PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 05 de outubro de 2013.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 05 de outubro de 2013.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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http://blognassif.blogspot.com/
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ENTREVISTADO: ALEXANDRE SABINO NETO
Alexandre Sabino Neto é médico
cardiologista clínico e cirurgião. Seu avô Alexandre Sabino (houve um aportuguesamento:
a grafia e a pronúncia da palavra foram adaptadas para o português), veio do Líbano
por volta de 1897 Sua avó Nagibe ( Nagibe com a letra “e” é feminino de Nagib),
veio da Síria, casaram-se em Ribeirão Preto, ambos tinham imigrado para o
Brasil e chegaram ao país através de Belém do Pará, de onde seguiram para
Santos e em seguida para Ribeirão Preto onde permaneceram até os idos de 1912.
Lá tinham um comércio a Loja Verde, ficava na Rua Saldanha Marinho. Nascido a
10 de fevereiro de 1959, Alexandre Sabino Neto é filho de Aniz Sabino e Thereza
Pereira Sabino, descendente de italianos e portugueses. Seu pai era comerciante
na cidade de Penápolis onde abriram uma loja por volta de 1925 e a mantiveram
até a pouco tempo, eram sete irmãos, foram falecendo.
O senhor tem irmãos?
Tenho mais dois irmãos, que
também são médicos, Roberto Sabino em Ribeirão Preto e Jorge Sabino no Rio de
Janeiro. Somos três operários médicos.
A sua permanência em Penápolis foi até que
idade?
Vivi em Penápolis até meus 16 ou
17 anos, ai fui embora para São Paulo. Em Penápolis fiz escola primária,
ginásio e colégio, minha primeira professora foi Dona Maria Amélia Uriguela,
vizinha da minha casa até hoje. Lá mantenho um consultório. Fiz o ginásio no
Colégio Estadual Carlos Sampaio Filho, que foi médico em Penápolis. Pratiquei
esportes como basquete, vôlei. Mais tarde joguei nas InterMeds, torneio entre
faculdades de medicina. Sempre estudei muito, a partir do primeiro colegial
comecei a estudar fervorosamente para entrar na USP – Universidade de São
Paulo. Tanto é que saí do colégio e entrei na USP, o terceiro ano colegial fiz
junto com o Curso Objetivo em São Paulo, na Avenida Paulista, em 1976. Prestei
o vestibular, foi o primeiro da Fuvest, eram questões dissertativas, nunca
imaginei que fosse passar, eram 59 candidatos para cada vaga.
O que o motivou a escolher a medicina como
profissão?
Desde criança já tinha esse
pensamento em tornar-me médico. Meu tio Mario Sabino, que se tornou o nome da
rua onde tenho o consultório, era médico. Sempre convivi com ele, seu
consultório ficava em frente a minha casa, era na época dos médicos de família,
um período muito romântico, muito bonito. Meus pais sempre nos incentivaram a
sermos médicos. No primeiro ano colegial tive uma pequena inclinação para a
aeronáutica, mas decidi que ia estudar medicina. Após todo o meu preparo, após
a faculdade, fiz 10 anos de residência médica.
O senhor fez medicina em qual faculdade?
Na USP em Ribeirão Preto. São
seis anos de curso. Fiz mais um ano de cirurgia geral, logo em seguida comecei
a desenvolver na área de cirurgia cardíaca. Fiz residência de cirurgia
cardíaca, fui trabalhar com o Dr. Adib Jatene em São Paulo, realizei seis anos
de residência em cirurgia cardíaca e mais quatro anos em transplante cardíaco,
de 1989 até 1995. Nessa época morei no Edifício Copam, no Bloco F, no centro de
São Paulo. O apartamento era da minha família. Isso na época em que muitas
famílias do interior tinham apartamento em São Paulo. Permaneci morando ali até
1987, acabei me casando com a médica Valéria Braile e fomos morar em frente ao
Hospital Emílio Ribas, próximo ao Incor (Instituto do Coração do
Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). Dessa união nasceu a nossa filha Sofia que está se preparando para entrar
na faculdade de medicina. O pai da Valéria, Dr. Domingo Braile, também é
médico, pioneiro na produção de máquina de circulação extracorpórea, circulação
artificial, oxigenadores (pulmão artificial), próteses, ele é da época do Dr.
