PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 02 de Abril de 2016.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 02 de Abril de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: MAURICIO GONÇALVES
Mauricio Gonçalves nasceu em São
Paulo no Bairro Vila Maria. São seus pais Maurílio Dias Gonçalves, marceneiro,
e Maria Benedita Gonçalves que tiveram mais dois filhos: Benedito Luiz
Gonçalves e Luisa Gonçalves. Mauricio é casado com Ana Lucia Ferraz Gonçalves,
são pais de três filhos: Mauricio, Márcio e Tatiana.
O senhor estudou em que escola?
Fiz o curso primário na Escola
Machado de Assis. Eu levava o almoço para o meu pai e ficava ajudando em
pequenas atividades, como limpar fórmica, a organizar as coisas na oficina em
que ele trabalhava.
A oficina de marcenaria de propriedade dele?
Não, ele era funcionário. Ela
situava-se na Rua Teodoro Sampaio, próxima da Avenida Henrique Schaumann, nessa época já morávamos na Rua Beatriz, na Vila Madalena,
em uma vilinha de casas chamada “Vila Cristóvão Colombo”composta por cinco
casas. Lembro-me que minha mãe leva-me à creche que ficava em frente à Igreja
do Calvário, na Rua Cardeal Arcoverde. Ali eu passava o dia inteiro, minha mãe
trabalhava como empregada doméstica.
Como o senhor ia da sua casa até
o local de trabalho do seu pai?
Ia a pé até o ponto de bonde na
Vila Madalena, ali apanhava o bonde, Meu pai dava-me o dinheiro da passagem do
bonde, na época ainda era o bonde aberto, até o cobrador chegar ao local onde
eu estava, o bonde estava subindo a Rua Teodoro Sampaio, eu era molecão,
saltava do bonde em movimento, o dinheiro destinado a pagar o bonde ficava
comigo. Houve uma época em que morei com meus pais na Rua Teodoro Sampaio antes
do Largo da Batata, eu tinha um padrinho que era dentista, o Odilon de Souza.
Um dos seus primeiro ofícios qual
foi?
Fui trabalhar na Brindes Brasil,
ficava na Rua Xavier de Toledo, ao lado do Mappin. Na época foi lançado um
cinzeiro com o formato da caminhonete DKW, chegamos a vir vender aqui em
Piracicaba. De lá fui trabalhar como ajudante de funileiro e pintura. Depois
fui trabalhar como ajudante de mecânico em uma oficina mecânica situada a Rua
Vital Brasil, no Butantã. Naquela época existia muitos carros da marca
Morris, o cambio era na alavanca de
direção. Tínhamos aqui em Piracicaba “carro de praça” hoje chamado de taxi, em
sua maioria era o famoso “Biriba”, um carro Mercedes-Benz, a diesel, com motor
de dois tempos. O Simca fazia muito sucesso na época.
O Simca era um automóvel de
mecânica complicada?
Não. Era um veículo com três
marchas. Era bom, andava bem rápido. Suspensão boa. Quem tinha um Simca era
sinal de que o proprietário tinha dinheiro. O Simca Rally era luxuoso. Após um
ano trabahando fui convocado para alistar-me no serviço militar ali a na Rua Maria Paula (baixos do Viaduto
Jacareí). Fui dispensado por excesso de contingente. Com 18 anos viemos morar
em Piracicaba, tinha um tio que tinha uma casa para alugar aqui. E para arrumar
serviço? Meu tio tinha um caminhão que retirava terra. Só encontrei esse
serviço. Pense: “- Vou encarar!”. O caminhão dele era um basculante, carroceria
alta, um Ford 1946, a gasolina.
Ford 1946 - Carroceria de madeira
Meu tio ensinou-me a dirigir, o caminhão tinha quatro marchas, a alavanca de câmbio não parava no lugar, tinha que calçar com o pé. Tinha também a marcha reduzida. Carregava areia retirada do Rio Piracicaba, próximo ao trampolim que existia na época. Carregava tudo com a pá. Areia molhada, O bom é que na hora de descarregar era só erguer a caçamba. Quando foi feita a antiga agência do Banco do Brasil, ao lado do Hotel Central, situada na Praça José Bonifácio esquina com a Rua Moraes Barros. Tirei muita terra dali, havia muitas pedras grandes, aquelas pedronas chamadas “de fogo”. Nessa época meu pai adoeceu, voltou para São Paulo e eu o acompanhei. Meu pai faleceu. Fui trabalhar no Instituto de Psiquiatria de Guarulhos. Era enfermeiro.
