domingo, dezembro 27, 2015

WILSON TEODORO







PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS 
JOÃO UMBERTO NASSIF 
Jornalista e Radialista 
joaonassif@gmail.com 
Sábado 26 de dezembro de 2015.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana 
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/ 




ENTREVISTADO: WILSON TEODORO


Wilson Aparecido Teodoro nasceu a 10 de maio de 1971 em Piracicaba. Filho de Wilson Antonio Teodoro e Guiomar Flores Teodoro que tiveram ainda os filhos Fabiano e Fernando. A família residiu sempre no bairro Paulicéia. Wilson atualmente é empresário ligado ao ramo das artes marciais na Academia Company Top Fight, Coaching da Confederação Brasileira de Kickboxing. Para todos os eventos no território nacional e internacional. Wilson Teodoro é um Mestre de Artes Marciais.

Você é técnico contratado por diversas entidades esportivas quando são realizados eventos?
Sou contratado pela Selam - Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Atividades Motoras. Quando você passa a ser um treinador que ganha muitos prêmios, automaticamente a Federação vai colocando você como técnico, quando vamos disputar pelo Estado de São Paulo eu sou o técnico de São Paulo.
Você estudou aqui no bairro mesmo?
Estudei na Escola Estadual Professor Antonio de Mello Cotrim até a oitava série. Minha primeira professora foi Dona Marta. A seguir fui estudar química no Anglo Piracicaba. Foram quatro anos, fiz simultaneamente o curso colegial.
Você seguiu a carreira de Técnico em Química?
Nessa época eu já estava desenvolvendo-me como atleta e simultaneamente fiz estágio na ESALQ onde trabalhei no laboratório de solos. Meu chefe era o Professor José Alexandre Melo Demattê. Pelo fato de ser perfeccionista, foram me segurando dentro do laboratório. Nesse trabalho fiquei por três anos. Eu sabia fazer todos os processos do laboratório, de análise foliar até análise de adubo.
Você não pensou em seguir carreira nessa área?
Pensei, mas o Estado não podia ficar comigo, o Conselho Regional de Química não admitia a minha permanência como estagiário por tanto tempo, eu teria que ser funcionário do Estado. Na época houve uma mudança na chefia do departamento e eu sentia que não era visto com muita simpatia pela nova chefia. Mesmo eu sendo um funcionário pontual e extremamente dedicado. Cheguei a fazer os corpos de provas repetidamente por cinco vezes para que reconhecessem que eu sabia de fato o que estava fazendo. Fiz análises com 1% (um por cento) de erro, sendo que a tabela permitia até 10% (dez por cento) de erro. Permaneci lá de 1991 a 1993. Em 1993 fui contratado pela Caterpillar. Minha intenção era trabalhar no laboratório de metalurgia. Fiz o curso de metalurgia na Metalúrgica Bom Jesus. Fui contratado como rebarbador de peças. Conheci como é o ambiente em uma grande empresa, o fato de eu ter uma disciplina marcial me auxiliou muito. Trabalhei por dois contratos, um de um ano e oito meses e outro de um ano e meio. Eu já havia descoberto outros setores dentro da empresa que necessitava de elementos cuja capacitação eu tinha. Fui trabalhar no que era chamado de rolete para montar o scraper. Em três meses eu já estava montando a caçamba do scraper. De lá fui trabalhar na afiação de brocas. De lá fui trabalhar com o Jaime, um colega que faleceu em frente a empresa em um acidente de moto. Era um setor estratégico da logística da empresa. Em 1996 sai da Caterpillar. Minha mãe disse-me: “- Você não gosta de luta? Porque você não investe na luta?”
Quando surgiu essa sua atração pela luta?

A primeira luta marcial minha foi capoeira. Isso ocorreu no Jardim Esplanada, era o Mestre Ousado. Ele tinha vindo de Recife. Seu intuito era ficar em São Paulo, tinha vários atletas formados por ele. Ele estudava química comigo, um dia disse-me “–Wilson! Você não quer fazer uma luta?” Eu já praticava musculação desde muito novo. Comecei em 1986. Meu primeiro professor foi o“Maçã”, seu nome era Maciel, era proprietário da academia Hercules. O segundo foi o Rainha. Fui para a Academia Clif Alternativa, situada na Rua Treze de Maio, de propriedade do Bertaglia e do Rainha que acredito ser um dos melhores treinadores de musculação que conheço, aprendi muita coisa com ele. É muito disciplinador nessa parte de musculação. Praticamente o que faço hoje na luta. Quando fiz o Tiro de Guerra em 1990 eu fazia 150 quilos de supino, 200 quilos de agachamento, eu sempre tive um potencial violento na parte de lutas. Quando o meu mestre foi embora para Londres ele queria me levar, ele foi conversar com os meus pais, disse que eu tinha um grande potencial, minha mãe não aprovou, sequer imaginava seu filho em um país tão distante. Foi quando na Clif Alternativa, fazendo musculação chegou um professor chamado Antonio Silva. Ele disse que ia ter uma modalidade chamada Box Tailandês em Piracicaba. Eu via o Box Tailandês no desenho que passava na televisão o Sawamu. Foi ai que ele implantou o Muay Thai que é a mesma coisa que Box Talilandês, Thai Box, Toy Muay,  Box in Tailândia. Existem algumas denominações regionais para ao mesmo esporte. Fui treinar o que na época era mais comum chamar de Box Tailandês. É muito dinâmico e competitivo. Em 1988 fui campeão regional de Muay Thay.