Zerbini, Dr. Jatene, é um médico muito conhecido.
O senhor trabalhou com
Dr. Euryclides de Jesus Zerbini?
Trabalhei
pouco com ele, logo que cheguei a São Paulo, em 1985. Era uma figura muito
expressiva no meio clínico, um desbravador, para explorar a cirurgia cardíaca
naquela época foi uma luta, muitos médicos americanos vinham sempre ao Brasil,
assim como veio Dr. Christian Barnard, conheci todos eles.
Após dez anos de
residência médica com Dr. Adib Jatene, qual foi a sua próxima etapa?
Fiquei como
assistente por um período. O 1º
transplante cardíaco na América Latina (17º no mundo), foi realizado no
Hospital das Clínicas em São Paulo, Brasil, pelo Dr. Euryclides de Jesus
Zerbini no dia 26/5/1968. O receptor foi um homem de 32 anos, o João Boiadeiro.
Como é
o Dr. Adib Jatene?
Dr.
Adib é um trator para trabalhar, um operário infalível, que trabalha
incessantemente. Aprendi muito com ele
nesse aspecto: “Meu nome é trabalho”. Ele é extremamente criativo, inteligente,
participativo, de pouca conversa. Focado o tempo todo em trabalhar. Nunca vi
Dr. Adib com atividade social, nenhuma. Aprendi a escutar o programa de rádio
“Hora do Brasil” com ele, estávamos sempre operando a noite e acabava escutando
“Hora do Brasil”. Eu escuto “Hora do Brasil” até hoje! Tenho o habito de
escutar jornalismo o tempo todo. Gosto muito de leitura. O Dr. Adib transporta
para quem o cerca, a capacidade do trabalho, o próprio Dr. Zerbini também
falava isso: “-Nada resiste ao trabalho”. A medicina só se aprende trabalhando.
Há a necessidade de estudar, mas se não estiver vendo o paciente em sua frente,
pondo a mão no paciente, auscultando o paciente com o estetoscópio, examinando
com o otoscópio, fazendo a semiologia médica (Exames e avaliações físicas para o correto
diagnóstico de patologias e afins), operando, se não fizer isso jamais saberá
exercer medicina. Para tratar o paciente é necessário saber fazer o
diagnóstico. Encaro os exames como sendo a documentação da semiologia médica,
que é o exame físico, clínico. Exames complementados com a semiologia fica
fantástico. Irá chegar precisamente em um determinado diagnóstico. Não pode
ficar dependente cem por cento dos exames. Existe um termo muito utilizado em
medicina: “ A clínica é soberana”. Tenho um paciente de Salto de Itú, que me
procurou por ouvir dizer que eu era um médico indicado para seu caso. Sem exame nenhum disse-lhe: “- O senhor tem a
coronária obstruida!”. Disse-lhe isso por causa da sintomatologia bem clássica.
Ele ia caminhar de cinco a dez metros tinha dor no peito, qualquer tipo de
esforço fisico dava-lhe dor no peito. Na asculta do coração não aparentava nada
valvular, a precordalgia, algia do precórdio, tinha discreta cianose labial,
(lábios roxos).
O senhor costuma viajar para o exterior em jornadas médicas?
Sempre participei muito de congressos, quando realizados no exterior
principalmente nos Estados Unidos. Geralmente acabava ficando alguns dias a
mais em alguma clinica ou hospital.
Em que locais o senhor tem consultório atualmente?
Estou em Piracicaba, Salto de Itú, Penápolis e eventualmente em São Paulo.
Isso foi ocorrendo de uma forma natural. Quando saí de São Paulo e fui morar em
Penápolis novamente, pensava em desenvolver um hospital. Cheguei a construir um
hospital. Só que optei em fazer tudo com recursos próprios, e medicina não
funciona bem assim, hospital é caro, medicina é cara. Envolve investimentos
muito grandes. Medicina é uma atividade muito sedutora, mas tem se tomar muito
cuidado com a saúde mental do profissional. As pessoas entregam a vida ao
médico, o que ele falar é lei. Chegou uma paciente com dor no peito, digo-lhe
que não é coração, é uma dor epigástrica, esofagite, fique sossegada, vou lhe
dar tal remédio, vou lhe curar. Estou sendo extremamente imperativo. Só que vou
fazer alguns exames para fazer o diagnóstico diferencial, o eletro-cardiograma,
para provar que não é, tanto para mim como para você. Essa imperatividade é que
eu acho um pouco perigosa. Sempre me coloco no lugar do paciente. Tenho que ser
verdadeiro, oferecer segurança.