Ford 1946 - Carroceria de madeira
Meu tio ensinou-me a dirigir, o caminhão tinha quatro marchas, a alavanca de câmbio não parava no lugar, tinha que calçar com o pé. Tinha também a marcha reduzida. Carregava areia retirada do Rio Piracicaba, próximo ao trampolim que existia na época. Carregava tudo com a pá. Areia molhada, O bom é que na hora de descarregar era só erguer a caçamba. Quando foi feita a antiga agência do Banco do Brasil, ao lado do Hotel Central, situada na Praça José Bonifácio esquina com a Rua Moraes Barros. Tirei muita terra dali, havia muitas pedras grandes, aquelas pedronas chamadas “de fogo”. Nessa época meu pai adoeceu, voltou para São Paulo e eu o acompanhei. Meu pai faleceu. Fui trabalhar no Instituto de Psiquiatria de Guarulhos. Era enfermeiro.
Era um lugar terrível?
Os internos eram levados pela policia. Era um serviço muito
delicado, um dos problemas era impedir que os internos se despissem. Eram dois
andares, no andar superior ficavam as mulheres.
Isso no tempo da “terapia” do eletrochoque?
A eletroconvulsoterapia (ECT), também conhecida por eletrochoques, é um tratamento psiquiátrico no qual são provocadas alterações na atividade elétrica do
cérebro induzidas por meio de passagem de corrente elétrica. Tinha que segurar o
paciente, colocava-se um pano em sua boca para que não mordesse a língua, o
enfermeiro aplicava na cabeça uma corrente elétrica de 110 volts. O aparelho
tinha a aparência de um controle remoto com uma esfera na extremidade, era
encostada na cabeça do paciente. Era uma cena muito difícil de assistir.
Como enfermeiro o senhor fazia de tudo?
Fazia de tudo, dava banho, levava os remédios que eles
tomavam lá que aprendi a aplicar injeção. Tirava amostras de sangue.
Havia muitas pessoas qualificadas que eram internadas?
Tinha pessoas com ofício definido, pintores, marceneiros, só
não podiam dar ferramentas nas mãos deles pelo risco que ofereciam. Havia um
alto índice de alcoólatras. Assim que eram internados geralmente eram amarrados
na cama, eles corriam o risco de caírem da cama e sofrerem alguma fratura.
Chegavam bem alterados. Tinham delírios, viam criaturas inexistentes. Os
médicos receitavam a medicação e aos enfermeiros cabia cumprir as regras e dar
os remédios. A roupa deles era carimbada cada um com seu próprio número. Eles
se desentendiam por causa de roupas.
Permaneci nesse hospital um ano.
Era comum o interno ficar cantando, dizendo palavras
desconexas?
Isso existia! Cantavam as músicas da época como as de
Francisco Alves, Isaurinha Garcia. Cantavam no pátio. Muitas vezes tive que
carregar o interno até a sua cama, alguns eram pessoas muito pesadas.
Imobilizava-o com faixas. A enfermeira trazia o remédio, dava-lhe um
“sossega-leão”, a pessoa acalmava-se e dormia. As famílias visitam os internos,
com exceção do primeiro domingo, dia em que não havia visita.
Quantos pacientes tinham nesse hospital?
Na minha ala eram 30. Havia 40 alas, totalizando 1.200
internos. Trabalhei também no Instituto de Psiquiatria da Vila Formosa, que
tinha sido u convento de freiras. Tinha uma unidade do hospital em Tupã,
trabalhei lá também. Eu trazia paciente de São Paulo para Piracicaba, no então
Cesário Mota, a maior incidência era de alcoólatras. Era comum entre nós
enfermeiros dizermos em tom de brincadeira: “Let's Go
to Tupã!” quando tinha que remover um interno até aquela cidade. A coisa pegou de tal forma
que no fim até os internos iam cantando esse refrão dentro da perua Kombi.
O senhor ia dirigindo uma Kombi
cheia de alienados?