Nessa época você trabalhava também?
Trabalhava na Caterpillar e treinava. Fazia três horas de treino, às vezes saia dali e ia para o Anglo onde fazia alguns cursos de especialização em química. Os treinos eram de segunda a segunda, incluindo sábado e domingo. Muitas vezes fazia quatro horas de treino por dia.  Ele fazia o mesmo tempo de treino que é feito na Europa. O dono da academia é como se fosse seu patrão. Na Tailândia é chamado de Boss ( patrão, chefe, mestre).  Treinava para ser um dos melhores, e para ser um dos melhores tem que treinar muito, muito mesmo.
Tinha alguma alimentação especial?
Como eu já tinha tido como professores o Rainha, o Maçã, eu usava a alimentação da musculação. Eu diluía, porque o nosso exercício é mais aeróbico e não de hipertrofia. Na época não tínhamos as opções alimentares que hoje temos.
A questão da suplementação em determinadas circunstâncias desperta polemicas?
Para alguns atletas de alto nível como o Jhonatan Teodoro de 20 anos, meu filho, o Marcos Roberto Alves de 19 anos, a Isabella Correr Spadotti de 11 anos,a  suplementação é usada perto do campeonato, você não pode viver só de suplementação. O Muay Thay é muito explosivo, o que não se admite é criar a dependência psicológica do suplemento. O corpo não irá agüentar, não irá conseguir processar tão rápido.
Em determinados meios esportivos há uma polemica muito grande com relação aos anabolizantes, também popularmente conhecidos como “bomba”. Qual é a sua opinião?
No Muay Thay não tem nem como utilizar anabolizantes. É uma boa pergunta, porque há generalização de algumas exceções, principalmente em determinado tipo de esporte, onde a recuperação do atleta é muito rápida após uma competição. Nós passamos treinando o ano inteiro para os eventos em um campeonato consegue-se recuperar entre uma disputa e outra, no máximo setenta por cento, jamais voltará a forma inicial rapidamente. Nós necessariamente passamos pelo exame de doping. Se você estiver tomando algum produto que não esteja relacionado em seu exame médico a medalha ganha pode ser contestada. Um simples analgésico para uma dor de cabeça, se não for antecipadamente declarado ao médico, pode ser a causa da perda de uma medalha. Além de multa e punições.
Quando foi a sua primeira luta?
A primeira luta minha foi em 1988, em Campinas, em um evento denominado “Aberto de Thai Box”. Foi quando me sagrei campeão conquistando a medalha de ouro. A próxima foi quando o Antonio fez um campeonato regional aqui em Piracicaba, veio um pessoal de São Paulo, também fiquei campeão na minha categoria. E assim foi a minha ascensão Tenho 1,84 metros de altura e na época pesava 96 a 97 quilos. Minha categoria era peso pesado. Um dia o Mestre Antonio disse: “- Wilson, não vou mais poder dar aulas aqui!”.  Isso tirou o nosso chão. Ele disse que tinha que ir para outra cidade, abrir outro espaço para conhecer a modalidade. Disse que iria nomear alguém para instrutor.  Disse-nos: “Agora vocês vão treinar com meu professor, com quem eu treinei!”. Chamava-se Paulo de Souza Faria Nicolai. Ele me telefonou e pediu que eu fosse até Campinas. A academia ficava na Rua Barão de Jaguara. Quando cheguei já senti o impacto, muitos lutadores, uma academia enorme. Ele então me disse: “- Agora você irá fazer parte da equipe principal! Você será a pessoa que irá dar aulas em Piracicaba. Terá que vir treinar em Campinas, a academia abre de domingo a domingo e o horário está lá embaixo.”
Nessa época você trabalhava em qual empresa?
Trabalhava na Caterpillar. Tomava o ônibus para Campinas em frente a Caterpillar, treinava em Campinas, pegava o ultimo ônibus de Campinas à Piracicaba, se não me engano era o das 23:30 horas. Fazia isso as terças, quinta e sexta feiras e no sábado. Ai chegou um dia que passei a fazer de segunda a segunda. De vez em quando trabalhava na Caterpillar na parte da manhã, pegava um ônibus e ficava lá, só voltava no domingo a noite. Treinava, quando não ficava na casa de amigos dormia em algum hotelzinho ou pensãozinha. Tomava o café da manhã e já entrava na academia, ia até a noite.
Você é casado?
Sou! Minha esposa é Selma Aparecida Paes Teodoro. Temos um filho, Jhonatan Teodoro.
Como ela vê essa agitação toda?
A partir do momento em que ela nos viu em competição ela também passou a ser atleta.
Eu continuei a ir treinar em Campinas, Até chegar a um ponto em que poucos permaneceram treinando, muitos desistiram pelo caminho. Ficamos em uma meia dúzia, que se tornou o conselho da academia de faixa preta. Um dia o mestre perguntou se acreditávamos que o Muay Thay poderia nos proporcionar um padrão de vida confortável. Eu disse-lhe: “Acredito no senhor Mestre!”. Os outros não acreditavam! Ele dizia que tínhamos que ter as nossas próprias academias. Eu fui um dos que foi acreditando. Em 1996 tornei-me faixa preta em Muay Thay. Falei com a minha esposa, meus pais, disse-lhes que a partir daquele dia iria viver da academia, o Jhonatan tinha um ano, ele nasceu a 21 de dezembro de 1995. Comecei a dar aulas na Academia Atlas, do Toninho. Dei aula na Academia Associação Giatti, na academia Athenas Fitness. O Giatti abriu um dos primeiros centros de artes marciais de Piracicaba tinha: Karatê com o professor Giatti, Aikidô com o professor Umberto, Judô com o professor Kleber,  Muay Thay com o professor Wilson Teodoro, Tai Chi Chuan com o professor Ronaldo Massaruto, Kendô, Kenjutsu (luta com espadas), o Zequinha na Capoeira Angola. Formou-se um grupo de professores de artes marciais, isso foi em 1997, ficava em um prédio na Rua Santo Antonio, onde anteriormente tinha sido a Loja Maçônica Piracicaba e mais tarde foi uma escola infantil.