Há uma corrente de pensamentos que diz que determinada doença ocorre em
função do que a pesssoa mentaliza. O senhor concorda com isso?
Eu acredito, lógico, nesse aspecto de corrente psicosomática. O ser humano
é um conjunto de massa, um ser orgânico, que por sua vez tem um campo
magnético, esse campo magnético você pode chamar de alma, espírito, ogum,
oxalá, como quiser chamar. Um copo tem uma massa, tem um campo magnético. Toda
massa tem um campo eletro magnético. Tudo aquilo que você mentaliza você tende
a puxar. Por exemplo: “-Eu quero aumentar o meu sucesso”. Eu vou focar o meu sucesso. Voce passa a
criar um caminho. Mas o que é o sucesso? Ficar rico? Ter resultados? O que é a
prosperidade? O que é ser rico? Por dinheiro embaixo do colchão ou ter uma
relação entre custo e benefício positivada? O que é qualidade de vida? O que é
satisfação de vida? Existe uma série de conceitos que você tem que ir
estabelecendo para que inclusive possa transmitir para as pessoas. Como médico
inevitavelmente vejo o lado social da coisa. Tenho que transmitir salubridade
para as pessoas. Algo positivo, bom. Para que a pessoa absorva a energia
positiva. E sinta segurança. Se você mentalizar um câncer irá ter um câncer.
Partindo desse princípio não deveríamos assistir programas policiais em
rádio ou televisão.
Eu os anulo. Costumamos dizer que o
povo gosta de ver sangue. Porque causa emoções. Costumo dizer que existe
emoções positivas agradáveis. Temos que partir da premissa de que temos que ser
uma pessoa simples, humilde. Para que você possa achar bonita uma orquídea. Não
precisa ser fanático por orquídea, ter um orquidário. É o simples ato de olhar
para uma orquídea e encher seus olhos, encher a sua alma. Um bom papo com os
amigos. Sou muito novo na cidade, estou apenas a um ano e meio aqui em
Piracicaba, meus amigos sempre me chamam,: “-Alexandre, vamos sair, vamos
conversar!”. Eles gostam desse meu lado entusiasmado da vida.
O senhor é uma pessoa empolgada pela vida?
Sou, é bom desfrutar os prazeres com as pessoas, moro aqui no Hotel Beira
Rio, os funcionários gostam de mim. Brinco, converso com todo o mundo. Desde os
cargos mais simples até a diretoria.
O senhor é religioso?
Sou católico, praticante, muito rezador. Acho fantástico o exemplo que o
Papa Francisco está dando. Acredito que nós todos temos que ter esse nosso lado
espiritualista, para que exista os principio de começo,meio e fim. Acho
importante que haja religiosidade independente de qual for a religião.
Essa opção do senhor em morar em um hotel é pela praticidade?
A minha mãe mora comigo. Aonde vou sempre a minha mãe está comigo. A
família toda faleceu com o passar do tempo, sobrou praticamente eu e ela, que é
uma pessoa empolgada pela vida. Temos que dinamizar a vida dela também. Não
posso simplesmete colocá-la em um apartamento e dizer que tem uma pessoa que
irá viver com a senhora, tenho as minhas atividades profissionais e de vez em
quando irei fazer uma visita à senhora. Não concebo isso. Tenho que criar um
certo dinamismo. Eu poderia estar alugando um apartamento, gastaria o mesmo valor
ou talvez menos, mas aqui dentro deste hotel há um dinamismo todo. Essa
dinâmica magnética é que acho interessante. Existe hotéis por ai que possam até
ser melhores, mas não tem vida. Não tem com quem conversar. Nada acontece. Aqui
há um fluxo de pessoas de todos os tipos, do mundo todo, americanos, europeus,
latinos, sempre tem uma festa, um casamento. Sempre acreditei muito nesse
encanto. Do seu viver. Do seu dia a dia.
O senhor conhece o Lar dos Velhinhos em Piracicaba?
Conheço, achei fantástico, inclusive tem uma senhora de Penápolis que mora
lá. Dona Abadia Nobre. Ela foi fazer uma consulta, na hora em que a chamei pelo
nome, chorei.
O senhor chora?
Choro, e não precisa muito para me fazer chorar. A vida é muito intensa,
lido muito tempo com grandes emoções das pessoas. Quando vi Dona Abadia, passou
pela minha frente o filme da vida. Toda vez que vejo o filme Cinema Paradiso eu
choro. Lembro muito do meu pai, que mexia muito com fotos e cinema. Só que
amador. Nós temos até hoje uma Payard Bolex, uma máquina
fotográfica da época da Segunda Guerra uma Kodak Medalist, ele ganhou premio na
Espanha, Holanda, em fotografia em branco e preto. Além de músico. A família
toda gostava de música. Eu sempre toquei piano, acordeom. Na época da Segunda
Guerra Mundial eles tinham a orquestra Jazz Sabino.
O senhor é motociclista?
Sou, tenho uma motocicleta Yamaha V-max1200. Gosto muito de avião. Na década de 90 fui médico do
Grande Prêmio Fórmula-1 pela Unicor, fiquei na curva 3, nunca me esqueço,
permaneci três dias lá: sexta, sábado e domingo. Conheci Airton Senna, Emerson
Fittipaldi, Nelson Piquet. Nessa época eu estava terminando a residência no
Incor. Foi ai que acabei criando a minha empresa, Ascor- UTI no Ar. Sou piloto
de avião também. Com a minha empresa acabei dando assistência médica em outras
corridas em Interlagos, como as de moto velocidade, Fórmula Uno, Fórmula Corsa,
Mil Milhas, nos transportes aero médicos que eu fiz, com helicóptero, avião. O
avião permanecia locado em São Paulo e eu ia buscar doentes em todo e qualquer
canto do mundo. Levei doente para Roma. Nesse caso eu levei em avião de
carreira, pela Alitália, isolei nove poltronas, coloquei os tubos de oxigênio,
coloquei um tipo de uma cortina, o americano chama isso de iglu. Era um menino italiano,
de 20 anos, tinha tido uma overdose de cocaína, fez uma parada cardíaca na
frente do Hospital Israelita Albert Einstein, reanimaram, ele saiu
tetraplégico, fez uma isquemia cervical, dependente de um respirador
artificial, para ser transportado para a Itália tinha que ser transportado com
um respirador que eu levei. Foram onze horas de viagem. Na Itália ele ia
implantar o marca-passo diafragmático que estava iniciando na época. É o
marca-passo que faz a pessoa respirar, dá o movimento do diafragma, de ida e
volta.
Quais as conseqüências do tabaco para o
organismo humano?
O tabaco indubitavelmente é
deletério (Nocivo a saúde; venenoso), principalmente no aspecto
pulmonar. O cigarro tem uma série de substâncias que causam rapidamente uma
dependência, além de ser extremamente nocivo, criando o que chamamos de
enfisematoso, causa DPOC (Doenças
pulmonar obstrutivas crônicas). Vai atingir o coração que é a bomba do corpo,
são duas bombas, uma de alta pressão e outra de baixa pressão. Uma vez mexendo
com o aspecto cardiovascular, pressão que sobe, pressão que desce, o coração
irá sentir, é a mesma coisa que andar com um carro com dois ou três dentes do
freio de mão puxado. O carro está fazendo força nas bronzinas, nas bielas. nos
anéis, freios, disco, pastilhas. É a mesma coisa que ocorre com o coração. O
carro DKW Vemaguete tinha uma alavanca do lado esquerdo que dava a tal de roda
livre. Sempre costumo dizer que para tratar bem, ter um bom prognóstico de
doenças cardiovasculares tem que dar roda livre para o coração, ele tem que
trabalhar livre. Sem oposição, sem encontrar resistência. Essas doenças são
muito coligadas com esse aspecto mecânico, ou hidrodinâmico, que é o
comprometimento cardiovascular de uma maneira sistematizada.
O senhor é piloto de qualquer tipo de avião?
Sou piloto de avião motor, a pistão como chamamos.
Helicóptero eu gosto com reservas, oferece mais riscos. Nunca me esqueço que
fui buscar uma criança em João Pessoa com um avião monomotor Bonanza, em vôo
noturno, com chuva. Eu estava com um piloto, como médico sempre tenho um piloto
junto. Trouxemos essa criança, um recém nascido com problemas de coração, para
Vitória, Espírito Santo. Na Copa do Mundo na Califórnia fui buscar uma pessoa
que sofreu um AVC (derrame). Vim em avião de carreira também. Para Nova Iorque
fui várias vezes, levei pessoas notáveis, uma criancinha. A família do
Chitãozinho mesmo eu fui buscar uma vez que tiveram um acidente em Assis. Na
época fomos buscar com três aviões, eles estavam em um veículo Lumina que ficou
prensado entre duas carretas. Isso foi em 1992 se não me engano. Trouxemo-los
para a Beneficência Portuguesa, em São Paulo.
O Hospital Beneficência Portuguesa é uma referência
cardiológica?
É referência mundial. É o hospital que mais opera coração
no mundo todo. Chegou a operar 45 cirurgias cardíacas por dia. Sempre acumulou
muitas equipes médicas, até 15 equipes médicas. O Dr. Antônio
Ermírio de Moraes sempre foi um apaixonado por medicina. (O
empresário sempre dedicou parte de seu tempo à Sociedade
Beneficência Portuguesa de São Paulo, uma hora e meia todo dia). Ele
investiu muito no hospital, tem um prédio da Beneficência Portuguesa que é um
luxo, sendo que a prevalência da Beneficencia Portuguesa sempre foi
previdenciária. Cerca de noventa por cento. Até hoje funciona assim. Eles
trocaram sete máquinas de hemodinâmica a pouco tempo, cada uma custando cerca
de um milhão de dólares. Tudo lá é de última geração. A maneira que eles
trabalham a cada dia que passa é uma sistematização muito segura para o
paciente.
O que o senhor pensa sobre a vinda
dos médicos cubanos?
Não sou totalmente contra. Eles tem
o preparo deles. Trabalham mais no lado profilático, que é o previdenciario.
São médicos de profilaxia de doenças básicas. Está tendo um problema economico,
o médico brasileiro tornou-se um operário, achatou a classe médica, e os
médicos nem sempre estão se sujeitando a ir para lugares onde esse pessoal está
indo com muita dificuldade. Até mesmo eles já estão desistindo. É um fato político,
economico e da saúde. Diante de uma
situação dessas algum resultado positivo tem que haver. O governo achava que
iria ter uma adesão magnífica deles, o que não está ocorrendo, isso porque as
condições oferecidas não são satisfatórias. Vai ter que ser tomada uma atitude
para melhorar as condições de atendimento.
O senhor acha que o governo precisa
investir mais em saúde?
Não tenho a menor dúvida. Tem que
existir um vigilancia maior. Estamos em um grande centro, como é Piracicaba por
exemplo. Piracicaba hoje é uma bolha economica. É a bola da vez. Esse eixo,
Piracicaba, Americana, Campinas, Sorocaba, é o “Vale do Silício” que se fala. (Na
Califórnia, Estados
Unidos, é uma região na qual está situado um conjunto de
empresas, acabou virando sinônimo de centro de tecnologia). Trabalho aqui nessa
área previdenciária, vejo que existem dificuldades que fogem no meio dos dedos
dos governantes.
Por qual motivo essas dificuldades
fogem ao controle do poder constituido?
Ai vem a parte complexa da coisa.
Mesmo em cidades pequenas, como é a minha cidade de Penápolis, também fogem nos
meios dos dedos dos governantes, as vezes é a parte economica, as vezes não
consegue criar o clima dinâmico de regularidade. O bom na medicina é a
regularidade médica. Por exemplo, escala de médicos de plantão, da noite para o
dia fura tudo. Um ficou doente, outro quebrou o carro, outro a mãe ficou
doente, ou o filho caiu da cama. Essa dinamica do dia a dia que gera stress nos
profissionais da área médica, não ocorre só com o médico, mas também com a
enfermeira, a auxiliar de enfermagem, o motorista da ambulância, o coordenador
da escala de plantão, o próprio secretário da saúde. Todo esse conjunto na área
médica tem que ter uma regularidade.
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