PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 09 de abril de 2016.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 09 de abril de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: DAYR PLATES ALMEIDA DE NEGRI
ENTREVISTADA: DAYR PLATES ALMEIDA DE NEGRI
Prestes a completar 104 anos de
vida a professora Dayr Plates Almeida de Negri desfruta de perfeita consciência
de tudo que se passa em torno de si. É um verdadeiro arquivo, lúcida, um
espírito jovial, lembra-se de muitos fatos ocorridos em sua vida. Às vezes esboça
um sorriso um tanto quanto misterioso, acaba contando algum acontecimento
cômico que ela presenciou. Essa sua forma de encarar a vida, com otimismo e bom
humor, talvez seja em grande parte responsável pela sua longevidade. Mantém
perfeito equilíbrio alimentar. Relembra de fatos ocorridos quando ainda era
menina sem alienar-se de acontecimentos presentes. Dona Dayr tem nove netos e
sete bisnetos.
A senhora nasceu em que cidade?
Nasci em Rio Claro no dia 30 de
novembro de 1913. ( Dona Dayr explica que nasceu em maio de 1912 e foi
registrada após seis meses, a 30 de novembro de 1913). Seus pais são José
Plates de Almeida e Delminda Plates de Almeida que tiveram os filhos: Clovis,
Artur, Dario, Diva e Dayr. Eu sou a caçula. O meu irmão Clovis estava servindo
o Exército em São Paulo quando houve a Revolução de 1922, foram todos chamados
para frente da Revolução. O capitão escolheu-o para proteger suas filhas como
guarda.
RIO CLARO - COMPANHIA PAULISTA
COMPANHIA PAULISTA
Qual era a profissão do pai da
senhora?
Ele era ferroviário da Companhia
Paulista de Estradas de Ferro. Era chefe do armazém de cargas. Viajei muito de
trem. Teve um período em que papai estava como responsável pelo telégrafo de
Barretos, nós íamos visitá-lo.
Essas viagens eram com a
locomotiva a vapor, a famosa Maria Fumaça?
Viajei bastante com a Maria
Fumaça, lembro-me de que vinha cisquinhos nos olhos. Era cinza que vinha da
locomotiva. Era um passeio muito bom. Minha prima era dentista em Campinas, ela
que tratava dos meus dentes. Eu ia de trem para Campinas, lembro-me que praticamente
passava o dia lá, voltava com o trem já bem tarde. Eu ficava em sua casa
esperando. (Ao fundo um galo persiste em cantar alto e afinado, durante a
entrevista, dando um ar informal, parece estar concordando com tudo que sua
dona fala).
A senhora gosta muito de uma
música?
Gosto sim. É a música “Uma
Lágrima Ainda!” eu executava essa musica ao piano.
Estudei piano por quatro anos no
Colégio Assunção.
A senhora fez o curso primário em
qual escola?
Uma parte eu estudei em Campinas,
outra parte no Grupo Escolar Moraes Barros. Meu pai foi transferido para Piracicaba quando
a Companhia Paulista de Estradas de Ferro foi inaugurada em Piracicaba. Fomos
morar em uma das casas da Companhia Paulista que existe até hoje, a nossa era a
de número 16.
O ramal da Companhia Paulista de Estradas de Ferro de Piracicaba foi inaugurado em Piracicaba em 1922. Foi quando meu pai foi removido para Piracicaba como chefe do Armazém. Eu tinha uns 10 anos. Lembro-me da inauguração da Estação da Paulista, na época foi distribuído um livro muito bonito, com ilustrações, que contava a história da Companhia Paulista. Infelizmente não guardei esse livro.
O ramal da Companhia Paulista de Estradas de Ferro de Piracicaba foi inaugurado em Piracicaba em 1922. Foi quando meu pai foi removido para Piracicaba como chefe do Armazém. Eu tinha uns 10 anos. Lembro-me da inauguração da Estação da Paulista, na época foi distribuído um livro muito bonito, com ilustrações, que contava a história da Companhia Paulista. Infelizmente não guardei esse livro.
Morando na Paulista e estudando
na Escola Moraes Barros, como a senhora ia para as aulas?
Ia e voltava a pé, era uma criançada
que fazia esse percurso. Uma das professoras era Dona Vanda.
Após concluir o primário a
senhora ingressou na Escola Normal, hoje Sud Mennucci?
Foi lá que tive como professores
Thales Castanho de Andrade, Manoel de Almeida, lá me formei como professora,
trabalhei 30 anos. O Thales Castanho de Andrade era alegre, gostava de contar
uma piada, era amigo dos alunos. A fábrica de Bebidas Andrade situava-se em
frente ao Grupo Moraes Barros, na Rua Alferes José Caetano, pertencia a Família
do Thales Castanho de Andrade. Produziam variados tipos de bebidas, uma delas
era a “Cotubaina”, Cotuba era uma forma popular de dizer que a pessoa era boa,
bacana. Nos intervalos os alunos iam conversar com ele. Era um bom amigo e
professor. O Dutra era parente da minha mãe. Nesse tempo a minha mãe tratava
dos dentes com o Zézinho, não tenho certeza, mas acho que era da família Dutra,
era um dentista antigo. O Erotides de Campos eu conheci pouco antes de ele
falecer. Conheci o professor Benedito de Andrade, ele morava na Rua Boa Morte.
Era negro, tinha vasta cultura. No Sud Mennucci foi feito uma documentação, com
a participação de diversos autores, para ser aberto dali a 100 anos, isso foi
feito em 1922, portanto daqui a 6 anos estarão abrindo essa cápsula do tempo.
Meu marido era o melhor aluno da classe, ele foi escolhido para deixar uma
carta lá dentro.
Após a formatura a senhora foi
lecionar em que cidade?
Fui lecionar em Colina. Já fui
casada, meu marido era professor. De Colina fui para Jaborandi, lecionar em uma
fazenda, de lá fui para São Pedro, no Alto da Serra, em seguida fui para
Laranjal. Após lecionar por 30 anos aposentei-me quando lecionava no Grupo
Escolar Barão do Rio Branco, em Piracicaba, só aí trabalhei 15 anos. Lembro-me
das minhas colegas, também professoras: Julia, Maria Aparecida, Terezinha, Maria
José (Zezé), mãe da Maria de Lourdes Piedade Sodero Martins. Eu moro nesta casa desde que
foi construída, já faz mais de 60 anos.
Os arredores eram diferentes?
Antigamente havia uma ou outra
construção, tinha muito terreno vazio. Lembro-me da família Crocomo, ele
trabalhava com calhas, chamei-o muitas vezes.
Naquele tempo como eram os
alunos? Era gostoso lecionar?
A educação antiga era outra! O
professor era respeitado. Quando apontavam: “Aquele é professor!” Tinha o
respeito. Não era como hoje, desvalorizado. Naquela época era comum cada
profissão ter um anel de uma cor e formato, o de professor era verde. O meu foi
meu irmão que me deu quando me formei.
Era um orgulho para a família ter
um professor em casa?
Era um cargo alto. Diziam:
“Aquela é professora!”
Aonde a senhora conheceu o seu
futuro marido?
No centro havia a praça antiga,
as moças caminhavam em um sentido e os moços vinham no sentido contrário. A
gente trocava olhares, foi assim que conheci meu marido Pedro de Negri, era
professor também. Casamos a 9 de setembro de 1935, na Catedral de Santo
Antonio, o celebrante foi o Monsenhor Rosa.
Quantos filhos vocês tiveram?
Tivemos cinco filhos: Cássio,
Leda, Pedro, João Paulo e Fátima.
A senhora teve um tio que foi
para a Guerra de Canudos?
Era o irmão da mamãe, Antonio de Oliveira, carinhosamente
chamado como Tonico, ele foi combatente, mas quando votou estava muito
perturbado, era efeito da guerra, dizem que foi uma guerra horrível. Meu tio
saiu de casa, desapareceu, foi intensivamente procurado pela família que nunca
mais o localizou.
(Guerra de Canudos foi o confronto
entre o Exército Brasileiro e os integrantes de um movimento popular de fundo
sócio-religioso liderado por Antônio Conselheiro, que durou de 1896 a 1897, então na comunidade de Canudos, no interior do
estado da Bahia.)
Após aposentar-se a senhora teve alguma
outra atividade?
Passei a ser dona de casa.
A senhora assiste televisão?
Faz tempo que eu não ligo a televisão.
Qual é a sua religião?
É a católica, era a religião também dos
meus pais. Eu rezo por todos.
Como a senhora vê as mudanças através dos
anos?
Infelizmente houve uma queda, as coisas
pioraram. Pelas notícias que tenho até diretor de escola já sofreu agressão de
aluno. Ameaça explicita, soube de um caso em que o aluno mostrou uma bala de
revolver e disse ao professor: “-Olha aqui para você!”.
E o piano, a senhora ainda toca?
O piano permanece aqui, há anos que eu
não toco, tocava mais piano quando era solteira. Reunia as colegas em casa,
elas cantavam e eu tocava.
A que horas a senhora acostuma acordar?
Não tenho hora para acordar. Quando
acordo, acordei!
De onde vem esse seu bom humor?
Pedindo a Deus!
É mais fácil encarar a vida com bom
humor do que com mau humor?
Deve ser com alegria! Quando tenho
alguma contradição ou tristeza penso: “Deus que me mandou, tenho que cumprir,
eu que tenho que resolver”. Uma ocasião o Petrin ia para São Paulo e o Pedro
Roberto, meu filho ia junto, o Petrin estava estreando uma perua que havia
comprado. Deixaram avisada a data da volta, mas não vieram. Já era de madrugada
e não apareciam, meu marido estava desesperado. Eu o chamava de Negri.
Disse-lhe: “Negri! Não adianta preocupar-se! Se faleceu não tem jeito. Se houve
desastre está no hospital muito bem tratado. Vamos esperar!”. No outro dia ele
chegou, o carro o Petrin tinha encrencado. Eu não me desespero. Talvez por isso
tenha atingido essa idade.
O Governador Adhemar de Barros nasceu em
Piracicaba?
Nasceu em uma casa na esquina da Rua
Ipiranga com Rua Boa Morte.
A senhora tinha como vizinha uma
sinagoga?
Era vizinha com o fundo do nosso
quintal, a frente da sinagoga ficava na rua de trás, na Rua Ipiranga. Nós
ouvíamos suas orações.
O Rio Piracicaba mudou muito?
Faz anos que não vou lá! Não posso falar
nada porque não sei nada sobre a reforma que fizeram lá. Na nossa época os
passeios eram feitos na Escola Agrícola, no Mirante, na Estação da Paulista,
onde muitos esperavam a chegada do pessoal que vinha de São Paulo. Quando eu
era criança a plataforma da Estação da Paulista era ponto de encontro da
população, como se fosse o jardim da Praça José Bonifácio. Todo mundo encontrava-se lá, muito bem
vestidos. Tem uma passagem cômica que me lembro, duas milionárias estavam
usando pincinê ( Pince-nez) que é um modelo de óculos desprovido de hastes Sua
fixação era feita apenas fixando-o sobre o nariz. Era de ouro, elas queriam exibir-se. Para mostrar o
ouro, elas iam caminhando, lendo o que viam pela frente, usando e exibindo o
pincinê. Um dos funcionários da
Companhia Paulista, o Oscar, que trabalhava como portador era muito engraçado, fez
um pincinê de arame e passou a imitá-las. Foi muito engraçado!
Isso foi em um tempo em que para comer certas frutas,
como a maçã, por exemplo, tinha que trazer de trem.
Na Rua Boa Morte esquina com a Rua Gomes Carneiro, tinha
uma vendinha, existia um pau onde amarravam os cavalos, principalmente do
pessoal que vinha dos sítios.
A senhora era freqüentadora da Igreja Sagrado Coração de
Jesus, mais conhecida como Igreja dos Frades?
Eu freqüentava só a Igreja dos Frades. Em frente havia
uma praça.
Das padarias que existiam na época, próximas a casa da
senhora quais eram?
A Padaria Cardinalli, situada na Rua Boa Morte esquina
com a Rua Ipiranga. Tinha também a Jacarei. Isso no tempo em que o leiteiro
deixava o litro de leite na janela, deixávamos o litro vazio e eles trocavam
pelo litro com leite.
Havia muitas serenatas nesse tempo?
Um pouco! O Cobrinha já cantava naquela época, tinha uma
voz muito bonita. ( Victório Ângelo Cobra, mais conhecido pela alcunha de “Cobrinha”).
Quando era mocinha alguém fez serenata
para a senhora?
Só meu marido.
A senhora fez uma viagem em uma
charrete, da cidade de Laranjal Paulista?
Meu marido tinha uma charrete, ele
disse-me: “Vamos para Piracicaba de charrete?” Respondi-lhe: “Vamos!”.
Como chamava o cavalo?
Dourado. Ele tinha uma cor entre marrom
claro e dourado. Quando voltei fui de jardineira, aberta nas laterais. (Os ônibus com as laterais abertas
transportavam na ida e na volta moças e senhoras, que usavam chapéus floridos.
Pelo formato de carroceria, toda aberta na lateral e pelas flores dos chapéus
falavam que os ônibus pareciam jardineiras).
JARDINEIRA
JARDINEIRA
A senhora freqüentava o Teatro Santo Estevão?
Lembro-me de ter ido a um casamento de Luiz Crazyquilck,
ele cortava cabelo, convidou todos os seus clientes.
Naquela época os
professores lecionavam vestidos com terno?
Dentro de casa usava-se terno! Papai não tirava o terno.
Levantava e vestia o terno, dentro de casa mesmo. O Maestro Dutra era primo em
segundo grau de mamãe.
Seus ex-alunos visitam a senhora?
Tem algumas ex-alunas que já vieram algumas vezes me
visitar.
Logo que inaugurou a Estação da Companhia Paulista de
Estradas de Ferro, em Piracicaba, acima da estação era uma área praticamente
agrícola?
Nós íamos buscar água de poço, havia o chão de terra, um
barranco e logo acima havia chácaras. Nós íamos às chácaras buscar água. Nas
proximidades da Estação da Paulista.
Nas casas existentes nas dependências da
Estação da Paulista não havia poço de água?
As casas da Companhia Paulista já eram com água encanada.
Quando viemos para Piracicaba, em 1922 já havia água encanada. Em toda a cidade
havia filtro de barro, a água era “suja”, marrom. Por isso íamos buscar água de
poço em poços de propriedades de
conhecidos.
Naquela região havia muitas cabras soltas?
(Nesse momento Dona Dayr deixa escapar um sorriso meio
maroto, fico intrigado Ela então explica).
Na Estação da Companhia Paulista há até hoje uma carreira
de casinhas, um dos vizinhos tinha cabras, outro vizinho era um alemão, Sr.
Carlos Jansen, muito caprichoso, que tinha uma bonita horta. Numa terceira casa
havia uma moça que freqüentava bailes, quando ela retornava, por brincadeira de
mau gosto abria a porteirinha e soltava as cabras que devoravam a apetitosa
horta. O alemão pediu, falou, não adiantou. Já sem ter a quem apelar,
engenhoso, encheu uma lata de urina, através de um sistema de fios e cabos,
dependurou a lata, de tal forma que quando abrissem a porteirinha a lata
despejaria seu conteúdo no malfeitor. Uma madrugada, com toda a armadilha
pronta, de casa ele escutou uma voz feminina gritando: “-Aiiiiii.....!”. A moça
foi abrir a porteirinha e foi contemplada com um banho inesperado. Naquela
época as retaliações não envolviam tanta violência, eram feitas de forma mais
inteligente, há um caso de uma conhecida nossa, cujo marido era namorador.
Certa vez ele trouxe um frasco de perfume, embrulhado para presente. Achando
que era para ela, a esposa aguardou, passadas algumas semanas ela percebeu que
seria presente para outra, ela simplesmente despejou o perfume e substituiu por
urina e voltou cuidadosamente na embalagem original, embrulhada. O resultado eu desconheço.
Ficou na memória da cidade a pontualidade rigorosa com
que o trem partia.
Muitos acertavam o relógio com o apito do trem.
Com a experiência de vida que a senhora têm a seu ver o
mundo está no caminho certo ou tem que mudar?
Primeiro de tudo temos que ter Amor ao Próximo. Respeito
ao próximo. Atualmente há a falta de religião, a religião conduz a pessoa.
Agora que a “moçada” não tem regras, não tem nada pode notar no que estão.
Qual é a sua opinião sobre o computador?
Nunca mexi, mas acho ótimo. É uma grande descoberta.
E o atual Papa, qual é a opinião da senhora a respeito?
Não tenho acompanhado suas ações, sei que seu nome é
Francisco.
Em sua opinião o que acontece quando a pessoa deixa de
viver?
Eu acredito que existe uma proteção de Deus ainda. A alma
permanece. Hoje não temos mais princípios religiosos, e a responsabilidade por
isso é dos pais. Especialmente a mãe. Se guiar um filho ele irá para um bom
caminho. O filho segue o que é o pai e a mãe.
Pode ocorrer de bons pais e mães terem filhos
problemáticos?
Nesse caso deve estar ocorrendo algum tipo de desvio de
caráter gerado pelo próprio filho, o que chamaram antigamente de “pessoas com
problema de cabeça”. Outro fator são as companhias com quem os filhos andam.
O que a senhora acha das grandes obras e salários
descomunais que existem no futebol?
Em minha opinião o imenso volume de dinheiro que é gasto
com futebol deveria ser aplicado para melhorar as condições de vida dos mais
necessitados.
As roupas da época eram adquiridas prontas ou a senhora
mandava fazer?
As roupas que as crianças usavam no cotidiano eu fazia. As
roupas mais sofisticadas, chamadas “de passeio” eu mandava fazer. Quem fazia
era uma costureira chamada Isabel. Os ternos para o meu marido eram feitos por
um alfaiate.
Como é a alimentação da senhora?
Cedo como pão, café com leite. Às dez horas às vezes eu
como uma fruta. No almoço eu posso comer de tudo, só evito sal e gordura. À
tarde tomo um lanchinho. E a noite ali pelas oito e meia da noite uma sopinha. O que vier eu como.
Uma das iguarias muito consumida até alguns anos era o
pudim de pão. Há um comentário de que a senhora fazia um pudim de pão
excepcional. Qual é a receita?
Se pega um pão amanhecido, pica-se, esfarela-o bem com as
mãos, Poe açúcar a vontade e um ovo, mistura-se tudo se despejando leite,
deixando a massa mole, não deve ficar dura e coloca-se para assar durante uns
quarenta minutos. Quando estiver mais frio do que quente, chuvisca canela em
cima. Tem que ser pão amanhecido, não pode ser feito com pão fresco. Outra
receita que se fazia muito era o Licor de Folhas de Figo. Eu faço tudo pelo meu
olho, não tenho medida. Se pega a folha de figo, lava-se muito bem, se for uma
folha muito grossa corta-se um pouco, deixa uns dez dias de molho na pinga,
depois se faz uma calda meio grossa com açúcar, se junta a pinga com a folha de
figo e a calda, coando-se em uma peneira. Deixa mais uns dez dias para sair o
gosto forte ficam suaves.
Após fornecer essa duas
receitas, Dona Dayr sorriu muito disposta, posou para algumas fotos. A sua
serenidade e bom humor é contagiante.
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