Tinha um enfermeiro que
acompanhava, e eram medicados antes de viajarem. Os internos mais trabalhosos
eram os de Santos, geralmente estivadores, pessoas com grande força física.
Entravam na perua protestando, falando palavras de baixo calão. Nós
procurávamos acalmá-lo, tinha alguns enfermeiros que para relaxar diziam: “
Let´s Go to Tupã” e lá íamos nós para o Instituto de Psiquiatria de Tupã. Na
época o hospital psiquiátrico de Santos era temido pelo rigor com que tratavam
os internos. Quando encerraram as atividades do Hospital Franco da Rocha os hospitais
congêneres foram fechando.
O serviço de motorista é
desgastante?
É. Para quem tem
cabeça fraca é. O motorista tem que gravar bem as ruas que está passando.
Gravar ruas, travessas e estradas que está entrando. Fui caminhoneiro, viajava
muito para o Nordeste, dirigia um caminhão Mercedes-Benz modelo 1111. Carregava
moenda no Dedini e voltava com sucata de usina. Trabalhei com Alfa-Romeo,
modelo novo, na Concrepav, em Piracicaba, A marcha reduzida era no painel. Transportei
bobina de papel para a empresa Rodomeu. Carregava aqui na Klabin e levava para
Santos. Trabalhei na Transportadora Lubiani, com o Antonio Lubiani. Lá eu
trabalhei com carreta, Scania 110.
Dizem que a Scania é excelente,
mas tem que ser delicado ao dirigir.
Tem que ser
delicado com ela. Não pode ser bruto.
Quantas marchas tem uma Scania?
São 10 marchas.
São 5 marchas normais e mais 5 reduzidas. Eu descia a Serra de Santos em décima
marcha, a mão só no “Maneco” (freio de mão que trava o veículo). Quando chegava
ao Jardim Casqueiro a roda estava quase pegando fogo! Descarregava no depósito
e subia com container. O caminhão Scania tem um botão que solta o terceiro
eixo, para fazer manobras, ele desalinha, a carreta tem um freio na mão,embaixo
do volante, o cavalo o freio é no pé. Dirigir é uma arte.
O senhor trabalhou como motorista
em São Paulo, com qual carro?
Fui motorista de
frota em São Paulo, dirigia um Volkswagen conhecido como “Zé do Caixão”, é um
modelo quatro portas, era verde garrafa. Era um bom carro. Trabalhava a noite
toda, para de manhã entregar o carro e a féria, tinha uma percentagem do valor
apurado. Tinha que trabalhar muito. Os lugares bons de arruar passageiros era a
Estação da Luz, a rodoviária.
Foi quando o senhor decidiu mudar
de profissão?
Em Piracicaba fui trabalhar como
taxista, meu ponto era no Jardim Brasil. Não parava, era o dia inteiro para
cima e para baixo. Naquela época tinha charretes que faziam o serviço de taxi
ali no Jardim Brasil, só que custava mais caro do que o taxi feito pelo carro.
Eu trabalhava com um Simca, o dono do carro ia todo dia à minha casa buscar a
féria do dia, na época, morava com a minha mãe.
Como o senhor conheceu a sua
futura esposa?
Eu deixei de trabalhar com o taxi
e fui trabalhar na Empresa Marchiori, no ônibus circular, o cobrador era o
Dino. Eu fazia a linha de ônibus que passava pela Rua São João, lá é que ela
tomava o ônibus. Fiz sinal para o cobrador, para dizer à aquela moça que eu
queria falar com ela. Ela veio conversar comigo e assim passamos a namorar.
Em que local foi o casamento?
Foi celebrado pelo Padre Jorge ,
na Igreja da Vila Rezende a 27 de novembro de 1975. Fomos morar na Rua Zeferino
Bacchi, na Paulicéia. Continuei trabalhando na Empresa Marchiori, depois sai e
fui trabalhar na Empresa Monte Alegre, com ônibus de turismo. Trabalhei com a
Empresa Paulicéia que fazia a linha Paulicéia, Monte Alegre.
Foi um período difícil de dirigir
ônibus?
Eram veículos que exigiam muito
do motorista. Até a alavanca do câmbio chegava as vezes a sair em minha mão.
