande amigo meu. O Cecílio foi cumprimentar o Adilson pela vitória, em uma reunião na casa da irmã do Adilson, eu impedi a sua entrada. No dia seguinte “O Diário” trazia referências a minha atitude, denominando-me por Mugão. Nunca mais me chamaram pelo nome José Inácio! Tanto que incorporei ao meu nome oficial o apelido Mugão. A cidade inteira me conhecia por Mugão! Em 1976 fui eleito vereador, ganhei a eleição por 3 votos do João Sachs e do Taquara. Estavamos empatados, até que tive 3 votos a mais. Fui eleito com 963 votos. O segundo mandato fui eleito em 1982, Piracicaba tinha 632 candidatos a vereador, fui eleito em primeiro lugar com 2523 votos na proporcionalidade fui o mais votado até hoje. Tinha 11 candidatos a prefeito. O mandato de vereador era de seis anos, fui vereador seis anos com o prefeito João Hermann Netto e seis anos com o prefeito Adilson Benedito Maluf.

Você sempre teve uma atuação expressiva.

Sempre batalhei apaixonadamente pela causa que defendia; em 1974, fui nomeado responsável pela limpeza pública do município, quando criei as famosas “margaridas” (como eram chamadas as mulheres que varrem as vias públicas). Incentivei ativamente a criação do Parque das Torres, no Capim Fino, possibilitando as retransmissões de televisão em Piracicaba. Atuei na criação do entreposto municipal de abastecimento de hortifrutigranjeiros, dando ao entorno do mercado municipal melhores condições de higiene. Participei de diversas conquistas junto ao Governo do Estado, como as passarelas em frente à empresa Dedini e do bairro Cecap, as escolas da Vila Industrial e Vila Monteiro, instalação da Regional da Cetesb, Distrito Policial de Santa Terezinha ( o único da cidade com sede própria)  na articulação para o asfaltamento das estradas Piracicaba-Anhumas e Piracicaba-Anhembi, autorizadas pelo então governador do Estado, Franco Montoro. trabalhei pela expansão da iluminação e telefonia nos bairros de Anhumas, Ibitiruna e Tanquã, sendo a maior extensão do Estado de São Paulo em iluminação e telefonia em bairros rurais na época. Lutei ainda pela instalação do Posto de Saúde de Ibitiruna, realizada com recursos próprios, atuei pela criação de centros comunitários, creches, postos de saúde, iluminação publica, extensão da rede de água e esgoto e expansão do asfalto. Fui diretor de patrimônio da Empresa Paulista de Turismo (Paulistur) no governo Orestes Quércia e na gestão Antonio Fleury Filho fui sub-diretor do interior da Cetesb. Ocupei ainda o cargo de membro da Executiva da União dos Vereadores do Estado de São Paulo e como conselheiro da Associação Paulista dos Municípios.

Você recebeu o título de cidadão piracicabano?

Por enquanto não! Tenho Piracicaba e o XV de Novembro em meu coração!


 

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