Esse centro de treinamento de artes marciais existe até hoje em outro local ?
Não existe mais. O professor Giatti montou sua própria academia. Cada um foi seguindo o seu caminho. Foi quando decidi montar minha própria academia. Minha primeira academia foi montada em 2010 na Rua Basílio Machado, 2605, no bairro da Paulista.
Você chegou a ir à Tailândia?
Fui para a Tailândia em 2008.
A sua academia ocupa uma área expressiva, existe mais alguma academia na cidade?
Atualmente tem outras academias que são co-ligadas a nossa. Onde atletas meus montaram suas próprias academias. São filiais minhas, onde sou o coaching deles.
Quantos atletas da Company Top Fight existem hoje em piracicaba praticando Muay-Thai?
Na central temos cerca de 200 atletas. Próximo ao SESI deve ter uns 60 atletas. Do Leandro, que é na Vila Rezende são uns 70 atletas. Do João Paulo, na Rua Treze de Maio, no centro, deve ter mais uns 100. Do Gigante, no bairro Santa Rosa devemos ter uns 60 alunos. Jhonatan Teodoro, meu filho, tem em Rio das Pedras uns 80 atletas. Na praça central do bairro Santa Terezinha, aberta recentemente pelo João, tem uns 35 atletas. Na Rua Edgar Lima temos outra academia com mais uns 25 atletas, próximo a madereira Naléssio mais 25 atletas. Na Avenida Rio das Pedras tem mais uns 100 alunos. Totalizando chegamos a cerca de aproximadamente 750 atletas. Temos ainda em Capivari, Tietê, Rafard, Cerquilho, Jumirim.
Vivemos na atualidade um problema social muito sério, que é o envolvimento da sociedade e principalmente dos jovens com a dependência química, seja de qual natureza for. O atleta pode ter esses hábitos?
Não! Atleta nunca é da noite! Os atletas competidores não tomam bebida alcoólica, não fumam.
Você segue alguma religião?
Sou católico. Tenho muita influência da cultura budista, mais em função dos mestres. A filosofia que eles têm na Tailândia eu prego dentro do centro de treinamento. Ela diz que temos que “Doar-se para o esporte como Buda doou-se para o próximo”. O Muay- Thai tem essa cultura budista, essa parte filosófica, onde se prega que para ser feliz não há a necessidade de acumular riquezas e sim ter uma boa saúde, uma boa disciplina espiritual e mental. Essa é a disciplina que eles me ensinam quando vou para lá.
Há uma faixa etária definida para a prática do esporte?
Para o esporte não. Para a luta em cima do ringue sim. Começa aos 18 anos e termina aos 40 anos. Tem o tatame, que é outra modalidade, só que você não causa nocaute. É a modalidade onde o Victor Vagner é o máster. Chama-se Light Contact. Tem que colocar apenas cinqüenta por cento da potência.
A partir de qual idade pode ser praticado esse esporte?
Desde os sete anos. O Kauã é um atleta que começou treinar quando tinha quatro anos. A Isabella começou a treinar com oito anos hoje está com onze anos, faz três anos que ela treina. São crianças que já vem determinadas a treinar Muay-Thai.
Qual é a idade do atleta na faixa etária mais avançada que treina na academia?
O que tem mais idade tem 51 anos.
O atleta tem o poder de ser letal a um adversário ou em situação de risco. O que você pode afirmar a respeito?
A arte marcial Muay-Thai tem um poder muito grande com alto reflexo e alto impacto. O homem desconhece o próprio corpo. Quando colocamos um ambiente de família dentro da academia, fazemos com que o atleta prossiga esse trabalho. Quem ingressa na academia já entra pensando como atleta. Quando quiser encontrar um praticante de Muay-Thai basta vir até a academia, eles praticamente moram aqui, passam grande parte do seu tempo na academia. Com isso não sobra tempo para atividades que possam desvirtuar o comportamento do atleta. Vamos fazer um churrasco na casa de um deles, todo mundo vai. Vai ter uma festa no Clube de Campo onde vamos promover uma ação para ajudar alguma entidade, vão todas as academias. Eles não têm muito tempo para que a mídia, principalmente a televisão, os bombardeie com futilidades. Nós temos 15 eventos ao ano, todos querem participar. Não nos restringimos a lutar só em Piracicaba, vamos a todos os lugares do Brasil: Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Amazonas, Distrito Federal. Quando alguém vai ao cinema geralmente vão todos ao cinema, juntos. Nosso primeiro evento será no dia 17 de janeiro de 2016, vão lutar 45 atletas em São Pedro. O pessoal do Rio de Janeiro estará em Piracicaba no dia 18 de janeiro para fazer seminário comigo.
Como o público pode ficar sabendo dos eventos?
Pela internet. Temos vários endereços eletrônicos: wilsonteodoro.com.br, face book companytopfight, instagram wilsonteodoro, you tube wilsonteodoro. Tenho uns 6.000 seguidores no face.Uma boa parte são estrangeiros.
Quantos idiomas você fala?
Falo um pouco de tailandês, inglês, estou aperfeiçoando o espanhol. Em 2008 fui para a Tailândia sem saber de nada, sem falar inglês, permaneci por três meses na Tailândia.
Qual é a visão do tailandês a seu respeito?
No começo viam uma pessoa de porte grande, tatuado.
O que significam essas tatuagens que você tem pelo corpo?

São mantras, nem todos podem ter. Hoje sou considerado por eles como um professor da Tailândia, um tailandês. Vou para lá todos os anos. Criei uma identidade tão grande que quando entro na Tailândia sou muito conhecido. O brasileiro é muito comunicativo, pega na mão, abraça. Cumprimenta. O piracicabano parece que tem um jeito mais carinhoso com o povo. Quando fiquei na Tailândia fiquei sozinho, tenho um amigo que mora lá, um brasileiro, piracicabano, chamado Paulo Kawai, primo do Pedro Kawai, era quem me levava a todos os lugares. Cheguei à Tailândia usando uma camiseta do XV de Piracicaba, atrás escrito Wilson Teodoro nas costas, mando fazer na Deffende.  O Paulo me viu, olhou, perguntou de onde eu era. Disse-lhe que era de Piracicaba. Ele perguntou-me se eu conhecia o dono da Vidraçaria Kawai. Respondi que era pai de um grande amigo chamado Pedro, fizemos o Tiro de Guerra juntos, eu era número 150 ele 123. Ele foi me levando a todos os maiores centros de Muay-Thai da Tailândia. O Paulo Kawai fala nove idiomas. Passei a ter como mestre Khru Pairojnoi que foi mestre de um grande amigo, Cosmo Alexandre, um brasileiro que foi morar na Tailândia e ficou muito famoso na Tailândia. Eu estava treinando no mesmo centro de treinamento onde ele estava. Fui o quarto brasileiro a ir a um lugar onde um brasileiro tornou-se o rei do Muay-Thay na Tailândia. 





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