Lembro-me quando o Marchiori adquiriu dois veículos, o de número 37 e o 38,
monoblocos, motor traseiro. Era outra vida. No período de Natal os moradores da
Vila Independência vinham passear na Praça José Bonifácio, no centro da cidade,
o ônibus vinha lotado. Os passageiros eram educados, respeitavam o motorista.
Havia alguns engraçadinhos que davam o sinal com o pé, eu simplesmente seguia
em frente. A garagem da Viação Marchiori era na Rua Tiradentes, na época a
empresa tinha cinco ônibus, para estacionar na garagem era um vãozinho pequeno.
Dava um trabalho danado para estacionar naquele espaço diminuto. O primeiro
ônibus começava a circular às cinco horas da manhã, as quatro e meia os
motoristas eram conduzidos por um ônibus que tem um apelido muito conhecido
”Negreiro”, uma referência aos navios que transportavam os escravos. É um termo
conhecido e utilizado em quase todo o Brasil.
De lá o senhor foi trabalhar na
Prefeitura Municipal de Piracicaba?
Acredito que foi em 1989, o
prefeito era Adilson Benedito Maluf, estava em seu segundo mandato. Passei a
ser motorista do prefeito. O Adilson estava assumindo, havia um grande número
de pessoas na Praça da Igreja São Benedito, ele entregou-me a chave do carro e
disse-me para ir buscar a primeira-dama, Rosa Maria
Bologna Maluf, foi ela quem criou a Festa das Nações,
inicialmente funcionava no Lar Fransciscano de Menores. Era um automóvel Ford Galaxie marrom capota preta, automóvel com três marchas, a
gasolina.
O senhor usava uniforme?
Usava roupa social. Depois passei a usar um conjunto
safári. O prefeito Adilson às vezes ia sentado no banco traseiro outras no
banco do passageiro ao lado do motorista. Ele conversava muito sobre
engenharia. Percorria todas as obras, viajava pelo interior do estado.
O senhor conheceu muitos políticos famosos?
Conheci! Uma ocasião eu levei o Ulisses Guimarães para a
sua casa em Pinheiros, São Paulo. Conheci Guilherme Afif Domingos, Orestes
Quércia, Luiz Antônio Fleury Filho Lembro-me de Fernando Henrique Cardoso que veio dar uma
palestra na Unimep. Na época a prefeitura tinha um automóvel Corcel, levei o
Fernando Henrique Cardoso com esse Corcel até a sua residência em São Paulo, no
Pacaembu. O Deputado Pacheco Chaves e o deputado Francisco Antonio Coelho, o
Coelhinho, sempre estavam sendo transportados em veiculo que eu dirigia. Eram
pessoas muito boas. Nessa minha profissão conheci muitas pessoas de expressão
política. A cachaça de Piracicaba sempre foi famosa, as vezes levava como
presente a algum conhecido, pegava um corotinho de madeira com o Seu Armando e
levava a tão apreciada cachaça de Piracicaba.
Após o término do mandato do Prefeito Adilson Benedito
Maluf o senhor foi trabalhar em qual departamento?
Fui trabalhar na Rádio FM Municipal. Jamil Netto era o
diretor. Em seguida fui trabalhar como motorista do presidente da EMDHAP – Empresa Municipal de Desenvolvimento
Habitacional de Piracicaba, José Maria Teixeira. Trabalhei também como motorista do
Secretário de Obras Walter Godoy.
O senhor aposentou-se quando?
Foi quando tive
um AVC, por volta de 2008.
O senhor quando foi motorista do
prefeito Adilson Benedito Maluf chegou a ter algum problema mecânico com o
automóvel?
Tive, com o Ford Galaxie Landau, dentro do túbel da Avenida Nove de Julho, o
cachimbo e ignição estragou, o prefeito estava dentro do carro. Peguei um taxi,
desci a Avenida Nove de Julho até o seu final, no Itaim, encontrei uma oficina,
expliquei o caso, ele pegou uma tampa do distribuidor, fomos até o carro
quebrado, ele trocou a peça e pronto, já estávamos a caminho do nosso destino.
O Adilson permaneceu no carro esse tempo todo. Não tinha outra saída. Ainda
mais dentro do túnel.
O prefeito Adilson Maluf trouxe a Caterpillar para Piracicaba,
projetou o anel viário, asfaltou a estrada de Anhumas. Foi um prefeito muito
dinâmico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário